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Sumário. Tribunal da Relação de Évora Processo nº 308/07-3

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 308/07-3

Relator: BERNARDO DOMINGOS Sessão: 15 Março 2007

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: CONFIRMADA A SENTENÇA

DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE

IMPOSSIBILIDADE DE PROSSEGUIR O OBJECTO CONTRATUAL

INEXISTÊNCIA DE GERENTES

Sumário

I - Dispõe o artigo 142º, n.º 1, alínea b), do Código das Sociedades Comerciais que pode ser judicialmente declarada a dissolução da sociedade (sempre que as partes a não dissolvam por acordo – e sem qualquer precedência, neste caso, entre a via judicial e a via da deliberação social) “quando a actividade que constitui o objecto contratual se torne de facto impossível.

II – Tal impossibilidade é deve ser entendida e apreciada de forma técnica e objectiva e deve resultar de actos estranhos à vontade dos sócios, não

relevando para tal efeito a que resulta de incompatibilidade irredutível dos sócios.

III – Assim o facto de todos os sócios terem renunciado à gerência ou de não se conseguir a “aquiescência de todos os sócios para a consolidação

contabilística da R.” não constitui impossibilidade de prossecução do objecto da sociedade e motivo legal imperativo da sua dissolução . Na verdade,

actualmente, consagram-se na lei mecanismos próprios, específicos para o ultrapassar desses problemas, como são exemplo a apresentação de contas e a possibilidade de suprir judicialmente a falta de gerentes na administração (artigos 67º e 253º, ambos do Código das Sociedades Comerciais).

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Texto Integral

Acordam os Juízes da Secção Cível do Tribunal da Relação de Évora:

Proc.º N.º 308/07-3

Apelação 3ª Secção Recorrente:

Isabel...

Recorrido:

Engicosta………..

*

Isabel..., solteira, maior, contribuinte fiscal n.º …….., residente na Rua

………. em Santarém, intentou a presente acção declarativa, sob a forma ordinária, contra Engicosta………., pessoa colectiva n.º ……….., matriculada no Registo Comercial de Portimão sob o número ….., com sede na Estrada …….., em Portimão, pedindo que seja declarada a dissolução da sociedade R..

Alegou, para tanto e em suma, que a R. é uma sociedade por quotas

constituída com o capital social de € 5.000,00, que a gerência foi cometida a ambos os sócios, com o imperativo da assinatura conjunta de ambos para obrigar a sociedade e que a actividade se tornou de facto impossível porque não exerce qualquer actividade há cerca de um ano e os sócios se encontram de relações pessoais cortadas, não reunindo a gerência e não se entendendo quanto à “forma de dissolver o objecto social”.

*

O Tribunal procedeu à nomeação de representante especial ao abrigo do disposto no artigo 21º, n.º 2, do Código de Processo Civil, que, citado não contestou.

(3)

De seguida, considerados provados os factos articulados pela A., foi proferido despacho saneador/sentença onde se decidiu o seguinte:

« Fundamentação de direito:

Dos factos apurados resulta que a R., sociedade por quotas, tem o capital social de € 5.000,00.

A questão a que cumpre dar solução é a de saber se, actualmente, face aos mecanismos legais que se encontram à disposição, é defensável a posição da A. – de que o facto de ambos os sócios haverem renunciado à gerência e de que a sociedade não funciona por motivos de divergência pessoal entre os sócios que a constituem torna de facto impossível a actividade que constitui o objecto contratual da sociedade.

Dispõe o artigo 142º, n.º 1, alínea b), do Código das Sociedades Comerciais que pode ser judicialmente declarada a dissolução da sociedade (sempre que as partes a não dissolvam por acordo – e sem qualquer precedência, neste caso, entre a via judicial e a via da deliberação social) “quando a actividade que constitui o objecto contratual se torne de facto impossível”.

Ao Tribunal apenas cumpre, segundo critérios de legalidade – e não de conveniência – apreciar se está verificada a causa de dissolução.

A impossibilidade “deve ser entendida literalmente”, ou seja não comporta graus e “apreciada segundo critérios técnicos e sociais” – veja-se Raul Ventura, Dissolução e Liquidação de Sociedade, 125 e 126. E, portanto, seguindo o ensinamento deste autor, a lei pretende com tal normativo que a sociedade seja dissolvida quando dela não houver mais nada a esperar.

De modo que se a actividade que constitui o objecto social, em sim mesma considerada, não se tornou impossível, não se encontra verificada a causa para a sua dissolução judicial.

E nem se diga que o facto de ambos terem renunciado à gerência ou de não se conseguir a “aquiescência de ambos – os sócios – para a consolidação

contabilística da R.” – sic – contribui para a verificação desta causa de dissolução. Na verdade, actualmente, consagram-se na lei mecanismos

próprios, específicos para o ultrapassar desses problemas, como são exemplo a apresentação de contas e a possibilidade de suprir judicialmente a falta de gerentes na administração (artigos 67º e 253º, ambos do Código das

Sociedades Comerciais).

