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Insuficiência Cardíaca
Victor M. Gil
“As afirmações expressas pelo Palestrante no âmbito da sua parBcipação na Reunião, ou de qualquer eventual sinopse da mesma, são da sua inteira responsabilidade.”
2 Case Vignette
• Homem de 74 anos, com história de hipertensão e Enfarte do Miocárdio há 5 anos, apresenta-se com dispneia de esforço
• A medicação actual inclui uma estaBna e aspirina
• Na observação, o pulso é regular, 76 bpm e a PA 121/74 mmHg.
• Há distensão jugular, desvio lateral do choque da ponta e edema dos membros inferiores.
O exame pulmonar é normal
O ecocardiograma mostra dilatação do VE, com diminuição global da contracBlidade e FE= 33%
• Como é que este caso deve ser orientado?
Definição de Insuficiência Cardíaca
• Anomalia da estrutura ou função cardíaca que leva a incapacidade do coração em fornecer oxigénio de acordo com as necessidades metabólicas dos tecidos apesar de pressão de enchimento normais (ou só à custa de pressões de enchimento elevadas)
• Clinicamente, IC é uma situação com sintomas dpicos (dispneia, edemas, fadiga) e sinais (engurgitamento jugular, fervores e deslocamento do choque da ponta) dpicos, resultantes duma anomalia da função ou da estrutura cardíacas
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Definição de IC
IC COM FUNÇÃO SISTÓLICA DIMINUÍDA 1. Sintomas dpicos de IC +
2. Sinais dpicos de IC + 3. FE diminuída
IC COM FUNÇÃO SISTÓLICA PRESERVADA 1. Sintomas dpicos de IC +
2. Sinais dpicos de IC +
3. FE NORMAL ou moderadamente diminuída e VE não dilatado + 4. Alterações estruturais importantes do VE (HVE/aumento AE)
e/ou disfunção diastólica
Insuficiência Cardíaca
• Prevalência 1-2%
• Disfunção VE assintomáBca 4%
• Prevalência sobe a parBr dos 75 anos sendo de 10-20%
aos 70-80 anos
• 50% dos doentes estão mortos ao fim de 4 anos
• 40% dos doentes internados por IC morrem ou são readmiBdos dentro de 1 ano
• IC com FE preservada está presente em 50% dos doentes com IC. PrognósBco é semelhante.
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Fisiopatologia da ICC
McMurray J. N Engl J Med 2010;362:228-238
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Que pensar perante os antecedentes na insuficiência cardíaca?
• Hipertensão
• Febre ReumáBca / valvulopaBa
• Enfarte do miocárdio
• Álcool
• Suspeita de miocardite
• AIDS
• Diabetes
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Que pensar perante os sintomas de insuficiência cardíaca?
• Cansaço e dispneia de esforço (fadiga, recuperação mais lenta)
• Ortopneia e DPN
• Edemas
• Palpitações
• FA?
• Tosse nocturna
• Pieira
• Nictúria
• Oligúria
• Síncope
• Hipotensão/baixo débito?
• Hipotensão/hipovolémia
• Bradiarritmias/BAV?
• Perda de apeBte, confusão (idosos!), depressão
Que pensar perante os sinais de insuficiência cardíaca?
• Ingurgitamento jugular/refluxo hepato-jugular/hepatomegalia
• S3
• Desvio lateral do choque da ponta
• Sopro cardíaco
• Fervores de estase
• Sinais de derrame pleural
• Edemas dos membros inferiores / escroto
• Ascite
• Hipotensão
• Taquicardia, taquipneia
• Pulso disrítmico
• Caquexia
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Que testes pedir na insuficiência cardíaca?
