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Ubiratan Rodrigues Coelho de Lima

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Academic year: 2022

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Ubiratan Rodrigues Coelho de Lima

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Prefácio

Esta obra é um fenômeno que surgiu da necessidade de representar o mundo atual, e também suas diversas formas de cultura. Cada personagem possui sua característica própria, sendo assim, exemplo de uma determinada sociedade, ou muito provavelmente algum comportamento considerado abaixo dos padrões estabelecidos pela sociedade.

É preciso mencionar que este livro é uma obra que convida o leitor a imergir em mundo repleto de fantasias quase inacabáveis, e de um bom gosto literário. Embora meu livro seja destinado ao público infantil, não significa dizer que adultos não o possam ler, pois a fantasia é decorrente da vida. Não há fantasia sem realidade. É isso que torna o enredo e sua interpretação dicotômica. É bom saber que a fantasia ainda existe em nosso mundo físico, no entanto, ela não deve ocupar o primeiro lugar em nossas vidas.

Cada capítulo foi deliciosamente escrito para que o leitor se identifique com uma situação parecida com aquilo que ele está lendo. Não se trata apenas de entretenimento, mas sim de um assunto bastante complexo e simples ao mesmo tempo, que nem mesmo certos profissionais de determinadas áreas conseguem explicar. Se alguém pensa que os padrões que a sociedade tem vivenciado são coisas naturais certamente está enganado. Não é de se admirar que tais conceitos tenham mudado com o passar do tempo. Por isso escrevi este livro, isto é, para abrir sua mente, e faze-lo enxergar o real.

Os capítulos estão recheados de mistério, e mais mistério. E pra quê? Para estimular a sua curiosidade, é claro. A figura de linguagem que mais uso é sem dúvida, a

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metáfora. É dela que muitos escritores se alimentam para depois nutrirem as suas histórias, seus contos, e também suas fábulas. Meu profundo desejo é que você entenda no mínimo a terça parte do meu livro, pois o considero de difícil interpretação até para mim mesmo. Para alguns esclarecimentos, deixarei o número do meu whattssapp no final do livro.

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Sumário

Capítulo 1 ... Uma menina especial numa cidade diferente;

Capítulo 2 ... O mistério da barata perdida;

Capítulo 3 ... Alguém nunca visto em uma fábrica misteriosa;

Capítulo 4 ... Mais mistérios;

Capítulo 5...O preço de uma verdade;

Capítulo 6...Máscaras Quebradas não Preservam a Essência;

Capítulo 7... A Busca;

Capítulo 8 ... Além da Prisão;

Capítulo 9 ... Conselhos;

Capítulo 10 ... Um Pedido de Ajuda;

Capítulo 11... Ao Fim da Jornada;

Capítulo 12... A História Continua;

Capítulo 13... Novas Fronteiras;

Capítulo 14... Por Trás da História;

Capítulo 15... Responda-me;

Capítulo 16... Submundo;

Capítulo 17... Enigmas;

Capítulo 18... Um Ser Desconhecido;

Capítulo 19...De volta ao atenalp;

Capítulo 20... O Livro que Todos almejavam ler;

Capítulo 21... A Guerra;

Capítulo 22... Confissões de um Rei;

Capítulo 23... A Guerra Continua;

Capítulo 24... Agora só Somos Nós;

Capítulo 25...Vamos acabar com Isso;

Capítulo 26...O Sonho de Karin;

Capítulo 27...Um Lugar como Nenhum Outro;

Capítulo 28...Um Sonho Realizado;

Capítulo 29...Lara;

Capítulo 30...Uma Nova Aventura.

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A minha consciência tem milhares de vozes, / E cada voz traz-me milhares de histórias, / E de cada história sou o vilão condenado.

William Shakespeare

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Ubiratan Rodrigues Coelho de Lima

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Um dia bastante feliz a princípio. Mas esta não era exatamente a hora de perturbar o sono de quem já anda muito inquieto. Cada passo mais estreito que o outro.

Bobagens pra cá, bobagens pra lá. Nada de tão interessante até que uma jovem entre seus quinze ou dezesseis anos começou a escrever um livro. Seu maior sonho era ser uma das melhores escritoras de seu país. Ela carregava em sua mente fresca e intelectual uma gama de livros, mas não era do tipo “garotinha sentimental”. Ela possuía uma escrita divina, algo que só existia no século passado.

Ela gostava de xadrez e de coisas antigas que costumamos chamar de ‘bugigangas’. Ela tinha um olhar penetrante, daqueles de quando alguém a encara já fica sabendo quais são seus ideais. Seu nome era Karin, uma adolescente cheia de vivências e histórias para contar. Na maioria triste. E para fugir da mesmice de seu dia-a-dia, coisa que a maioria de nós tenta fazer quando está cansado da triste realidade, ela criou um mundo no qual ela mesma tivesse a oportunidade de ser feliz, mesmo depois de ser constantemente perseguida.

Sendo assim, nossa amiga monótona acorda de um horrível pesadelo, coisa que nem mesmo Sigmund Freud poderia interpretar. Ela ficou durante vários minutos assustada com aquelas imaginações terríveis. Exausta com a noite passada, ela levanta-se da cama e resolve procurar a chave de seu quarto, pois sofria de claustrofobia. Não encontrando a chave, ela procura algumas folhas de papel sem pauta na mesa que havia no quarto, pôs-se a sentar e então começou a escrever.

Já que ela estava sem sono e também sem nenhuma possibilidade de sair daquele maldito quarto, ela decidiu fazer aquilo que fazia melhor: escrever, não sabendo ela que aquele era apenas o começo de seu futuro reconhecimento.

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Capítulo 1

(Uma Menina especial numa Cidade Diferente) Em um mundo cuja mente nenhuma poderia imaginar, exceto a de Karin, havia uma menina meiga e adorável, aparentemente frágil, porém muito esperta cujo nome era Lara. Até agora não se pode dizer que era uma vez, pois esta história vai mais além do que qualquer realidade vivenciada. Então é melhor ficarmos sem era uma vez. Lara gostava de coisas das quais os seus vizinhos consideravam esquisitas e contrárias ao às que as meninas estão acostumadas a gostar.

Ela gostava de xadrez, coisa que a maioria diz que é para meninos intelectuais. Ela também gostava de ler bons livros e discutir sobre assuntos que tinham haver com o mundo no qual ela vivia. O triste de tudo é que ninguém entendia os gostos e apreciações de Lara, pois todos já estavam conformados a viver sem expectativa alguma de felicidade. Aquilo que eles chamam de felicidade não era sequer a sombra da visão de mundo que Lara tinha, pois ela via tudo de uma forma que nem mesmo seus amigos enxergavam.

Mesmo sabendo jogar xadrez não havia ninguém que tivesse coragem de desafiá-la, pois a maioria sabia do potencial que Lara possuía. Ela podia ser uma nanica de apenas um metro e treze centímetros, mas falava mais que um papagaio falante. Sua maior fascinação era bichos de estimação: gatos, coelhos, cachorros, pássaros coloridos e peixinhos dourados faziam parte de sua eterna admiração.

Quase nenhuma tristeza habitava em seu coração sonhador,

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a não ser a frustração de não ser compreendida pelos seus vizinhos.

Mas o que importa? Uma vez que você é feliz e não se deixa levar pelo pensamento dos demais você acaba encontrando a fórmula da felicidade, pois como diziam os antigos: “Quem vai pela cabeça dos outros é piolho”. Seu maior sonho era criar uma possibilidade de fazer com que todos fossem felizes. Ás vezes Lara ficava horas e horas imaginando aquilo que fomos acostumados a chamar de realidade. Seus pensamentos iam muito além de qualquer mente adulta.

Na cidade onde ela vivia havia somente a clareza do dia, pois havia apenas o Sol que iluminava a todos. Todas as vezes que chovia as pessoas daquela cidade colocavam inúmeros baldes para enchê-los, pois a escassez predominava aquela região. As crianças tinham uma mania exagerada de olhar sempre para o relógio.

Lara nunca entendia o porquê de eles sempre fazerem isso, mas eles mentiam dizendo pra ela que era apenas para saber as horas. Lara ficava injuriada, pois não entendia tamanha preocupação em saber as horas, uma vez que o dia era sempre iluminado pelo Sol não havia necessidade de saber as horas. Os únicos animais que apareciam na rua eram gatos e cachorros, mas poucos deles sabiam falar, pois a maioria de seus donos não lhes havia ensinado.

O incrível de tudo é que os moradores daquela cidade plantava bananeira, isto é, eles ficavam de cabeça pra baixo depois de comerem. Essa coisa de café-da-manhã, almoço e jantar não existia para eles. Jamais ouviram falar.

Diziam que se alguém conseguisse olhar para o Sol durante cinco minutos um pó de areia apareceria em sua mão

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esquerda, e se essa pessoa despejasse essa areia no chão o tempo iria parar.

A cada quatro horas as crianças da cidade ficavam em pé paradas no meio da rua olhando atentamente para o Sol, porém nada lhes acontecia. E de tanto olhar para o astro luminoso elas ficavam com sua visão turbada enxergando feixes de luz no meio de sua visão. Lara também fazia isso, mas de tanto tentar e ver que não conseguia ela parou de fazer isso, enquanto os outros meninos insistiam com o tal mito de que algum dia conseguiriam controlar o tempo, mesmo que por um breve instante.

Lara tinha a sensação de que essa afirmação não passava de uma invenção criada por alguém muito mentiroso. E como sabemos toda mentira é sinal de maldade. Lara começou a perguntar para os seus amigos e vizinhos. _ Bom dia! De onde você ouviu essa história de que se alguém olhar por muito tempo para o ASTRO REI essa pessoa terá o poder de controlar o tempo?

_Sinceramente eu não sei! Desculpe-me Lara, indagou um de seus vizinhos cujo nome era Esonião.

Era de se esperar que um vizinho tão tapado como Esonião não soubesse responder a uma pergunta tão simples. Se bem que ninguém daquela cidade sabia. Lara tinha que resolver esse enigma, custasse o que custasse.

Então Lara andou pelas ruas da cidade em busca de algo que se mostrasse útil para a sua iniciação investigativa. Lara tinha uma ‘purga atrás da orelha’ quanto a essa história.

Depois de tanto procurar Lara decide encerrar sua busca.

Lara estava exausta e para reorganizar suas ideias ela pediu uma folha de papel e um lápis com borracha para os seus vizinhos.

Infelizmente ninguém tinha papel e nem lápis e nem borracha, pois eles não sabiam o que eram essas coisas.

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Ninguém daquela cidade sabia escrever a não ser Lara que tinha o hábito de ler livros todos os dias. Existe um pequeno detalhe sobre os moradores desta cidade que ainda não foi mencionado. As pessoas nunca nasceram, pois dependiam do fruto da imaginação de alguém para que pudesse existir.

Essa coisa de pai e mãe não existia. Nem pai, nem mãe, nem irmão, nem irmã, nem tio, nem vô, nem tataravô ou coisa parecida.

Todos eram filhos da Imaginação, fato esse que ninguém se perguntava de onde surgiu. Lara morava em uma biblioteca imensa feita especialmente com folhas de papel. Ela dormia entre os inúmeros livros coloridos.

Depois de tanto buscar por respostas concretas Lara decide voltar para sua casa tão adorável.

Ao entrar em sua casa Lara recebe uma visita. Eram as baratas. Lara abre a porta e pergunta. _O que vocês querem? _Bom dia! É... Não nos leve a mal, mas é que estamos sem abrigo para morar! _Quem expulsou vocês de casa? _ O proprietário da casa. _E por qual motivo essa pessoa fez isso? _Bem... Ele gostava da gente a princípio.

Mas acontece que ele foi ficando triste com o decorrer dos anos, e de tão amargo ele acabou nos expulsando da casa dele! _Como é que ele é? _Bem... na verdade ele é um senhor velho de um tom cinza de pele, careca, tem só um metro e meio e fica sentado no sofá o dia todo. _Puxa, ele deve ser muito sozinho! _Enquanto nós estávamos lá até que não, mas ele preferiu viver assim. _E porque ele ficou assim desse jeito? _Ele gostava bastante de ler livros. Ele morava numa outra cidade. Ele lia todos os dias para nós e nós adorávamos as histórias que ele nos contava. Mas com o tempo os outros moradores decidiram ofender ele e dizer que ele era esquisito. _E por que os moradores daqui diziam que ele era esquisito? _Porque ele realmente era esquisito

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mesmo. Ele olhava toda hora para o relógio e comia as folhas de papel dos livros que ele lia. _Puxa vida! _Pois é, pequena Lara! _De que cidade ele vinha? _ De uma cidade que se chamava Papelândia. _Mas será que ele era feliz antes de vir pra cá? _Acreditamos que sim. Ele era um senhor bem simpático. Sempre sorridente. Mas com o tempo ele quebrou os baldes que ele tinha. _Nossa! E ele aparou a chuva com o quê? _ Quando chovia ele simplesmente ficava no meio da rua com a boca aberta engolindo as gotas da água. _E como ele aguentava toda a sede? _Ele tinha uma piscina vazia no quintal. Essa piscina tinha cinco quilômetros de distância e trinta metros de profundidade. _Ah, então tá explicado! _Gostaríamos de saber se você poderia nos abrigar em sua casa. Prometemos que vamos nos comportar. _Ainda bem, por que se não eu ia colocar vocês no meu quintal! _Tem galinhas por lá?

_Não! _Ainda bem, por que insetos são o prato predileto das galinhas! _Podem entrar, venham! _Obrigado!

Então Lara sentou juntamente com as baratas e comeu uns biscoitinhos com elas. Demorou pouco tempo para Lara se acostumar com as pequeninas baratas. Cada barata era mais engraçada que a outra. _E então? Você gosta de livros não é? Perguntou uma das baratas. _Eu adoro livros! Eles me levam a lugares que nunca estive antes.

_Você já teve vontade de ir para outros lugares?

_Sinceramente não. Gosto muito daqui. _Tudo bem! _Por falar nisso, porque a cidade de onde esse senhor veio se chama Papelândia? (perguntou Lara). _Você gostaria mesmo de saber? (indagou a barata) _Sim, eu gostaria! _Na cidade onde ele vivia todos tinham criatividade e eram cheios de boas intenções. _Como assim? _Todos tinham um dom que era considerado algo perigoso para as outras cidades circunvizinhas. Os outros moradores acreditavam que uma catástrofe poderia acontecer e então obrigaram o

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fundador da cidade a proibir os moradores de Papelândia a deixarem de fazer o que estavam fazendo. _E o que eles faziam de tão grave assim? _ Os moradores de Papelândia tinham a habilidade de darem vida ás folhas de papel. Eles pegavam uma simples folha de papel, e enquanto eles diziam no que a folha de papel deveria se transformar eles fechavam os olhos e então a folha de papel se transformava conforme o seu desejo. _Nossa! _E tem mais Lara. Se as folhas de papel começassem a fazer alguma malvadeza bastava o dono da petição desejar que a folha de papel se queimasse. _Carambolas! _Você não faz ideia de quanta felicidade havia naquela cidade. _Mas como foi que o fundador obrigou os moradores de Papelândia a deixarem de transformar folhas de papel em outras coisas? _Ele inventou uma confraternização falsa onde todos os moradores de Papelândia deveriam se reunir para celebrar a existência da cidade. _E então? O que aconteceu? _Como todos tinham a habilidade de transformar papéis de folha em qualquer coisa, ele mentiu dizendo que o senhor da casa de onde fomos expulsos havia feito uma amizade com os moradores de outras cidades. _E porque o fundador da cidade inventou essa mentira? _Porque ele temia que os moradores das cidades circunvizinhas levassem as filhas dele. _Mas isso não está certo! _E não está mesmo! _Então porque ele não disse a verdade? _Porque a verdade é como um alfinete que espeta você e você finge que não sente nenhuma dor. _E o que é dor? _Você não tem dicionário aqui na sua casa? Sua casa é uma biblioteca não é? _É mesmo! Deixe-me ver. (Lara começa a procurar num dicionário o conceito da palavra) Dor... Dor... Dor... Aqui!

Achei! Sensação corporal penosa, expressão de sofrimento físico, moral ou sentimental. _Agora você entende o que é dor? _Não! _Bem, vejamos... Dor é toda vez que você não está sorrindo por que você está incomodada com alguma

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coisa, entendeu? _Ainda não! _Ah, é mesmo. Vocês aqui da cidade nunca ouviram falar na palavra dor ,não é? _Nós nem sabemos de que cidade ela é. _A dor não é nenhum ser vivo. Ela é um fenômeno destrutivo que acaba com qualquer coisa que tenha vida. _Ainda não entendi! _Ai... É melhor deixar pra lá. Outra hora nós falaremos sobre isso.

_Me diz uma coisa. O que aconteceu depois que o fundador de Papelândia inventou aquela mentira? _Bem... Os moradores começaram a gritar com o senhor da casa de onde fomos expulsos. _E o que aconteceu depois? _Como o senhor se sentiu profundamente constrangido ele tentou se retirar daquela cidade, mas os moradores de Papelândia não deixaram. –E o que ele fez? _Absolutamente nada! Mas você lembra de que eu disse a você que quando alguma folha de papel estivesse fazendo alguma coisa errada era só desejar que a folha de papel pegasse fogo e ela pegava?

_Sim, mas nenhuma folha de papel estava fazendo nada de errado. _É aí que mora a verdade, minha doce Lara!

Qualquer morador de Papelândia podia desejar que a folha de papel pegasse fogo mesmo que ela não fizesse mal a ninguém. _Mas se a cidade inteira estava contra o senhor de pele cinza, então quem desejou que o papel pegasse fogo?

_O fundador da cidade! _O quê? _Ele não estava mais aguentando ver toda aquela injustiça criada por ele mesmo e então ele desejou que suas duas filhas pegassem fogo.

_Como assim? Eu não estou entendendo mais nada! _O fundador da cidade não tinha esposa. E como todo homem criativo, ele queria ter uma família. _Espera aí, o que é esposa? O que é filha? E o que é família? _Você tem tantos livros e ainda não sabe o que é uma família? _Meus livros não falam sobre isso! _E sobre o que exatamente eles falam? _Bem... Eles dizem que a cidade onde moro não é exatamente a melhor de todas as cidades, e que nós somos todos seres vivos com grandes capacidades, só isso. _E por

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acaso eles dizem que vocês podem formar famílias? _Não!

_Eles não dizem que vocês podem ter irmãos, irmãs, primos, tios, avôs, avós, tataravós, netos, primos, sobrinhos, pais e mães? _Não! Infelizmente aconteceu o que eu mais temia. _Do que você está falando? _Você não sabe o que é medo? _Não. Os livros não me ensinam isso. _Então temos muito que conversar! _Tudo bem, mas me fala o que aconteceu com as fliz... fillll... fill. Eu não sei como é que se fala. _Filhas! _Isso. O que aconteceu com as filhas do fundador? _Eu não havia dito a você que elas pegaram fogo? _Ah, foi mesmo! Desculpa! _Como eu estava dizendo... As filhas do fundador de fato pegaram fogo e como elas estavam perto das outras criaturas de papel todas as criaturas pegaram fogo juntamente com ela. _Nossa, me deu um calafrio na espinha! _Isso se chama medo. _Então não é nem um pouco agradável sentir medo. _Pois bem, agora que você sabe o que é medo eu vou terminar de contar o que aconteceu. _Pode contar, eu quero saber. _Pois bem...

Depois que todas as criaturas de papel criadas pelos moradores de Papelândia pegaram fogo as casas, as ruas, as pedras, tudo o que havia na cidade era feito de papel. _Mas espera um momento. Então quer dizer que a cidade inteira era feita de papel? _Você é bem esperta, minha doce menina! _Então foi o fundador que construiu a cidade?

_Certamente! _Mas porque o fundador não conseguiu formar essa tal de família? _Bem, é uma longa história.

_Não tem problema, eu gostaria de ouvir! _Certo. Uma vez ele achou um livro no lugar de Papelândia antes de a cidade ser construída por ele. Este livro foi escrito por uma pessoa que morava numa cidade chamada O Esconderijo das Verdades Absolutas. Esse livro continha muitas coisas que poucos seres conhecem. _E o que aconteceu com esse livro?

_Bem... Como o livro estava na casa do fundador no dia em que Papelândia pegou fogo provavelmente se queimou. _E

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o que aconteceu com o fundador? _Ele mudou-se para outra cidade. _Que cidade? _Lamentavelmente não sabemos! _E o senhor da pele cinza? _Bem... Ele fugiu de Papelândia juntamente com os outros moradores. E depois de a cidade se queimar por completo a cidade passou a ser chamada de A Cidade das Cinzas. _Nossa. Isso não tem nada de alegre!

_E não tem mesmo. _Você quer mais um biscoito? _Claro!

_Parece que seus companheiros já estão dormindo. _Não são meus companheiros, eles são meus irmãos. _E o que são irmãos? _São filhos de um mesmo pai e de uma mesma mãe. _Acho que não vou entender isso nunca. _Você vai.

Você é uma menina muito inteligente. _Obrigada.

_Disponha.

_Escuta... Vocês também não são de Papelândia, são? _Na verdade nós nascemos em uma cidade esquecida por todas as outras cidades. _E que como se chama essa cidade? _A Terra das Baratas Excluídas. _O que vocês faziam nessa cidade? _Nós tomávamos banho todo dia e voávamos por esse céu azul e tão belo. Ficávamos conversando sobre histórias que poucos conheciam. _Como o que, por exemplo? _A grandiosidade do ASTRO REI, a beleza da natureza, a amizade, e principalmente a nossa existência.

_Como assim sobre a existência de vocês? _Antes de vocês existirem nós baratas já estávamos aqui. Mas assim como você, nós também dependemos da Imaginação para que viéssemos existir. _Então quer dizer que você e seus irmãos dorminhocos apareceram antes de nós? _Meus irmãos e eu não. Os meus descendentes. _O que são descendentes?

_São aqueles que existiram antes de nós. _E esses descendentes ainda existem? _Não! _E porque se todos vivem para sempre? _Os livros que você lê também dizem isso, é? _Sim, eles dizem! _Pois eles mentiram pra você.

_Como assim? Nós vivemos enquanto a Imaginação desejar. Quando a Imaginação se cansa de nós ela deseja

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que nós desapareçamos e assim deixamos de existir. _Mas nós aqui da cidade sempre ouvimos falar que a Imaginação deseja que nós existamos. _Foi o que os moradores desta cidade contaram pra você. _E porque eles mentiriam pra mim? _Porque crianças sempre estão sujeitas a escutar mentiras. _Eu não sabia disso. _Pois já está sabendo. _ E porque os adultos mentiriam para as crianças? _Porque eles pensam que são os únicos que podem saber da verdade.

_Desde quando os moradores da minha cidade sabem disso? _Desde que o senhor de pele cinza que nos expulsou passou a morar aqui. _E por falar nesse assunto, esse senhor tem nome? _Sim. _Como ele se chama? _Aznic. Esse é o nome dele. _Como foi que ele conheceu vocês?

_Bem... Nós estávamos na nossa cidade nos divertindo com nossa família até que ele chegou e nos visitou. Ficamos muito felizes com a visita dele e ao vermos que ele era muito inteligente e que conhecia todas as cidades deste Atenalp, então decidimos ir junto com ele e então passamos a ser amigos. _Eu posso te perguntar de novo uma coisa.

_Sim, claro? _Porque Aznic mandou vocês irem embora?

_Porque ele não suportava a ideia de ser expulso de uma cidade que ele ajudou tanto a construir? _Você está falando de Papelândia, não está? _Sim, estou! _Mas você não tinha dito que foi o fundador que construiu a cidade? _Sim, e realmente foi. Mas o fundador só construiu a cidade porque Aznic ensinou a ele a habilidade de transformar a folha de papel em outras coisas. Então quer dizer que Aznic foi o primeiro ser a transformar papel em coisas? _Exatamente.

_E quem ensinou Aznic a modificar a folha de papel? _A Imaginação. _E porque a Imaginação deu essa habilidade para Aznic? _Pelo pouco que eu sei, Aznic juntava as mãos e falava em silêncio palavras que eu não conseguia ouvir.

Então eu perguntei pra ele por que ele fazia isso a cada duas horas e então ele me disse que se nós fôssemos mais gratos

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á Imaginação certamente teríamos dádivas e presentes que nenhum metal pode substituir. _E você e seus irmãos começaram a fazer isso? _Sim, mas só de vez em quando.

_Será que Aznic está em casa? Gostaria muito de conhecê- lo. _Pode ficar tranquila. Ele nunca sai de casa. _Então vamos visitar ele! _Acho que ele não vai gostar. _Você está com sono também, não é? _Não... Não é isso... É que não seria bom incomodar Aznic. _Tudo bem. Então você fica aí com seus irmãos enquanto eu vou lá. _Lara, por favor. É melhor você não ir. _Não se preocupe! Esse calafrio na espinha eu tenho certeza que eu nunca mais vou sentir.

_Lara, você pode estar enganada. _Daqui a pouco eu volto.

Fica aí com os seus irmãos. Prometo não demorar. _Lara!

Então Lara sai de casa enquanto a barata e suas irmãs ficam em casa dormindo. Lara estava muito ansiosa para conhecer Aznic. Ao andar pelas ruas da cidade os vizinhos de Lara começam a perguntar para Lara. _Bom dia Lara!

Aonde você está indo? Então Lara respondia. _Estou indo pra um lugar um pouco distante. Até mais! Fato esse que deixara Lara zangada, pois sempre que chovia os moradores da cidade eram obrigados a buscar os baldes de dentro de casa e coloca-los do lado de fora.

Lara ficou extremamente irritada, pois o desejo de conhecer Aznic era maior que tudo que ela estava sentindo.

Lara chega de volta á sua casa e acorda as baratas que estavam tirando uma bela soneca. _Vamos, acordem! Me ajudem a levar os baldes pra fora, senão nós morreremos de sede. Para o azar de Lara as baratas não acordaram de jeito nenhum, pois o sono das baratas era muito pesado. _E agora, quem vai me ajudar? Preciso de ajuda. Porém, Lara teve de levar os baldes sozinha para fora.

Sendo assim, Lara leva todos os baldes para fora. Eram dez baldes ao todo. Depois de muito esforço Lara volta para

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casa e se deita ao lado das amigas baratas. Lara tinha medo da chuva, pois disseram a ela que se uma criança ficasse muito tempo na chuva essa criança encolheria até ficar do tamanho de uma semente de feijão.

Após vários e vários minutos de chuva uma das baratas acorda entre as migalhas de biscoitos. Ao ver que Lara estava dormindo, a barata decide acordar Lara. _Lara!

Lara! Acorde, por favor! Porém Lara não acorda. Vendo a barata que Lara e as outras baratas estavam dormindo a barata toma a decisão de ir até a casa de Aznic.

Como baratas tinham o costume de se banhar todos os dias, a corajosa barata voou em direção á casa de Aznic.

