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O ENSINO DO KARATÊ-DÔ NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA SOB A PERSPECTIVA DA MOTRICIDADE HUMANA

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O ENSINO DO KARATÊ-DÔ NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA SOB A PERSPECTIVA DA MOTRICIDADE HUMANA

Erik Yudi Horiye Ana Maria Pereira

RESUMO

O presente estudo investigou os saberes/fazeres do Karatê-Dô a serem ensinados nas aulas de Educação Física sob a perspectiva da Motricidade Humana. Para tanto, realizou-se uma investigação qualitativa de cunho bibliográfico referente a artigos, dissertações, teses, livros e revistas referente ao objeto de estudo em questão, o Karatê-Dô. Entende-se que o conhecimento relacionado a esta arte marcial como seu percurso histórico, os precursores desta arte marcial, a cultura oriental, os diferentes estilos existentes no mundo, os aspectos técnicos compreendidos no Kihon, Kata e Kumitê são importantes para a formação do estudante crítico e autônomo em relação aos problemas do cotidiano. Por isso, sugere-se esses conhecimentos referente à arte marcial oriental, o Karatê-Dô sejam ensinados respeitando os princípios da Ciência da Motricidade Humana, considerando aspectos, tais como, o homem inteiro e o paradigma da complexidade, o movimento dotado de intencionalidade, o sentido e o significado em qualquer ação, a educação no sentido da práxis e do homem práxico, visando a evolução e a transcendência pessoal e coletiva.

Palavras-chave: Karatê-Dô, Motricidade Humana, Educação Física Escolar.

1 - INTRODUÇÃO

O Karatê-Dô é um conhecimento que pode estar presente nas escolas de educação básica, mais precisamente no Conteúdo Estruturante Lutas, na disciplina de Educação Física. Justifica-se a modalidade de luta como um importante saber pois é uma manifestação cultural, que contribui para a aquisição de conhecimentos e prepara o estudante para o convívio na sociedade. O Karatê é uma arte marcial que deve ser compreendida nos aspectos técnicos, históricos, sociais, políticos, econômicos e culturais.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN caracterizam o conteúdo estruturante lutas como:

disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na

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combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade. Podem ser citados como exemplos de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de- ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê. (BRASIL, 1998, p.70)

Mesmo sendo exigido o ensino do Conteúdo Estruturante Lutas nas aulas de Educação Física Escolar, não é o que vem acontecendo, necessitando de uma inclusão no currículo uma vez que os conteúdos precisam ser ensinados em uma proporção igual. No entanto, evidencia-se nas aulas a predominância da prática esportiva, jogos e brincadeiras com o objetivo de regulação e controle das atividades motoras com ênfase no condicionamento e desenvolvimento de capacidades físico-motora.

É raro presenciar a luta especificamente o Karatê nas aulas de Educação Física, e isso possivelmente ocorre por diversos motivos: a falta de professores capacitados em ensinar tal conteúdo estruturante em relação as técnicas para a execução, a falta de materiais e espaço para a prática do Karatê, o preconceito pelo motivo das lutas estarem vinculados a ação de violência, e a falta dos saberes necessários para o ensinamento desta arte marcial (PRADO, 2009) sendo este último motivo o problematização deste presente estudo.

Além da questão dos saberes necessários para o ensinamento do Karatê-Dô nas aulas de Educação Física, é preocupante o conhecimento que os alunos devem adquirir com tal ensinamento. Para a compreensão desta arte marcial, a perspectiva deste estudo se embasa na Ciência da Motricidade Humana.

A Ciência da Motricidade Humana, tendo o português Manuel Sérgio como precursor, quando deparada com a atual situação da Educação Física, na qual se evidencia o dualismo cartesiano (dicotomia corpo/mente) e sem um objeto de estudo definido, tem como proposta um corte epistemológico do paradigma clássico (cartesiano). Tal ciência tem como objetivo resolver os problemas ontológicos e epistemológicos da Educação Física tradicional.

Quando relacionado tal ciência com o ensino do Karatê-Dô nas aulas de Educação Física, existe uma relação que integra dialogicamente todos esses aspectos, sempre enaltecendo o sentido e o significado tanto dos

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movimentos na prática quanto na teoria (práxis). É importante e necessário existir uma articulação dos conhecimentos teóricos e práticos, pois somente o ser práxico, é capaz de realizar esse vínculo, entre o fazer e saber fazer.

