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Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul

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Academic year: 2021

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19 de março de 2019

1ª Câmara Cível

Apelação - Nº 0800277-82.2014.8.12.0001 - Campo Grande Relator – Exmo. Sr. Des. Marcelo Câmara Rasslan

Apelante : Casa & Vidros Vidraçaria Ltda - ME

DPGE - 1ª Inst. : Lauro Moreira Scholer (OAB: 143087/SP)

Apelada : Juliana Paim Dias

Advogado : Mario Sérgio Dias Bacelar (OAB: 14036/MS)

Interessado : Mario Sergio Dias Bacelar

E M E N T A – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS, MATERIAIS E ESTÉTICOS - PRESTAÇÃO DE SERVIÇO – ACIDENTE EM RAZÃO DE ESTOURO DO VIDRO DO BOX – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA - APELANTE QUE NÃO DEMONSTRA AUSÊNCIA DE DEFEITO NA ESTRUTURA DO BOX DO BANHEIRO – FERIMENTOS NA MÃO E PÉ DIREITOS DA AUTORA – DEVER DE INDENIZAR – DANOS MORAIS CONFIGURADOS – QUANTUM MANTIDO – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO.

O ônus da prova quanto à qualidade de produto e de serviços é da pessoa que os fornece e/ou presta, bastando ao consumidor a prova de nexo causal entre o fato e os danos por ele sofridos.

Não comprovada a ausência de defeito na estrutura do box de banheiro, cujo vidro estourou e feriu a consumidora, o que tornou necessária a sua internação e realização de cirurgia, evidente que há ofensa a direito de personalidade, eis que isto ultrapassa os limites de mero aborrecimento, caracterizando-se o padecimento e a privação do bem estar, o que torna devida a indenização por dano moral.

A quantificação dos danos morais deve observar o princípio da razoabilidade, compatível com a reprovabilidade da conduta, a intensidade e a duração dos transtornos experimentados.

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A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator.

Campo Grande, 19 de março de 2019.

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R E L A T Ó R I O

O Sr. Des. Marcelo Câmara Rasslan.

Casa & Vidros Vidraçaria Ltda – ME interpõe recurso de apelação contra a sentença de f. 208-17, que julgou parcialmente procedente a ação de reparação de danos morais, materiais e estéticos ajuizada por Casa & Vidros Vidraçaria Ltda – ME.

Afirma que o nexo de causalidade entre o dano e o fato do produto ou serviço não restou comprovado nos autos, uma vez que embora exista demonstração de o que box de blindex por ela instalado tenha estourado no momento em que a requerida/apelada tomava banho, impossível se precisar se o acidente foi originado por defeito na instalação/fabricação do vidro ou por mau uso da apelada, por exemplo, ao abri-lo excessivamente rápido, o que somente seria aferível com a realização de perícia logo após a ocorrência do sinistro, o que não se efetivou, inexistindo, portanto, o dever de indenizar.

Aduz, ademais, inexistir danos morais na espécie, insurgindo-se contra o quantum arbitrado a este título.

Requer a manifestação expressa, a título de prequestionamento, dos artigos 186 e 927, do Código Civil, e 373, do NCPC e, ao final, o provimento do recurso para o fim de julgar totalmente improcedente o pedido inicial ou que seja reduzido o valor arbitrado a título de danos morais.

Contrarrazões às f. 252-59, pelo desprovimento do recurso.

V O T O

O Sr. Des. Marcelo Câmara Rasslan. (Relator)

Casa & Vidros Vidraçaria Ltda – ME interpõe recurso de apelação contra a sentença de f. 208-17, que julgou parcialmente procedente a ação de reparação de danos morais, materiais e estéticos ajuizada por Juliana Paim Dias.

Afirma que o nexo de causalidade entre o dano e o fato do produto ou serviço não restou comprovado nos autos, uma vez que, embora exista demonstração de o que box de blindex por ela instalado tenha estourado no momento em que a requerida/apelada tomava banho, impossível se precisar se o acidente foi originado por defeito na instalação/fabricação do vidro ou por mau uso da apelada, por exemplo, ao abri-lo excessivamente rápido, o que somente seria aferível com a realização de perícia logo após a ocorrência do sinistro, o que não se efetivou, inexistindo, portanto, o dever de indenizar.

Aduz, ademais, inexistir danos morais na espécie, insurgindo-se contra o quantum arbitrado a este título.

Requer a manifestação expressa, a título de prequestionamento, dos artigos 186 e 927, do Código Civil, e 373, do NCPC e, ao final, o provimento do recurso para o fim de julgar totalmente improcedente o pedido inicial ou que seja reduzido o valor arbitrado a título de danos morais.

Contrarrazões às f. 252-59, pelo desprovimento do recurso.

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aduzido que em outubro de 2012, adquiriu da apelante box de vidro temperado incolor de 8mm, cuja instalação ocorreu em 21 de dezembro de 2012 e que no dia seguinte à instalação (22 de dezembro de 2012), após tomar banho, foi surpreendida com o estouro do vidro do box, ocasionando-lhe cortes profundos nos tendões da mão e do pé, ambos do lado direito, tendo que ser submetida a procedimento cirúrgico em decorrência das lesões, o que a levou a pleitear o ressarcimento pelos danos materiais e morais por ela experimentado.