A barata não fora vista por ninguém dos moradores da cidade, a não ser um menino de cabelo colorido que estava observando a chuva pela janela. Chegando na casa de Aznic, a barata bate três vezes na porta. _Aznic! Aznic, você está aí? No entanto ninguém responde. _Aznic, aqui é o seu amigo Baratildo! O silêncio ainda prevaleceu. Então Baratildo entra pela fechadura.

Baratildo andou pelos cômodos da casa, mas não achara ninguém. Depois de voar pelas escadas, Baratildo encontra a janela aberta. _Isso é bem esquisito! Geralmente quando chove Aznic fica no meio da chuva com o bocão aberto engolindo as gotas d’água! Revistando pelos cantos da casa Baratildo encontra uma folha de papel. _Mas o que é isso? Ao pegar a folha, Baratildo tenta decifrar aquelas palavras esquisitas, mas não consegue. Então algo inesperado acontece.

Enquanto isso, Lara acorda de seu sono profundo e então percebe que está faltando uma barata. Então Lara acorda as demais baratas e pergunta. _Ei! Ei! Vocês não são dez irmãos ao todo, então porque eu só vejo nove? _É mesmo! (indaga uma das baratas). _Vamos sair pra

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procurá-las. _Vamos! Então Lara e as nove baratas resolvem sair de casa. Para a sorte deles a chuva já havia acabado. Os dez baldes estava completamente cheios.

Lara e as baratas saem pelas ruas da cidade gritando.

_Onde você está, barata? Os vizinhos de Lara começaram a caçoar de Lara e suas amigas baratas. _Vocês estão brincando de pique-esconde, é? Mas Lara não dava atenção ao que seus vizinhos diziam, a não ser as baratas que estavam desesperadas com o desaparecimento de Baratildo.

Depois de um longo tempo procurando pela barata, Lara e as outras baratas se sentam no gramado de uma praça. _Procuramos, procuramos e nada achamos. (indagou Lara). _Você já parou para pensar numa coisa? (indagou uma das baratas). _O quê? (pergunta Lara). _Será que o nosso irmão foi até a casa de Aznic? _E porque ele iria pra lá, se Aznic expulsou vocês de lá? _Porque o nosso irmão é diferente de nós. _Como assim diferente? _O nosso irmão não guarda mágoa de ninguém. Ele sabe perdoar, coisa que ainda não sabemos. _Puxa, você é muito sincero. _Nossos pais que nos ensinaram. _Que ótimo. _E então? Vamos até a casa de Aznic? _Sim, vamos!

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Capítulo 2

(O Mistério da barata Perdida)

Chegando à casa de Aznic, Lara e as nove baratas encontram a porta trancada. _Mas que coisa, a porta está trancada. (indaga Lara). _Nós iremos entrar pela fechadura enquanto você fica aqui esperando até que nós encontremos a chave. _Tá bom. Entrando na casa, as nove baratas voam pelos cantos no intuito de acharem seu irmão Baratildo. No momento sua maior preocupação era encontrar o irmão primeiro para depois procurar a chave.

A casa de Aznic tinha oito quartos ao todo. Quatro quartos no andar de cima, e quatro no andar de baixo. No primeiro quarto as noves baratas encontraram vários desenhos grudados nas paredes. Cada desenho era difícil de entender. O desenho que mais chamara atenção das baratas foi um que tinha um tigre de pé parecendo falar em voz alta e várias ovelhas ao redor dele. Por incrível que pareça, as baratas nunca tinham reparado os detalhes da casa de Aznic, pois a amizade entre as baratas e Aznic era tão bonita que eles não atentavam para esses detalhes.

No segundo quarto havia vários origamis de vários animais como, coelho, cachorro, girafa, raposa, elefante, jacaré e outros animais que chamavam a atenção. Mas o que chamava mais a atenção das baratas é que todos os origamis estavam voltados para a cama daquele quarto. Ao entrarem no último quarto do andar de cima, as baratas encontram várias fotos de Aznic. O que era assustador na foto era que em todas as fotos Aznic estava apontando para algum lugar, de modo que todas as fotos estavam apontando para um relógio antigo cheio de poeira e teia de aranha.

A aranha que fizera aquelas teias apareceu de dentro do relógio. As nove baratas ficaram temerariamente

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assustadas, pois aranhas sugam sangue de baratas. _Não se preocupem! Sou uma aranha velha e não tenho mais o vigor da juventude. Podem ficar sossegadas. Não vou sugar o sangue de vocês. (indagou a velha aranha). _Puxa, ainda bem porque nós estávamos morrendo de medo. _O que vocês procuram aqui? _Bem... Na verdade não é exatamente o quê, mas sim quem. _Então, quem vocês procuram? _Estamos procurando pelo nosso irmão mais velho Baratildo. _Ah, sim! Baratildo. Faz tempo que eu o vi. Ele prometeu se casar comigo, mas não se casou. _Eca!

(indagaram as baratas com tom de nojo) _É porque vocês não me conheceram quando eu era mais nova. Vocês todos cairiam de fascinação por mim. _Olha, nós não queremos ser mal educados não, mas é que nós só queremos saber se você viu o nosso irmão ou não? _Deixe-me ver... Não. Eu não o vi. Mas se bem que eu acordei do meu sono de beleza quando escutei um grito escandaloso. _Era ele! O que vocês acham meus irmãos? (perguntou a barata para os seus irmãos) _Temos certeza de que era o Baratildo!

(responderam as baratas) _Obrigado dona Aranha, tenha uma vida longa! _Vida longa pra vocês também jovens baratas.

Então a velha aranha entra de volta no antigo relógio.

Enquanto isso Lara fica entediada. _Carambolas! Quanto tempo mais essas baratas vão demorar? Estou ficando entediada! Nem mesmo Baratildo pudera imaginar que a casa de Aznic fosse tão decorada assim, algo que roubava a atenção de qualquer ser vivo. Ao descerem ás escadas, as baratas entram no primeiro quarto do andar de baixo. As baratas não podiam andar de dois em dois porque elas só voavam ou andavam juntas, isto é, elas não poderiam se separar por nada nesta vida.

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Ao entrarem no quarto, as nove baratas cheias de esperança encontram uma ampulheta antiga e por cima da ampulheta tinha um anel de acrílico. _Será que Aznic era casado e nunca nos contou sobre isto? (indaga uma das baratas) _Isso não importa! Precisamos encontrar o Baratildo.

Ao entrar no segundo quarto as baratas ficam admiradas, pois as paredes estavam pintadas de várias cores que formavam um arco-íris. _Nossa, que estupendo!

Enquanto isso Lara já estava sentada na calçada confronte á porta da casa. _Carambolas, como essa baratas demoram, acho que vou tirar uma soneca. Então Lara fecha os olhos e começa a cochilar. Enquanto isso as noves baratas vão para o terceiro quarto que estava cheio de guarda-chuvas pretos.

As baratas haviam se esquecido de que Aznic tinha grande fascinação por guarda-chuvas.

