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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRETIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRETIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos nos artigos 41.º e 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/073/13;

I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo

1. No dia 21 de agosto de 2013 deu entrada nos serviços da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) uma exposição na qual os exponentes, pais da utente D., descrevem uma situação de alegada negligência médica no Serviço de Urgência Pediátrica do Centro Hospitalar de Leiria Pombal, E.P.E. (CHLP) – Hospital de Santo André, estabelecimento prestador de cuidados de saúde sito na Rua das Olhalvas, Leiria, registado no SRER da ERS com o n.º 21485.

2. A predita exposição foi inicialmente tratada no âmbito do processo de avaliação n.º AV/835/13, sendo que, face à necessidade de uma averiguação mais aprofundada, o Conselho Diretivo da ERS, por despacho de 30 de agosto de 2013, ordenou a abertura do processo de inquérito com o n.º ERS/073/13.

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I.2. Diligências

3. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as diligências consubstanciadas:

(i) no pedido de elementos ao CHLP, em 17 de setembro de 2013;

(ii) no pedido de parecer clínico ao consultor técnico da ERS, em 21 de janeiro

de 2014;

(iii) no pedido de elementos adicionais ao CHLP – Hospital de Santo André, em 04 de fevereiro de 2014.

II. DOS FACTOS

II.1. Dos factos relativos à reclamação e à resposta do prestador

4. Concretamente, a filha dos exponentes, com 20 meses de idade, deu entrada naquele Serviço no dia 02 de abril de 2013, tendo sido elaborado na triagem um relatório no qual constava “sensação de corpo estranho e dificuldades

respiratórias”.

5. Em consulta com o pediatra, foi comunicado pelos exponentes que a criança “estava […], ficou sufocada e com muita aflição […]”.

6. Após observação, foi realizado um Raio X, na sequência do qual o médico deu alta e informou que o exame nada acusava.

7. Pelo facto dos sintomas persistirem [“choro e tosse de irritação na garganta]”, a exponente dirigiu-se novamente com a filha às urgências, tendo o mesmo médico dado alta e comunicado que se a criança continuasse sem se alimentar devia deslocar-se ao hospital no dia seguinte.

8. Não conformada, a exponente dirigiu-se com a filha ao Serviço de Urgência Pediátrica de Torres Novas – Centro Hospitalar do Médio Tejo, E.P.E., onde a criança ficou internada 3 dias, tendo sido posteriormente encaminhada para o Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Dona Estefânia – Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., “[…] onde foi detetada de imediato uma obstrução na

garganta […]” e efetuada cirurgia para remoção do corpo estranho – cfr.

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9. Os exponentes deram igualmente conhecimento da exposição à Ordem dos Médicos.

10. Na sequência da análise da exposição recebida pela ERS, revelou-se necessário solicitar ao CHLP, informação quanto ao ocorrido – cfr. pedido de informação da ERS, de 17 de setembro de 2013, junto aos autos.

11. Dando cumprimento ao solicitado, o CHLP remeteu o esclarecimento efetuado pelo profissional médico visado, que terá “[…] merecido a concordância do Sr.

Diretor do Serviço de Pediatria, resposta esta que foi […igualmente] remetida aos

exponentes […]”;

12. Tal profissional impugna a acusação de negligência que lhe é dirigida, nos termos que seguidamente se transcrevem:

“Na minha observação inicial […] a menina D. não apresentava nenhum sinal

clínico compatível com obstrução respiratória alta nem com aspiração de corpo estranho. Não tinha qualquer sinal de dificuldade respiratória, sem sialorreia, sem hiperextensão da cabeça, auscultação pulmonar sem alterações, radiografia cervical e torácica sem alterações. Ingeriu leite sem aparente dificuldade. “[…] Para que não restassem dúvidas aconselhamos os pais a voltarem no dia seguinte pela manhã se persistissem os sintomas. Os pais optaram por ir a outro hospital, onde ficou internada durante três dias. Se o quadro clínico fosse evidente penso que os colegas também não reteriam a Diana três dias até a transferir. Já no hospital central o otorrino ao fazer laringoscopia faríngea não identificou nenhum corpo estranho, só a tac-cervical permitiu fazer um diagnóstico. Não me parece que a tac-tac-cervical seja um exame de primeira linha ainda por cima numa fase inicial e sem qualquer sinal clínico de obstrução respiratória.” – cfr. resposta do CHLP de 10 de

outubro de 2013, junta aos autos.

