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A EXPERIÊNCIA NO ENSINO E APRENDIZAGEM MATEMÁTICA PARA ALUNOS SURDOS

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Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Mesa Redonda 1 A EXPERIÊNCIA NO ENSINO E APRENDIZAGEM MATEMÁTICA PARA

ALUNOS SURDOS

Marcílio de Carvalho Vasconcelos Universidade Estadual de Feira de Santana

m-cv@hotmail.com Resumo: A minha participação nesta Mesa Redonda pretende colocar um contraponto na

visão da pesquisa sobre a aprendizagem da Matemática por alunos surdos. Como surdo e professor de Matemática vivenciei as duas faces do problema: primeiro, como aluno na escola básica e na universidade, na Licenciatura em Matemática e, depois enquanto professor de Matemática de alunos surdos. Por quase dez anos vivenciei a angústia de ensinar Matemática para alunos surdos na classe especial e em seguida nos centros de apoio especializado. Os alunos chegam à escola com sérias defasagens de conhecimento de base. Ao longo desse tempo tenho buscado alternativas para tornar mais fluente à comunicação entre o professor ouvinte e o aluno surdo.

Palavras chaves: Ensino de Matemática; Alunos surdos; LIBRAS.

Minha história de vida

Sou surdo, conto com apenas 50% de audição no ouvido direito. Comecei a estudar na Educação Básica aos sete anos de idade por causa da surdez, a escola não me aceitou antes porque eu tinha uma perda auditiva profunda em um ouvido e perda severa no outro comprometendo a dicção. Na 1ª série do Ensino Fundamental I, hoje 2º ano, a professora tinha “pena” de mim por causa da surdez e “passou a mão pela minha cabeça”, comprometendo o meu aprendizado. No ano seguinte, na 2ª série (3º ano) a professora era muito “rigorosa” e comprometida com a educação, o que contribuiu para que eu aprendesse a importância de estudar e como estudar. A partir desse momento, passei a ser um aluno dedicado e as dificuldades foram sendo solucionadas gradativamente.

Ainda licenciando de Matemática, na Universidade Estadual de Fe ira de Santana – UEFS, um momento que me trazia constrangimento, devido ao meu problema na dicção, era a hora de apresentar seminários, porque não queria avisar aos professores e colegas da minha surdez e tinha que falar por muito tempo.

Atualmente, estou cursando Letras/Libras na Universidade Federal da Bahia – UFBA, um curso que assimilo o conhecimento com maior facilidade pelo fato de ser a Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS, a minha primeira língua.

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Por falar em LIBRAS, tenho dois irmãos surdos profundos em que a comunicação acontecia com a utilização de gestos e mímicas, porque a LIBRAS naquela época não era conhecida e divulgada. Aos doze anos de idade, conheci uma Surda de Barreiras que com todo o empenho me ensinou LIBRAS, a quem agradeço até hoje por ter compartilhado a alegria de aprender a nossa língua.

Minha trajetória profissional se inicia com a Licenciatura em Matemática, cursado na UEFS e concluído em 1999. No ano seguinte, 2000, fui aprovado no Concurso Público para Professor do Estado e fui regente na classe especial com alunos surdos, de 2000 a 2001. Era uma turma heterogênea na faixa etária e nas séries, foi muito difícil. De 2001 a 2009 fui professor na área de Surdez da Sala de Apoio Pedagógico, hoje Centro de Apoio Pedagógico, CAP, de Feira de Santana. Em 2007 conclui a especialização em Educação Inclusiva e, atualmente, sou graduando em Letras-LIBRAS (7º Semestre) e Pós-graduando em LIBRAS, a concluir em maio de 2010.

Em 2009 fui aprovado no Concurso Público para Professor Auxiliar de LIBRAS na UEFS, onde atualmente trabalho em regime de Dedicação Exclusiva.

No CAP trabalhei em várias áreas para atendimento de alunos surdos, dando reforço em todas as disciplinas (2001 – 2002); apoio Pedagógico Matemático (2003 - 2006); curso de LIBRAS (2006 - 2008); Curso de Capacitação para Instrutor de LIBRAS (2007 – 2008); fortalecimento da Comunidade Surda (2007 – 2008) e Curso de SW – SignWriting (Escrita de Sinais) (2008).

Ensino de matemática para surdos

Enquanto aluno da escola básica aprendi matemática com uma metodologia ouvinte e enquanto licenciando de Matemática também não aprendi formas apropriadas de ensinar para alunos surdos. Assim, tive grandes dificuldades na minha prática profissional na classe especial e no centro de apoio para ajudar estes alunos a compreenderem os conceitos. Para mim, os principais entraves na Educação Matemática de surdos são:

1) Poucos Professores de Matemática são surdos;

2) Os professores de surdos continuam usando as metodologias feitas para ouvintes, o que dificulta o desenvolvimento do aprendizado dos surdos; 3) Falta de sinais específicos de Matemática em LIBRAS;

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4) Dificuldade em reconhecer as quatro operações Matemáticas;

5) Surdos sempre ficam prejudicados em Sala de Aula por dificuldades óbvias de Comunicação.