_Agora só nos resta o último quarto. Vamos irmãos!

Ao entrarem no último quarto as baratas dão um grito em uníssono. _Ahhhhhhhhhhhhhhh! Lara abre os olhos e se levanta preocupada. _Carambolas, o que terá acontecido?

Para a grande e triste notícia as nove baratas finalmente encontraram seu irmão Baratildo, mas não do jeito que as baratas queriam, pois Baratildo estava no chão esmagado.

_Baratildo, fala com a gente. Baratildo! Responde irmão!

Baratildo! Baratildo!

Lara começa a gritar do lado de fora. _Ei, o que foi que aconteceu aí dentro? Vocês acharam o Baratildo?

Respondam, por favor! Uma das baratas responde á pergunta de Lara do lado de dentro. _Baratildo está com os olhos fechados para sempre! _O quê? (indaga Lara com as sobrancelhas levantadas). _Baratildo nunca foi esmagado.

(retrucou uma das baratas). _Como assim olhos fechados para sempre? Não estou entendendo. O que querem dizer

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com isso? _Estamos dizendo que Baratildo não poderá mais andar conosco. _Por quê? Ele tá com a pata quebrada?

_Não é nada disso Lara. Quero dizer que ele está desbaratinado. _Como assim, ele não continua sendo uma barata? _Por favor, Lara, esqueça este assunto. Baratildo já se foi. _O quê, ele foi embora? Mas pra onde ele foi? _Pra um lugar onde não podemos imaginar. _Certa vez um ancião me disse que alguns seres vivos fecham os olhos e nunca mais acordam. É isso o que vocês chamam de ficar com os olhos fechadas para sempre? _É isso mesmo Lara.

Baratildo está desse jeito e não há como evitar!

Infelizmente não. _Então o que vocês vão fazer com ele?

_Vamos coloca-lo em um lugar que costumamos colocar quando uma barata fecha os olhos pra sempre. _E onde fica esse lugar? _Onde tem muita água. _Mas qual é o lugar desta cidade que tem muita água? _Você se lembra de que Baratildo te disse que Aznic tem uma piscina enorme?

_Sim. _Pois é! É lá que vamos deixar o nosso irmão Baratildo. _Então eu vou rodear a casa, certo? _Pode rodear.

Ao rodear a casa, Lara vê Baratildo em um estado deplorável, pois fora esmagado por sabe-se lá o quê. Lara sente uma comoção interna que não conseguia definir.

_Então é isso o que vocês chamam de tristeza? (pergunta Lara com lágrimas nos olhos) _Sim. (retruca uma das baratas). Antes de jogar o corpo de Baratildo na piscina de Aznic Lara beija carinhosamente a cabeça de Baratildo.

Então as nove baratas irmãs de Baratildo o jogam na piscina. _Tenha bons sonhos e durma bem irmão!

Enquanto Lara e as nove baratas estavam chorando uma coisa dourada brilhava na parte de cima da casa de Aznic. Era a chave da casa de Aznic. Mas porque alguém deixaria a chave da própria casa em cima do telhado? Porém

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essa questão não passara nem pela cabecinha de Lara e muito menos pela cabeça achatada das nove baratas.

_Olhem aquilo. (exclama Lara apontando para a chave). _Sim, estamos vendo. É a chave da casa de Aznic!

Então as nove baratas voam até o telhado da casa e pegam a chave dourada com muita dificuldade. _Nossa, é muito pesada! (indagou uma das baratas) _Mas de quê adianta ter a chave agora se o nosso irmão fechou os olhos para sempre? (perguntou a outra barata) _Ei... porque nós não abrimos a porta da casa e procuramos alguma coisa que nos mostre para onde Aznic foi? (indaga Lara) _Esqueça Aznic, Lara! Talvez ele tenha tido o mesmo destino que o nosso irmão teve. _Mas você não tem vontade de saber o que aconteceu de verdade com o irmão de vocês? Talvez Aznic tenha a resposta. _Por favor, Lara! Não há mais nada a procurar aqui. Nós estamos indo embora! _Mas como assim? Vocês querem dizer pra sempre? _Pra sempre não!

Só até quando a Imaginação não quiser mais! _Por favor, não vão agora, eu acabei de conhecer vocês. _Até quando a Imaginação quiser, Lara! Então as nove baratas voltam para a Terra das Baratas Excluídas. Lara acena com as mãos dizendo. _Até breve minhas amiguinhas. Lara começa a chorar copiosamente, pois perdera dez amigos importantes, Baratildo e seus irmãos engraçados. Depois de um certo tempo, Lara enxuga as lágrimas e olha para a chave dourada que as nove baratas haviam buscado. _Quer saber de uma coisa, eu mesma vou entrar sozinha nessa supimpa casa e eu mesma vou descobrir os mistérios que existem nela, senão eu não me chamo Lara!

Então Lara pega a chave dourada e volta para frente da casa de Aznic. _Desta vez eu vou descobrir o que aconteceu com Baratildo e Aznic! Lara abre a porta da casa e entra bem devagar. A casa de Aznic estava muito suja e

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empoeirada, pois depois que Aznic fora ofendido pelos moradores da cidade ele nunca mais se importou com nada.

_Nossa, que sujeira! Carambolas! Ao ver uma cadeira de madeira ao seu lado Lara decide se sentar, no entanto a cadeira se quebra, pois a maior parte da cadeira havia sido comida pelos cupins famintos. _Ai, ai, ai, ai!

Lara sobe pelas escadas contando os degraus. Lara tinha mania de contar coisas que seguiam certa sequência como pétalas, uvas de um mesmo cacho, passarinhos de um mesmo ninho e outras coisas. _Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito... Cheguei! A escada possuía dezoito degraus ao todo. Ao chegar ao andar de cima Lara olha para a janela aberta. _Carambolas, não sabia que dava pra ver a piscina de Aznic toda daqui. Que vista bonita!

Deixando as distrações de lado Lara entra no primeiro quarto. Lara havia visto a mesma cena que as nove baratas haviam visto, só que ao contrário das nove baratas bobas, Lara tinha a impressão de que conhecia todos aqueles desenhos grudados naquela parede. _Carambolas.

Eu acho que já vi essas imagens na minha cabecinha alguma vez. Lara faz um esforço para lembrar. _Já sei! Supimpa!

Agora me lembrei de que esses desenhos colados na parede representam todos os livros que eu já li. Carambolas! Ali está um desenho que representa o livro chamado “Abelhas fora da Colmeia”. Olha só, lá está outro desenho de um livro chamado “O Elefante Voador”. Ali tem outro, é de um livro chamado “A formiga que casou com o Escorpião”.

