FATORES ESTEREOQUÍMICOS E
RECONHECIMENTO MOLECULAR:
LIGANTE / SÍTIO RECEPTOR FATORES ESTEREOQUÍMICOS
E
RECONHECIMENTO MOLECULAR:
LIGANTE / SÍTIO RECEPTOR
Química Farmacêutica I
Profa. Dra. Mônica Tallarico Pupo
Bibliografia
J. Knitell, R. Zavod. Drug design and relationship of functional groups to pharmacological activity. In: Foye´s Principles of Medicinal Chemistry, D. A.
WILLIAMS, T. L. LEMKE (Eds). 5th ed. Lippincott Williams & Wilkins, Baltimore, 2002, p. 37-67 (Cap. 2), 7th ed 2013.
R.B. Silverman. The organic chemistry of drug design and drug action. 2nd Ed., Elsevier Academic Press, 2004.
(Cap. 2 Drug discovery, design and development. p. 51-66).
E. J. Barreiro, C. A. M. Fraga. Química Medicinal: as bases moleculares da ação dos fármacos. Artmed, 2001 (1ª ed), 2008 (2ª ed), 2015 (3ª ed).
(Cap. 1. Aspectos gerais da ação dos fármacos).
Propriedades físico-químicas Grupos funcionais
presentes na molécula
Arranjo espacial destes grupos
funcionais Assimetria dos sistemas biológicos...
Assimetria dos sistemas biológicos...
Reconhecimento molecular Reconhecimento molecular
Estereoisômeros: são compostos que apresentam o mesmo número e tipo de átomos, o mesmo arranjo de
ligações, mas diferentes estruturas tridimensionais
Enantiômeros e Diastereoisômeros
ENANTIÔMEROS –
propriedades físico-químicas idênticas, exceto pelo desvio do da luz-planopolarizada
ENANTIÔMEROS –
propriedades físico-químicas idênticas, exceto pelo desvio do da luz-planopolarizada
COO
H3CO
H3C H
Na COO
H3CO
H CH3
Na
(S)-(+)-naproxeno
(R)-(-)-naproxeno
N
OH
H3C N
HO
CH3
levorfanol (analgésico)
dextrorfano (antitussígeno)
Quando introduzidos num ambiente assimétrico, podem apresentar
propriedades físico-químicas diferentes, o que pode levar a diferenças
na farmacocinética e farmacodinâmica
DIASTEREOISÔMEROS –
todos os estereoisômeros que não são enantiômeros
Apresentam diferenças nas propriedades físicas e químicas (PF, PE, solubilidade, comportamento cromatográfico)
DIASTEREOISÔMEROS –
todos os estereoisômeros que não são enantiômeros
Apresentam diferenças nas propriedades físicas e químicas (PF, PE, solubilidade, comportamento cromatográfico)
NHCH3 HO
H3C H
H
NHCH3 HO
H H
CH3
(-)-efedrina (-)-pseudoefedrina
H N N
H3C
H N
H3C
N
(Z)-tripolidina (ativo) (E)-tripolidina (ativo)
H2N
OH O NH2
O
ASPARAGINA
Piutti (1886)
Diferentes propriedades gustativas
N
NH O
O O
O
TALIDOMIDA
Década de 60
• Indicada para redução do desconforto matinal em gestantes
• nascimento de 12.000 crianças com deformações congênitas
• R - sedativo / analgésico
• S - metabólitos eletrofílicos reagem com nucleófilos
orgânicos
(teratogenicidade)
H O
N H H H O
O H
CH3
H H
H
A
A
B
C
O H
N H H H O
O H
CH3 H
H
A
A
B
C
H
1933- Modelo de Easson e Stedman: o reconhecimento molecular de um ligante contendo um centro estereogênico envolveria a participação de 3 pontos no receptor
(R)-(-)-efedrina (S)-(+)-efedrina
D
A BC
A'
B' C'
C
A BD
A'
B' C'
3 interações entre ligante-receptor, maior interação,
maior potência
não ocorre a terceira interação
não ocorre a terceira interação
