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CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES OLEAGINOSAS CRYOCONSERVATION OF OLEAGINOUS SEEDS

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REVIEW

CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES OLEAGINOSAS

Míriam Goldfarb1, Mario Eduardo R.M. Cavalcanti-Mata2, Maria Elita Martins Duarte2 RESUMO

Existem vários métodos para armazenar sementes, dentre esses, se destaca a crioconservação. Está técnica consiste em armazenar diversos materiais biológicos, como exemplo, as sementes, nas temperaturas ultra-baixas, que são as temperaturas do nitrogênio líquido, a -196°C e do vapor de nitrogênio, -170°C. Nessas temperaturas, as sementes apresentam o seu metabolismo inativado, e assim evita a deterioração do produto durante os períodos de armazenamento. Com relação às sementes oleaginosas, estas, apresentam algumas limitações durante o período de estocagem, como oxidação do conteúdo lipídico. Assim, é necessário controlar a temperatura e teor de água do local de armazenagem bem como o conteúdo de água no interior da semente. Nesse sentido, objetivou-se neste artigo de revisão reunir informações sobre a técnica de crioconservação e a viabilidade do método de crioarmazenamento de sementes oleaginosas.

Palavras-chave: armazenagem, temperaturas criogênicas, material biológico.

CRYOCONSERVATION OF OLEAGINOUS SEEDS

ABSTRACT

There are several methods for the storage of seeds, within which we can highlight the cryoconservation. This technique is made for the storage of various biological materials. For example it is an appropriate method to store seeds at ultra-low temperatures, which accord with the liquid nitrogen temperature at -196°C and nitrogen vapor temperature at -170°C. At these temperatures, the seeds show a behaviour of inactivated metabolism, and thus prevents the deterioration of the product during the period of storage. In consideration of the oleaginous seeds there are some restrictions during the storage period to follow, like the oxidation of the Lipid content. It is also necessary to control the temperature and the humidity of the local environment of the storage, as well as the water content inside of the seed. Referring to this, the objective of this review article is to gather information about the technique of the cryo-preservation and the viability of the cryo-storage relating to oleaginous seeds.

Key-words: storage, cryogenic temperatures, biological material.

Protocolo 18 2015 02 de 04/12/2016

1 Bióloga, Doutora em Biologia Celular e Estrutural, Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, UFV,

MG; miriam.gold@hotmail.com

7Professor Titular da Unidade Acadêmica de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),

Campina Grande-PB, Brasil, Email: mario.cavalcantia@ufcg.edu.br

2 Professor Titular da Unidade Acadêmica de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),

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INTRODUÇÃO

De acordo com Delouche & Baskin (1973) e Popinigis (1977) as boas condições para preservar a qualidade fisiológica das sementes dependem das condições ambientais em que as mesmas são submetidas, como as condições climáticas dos depósitos de armazenamento e da área de colheita. Segundo Popinigis (1977) muitas regiões climáticas brasileiras são favoráveis à preservação da qualidade fisiológica de sementes entre o período de colheita (ou ponto de colheita) e

durante o armazenamento. Ainda de acordo

com mesmo autor, algumas regiões

apresentam

condições

climáticas

desfavoráveis

à

preservação

das características fisiológicas e propriedades

organolépticas, sendo necessário o

armazenamento desse material biológico em condições controladas do ar e/ou temperatura.

Uma unidade de armazenamento sob condições controladas é aquele em que a temperatura e umidade relativa do ar são mantidas em valores específicos de acordo com o produto armazenado e pode ter uma pequena embalagem plástica, uma lata ou qualquer embalagem impermeável, ou um local complexo e maior, como por exemplo, um armazém com condições de arejamento adequado e sistemas de refrigeração (Popinigis, 1977). Popinigis (1977) menciona que embalagens impermeáveis, são consideradas excelentes para pequenos volumes de sementes, porém são inadequadas para grandes volumes,

devido aos cuidados especiais no

acondicionamento, manuseio e a necessidade de secar a semente até um teor de água relativamente baixo antes do acondicionamento. Conforme o mesmo autor, quando o volume de sementes para a conservação é grande, como exemplo nas culturas de milho, soja, arroz e trigo, torna-se necessário controlar as condições ambientais dos armazéns em que estes produtos serão armazenados. A temperatura e a umidade relativa do ar deverão ser ajustadas de acordo com as propriedades das sementes a serem estocadas, a fim conservar propriedades fisiológicas (germinação e vigor).

