UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A SUCESSÃO EMPRESARIAL E A LEI 11.101/2005
Por: Daniel Aleixo Rodrigues
Orientador Prof. Ivan Garcia
Rio de Janeiro
2011
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A SUCESSÃO EMPRESARIAL E A LEI 11.101/05
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre - Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Empresarial e dos Negócios
Por: Daniel Aleixo Rodrigues
AGRADECIMENTOS
Ao Banco Bradesco S/A, pela oportunidade
de exercer função de negócios junto ao seu
Departamento Jurídico e a todos os que direta
ou indiretamente contribuíram para a
conclusão deste trabalho.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha amada esposa
Mara, que tanto colaborou para o
aperfeiçoamento técnico deste trabalho. Aos
meus pais, sem os quais eu jamais estaria
aprimorando o meu conhecimento e a todos
os irmãos invisíveis que contribuíram para a
inspiração necessária.
RESUMO
O presente trabalho – A sucessão empresarial e a lei 11.101/2005 - tem como escopo principal identificar a ocorrência da sucessão de empresas no âmbito da lei que regula o processo de falência e recuperação judicial e a execução de créditos de natureza trabalhista.
Objetiva-se identificar o entendimento jurisprudencial tanto da Justiça do Trabalho quando da Justiça Comum, bem como buscar identificar a ocorrência de divergência entre o entendimento dos Tribunais Superiores.
Buscaremos identificar eventuais diferenças entre sucessões empresariais e se as mesmas interferem na execução dos créditos trabalhistas.
Ao final, iremos nos socorrer dos ensinamentos proferidos em julgamentos do
Supremo Tribunal Federal acerca do tema, verificando, assim, se há alguma decisão
conclusiva sobre tão debatida questão perante os Tribunais em todo o país.
METODOLOGIA
Como metodologia, foram utilizados os mais diversos recursos, em especial o uso de livros, como nos ensinamentos do ilustre professor Fabio Ulhôa Coelho e outros, revistas especializadas dos Tribunais, jurisprudências extraídas dos sites dos Tribunais do pais, em especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, do Superior Tribunal do Trabalho, do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.
Nos socorreremos, ainda, de sites e publicações da internet acerca do tema e
que possam trazer algum complemento para o raciocínio e entendimento.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Sociedade empresária e o empresário 11
CAPÍTULO II - Da lei de falências 14
CAPÍTULO III – A sucessão e os créditos trabalhistas 20
CONCLUSÃO 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45
INTRODUÇÃO
Com a edição da nova Lei de Falências, sob o nº 11.101, publicada em 09 de fevereiro de 2005, tendo como vacatio legis o período de 120, ensejou uma série de discussões acerca da responsabilidade sobre a liquidação dos créditos trabalhistas de sociedade empresarial cuja falência é decretada.
O que se busca com a presente pesquisa é confirmar quem, efetivamente, tem competência para processar e julgar os créditos trabalhistas oriundos de demandas judiciais que tramitam perante a Justiça do Trabalho.
A grande questão que envolve o tema é com relação ao Princípio do Juiz Singular, oportunidade em que debateremos sobre o mesmo e quais são as suas implicações jurídicas, na medida em que se questionou se o juízo da vara de falência seria o competente para processar e julgar o processo de conhecimento trabalhista.
Nesse sentido, se buscará o debate sobre a responsabilidade dos juízes de direito das varas de falências e concordatas, bem como dos juízes das varas de trabalho, além de breve levantamento sobre a necessidade de comunicação entre o trabalho de ambos, visando, sempre, gerar liquidez para as empresas que se encontrem em difícil situação financeira, bem como amparar o trabalhador que, eventualmente, deixou de ser remunerado.
Com o fim de complementar o entendimento doutrinário, o qual certamente se fará presente neste estudo, serão apresentadas as jurisprudências que pacificaram o entendimento acerca da competência para processar e julgar os créditos trabalhistas.
Ao fim, buscará concluir se haverá habilitação de créditos trabalhistas em sede de massa falida e qual o juízo responsável pelo seu julgamento, bem como se empresas sucessoras na massa falida são responsáveis pelos créditos oriundos da relação de trabalho da incorporada.
Portanto, o autor tem como objetivo geral analisar os efeitos da nova
lei de falências de nº 11.101/2005 e as suas repercussões no direito do trabalho
e, em específico, analisar a responsabilidade por processar e julgar os créditos
oriundos da relação de trabalho, já considerando a ocorrência de uma sentença
declaratória de falência.
CAPITULO 1 – A SOCIEDADE EMPRESARIA E O EMPREGADO
1.0 – DO EMPRESÁRIO E DA SOCIEDADE
Antes de se buscar analisar os efeitos de uma falência empresarial, há que se entender o que é uma empresa, bem como qual a sua contribuição para a sociedade.
O ilustríssimo professor Fábio Ulhoa Coelho, antes de adentrar ao conceito de sociedade, nos revela com exatidão de detalhes que: “empresário é a pessoa que toma a iniciativa de organizar uma atividade econômica de produção ou circulação de bens ou serviços”
1.
Assim, podemos definir o empresário como a pessoa que gere ou que inicia a atividade de empresário, que busca, na maioria das vezes, aferir lucros com a sua atividade perante a sociedade civil. Importante frisar a existência de sociedade de pessoas e sociedade de capital, oportunidade em que a primeira visa a obtenção de lucros através da exploração da atividade intelectual, enquanto que esta não se preocupa pela pessoa que vai integrar o quadro societário, mas, tão somente, o capital que será investido.
O citado doutrinador ainda nos esclarece que empresário não é somente pessoa física, literis:
“Essa pessoa pode ser tanto a física, que emprega seu dinheiro e organiza a empresa individualmente, como a jurídica, nascida da união de esforços de seus integrantes”
2.
Logo, empresário pode ser tanto a pessoa física que, de maneira organizada e com emprego direto de seus bens, administra uma atividade
1
COELHO, Fabio Ulhoa, “Curso de Direito Comercial”, Ed. Saraiva, vol. 1, 13ª edição, pág. 63.
2
Idem 1.
econômica ou uma pessoa jurídica, que é a sociedade empresária propriamente dita.
Outrossim, curial registrar que o conceito de sociedade é igualmente definido no Código Civil, mais precisamente no seu art. 981, verbis:
“Art. 981 – Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”.
Ademais, é necessário destacar o ensinamento do já citado doutrinador ao fixar o entendimento que “empresa é a atividade, e não a pessoa que a explora”
3na medida em que quem está sujeito às normas acerca dos deveres do empresário é a sociedade em si e não os seus sócios que, em regra, apenas respondem dentro dos limites de sua participação.
Logo, chegamos à conclusão que a sociedade empresária é a celebração de contrato por pessoas que tem por objeto o exercício de atividade econômica, mediante desenvolvimento organização do emprego de seus recursos, visando sempre, a partilha de seus frutos.
Nos primórdios da civilização humana, o sentimento que dominava a sociedade era o da vingança coletiva, onde um grupo inteiro de pessoas reagiam juntos a insultos, ofensas, danos praticados por alguém contra qualquer um dos integrantes desse grupo. O grupo inteiro “comprava a briga” em nome deste ofendido. A regra dominante naquele tempo era a da vingança coletiva onde esta se caracteriza de forma clara, conforme os ensinamentos de Maria Helena Diniz:
“se caracterizava pela reação conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus componentes”.
41.1 – DA SOCIEDADE DE PESSOAS E SOCIEDADE DE CAPITAL
3
COELHO, Fabio Ulhoa, “Curso de Direito Comercial”, Ed. Saraiva, vol. 1, 13ª edição, pág. 63.
4
DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º vol., 14ª Ed.. p.9.