II.2. Do pedido de parecer clínico

13. Submetido o processo a apreciação clínica, em 21 de janeiro de 2014, o consultor técnico da ERS pronunciou-se nos seguintes termos: “Orientar para a Ordem dos

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II.3. Do pedido de elementos adicionais ao prestador

14. Com vista à cabal instrução do processo de inquérito, em 5 de fevereiro de 2014 foi remetido ao CHLP um pedido de elementos adicionais, designadamente no que se refere:

(i) à existência de protocolo específico para a observação de doentes com patologia de otorrinolaringologia no serviço de urgência;

(ii) à introdução de medidas corretivas no referido protocolo em função da ocorrência verificada;

(iii) à existência de protocolo de transferência de doentes com patologia de otorrinolaringologia, do serviço de urgência para o hospital de referência;

(iv) à existência de serviço de urgência pediátrico, bem como, se os referidos protocolos contemplam especificidades para os doentes pediátricos.

15. Em conformidade com a notificação supra, o CHLP, em resposta recebida pela ERS em 18 de fevereiro de 2014 veio informar o seguinte:

a) “O Centro Hospitalar de Leiria não tem Otorrinolaringologia de prevenção

ou em presença no Serviço de Urgência Geral (adultos) – Urgência

Médico-cirúrgica – ou na Urgência Pediátrica, que funciona em instalações

autónomas no Bloco de Urgência.”;

b) “Todas as patologias mais comuns do foro da ORL são observadas na

área da Pediatria por Pediatras e na urgência Geral por Generalistas ou

Especialistas em Medicina Interna, quando solicitados pelos primeiros.”;

c) “A Unidade de referência para os casos mais complexos ou que suscitem

dúvidas, é o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).”;

d) “Embora não exista protocolo de referenciação para ORL do CHUC, são

habitualmente referenciadas situações agudas traumatológicas, suspeitas de aspiração ou inalação de corpo estranho, abcessos peri-amigdalinos, epistáxis recorrentes, pansinusites com resistência à antibioterapia

clássica.”;

e) “O facto de não haver apoio de especialista de ORL no Serviço de

Urgência leva a que mais frequentemente se utilize o critério de, em beneficio do doente, na dúvida referenciar, do que a adoção de medidas

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f) “A inexistência de protocolo não invalida que na avaliação de qualquer

caso clínico tenha de imperar o conhecimento científico/experiência na

área, balizado pelo bom senso clínico.”;

g) “Na dúvida, e pela inexistência de recursos humanos e tecnológicos da

urgência nesta área, optamos sempre pela referenciação, em benefício

do doente.”;

h) O caso em apreço “[...] prefigura uma situação em que aparentemente

naquela data não haveria critérios de gravidade, que mais tarde se vieram a verificar, e o pediatra optou por proceder à reavaliação se

houvesse persistência dos sintomas.” - cfr. resposta do prestador de 18

de fevereiro de 2014, junta aos autos.

III. DO DIREITO III.1. Das atribuições e competências da ERS

16. De acordo com o n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, a ERS tem por missão a regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.

17. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, compreendem “[…] a supervisão da

atividade e funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita:

[…]

a) Ao cumprimento dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento;

b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde e dos demais direitos dos utentes;

18. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 1 do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, “[...] todos os estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, do setor público, privado e social, independentemente da sua natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas,

centros de saúde, laboratórios de análises clínicas, termas e consultórios”.

19. Tal sendo o caso do Hospital de Santo André, o qual detém a qualidade de estabelecimento prestador de cuidados de saúde, integrado no CHLP (registado

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sob o n.º 21485) e que se encontra presentemente inscrito no SRER da ERS, sob o n.º 1034541;

20. São objetivos regulatórios, previstos nas alíneas b) e c) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, “assegurar o cumprimento dos critérios

de acesso aos cuidados de saúde” e “garantir os direitos e interesses legítimos

dos utentes”;

21. Para prossecução dos mesmos, estabelece a alínea a) e d) do artigo 35.º do mesmo diploma legislativo, ser incumbência da ERS “assegurar o direito de

acesso universal e equitativo aos serviços públicos de saúde ou publicamente

financiados” e “zelar pelo respeito da liberdade de escolha nos estabelecimentos

de saúde privados”;

22. Por outro lado, a alínea a) do artigo 36.º refere ser incumbência da ERS “monitorizar as queixas e reclamações dos utentes e o seguimento dado pelos

operadores às mesmas”;

23. Podendo a ERS assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão – consubstanciado, designadamente, “no dever de velar

pela aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis às atividades

sujeitas à sua regulação” – e ainda mediante a emissão de ordens e instruções,

bem como recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja

necessário – cfr. alíneas a) e b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27

de maio.

III.2. Da competência de outras entidades

24. O Regulamento n.º 14/2009, de 13 de janeiro, que aprovou o Código Deontológico da Ordem dos Médicos, estabelece que no exercício da sua profissão o médico é tecnicamente independente, atento o direito à liberdade de diagnóstico e terapêutica, cabendo-lhe a obrigação de administrar os cuidados para os quais tenha a formação e experiência e assumir a responsabilidade pelos mesmos, devendo abster-se de intervenções desnecessariamente onerosas ou supérfluas ou de quaisquer outras não fundamentadas cientificamente, tendo em conta as regras de boa prática reconhecidas pelo organismo colegial.

25. Mais estabelece que aquando da prática médica o médico pode ser responsabilizado pela infração de normas deontológicas e técnicas médicas,

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designadamente, pela não prestação de atos médicos, quando face às circunstâncias concretas do caso lhe era objetivamente exigível a atuação de forma diferente.

26. Nos termos do citado regulamento, compete àquele organismo defender a ética, a deontologia e a qualificação profissional dos médicos, a fim de assegurar e fazer respeitar os direitos dos utentes a uma medicina qualificada e velar pelo cumprimento da lei, do estatuto da OM, dos respetivos regulamentos e demais legislação aplicável.

27. A análise das questões atinentes à prática médica cabe no âmbito das atribuições da Ordem dos Médicos, que tem uma esfera de atuação, atribuições e missão próprias, decorrentes da sua natureza e estatuto próprio.

28. Cabe a este organismo defender a ética, a deontologia e a qualificação profissional dos médicos, a fim de assegurar e fazer respeitar os direitos dos utentes a uma medicina qualificada, e velar pelo cumprimento da lei, do estatuto da OM, dos respetivos regulamentos e demais legislação aplicável - cfr. n.ºs 1 e 5 do artigo 6.º do Código Deontológico da OM.

29. Nesse sentido, o citado código estabelece que aquando da prática médica o médico pode ser responsabilizado pela infração de normas deontológicas e técnicas médicas, competindo a este organismo profissional visado a competência disciplinar exclusiva para averiguar da responsabilidade emergente.

30. De igual modo, a al. a) do n.º 2 do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio determina que não estão sujeitos à regulação da ERS os profissionais de saúde no que respeita à sua atividade sujeita à regulação e disciplina das respetivas ordens ou associações profissionais públicas.

31. Pelo que, atento o regime previsto no n.º 2 do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, não pode a ERS exercer atividades ou usar dos seus poderes fora das suas atribuições.

32. Assim, importa preliminarmente esclarecer que não competirá, então, à ERS, pronunciar-se sobre a determinação e/ou imputação de qualquer responsabilidade quanto à invocação a título de negligência;

33. Por tanto recair fora do seu núcleo de atribuições, pelo que tal matéria não será aqui objeto de análise.

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III.3 Do direito de acesso universal ao serviço público de saúde/Dos direitos e interesses legítimos dos utentes

34. O direito à proteção da saúde, consagrado no artigo 64.º da Constituição da República Portuguesa (doravante CRP), tem por escopo garantir o acesso de todos os cidadãos aos cuidados de saúde, o qual será assegurado, entre outras obrigações impostas constitucionalmente, através da criação de um Serviço Nacional de Saúde (SNS) universal, geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito.

35. Dito de outro modo, a CRP impõe que o acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde no âmbito do SNS deve ser assegurado em respeito pelos princípios fundamentais plasmados naquele preceito constitucional, designadamente a universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial.