Marcos Filho (2005) afirma que as pesquisas de um modo geral, têm procurado estudar as condições de armazenamento. O desempenho das sementes condicionadas, secadas e armazenadas pode depender do genótipo com isso ocorre uma dificuldade para

padronizar os procedimentos para o

condicionamento fisiológico e posterior manejo das sementes. Segundo Marcos Filho (2005), a manutenção do potencial fisiológico de sementes condicionadas, após secagem e durante o armazenamento, depende do procedimento utilizado na secagem, das condições ambientais do local de armazenagem e dos períodos de armazenamento.

Muitos fatores exercem influência sobre a conservação dos grãos e sementes, no entanto, o teor de água é o elemento que governa a qualidade desse produto quando armazenado (Puzzi, 2000). Para obter um armazenamento eficiente, é fundamental que o produto armazenado apresente um baixo quantitativo de água, sementes com alto teor de água constituem um meio ideal para o desenvolvimento de micro-organismos e insetos (Puzzi, 2000). A água constitui em um dos componentes mais importantes dos alimentos, dependo da proporção em que ocorre, a água tem função de solvente e plastificante. Nos produtos com alto teor de água, ocorre escurecimento enzimático devido à mobilidade da água para substâncias dissolvidas que reagem em solução. Em produtos com baixo teor de água, a água residual se encontra adsorvida na matéria seca, impossibilitando assim a reação entre componentes da fase líquida, conservando as propriedades do produto armazenado (Puzzi, 2000).

Conforme Puzzi (2000) a boa

conservação dos produtos, durante o período de armazenamento é amplamente controlada pelo teor de água, que proporciona a atividade dos grãos e sementes, como a respiração. Os grãos e sementes com alto teor de água, quando armazenados, apresentam um aumento em seu metabolismo, resultando em uma massa aquecida, como consequência ocorre o surgimento de mofos, presença de sementes germinadas, e por fim a interrupção da atividade vital surgindo então as podridões. Diante do que foi exposto, podemos mencionar que o baixo teor de água nos produtos armazenados prolonga os períodos de estocagem minimizando os riscos de perdas do material armazenado.

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essencialmente não higroscópicos. Assim, a uma mesma umidade relativa do ar, uma semente com elevado teor de proteína ou amido e com baixo teor de óleo, apresentará um teor de água muito mais elevado que outras, com

composição essencialmente oleaginosa

(Popinigis, 1977; Puzzi, 2000).

Com relação aos componentes ou substâncias armazenadas nas sementes, de um modo geral, os carboidratos, as proteínas e os lipídios são as principais substâncias de reserva, mas as proporções de cada um desses componentes variam de acordo com a espécie. De acordo com o tipo de reserva predominante, as sementes são classificadas em amiláceas, sendo o principal componente de reserva é o amido; aleuro-amiláceas, amido e proteínas são os principais componentes; oleaginosas, predominam os lipídios (Marcos Filho, 2005). Os principais ácidos graxos insaturados que compõem as sementes são os oléico e linoléico. Sendo o linoléico representando cerca de 60% do peso de todos os lipídios das sementes oleaginosas. Os ácidos graxos como o linolênico, têm grande tendência à oxidação, assim para a conservação de sementes com alto teor de ácido graxo linolênico, é importante o uso de substâncias antioxidantes (Marcos Filho,

2005). Durante a germinação, as lipases

hidrolisam os triglicerídios, formando glicerol e

ácidos graxos, esses compostos são

transformados em açucares liberando energia (Marcos Filho, 2005).

