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Trabalho para o Congresso da Fepal 2012 São Paulo. Da Equação Simbólica ao Objeto Vivo Internalizado: Uma Experiência Clínica

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Academic year: 2021

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Trabalho para o Congresso da Fepal 2012 – São Paulo.

Da Equação Simbólica ao Objeto Vivo Internalizado: Uma Experiência Clínica

Fábia Badotti Garcia Herrera

Membro Filiado do Instituto de Psicanálise de São Paulo Neste trabalho proponho mostrar a evolução de um paciente, correlacionando duas teorias psicanalíticas e sua aplicação na clinica: a equação simbólica e os objetos transicionais.

Trata-se da analise de um paciente adulto que está em atendimento há cinco anos, e que neste período foi conseguindo ampliar as representações de si e do mundo - ele e seus objetos passaram a ter uma vida rica e criativa.

Vou iniciar descrevendo como foi o primeiro contato e depois vinhetas de sessões de anos consecutivos.

Na primeira entrevista Pedro entra, senta-se à minha frente. É um homem alto, magro, vestindo um terno elegante. Tem 29 anos, solteiro. Enquanto fala, observo seu olhar preocupado e reticente observando os objetos da minha sala, especialmente a minha estante de livros. Eu me pergunto: o que ele busca ali? Digo a ele que esta buscando algo com olhar preocupado. Ele me diz:

P – É que você não tem muitos livros na prateleira... Eu não sei se você é competente para me ajudar...

E após um pequeno silencio, ele emenda:

P- Me sinto mal nesta cidade, não tenho ninguém aqui...

Percebendo o estado mental dele, escolhi salientar o encontro entre duas pessoas. Eu disse a ele:

Eu – Quem sabe se eu tivesse uma grande biblioteca no consultório se sentiria aliviado?

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Vou lhe fazer a proposta de me conhecer, para ver o que sente. Quem sabe poderia ter uma opinião diferente? O que acha de irmos vendo nos próximos encontros desta semana como nós dois nos sentimos?

Propus a ele um trabalho de tres encontros semanais. Depois do meu convite Pedro parecia visivelmente aliviado. Ao final da entrevista, se despediu, com um “até amanha” sorridente. Parecia ter saído de um contato sem vida para um contato vivo.Na densidade desse primeiro encontro, eu percebi dois tempos separados e diferentes do seu funcionamento mental: o primeiro tempo sendo do objeto inanimado e o segundo tempo, da falta de companhia viva.

Contou-me que em oito anos vivendo na Europa trabalhou e morou em vários países distintos. Sua adaptação de volta ao Brasil tem sido muito difícil. Parecia-me que fazia a trajetória de um sem-terra com partes do seu self espalhadas em diferentes lugares.

Buscava analise pelas de crises de angustia, pelo mau desempenho no trabalho e pelo imenso sentimento de solidão.

Neste primeiro contato pessoal, entendi que Pedro, na sua primeira fala, expressava seu funcionamento mental no padrão de uma equação simbólica:

-Uma analista competente = uma estante com muitos livros, ou seja,

- uma pessoa viva = objeto concreto sem vida.

Eu achei que ele precisava de uma colocação que o ajudasse a evoluir da equação e possibilitasse novas formas de representação. Convidei-o para sentir o que se passava entre nós, como duas pessoas vivas ali conversando.

Pelas identificações projetivas massivas e perturbações em relação ao objeto materno estabelece-se a equação simbólica, gerando uma fusão defensiva de objeto e self e de objeto e símbolo. Para Segal (1992), “A equação simbólica é utilizada para negar a separação entre o sujeito e o objeto enquanto que o verdadeiro símbolo é usado para superar uma perda aceita.” A

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formação de símbolos está relacionada com a posição depressiva e com os movimentos entre PS ↔D, bem como a formação do pensamento. Nesta fase, se há possibilidades da criança fazer uso do objeto transicional a criação de símbolos é facilitada.

Meu convite para Pedro me conhecer era para que a partir da relação a dois, ele pudesse começar a perceber que eu era uma pessoa com vida, pois ele se referia a mim como um objeto concreto. Quando estipulei o contrato, hora e dias que o atenderia, ele se tranqüilizou. Penso que o setting funcionou como holding, que o conteve. Ele necessitava de “uma mãe suficientemente boa”, que o assegurasse para enfrentar as angustias de separação, perda e culpa. (Winnicott, 1975)

Voltemos agora à segunda fala de Pedro, que está no segundo tempo do funcionamento mental:

P- Me sinto mal nesta cidade, não tenho ninguém aqui...

Destaco o espaço de tempo, que marca a mudança de um funcionamento mental para outro. Agora, Pedro se refere a sua imensa solidão e sentimentos de desamparo, como se não tivesse onde “se agarrar”. Um bebê que se agarra, se abraça no ursinho ou ainda no cheirinho pôde passar pelo reconhecimento que existe outra pessoa que não seja ele mesmo, usando um objeto de transição.