Conforme já verificamos no presente, a sociedade advém da união de pessoas que tem por objeto o exercício de atividade econômica.
Esta união tem como fruto a sociedade propriamente dita que, por si, se divide em duas classificações: A sociedade de pessoas e a sociedade de capital.
O professor Fábio Ulhoa Coelho conceitua a sociedade de pessoas aquela em que “a pessoa do sócio é mais importante que a contribuição material que este dá para a sociedade”
5, ou seja, o mais importante para a sociedade de pessoas é o grau de intelecto de seus sócios e não o quanto vai integralizar ao capital social da empresa. A doutrina pátria denomina este interesse de “affectio societatis”, “elemento específico do contrato de sociedade comercial, caracterizado como uma vontade de união e aceitação das áleas comuns do negócio”.
6Assim, a sociedade de pessoas depende exclusivamente da vontade dos sócios em organizar, manter e desenvolver a empresa, contando para tanto de suas próprias aptidões intelectuais que são, na maioria das vezes, o verdadeiro patrimônio, sem os quais, eventualmente, não se operaria no mercado.
Por outro lado, quanto à sociedade de capital, rogamos novamente o conhecimento do notável doutrinador Fábio Ulhoa Coelho onde menciona que “as aptidões, a personalidade e o caráter do sócio são irrelevantes para o sucesso ou o insucesso da empresa explorada pela sociedade”
7.
Nesse sentido, entendemos que as sociedades de capital são aquelas em que o único interesse é inserir capital, geralmente em moeda, para o desenvolvimento da atividade, em pouco importando o grau de intelecto dos seus sócios.
5
COELHO, Fabio Ulhoa, “Curso de Direito Comercial”, Ed. Saraiva, vol. 2, 13ª edição, pág. 24.
6
WIKIPÉDIA. Pesquisa de artigo. Disponível na internet. http://pt.wikipedia.org/wiki/Affectio_societatis, acessado dia 09/12/2010.
7
COELHO, Fabio Ulhoa, “Curso de Direito Comercial”, Ed. Saraiva, vol. 2, 13ª edição, pág. 24.
No nosso ordenamento jurídico pátrio, essas sociedades (de pessoas ou de capital) são: sociedade simples, sociedade limitada, sociedade anônima, sociedade em comandita simples, sociedade em comandita por ações, sociedade em nome coletivo e por fim, sociedade em conta de participação.
1.2 – DO EMPREGADO
Superado o conceito acerca da sociedade conforme o ordenamento jurídico brasileiro, há que se adentrar ao tema que envolve o “coração” de toda e qualquer empresa, qual seja, o empregado.
Muito embora muito se tenha ocorrido no que concerne ao avanço tecnológico, bem como a gradual automatização dos grandes centros industriais, oportunidade em que verifica-se a redução da quantidade de funcionários para a realização de um processo, entende-se que, ainda assim, uma empresa necessita da força humana.
Consoante verificamos que a empresa tem sua constituição prevista no Código Civil e leis especiais, os trabalhadores se socorrem da Consolidação das Leis do Trabalho, Decreto Lei nº 5,452/43 que, em seu art. 3º, assim os define, verbis:
“ Art.3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”.
Portanto, empregado é toda a pessoa física que labora prestando serviços para um empregador. Muito embora tenhamos diferentes empregados, para direcionamento do presente estudo, consideremos o empregado como a pessoa física que está vinculada à uma sociedade empresarial, de maneira não eventual, sob a sua dependência.
Nestas linhas analisamos as questões conceituais de sociedade
empresária e de empregado, vimos que a sociedade empresária é a reunião de
duas ou mais pessoas com o fim de exercer uma atividade econômica e que o
empregado é a pessoa física que presta serviços a um empregador, de maneira não eventual, dele sendo dependente.