Sobre os óleos comestíveis, é

interessante para a indústria alimentícia a obtenção de sementes agrícolas com alto teor de ácido linoléico, presentes no milho e girassol. Com relação ao teor de ácido linolênico, é importante que ele esteja em menor quantidade nos grãos, porque este ácido é de fácil oxidação durante o armazenamento, sendo assim, pode

ocorrer modificações nas propriedades

organolépticas do produto biológico, tais como, alterações na cor, sabor e odor (Marcos Filho, 2005).

Uma das transformações que ocorre nas sementes oleaginosas é a rancificação, que pode acontecer durante a estocagem, este processo provém da oxidação ou hidrólise do óleo, está reação é catalisada por enzimas (lipases), dando origem ao ácido graxo. Um produto rançoso, têm algumas características que lhe são peculiares como o odor e o sabor (Puzzi, 2000).

Acerca dos métodos de armazenamento, Puzzi (2000) relata que o armazenamento convencional de grãos e sementes, consiste em armazenar esses produtos secos em armazéns.

Esta prática é predominante no Brasil, este método é considerado dispendioso e apresenta alguns inconvenientes, tais como, sementes que são estocados em sacos, nos armazéns, ficam sujeitos às condições ambientais e, em regiões úmidas, a qualidade do produto é prejudicada pela ação de fungos e de outros micro organismos. Nas condições de armazém, as sementes não podem ser conservados por longo tempo. Entretanto, este tipo de armazenamento apresenta algumas vantagens como manipular quantidades e tipos variáveis de produtos, formações de lotes pertencentes ao mesmo depositante e, ocorrendo fermentações em um ou mais sacos de grãos, estes sacos poderão ser retirados, sem que haja necessidade de remoção de todo o bloco empilhado (Puzzi, 2000).

Stushnoff & Seufferheld (1995); Santos (2000); Cavalcanti Mata et al. (2004)

mencionam que o armazenamento criogênico,

consiste na criopreservação de material biológico, mantido às temperaturas criogênicas (nitrogênio líquido a -196ºC e vapor de nitrogênio a -170°C), o desenvolvimento de um

protocolo de criopreservação requer

conhecimento de mecanismos bioquímicos e biofísicos associados com a resposta dos tecidos biológico à desidratação e ao congelamento. A vantagem do crioarmaze-namento é que viabiliza a estocagem e o transporte de material biológico vivo, por longos períodos de tempo. Nos últimos vinte anos, numerosos relatos de criopreservação de plantas de propagação vegetativa, cereais e gramíneas, plantas ornamentais, frutíferas tropicais e temperadas, leguminosas e oleaginosas, medicinais e aromáticas, entre outras, foram publicados na literatura A capacidade dos tecidos vegetais sobreviverem à criopreservação depende da sua tolerância à desidratação e à temperatura que podem variar de -130 oC até -196ºC (nitrogênio líquido). O

teor de água nas espécies vegetais é fator essencial durante o armazenamento desse material nas temperaturas criogênicas.

Nesse sentido, o presente trabalho de revisão tem por objetivos explicar o método de crioconservação de sementes e em descrever

algumas pesquisas sobre os aspectos

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para estocar sementes com propriedades oleaginosas.

DESCRIÇÃO DO ASSUNTO

Generalidades sobre a técnica de crioconser-vação

Conforme Santos (2000) semente é a forma comumente utilizada para conservação ex situ das espécies vegetais, ou seja, quando a conservação ocorre fora do habitat natural. Esse tipo de conservação é representado pelos bancos de sementes ou cultura de tecidos vegetais (in vitro). É importante explicar que a conservação de sementes tanto pelos métodos convencionais ou por meio da crioconservação depende das características desse material biológico quanto à capacidade de manter a qualidade fisiológica durante o crioarma-zenamento. De acordo com o comportamento

