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TRABALHO DOCENTE DO ENSINO SUPERIOR: UMA REFLEXÃO SOBRE AS SUAS AÇÕES E REAÇÕES

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

SOBRE AS SUAS AÇÕES E REAÇÕES

Nelcy Teresinha Lubi Finck1 – FAE Centro Universitário

Eixo – Educação e Saúde

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Ao analisar o contexto educacional nos dias de hoje, é possível verificar inúmeras dificuldades no âmbito do ensino superior, desde dificuldades no ensino e conteúdos pontuais, doenças ocupacionais até incompatibilidade entre os atores deste cenário acadêmico. Diante desta conjuntura emerge os pressupostos deste estudo: Como os impedimentos/dificuldades do trabalho, impactam nas representações educacionais e no adoecimento do docente do ensino superior? O questionamento implica no objetivo do estudo que é analisar as representações sobre o trabalho docente no ensino superior, as exigências e a relação com o adoecimento. Para tanto este trabalho tem como propósito fazer um breve relato de um estudo piloto que tem como preceitos a Clínica da Atividade (Clot). É uma proposta teórica- metodológica que transpõe as perspectivas tradicionais de trabalho e que traz em sua obra aspectos da teoria ergonômica e da psicopatologia do trabalho. Para atender o propósito da metodologia, utilizamos a Autoconfrontação e a entrevista de Instrução ao Sósia como métodos de investigação contou com quatro professoras voluntárias de uma instituição de ensino superior, localizada no estado do Paraná, no município de Curitiba, que atuam nas seguintes áreas: área de exatas, curso de Ciências Contábeis, área de recursos humanos, no curso de Tecnologia em Recursos Humanos, no curso de Filosofia e uma professora da área de Comunicação Social. Foram realizadas reflexões diferenciadas em suas ações como docentes, em sala de aula. Dentre os autores utilizados como referenciais teóricos destacamos Yves Clot. Constata-se que a Autoconfrontação e a Instrução ao Sósia são instrumentos de grande valia para a análise do trabalho docente.

Palavras-Chave: Clínica da Atividade. Instrução ao Sósia. Autoconfrontação. Adoecimento.

1Psicóloga; Docente e Coordenadora do Núcleo de Carreira Docente da FAE Centro Universitário; Mestre em Engenharia da Produção e Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, da Universidade São Francisco, USF.

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Introdução

Considerando que as universidades vivem atualmente um período de mudanças onde, as exigências acadêmicas no que se refere à qualidade de ensino, à pesquisa como principio científico e educativo, os desafios em termos de inovação, o presente estudo mostra-se relevante ao ter como foco o professor do ensino superior, suas repremostra-sentações no trabalho e a relação com o adoecimento.

Este estudo surgiu fortemente ao tentar compreender quais variáveis individuais e do próprio contexto educacional, podem estar influenciando o adoecimento dos docentes, a fim de buscar estratégias que possam contribuir na melhora do seu ambiente de trabalho. Assim sendo, pode-se dizer que o adoecimento dos docentes só adquire determinado sentido quando analisado no contexto do seu processo de trabalho.

Recentes estudos indicam que os problemas de saúde que afetam o meio acadêmico estão intimamente relacionados a um conjunto de fatores, entre os quais destacamos: o tipo de trabalho exercido; tendo em vista a responsabilidade pela formação de outros sujeitos; o excesso de trabalho; a precarização do trabalho; a perda de autonomia; a sobrecarga de trabalho burocrático; o quadro social e econômico e as condições de vida dos alunos (CODO, 1999; LEMOS, 1999; ESTEVE, 1999).

Importante considerar também as exigências do mercado de trabalho, as condições objetivas impostas pelas reformas educacionais a partir da segunda metade da década de 1990, que implicam em processos marcados por mecanismos de aumento significativo de instituições de ensino superior, avaliação institucional e do conhecimento centralizados e desvinculados da prática cotidiana do trabalho do professor, típicos de um modelo produtivista e pragmático.

Ao refletirmos sobre a realidade da educação do ensino superior no Brasil, quer sejam seus objetivos, sua proposta e sua realidade, percebemos que os docentes se defrontam continuamente com problemas efetivos de formação didática e conflitos de gerações. Apresentando elementos contraditórios que se encontram implícitos nas práxis docente. Além das precárias condições de trabalho e demandas que se multiplicam.

