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Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

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Academic year: 2022

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Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

Os movimentos operários na primeira república brasileira

Danilo Nascimento Gurgel do Amaral | Nº USP: 11534114 dangamaral@usp.br

Turma 194 | Sala 14

DTB0101- História do Direito do Trabalho no Brasil Professor:Jorge Luiz Souto Maior

Monitoras:Tainã Góis e Maria Paula Bebba Pinheiro

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INTRODUÇÃO

O intuito deste trabalho é realizar uma análise acerca dos movimentos operários no período da primeira república brasileira e sua importância para toda a sociedade brasileira da época e suas futuras consequências. Para que seja possível realizar uma análise coerente desse movimento trabalhista que estava surgindo na sociedade brasileira, é preciso compreender todo o contexto histórico que possibilitaram e influenciaram fortemente os movimentos operários. Dentre os eventos principais que serão explorados estão os movimentos operários europeus que já ocorriam anos antes dos brasileiros, como resultado da revolução industrial que se iniciou na Europa.

Outro importante fator a ser analisado é a questão dos grupos sociais que estavam envolvidos nessas lutas trabalhistas e como era importante a superação, ainda que de modo parcial visto que as desigualdades entre raça e sexo se mantiveram presentes tanto na época como posteriormente, de uma série de distinções e segregações sociais em prol de melhoras nas condições de trabalho. Essas lutas não eram feitas em vão, elas foram simplesmente essenciais para garantir o começo e a popularização das lutas trabalhistas no ambiente brasileiro, porém de forma muito mais acentuada no ambiente urbano, ao passo que também iniciaram o processo de grandes mudanças legislativas com relação às condições da classe operária que estava crescia cada vez mais no país.

Por fim, não possível fazer uma análise das lutas e conquistas operárias no período da primeira república brasileira sem também demonstrar de forma clara a repressão constante que havia por parte governamental que, ao contrário do que muitos pensam, não mantinha uma postura nem favorável às mudanças e nem neutra, o governo ativamente se demonstrava contra as manifestações e movimentos dos trabalhadores. Os agentes do governo foram grandes repressores das massas trabalhadoras, sendo que essa repressão ocorria tanto de forma indireta quanto de modo direto, como também com repressões agressivas que foram se tornando cada vez mais comuns conforme o período da primeira república chegava ao seu fim.

Esse trabalho tem em vista evidenciar de forma clara um período que muitas vezes é apagado historicamente ou ignorado ao se discutir sobre a causa operária brasileira, sendo que os movimento na primeira república são um grande marco inicial, ou até o estopim, para o surgimento de um movimento operário brasileiro organizado que ainda está em um período de fortalecimento, porém ganhou muito mais força durante o século seguinte e foi de suma importância para diversos momentos cruciais da história brasileira.

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DESENVOLVIMENTO

Os movimentos operários foram iniciados durante a época da primeira república do Brasil (1889-1930), sendo ela historicamente marcada por objetivos políticos que, de acordo com o historiador Boris Fausto, são feitos com o intuito de “reduzir ao máximo as disputas políticas no âmbito de cada Estado, prestigiando os grupos mais fortes”1. Portanto é possível concluir que a opressão das classes menos favorecidas na sociedade brasileira, como os operários industriais, eram constantemente deixados de lado no âmbito político e largados à margem da sociedade. Por conta disso, é importante corrigir o grande equívoco clássico que muitos cometem ao pensar que o Estado seria o provedor de todos os direitos trabalhistas, e esses direitos eram simplesmente dados aos trabalhadores por conta de uma compaixão do governo, como se não houvessem de fato diversas lutas e movimentos que buscavam o suprimento básico de suas necessidades no ambiente de trabalho.

A priori, é essencial pontuar que a atividade industrial da época havia passado por um grande crescimento, principalmente nas cidades São Paulo e Rio de Janeiro. Por esse motivo que essas cidades urbanas foram os grandes palcos principais das greves, movimentos operários e mudanças trabalhistas. É importante ressaltar que, nesta época, a malha industrial brasileira ainda se encontrava em formação, portanto as indústrias brasileiras não possuiam grande influência econômica no país. A base econômica do país se mantinha majoritariamente agrária, porém isso não invalida e nem mesmo torna fácil os movimentos operários da época. Esse fato apenas demonstra uma maior dificuldade no estabelecimento e popularização destes movimentos, visto que não havia um havia um grande aparato econômico que os operários pudessem afetar para que suas lutas fossem levadas mais a sério.