36. Por sua vez, a Lei de Bases da Saúde, aprovada pela Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, em concretização da imposição constitucional contida no referido preceito, estabelece no n.º 4 da sua Base I que “os cuidados de saúde são prestados por

serviços e estabelecimentos do Estado ou, sob fiscalização deste, por outros

entes públicos ou por entidades privadas, sem ou com fins lucrativos”,

consagrando-se nas diretrizes da política de saúde estabelecidas na Base II que “é objetivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos no acesso aos cuidados

de saúde, seja qual for a sua condição económica e onde quer que vivam, bem

como garantir a equidade na distribuição de recursos e na utilização de serviços”;

37. Bem como estabelece na sua Base XXIV como características do SNS: “a) Ser universal quanto à população abrangida;

b) Prestar integradamente cuidados globais ou garantir a sua prestação;

c) Ser tendencialmente gratuito para os utentes, tendo em conta as condições

económicas e sociais dos cidadãos”;

38. No respeitante à vertente qualitativa, o acesso aos cuidados de saúde deve ser compreendido como o acesso aos cuidados que, efetivamente, são necessários e adequados à satisfação das concretas necessidades dos mesmos;

39. O que significa que a necessidade de um utente deve ser satisfeita mediante a prestação de serviços consentâneos com o estado da arte e da técnica, e que sejam os reputados como necessários e adequados, sob pena do consequente desfasamento entre procura e oferta na satisfação das necessidades.

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40. Cumprindo, por isso, analisar se o comportamento adotado pelo prestador, foi suficiente para assegurar o direito da utente a ser tratada pelos meios adequados, humanamente e com prontidão, correção técnica e respeito, na medida dos recursos existentes e de acordo com as regras de organização.

41. Com efeito, o direito à qualidade dos cuidados implica o cumprimento de requisitos legais e regulamentares de exercício, de manuais de boas práticas, de normas de qualidade e de segurança, de normas de acreditação e certificação; 42. Tudo com vista à garantia de que o acesso é, efetivamente, o acesso aos

cuidados qualitativamente necessários e adequados.

43. Assim, a necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível da prestação, dos recursos humanos, do equipamento disponível e das instalações, está presente no sector da prestação de cuidados de saúde de uma forma mais acentuada do que em qualquer outra área.

44. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que os serviços sejam prestados em condições que não lesem o interesse nem violem os direitos dos utentes.

45. E nessa medida, o utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde sejam prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados. 46. A este respeito encontra-se reconhecido na LBS, mais concretamente na sua

alínea c) da Base XIV, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios

adequados, humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e

respeito”.

47. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos

meios adequados e com correção técnica está certamente a referir-se à utilização,

pelos prestadores de cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias tecnicamente mais corretas e que melhor se adequam à necessidade concreta de cada utente.

48. Ou seja, deve ser reconhecido ao utente o direito a ser diagnosticado e tratado à luz das técnicas mais atualizadas, e cuja efetividade se encontre cientificamente comprovada, sendo porém obvio que tal direito, como os demais consagrados na LBS, terá sempre como limite os recursos humanos, técnicos e financeiros

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III.4 Da transferência inter-hospitalar de doentes no âmbito atendimento urgente

49. É possível recolher-se um primeiro entendimento do que se considera uma urgência médica no Despacho Normativo n.º 11/2002 do Ministério da Saúde2, que criou o serviço de urgência hospitalar, e no qual se estipula que se devem considerar como “(…) situações de urgência e emergência médicas aquelas cuja

gravidade, de acordo com critérios clínicos adequados, exijam uma intervenção

médica imediata.” – cfr. n.º 3 do art. 1.º do referido Despacho.

50. Note-se que, em tal Diploma definiram-se “Os serviços de urgência [como]

serviços multidisciplinares e multiprofissionais que têm como objetivo a prestação de cuidados de saúde em todas as situações enquadradas nas definições de urgência e emergência médica” (cfr. n.º 2 do art.1º do Despacho Normativo n.º

11/2002 do Ministério da Saúde).

51. Ulteriormente, e pelo Despacho n.º 18 459/2006 do Ministro da Saúde, de 30 de Julho de 20063, definiu-se "Emergência e urgência médica" como “a situação

clínica de instalação súbita na qual, respetivamente, se verifica ou há risco de

compromisso ou falência de uma ou mais funções vitais” – cfr. al. a) do n.º 1 do

referido Despacho.

52. O Despacho em causa estabeleceu a "Rede de serviços de urgência" como a rede que integra três níveis diferenciados de resposta às necessidades, a saber: urgência polivalente, urgência médico-cirúrgica e urgência básica (cfr. b) do n.º1 do Despacho n.º 18 459/2006).