Questões novas passam a ocupar lugar comum: Quem é o docente universitário? Ele está preparado para acompanhar as mudanças do terceiro milênio? A complexidade da resposta pode ser vista de diversos ângulos. Se nos reportarmos à formação docente, não há uma unidade.

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Exige-se, cada vez mais, capacitação permanente em cursos de pós-graduação da área de conhecimento. Mas o docente está preparado didaticamente e psicologicamente para o exercício acadêmico? Por premissa, considerando o tipo de graduação realizada, encontramos, exercendo a docência universitária, professores com formação didática obtida em cursos de licenciatura; outros, que trazem sua experiência profissional para a sala de aula; e, outros ainda, sem experiência profissional ou didática, oriundos de cursos lato sensu e/ou stricto sensu. O fator definidor da seleção de professores em geral é a experiência na área de atuação. Que professor precisamos nas universidades?

Em quase vinte e seis anos atuando em uma instituição Educacional, como professora e coordenadora da Educação Infantil a Ensino Superior, é de grande valor o resgate de ações dentre tantos momentos vividos com alunos e colegas de trabalho.

Posso dizer que sempre fui muito atenta de uma forma geral pela atuação do professor, seu desenvolvimento, suas ações e suas vicissitudes. Sempre me inquietou o fato de contratar professores e acompanha-lo somente por meio de processos legais.

Instigada a buscar possíveis contribuições para esta temática, tive a oportunidade de me deparar com a metodologia da Clínica da Atividade de Yves Clot, que contribuiu efetivamente para o arcabouço da construção do meu estudo.

Tal metodologia tem como principal objetivo transformar situações de trabalho degradadas, colocando o trabalhador como personagem principal da sua própria transformação. Para realizar tal tarefa Clot propõe alguns métodos de análise do trabalho denominados, Instrução ao Sósia, Autoconfrontação Simples e Cruzada.

Entre junho de 2016 e junho de 2017 desenvolvemos um projeto de intervenção com quatro docentes do ensino superior, tendo como base os pressupostos da Clínica da Atividade. Neste trabalho, apresentaremos uma análise desse projeto, no diálogo com nossas questões de pesquisa.

Referencial teórico

As reformas educacionais que o Brasil passa a viver fortalecem novas formas de gestão, direcionando as instituições educacionais uma maior autonomia administrativa e financeira. Novas exigências como: financiamento per capita, a ampliação dos exames nacionais de avaliação, maior flexibilidade curricular a avaliação e a participação mais efetiva da gestão compõem as atribuições e assim ampliando o rumo das instituições.

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Transpondo a reflexão sobre a atividade docente fica a pergunta: essa mudança de cenário no setor educativo brasileiro, essa nova estrutura organizacional estaria “intensificando” o trabalho docente? O adoecimento do professor se daria em função desta perspectiva mais competitiva?

A resposta afirmativa constata que ocorre uma maior responsabilidade do professor frente a situações do cotidiano. Maior número de turmas e respectivos alunos, maior exigência na condição das relações sociais, “fatores extraescolares” e de produção. Exigindo do professor novas estratégias de gestão do trabalho. Trazendo algumas consequências.

Assunção e Oliveira (2009) referem em seu artigo Intensificação do Trabalho e Saúde dos Professores, um aumento no afastamento dos professores em seu posto de trabalho. Por outro lado, não permite fazer associações diretas com o trabalho desenvolvido pelo professor. Mas são indicadores que permitem elaborar hipóteses que a carga de trabalho traria maior suscetibilidade ao adoecimento do docente.

Apesar de que o estudo sobre as relações entre trabalho e saúde/doença possui uma longa história tanto na área das ciências sociais até a “impactante” análise de Marx sobre as condições de trabalho dos operários ingleses, a partir da 1ª revolução industrial.

A dinâmica do desenvolvimento capitalista (MARX, 1973, apud ASSUNÇÃO; OLIVEIRA, 2009 p. 349) “trazia à luz não só a lógica da exploração do trabalho assalariado, como seus efeitos sobre as condições de trabalho”.

