TOCAR E VER: O CORPO TORNANDO-SE SUJEITO
Iraquitan de Oliveira Caminha 1
O objetivo desse estudo é analisar a experiência de tocar e de ver, considerando a pulsão de domínio, concebida por Freud, e a motricidade do corpo próprio, concebida por Merleau-Ponty. Nossa intenção é mostrar como a subjetividade vai se construindo nos atos de se dirigir para o outro. Nesse sentido, pretende-se compreender como as ações do corpo, por meio do tocar e do ver para dominar o objeto ou para agir intencionalmente em relação ao mundo, podem ser concebidas como experiências originárias para se compreender o corpo tornando-se sujeito. Em outras palavras, como o corpo vai se tornando corpo-sujeito a partir de sua relação com o mundo, estruturada pela experiência de tocar e de ver.
Segundo Laplanche e Pontalis (2001), a pulsão de domínio, que num primeiro momento Freud entende como de natureza não sexual, tem como meta dominar o objeto pela força. Nesse sentido, estamos falando de um ato pulsional que se dirige para o exterior com o intuito de se apoderar do objeto.
O objeto é a instância correlativa da atividade pulsional. Usar a boca para tocar o seio da mãe, bem como usar as mãos para alcançar um objeto distante podem ser consideradas como experiências em que a pulsão de domínio é ativada em busca de dominar o objeto. Esse objeto pode ser também uma pessoa, um objeto real ou fantasístico, ou ainda um objeto parcial ou total. Mas como o corpo se faz sujeito e alguma coisa se faz objeto? Com é possível um corpo se constitui num “aqui” que se dirige para um “lá”?
Se buscarmos responder essa duas questões usando a lógica cartesiana, poderíamos propor ações intencionais de um sujeito que usa o corpo para dominar, de forma controlada, o objeto. Estamos falando de uma espécie de subjetividade anexa ao corpo que pressupõe toda atividade intencional. Todavia, propomos trilhar um caminho diferente daquele adotado por Descartes.
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