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VISÕES DE MUNDO NA OBRA ABAPORU DE TARSILA DO AMARAL 1 RESUMO

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Academic year: 2021

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VISÕES DE MUNDO NA OBRA ‘ABAPORU’ DE TARSILA DO AMARAL

1

CARNEIRO, Elisiane

2

; SOUZA, Gabriel²; MILKE, Tatiele³; BECKER, Elsbeth Léia

Spode³

1

Trabalho de Pesquisa _UNIFRA. 2

Curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil.

3

Curso de Biomedicina do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil.

³

Professora adjunta das Ciências Humanas do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil.

E-mail: lizirosa@ig.com.br; tatielefranco@hotmail.com; elsbeth.geo@gmail.com

RESUMO

Este artigo tem o objetivo de evidenciar a importância de Tarsila do Amaral no contexto das artes plásticas do Brasil e especificar a qualidade singular de expressão da sua arte e das implicações sobre os valores usuais da sociedade. Ultilizou-se a metodologia de ensaio a partir da obra ‘’Abaporu’’ de Tarsila do Amaral. Pôde-se inferir que a obra tem sua importância reforçada pelo contexto social da época em que foi pintada, pois representou, de forma contundente, o pensamento do período e o resultado do Manifesto Antropofágico. Evidenciou-se, também, que a opinião crítica, muitas vezes, é formada por pré-conceitos e que estes, com o passar do tempo, adaptam-se à sociedade. A tela, o ‘Abaporu’, foi impressionante para a época, pois além de trazer um tema pouco abordado (pelo menos no Brasil), inovou no uso das cores que provocavam sensações. As cores e as sensações aliadas aos traços da obra, reforçaram a imagem de um tema bastante polêmico, visto que era uma crítica à sociedade.

Palavras-chave: Cultura; Modernismo; Sociedade.

1. INTRODUÇÃO

Desde a pré-história, as sociedades conheceram transformações e mutações importantes no sentido de desenvolver um domínio técnico cada vez maior. No entanto, a partir das grandes navegações e, mais tarde, pela revolução industrial, as sociedades europeias impõem a ideia de uma progressão necessária e desejável de toda a sociedade da idade da pedra à era industrial. Impõe-se, portanto, o espírito dos pensadores ocidentais e o conceito de ‘civilização’. Povos civilizados eram os povos europeus. Povos diferentes à ideia europeia eram considerados não-civilizados e deveriam ser aculturados à ideia da supremacia europeia. A diversidade das culturas e das situações relaciona-se, então, com

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sinal, e imposta pela necessidade) às sociedades atrasadas, ainda na infância, para fazê-las entrar na era do progresso e da civilização. É a justificativa cômoda e ideológica da colonização e do espólio dos povos colonizados.

As culturas não europeias, quando não destruídas, eram, então, consideradas atrasadas e retrógradas, e a cultura europeia era bem vista e consumida pelas elites.

No entanto, a cultura imposta não é vivenciada passivamente por aqueles que a receberam como imposição ou como herança: eles reagiram àquilo que lhes foi proposto ou que lhes pretendiam impor. Interiorizaram certos traços e rejeitaram outros. Inventaram, ao longo de suas existências, novas maneiras de fazer, atribuíram cores novas aos seus sonhos e aos seus pesadelos e criticaram os valores usuais quando não correspondiam às suas aspirações profundas.

No Brasil não foi diferente. O quadro da pintora Tarsila do Amaral, ‘Abaporu’, deixa seus observadores mais atentos, no mínimo, instigados à reflexão. O efeito dessa representação não seria tão intrigante se aceitássemos de forma cômoda a imposição de uma ‘cultura’ dita superior.

A Semana da Arte Moderna, em 1922, retratou, por meio da arte, uma maneira diferente de enxergar a imposição cultural europeia e despertou a reflexão sobre o etnocentrismo europeu que influenciava a sociedade brasileira.

Para Rocha (1994), o etnocentrismo é uma visão de mundo em que o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo, e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. Ou seja, tudo isso quer dizer que seguimos regras, modelos que são impostos pela sociedade, em que vale a ordem do maior.

Rocha (1984), ao estudar o etnocentrismo europeu, admite que não seja um problema de uma determinada época, nem de uma única sociedade, mas é um daqueles fatos humanos que constituiu enorme unanimidade durante boa parte da primeira metade do século XX. Rocha (1984, p. 15), ainda, acrescenta que

‘‘a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, enfim, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós”.

É sobre essas distorções que Tarsila do Amaral lança um olhar profundo ao representar ‘Abaporu’ e que, a partir desse quadro, sublinha-se como uma artista aberta e

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curiosa e, posteriormente, passa, também a representar uma busca despreconceituada de novas formas de expressão (AMARAL, 2004).

O objetivo deste trabalho é evidenciar a importância de Tarsila do Amaral no contexto das artes plásticas do Brasil e especificar a qualidade singular de expressão da sua arte e das implicações sobre os valores usuais da sociedade.

2. METODOLOGIA

A metodologia está embasada no ensaio que, segundo Severino (2000), é um estudo formal, discursivo e concludente que consiste na

“exposição lógica e reflexiva e em argumentação rigorosa com alto nível de interpretação e julgamento pessoal. No ensaio há maior liberdade por parte do autor, no sentido de defender determinada posição sem que tenha que se apoiar no rigoroso e objetivo aparato de documentação empírica e bibliográfica. De fato, o ensaio não dispensa o rigor lógico e a coerência de argumentação e por isso mesmo exige grande informação cultural e muita maturidade intelectual" (SEVERINO, 2000, p. 153).

Já para Medeiros (2008, p. 112), é “uma exposição metodológica dos assuntos realizados e das conclusões originais a que se chegou após apurado o exame de um assunto. O ensaio é problematizador, antidogmático e nele deve se sobressair o espírito crítico do autor e a originalidade".

Para desenvolver este ensaio, foi selecionada a obra de arte de Tarsila do Amaral, intitulada ‘Abaporu’. Pesquisou-se sobre o autora, a obra, para, então, relacionar o contexto de época e de sociedade em que o etnocentrismo europeu se revelava uma cultura dogmática e de influência sobre as demais culturas.

3. DESENVOLVIMENTO

31. Sobre Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral (figura 1) nasceu no município de Capivari, São Paulo, Brasil, em 1° de setembro de 1886 e faleceu em 17 de janeiro de 1973, em São Paulo, capital. Era filha de José Estanislau do Amaral e de Lydia Dias de Aguiar do Amaral, fazendeiros, no interior do estado paulista. A artista viveu sua infância ao lado de seus pais, tios e primos, nas

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fazendas da família. Na adolescência, estudou no colégio Sion, em São Paulo, e, na juventude, em Barcelona, na Espanha. Na província catalã, Barcelona, passou a ter forte influência dos artistas renomados da Europa e, de forma especial, foi influenciada pelas obras de Antoni Gaudí (1852-1926), que aparece como um arquiteto de novas concepções plásticas ligado ao modernismo catalão e idealizador da obra-prima, a igreja da ‘Sagrada Família’. Foi, portanto, em Barcelona que Tarsila pintou o primeiro quadro, o “Sagrado Coração de Jesus”, em 1904. Ao voltar para o Brasil casou-se, com André Teixeira Pinto com quem teve sua única filha, que chamou de Dulce (AMARAL, 2004).

Figura 1. Tarsila do Amaral (1886-1973). Fonte: AMARAL, A. (2004)

Tarsila separou-se de seu marido e, alguns anos mais tarde, retomou seus estudos sobre arte. No início estudava esculturas e tinha aulas de desenho e pintura no ateliê de Pedro Alexandrino, em 1918. Nesse ateliê foi introduzida no meio das artes e dos artistas do eixo Rio-São Paulo e conheceu Anita Malfatti, que se tornaria uma referência mestra para Tarsila. Em 1920, regressou à Europa e foi estudar na academia Julien, em Paris, França, onde ficou até junho de 1922. Ao voltar para o Brasil, retomou o contato com Anita que a introduziu no grupo de modernistas, formando, assim, o grupo dos cinco: Tarsila do Amaral , Anita Malfatti, Oswald de Andrade, e, também, os escritores Mário de Andrade e Menotti Del Picchia (AMARAL, 2004).

Em 1923, Tarsila voltou a Paris e conheceu o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, que lhe apresentou a intelectualidade de Paris. Daí Tarsila passou a conviver com artistas europeus e foi estudar com o mestre cubista Fernande Léger. No ateliê desse mestre, a artista pintou sua obra “A Negra”, inspirada na sua infância e nas amas de leite negras das crianças brancas abastadas. Essa obra marca a história da arte moderna no Brasil e Tarsila se insere no movimento que marcaria, também, a vanguarda do modernismo no Brasil (AMARAL, 2004).

As principais características de suas obras são o uso de cores vivas e uso de formas geométricas (influência do cubismo), abordagem de temas sociais, representações de cotidiano e de paisagens do Brasil e o uso da estética fora do padrão (influência

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do surrealismo). São, portanto, as cores vivas, o contexto social e ideológico, a paisagem brasileira e a estética fora do pradrão que emprestam o tom de sua obra ‘Abaporu’.

3.2 Sobre a obra ‘’Abaporu’’

Em janeiro de 1928, Tarsila pintou o ‘Abaporu’. Nesse período, Tarsila era casada com Oswald de Andrade e queria dar um presente de aniversário especial ao seu marido e, então pintou o ‘Abaporu’. Oswald recebeu seu presente de aniversário e ficou maravilhado, mas também impressionado com o tom da obra. Compartilhou suas impressões com o amigo e escritor, Raul Bopp, que também fiou impressionado com o quadro. Em sua análise de contexto da obra, Oswald e Raul concluíram que a obra retratava a figura de indígena, antropófaga, em paisagem brasileira. Em homenagem à língua Tupi-Guarani, Tarsila denominou-o de ‘Abaporu’ que significa ‘homem que come carne humana, o antropófago’ (GOTLIB, 2003).