CAPÍTULO 2 – DA LEI DE FALÊNCIAS
2.1 – A LEI 11.101 DE 09 DE FEVEREIRO DE 2005
Superada a questão conceitual de sociedade e empregado, há que se adentrar a exegese de se analisar a Lei nº 11.101/2005 que revogou o Decreto Lei nº 7.661/45, tendo entrado em vigor no ordenamento jurídico no dia 10 de junho de 2005.
A nova lei de falências veio para modernizar totalmente o ordenamento jurídico brasileiro, mais precisamente no direito falimentar, no sentido de preservação máxima da empresa, medida esta que não encontrava qualquer respaldo no Decreto-lei nº 7.661/45, que se concentrava apenas no propósito de proceder à liquidação de todos os bens do devedor para o pagamento dos credores.
Apesar de muito se reclamar, a reforma na legislação falimentar veio somente a firmar-se após o formal compromisso com o FMI – Fundo Monetário Internacional, conforme se verifica trecho do documento “Política Econômica e Reformas Estruturais", do Ministério da Fazenda
8, literis:
“As reformas do mercado de crédito têm como objetivo reduzir os incentivos à postergação no pagamento de dívidas e procedimentos mais eficientes de execução das garantias concedidas de modo a reduzir as taxas de juros cobradas nos empréstimos privados”.
Fica evidenciada a necessidade de uma nova lei de falências que visava permitir a redução dos spreads bancários, bem como que evitasse a destruição dos empregos e ativos das empresas em dificuldades financeiras, fortalecendo o conceito da empresa e, com isso, as garantias, reduzindo-se os custos necessários aos bons pagadores, conforme se observa do citado documento
9, verbis:
8
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Pesquisa de artigo. Disponível na internet.
http://www.fazenda.gov.br/portugues/releases/2003/Politica%20Economica.pdf Acessado dia 11/07/2011.
9
Idem 8.
“Dessa forma, as medidas discutidas têm como objetivo reduzir esses custos de empréstimos, permitindo que os bons pagadores incorram em menores spreads bancários ou tenham acesso a contratos com garantias menos custosas, mas com maior confiabilidade para o concedente do crédito”.
Portanto, com uma lei falimentar fortalecida, que defenderia a manutenção da sociedade empresária com dificuldades financeiras, permitiria assim, a redução dos riscos na concessão de linhas de crédito, seja no Brasil, seja no exterior, com a emissão de títulos privados, oportunidade em que se alavancaria a economia nacional e desenvolveria a atividade econômica, medida que, certamente, serviria de combustão para o crescimento do PIB.
2.2 - CONCEITO DE FALÊNCIA
Toda empresa, para fazer gerar a atividade econômica com os fins de auferir lucros necessita de capital monetário, ou seja, necessita de moeda. Para tanto, a empresa pode buscar recursos no mercado, mediante a emissão de títulos privados de dívida ou a subscrição de ações (em casos de sociedades de capital aberto) ou, como ocorre na maioria dos casos, mediante obtenção de crédito junto à Instituição Financeira.
De forma evidente, para se obter qualquer recurso há que se ofertar alguma garantia, a qual se divide em diversas opções, que vão desde o patrimônio imobilizado da empresa aos títulos de crédito futuro.
O professor Fábio Ulhôa Coelho
10divide a crise de uma empresa em três, quais sejam: econômica, financeira e patrimonial, como passamos a descrever, literis:
“A crise da empresa pode manifestar-se de formas variadas. Ela é econômica quando as vendas de produtos ou serviços não se realizam na quantidade necessária à manutenção do negócio. É financeira quando falta à sociedade empresária dinheiro em caixa para pagar suas obrigações.
Finalmente, a crise é patrimonial se o ativo é inferior ao passivo, se as dívidas superam os bens da sociedade empresária”.
10
COELHO, Fabio Ulhoa, “Curso de Direito Comercial”, Ed. Saraiva, vol. 2, 13ª edição, pág. 232.
Nesse sentido, à exceção da crise econômica que, mediante a mudança de estratégias de administração e gestão poderá, eventualmente, alterar o cenário, as crises financeiras e patrimoniais podem, certamente ensejar a falência.