Aquele é do livro “Urubus não sabem de Nada”. Ali tem mais um desenho, é do livro chamado “O Bobo e o Abestalhado”. Carambolas! São tantos desenhos representativos. Milho com batata! Não acredito! Ali está o desenho que representa o meu livro predileto, “O Tigre e as

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Ovelhas”. No final da história o tigre faz uma reunião com as ovelhas e acusa uma das ovelhas de ter dito que o rebanho não prestava. Então as outras ovelhas do rebanho arrancaram a lã da pobre ovelhinha e a expulsaram do rebanho. Então o tigre se compadeceu daquela ovelha e então usou sua selvageria para espantar todo o rebanho para um lugar que nem mesmo o tigre saberia. Ah, santa Imaginação. O tigre é o fundador da cidade de Papelândia que então pegou fogo. Nossa, nossa, carambolas! Aznic colocou esse desenho aí apenas para disfarçar alguma coisa que eu não faço a mínima ideia do que seja.

Então Lara pega o desenho que continha o tigre ao redor das ovelhas. Ao entrar no segundo quarto Lara percebe o mesmo que as amigas baratas perceberam, isto é, que todos os origamis estavam voltados para a cama daquele quarto. _Se esses origamis estão direcionados para a cama deve haver algo que eu possa encontrar (pensou Lara consigo mesma). Lara olha debaixo da cama, mas não vê nada. Então Lara levanta o colchão para ver o que há embaixo dele. Para o azar de Lara só havia poeira. Lara dá um enorme espirro. _Carambolas, no que eu fui me meter.

Mas agora que eu comecei não eu vou parar de modo algum! Então Lara olha novamente para os origamis e então pensou consigo mesma. _E se os origamis estivessem olhando para outra direção? Lara percebeu que os origamis tinham a cabeça inclinada para baixo. _E se eles estivessem olhando para o chão? (Pensou Lara). Mas depois deste chão de madeira só tem o primeiro andar. (Imaginou Lara) Então Lara olha para o chão e vê um buraquinho do tamanho de um furinho bem pequenino que dava passagem para um tapete que ficava no chão de madeira do andar de baixo.

Lara sai correndo descendo às escadas e contando os degraus. _Ai carambolas, um dois, três...

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Ao chegar ao andar de baixo Lara vai até onde estava o tapete e levanta para ver o que tem debaixo. Para o descontentamento de Lara era apenas um desenho feito a giz branco. O desenho gravado na madeira do chão do primeiro andar remontava um conjunto de quadrados esquisitos e um lago ao redor desses quadrados. _Acho melhor ir embora daqui antes que eu enlouqueça (indagou Lara). Então Lara caminha em direção á porta e segura na maçaneta da porta. Pensativa e confusa ela solta a maçaneta e assim volta para o andar de cima contando degrau por degrau. Faltava mais um quarto no andar de cima. Ao entrar no quarto Lara encontra a mesma cena que as baratas viram, várias fotos de Aznic apontando para um relógio antigo.

Lara vira o verso das fotografias e vê uma palavra esquisita em cada fotografia. A senhora aranha já tinha acordado e estava espiando de longe o que Lara estava fazendo. _Posso saber o que você está fazendo? (perguntou a dona Aranha) _Bem... eu estou apenas vendo umas coisas do Aznic. _Ah, então você é fascinada pelo Aznic? _Bom...

na verdade eu nem conheço ele. Apenas ouvi falar sobre ele.

_Ah, é mesmo? _Sim, é sim! _Pois saiba que ele é o dono desta residência e não gosta de intrusos! _Mas eu não sou nenhum intruso. Eu sou uma garota que gosta de ler e escrever! _Ah, então além de intrusa você também é respondona, não é? _Não foi minha intenção, eu juro.

_Tudo bem, o que você deseja saber? _Porque o Aznic está do mesmo jeito em todas essas fotografias? _Não sei, pergunte a ele! _Mas eu não sei onde ele está. _Não é caso meu, aliás, eu deveria estar no meu precioso sono de beleza.

_Não, espere dona Aranha, preciso que me diga só uma coisa. _E o que é? _O significa cada palavra no verso das fotografias. _E eu vou saber? Procure você mesma garota abusada. Além de perturbar meu sono você ainda me vem com questões sem sentido, como se eu soubesse responder.

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_Não, espere! _Foi um desastre conhece-la. Até nunca!

Então Lara junta todas as fotos com o desenho que ela pegara no primeiro quarto do andar de cima e coloca na meia comprida de sua perna e então vai para o andar de baixo, descendo os degraus, contando novamente.

Ao terminar de descer ás escadas Lara percebe que o tempo do lado de fora indicava que ia chover.

_Carambolas, tenho que desvendar este caso antes que comece a chover. Mas que falta de sorte a minha.

Geralmente quando chovia os moradores tinham que pegar os baldes da própria casa e coloca-los para enchê-los de água para que não lhes faltasse água, pois a cidade era escassa de água. _ASTRO REI, por favor, segure a chuva nem que seja por um breve instante. Eu preciso descobrir para onde foi Aznic. Então o ventou ficou brando, mesmo que por um breve instante. _Muito obrigada ASTRO REI!

Lara passa pelo tapete que escondia aqueles desenhos marcados a giz. Ao entrar no primeiro quarto do andar de baixo Lara encontra a famosa ampulheta antiga e o anel de acrílico em cima. _Ai, ai, carambolas! Agora ficou mais difícil ainda! A intuição de Lara lhe dizia que ela deveria quebrar aquela ampulheta para ver o que tinha dentro. Depois de quebrar a ampulheta Lara espalha a areia que a ampulheta continha no chão e então encontra um anel de vidro.

No anel de vidro havia uma inscrição etropassap.

Lara não entendera bulhufas nenhuma, mas achou o anel bonito. Então Lara pega o anel de acrílico e o de vidro também. Só que o anel de vidro era menor que o de acrílico, então de uma forma mágica os dois anéis se combinam e se unem resultando em um só.

O anel se encaixou por si só no dedo indicador da mão direita de Lara. _Santa Carambola, que legal! Lara

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nunca havia visto nada igual. Mesmo assim a inscrição etropassap continuava permanente no anel. No primeiro quarto do andar de baixo havia uma janela aberta que apontava para o leste. Algo chamara a atenção de Lara, era uma fumaça preta enorme que parecia vir daquela direção.

_O que é aquilo? A curiosidade se apossara de Lara como o desejo incessante ler bons livros. _Nunca vi tal coisa em toda a minha vida!

Lara continua sua busca e então vai em direção ao segundo quarto. Ao ver as paredes pintadas de colorido formando assim um arco-íris Lara se lembrou de uma conversa que tivera com um senhor já bem velhinho.

_Então arco-íris existem? (perguntou Lara para o ancião) _Claro que eles existem, mas só se você fizer um pedido (respondeu o bom velhinho) _Qual? Você precisa desejar que a paz reine em nosso mundo. _E o que significa desejar? (perguntou Lara) _É toda vez que você tem uma vontade que te empurra a fazer aquilo que você quer ou até mesmo aquilo que você não quer. _Acho que já sei o que é desejar! (exclamou Lara) _Então o que é? (perguntou o velho) _É quando você vê uma laranja no topo de uma laranjeira e você faz de tudo para pega-la, é isso, não é?