From: Olbe et al, Nat Rev Drug Discovery 2:132, 2003
ESTERÓIDES CARDIOTÔNICOS ESTERÓIDES CARDIOTÔNICOS
• origem natural
- plantas (Digitalis purpurea, D. lanata) - animais (pele do sapo)
• ações: tônico cardíaco e veneno
•
1500 aC - Egito - uso das plantas como venenos, diuréticos, eméticos, cardiotônicos
•
apesar do BAIXO ÍNDICE TERAPÊUTICO permanecem na terapia moderna da ICC e fibrilação atrial
• origem natural
- plantas (Digitalis purpurea, D. lanata) - animais (pele do sapo)
• ações: tônico cardíaco e veneno
•
1500 aC - Egito - uso das plantas como venenos, diuréticos, eméticos, cardiotônicos
•
apesar do BAIXO ÍNDICE TERAPÊUTICO permanecem na terapia
moderna da ICC e fibrilação atrial
• Incapacidade do coração em bombear sangue efetivamente para o suprimento das necessidades teciduais;
• Relacionada à menor contratilidade dos músculos cardíacos (ventrículos)
Diminuição do trabalho cardíaco
Aumento do volume de sangue no coração Resultado:
• ↓ P sanguínea
• ↓ fluxo renal
Edemas nas extremidades inferiores e pulmões Insuficiência renal
Fármacos que aumentam a força de contração do coração (AÇÃO INOTRÓPICA)
Fármacos que aumentam a força de contração do coração (AÇÃO INOTRÓPICA)
Insuficiência Cardíaca Congestiva
Insuficiência Cardíaca Congestiva
ESTÍMULO
Abertura dos canais iônicos
Na
+Na
+Cl
-Cl
-Ativação lenta do canal de Ca++
Ca
++Ca
++K
+K
+Estimula uma segunda liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático
Início do processo contrátil do miocárdio
Representação do potencial de ação da membrana da fibra de Purkinje
Representação do potencial de ação da
membrana da fibra de Purkinje
Na
+,K
+- ATPase Na
+,K
+- ATPase
• mantém uma distribuição desigual de íons Na
+e K
+através da membrana celular
• função crítica na contração cardíaca
• opera nos últimos estágios do potencial de ação, para restaurar o potencial de repouso
• a troca Na
+/ K
+é contra gradiente de concentração, portanto requer energia
Catalisa a bomba de sódio
K +
Na+
Na +
K+
Na+,K+ -ATPase
Na+,K+ -ATPase
ATP ADP
inibição
Aumenta a [Na
+] intracelular
O trocador Na
+-Ca
++troca 3 Na
+para cada Ca
++Aumenta a [Ca
++] intracelular
Contração do músculo cardíaco
Ação inotrópica
Ação
inotrópica
HO H
H
OH
O
H
O
1
3 5
10 8
19 11 13
17 18
20 21
22
CARDENOLÍDEO
BUFADIENOLÍDEO digitoxigenina
bufalina Pele de sapo Pele de sapo
Digitalis (Scrophulariaceae) Digitalis (Scrophulariaceae)
HO H
H
OH H
O
O
A B
C D
CH3
OH CH3
H O
H
H
O O
O O O
O O HO
OH H3C
H3C OH
H3C
OH
DIGOXINA
OHCH3
OH CH3
O H
H H
O O
O O O
O O HO
OH H3C
H3C OH
H3C
OH
DIGITOXINA
HO H
H OH
O
H
O
Esteróides A/B trans B/C trans C/D trans Esteróides
A/B trans B/C trans C/D trans
Esteróides A/B cis B/C trans
C/D cis Esteróides
A/B cis B/C trans
C/D cis
Assinalar os centros
estereogênicos dos seguintes
fármacos
HN N O
O O
CH3
CH3
N HN O
OH
Cl Cl
hexobarbital
lorazepam
O HO
OH
CH3
morfina
N S
COOH CH3 CH3 O
HN NH2
HO O
amoxicilina
HN HO
OH
OH
terbutalina
O N
tamoxifeno
N N O
O
fenilbutazona
OH O OH
OH
N
OH
OH O
NH2
O
tetraciclina
S N H
N O
H2N
O O
CH3
sulfametoxazol
N
N
O
O
O
O
N N
Cl
Cl
cetoconazol
O
OH