Ato contínuo, para se chegar aos conceito da falência, há que se considerar que uma empresa não tem condições de honrar seus compromissos, seja pela total ausência de dinheiro em caixa, seja pelo fato de seu ativo ser inferior ao passivo.
Nesse sentido, Fábio Ulhoa Coelho
11nos ensina, verbis:
“Se alguém não possui bens suficientes para pagar todas as dívidas, o mais justo é a instauração de uma execução única, envolvendo todos os credores e abrangendo a totalidade dos bens do patrimônio do devedor. A série de execuções singulares não permite o tratamento paritário dos credores, com o atendimento preferencial aos mais necessitados e ao interesse público. Esses objetivos só se alcançam numa execução concursal”
Portanto, o entendimento do citado doutrinador é no sentido que, em havendo a dificuldade ou a impossibilidade de uma sociedade empresária em cumprir com as suas obrigações, com os fins de proteção aos credores e um tratamento igualitário entre os mesmos, beneficiando os mais necessitados e os que envolvem a administração pública, reunindo todos os créditos em um só.
A medida é de cristalino sentido, uma vez que, em havendo diversas execuções unitárias, de diferentes credores, em face de uma mesma empresa, não haveria a possibilidade de se aferir se eventual credor teria direito preferencial em face dos demais, eis que os feitos certamente tramitariam em diversos juízos.
Portanto, a reunião de todos os credores em apenas um juízo ensejaria, certamente, um tratamento paritário que, por si só, dá causa à segurança na concessão do crédito.
Logo, Fábio Ulhôa Coelho
12, brilhantemente, conceitua a falência como sendo “o processo judicial de execução concursal do patrimônio do devedor,
11
COELHO, Fabio Ulhoa, “Curso de Direito Comercial”, Ed. Saraiva, vol. 2, 13ª edição, pág. 243.
12
COELHO, Fabio Ulhoa, “Curso de Direito Comercial”, Ed. Saraiva, vol. 2, 13ª edição, pág. 244.
empresário, que, normalmente, é uma pessoa jurídica revestida da forma de sociedade limitada ou anônima”.
Portanto, a falência, em si, é o processo judicial que irá apurar o passivo de uma empresa, em seguida, habilitará os credores com os fins de classificar qual tem direito preferencial no recebimento de seu crédito e, por fim, a alienação de todo o passivo.
2.3 – DOS CRÉDITOS TRABALHISTAS E A LEI DE FALÊNCIAS
Estabelece o art. 76 da Lei 11.101/2005, literis:
“Art. 76 – O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.
Parágrafo único – Todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste artigo, terão prosseguimento com o administrador judicial, que deverá ser intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo”.
Com a redação do art. 76 da Lei de Falências, nos parece bem cristalina a ausência de possibilidade de julgamento dos feitos trabalhistas pelo juiz da falência.
Nesse sentido, as ações de natureza trabalhista serão processadas e julgadas perante a justiça especializada até apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado pela sentença, à exegese do que estabelece o art. 6º, §2º da Lei. 11.101/2005.
Portanto, decretada a falência, o falido perde o direito de administrar a massa, oportunidade em que será nomeado o administrador judicial (anteriormente conhecido por síndico da massa) o qual deverá ser intimado, sempre, das ações contrárias, sob pena de nulidade do julgado.
No que concerne à classificação dos créditos na falência, dispõe o art.
83, verbis:
“Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias;
IV – créditos com privilégio especial, a saber:
a) os previstos no art. 964 da Lei n
o10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;
V – créditos com privilégio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei n
o10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
VI – créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem
o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;
VIII – créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.
§ 1
oPara os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.
§ 2
oNão são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§ 3
oAs cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
§ 4
oOs créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.”