_Você acertou! É uma resposta muita sábia! Você é uma menina muito sábia. (exclamou o velho) _Mas por falar nisso... o que é paz? (perguntou Lara coçando o nariz) _Bem... como eu poderia explicar? A paz é como um livro sem nenhuma página arrancada. Você já sentiu falta de alguma página arrancada de algum livro seu? _Eu nem sequer arranquei as páginas do meu livro. _Pois então! Isso é paz. É toda vez que você olha para as pessoas que estão ao seu redor e percebe que nada as está incomodando. _Ah, então agora eu sei o que é paz! (exclamou Lara com um belo sorriso no rosto) Durante a conversa Lara fica curiosa e pergunta uma coisa ao ancião. _O que acontece quando

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um arco-íris aparece? _Quando um arco-íris aparece todas as criaturas do atenalp começam a cantar uma música considerada a música da paz universal. _E que música é essa? Sinceramente eu não sei, mas dizem que todos aprendem a cantar essa música quando aparece um arco- íris. _E quem inventou essa música? _Dizem os rumores que foi a Imaginção, para que todos aprendessem a se amar nesta esfera de horrores. _Você não sabe nem o começo dessa música? _Não mesmo, nem uma estrofe sequer.

_Puxa, e eu que adoro aprender músicas. _Só tem uma forma de aprender a letra. _Como? (perguntou Lara) _Se você desejar com muita força que a paz reine em nosso mundo provavelmente o arco-íris vai surgir e todas as criaturas do atenalp vão cantar, inclusive você. Lara tentou com muito esforço desejar que a paz reinasse em seu mundo, mas infelizmente não conseguira. _Porque eu não consigo? (perguntou Lara) você está desejando com o pensamento. A paz não é algo que se possa desejar apenas com o pensamento. Tem que vir do coração também. _Tá bom então. Lara tenta mais uma vez, mas não tem resultado.

_Eu desisto! (exclama Lara) _Quando chegar a hora você vai conseguir, tenho certeza disso.

Ao terminar de lembrar-se dessa conversa Lara fecha os olhos e se concentra. _Vamos, tem que funcionar!

Enquanto Lara se esforçava algumas cores começavam a aparecer no céu, mas Lara abriu o olho esquerdo para ver e então o suposto arco-íris despareceu de vez. _Puxa!

Carambola amassada com sabor de chocolate! Eu cheguei tão perto de realizar este sonho. Lara se dera conta de que ainda não estava preparada para tal realização.

Lara segue em frente entrando no terceiro quarto do andar de baixo. Ao ver os guarda-chuvas Lara conta um por um. _Um, dois, três, quatro... Eram dez guarda-chuvas ao

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todo. Então um dos guarda-chuvas diz para Lara. _Ai, não toque aí sua menina curiosa, vai acabar com os meus ossos.

_O que os outros guarda-chuvas são seus? (perguntou Lara) _Eles são meus irmãos, mas nenhum deles fala, só eu. _E porque eles não falam? Eles tiveram um trauma quando eram crianças. _E o que foi que aconteceu com eles? Uma vez eles foram quebrados e despedaçados por um menino muito sapeca, mas Aznic concertou meus irmãos e eu sou muito grato a ele. _Então Aznic é um ser de bom coração, não é? _Bom... pelo menos pra nós é. _Acredito que ele faça muita falta para nós. _Então quer dizer que Aznic foi embora? _Vocês não souberam disso? _Não, ele não nos avisou. _Carambolas, ele devia ter contado pra vocês todos.

_Pois é (indagou o guarda-chuva). _E agora, de que forma vocês vão ser úteis, se o dono da casa foi embora? _Você pode nos fazer um favor? _Claro, o que posso fazer por vocês? _Você está vendo a janela daqui do quarto? _Sim, estou! _Abra a janela e coloque-nos do lado de fora, mas primeiro nos feche um por um.

Então Lara fechou os dez guarda-chuvas e depois abriu a janela. Depois de abrir a janela Lara colocou os dez guarda-chuvas do lado de fora, no gramado, pois havia um gramado que circuncidava a casa de Aznic. _Ei, eu gostaria de perguntar uma coisa a vocês. (indagou Lara) _Claro, é só perguntar! (exclamou o guarda-chuva falante). _Porque vocês querem ficar aí do lado de fora? _Bem... já que Aznic foi embora nós vamos esperar o momento da chuva, e quando a chuva for muito turbulenta e os ventos soprarem voltaremos para a nossa terra natal. _E como se chama a terra natal de vocês? _A Terra dos Guarda-chuvas Felizes, fica do outro lado do atenalp, na direção leste. _Então receio que algo desagradável esteja acontecendo na terra de vocês. _E porque você está dizendo isso? _Porque eu vi uma fumaça preta enorme cobrindo a direção leste. _Não se

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preocupe (disse o guarda-chuva falante com muita calma) _E porque eu não devo me preocupar, eu li nos livros de ciências que toda vez que tem fumaça preta é porque estão queimando alguma coisa. _E de fato estão (disse o guarda- chuva tranquilo) _E o que eles estão queimando?

(perguntou Lara) _Na terra onde vivemos existem leis que devem ser cumpridas. _E o que são leis? (perguntou Lara muito curiosa) _São coisas que não existem na sua cidade.

_E isso é bom? _Para nós guarda-chuvas sim, mas para vocês é horrível. _Ai, carambolas, não estou entendendo nem um caroço de milho. _Olha, é melhor deixarmos este assunto! De qualquer maneira você não entenderia. _E vocês vão ficar aí esperando até que chegue o vento impetuoso? _Ah, não tenha dúvida. O que nós mais sabemos é esperar. _Então eu vou continuar minha busca.

_Boa sorte, e que os ventos assoprem ao seu favor!

_Obrigada!

Só havia um último quarto do andar de baixo para Lara entrar. Ao entrar nesse quarto Lara avista uma carta cujas letras Lara não conseguia compreender, era uma carta escrita totalmente diferente da que Lara já estava acostumada. _Santo caroço de milho! Minha cabeça está muito confusa. Não consigo entender nada do que encontro.

Então Lara sai da casa de Aznic e pergunta ao guarda-chuva falante que estava encostado junto aos seus irmãos.

_Escuta, você sabe me dizer o que tá escrito nesta folha de papel? _Hum... deixe-me ver. É uma carta fantasma! _E o que seria uma carta fantasma? _É uma carta que só pode ser traduzida com o auxílio de um espelho-não-quebrado.

_E o que quer dizer com espelho-não-quebrado? _Quer dizer que somente o espelho original pode traduzi-la. _E onde fica esse espelho original? _Na Cidade dos Espelhos Quebrados. _E como eu faço pra chegar lá? _Você precisa esperar o vento impetuoso chegar. _Mas esse vento pode

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