das sementes durante as etapas de

armazenamento, as sementes são classificadas em ortodoxas, intermediárias e recalcitrantes. Segundo Castro et al. (2004) sementes recalcitrantes apresentam intolerância à retirada de poucos percentuais de água, apresentam sensibilidade à conservação às baixas tempera-turas e redução do potencial germinativo quando umedecidas. Sementes de espécies florestais apresentam um grande número de sementes recalcitrantes. Ainda conforme Castro et al. (2004) sementes consideradas interme-diárias podem ser desidratadas à baixo teor de água, contudo podem apresentar sensibilidade à embebição ou baixas temperaturas. Os autores Villela & Peres (2004) mencionam que sementes ortodoxas podem ser secadas até baixos teores de água (5 a 7%), armazenadas em ambientes com baixa temperatura e serem submetidas às etapas de secagem artificial. A metodologia convencional para a conservação de sementes ortodoxas não pode ser aplicada para as sementes intermediárias ou recalci-trantes, por isso a importância dos métodos alternativos de conservação (Engelmann, 1997; Santos, 2000). Assim, a criconservação seria um método eficaz para a conservação de sementes que apresentam sensibilidade aos métodos convencionais de conservação.

De acordo com Kartha (1985) e Santos (2000) a criconpreservação é definida como a conservação de material biológico em nitrogênio líquido a -196°C ou em sua fase de vapor a -170°C. Nos últimos vinte anos, numerosos relatos de criopreservação das mais diversas espécies de plantas foram mencionados na literatura. Incluindo a crioconservação de

protoplastos, calos, gemas laterais e apicais, meristemas, embriões somáticos e zigóticos e produtos biotecnológicos (linhagens celulares geneticamente modificadas) (Sakai, 1995; Stushnoff & Seufferheld, 1995; Yongjie et al., 1997; Santos, 2000).

Quanto aos aspectos biofísicos

relacionados à técnica de criopreservação é importante mencionar que os únicos estados físicos existentes nas temperaturas aproximada-mente inferiores a -130°C são o estado cristalino ou vítreo que consistem em uma forma viscosa, nesse estado ocorre níveis baixos de energia cinética molecular e as reações metabólicas ocorrem muito lentamente ou quase são estacionárias (Kartha, 1985).

Portanto, nas temperaturas criogênicas

(nitrogênio líquido) as sementes mantém a viabilidade por muitos anos bem como os seus caracteres genéticos (Santos, 2000). A vitrificação é um processo físico no qual a água sofre uma transição da fase líquida para um estado de sólido amorfo considerado estável, com isso confere propriedades mecânicas a este sólido, no entanto não há formação de uma estrutura cristalina. O rápido decréscimo da temperatura não permite a formação de cristais de gelo no espaço intracelular (Santos, 2000).

Kartha (1985), Sakai (1995) e Santos (2000) relatam que em condições experimentais quando as células atingem a temperatura de pré-congelamento, a maior parte da água congelável foi liberada para o meio externo para ser transformada em gelo. Nesse sentido, a temperatura do nitrogênio líquido tem pouco efeito adverso. Assim, o método de congelamento lento é um procedimento viável, porém bastante complexo, onde a etapa de pré-congelamento é considerada fundamental na viabilidade do material biológico conservado.

O processo de vitrificação por meio da desidratação dos tecidos para um teor de água em que não existe água livre, permite que o material possa ser exposto à temperatura do nitrogênio líquido evitando a formação de gelo. Com isso, o processo de vitrificação tornou-se um dos principais métodos de crioproteção de estruturas vegetais durante a criopreservação. A vitrificação também evita a difusão de produtos para o meio intracelular, levando a um estado de quiescência metabólica, evitando as reações químicas que são dependentes do processo de difusão. Assim, a deterioração do material

biológico é suprimida assegurando a

preservação (Santos, 2000).

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do material biológico. Materiais vegetais como calos, embriões, gemas apicais e laterais e sementes, por serem produtos biológicos altamente hidratados, a desidratação é necessária. A água precisa ser removida para evitar injúria que ocorre com a formação dos cristais de gelo. Porém, a água apresenta funções biológicas importantes nas células dos organismos vivos, é um componente essencial para estabilizar a estrutura das macromoléculas e organelas (Kramer e Boyer, 1995; Vertucci &

Farrant, 1995; Santos, 2000). Quando a água é

removida das células, o meio intracelular torna-se mais concentrado, aumentando a taxa de reações químicas destrutivas, alguns solutos podem cristalizar-se mudando o pH da solução intracelular modificando o estado metabólico da célula (Kramer e Boyer, 1995).

