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O tratamento do adjetivo atributivo na Head-driven Phrase Structure Grammar (HPSG)*

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Academic year: 2021

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O tratamento do adjetivo atributivo na Head-driven Phrase

Structure Grammar (HPSG)*

Albano Dalla Pria

Faculdade de Ciências e Letras - Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Caixa Postal 174 - cep 14.800-901 - Araraquara - SP - Brasil

adallapria@yahoo.com

Abstract. The syntactic and semantic behaviors of attributive adjectives are not well described by the functional view of generative grammars. The phenomenon is, therefore, looked into from a lexical view of generative grammars, specifically the HPSG. It is concluded this approach does not aggregate the syntactic knowledge described by the functional view and it is proposed a revision of the model.

Keywords. Atributive adjective; syntax; semantics; HPSG.

Resumo. