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Estudos sugerem medida ideal de doses de álcool ao dia para segurança cardiovascular.

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Academic year: 2021

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Estudos sugerem medida ideal de doses de álcool ao dia para segurança cardiovascular.

A partir dos anos 1960, quando os estudos populacionais identificaram os clássicos fatores de risco cardiovascular, epidemiologistas foram surpreendidos com a observação de que os abstêmios apresentavam maior risco de morrer por eventos dessa natureza. Nos anos 1980, o “paradoxo francês” – baixa taxa de mortalidade por doença cardiovascular (DCV) mesmo com elevada frequência de tabagismo e de ingestão de gordura saturada – deflagrou a busca de evidências de hábitos dessa população que pudessem ser cardioprotetores. Dentre esses, a relação inversa entre consumo de vinho e evento cardiovascular ganhou especial atenção da comunidade científica (Ferrières, 2004), despertando interesse em aprofundar o conhecimento sobre a importância dos compostos bioativos nele presentes.

Vale ressaltar que, posteriormente, outros fatores protetores foram identificados na população francesa, como alimentação rica em fibras e gorduras mono e poli-insaturadas, consumida em pequenas porções, e baixa frequência de obesidade, os quais contribuem para a prevalência relativamente baixa de doença cardiovascular.

Evidências mais consistentes sobre propriedades cardioprotetoras têm mostrado que não somente o vinho, mas o consumo moderado de álcool contido em outras bebidas também se associa à significativa redução do risco cardiovascular e da mortalidade geral. Ao mesmo tempo, ressaltam-se os efeitos adversos decorrentes do seu consumo excessivo (Andrade & Oliveira, 2009; Chiva-Blanch et al., 2012). Dessa forma, torna-se claro que para se conhecer o real impacto de bebidas alcoólicas na saúde é necessário considerar aspectos qualitativos e quantitativos do seu consumo, particularmente no que diz respeito ao teor de etanol e de polifenóis. Frequentemente, a comparabilidade dos dados publicados no tema é prejudicada devido a limitações conceituais, como a definição do consumo “moderado” de álcool, variável de população para população.

A OMS define como consumo moderado de álcool a ingestão diária de uma dose (10 a 15 gramas de etanol) para as mulheres e duas doses para os homens (de 20 a 30 gramas de etanol). Uma dose equivale a 90 ml de vinho tinto, 125 ml de vinho branco, 350 ml de cerveja e 50 ml de destilados. A ingestão de doses diárias acima desse padrão é considerada prejudicial e representa algum risco para a saúde dos indivíduos (USA, 2000; WHO, 2000).

Como o tema é motivo recorrente de discussões quanto a recomendação rotineira ou desaconselhamento para o seu uso, muitos trabalhos vem sendo realizados neste sentido, a fim de definir, de forma objetiva, quais os benefícios e dose segura para o uso do álcool.

Abaixo um breve resumo de três estudos a respeito da dose de segurança e dos potenciais efeitos adversos. Dois destes estudos fornecem evidências de que a ingestão de duas doses de álcool por dia não é prejudicial à saúde cardiovascular.

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O primeiro estudo a ser comentado (The effect of a reduction in alcohol consumption on blood pressure: a systematic review and meta-analysis, disponível em

http://www.thelancet.com/pdfs/journals/lanpub/PIIS2468-2667(17)30003-8.pdf)

se constitui em

uma meta-análise de 36 ensaios, onde foi observado que a redução da ingestão de álcool reduziu a pressão arterial .

Interessantemente foi observado que a redução do consumo de álcool não teve efeito significativo na pressão arterial (PA) das pessoas que consumiam duas bebidas alcoólicas ao dia, mas esteve associada a uma maior redução subsequente da PA para aqueles que bebiam além desse nível. As pessoas que consumiam seis ou mais doses ao dia no início do estudo e reduziram o consumo em cerca de metade apresentaram a maior redução na PA sistólica (diferença média de -5,50 mm Hg; IC de 95%: -6,70 a -4,30) e na PA diastólica (diferença média - 3,97 mmHg, IC de 95% -4,70 a -3,25).

O segundo estudo (Twenty-Five-Year Alcohol Consumption Trajectories and Their Association With Arterial Aging: A Prospective Cohort Study disponível em

http://jaha.ahajournals.org/content/6/2/e005288) fez uma análise de longo prazo do consumo

de álcool por um período de 25 anos e a associação desse consumo com alterações na rigidez arterial medida pela velocidade de onda de pulso carotídeo-femoral (VOP).