1. ECG (I)
2. Exames bioquímicos (I)
1. Hemoglobina e hematócrito 2. CreaBnina (ureia)
3. Ionograma
4. Outros: Glicemia, TSH, Ácido úrico, próBNP (IIa) 3. Rx tórax (IIa)
4. Ecocardiograma (I)
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ECG na IC
• Taquicardia sinusal
• Bradicardia sinusal
• FA /fA
• Arritmias ventriculares
• Isquemia miocárdica / enfarte (ondas Q)
• HVE
• Baixa voltagem QRS
• QRS > 120 mseg e BCRE
RX na ICC
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Ecocardiograma na ICC
• Dilatação VE (VD)
• Diminuição da função sistólica
• Insuficiência mitral
• HVE
• Dilatação AE (AD)
• Derrame pericárdico
Ecocardiograma na ICC
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Ecocardiograma na ICC
ObjecDvos no tratamento da Insuficiência Cardíaca
1. PrognósBco
1. Diminuir mortalidade
2. Morbilidade
1. Melhorar sintomas e sinais 2. Melhorar a qualidade de vida
3. Eliminar edema e retenção de fluidos 4. Melhorar capacidade de exercício 5. Reduzir fadiga e dispneia
6. Reduzir necessidade de hospitalização 7. Proporcionar cuidados de fim de vida
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ObjecDvos no tratamento da Insuficiência Cardíaca
3. Prevenção
1. Ocorrência de lesão miocárdica 2. Progressão da lesão miocárdica
3. Remodelagem miocárdica. Recurrência de sintomas e acumulação de fluidos
4. Hospitalização
Paradigmas no tratamento da Insuficiência Cardíaca
• Paradigma hemodinâmico
• Digitálicos como inotrópicos
• Vasodilatadores – hidralazina, nitratos
• DiuréBcos
• Paradigma neurohumoral
• aSRAA
• BB
• Novos alvos terapêuBcos
• Frequência cardíaca
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Tratamento da I.C. – medidas gerais
1. Aconselhamento doente e família 2. Peso : se > 2Kg/3dias – alertar 3. Restrição de sódio
4. Restrição hídrica: 1.5 – 2 L/dia
5. Álcool: permiBda 1 cerveja ou 2 copos de vinho /dia (se excluida CM alcoólica)
6. Controlo da obesidade e atenção à perda excessiva (caquexia!)
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Fármacos na Insuficiência Cardíaca
1. Reduzem a mortalidade – devem usar-se
1. Inibidores da ECA 2. Beta-Bloqueadores
3. Espironolactona, Eplerenona
2. Melhoram sintomas – podem usar-se
1. DiuréBcos
2. Digitálicos – baixas doses 3. Nitratos
Tratamento da I.C.
Fármacos não provados
• EstaBnas
• ACO (em doentes em RS) (?)
• Inibidores da renina
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Tratamento da I.C.
Fármacos a evitar (ou usar com cuidado)
• AINEs e COXIBs
• AnB-arrítmicos classe I
• Antagonistas do cálcio (verapamil, dilBazem e DHP de acção curta)
• AnBdepressivos tricíclicos
• CorBcosteróides
• LíBo
iECA na ICC
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Questões a considerar ao iniciar iECA
• Evitar a hipotensão de 1ª toma
• Maior risco:
• Na+ < 130 mmol/L
• CreaBnina 1.5-3 mg/dL
• Doentes sob terapêuBca diuréBca “pesada”
• ?suspender diuréBcos 2 dias antes
• PA sistólica < 90 mmHg
• > 70 anos
FAZER DOSE-TESTE COM BAIXA DOSE SUPERVISIONADA
BB na ICC
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BB na Insuficiência Cardíaca – questões a considerar
• Não iniciar se existe congestão