A posteriori, deve ser exposto um importante tópico: a formação da massa dos trabalhadores industriais. Ela era formada basicamente por homens brancos majoritariamente imigrantes, escravizados libertos, mulheres e crianças. É importante lembrar que todos os integrantes dessa massa possuem condições econômicas pouco favoráveis, por conta desse fator que eles se submetem a condições insalubres e precárias de trabalhos árduos e cansativos. Não é por acaso que muitas dessas mulheres, por exemplo, trabalhavam em empregos com cargas horárias muitas vezes superiores a 12h de jornada, enquanto estavam grávidas, além de realizarem o trabalho doméstico que era simplesmente deixado a elas.

1FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013, p. 222-223.

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As primeiras greves existentes foram feitas na década de 1870 e obtiveram poucas repercussões2, porém em 1890, já no período da primeira república, os movimentos se tornaram mais relevantes e tomaram uma proporção maior, fazendo com que 2 partidos fossem criados a partir dos princípios operários: o Partido Operário e o Centro do Partido Operário. O segundo partido citado já até mesmo possuia um viés socialista, o que demonstrava claramente uma maior organização e estabelecimento de objetivos para os movimentos.

No início do século XX houveram uma série de greves que tomaram proporções nunca antes experienciadas pelos operários, em uma delas até mesmo “calcula-se que no período de 9 a 16 de julho, cem mil homens e mulheres teriam entrado em greve”3. Essas greves já estabeleciam propostas e mudanças mais concretas, ao invés de serem apenas reclamações sem medidas reparadoras. Dentre elas estava a busca por um limite na jornada de trabalho, sendo ele uma carga horária de oito horas diárias. Além disso, durante esses protestos muitos anarquistas começaram a apoiar e tomar frente nesses movimentos sociais.

Esse fato tornou os movimentos ainda mais politizados e com mais propostas e visões concretas e distintas, dando mais organização e conteúdo para justificar as lutas trabalhistas.

As greves dessa época foram tão impactantes que algumas indústrias aumentaram os salários de seus operários e limitaram sua carga de trabalho, o que foi uma grande vitória considerando que uma jornada comum de trabalho tinha pelo menos 12 horas e era feita durante os 7 dias da semana, ou seja, sem descansos4.

Esses movimentos se tornaram tão relevantes que, no século XX, já não era estranho à massa trabalhadora a ideia de greves e movimentos operários em busca de melhores condições de trabalho. Só esse fato já demonstra uma enorme vitória e um grande aumento na consciência de classes entre os trabalhadores. É muito importante ressaltar que as ideias de luta de classe, sindicatos, greves e movimentos sociais foram majoritariamente trazidas e inseridas no coletivo operário por meio dos imigrantes europeus que vieram ao Brasil em busca de melhores condições de vida e trabalho, porém acabaram se deparando com situações parecidas à sua realidade antiga. Esses imigrantes não apenas já conheciam os movimentos operários como também estavam na época de seu ápice no território europeu, ou seja, eles já tinham plena consciência das lutas e dos motivos pelos quais elas deveriam ser feitas em prol de uma melhora coletiva nas condições de vida.

4MATTOS, Marcelo Badaró. Escravizados e livres. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2008. Pg. 57

3JACINO, Ramatis. Transição e exclusão. São Paulo: Nefertiti, 2014. Pg 133

2CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática,1995. Pg 411-412.

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Com o passar dos anos, os movimentos operários começaram a se tornar cada vez mais reconhecidos, de tal modo que Congressos foram realizados em prol da resolução de assuntos trabalhistas, assim como diversos outros partidos políticos com viés trabalhista surgiram. Tudo isso demonstra sua grande relevância social na época. Muita de sua força e popularidade foi obtida por conta do auxílio dos operários na Revolta da Vacina em 1904, visto que essa ajuda trouxe uma série de outros trabalhadores que não conheciam os movimentos ou simplesmente não os apoiavam. Outro importante evento que causou grande impacto no movimento operário foi a Revolução Russa que ocorreu no ano de 1917 e espalhou uma forte influência para a luta operária ao redor do globo. Esse marco é confirmado por José Arruda que afirma:

“Esse marco dos trabalhadores russos repercutiu no mundo inteiro, estimulando greves, manifestações de massa e revoltas populares em todas as partes,inclusive no Brasil”5