Desta forma, as questões levantadas para esta pesquisa foram:

Quais saberes do Karatê-Dô devem ser ensinados nas escolas? Qual o propósito de ensinar estes saberes nas aulas de Educação Física?

A partir dessas inquietações, o presente estudo organizou e sistematizou os saberes/fazeres do Conteúdo Estruturante Lutas, especificamente o Karatê, a serem ensinados no âmbito da Educação Física Escolar (Ensino Fundamental e Médio).

2 - METODOLOGIA

O presente estudo em Educação Física, área educacional, apresenta aproximações com a natureza qualitativa e se materializa na pesquisa de cunho bibliográfico. Para a realização desta, inicialmente levantou- se artigos, dissertações, teses, livros e revistas referente à temática Karatê-Dô e da Ciência da Motricidade Humana. Após realizado o levantamento bibliográfico, analisou-se os estudos levantados objetivando os saberes desta arte marcial e, ainda, sob qual premissas deveriam ser ensinados.

Em relação à história do Karatê-Dô analisaram-se livros de autoria dos mestres japoneses da referente arte marcial. Alguns dos livros analisados foram encontrados em ambiente online. Foram analisados alguns manuais de Karatê-Dô na qual apresenta os fundamentos e as técnicas desta arte marcial.

Percebe-se uma escassez de obras e pesquisas referente ao Karatê, principalmente em assuntos relacionados à prática pedagógica.

Contudo, mesmo com a falta de referências para a seleção dos conteúdos da arte marcial em questão, será apresentado os possíveis saberes do Karatê-Dô para as aulas de Educação Física nas escolas de Educação Básica.

3 - A ORGANIZAÇÃO DOS SABERES E DOS FAZERES DO KARATÊ-DÔ

3.1 - HISTÓRIA DO KARATÊ-DÔ

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Para compreender o Karatê-Dô enquanto um saber da Educação Física para a formação do estudante é necessário saber a gênese desta arte marcial e seu processo histórico até os dias contemporâneos, pois segundo Cartaxo (2001, p. 165) “É importante conhecer as lutas em todos os aspectos, não somente a sua aplicabilidade técnica, mas também suas histórias e suas culturas”.

As referencias utilizadas para este primeiro saber são estudos de pesquisadores que se dedicaram para explicitar vários aspectos tais como a historicidade, os valores e princípios filosóficos e a prática pedagógica do referido objeto de estudo.

Diversos mestres desta arte como Gichin Funakoshi, Masatoshi Nakayama, Norio Haritani e Shugoro Nakazato também escreveram sobre a história do Karatê a partir de suas próprias experiências.

O Karatê-Dô originou-se na cidade de Okinawa por volta do século XIV na época feudal. Neste período, Okinawa era um reino independente, nomeado de Reino de Ryukyu (FUNAKOSHI, 2013). O reino era dividido por castas sociais, sendo que embates entre a classe guerreira (peichins) e camponesa (heimins) sempre existiam. Dessa forma, os camponeses desenvolveram técnicas para que pudessem se defender da tirania. Essas técnicas foram denominadas de Te (no dialeto de Okinawa, “Ti”, e do japonês

“mãos”). Os golpes baseavam-se em empurrões, técnicas de agarramento, batidas de ombro, punho e pés, e utilizavam-se de enxadas, batedores de arroz, varas, foices, e outras ferramentas rurais (FROSI E MAZO, 2011).

Neste período, Okinawa ainda mantinha relações com a China, mais precisamente na província de Fukien, no sul do país. Funakoshi (2013) conta que os habitantes da ilha eram supervisionados constantemente pelos chineses e que provavelmente o Kempo (boxe) chinês foi introduzido nas ilhas de Okinawa durante o Sapposhi (visitas diplomáticas). Assim, o Te desenvolvido pelos heimins/camponeses e apropriados pelos peichins/guerreiros mesclou-se com o Kempo, originando o To-de (da pronuncia nativa de Okinawa, e do japonês Karatê).

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No ano de 1868 o Japão passava por uma transição de regime político, a Era Meiji1. Significou a extinção do regime do Xogunato (espécie de governo militar) junto aos samurais, que tinham um prestigio considerável na sociedade japonesa tradicional, e a posse do poder sobre o país por parte do imperador japonês. (FUNAKOSHI, 2013). Neste mesmo ano da Era Meiji, nascia, Gichin Funakoshi, a responsável pelo desenvolvimento do Karatê conhecido hoje.

No ano de 1921, o Príncipe Hirohito2, fez uma viagem com destino à Europa e uma de suas escalas foi Okinawa. Nesta parada, o príncipe assistiu a uma apresentação de Karatê organizado e dirigido pelo mestre Gichin Funakoshi.

Dessa forma o Funakoshi recebeu um convite do Príncipe Hirohito para demonstrar o To-de/ Karatê publicamente em maio de 1922 durante a Exibição Atlética Nacional na cidade de Tóquio. (NAKAYAMA, 2012). A partir desta demonstração, Funakoshi não retornou mais à Okinawa, pois constantemente recebia convites para que apresentasse essa arte marcial para o público.

Dessa forma o Karatê foi introduzido no Japão e mais tarde internacionalizou-se para o mundo inteiro, devido às frequentes guerras, especificamente a Segunda Guerra Mundial.

Existem diversas histórias relacionadas à origem do Karatê-Dô no Brasil. Alguns autores explicam que essa arte chegou ao país brasileiro em 1908 junto com os imigrantes no navio Kasato Maru. Outros contam que a introdução do Karatê ocorreu após a Segunda Guerra Mundial na década de 50. Dessa maneira, é necessário que as duas vertentes sobre a origem sejam apresentadas, pois indicam registros históricos.

As histórias referentes ao ano de 1908 da chegada do navio Kasato Maru com imigrantes japoneses ao solo brasileiro não possuem clareza e nem certeza. Acredita-se que existia algum praticante da arte do Karatê entres os japoneses que embarcaram no Brasil, mas essa arte não se difundiu até o momento que outros mestres vieram ao país na década de 50.

1 A Era Meiji, do japonês, significa a Era do Governo Esclarecido. Caracteriza-se pela modernização do Japão com adoção de uma Constituição e um Parlamento (FRÉDERIC, 2008).

2 Centésimo vigésimo quarto imperador do Japão (FRÉDERIC, 2008).

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O número de escolas de Karatê aumentava a cada ano que se passava e os principais estilos praticados pelo Brasil eram Shotokan, Wado- Ryu, Goju-Ryu, Shorin-Ryu e Shito-Ryu.

Atualmente o Karatê não está incluído no programa dos Jogos Olímpicos e é significativa a busca por essa conquista, pensando-se no Karatê enquanto competição, pois é uma maneira de reconhecimento dessa luta diante da popularidade de outros esportes como futebol, basquetebol, voleibol, handebol, entre outros.

3.2 - ASPECTOS TÉCNICOS DO KARATÊ-DÔ

O ensino dos aspectos técnicos do Karatê pode ser dividido basicamente em três momentos, sendo considerado a tríade fundamental desta arte, nomeadamente: Kihon, Kata e Kumitê. (LOPES FILHO, FROSI E LIMA, 2013). Para esta pesquisa, deteremos a estudar as técnicas do Karatê em geral sem a distinção dos estilos.

3.2.1 - KIHON - 基本 - OS FUNDAMENTOS DO KARATÊ-DÔ

Kihon, do japonês, significa fundamento ou básico, entendido também como escola primária (GUIMARÃES E GUIMARÃES, 2002). Baseia-se no conjunto de movimentos básicos do Karatê-Dô, como técnicas de ataques e bloqueios utilizando pés, mãos, cotovelos, braços, joelhos, e também abrange todas as posturas existentes nesta arte marcial. É considerado o pilar principal para o aprendizado dos Kata e do Kumitê.

Cada estilo de Karatê-Dô possui suas particularidades referente as técnicas básicas devido à linhagem seguida desde os tempos de Okinawa (Shuri-Te, Naha-Te e Tomari-Te). Dessa forma, a nomenclatura de alguns movimentos podem variar devido ao conhecimento dos diferentes mestres da época antiga, que assim foi preservado até os dias atuais. Deve ser ensinado aos estudantes que mesmo havendo diferentes nomenclaturas para uma mesma técnica, não se perde a essência e a utilidade prática.

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O Kihon é um método de aprendizado no qual estuda-se cada movimento ou golpe de maneira individual. Dessa maneira, esse momento é entendido como fundamental para qualquer prática explicitada nos tópicos abaixos.

3.2.2 - KATA - – FORMAS

O Kata abrange os fundamentos praticados no Kihon organizados em uma série pré-determinada e aplicados imaginando-se diversos adversários. (LOPES FILHO, FROSI E LIMA, 2013).

Segundo Barreira e Massimi (2006)

o kata é como uma luta que o praticante realiza contra diversos adversários imaginários. Cada kata tem seu próprio nome e um criador, não necessariamente conhecido, que nele expressava suas preferencias técnicas para a luta. Os kata modificam-se com o passar do tempo de acordo, principalmente, com os estilos dos que os praticam. Para o observador externo, o kata é uma sequência de vários golpes e defesas em movimentos ritmado, através dos quais se nota uma intensa concentração no praticante. (BARREIRA E MASSIMI, 2006, p. 88).

Da mesma forma que o Kihon possui suas particularidades dependendo dos estilos existentes, o Kata não é diferente. É notável que existem certas similaridades em alguns movimentos realizados nos Kata de um estilo para o outro, no entanto, o nome e as técnicas dependem da linhagem do estilo, seja de Naha, Shuri ou Tomari (as três principais cidades na qual o Karatê era praticado em Okinawa). (CAMPS E CEREZO, 2005).

Os Katas podem ser dividos conforme a sua complexidade de execução, indiferentemente dos estilos. Camps e Cerezo (2005) explicam que existem três categorias: 1) Katas elementares; 2) Katas avançados; 3) Katas superiores. No entanto, as categorias referentes aos Katas avançados e superiores podem ser entendidas como uma categoria, sem separá-las.

O mestre Gichin Funakoshi explica em uma de suas obras que sem a cortesia, o Karatê-Dô perde o seu espírito. Por isso, ao realizar qualquer Kata, o indivíduo deve inicia-lo com uma reverência e finalizar da mesma forma.

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Dessa forma, o ensino deste segundo pilar essencial para o aprendizado do Karatê-Dô, o Kata, deve ocorrer para além da execução por sí só. O estudante precisa se conscientizar do motivo de estar realizando cada defesa, ataque e movimento. Além do aprendizado técnico, o docente tem que ressaltar a questão disciplinar, como a reverência e a cortesia para além do Kata, ou seja, para todo momento da vida.

3.2.3 - KUMITÊ - 組手 – ENCONTRO DAS MÃOS

O terceiro pilar do ensino da arte do Karatê-Dô é o Kumitê.

Kanazawa (2010) explica que o kumitê “refere-se ao livre intercâmbio de técnicas ofensivas e defensivas contra um adversário” (KANAZAWA, 2010, p.

99). Funakoshi (1973) explica que o Kumitê é a forma de se aplicar técnicas de ataque e defesa praticadas no Kata em condições e adversários reais na qual um karateka3 aplica técnicas ofensivas e o outro, técnicas defensivas.

Guimarães e Guimarães (2002) associam o Kihon e o Kata com o momento de afiar uma espada, e o Kumitê com o momento de usar essa espada afiada.

Para realizar o Kumitê nas aulas de Educação Física é fundamental a supervisão do docente para conter qualquer espírito de agressão ou violência entre os estudantes pois o sentido do aprendizado do Karatê-Dô é o desenvolvimento do autocontrole seja durante o combate ou em qualquer momento da vida. A tomada de decisão visada durante um combate é um aspecto essencial para a educação e formação do estudante enquanto sujeitos autônomos em uma sociedade, pois espera-se que o estudante saiba por quais caminhos percorrer durante sua trajetória de vida.

4 - A CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA

A Ciência da Motricidade Humana surgiu com a necessidade de um corte epistemológico com a Educação Física tradicional superando o paradigma dualista antropológico cartesiano em direção ao paradigma complexo (SÉRGIO, 1999).