“Deve entender-se a impossibilidade como resultante de actos estranhos à vontade dos sócios, não relevando a que resulta de incompatibilidade irredutível dos sócios” – Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de

03.10.2002, disponível na internet, em www.dgsi.pt. Veja-se também, Acórdão do mesmo Tribunal de 29.11.194, disponível na mesma base de dados.

(4)

No caso dos presentes autos, efectivamente, o que está na base da presente acção e tem obstado ao prosseguimento da actividade social é a divergência pessoal entre os sócios que participam no capital social da sociedade. Nada mais. Não existe, em termos técnicos ou societários, qualquer impossibilidade de prosseguimento de actividade.

Assim, pelo exposto, não poderá deixar de se julgar a presente acção improcedente.

*

DECISÃO:

Face ao exposto, o Tribunal decide julgar a acção improcedente, por não se verificar a causa de dissolução e em consequência:

I. Julgar não verificada a impossibilidade de facto para a sociedade R.

desenvolver a sua actividade.

II. Não declarar a dissolução da sociedade comercial por quotas Engicosta – Consultadoria e Estudos de Engenharia, L.da..

II. Condenar a A. no pagamento das custas – artigo 446º, n.º 1, do Código de Processo Civil».

*

Inconformada veio a A. interpor recurso de apelação. Admitido, apresentou as respectivas alegações, que rematou com as seguintes

conclusões:

« I- Ré é uma sociedade por quotas constituída com o capital de €.5.000,OO Euros;

II- A gerência foi cometida a ambos os sócios, com o imperativo da assinatura conjunta de ambos para obrigar a sociedade;

III- A actividade da Ré tornou-se impossível porque não exerce qualquer há mais de um ano;

IV- Os sócios encontram-se de relações cortadas, não reunindo a gerência e não se entendendo quanto "À forma de dissolver o objecto social";

V- A Ré não contrata serviços, obras ou adquire terrenos;

VI- Ambos os sócios da Ré, a ora Recorrente Isabel…….. e o sócio Vilarim……… - renunciaram à gerência da sociedade;

VII- O desenvolvimento do facto do objecto social tornou-se impossível já que a gerência não funciona;

VIII- Ambos os sócios estão de acordo em que, realmente a sociedade está

"morta" e que já não terá possibilidades de reiniciar ou desenvolver o escopo social;

IX- Ambos os sócios, cada um de per si, já desenvolvem hoje o sócio

Vilarim……….. uma actividade coincidente com o objecto da Ré e a sócia

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Isabel…………. - ora Autora - uma actividade diferente daquela exercida pela Ré;

X- O contabilista da Ré viu-se impedido de obter a aquiescência de ambos para a consolidação contabilística da Ré;

XI- A sentença recorrida violou as disposições constantes dos art.s 142, nº.l, al.b) do Código das Soc. Com. e artigo 784° do Código de Processo Civil».

*

Não houve contra-alegações.

*

Na perspectiva da delimitação pelo recorrente [1] , os recursos têm como âmbito as questões suscitadas pelos recorrentes nas conclusões das alegações (art.ºs 690º e 684º, n.º 3 do Cód. Proc. Civil) [2] salvo as questões de

conhecimento oficioso (n.º 2 in fine do art.º 660º do Cód. Proc. Civil).

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir.

A apelação tem como objecto apenas a questão jurídica atinente à aplicação do direito aos factos articulados e que foram todos dados como provados, sendo que apesar disso a acção foi julgada improcedente! E foi bem julgada, porquanto, a subsunção do direito aos factos não consentia outra decisão senão a que foi proferida. É desnecessário acrescentar o que quer que seja à fundamentação aduzida.

*

Assim, sem necessidade de mais considerações, concordando-se com os fundamentos de facto e de direito da sentença, para os quais se remete nos termos do art.º 713º n.º 5 do CPC, acorda-se na improcedência da apelação e confirma-se a decisão recorrida.

Custas pela recorrente.

Notifique e registe.

Évora, em 15 de Março de 2007.

--- ( Bernardo Domingos – Relator)

--- ( Silva Rato – 1º Adjunto)

--- (Assunção Raimundo– 2º Adjunto)

(6)

______________________________

[1] O âmbito do recurso é triplamente delimitado. Primeiro é delimitado pelo objecto da acção e pelos eventuais casos julgados formados na 1.ª instância recorrida. Segundo é delimitado objectivamente pela parte dispositiva da sentença que for desfavorável ao recorrente (art.º 684º, n.º 2 2ª parte do Cód.

Proc. Civil) ou pelo fundamento ou facto em que a parte vencedora decaiu (art.º 684º-A, n.ºs 1 e 2 do Cód. Proc. Civil). Terceiro o âmbito do recurso pode ser limitado pelo recorrente. Vd. Sobre esta matéria Miguel Teixeira de Sousa, Estudos Sobre o Novo Processo Civil, Lex, Lisboa -1997, págs. 460-461. Sobre isto, cfr. ainda, v. g., Fernando Amâncio Ferreira, Manual dos Recursos, Liv.

Almedina, Coimbra - 2000, págs. 103 e segs.

[2] Vd. J. A. Reis, Cód. Proc. Civil Anot., Vol. V, pág. 56.

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