Acerca do congelamento, esta etapa é considerada crítica durante a crioconservação, quando o congelamento é lento ocorre formação de cristais de gelo no ambiente intracelular, provocando o rompimento das membranas celulares, aumento na concentração de solutos no citoplasma, desnaturação dos ácidos nucléicos e de proteínas. Com relação às espécies vegetais, ocorrem diferenças nos níveis de tolerância ao congelamento de acordo

com a espécie vegetal. Quanto ao

descongelamento, também é uma etapa crítica da crioconservação, pode ser formado cristais de gelo e em decorrência disto ocorre rompimento das membranas celulares, como anteriormente mencionado. (Santos, 2000).

Conforme Santos (2000) o que é assegurado na crioconservação é que logo após os períodos de armazenamento na temperatura do nitrogênio líquido, é a retomada do crescimento e a regeneração do indivíduo. Para as sementes, é em manter a viabilidade (qualidade fisiológica). A criopreservação também ajuda a manter o patrimônio genético das espécies crioconservadas, evitando assim a erosão do material genético.

A criobiologia, além de ser uma técnica que busca preservar as mais diversas espécies biológicas, também estuda os mecanismos biofísicos e bioquímicos envolvidos nas etapas de crioarmazenagem, para assim evitar danos ao material biológico conservado. Um protocolo de criopreservação padronizado para todas as espécies vegetais é praticamente impossível, devido ao grau de tolerância que cada espécie vegetal apresenta quando submetida ao nitrogênio líquido.

Crioconservação: metodologia

Cavalcanti Mata et al. (2004) explica que a técnica de crioconservação de sementes consiste em submeter este material biológico no interior de botijões criogênicos (Figura 1c) isolados à vácuo parcial o que confere ao botijão, a capacidade de manter o nitrogênio no estado líquido (-196°C), com baixas perdas por evaporação viabilizando-se assim, a estocagem e o transporte desse material por longos períodos de tempo. A crioconservação de sementes consiste nas seguintes etapas: (1) determinar o teor de água inicial das amostras; (2) secagem e hidratação das sementes para assim poder caracterizar os teores de água para crioconservação; (3) determinar o teor de água limite para crioconservação de sementes (TALC). A seguir serão descritas as etapas para crioconservação de sementes oleaginosas:

Obtenção do teor de água inicial das sementes:

Este é o procedimento inicial para

qualquer procedimento de armazenagem de sementes, consiste em obter o teor de água inicial das sementes antes de armazená-las. Para este fim, é utilizado o método padrão da estufa a 105 + 3°C, que se baseia no processo de extração de água do produto durante a sua permanência por 24 horas em uma estufa de secagem, seguindo a metodologia descrita nas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992). Neste procedimento, utiliza-se algumas sub-amostras do produto. O teor de água inicial é estabelecido por meio da média aritmética das sub-amostras utilizando a equação 1:

(1)

em que:

Pi = peso inicial da amostra (gramas); Pf = peso final da amostra (gramas); X = teor de água em percentagem de base úmida (b.u), %

Caracterização dos teores de água para crioconservação:

Quando determinado o teor de água

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comumente utilizados os seguintes teores de água para obter o TALC (Teor de Água Limite para Crioconservação): 4, 6, 8, 10, 12 e 14% em base úmida (b.u). A perda ou ganho de água pelas sementes é determinada por meio da equação 2 recomendada pelas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992):

(2)

em que:

Pf = peso final da amostra, g Pi = peso inicial da amostra, g

TAi = teor de água inicial das sementes (b.u), % TAf =teor de água desejada das sementes (b.u), %

Secagem e hidratação das sementes:

Nos procedimentos de secagem, as

amostras podem ser colocadas em um dessecador ou em uma estufa de secagem. Na estufa a temperatura deve ser ajustada em torno de 33 + 3°C. Durante a secagem, as amostras devem ser pesadas em balança eletrônica, geralmente de 0,001g de precisão (Brasil, 1992; Goldfarb et al., 2008). As pesagens devem ser feitas cada 1 hora, até alcançarem os pesos referentes aos teores de água. Para o aumento do teor de água, pode ser utilizada a metodologia proposta por e Marcos Filho (2005) e Goldfarb et al. (2008). Conforme a descrição dos autores, as sementes devem ser colocadas de forma uniforme em cesta de arame com dimensões de aproximadamente de 35 cm de comprimento, 23 cm de largura e 4 cm de altura. As cestas devem conter suportes na base. A cesta com as sementes serão colocadas no interior de uma bandeja plástica com dimensões de aproximadamente 38 cm de comprimento, 25,5 cm de largura, 25,5 cm de comprimento e 6,4 de altura. No interior da bandeja será colocada água esterilizada e destilada e em seguida a cesta com as sementes será colocada nesta bandeja com água de forma que água não alcance as sementes. O material completo (bandeja, sementes e cesta) deve ser envolvido por um saco plástico de alta densidade e vedado, e em seguida levado a uma câmara de refrigeração com temperatura de 5 ou 10°C. O peso das sementes deve ser determinado a cada

duas horas, até alcançar a umidade desejada (Marcos Filho, 2005; Goldfarb et al., 2008). De acordo com Cavalcanti Mata et al. (2010) o ideal é que não exista a umidificação das sementes por esta metodologia, pois este procedimento pode acarretar perda da qualidade fisiológica das sementes. O que deve ser feito é coletar sementes no campo com diferentes teores de água.

Teor de Água Limite para Crioconservação (TALC)

Os procedimentos mencionados no item anterior, são essenciais para determinar o teor de água ideal para as sementes serem crioarmazenadas por períodos prolongados de tempo. Nos procedimento para determinar o TALC, após cinco dias de crioarmazenamento , as sementes serão submetidas aos testes de germinação e vigor, para assim estabelecer o melhor teor de água que será utilizado para crioconservação .

Etapas de crioarmazenagem

As sementes com os teores de água desejados, devem ser acondicionadas em tubos cilíndricos de alumínio (canister) (Figura 1b), separados por teor de água e colocados no interior de botijões criogênicos com nitrogênio em estado líquido (-196°C) (Cavalcanti Mata et al., 2010).

Descongelamento:

Após os dias de crioarmazenamento, as sementes devem ser submetidas a um descongelamento gradativo (-196; -170; -80; 10°C e ambiente). Esta etapa é muito importante devido à formação dos cristais de gelo que ocorre durante o período de descongelamento e em consequência ocorrem danos às sementes (Almeida et al., 2002). O descongelamento gradativo é recomendado para qualquer tipo de semente, todavia para aquelas sementes que apresentam o tegumento (casca) menos rígido (textura mais fina) característica esta presente em muitas sementes com propriedades oleaginosas, assim, estas sementes

são mais sensíveis ao processo de

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A Figura 1 ilustra de forma esquemática, algumas etapas da crioconservação de sementes de pinhão manso (Jatropha curcas L.) onde consta a presença do canister, que tem por função acondicionar as sementes para posterior

imersão em nitrogênio líquido (-196°C) no interior de botijões criogênicos. Também, na mesma figura, consta a germinação dessas sementes.

Figura 1. Algumas etapas da crioconservação de sementes de pinhão manso (Jatropha curcas L.): (a)

sementes de pinhão manso; (b) canister; (c) botijão criogênico; (d) germinação das sementes após a crioconservação.