3 O termo karateka refere-se ao praticante de Karatê-Dô.

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Para compreender a referida ciência fez-se necessário o estudo das premissas tais quais a complexidade, a intencionalidade operante, o sentido e o significado, o ser humano práxico e a transcendência.

A Ciência Moderna Cartesiana entende o corpo enquanto uma máquina no qual rende-se à um simples objeto da mente. Esta separação entre corpo e mente significou a fragmentação do homem em partes, de forma que a Educação Física tratasse somente do corpo, objetivando a aptidão física, o fazer prático e a repetição.

Manuel Sérgio, superando a visão cartesiana de homem defendeu que o ser humano deve ser compreendido como um ser inteiro, uno, em sua totalidade, sem a distinção entre corpo e mente, entre sensível e inteligível, ou seja, na sua complexidade. Defende que o ser humano é um ser complexo no qual é possível compreende-lo em uma perspectiva global a partir de diversos fenômenos existentes, sendo que corpo e mente, devem ser compreendidos enquanto componentes que integrem um mesmo organismo (SÉRGIO, 1994).

A partir da superação da visão fragmentada do ser humano para uma compreensão complexa de homem, a Ciência da Motricidade Humana baseada na fenomenologia de Merleau-Ponty objetiva o ser humano consciente e que interpreta o mundo a partir de suas experiências (PEREIRA, 2007). As ações conscientes são realizadas com intencionalidade operante. Segundo Sérgio (1999)

o homem, em si e a partir de si, está dotado de uma orientação e de uma capacidade de intercâmbio com o Mundo e toda a sua motricidade é uma procura intencional do Mundo que o rodeia... para realizar, para realizar-se. (SÉRGIO, 1999, p.

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Tais ações conscientes movidas por uma intencionalidade operante rumo aos objetivos e sonhos necessitam de um sentido e significado. Cada aula de Educação Física deve possuir um sentido e significar algo para a vida do ser humano.

Cada homem possui sua própria complexidade, seus próprios sonhos, seus próprios objetivos, sua própria historia. Dessa maneira, é tarefa do professor proporcionar uma troca de conhecimento com os estudantes de modo que tal aprendizagem tenha um sentido e significado para a vida de cada um.

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Na teoria da Motricidade Humana, o ser práxico é aquele que além de realizar a ação, possui consciência e decisão ao atuar, é aquele que intencionalmente toma as próprias decisões para enfrentar um problema.

(PEREIRA, 2007). O sujeito práxico não é alienado, pois suas ações, dotadas de uma intenção, possuem um sentido e um significado. Dessa forma, este sujeito práxico, a partir das ações intencionais com sentido e significado, segue em busca dos sonhos e objetivos sociais, afetivos, materiais ou ideológicos.

Os diferentes projetos de vida do ser humano influenciam no aparecimento de uma força única para que se alcance o que almeja, e dessa forma, alcançar a transcendência, ou seja, um novo ser que evoluiu em algum aspecto para melhor.

Dessa maneira, a partir desta teoria, espera-se do estudante o

“homem movimentando-se com sentido e conteúdo – o conteúdo do desejo e o sentido da transcendência!” (SÉRGIO, 1994, p. 62).

5 - CONCLUSÃO

A pesquisa baseou-se em identificar os possíveis saberes da arte marcial Karatê-Dô a fim de organizar e sistematizar os conhecimentos referente a este conteúdo nas aulas de Educação Física sob as premissas da Motricidade Humana.

Entende-se que os conhecimentos referentes ao Karatê como seu percurso histórico, os precursores desta arte marcial, a cultura oriental, os diferentes estilos existentes no mundo, os aspectos técnicos compreendidos no Kihon, Kata e Kumitê, as regras do Karatê como esporte e questões como disciplina, convivência em sociedade, respeitar o próximo e a si mesmo, devem ser ensinados nas aulas de Educação Física. No entanto, devemos superar a mera reprodução das técnicas e refletir o porquê aprender a técnica.

Todavia, sugere-se esses conhecimentos referente à arte marcial oriental, o Karatê-Dô sejam ensinados respeitando os princípios da Ciência da Motricidade Humana, considerando aspectos, tais como, o homem inteiro e o paradigma da complexidade, o movimento dotado de intencionalidade, o sentido e o significado em qualquer ação, a educação no sentido da práxis e do homem práxico, visando a evolução e a transcendência pessoal e coletiva.