dimetisterona
O2N HN
OH
O
Cl OH
Cl
cloranfenicol
N
NH O
O O
O
talidomida
Configuração relativa e
atividade biológica
HO
H H
CH3 OH
10,8Å
HO
OH
12,1Å
HO
7,7Å OH
estradiol trans-dietilestilbestrol
cis-dietilestilbestrol
Estradiol trans-dietilestilbestrol
S
N CH3
CH3 Cl
DERIVADOS TIOXANTÊNICOS DERIVADOS TIOXANTÊNICOS
Z-clorprotixeno
S
N CH3
CH3 Cl
E-clorprotixeno
Propriedades
antipsicóticas superiores
CONFORMAÇÃO E
ATIVIDADE BIOLÓGICA
Ácido acetil salicílico Ácido acetil salicílico
Ligação de H intramolecular:
• reduz liberdade conformacional dos grupos ligados ao anel benzênico
• aumenta acidez do ácido carboxílico
• o coeficiente de partição tende a aumentar Alterações pH dependentes:
• no plasma (pH ~7,4) o AAS estará cerca de 99% ionizado na forma de carboxilato, que interage no receptor
Possíveis forças de interação com o receptor
Hipótese de reconhecimento molecular
Interações esquemáticas do AAS no sítio ativo da enzima
O
O
O
O CH3
H O
H
iônica
Ligações de H
Ligações de H hidrofóbicas
hidrofóbicas
+ sp
+ sc
+ ac +
-
- sc- ac
- ap
sp sinperiplanar (sin)
sc sinclinal (gauche)ac anticlinal
ap antiperiplanar (anti)
Nomenclatura das conformações
Fórmula de projeção de
Newman Fórmula de projeção de
Newman
FD A E B
C F
D
E A
B C
A
C B
F E D
H3C O N
CH3
O CH3
CH3
ACETILCOLINA
N(CH3)3
H H
OAc H H
N(CH3)3
H H
H
OAc H
Confôrmero antiperiplanar Confôrmero sinclinal
“gauche”
OAc H N(CHH3)3
H
H 3,74 Å
H
AcO N(CHH3)3 H H
3,31 Å
receptores nicotínicos receptores
muscarínicos
ligantes seletivos de receptores nicotínicos
nicotina N
N H3C
ligantes seletivos de receptores muscarínicos muscarina
H3C O HO
N(CH3)3
NH
NH2
HO
HO
HO
HN OH
HO
HO
NH2
HO
HO
NH2 OH
serotonina
dopamina
adrenalina noradrenalina
Fatores conformacionais e neurotransmissores
Fatores conformacionais e neurotransmissores
NH
NH2
HO
HO
HO
HN OH
HO
HO
NH2
HO
HO
NH2 OH
Fatores conformacionais e neurotransmissores Fatores conformacionais e neurotransmissores
serotonina
dopamina
adrenalina noradrenalina
catecol catecol
catecol
Ausência de OH
NH
NH2
HO
HO
HO
HN OH
HO
HO
NH2
HO
HO
NH2 OH
serotonina
dopamina
adrenalina noradrenalina
Fatores conformacionais e neurotransmissores Fatores conformacionais e neurotransmissores
Ausência de OH – menor população
conformacional, pois não apresenta
lig H na cadeia lateral
Conformação antiperiplanar da dopamina Conformação antiperiplanar da dopamina
Ligações de H intramoleculares diferenciam as OH m e p da unidade catecólica
Doador de H Aceptor de H
gauche ou sinclinal
antiperiplanar Interações
energeticamente relevantes
Grupos que interagem com o receptor
As distâncias podem representar critério de
reconhecimento molecular pelos diferentes subtipos de receptores da dopamina
As distâncias podem representar critério de
reconhecimento molecular pelos diferentes subtipos de receptores da dopamina
Conformação predominante
4 confôrmeros antiperiplanares da noradrenalina 4 confôrmeros antiperiplanares da noradrenalina
Observar os sítios doadores de H em diferentes posições
relativas ao plano indicado
HN
CH3
HO HO
OH
O N
H
CH3
CH2
OH O H N
O
CH3 H3C