As autoras retratam que o trabalho docente é compreendido como uma atividade repetitiva e “fragmentada” com ações intensas de trabalho. Tal observação está vinculada na auto percepção do próprio professor, poucos estudos empíricos tratam sobre as reais condições de trabalho nas instituições de ensino.

Souza e Leite (2011), demarcam em seu artigo um importante estudo interdisciplinar da psicopatologia do trabalho realizado por Chistophe Dejours e sua equipe no Laboratório de Psychologie du Travail et de l’ Action, do Conservatoire National des Arts e Métiers (CNAM), em Paris.

Basearam-se seus estudos em importantes princípios:

A análise das condições de trabalho necessita considerar toda a organização do trabalho, bem como os diferentes sofrimentos “físicos e psíquicos” que exige dos trabalhadores;

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O sofrimento tem uma “dimensão dinâmica” que requer um estimulo de criatividade e mudança. O individuo participa “dos agentes instigadores da doença, promovendo um sistema de defesa”. Individual ou coletiva, pode criar condições melhores que conservam a doença, como pode favorecer ao “sofrimento psíquico”.

Cabe aqui mais um questionamento: o que é o mal-estar docente, e quais suas consequências? Como mencionado no texto por Esteve, (1999, p. 12 apud SOUZA; LEITE 2011 p. 1109) “é intencionalmente ambígua (...) sabemos que algo não vai bem, mas não somos capazes de definir o que não funciona e por que”.

Segundo Esteves, apud Souza e Leite, “é um fenômeno social do mundo ocidental” causados pela não valorização do trabalho, as exigências que nele contem, a violência a indisciplina etc. Descreve como reações permanentes com conotações negativas que interferem na personalidade dos professores, levando-os a baixa qualidade nos serviços.

Algumas peculiaridades que são apresentadas e de suma importância apresentar nesta reflexão. A Profissão docente é classificada hoje como a mais estressante, uma profissão de “risco”. E o seu “mal-estar” pode causar angústia, ansiedade, desmotivação, exaustão emocional e muitos outros sintomas. Incidência maior entre as mulheres, consequência de um número maior de profissionais.

Definida por Freudenberger (1980), ressalta-se a síndrome de burnout, que hoje também atinge a atividade docente e que resulta de um estresse laboral, e situações de sofrimento por exaustão física e emocional.

Destaca-se Yves Clot (2013) que em seu texto o ofício como operador de saúde, apresenta situações do trabalho e seus “riscos psicossociais”, trazendo uma grande preocupação com a “gestão do trabalho”.

Fica a questão: o trabalho é um jogo afetivo? É possível ser devoto sem afeto? A empresa não é uma família e ao mesmo tempo difundindo aos funcionários que eles são “amados”. Existe uma incoerência entre o trabalho e o amor. Pode-se amar “alguma coisa” e não necessariamente alguém.

Clot (2013) revela que nesta perspectiva, que a vida pode tomar um caminho denominado “jogo afetivo” que tende a ser diferente no trabalho e na família. Em uma análise contraditória, podemos desfazer a questão da compaixão falsa de reconhecimento imaginário do “sofrimento do trabalho” das hierarquias, buscando se proteger do “risco psicossocial”.

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Importante ressaltar nessa análise, configurando os estudos de Clot (2013) que a partir de uma busca para tornar o trabalho defensável aos olhos daqueles que trabalham, a fim de que sejam reconhecidos por todos está à perspectiva da Clínica da Atividade. Baseados em dois princípios: “cuidar do trabalho” e “cuidar das pessoas”.

O pesquisador apresenta em seus aportes, que muitos diretores de empresas admitem, mesmo que não abertamente e algumas vezes em uma posição de defesa, que uma certa “tirania do curto prazo” possa por em risco a saúde mental no trabalho. Observa-se mesmo que de uma forma inicial que a gestão financeira próximo a outras “camadas” de gestão, podem proporcionar “a gestão dos riscos psicológicos”.