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Faz-se necessário, antes de ensinar o Karatê, uma reflexão sobre qual será o objetivo quando o estudante tiver contato com este saber. Ter o cuidado para não instigar as crianças em apropriarem-se das técnicas para a violência é essencial para o sucesso do aprendizado desta arte marcial, para que se apropriem deste conhecimento seja qual for os objetivos de vida deste sujeito.

Defende-se, o Karatê-Dô, nas aulas de Educação Física a partir dos saberes apresentados, porém equilibrando as técnicas dos movimentos específicos do Karatê, e também, outros conhecimentos ligados às questões filosófica, sociais, históricas, políticas, econômicas e éticas desta cultura motora.

6 - REFERÊNCIAS

CARTAXO, C. A. Jogos de combate: atividades recreativas e psicomotoras.

Teoria e prática. 1ª Edição. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2011.

BARREIRA, C. R. A; MASSIMI, M. O Caminho Espiritual do Corpo: a dinâmica psíquica no karatê-dô shotokan. Memorandum, Belo Horizonte, Minas Gerais, v. 11, p. 85-101, 2006. Disponível em

<http://karatementeforca.com.br/documentos_pdf/caminho_espiritual_do_corpo.pdf>.

Acesso em 04 set. 2013.

CAMPS, H.; CEREZO, S. Estudio técnico comparado de los Katas de Karate. Barcelona: Editorial Alas, 2005.

FRÉDÉRIC, L. O Japão: Dicionário e Civilização. São Paulo: Globo, 2008.

FROSI, T. O.; MAZO, J. Z.; Repensando a História do Karatê Contada no Brasil. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 25, n.

2, p. 297-312, 201. Disponível em: <http://scielo.br/pdf/rbefe/v25n2/11.pdf>.

Acesso em: 09 out. 2013.

FUNAKOSHI, G. Karatê-Dô: O meu Modo de Vida. São Paulo: Cultrix, 2013.

GUIMARÃES, M. A. T; GUIMARÃES, F. A. T. O Caminho das Mãos Vazias – Karatê-Dô. Belo Horizonte, Minas Gerais: 2002. Disponível em:

<http://ojpj.com.br/gojuryu/livros>. Acesso em: 10 out. 2013.

KANAZAWA, H. Guia prático do Karatê. São Paulo: Editora Escala, 2010.

LOPES FILHO, B. J. P; FROSI, T. O; LIMA, C. S. Análise Cinesiológica do Movimento Chudan Gyaku Zuki. Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v.11, n. 3, p. 36-49, 2013. Disponível em

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<http://fefnet178.fef.unicamp.br/ojs/index.php/fef/article/viewFile/912/pdf>. Acesso em 21 mar. 2014.

NAKAYAMA, M. O melhor do Karatê: visão abrangente – práticas. São Paulo:

Cultrix, 2012.

PEREIRA, A. M. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa.

2007. 382 p. Tese de Doutoramento em Ciências da Motricidade Humana – Universidade da Beira Interior, Covilhã – Portugal, 2007.

PRADO. G. N. O Karatê Como Conteúdo da Educação Física Escolar – Uma Revisão de Literatura. 34 f. Trabalho de Conclusão de Curso ( Escola de Educação Física – Disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II ) Porto Alegre, 2009. Disponível em <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/18864>. Acesso em: 10 out. 2013.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL – MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental:

Educação Física. Brasília, DF: 1998.

SÉRGIO, M. Um Corte Epistemológico: Da educação física à motricidade humana. Lisboa: Editora Instituto Piaget, 1999.

Erik Yudi Horiye

Universidade Estadual de Londrina – Rua Fermino Barbosa, 188, Apto. 1206 Bl. 1, Bairro Aurora, Londrina, Paraná. CEP: 86047-480

Ana Maria Pereira

Universidade Estadual de Londrina – Av. Ernani Lacedad de AThayde,188. Bl 2. Bairro Gleba Palhano, Londrina, Paraná. CP. 86 055 630.

Linha de Estudo 2- Fundamentos teórico-metodológicos do processo ensino- aprendizagem e avaliação em Educação Física

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