A VOP mostrou-se um marcador prognóstico confiável para morbidade e mortalidade cardiovascular, com maiores valores de VOP sinalizando maior rigidez arterial. Após analisar os dados de 3869 funcionários públicos, na sua maioria do sexo masculino (73%), pesquisadores britânicos descobriram que homens que bebiam regularmente quantidades elevadas de álcool (> 115 ml de etanol por semana ou cerca de > 14 doses por semana) tiveram valores de VOP de base maiores do que aqueles com consumo estável (< 115 ml de etanol por semana) moderado (b = 0,26 m/s; P = 0,045). Um efeito semelhante foi observado entre mulheres que consumiam altas doses de bebidas alcoólicas regularmente em modelos ajustados para fatores demográficos e de estilo de vida (b= 0,73 m/s; P =0,029), mas a associação deixou de ser significativa após ajuste completo, incluindo co-variáveis clínicas (b = 0,42 m/s; P = 0,169).

Uma destas variáveis é colesterol tipo lipoproteína de alta densidade, o qual, em valores elevados, é fator protetor contra a rigidez arterial. Os dados da pesquisa atual sugerem que há um limite de dose de álcool para que se alcance o benefício do aumento do HDL sem piora da rigidez arterial. Os participantes deste estudo faziam parte de um coorte denominado Whitehall II e inicialmente recrutados entre 1985 e 1988 (idades entre 34 a 56 anos) e relataram o consumo de álcool até 2009. A VOP foi medida no início e depois durante o seguimento em 2012 e 2013.

Os homens tiveram probabilidade maior de serem bebedores pesados (regulares 17,7%, não regulares 27,9%) do que as mulheres, que tiveram probabilidade duas vezes maior de não

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consumirem álcool de forma regular (8,2%) e de terem interrompido o consumo (18,7%). Embora poucos entre os dois gêneros fossem tabagistas, 68% dos homens e 74,1% das mulheres não alcançavam os níveis de exercício semanal recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Os valores médios de VOP aumentaram significativamente entre os homens, de 8,5 m/s no início do estudo para 9,1 m/s no seguimento, e de 8,2 m/s para 8,7 m/s entre as mulheres (P < 0,001 para ambos). Embora todos os indivíduos que consumiam álcool, independentemente do gênero, tenham aumentado a VOP do início do estudo em relação ao seguimento, apenas os que consumiam álcool previamente tiveram progressão acelerada significativa da rigidez arterial (b = 0,11 m/s, P = 0,009).

Segundo os cálculos dos pesquisadores, se metade dos habitantes do Reino Unido que bebem mais de duas doses ao dia reduzissem o consumo de álcool, a proporção de pessoas com pressão arterial sistólica > 140 mm Hg diminuiria 4,4% para os homens e 1,2% para as mulheres, com o maior efeito ocorrendo em meados da idade adulta. Esta redução na PA resultaria em 7272 internações hospitalares e 678 mortes cardiovasculares evitadas a cada ano. Um terceiro estudo (Alcohol Abuse and Cardiac Disease disponível em

http://www.onlinejacc.org/content/69/1/13?download=true) realizou pesquisa em um banco de

dados de 14.727.591 pacientes submetidos à cirurgia ambulatorial, consultas de emergência ou internação, na Califórnia, no período de 2005 a 2009, e que tinham dados de acompanhamento até 31 de dezembro de 2009. Os profissionais de saúde haviam identificado que 268.084 dos pacientes (1,8%) abusavam do álcool, sendo observado que aqueles que abusavam de álcool apresentavam risco aumentado de fibrilação atrial (FA), infarto agudo do miocárdio (IAM) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC), e o risco adicional foi semelhante ao dos fatores de risco tradicionais, como o diabetes tipo 2.

Além disso, pacientes sem os fatores de risco tradicionais e que consumiram álcool em excesso tiveram probabilidade desproporcionalmente maior de ter esses três desfechos

cardíacos. Os resultados sugerem que "o abuso de álcool deve ser considerado como um fator de risco para doença cardiovascular”.

Os autores do estudo pontuam: “A recente admiração pelos potenciais benefícios do consumo leve a moderado de álcool para a proteção de DCV parece estar baseada em dados observacionais e que podem gerar contradições.”.

O autor sênior, Dr. Gregory M. Marcus, conclui que "Temos de ser muito cuidadosos na interpretação de todos esses dados. Levando em consideração a evidência disponível, não é insensato beber de forma leve ou moderada, pois pode ajudar a prevenir IAM, mas há evidência de que mesmo beber moderadamente aumenta o risco de FA".

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A Organização Mundial de Saúde (OMS), por exemplo, estabelece que uma dose padrão contém aproximadamente 10 a 12 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja ou chope (330 ml), uma taça de vinho (100 ml) ou uma dose de destilado (30 ml), conforme tabela abaixo.

Outras instituições, como Secretaria Nacional de Política sobre Drogas – SENAD (Brasil) e o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism – NIAAA (EUA) adotam diferentes padronizações.

Veja tabela comparativa:

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Referências

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