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RETÓRICA DO IMEDIATO: VELOCIDADE E NARRATIVA MELODRAMÁTICA NO TELEJORNALISMO 1

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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

RETÓRICA DO IMEDIATO: VELOCIDADE E NARRATIVA

MELODRAMÁTICA NO TELEJORNALISMO

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Leandro Olegário2

1. Introdução

O No cenário da pós-modernidade vivemos a era da realidade ou hiper-realismo, (in)definido por um mundo sem janelas, sem fronteiras definidas. Diante desse contexto, há o paradoxo da televisão, que é impactado porque sua natureza de operacional exige o enquadramento do conteúdo. No caso específico do telejornalismo, a realidade. Esse recorte busca dar um sentido, uma direção para indicar princípios do que é real. A hiper-realidade traz consigo adjetivos que ajudam a defini-la: espetacularização, saturação, detalhamento. O resultado disso? Um imaginário de transparência e de obsessão pela verdade, Joron (2013).

No jornalismo, pela função social e contrato com o público que desempenha na intermediação da realidade e seus protagonistas em conjunto com a sociedade, está implícito na construção dos produtos informacionais a carga de veracidade, autenticidade, de compromisso com real, mesmo que o conteúdo seja sempre um recorte do todo – ainda que seja um produto à venda. Cabe ao jornalista delimitar as fronteiras entre o real e a ficção. Na atmosfera digital envolto no ambiente pós-moderno, a hiper-realidade ganha novos contornos e permeia o cenário do jornalismo. E isso modifica os olhares e os processos.

Deste modo, Joron (2014) propõe o conceito de telerrealidade, que significa a inclusão do homem e do seu cotidiano na televisão, sem que isso implique manipulação. E traz à tona a importância de perceber as configurações das produções televisivas e as mudanças de formatos até o encontro com o público. Uma perspectiva indissociável do construtivismo. Qual a intencionalidade nesse sentido? A busca pela empatia e identificação do público, para quem Bourdieu (1997) já alertava que a televisão nada mais é do que o “espelho de narciso”. Atualmente, a comunicação digital parece acelerar sobremaneira o

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Neste trabalho exploramos a aplicação do audiovisual de acontecimento no telejornalismo brasileiro contemporâneo, adotando a perspectiva do emissor como estratégia de análise, a partir da pesquisa de doutoramento realizada pelo autor, com ênfase nas práticas profissionais e processos sociopolíticos nas mídias.

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Doutorando em Comunicação Social pela PUCRS. Professor da Faculdade de Comunicação Social do Centro Universitário Ritter dos Reis - UniRitter. Integrante do Grupo de Pesquisa Televisão e Audiência - GPTV/CNPq. leandro@olegario.jor.br.

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viés espaço e, desse modo, passamos a reconfigurar as relações com os meios de comunicação a partir da convergência – quando tudo (áudio, imagem e texto) se traduz a mesma linguagem: código binário.

É no campo do telejornalismo policial, que o conceito de imaginação melodramática (Brooks,1995) ganha espaço e é visível de ser compreendido com maior pertinência. A cobertura de crimes ou tragédias com a produção de personagens, dramatizações e estereótipos provocam o afastamento do jornalismo, enquanto compromisso com a verdade – ainda que seja utopia – e o aproxima da ficção.

2. Metodologia

Para o presente trabalho adotamos como estratégias metodológicas análise de conteúdo, observação sistêmica e revisão bibliográfica, que traz autores para articulação de conceitos, como imaginação melodramática (Brooks,1995), televisão e hiper-realismo (Bourdieu,1997), telerrealidade (Joron, 2013), tecnologia e velocidade (Virilio, 1996). Utilizamos aqui uma metodologia qualitativa, inspirada na obra de Richardson et al. (1999) que justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno sócio organizacional. Consideramos ainda que a amostragem obedece ao critério não aleatório, com amostra selecionada de forma intencional. O conteúdo escolhido para análise foram duas reportagens veiculadas (16/09/14 e 25/09/14) em programa jornalístico da grade nacional da TV Globo, o Jornal Hoje3, e levou em conta o fato de reunir elementos e conceitos, abordados ao longo do artigo.

3. Resultados e Discussão

Na edição do dia 16 de setembro de 2014, o Jornal Hoje exibiu uma matéria4 em que trazia as seguintes informações:um refém de sequestro-relâmpago se salvou porque o carro onde ele estava foi parado em uma blitz da Lei Seca. Ao todo foram 31 segundos de conteúdo, incluindo a chamada da reportagem no estúdio. O registro é feito por um cinegrafista da emissora que durante uma blitz flagra a fuga de um motorista do veículo e a detenção de três jovens que ficaram no carro.

No dia 25 de setembro de 2014, o mesmo telejornal trazia o desdobramento do caso, o que no jargão jornalístico é chamado de suíte5.Ao foram 37 segundos de conteúdo,

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O telejornal da Rede Globo estreou em 21 de abril de 1971 apenas para o Rio de Janeiro, com a proposta de ser uma revista diária, com matérias sobre arte, espetáculos e entrevistas. Em 1974, passou a ter exibição nacional. Atualmente é exibido ao vivo de São Paulo, de segunda a sábado, às 13h15.