O ‘Abaporu’ passou a ser o elemento irradiador do Modernismo Brasileiro e, também, do Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade que contestava a forte influência europeia sobre a cultura e a miscegenação do povo brasileiro e, especialmente, sobre a arte brasileira. A figura do ‘Abaporu’ passou a simbolizar a contra-cultura e o movimento que objetivava deglutir a cultura europeia e adaptá-la aos tons e sons do Brasil (GOTLIB, 2003). Na obra, Tarsila destacou o trabalho braçal (pés e mãos grandes) e deixou em menor evidência o trabalho mental (cabeça pequena), pois o trabalho braçal e servil era delegado às maiorias das populações e, somente, as elites tinham acesso ao conhecimento e, em consequência, exerciam o trabalho mental (GOTLIB, 2003).

Outros quadros dessa fase antropofágica, de Tarsila, são: 'Sol Poente', 'A Lua', 'Cartão Postal' e 'O Lago'. Nessa fase, a artista usou bichos e paisagens imaginárias, além das cores fortes, que eram sua característica dominante.

Em 1929, Tarsila fez sua primeira Exposição Individual no Brasil, e a crítica dividiu-se, pois muitas pessoas e críticos não compreendiam sua arte. Atualmente, ‘Abaporu’ é a tela brasileira mais valorizada. Foi adquirida pelo colecionador argentino Eduardo Costantini, em 1995, e encontra-se exposta no Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (MALBA). É uma obra pintada a óleo, aplicado sobre tela com 85 por 73 cm (figura 2).

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Figura 2. ‘Abaporu’ (1928). Fonte: GOTLIB, 2003.

4. CONSIDERAÇÕES E DISCUSSÕES

A percepção do homem destaca do universo uma verdade relativa. Essa verdade é variável quanto ao número dos seres e possui características comuns que se manifestam e se repetem no decorrer do tempo, formando um conjunto inconsciente. Essas características viajam, em ciclos, em relação à história da humanidade. As reações produzidas pelos ciclos são gigantescas e representam, na história, as revoluções mentais dos povos. O tempo, porém, funciona como um condensador em relação aos acontecimentos. Todos os detalhes que compõem uma manifestação do passado são condensados em conjuntos. E esse conjunto se manifesta quase sempre por uma imagem mental (AMARAL, 2004).

A manifestação no homem é um simbolismo de sua experiência do passado e, muitas vezes, esse simbolismo é uma condensação de sensações abstratas (AMARAL, 2004).

A arte da pintora Tarsila do Amaral é uma condensação dessas sensações humanas, e, nesse sentido, é um símbolo de sua alma, na cor, na forma e na substância, como, também é o símbolo de um dos ciclos histórico-mentais de uma sociedade em um recorte

histórico (AMARAL, 2004). A obra ‘’Abaporu’ representa um processo mental da

humanidade condensando a forma, a cor e a substância e realçando a ideia e o imaginário de uma época.

A obra tem sua importância reforçada pelo contexto social da época em que foi pintada, pois representou, de forma contundente, o pensamento do período e o resultado

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do Manifesto Antropofágico, um dos documentos mais originais, importantes e extravagantes da arte brasileira. O ‘’manifesto’’ e a ‘’antropofagia’’ são um verdadeiro monumento à cultura nacional (ABDALLA, 2008).

Evidenciou-se, também, que a opinião crítica, muitas vezes, é formada por pré-conceitos e que estes, com o passar do tempo, adaptam-se à sociedade. Essas adaptações ocorrem de forma gradual, algumas vezes de maneira demorada e, outras, de maneira muito rápida. A tela, o ‘Abaporu’, foi impressionante para a época, pois além de trazer um tema pouco abordado (pelo menos no Brasil), inovou no uso das cores que provocavam sensações. As cores e as sensações aliadas aos traços da figura, reforçaram a imagem de um tema bastante polêmico, visto que era uma crítica à sociedade.

Da mesma forma, ainda hoje, quando há a introdução do novo, do desconhecido, inconscientemente são despertadas as sensações e ocorrem as associações com algum elemento ou momento já experimentado ou vivido. Isso pode gerar, ou não, um pré-conceito com a inovação.

REFERÊNCIAS

ABDALLA, Carlos. Tarsila do Amaral. Revista do Museu Oscar Niemeyer. Número 8, ano 3, agosto de 2008.

AMARAL, Aracy. Tarsila sua obra e seu tempo. São Paulo: Perspectiva; EDUSP, 2004. GOTLIB, Nádia Battella. Tarsila do Amaral, a modernista. São Paulo: Editora Senac. 2003.

ROCHA, Guimarães. O que é etnocentrismo. Editora Brasiliense, 1988.

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamento, resumos, resenhas. São Paulo: Atlas. 2008.

ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é Etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense,1994. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez. 2000.

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