53. O atendimento urgente/emergente exige um sistema organizado e hierarquizado de proteção de cuidados, transporte e comunicações que concilie uma assistência de qualidade com princípios de equidade, eficácia e eficiência social.

54. E compete ao Estado assegurar que os serviços de saúde se estruturem, funcionem e articulem entre si, de modo a garantir a qualidade, segurança e o acesso aos cuidados de saúde.

55. Por outro lado, aos cidadãos compete o dever de colaborar na criação de condições que permitam o exercício daquele direito.

2 In DR I Série – B, de 6 de março de 2002. 3

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56. O Estado assume, de forma predominante, através do SNS, a obrigação de assegurar a saúde dos cidadãos, garantindo a cobertura médico-hospitalar de todos os cidadãos em condições de igualdade e universalidade.

57. Os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde do sector público, devem garantir os requisitos mínimos de qualidade e segurança, quer no plano das instalações, quer no que diz respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados e assegurar que os cuidados sejam prestados em respeito pelas boas práticas clínicas.

58. A transferência de utentes para outro estabelecimento prestador de cuidados de saúde, deve ser tomada sempre que o estabelecimento de origem, com os seus recursos humanos e/ou técnicos, não garanta a prestação de cuidados exigíveis face complicações e intercorrências graves.

59. Assim, a articulação entre os prestadores de cuidados de saúde, no processo de transferência de doentes, tem como principais objetivos assegurar e melhorar a qualidade da atividade assistencial, rentabilizar os meios humanos e recursos técnicos, uniformizar procedimentos, garantir a qualidade da prática profissional, clarificar a assunção de responsabilidades e sistematizar a lógica de transferência.

III.5. Da análise da situação concreta

60. Os factos relatados na exposição recebida pela ERS levantam questões atinentes à prestação de cuidados de saúde propriamente ditas, que versam sobre a adequação clínica dos cuidados prestados no caso concreto, e que, desde logo, implica averiguar do cumprimento das regras éticas, deontológicas e das leges

artis;

61. Conforme resultou igualmente do parecer técnico do perito médico da ERS, o qual se pronunciou no sentido de se “orientar para a Ordem dos Médicos”.

62. Efetivamente, o respeito pelas leges artis, no caso específico da medicina, impõe a execução dos cuidados médicos de acordo com a técnica mais apurada, segundo os processos e regras oferecidas pela ciência médica, quer quanto à técnica da intervenção ou do tratamento médico-cirúrgicos, quer quanto à sua oportunidade e conveniência no caso concreto e à idoneidade dos meios utilizados.

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63. Nesse sentido, e como visto, determina o Código Deontológico da Ordem dos Médicos que a aquando da prática médica o médico pode ser responsabilizado pela infração de normas deontológicas e técnicas médicas, competindo a este organismo profissional visado a competência disciplinar exclusiva para averiguar da responsabilidade emergente.

64. Sendo que, como visto também, não intervém a ERS nessas matérias – cfr. a alínea a) do n.º 2 do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio e o n.º 2 do artigo 5.º do mesmo diploma.

65. Refira-se a este respeito que a exposição em apreço foi remetida pelos exponentes para a Ordem dos Médicos.

66. Por outro lado, o CHLP veio aos autos informar que não existe especialista de Otorrinolaringologia no Serviço de Urgência, não existindo também protocolo de referenciação para aquela especialidade;

67. E que as situações agudas traumatológicas, suspeitas de aspiração ou inalação de corpo estranho, abcessos peri-amigdalinos, epistáxis recorrentes, pansinusites com resistência à antibioterapia clássica são habitualmente referenciadas, sendo a unidade de referência o CHUC.

68. Ora, considerando que a implementação de procedimentos de transferência de doentes visa garantir o direito de acesso aos cuidados de saúde, bem como estabelecer regras orientadoras e boas práticas aplicáveis à transferência de doentes entre estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde e criar condições de organização e coordenação com o intuito de agilizar a transferência de doentes, mediante a articulação dos serviços dos prestadores de cuidados de saúde;

69. Por outro lado, tanto auxilia a que tais procedimentos sejam, a todo o tempo, corretamente seguidos e respeitados pelos profissionais de saúde que possam estar envolvidos;

70. Por forma a garantir, conforme aliás alegado pelo CHLP, que na dúvida, e pela

inexistência de recursos humanos e tecnológicos da urgência nesta área, optamos sempre pela referenciação, em benefício do doente.