Também, posso pontuar que explicar o conteúdo por meio apenas da sintaxe matemática específica constitui uma barreira à aprendizagem, mesmo que o professor seja usuário da língua de sinais ou que haja um intérprete na classe. Para que o aprendizado se realize em uma classe de surdos o educador deve estar apoiado em um tripé educacional. Devem estar presentes: a Língua de Sinais, o conhecimento matemático e uma metodologia apropriada.

Como ensinar matemática para surdos sem saber os sinais específicos da área? O professor deve ter o cuidado de refletir sobre a maneira de ensinar, buscando ser um instrumento facilitador para que o educando desenvolva suas potencialidades, respeitando suas especificidades, „descobrindo‟ como aprendem e, assim, fazendo-os „aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver junto‟.

Vale a pena ressaltar que mesmo em escolas que contam com intérpretes, com uma sala de recursos,

é de fundamental importância que o aluno sinta que seu

professor está se esforçando para se aproximar dele, tentando encontrar maneiras de interagir com ele. O professor também pode intermediar a aceitação do aluno surdo pelos outros alunos, para que ele se sinta parte da classe. Na nossa sociedade a interação se dá pela linguagem. Não basta uma aproximação física (REILY, 2004).

Em relação ao ensino de Matemática, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) apontam que não existe um caminho único e melhor para o ensino da Matemática, no entanto, conhecer diversas possibilidades de trabalho em sala de aula é fundamental para que o professor construa sua prática. E voltando para a educação de surdos na sala de aula inclusiva, de acordo com minha experiência, recomendo que para ensinar matemática para alunos surdos, os professores precisam ter em mente os seguintes objetivos:

1. Discutir a importância da Matemática para alunos surdos. Como qualquer outro

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verdadeiro exercício da cidadania. Além disso, o professor deve mostrar as relações importantes com o cotidiano, trazer a experiência da rua para a sala de aula.

2. Estimular a leitura e a interpretação em LIBRAS das situações problemas; mesmo

que o professor não saiba LIBRAS, com a ajuda do intérprete, o aluno precisa ler e compreender os enunciados dos problemas na sua língua, com certeza facilitará a resolução dos problemas. E, se o aluno ainda não tem domínio em LIBRAS, os exemplos, imagens, material concretos são muito importantes.

3. Utilizar sempre recursos visuais e atividades concretas, como exemplos: o mapa de

uma cidade, a planta de uma residência, o desenho de um trajeto, dentre outros, pois auxiliam no desenvolvimento da percepção espacial, comunicação visual e etc.

4. Utilizar o recurso aos jogos matemáticos. Os jogos constituem uma forma

interessante de propor problemas, pois, permitem que estes sejam apresentados de forma atrativa e favorecem a criatividade na elaboração de estratégias de resolução. Um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver (PCN, 1998).

O recurso aos jogos matemáticos

O interesse dos jogos na educação não é apenas divertir, mas sim extrair dessa atividade matérias suficientes para gerar um conhecimento, interessar e fazer com que os estudantes pensem com certa motivação.

O jogo Fecha Caixa

A seguir apresentamos como exemplo o jogo “fecha caixa”, que é um jogo adaptado para LIBRAS e pode ser jogado com dois ou mais integrantes. Constitui-se num tabuleiro (Figura 1) com “casas” numeradas de 1 a 9 em LIBRAS.

Apresentamos a seguir como jogar o Fecha caixa (ALBRES; NEVES, 2008). Lança-se dois dados e com os números que saírem faz-se uma operação matemática que fornece o resultado mais interessante para o fechamento das casas.

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 Segue-se, assim, até que com o resultado dos dados fique impossível fechar mais

casas, pois o valor do resultado dos dados tem que ser igual ao das casas a serem fechadas.

 Fechadas as casas 7, 8 e 9 passa-se a lançar somente um único dado.

 Finda a jogada, soma-se as casas abertas e passa-se a vez do adversário.

 Ganha quem fechar todas as casas ou quem tiver o menor número no somatório

das casas que sobraram abertas.

 Você deve fazer todo o cálculo em LIBRAS.

Figura 1. Tabuleiro do jogo “Fecha Caixa”.

O recurso à resolução de problemas matemáticos

Os PCN (1998) recomendam a resolução de problemas matemáticos como ponto de partida da atividade matemática. Com essa abordagem, o conhecimento matemático ganha significado quando os alunos se deparam com situações desafiadoras para resolver e trabalham para desenvolver estratégias de resolução. Contudo, nem sempre este recurso é utilizado como uma possibilidade de construção do conhecimento, sendo trabalhado apenas como forma de aplicação de conhecimentos trabalhados anteriormente.

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Seja qual forma, a abordagem na resolução de problemas matemáticos, exigirá do aluno uma grande dose de leitura e interpretação de texto. Muitos professores atribuem às dificuldades dos alunos nos problemas matemáticos apenas às dificuldades de leitura e interpretação da língua materna. E quando o aluno é surdo esta afirmação se torna mais enfática. Mas não basta atribuir as dificuldades dos alunos em ler problemas matemáticos às suas habilidades de ler nas aulas de língua materna, pois:

a compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização que o leitor faz, no ato de ler do conhecimento que ele adquiriu durante sua vida: o conhecimento lingüístico, o conhecimento textual, o conhecimento de mundo. Para aprender algo novo durante a leitura é preciso que co nhecimentos anteriores sejam ativados (SMOLE; DINIZ, 2001, p.70).