Conforme eu explicitei acima, a equação simbólica se dá pela impossibilidade de lidar com as angustias de separação e perda do objeto. Nesta fase o objeto que é subjetivamente criado, passa a ser percebido objetivamente. Surge a necessidade do bebê fazer uso de algum pertence, que geralmente é oferecido pela mãe, funcionando como uma espécie de ponte entre o eu e o não-eu. O objeto transicional é a primeira posse do bebê, e esta possessão auxilia o bebê no sentimento de ter e logo em seguida, de ser. Penso que Pedro não pode chegar ao uso do objeto transicional pela intensidade das angustias.

Poderia supor que as dificuldades seriam superadas se houvesse um maior investimento libidinal nos primeiros tempos por parte da dupla, mãe e

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bebê, minimizando as angustias de perda e separação. Assim, possibilitaria a abertura para um espaço, o uso de objetos transicionais, e consequentemente, o sentimento de posse, até evoluir à simbolização e conquistando a capacidade estar só na presença de alguém (Winnicott) e posteriormente, estar consigo próprio sem sentir solidão.

A seguir uma vinheta de sessão ocorrida alguns anos após o inicio da analise:

P- Nesta semana um amigo me convidou para cobrir, como repórter, uma prova importante de iatismo. Eu fiquei muito feliz porque sei falar inglês e outros idiomas também... Mais aí, eu contei para um amigo meu... Ele ficou louco, disse que ele queria participar. Eu senti que a ideia minha corria o risco de ser apanhada por ele, e eu ficar sem nada.

(E mais adiante, na mesma sessão)

P- Eu tenho vontade de abrir aquela franquia aqui no Brasil. Perguntei pro meu amigo que é expert no assunto, ele me ajudou, vai me mandar um manual de procedimentos, mas aí, eu o convidei pra ser meu sócio. Em seguida senti que o projeto não era mais meu. Eu acho que nunca vou conseguir ter alguma coisa minha, me dá a sensação que se “esfumou”...

Uma das grandes dificuldades de Pedro sempre foi manter-se trabalhando. Muitas vezes acabava desistindo, por sentir-se submetido ao chefe ou ao sócio. Ia aos poucos perdendo a noção de que era ele quem havia escolhido trabalhar. Sentia que por mais que lutasse, não iria alcançar a meta, então desistia. Contou-me que quando criança e depois, adolescente, não se esforçava as coisas que lhe interessavam pois achava que era em vão. Tinha a sensação de que nada lhe pertencia realmente. Trazia consigo um sentimento de inutilidade constante.

Pedro, depois de cinco anos de análise, está nomeando a necessidade de ter algo próprio – seu negócio. Aquela crença de não poder possuir foi

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sendo posta à prova para dar espaço ao questionamento: Por que eu não posso? Por que me angustio? Por que tenho medo que tomem de mim?

Penso que já estão se perfilando, além do trabalho e na vida pessoal, desejos de ter uma casa própria, um casamento feliz, filhos.

Recentemente, Pedro compartilhou um segredo comigo: a vontade de ter um veleiro. Eu lhe disse que o veleiro terá um leme, ao qual dará direção, para não deixar sua vida/veleiro à deriva como sentira até então.

Como o tema do Congresso da Fepal 2012 é Tradição – Invenção, eu propus temas relacionados ao desenvolvimento da simbolização, das representações e da constituição do self, assuntos que tem me feito pensar e reorganizar minha prática clínica. Será antes ser para depois ter ou como eu entendo, a partir da minha experiência com Pedro, a necessidade de ter para conseguir ser?

Bibliografia:

Alvarez, Anne (1994) Companhia Viva. Artes Médicas. Porto Alegre. Freud, S. (1969) Achados, Idéias e Problemas ( 1938). Obras Completas. Vol. XXIII. Imago Editora. Rio de Janeiro.

Hinshelwood, R.D. (1992) Dicionário do Pensamento Kleiniano. Artes Médicas. Porto Alegre.

Segal, H. (1982) Notas a Respeito da Formação de Símbolos. A Obra de Hanna Segal: Uma Abordagem Kleiniana à Prática Clínica. Imago Editora. Rio de Janeiro.

Winnicott, D.W. (1975) Objetos Transicionais e Fenômenos Transicionais. O Brincar e a Realidade. Imago Editora. Rio de Janeiro.

Resumo: A autora propõe temas relacionados ao desenvolvimento da simbolização, das representações e da constituição do self. Observa a trajetória de dois tempos distintos do funcionamento mental de um analisando: do tempo da equação simbólica ao tempo do objeto vivo internalizado, passando pelo uso do objeto transicional.

Referências

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