Nesse sentido, a classificação dos créditos de acordo com a redação do citado artigo 83 desprestigia o crédito trabalhista, na medida em que limita o beneficio da preferência ao valor de 150 (cento e cinquenta) salários mínimos e considera por quirografário qualquer valor que for superior à esta monta.
Outrossim, é curial registrar o direito de preferência dos créditos decorrentes de acidentes de trabalho que, neste caso, não obedecem a ordem de 150 salários mínimos, sendo executados de forma integral.
Portanto, estaria a Lei prestigiando o crédito com garantia real e os
créditos de natureza tributária, colocando-os em posição superior ao crédito
trabalhista superior a 150 salários mínimos.
CAPÍTULO 3 – A SUCESSÃO E OS CRÉDITOS TRABALHISTAS
3.1 – DA SUCESSÃO EMPRESARIAL
Segundo o dicionário online de português
13acerca da palavra sucessão, verbis:
“s.f. Ato ou efeito de suceder
Sequência, série de pessoas, de coisas ou de fatos que se sucedem sem interrupção ou com um pequeno intervalo: sucessão de reis, de idéias”
Dessa mesma maneira, entendemos pela sucessão empresarial, oportunidade em que necessitamos de uma sucessão da empresa A, pela empresa B, cujos fatos ocorreram sem interrupção.
O ilustre professor Cândido Rangel Dinamarco
14, em seu Parecer Jurídico ressaltou:
“Para que efetivamente haja a sucessão, todavia, com a consequente legitimidade passiva daquele que antes era mero terceiro e assim se torna sucessor, é necessário que estejam presentes certo requisitos, que a doutrina e a jurisprudência identificam de modo bastante preciso. É indispensável um contexto econômico ou fático que revele, ao menos em razoável aparência aos olhos dos que negociaram com o primitivo obrigado, a continuação da mesma empresa ou da mesma atividade, sob o comando de um autêntico sucessor. Constituem indicadores da sucessão certos fatos como (a) a utilização de equipamentos de uma empresa pela outra, (b) atividades realizadas na mesma sede da sucedida, (c) a manutenção dos
13
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUES. Pesquisa de fonema. Disponível na internet.
http://www.dicio.com.br/sucessao/ Acessado dia 17/07/2011.
14
DINAMARCO, Cândido Rangel. Parecer. Tendo como consulente Holdco Participações Ltda, São Paulo,
2010, pág. 13.
empregados daquela por esta, (d) a continuação de relações com os mesmos fornecedores ou com os mesmos distribuidores etc”.
Nesse sentido, o citado doutrinador entende que para a ocorrência de sucessão empresarial há a necessidade da continuação do negócio ou, pelo menos, da atividade.
Ademais, socorremo-nos dos ilustres conhecimentos de Carlos Henrique da Silva Zangrando
15, literis:
“O fato que gera a sucessão é a transferência do comando superior e final da prestação do trabalho, e não a mera instalação da empresa nova no local, ainda que exercendo as mesmas atividades da anterior.
Normalmente a sucessão ocorrerá por alteração na estrutura jurídica da empresa (venda incorporação, fusão, etc).
É inútil frente à Justiça do Trabalho qualquer pacto ou cláusula contratual onde sucessor e sucedido estabeleçam a “quem” caberá a responsabilidade por eventuais débitos trabalhistas referentes a fatos ocorridos anteriormente à sucessão. Interessará à Justiça apenas a relação trabalhista mantida entre o empregado e o sucedido, a qual continua na pessoa do sucessor (CLT, art. 9º, 10 e 448). Qualquer indenização regressiva do sucedido para com o sucessor deverá ser objeto de ação própria, frente à Justiça Comum”
No Código Tributário Nacional, em seu art. 133, temos a seguinte regra:
“Art. 130 – A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até a data do ato”.
Portanto, à letra da lei, em se mantendo a exploração, sob a mesma ou outra razão social, deverá a sucessora arcar com os tributos devidos, sendo a obrigação propter rem.
15