As autoras ainda acrescentam que todas as áreas de conhecimento devem tomar para si a responsabilidade de formar o leitor, inclusive a Matemática.

No caso dos alunos surdos, a escola deve formar bons leitores na Matemática, mediados pela LIBRAS. Se o anunciado dos problemas for bem interpretado para a LIBRAS, os alunos poderão apresentar seu verdadeiro conhecimento na área da Matemática.

LIBRAS como auxílio no ensino de Matemática

A metodologia do ensino da Matemática utilizada no ensino dos surdos, não é muito diferente do ensino que se usa com os alunos ouvintes, embora a linguagem seja diferente. Os métodos aplicados às séries iniciais são os mesmos, principalmente, o uso de recursos ilustrativos como figuras, e o letramento dos alunos para entendimento dos problemas. Via de regra, para os alunos surdos, o professor necessita trabalhar a leitura com mais persistência, uma vez que para isso, não deve formar copistas, uma vez que a dificuldade do aluno surdo é a decodificação do código lingüístico.

Assim, mais uma vez, a questão comunicativa está presente na elocução dos fatos que compõem a função social dos surdos. Apesar deste detalhe, ainda há possibilidade de se chegar até o raciocínio lógico-matemático dos surdos, com pequenas adaptações como o uso de uma língua (a LIBRAS), que serve como ponte entre conhecimento do professor

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ouvinte e o silêncio dos surdos. Dentre as vantagens está à mudança na concepção dos próprios surdos sobre a sua capacidade.

O sinal mate mático e m libras

O sinal de matemática e m

LIBRAS foi convencionado

(combinado e ajustado) conforme a necessidade dos alunos no momento das aulas de ver contextualizada, a

matemática através da LIBRAS

fazendo assim uma leitura visual dupla, que em destaque é a língua de sinais, os números e os sinais usados na Matemática.

Por exemplo, Zanúbia Dada, professora surda de Matemática do CAS (Centro de Atendimento para Surdos) tem criado alguns sinais matemáticos (Figura 2 e 3), que vem compartilhando com a comunidade surda da Cidade de Campo Grande.

Em 2008, conheci a professora

através do Orkut, trocamos idéias, discutimos sobre os sinais e modificamos alguns deles.

A falta da LIBRAS como língua materna (primeira língua-L1) dos alunos surdos que precisam de comunicação alternativa ou conforme as suas necessidades quando chegam ao setor de matemática. Os alunos chegam ao atendimento muitas vezes com uma comunicação defasada ao conteúdo a ser atingido, necessitando de mais tempo para aquisição da LIBRAS, além do conteúdo de Matemática.

As respostas dadas pelos alunos demonstram a compreensão do conteúdo, porém, notamos que utilizam sinais convencionados com os intérpretes da sala de aula, diferenciados entre si. Os surdos aprendem durante os estudos matemáticos em LIBRAS,

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às vezes começam com a resposta em língua portuguesa- LP e terminam em LIBRAS ou vice-versa.

Figura 3. Mais sinais matemáticos na LIBRAS. Fonte: DADA (2009).

Considerações finais

Espero que minha participação nesta mesa redonda contribua, de um lado para que os pesquisadores ouvintes ao investigarem os processos de aprendizagem da Matemática por alunos surdos levem em consideração a importância de se “ouvir” o surdo e, de outro lado, espero que ao conhecer melhor a pesquisa nesta área, eu também possa contribuir no desenvolvimento dessas investigações.

Espero que se formem redes de pesquisadores ouvintes e surdos e que juntos procurem soluções e, que essas pesquisas cheguem às escolas, para que amanhã, outros surdos se transformem em professores e, por que não, pesquisadores e que ajudem a construir um caminho viável para a aprendizagem matemática dos surdos.

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Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Mesa Redonda 9 Referências

ALBRES, N. e NEVES, S. De sinal em sinal: Comunicação em LIBRAS para

aperfeiçoamento do ensino dos componentes curriculares. 1ª edição. São Paulo – FENEIS

– Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998.

DADA, Z. Matemática em LIBRAS. CAS/SED/MS - Campo Grande/MS, 2009.

GIL, R. S. A. Educação matemática dos surdos: um estudo das necessidades formativas dos

professores que ensinam conceitos matemáticos no contexto de educação de deficientes auditivos. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Pesquisa e

Desenvolvimento da Educação Científica e Matemática, Programa de Pós-Graduação em

Educação em Ciências e Matemática, Belém, 2008. Disponível em:

http://www.ufpa.br/ppgecm/media/dissertacao_Rita%20Sidmar%20Alencar%20Gil.pdf. Acesso em: 20/03/2010.

REILY, L. Escola Inclusiva: Linguagem e mediação. Campinas: Papirus, 2004.

SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para

Referências

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