Essa grande força e visibilidade dos operários na primeira república teve seu ápice entre 1917 e 1920. A pressão dos trabalhadores nessa época foi tão impactante que se estabeleceram, por meio de leis e decretos, a afirmação de diversas exigências operárias no que tange à jornada de trabalho diurna e noturna; a condição de trabalho dos menores de idade, principalmente dos menores de 12 anos; e das mulheres, havendo inclusive normas voltadas para mulheres durante sua gravidez. Porém, é necessário reconhecer que muitas dessas medidas trabalhistas não foram realmente efetivas mesmo que tenham sido validadas, visto que muitas delas exigiam uma ampla fiscalização que não iria ocorrer por conta de um grande desinteresse por parte do governo e das empresas privadas em garanti-las.

Pelo fato dos movimentos terem se tornado tão relevantes e intensos, houve “na década seguinte, uma intensificação de repressão” e por isso “ a década de 20 no Brasil, como se deu ademais, no mundo afora, foi marcada pelo conservadorismo repressivo, para evitar o avanço do exemplo russo”6. Essa repressão pôde ser vista tanto nas próprias manifestações, como demonstra o trecho: “o governo convocou 7 mil praças da capital e do interior para reprimir trabalhadores que, com paus e pedras, reagiram à repressão”7. Assim como ela pode ser vista de modos mais agressivos e transgressores, como nas proibições de partidos, delegacias com setores dedicados à repressão da suposta "marginalidade" praticada pelos operários. Além disso, muitas leis de repressão aos trabalhadores, que existiam e tinham perdido sua força, acabaram voltando a ter caráter vinculante, e muitas outras ou foram criadas ou se transformaram em novas leis ainda mais restritivas.

7JACINO, Ramatis. Transição e exclusão. São Paulo: Nefertiti, 2014. Pg 133

6MAIOR, Jorge. História do Direito do Trabalho no Brasil. Volume I: parte II. São Paulo: LTr, 2017. Pg. 135.

5ARRUDA, José Jobson. Toda a história. São Paulo: editora Ática,2002. Pg. 334.

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Essa grande repressão foi facilitada pelo fato da comunidade operária brasileira não constituir uma unidade, ou seja, ainda haviam muitas divergências entre os trabalhadores por conta de uma série de fatores, como questões étnicas, raciais ou de gênero .É indubitável que houve um grande progresso nesse quesito da construção de uma maior homogeneidade entre os trabalhadores, porém o único problema é que essa unidade ainda não estava profundamente estabelecida, causando um grande enfraquecimento na luta contra a repressão governamental e privada.

CONCLUSÃO

O período da primeira república brasileira foi extremamente conturbado na questão trabalhista, porém essas lutas incessantes foram cruciais para que uma série de avanços tivessem ocorridos. O fato de que a década de 1920 foi marcada por uma das maiores ausências da legislação trabalhista acaba implicando na ideia errônea de que os movimentos ocorreram em vão e foram extremamente falhos.

Porém, a realidade é que esses movimentos apenas foram fortemente reprimidos pois houve um grande reconhecimento das forças operárias, além do fato que todas essas lutas trouxeram melhoras temporárias nas condições de trabalho e uma grande marca registrada nos pensamentos dos trabalhadores de gerações futuras, que utilizaram todas as lutas anteriores como exemplos a serem aprimorados. Houve um estabelecimento muito grande na sociedade brasileira de uma consciência de classes em conjunto com a ideia da necessidade de uma união contra as opressões impostas e condições insalubres no ambiente de trabalho, que advém da ideia de sindicalismo revolucionário. Ao contrário do que afirmavam os repressores, esse sindicalismo revolucionário não possui viés ideológico, ele apenas estabelece a busca pela melhoria das condições de trabalho para a classe trabalhadora.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARRUDA, José Jobson. Toda a história - História geral e história do Brasil. São Paulo:

editora Ática,2002.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática,1995.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.

JACINO, Ramatis. Transição e exclusão: o negro no mercado de trabalho em São Paulo pós-abolição. São Paulo: Nefertiti, 2014.

MAIOR, Jorge Luiz Souto. História do Direito do Trabalho no Brasil: curso de direito do trabalho, volume I: parte II. São Paulo: LTr, 2017.

MATTOS, Marcelo Badaró. Escravizados e livres: experiências comuns na formação da classe trabalhadora carioca. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2008.

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