H H
ligação-H
ADRENALINA
PROPRANOLOL conformação ativa
Conformação farmacofórica Conformação farmacofórica
Restrição conformacional - Seletividade
Restrição conformacional - Seletividade
N CH3
O O
O H
H H H
O H
H Ser O
H
Ser O
H H
O
O
O H N O
H
CH3 H3C
H H
O H
Ser O H
Ser O H
O
O
Representação esquemática da interação da adrenalina e do propranolol com o receptor
βββ
β-adrenérgico
Anti-inflamatórios Anti-inflamatórios
sulindaco Possibilitou a determinação da conformação bioativa da
indometacina
N
COOH CH3
O H3CO
Cl
N
COOH CH3
O H3CO
Cl
Topologia de Anel
Conformação em sistemas tricíclicos – fármacos anti-esquistossomose Conformação em sistemas tricíclicos – fármacos anti-esquistossomose
hicantona lucantona
Derivados tioxantênicos
hicantona lucantona
Sistema tricíclico completamente planar:
favorece ligação de H entre amina e carbonila
Os anéis aromáticos estão ~ 20o afastados do
plano do anel heterocíclico central:
impossibilita ligação de H entre amina e
carbonila
A cadeia lateral adota conformação antiperiplanar em relação ao plano do anel benzênico ao qual está ligada
COMPOSTOS CÍCLICOS COMPOSTOS CÍCLICOS
Derivados cicloexânicos: grupos em axial e equatorial
OH
CH3 OH
CH3 OH
CH3
OH OH
CH3
OH CH3
H3C
EFEITO ORTO EFEITO ORTO
A conformação de uma molécula é
significativamente influenciada pelo efeito de grupos funcionais próximos, particularmente
quando envolve interações estéricas que
alteram a estabilidade dos diversos confôrmeros possíveis
A conformação de uma molécula é
significativamente influenciada pelo efeito de grupos funcionais próximos, particularmente
quando envolve interações estéricas que
alteram a estabilidade dos diversos confôrmeros
possíveis
NH CH3
CH3 O
N
Lidocaína – anestésico local e antiarrítmico Lidocaína – anestésico local e antiarrítmico
Duplo efeito orto
Os grupamentos bis-orto-metila introduzem uma “torção” conformacional no plano do anel benzênico em relação à cadeia lateral.
Isto introduz uma proteção estérica eficiente à ação de amidases plasmáticas
NH N N
Cl
O
NH N N
O
Cl
NH N N
O Cl
Ligantes pirazola-quinolínicos de receptores benzodiazepínicos Ligantes pirazola-quinolínicos de receptores benzodiazepínicos
IC50 (nM)
0,56 3,90 70,0
NH N N
O Cl
O isômero orto-substituído perde a conformação ideal para o reconhecimento molecular pelo receptor, uma vez que o confôrmero mais estável resulta da descoplanaridade do anel clorado com
o núcleo pirazolona
Predominância de conformação torcida
Interações estereoeletrônicas desestabilizantes
Cl
Cl N
HN HN
N HN
HN Cl
Cl
CLONIDINA CLONIDINA
Atividade hipotensora ED50 (mg.Kg-1)
0,1 3,00
Os anéis aromáticos estão perpendiculares entre si
Duplo efeito orto
Efeitos eletrônicos de halogênios
O N
H X
Inibição da monoaminooxidase (MAO) IC50 (nM)
H 1200
Br 200
CF
3100
SO
2CF
327
O
H3C N R1
R2
R
1R
2IC
50(nM)
CH
3O CH
3O 2876
H Cl 115
Cl Cl 75
Bloqueio da recaptação de dopamina in vitro
Bloqueio da recaptação de dopamina in vitro
N N H3C
O
R3
R1
R2 R1 R2 R3 IC50 (nM)
Ro5-3464 H H H 700
Ro5-5115 H Cl H 54
Diazepam H H Cl 72
Ro5-6900 Cl H Cl 11
Ro5-4864 H Cl Cl 3