A “vitimologia” nunca está muito longe neste enfoque toxicológico do risco, com seu cortejo de prevenção sistemática e desintoxicação potencial. Essa perspectiva de “atenção”, que tende a segmentar as atividades profissionais em setores de riscos, em populações “alvo” expostas, faz parceria como mercado de especialistas que se amplia, os trabalhadores se veem, então, “requalificados” em conjuntos de vulnerabilidades a auscultar e aparelhar (CLOT, 2013, p. 2).

Seguindo as argumentações de Clot (2013) quando discute “Ofício” seria possível destacar que relembra às organizações como um verdadeiro operador de saúde. Se faz nas atividades, em carreira com uma “aposentadoria antecipada”, um ciclo de funções, um “estatuto” para outros um “percurso” é tudo o que se gerencia nos setores de Recursos Humanos das empresas, além disso, é um mercado de trabalho que se deslocam homens e mulheres permanentemente.

Cabe aqui ressaltar, reforçando a ideia de Clot (2013), que os psicólogos do trabalho ou “clínicos do trabalho” necessitam identificar se as “dimensões impessoais do ofício” são psicologicamente importantes para antever o que “podemos vir a ser” e o que fazer além do que já fazemos.

Fazer o ofício é atender as surpresas do real, é se responsabilizar por suas atividades, é sustentar a qualidade do trabalho ou não. Porque os recursos psicossociais “não são colocados todos no mesmo lugar”, mas deverão ser usados por todos os profissionais, talvez em situações diferenciadas. O ofício está no movimento vivo das coisas e situações que perpassam o dia a dia do trabalho e das profissões.

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Experimentação em clínica da atividade: um estudo piloto

A relevância sobre a saúde do professor, diante das atuais formas de ser do trabalho educativo demonstram através de pesquisas e constatações um quadro problemático, que transpõe desde o abandono da carreira até problemas de saúde, relacionados ao “sofrimento extremo”, colocando em questão a relação entre a o sentido do trabalho e a sua não realização.

Nessa perspectiva, para a reflexão sobre a necessidade de investigação no campo do trabalho, busco desenvolver em minha tese e neste estudo as representações do trabalho, e a saúde dos docentes do ensino superior, inspirada nas ideias de Yves Clot, na Clínica da Atividade e nos métodos de Instrução ao Sósia, Autoconfrontação Simples e Cruzada.

Instrução ao Sósia

O método de instrução ao sósia criado pelo italiano Ivar Oddone, foi desenvolvido em seminários de formação na universidade de Turim, na década de 70, cujo público constituía-se de operários da fábrica da Fiat automóveis. Oddone requisitava que os trabalhadores instruíssem um “eu-auxilar”, um sósia.

A instrução ao sósia pressupõe que o clínico da atividade deverá ser o sósia de um trabalhador, no caso da pesquisa o professor e o substituirá em sua atividade de trabalho. O sósia é “um interlocutor deliberadamente artificial que apresenta um defeito irremediável: não sabe, mas deve saber” (CLOT, 2006, p. 149).

O clínico da atividade instaura a seguinte norma ao trabalhador:

“Suponha que eu seja seu sósia e que amanhã vou substituí-lo em seu local de trabalho. Quais instruções você deveria me transmitir para que ninguém perceba a substituição?” (CLOT, 2006, p. 144).

Diante dessa proposta, o trabalhador deve colocar-se na posição de instrutor e, dessa forma, ajudar seu sósia a se orientar em uma situação que ele não conhece, ao lhe indicar não só o que faz habitualmente, mas também aquilo que não faz nessa situação, aquilo que deveria, sobretudo, não fazer ao substituí-lo, aquilo que ele poderia fazer, mas que não se faz etc.” (CLOT, 2006, p. 146).

Os procedimentos de instrução ao sósia segundo Goularte e Gatto (2013, p. 02), visam “proporcionar ao trabalhador mais conhecimento sobre si mesmo e sobre a sua

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atividade, para que ele pudesse intervir no e sobre o seu meio de trabalho, em busca de melhorias”.

Na perspectiva da Clínica da atividade, o sujeito constrói aí seus instrumentos, além de se reconstruir não por viver simplesmente em seu mundo, mas por produzir um mundo para viver. Seu poder de agir é conquistado junto aos outros e aos objetos que os reúnem ou os dividem no trabalho comum (CLOT, 2013, p. 23).

