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E Conflitos ambientais na realidade fluminense

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Revista Rio de Janeiro, n. 16-17, maio-dez. 2005 197 Conflitos ambientais na realidade fluminense

R E S E N H A

Conflitos ambientais na realidade fluminense

Por Isabel C. M. Carvalho*

* Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Luterana do Brasil.

E-mail: icmcarvalho@uol.com.br

E

ste livro reúne um conjunto de onze artigos de pesquisadores de diferen- tes áreas de formação das ciências sociais e humanas. Cada um dos textos pro- porciona um acesso diferenciado à diversida- de das questões socioambientais do Estado do

Rio de Janeiro. Nesta incursão, o leitor toma ciência de problemáticas locais, percorre pro- cessos sócio-históricos das mesmas e verifica suas conseqüências para a sociedade fluminen- se. Isto significa, sobretudo, compreender cer- tas temáticas, tais como “zonas de sacrifício

ACSELRAD, Henri. (Org.) Conflito social e meio

ambiente no Estado do Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: Relume Dumará; Fase, 2004, 262 p.

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urbano”, “loteamento do mar”, “lutas contra a monocultura do eucalipto”, “assentamentos rurais”, “áreas de riscos industriais”, “lutas contra barragens”, entre outras.

O tema dos conflitos ambientais vem-se cons- tituindo como uma categoria analítica desde o início dos anos de 1990, em que se destacam as pesquisas do Professor Henri Acselrad. Hoje, este debate segue norteando projetos de inves- tigação e intervenção. Associada à noção de justiça ambiental, a análise dos conflitos ambien- tais tem sido fundamental para a configuração de uma sociologia capaz de evidenciar a di- mensão política dessa problemática. Assim, ao integrar esta linha de investigação, o livro inci- de tanto no avanço teórico e conceitual das categorias de análise do campo quanto na qua- lificação da ação política nessa área. Desse modo, não poderíamos deixar de mencionar como parte da rede de interlocução deste de- bate, a rede de justiça ambiental no Brasil (constituída em setembro de 2001).

A noção de conflito ambiental, como a define Acselrad, diz respeito àqueles conflitos

“desencadeados quando certas atividades ou instalações afetam a estabilidade de outras for- mas de ocupação em espaços conexos, sejam estes ambientes residenciais ou de trabalho, mediante impactos indesejáveis transmitidos pelo ar, pela água ou pelo solo”. Ainda segun- do o autor, os conflitos mais freqüentes estão associados principalmente a três processos:

1) enfraquecimento da capacidade de controle ambiental pelas agencias públicas; 2) relativa

estagnação econômica do estado até meados dos anos de1990 (fábricas abandonadas jun- tamente com seus resíduos); 3) retomada eco- nômica em meados dos anos de 1990, basea- da na expansão e exploração do petróleo no Norte Fluminense e dos investimentos industriais no médio vale do Paraíba.

Ao tomar os conflitos ambientais como categoria central da análise da realidade flumi- nense, o livro de Acselrad, bem mais do que se restringir a uma identificação geofisiográfica das disputas em torno do assunto, trata de fazer emergir o território ambiental como espaço político de enfrentamento entre as práticas em suas dimensões: 1) técnicas (que pautam os diversos modos de uso do ambiente); 2) políti- cas (que configuram relações de força sociais);

e 3) simbólicas (representações dos diferentes grupos sociais sobre o ambiente). O percurso é o espaço denso das relações materiais, so- ciais e culturais que constituem o território em seu sentido mais pleno.

A versão fluminense desse quadro, com suas cores locais e correlações globais, é o que o livro disponibiliza para estudiosos, pesquisa- dores e ambientalistas. Traz estudos de casos que são parte da pesquisa Mapa da Justiça Ambiental no Estado do Rio de Janeiro, pro- movida em parceria entre a Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacio- nal) e o IPPUR (Instituto de Pesquisa e Planeja- mento Urbano Regional), da UFRJ. Iniciativa que mobilizou ao longo de quinze meses, desde final de 2002, sete pesquisadores no levantamento

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e identificação de agressões ambientais que envolveram as parcelas mais pobres da popu- lação fluminense. Cabe ainda destacar que a pesquisa foi realizada com recursos proveni- entes de medidas compensatórias da Petrobras, o que nos faz pensar em um caso bastante con- seqüente de uso deste tipo de recursos numa ação que efetivamente retorna para a publici- zação da questão ambiental em forma de análi- ses contundentes que problematizam, entre outros segmentos, os impactos da expansão da exploração petroleira no Norte Fluminense.

A concepção de conflito ambiental associa- da à preocupação com a injustiça ambiental explicita a gravidade da apropriação desigual dos recursos que destina a maior fatia dos da- nos ambientais do desenvolvimento às popula- ções marginalizadas e vulneráveis. Como sabe- mos, no Brasil, trabalhadores e população em geral estão expostos continuamente a riscos ambientais. Os grupos sociais de menor renda, em geral, são os que têm menor acesso ao ar puro, à água potável, ao saneamento básico e à segurança fundiária. Esse processo nas cida- des tem levado a periferização dos trabalhado- res e no campo, tem gerado empobrecimento do pequeno agricultor, do trabalhador rural, e o êxodo para os grandes centros urbanos.

Portanto, não se trata de “resolver” os conflitos ambientais num amplo consenso em torno de interesses ambientais comuns, tal como se insinua nos discursos da mo- dernização ecológica, como se a esfera am- biental estivesse acima dos conflitos que mar- cam a vida social. Aqui, a via é a do enfrenta- mento dos conflitos. Uma solução política que remete necessariamente à construção cole- tiva de um pacto societário em torno do avan- ço da justiça ambiental. No horizonte desejá- vel para uma sociedade ambientalmente sus- tentável e socialmente justa, por exemplo, ne- nhum grupo social, étnico, racial ou de clas- se deveria arcar com uma parcela despro- porcional das conseqüências negativas de operações econômicas, de decisões de polí- ticas e de programas federais, estaduais, lo- cais, assim como da ausência ou omissão de tais políticas. Os desdobramentos desse tipo de compreensão e ação podem, em sua me- lhor solução, abrir possibilidades para no- vos modos de uso do ambiente, outros arranjos de força, legitimando um ideário que possa reorientar decisões dentro de um horizonte democrático, pautado pela justiça ambiental, pela valorização da vida e das populações.

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