Qualidade fisiológica de sementes

oleaginosas submetidas ao armazenamento criogênico

Almeida et al. (2002) ao estudarem a crioconservação de sementes de mamona (Ricinus communis L), as variedades Nordestina e Pernambucana, constataram que as sementes apresentaram o Teor de Água Limite para Croconservação (TALC) entre 4 a 10% em base úmida (b.u), onde nesses níveis de água, as sementes tiverem os índices de germinação em torno de 78% e vigor em torno de 25%. Com relação aos períodos de

crioconservação, o melhor índice de

germinação foi aos 30 dias de crioarmaze-namento, nesse período os índices com relação ao potencial germinativo foram de 80%. Os autores concluíram que as sementes de mamona podem ser crioarmazenadas com o teor de água de colheita, ou seja, em torno de 6%. Batista (2000) estudou a crioconservação de diversas variedades de sementes de gergelim (Sesamum indicum) e constatou que o TALC foi em torno de 6% em base úmida, as sementes com esse teor de água tiveram um

potencial germinativo em torno de 90% e vigor em torno de 24%. Acerca dos períodos de crioconservação, os melhores índices foram obtidos após 60 dias de crioarmazenamento, com valores de germinação em torno de 83%. Coelho (2006) também obteve TALC na faixa de 6 a 8% b.u, durante a crioconservação de duas variedades de sementes de algodão colorido (Gossypium hirsutum L.), nessa faixa de água, foram obtidos os melhores índices de germinação e vigor. Com relação aos períodos de crioconservação, as sementes foram armazenados em nitrogênio líquido (-196°C) e também em vapor de nitrogênio (-170°C) por 360 dias, o autor observou que com o aumento do período de armazenamento das sementes houve um decréscimo da germinação e do vigor das mesmas para quaisquer temperatura e métodos de descongelamento utilizados. Pesquisas realizadas por Goldfarb et al. (2008) acerca da crioconservação de sementes de

pinhão manso (Jatropha curcas L.),

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crioconser-vadas nessa faixa de teor de água. Goldfarb et al (2010) avaliaram os períodos de crioarma-zenamento para as mesmas sementes, e concluíram que a qualidade fisiológico se manteve inalterada durante os três períodos de crioconservação, 30, 60 e 90 dias.

Diante do que foi relatado pelos autores Batista (2000), Almeida et al. (2002), Coelho (2006), Goldfarb et al. (2008) e Goldfarb et al. (2010), as sementes oleaginosas de várias espécies de plantas podem ser crioconservadas com teores de água variando para cada espécie entre 4 a 14% em base úmida (b.u). Alguns desses autores constataram aumento do percentual de germinação e vigor durante um período variável de Crioarmazenagem para nos

períodos subsequentes caírem e se

estabilizarem.

A justificativa apresentada por Caval-canti Mata et al. (2010) é que as espécies apresentam certo grau de dormência que podem ser quebradas pelo frio, mas com o decorrer do tempo de crioarmazenagem ela é camuflada pela metodologia de descon-gelamento, onde neste processo um número significativo de células são danificadas e como consequência a qualidade fisiológica delas é diminuída, sendo algumas com certo grau de significância outras não. Os mesmos autores salientam ainda, que em certos casos as sementes devem ser crioconservadas com crioprotetores. Cavalcanti Mata et al. (2010), também em seus estudos revela que quanto maior for o tamanho das sementes, maior será a probabilidade de provocar um stress nas

estruturas delas, causando fissuras e

provocando uma diminuição da qualidade fisiológica dessas sementes.

CONCLUSÕES

Existem diversos métodos para

armazenar sementes e os métodos conven-cionais de armazenamento apresentam algumas limitações, pois dependem da estrutura física do local de armazenamento bem como das propriedades biológicas do material a ser preservado. Com relação às sementes com características oleaginosas, estas podem sofrer processos bioquímicos, como a oxidação do óleo podendo provocar a perda de todo o material.

A crioconservação consiste em uma técnica viável de armazenamento de diversos materiais biológicos, incluindo as sementes. Essa técnica promove a preservação dos

produtos biológicos em nas ultra-baixas temperaturas, inativando o metabolismo e assim preservando o produto biológico por períodos considerados indefinidos. Para as

sementes oleaginosas, esse tipo de

armazenamento é considerado viável, pois já existem na literatura diversos trabalhos demonstrando que essas sementes podem ser crioconservadas preservando sua qualidade fisiológica, contudo cada uma deve ser estudada e determinado o seu protocolo de crioconservação.

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Referências

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