Autoconfrontação

A autoconfrontação é um método desenvolvido na França, pelo linguista Daniel Faïta, e mais tarde empregado de forma ampla pelo psicólogo do trabalho Yves Clot em sua equipe de Clínica da Atividade no Conservatório Nacional de Artes e Ofícios (CNAM) de Paris. Trata-se de procedimentos teórico-metodológicos que se apoiam no uso específico da imagem de sujeitos em atividade de trabalho, com o objetivo de lhes proporcionar oportunidades de desenvolvimento profissional, de promoção da saúde individual e coletiva e de produção de conhecimentos diferenciados sobre o exercício da profissão. Identificada como autoconfrontação simples e cruzada.

Na autoconfrontação simples juntamente com o pesquisador o profissional analisará sua atividade, que foi videogravada. A proposta é que o trabalhador passe a ser observador externo de sua própria atividade. Afirma Clot (2013, p. 253) que “a autoconfrontação simples propõe um novo contexto em que o sujeito se torna, por sua vez, um observador exterior de sua atividade na presença de um terceiro”.

Na autoconfrontação cruzada, dois profissionais observam juntos a mesma videogravação. Neste momento privilegia-se o diálogo entre as diferentes formas de realizar a atividade, de lidar com problemas parecidos, resolver conflitos, etc.

A intenção é refletir com os professores pesquisados, sobre como eles lidam com as condições concretas de realização de trabalho, no exercício da docência no ensino superior.

Para intensificar os modos de apropriação da Clinica da Atividade, e a execução do projeto piloto, procedemos à aplicação dos métodos mencionados com quatro professores de uma instituição de ensino superior situada no município de Curitiba, com as quais realizamos sessões de instrução ao sósia e autoconfrontações.

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Procedimentos metodológicos

Inspirada na proposta metodológica da Clínica da Atividade o trabalho foi desenvolvido da seguinte maneira:

a) Convite aos quatro professores do ensino superior para participarem da pesquisa. b) Apresentação da proposta da pesquisa.

c) Aplicação do método Instrução ao Sósia.

d) Filmagens de aulas ministradas pelos docentes e seleção de episódios mediante critérios previamente estabelecidos.

e) Sessões de “autoconfrontação simples” com a participação do docente filmado e do pesquisador, cabendo a esse último indagar o primeiro sobre episódios selecionados.

f) “Autoconfrontação cruzada”, em que ocorre uma nova análise das gravações, com a presença do professor filmado, do pesquisador e dos demais professores, que comentam os referidos episódios e levantam questões sobre eles.

Um breve relato sobre a realização do estudo piloto

A produção dos dados foi realizada no período de junho de 2016 a junho de 2017, com quatro docentes de uma instituição privada do município de Curitiba.

Começamos o trabalho com a instrução ao sósia. Apresentamos em seguida alguns destaques das falas de cada uma das professoras que participaram desse momento:

Uma das professoras, descreve que sua disciplina tem um caráter mais prático, pois ministra Projeto Integrador para o curso de Tecnólogos em Recursos Humanos. Relata que, por ser uma disciplina teórica/prática eles necessitam ir a campo e fundamentar. Percebe muita dificuldade dos alunos com a escrita: “eu trabalho com a praticidade, mas em toda a aula eu tenho que retomar alguns assuntos com eles”; “ e a gente pergunta isso para cada grupo todas as vezes” “ficou claro isso”.

A outra professora atua no curso de Filosofia, menciona o que é mais desafiador são as aulas que ministra no Ensino Médio, sente dificuldade com os alunos de inclusão”, “dou aulas de Filosofia para um grupo muito especifico”. Para educação de jovens e adultos, descreve que são alunos idosos, com síndrome de Down, com problemas familiares graves, alunos cegos, surdos, esquizofrênicos e bipolares. Relata que não se sente preparada, “me sinto desamparada” “me faz sofrer”.

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A terceira professora participante da pesquisa destaca a necessidade de entender este “novo aluno” ministra aulas na área de Comunicação Social, coloca que os alunos exigem aulas “diferentes” com formato mais ativo Além do contato com as mídias diferenciadas é muito importante ter um contato com os alunos de forma “bem humanizada”. Procurar entende-los, acredita que está dando resultado, “ mas é sofrido” “é novo para mim e novo para eles também”. Diz estar satisfeita com o resultado.