71. Pelo que, e sem consideração das questões clínicas cuja análise como já referido não competem à ERS, e ainda sem prejuízo de que a primeira e principal obrigação a que o prestador deverá sempre atender é garantir o cumprimento das redes de referenciação instituídas;

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72. Revela-se adequada a emissão de uma recomendação dirigida ao Centro

Hospitalar de Leiria – Pombal, EPE, no sentido da criação de

procedimentos/mecanismos que estabeleçam uma disciplina geral atinente ao processo de observação e de transferência de utentes no serviço de urgência, com patologias similares à apresentada por aquela utente, ou outras relativamente às quais se verifique igualmente inexistência de recursos humanos e tecnológicos

da urgência, e que permita garantir que em dúvida se opte sempre pela referenciação, em benefício do doente;

73. E tudo com vista à devida cautela dos direitos e interesses legítimos dos utentes, atento o enquadramento supra enunciado;

74. E, designadamente, o direito dos utentes a serem referenciados para um serviço de urgência mais diferenciado e adequado à sua situação clínica.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

75. Consignando o n.º 1 do artigo 41.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, que “as decisões administrativas da ERS seguem o procedimento administrativo

comum previsto no Código de Procedimento Administrativo relativamente aos atos administrativos, incluindo especialmente o direito de participação dos

interessados”;

76. E, considerando que a realização da audiência dos interessados visa essencialmente assegurar, no âmbito do procedimento, o princípio do contraditório, permitindo a defesa de direitos e interesses personalizados diretamente implicados na apreciação da pretensão e que possam ser postos em crise pelo projeto de decisão;

77. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 101.º do Código do Procedimento Administrativo, tendo sido chamados a pronunciar-se relativamente ao projeto de deliberação da ERS, o Centro Hospitalar de Leiria – Pombal, EPE., bem como os pais da utente.

78. Contudo, a ERS não foi notificada da pronúncia do prestador, nem dos pais da utente, seja no decurso do prazo legal para o efeito, seja até ao presente momento.

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79. Ora, as partes interessadas não trouxeram ao conhecimento da ERS qualquer facto ou documento capazes de infirmar ou alterar o sentido do projeto de deliberação tal como regularmente notificado pela ERS, e cujos termos se mantêm, assim, na íntegra.

80. Assim, e pelo exposto, importa concluir pela manutenção in totum do projeto de deliberação regularmente notificado.

V. DECISÃO

81. Tudo visto e ponderado, e considerando que

a) a análise de questões relacionadas com a adequação clínica da prestação de cuidados de saúde, compete às Ordens profissionais e in casu à Ordem dos Médicos;

b) a exposição foi já remetida pelos exponentes para a Ordem dos Médicos; c) não estão sujeitos à regulação da ERS os profissionais de saúde no que respeita à sua atividade sujeita à regulação e disciplina das respetivas ordens ou associações profissionais públicas;

d) apesar da ausência de um protocolo escrito, a transferência de doentes em casos mais complexos é assegurada, conforme garantido pelo prestador, sendo a unidade de referência o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE;

e) Mas considerando igualmente, a necessidade de se garantir que conforme alegado pelo prestador, “na dúvida, e pela inexistência de recursos humanos e

tecnológicos da urgência nesta área, optamos sempre pela referenciação, em

benefício do doente.”;

82. O Conselho Diretivo da ERS delibera, nos termos e para os efeitos do preceituado no n.º 1 do artigo 41.º, e da alínea b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, arquivar o presente processo de inquérito, no que se refere à situação concreta da utente;

83. Sem embargo, de deliberar emitir uma recomendação ao Centro Hospitalar de Leiria-Pombal, EPE, no sentido da estabilização e consolidação de procedimentos/mecanismos que estabeleçam uma disciplina geral atinente ao processo de observação e de transferência de utentes no serviço de urgência, sempre que se verifique a inexistência de recursos humanos e tecnológicos no respetivo Serviço de Urgência para o atendimento a determinada patologia, e que

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permita garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes, designadamente o seu direito a ser referenciado para um serviço de urgência mais diferenciado e adequado à sua situação clínica;

84. Mais devendo o Centro Hospitalar de Leiria-Pombal, EPE informar a Entidade Reguladora da Saúde, no prazo de 30 (trinta) dias úteis a contar da notificação da presente deliberação final, de todos os procedimentos adotados no seguimento da presente recomendação.

85. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.

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