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Vídeo disponível em: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/09/homem-escapa-de-sequestro-durante-blitz-em-porto-alegre-veja-o-video.html <acesso em 18.09.15>

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Vídeo disponível em: http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-hoje/t/edicoes/v/policia-descobre-que-homem-forjou-sequestro-relampago-em-porto-alegre/3653831/ <acesso em 18.09.15>

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incluindo a chamada da reportagem no estúdio. Novamente a reportagem reproduz as imagens de arquivo para ilustrar o desdobramento do caso. O homem que apareceu nas imagens ao sair correndo do carro, gritando que estava sendo assaltado, na realidade não é vítima. Tudo foi um artifício utilizado para tentar escapar da prisão. O nome do suspeito de 36 anos não foi divulgado pela polícia. O episódio aconteceu na avenida Goethe, uma das tradicionais vias de Porto Alegre, na madrugada de 16 de setembro de 2014. O carro da então vítima foi parado na blitz da Operação Balada Segura. Logo em seguida, o motorista estaciona e sai correndo, enquanto os policiais detêm três jovens de 14,15 e 17 anos que estavam no automóvel com um revólver de brinquedo. Na delegacia, a primeira evidência de que algo estava errado: o motorista fugiu sem ser notado, impedindo a realização do flagrante. E os adolescentes acabaram liberados. Nos dias seguintes, os jovens prestaram depoimento e falaram que conheciam o homem e que mantinham contato para o consumo de drogas.

A história ganhou outra dimensão porque uma equipe de reportagem acompanhava os resultados da Operação Balada Segura. O cinegrafista fazia o registro aparentemente normal da abordagem por agentes de trânsito e policiais militares a um carro. A cena do motorista correndo e gritando ser vítima de assalto surpreendeu a todos no local. Mesmo as imagens sendo gravadas por um profissional, nesta hora a gramática audiovisual, da qual se apropria o jornalismo, com a utilização de planos e enquadramentos, por exemplo, desaparece. O plano geral, PG, é predominante. O viés do enquadramento aberto tem a intenção de mostrar o máximo de elementos presente em um cenário. Além disso, serve como estratégia quando se não sabe o que virá a acontecer ou há uma inexistência de roteiro. Assim, repete-se a lógica das câmeras de segurança privada ou monitoramento público. Mais de o que isso, a percepção estética remete às imagens da origem do cinema. Outra constatação do audiovisual de cotidiano é que, nesse caso, a narrativa foi capturada e veiculada por uma equipe de reportagem e obteve espaço com mais facilidade e tratamento jornalístico no noticiário local e no nacional, como o Jornal Hoje, que estabelecemos como corpus do presente trabalho..

Por fim, o conteúdo analisado revela a máxima: nem tudo que parece verdade é verdade. Ou, se quiséssemos transpor para o contemporâneo, bastaria trocar verdade pela palavra realidade. Em uma atmosfera com fronteiras borradas e câmeras apontadas para quase todos os lados ou lugares, curiosidade, desconfiança tornam-se elementos essenciais no processo de checagem da informação e construção de produtos jornalísticos. Uma vez identificado o erro ou a atualização de dados, o jornalismo, da perspectiva ética e prática processual, pede que haja correção e a exibição de uma nova reportagem apresentando a alteração de contexto, como o fez o Jornal Hoje, em 25 de setembro de 2014.

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4) Conclusões

A necessidade da pressa para obtenção de uma notícia ou a prática da agilidade pode comprometer o trabalho do jornalista, da equipe e do veículo de comunicação como um todo. Na ânsia por ultrapassar a concorrência na transmissão de um fato, a credibilidade fica abalada, comprometida. Nesta lógica, como ressalta Virilio (1969), velocidade é a própria informação.

Observa-se também que o tempo para a reflexão do processo de produção da notícia fica praticamente anulado. O resultado imediato é a perda da qualidade do material veiculado e, por consequência, a visão distorcida ou com falta de nitidez adequada e precisa da realidade que chega ao telespectador nesse caso. A ausência de outros ângulos e versões numa reportagem impede a ampliação do número de fontes e enfoques, base da diversidade exigida para provocar a reflexão de quem está do outro lado, o público. São questionamentos que deixam de ser feitos e que têm papel fundamental na construção de uma sociedade melhor. Urgência não significa suprimir, mas priorizar. Por mais desejo latente de informação que exista dentro do ser humano e que esteja presente no campo jornalístico contemporâneo, é preciso ter cautela – sem jamais, evidentemente, como frisamos neste trabalho, esquecer a apuração.

E se faz pertinente questionarmos: o que atrai a atenção é o espetáculo do banal ou a ilusão de uma imagem estagnada entre o real e a ficção? A resposta pode indicar ao jornalismo os caminhos para a valorização do conteúdo, como catalisador da cidadania, e do seu papel social na pós-modernidade.

5) Palavras-chave

Telejornalismo; Narrativa Melodramática; Velocidade; Telerrealidade.

6) Referências bibliográficas

BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica: as técnicas do jornalismo. 4. ed. SãoPaulo: Ática, 1990.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D’Água, 1991. _____________. A ilusão vital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

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BORDENAVE, Juan E.Díaz. O que é Comunicação. 1ª.ed. São Paulo: Brasiliense,1982. BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

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FRANÇA, Vera Veiga. Jornalismo e vida social: a história amena de um jornal mineiro. Belo Horizonte: VFMG, 1998.

JORON, Philippe & LAURENS, Jean-Paul. Imaginário, conhecimento e comunicação. PPGCOM - Seminário V, Porto Alegre: PUCRS, 21 a 25/09/2009.

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TIETZMANN, Roberto; ROSSINI, Miriam de Souza. O registro da experiência no audiovisual de acontecimento do contemporâneo. Artigo apresentado no Grupo de Trabalho Comunicação e Cultura do XXII Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Salvador: UFBA, de 04 a 07 de julho de 2013.

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Referências

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