O juízo singular julgou parcialmente procedente a lide e condenou a requerida ao pagamento de R$ 88,22; R$ 31,23; R$ 122,57; R$ 81,20; R$ 125,84 e R$ 472,12, a título de danos materiais e R$ 15.000,00 a título de danos morais.

Irresignada, ingressa a apelante com o presente recurso no qual pretende, em suma, a improcedência do pedido dada a ausência de comprovação do nexo de causalidade entre o dano e o fato do produto enfatizando, ademais, acerca da inexistência de danos morais e insurgindo-se contra o quantum arbitrado a este título.

Pois bem, a responsabilidade da apelante, como prestadora de serviços, é objetiva, respondendo pelos danos causados aos consumidores independentemente de culpa.

Assim, em sendo hipótese de responsabilidade objetiva, cabe à requerida demonstrar que não houve defeito no serviço prestado, ou seja, que não havia qualquer defeito na estrutura do box do banheiro que pudesse ensejar o estouro do vidro, valendo lembrar que o acidente é fato incontroverso nos autos, e que as lesões provieram dele. A rigor, nenhuma prova foi produzida pela requerida, não há nada nos autos que indique que a estrutura do box estava adequadamente ajustada para suportar o peso do vidro, e muito menos, que a autora tivesse se desequilibrado e caído ou aberto o box de maneira inadequada.

As fotografias anexadas às f.29-32 e os documentos de f. 33-45, revelam que a autora teve ferimentos na mão e pé direitos, sendo necessária a realização de cirurgia.

De toda forma, pelos padecimentos sofridos e decorrentes de falha na estrutura do box, com quebra do vidro e lesões na mão e pé direitos, merece a autora ressarcimento pelos danos experimentados.

De início, no tocante aos danos materiais, diante da ausência de impugnação específica do apelante com relação aos valores que foram arbitrados a este título e verificado que a condenação limita-se à quantia comprovadamente despendida pela apelada, devem ser mantidos nos exatos termos lançados.

No tocante aos danos morais, vê-se que a apelante, como prestadora de serviços, não se desincumbiu de sua obrigação legal, causando abalo, humilhação, constrangimento e desgaste emocional que fogem a normalidade dos casos, interferindo no comportamento psicológico do indivíduo.

Não se trata de mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada e que, no dizer de Sérgio Cavalieri Filho, “fazem parte da

normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo” (cf. “Responsabilidade Civil”, p. 105).

Assim, afigura-se devida a condenação imposta a título de danos morais.

A mensuração do dano extrapatrimonial, por outro lado, tem se constituído em verdadeiro tormento para os operadores do direito, não fornecendo o

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legislador critérios objetivos a serem adotados. Atribui-se ao Juiz arbítrio prudencial, com enveredamento da natureza jurídica da indenização como ressarcitória e punitiva, mas não a ponto de transformar a estimativa como resultado de critérios meramente subjetivos, ofertando a doutrina, dentre outros, análise de pormenores importantes como: a) o grau de reprovabilidade da conduta ilícita; b) a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima; c) a capacidade econômica do causador do dano; d) as condições pessoais do ofendido (cf. Antonio Jeová Santos, Dano Moral Indenizável, Ed. Revista dos Tribunais, 4.ª ed., p. 186).

O dano moral tem como pressuposto ontológico, o sofrimento moral inferido à vítima por atos ilícitos. O sentimento do bom pagador, evidentemente, é de revolta à cobrança indevida e que se agrava com a negativação do seu nome. O dano moral e o prejuízo mostram-se evidentes.

A indenização, como anota o já citado Antonio Jeová Santos, "não

pode servir de enriquecimento indevido para a vítima. Idêntico raciocínio é efetuado em relação ao detentor do comportamento ilícito. Uma indenização simbólica servirá de enriquecimento indevido ao ofensor que deixará de desembolsar quantia adequada, enriquecendo-se com o ato hostil e que desagradou, de alguma forma, algum ou quaisquer dos direitos da personalidade" (ob. cit., p. 199).

Há, assim, que observar o princípio da lógica do razoável, ou seja,

"importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e a duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes" (cf. Sérgio Cavalieri Filho, ob. cit., p.

116).

Com base nesses critérios, e considerando as peculiaridades do caso, bem se vê que o montante da indenização fixado em R$ 15.000,00 (quinze mil reais) mostra-se adequado para ressarcir os danos morais diante dos critérios orientadores, merecendo ser mantido.

Por fim, diante da análise de todos os argumentos suscitados nas razões recursais, desnecessária a manifestação expressa sobre todos os artigos de lei indicados pela apelante. No entanto, com o fim de se evitar o ajuizamento de recursos futuros somente para esses fins, dou-os por prequestionados.

Isto posto, nego provimento ao recurso, mantendo inalterada a sentença de primeiro grau.

Nos termos do art. 85, § 11, do NCPC, majoro os honorários advocatícios fixados, devendo a apelante ficar responsável pelo percentual de 70% sobre a condenação imposta (20% sobre o valor atualizado da condenação), remanescendo à apelada 30% da condenação.

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D E C I S Ã O

Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO

RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Marcelo Câmara Rasslan Relator, o Exmo. Sr. Des. Marcelo Câmara Rasslan.

Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Des. Marcelo Câmara Rasslan, Des. Divoncir Schreiner Maran e Juiz José Eduardo Neder Meneghelli.

Campo Grande, 19 de março de 2019.

Referências

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