• Iniciar com doses extremamente baixas e aumentar lenta e progressivamente até às doses-alvo
• SE intolerância:
• Procurar circunstâncias adjuvantes
• Regressar à dose imediatamente inferior tolerada (mesmo dose baixa é benéfica)
Beta-Bloqueadores na Insuficiência Cardíaca
β-
Bloqueador 1ª Dose Seman
a 3 Semana
5-6 Dose Final Carvedilol 3.125 6.25 × 2 12.5 × 2 25 × 2
Metoprolol
succinato 25* 50 100 200
Bisoprolol 1.25 3.75 5.0 10.0
Nevibolol 1.25 2.5 5.0 10
PROCURAR TRATAR PRIMEIRO RETENÇÃO HÍDRICA USAR SEMPRE A DOSE MÁXIMA TOLERADA
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Esquema posológico
Carvedilol 6,25 mg Pequeno Almoço Jantar
1ª semana ½ 0
2ª semana ½ ½
3ª semana 1 ½
4ª semana 1 1
5ª semana 1 e ½ 1
6ª semana 1 e ½ 1 e ½
7ª semana 2 1 e ½
8ª semana 2 2
Carvedilol 25 mg 1 ½
10ª semana 1 1
Reavaliar clínica, Creagnina, Pró-BNP, RX
Bisoprolol na Insuficiência Cardíaca Esquema posológico
Bisoprolol 2,5mg Pequeno Almoço
1ª semana ½
2ª semana 1
3ª semana 1 e 1/2
4ª semana 2
5ª semana 2 e /2
6ª semana 3
7ª semana 3 e 1/2
8ª semana 4
Bisoprolol 10mg 1
Reavaliar clínica, Creagnina, Pró-BNP, RX
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Antagonistas da Aldosterona na Insuficiência Cardíaca
1. ICC Classes III-IV apesar de medicação com iECA + diuréBcos 2. K+ < 5 meq/L; CreaBnina < 2,5 mg/dl
3. Começar com dose baixa
• Espironolactona 12.5 – 25 mg
• Eplerenona 25 mg
4. Ver K+ e CreaBnina daí a 4-6 dias
• Se K+ 5-5.5 meq/l : deduzir 50%
• Se K+ > 5.5 meq/l : suspender
5. 1 mês depois – aumentar para 50 mg/dia se sintomas e normocaliémia. Reavaliar K+ 1 semana
Ivabradina na Insuficiência Cardíaca
• Insuficiência cardíaca Cl II-IV, em Ritmo Sinusal,
com FE < 35% e FC > 70 bpm adicionado a
medicação convencional com iECA/BB
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DiuréDcos
TERAPÊUTICA INICIAL
DiuréBcos da ansa ou Bazídicos
• Administrar sempre em adição a um IECA
• Se taxa de filtração glomerular < 30 mL/min não usar Bazidas excepto se para potenciar diuréBcos da ansa
• Resposta insuficiente
• Aumentar a dose de diuréBco de ansa
• Associar Bazida
• Administrar 2 x dia
• Na iCC grave, associar metolazona, com vigilância de creaBnina e ionograma
Doses-alvo De Fármacos Na Icc
iECA IA
. Enalapril 10 mg 2x dia
. Ramipril 5 mg 2x dia
. Lisinopril 20 mg / dia Bloqueadores Beta-
adrenérgicos IA
. Carvedilol 50 mg /dia . Bisoprolol 10 mg /dia . Nevibolol 10 mg /dia
ARA II IA
. Candesartan 32 mg /dia
. Valsartan 320 mg/dia
Outros
.Espironolactona 25 mg/dia IA
.Ivabradina 7,5 mg 2x dia IIa/B
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Fármacos na ICC
com disfunção sistólica
• iECA – todos (ARA II se intolerantes)
• Beta-bloqueadores – todos
• (se pós EAM também assintomáBcos)
• DiuréBcos – congestão – estase ou edemas
• Espironolactona – Classe (III) – IV
• ARA II
• sintomáBcos com BB + iECA em dose alvo, intolerantes aos AMC
• Ou intolerantes aos iECA
• Digitálicos – sintomáBcos com BB+iECA+ARA II em dose alvo ou FA para controlo da RV
Insuficiência Cardíaca
Referenciação Para Cardiologia
Presença de um dos seguintes:
1. Angina ou suspeita de eBologia isquémica 2. Síncope
3. BCRE com QRS muito alargado (eg > 150 mseg em doentes classe NYHA ≥ III)
4. Doença valvular como causa provável 5. Bradi ou taqui - disrritmia
6. Hipotensão (PA sistólica < 100 mmHg) 7. Insuficiência renal (creaBnina > 2 mg/dl);
hiponatrémia (Na+ < 135 mEq/L) 8. Classe III ou IV
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Indicações para hospitalização
• Agravamento agudo com edema pulmonar ou baixo débito cardíaco
• requer monitorização cuidadosa
• necessidade de medicação endovenosa: diuréBcos, vasodilatadores, inotrópicos
• Insuficiência direita com edema acentuado, ascite ou congestão hepáBca
• necessidade de diuréBcos endovenosos
• Síncope
Causas cardíacas mais frequentes de descompensação de Insuficiência Cardíaca
• Fibrilhação auricular
• Outras arritmias supraventriculares e ventriculares
• Bradicardia
• Isquemia miocárdica (frequentemente assintomáBca), incluindo enfarte do miocárdio
• Aparecimento ou agravamento de IM ou IT
• Excessiva redução da pré-carga
• DiuréBcos + iECA +Nitratos
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Causas não cardíacas de descompensação de Insuficiência Cardíaca
• Não aderência ao regime prescrito
• sal, líquidos, medicação
• TerapêuBcas recentes concomitantes
• ANTIARRÍTMICOS, BB, AINE,
VERAPAMIL, DILTIAZEM
• Infecção
• Insuficiência real
• Abuso de diuréBcos
• Abuso de álcool
• Embolia pulmonar
• Hipertensão
• Disfunção Broideia
• Amiodarona
• Anemia
Case Vignette
• Homem de 74 anos, com história de hipertensão e Enfarte do Miocárdio há 5 anos, apresenta-se com dispneia de esforço
• A medicação actual inclui uma estaBna e aspirina
• Na observação, o pulso é regular, 76 bpm e a PA 121/74 mmHg.
• Há distensão jugular, desvio lateral do choque da ponta e edema dos membros inferiores.
O exame pulmonar é normal
O ecocardiograma mostra dilatação do VE, com diminuição global da contracBlidade e FE= 33%
• Como é que este caso deve ser orientado?
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Outline
• The Clinical Problem
• Strategies and Evidence
- Diagnosis and Evaluagon
- Treatment Opgons l Pharmacologic Therapy
- Diuregcs for Relief of Symptoms
- Agents That Modify the Course of the Disease l Angiotensin-Convergng–Enzyme (ACE) Inhibitors l Angiotensin-Receptor Blockers (ARBs)
l Beta-Blockers l Aldosterone Antagonists l Hydralazine and Isosorbide Dinitrate l Other Medicagons
l Organizagon of Care l Lifestyle and Exercise l Devices
- Implantable Cardioverter–Defibrillators
- Cardiac-Resynchronizagon Therapy l Surgery
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CDI / ressincronização
1. CRT-Dem Doentes cl (II?) III ou IV com FE < 35% e QRS > 120 (150?) mseg, sintomáBcos apesar de terapêuBca máxima
2. CDI em ressuscitados de MS ou com TV manBda mal tolerada ou associada a função deprimida 3. CDI > 40 dias pós EAM em doentes com FE <
30-35%
Tratamento da IC com FS Conservada
• Nenhuma terapêuBca modifica o prognósBco
• Tratamento da situação de base
• E.g. HTA
• Miocardite / MiocardiopaBas infiltraBvas
• DiuréBcos se houver congestão
• Parcimónia no uso de diuréBcos e vasodilatadores
• B-Bloqueadores/ivabradina/verapamil podem melhorar as propriedades diastólicas