A última professora participante desse estudo tem uma vasta experiência na área de docência, mas no ensino superior somente cinco anos, atua nas seguintes áreas: matemática, cálculo e também em estatística. Coloca que está sendo desafiada o tempo todo, tanto para a construção do plano de aula, como na elaboração das atividades e na própria condução dos grupos. “São desafios diferentes do que eu estava acostumada”, considerando os cinco anos para cá. Relata que para o ensino superior necessita conhecer a proposta geral dos cursos. Ministra aulas nos cursos de Ciências Contábeis e Gestão Comercial, “são públicos diferentes”; “as vezes é conflituosa”.

O método de Autoconfrontação Simples e Cruzada, foi realizado com duas professoras pertencentes ao grupo mencionado, que por intermédio das videogravações foi ressignificado a experiência de reflexão da ação, e o compartilhamento das reações no processo de ensinar e aprender.

Percebemos que os docentes têm como sentido fundamental do seu trabalho e da sua vontade em ser professor a possibilidade de contribuir para o processo de transformação social.

Em contrapartida, imerso em meios as exigências de metas e trabalho muitas vezes intensificados sem a contrapartida de boas condições para tal “não explode”, mas “implode”, causando o adoecimento.

Considerações finais

Refletir dentro desta perspectiva, com o estudo piloto, nos faz sentir o quanto podemos contribuir com os docentes no repensar em suas representações no trabalho e a relação com o adoecimento.

O encadeamento sobre a saúde do professor, diante das atuais formas de ser do trabalho educativo demonstram através de pesquisas e constatações um quadro problemático,

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que transpõe esse o abandono da carreira até problemas de saúde, relacionados ao “sofrimento extremo”, colocando em questão a relação entre a o sentido do trabalho e a sua não realização. Levando-nos ao desafio de investigar, instituições de ensino superior de como se processa os mecanismos de incorporação e apropriação dos conteúdos e práticas propostos por meio das políticas educacionais e a saúde do professor.

Nessa perspectiva, e inspiradas em Yves Clot, na clínica da atividade e nas “metodologias” de instrução ao sósia, autoconfrontação, procuramos compreender o trabalho de nossos colegas docentes para gerar e contribuir na reflexão do seu métier.

O docente ao analisar o seu trabalho se instala a condição de trabalho. E ao participar de uma autoconfrontação o professor já está transformando a sua atividade e da mesma forma ocorre com o pesquisador, que ao participar do processo, revela a sua ação como pesquisador e formador de professores.

Concluímos que, para dar continuidade ao doutorado, passar por esta experiência, nos ajudou a compreender como realizar a pesquisa, considerando que os métodos têm um alto grau de complexidade.

REFERÊNCIAS

ASSUNÇÃO, Ada Ávila; OLIVEIRA, Dalila Andrade de. Intensificação do Trabalho e Saúde dos Professores. Educ. Soc., Campinas, vol 30, n.107, p.349, maio/ago. 2009.

CLOT, Yves. Trabalho e poder de agir. Belo Horizonte: Fafrefactum, 2006.

______. A função psicológica do trabalho. Trad. de Adail Sobral. Petrópolis: Vozes, 2006.

______. O Ofício como Operador de Saúde. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, vol. 16, n. especial 1,p. 1-11. 2013.

CODO, W. Educação: carinho e trabalho. In: BATISTA, A. S. O que é burn-out. Educação, carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.ESTEVE, J. M. Mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. São Paulo: Edusc, 1999.

FREUDENBERGER, Herbert; RICHELSON Géraldine (1980). Burn Out: The High Cost of High Achievement. What it is and how to survive it. Bantam Books. ISBN 978-0-553-20048-5

GOULARTE, Raquel da Silva; GATTO, Vanessa Bianchi. O método instrução ao sósia(ias) na pesquisa sobre o trabalho docente. Linguagens e Cidadania, Santa Maria, v. 15, n.1, jan-dez 2013, p. 1-16.

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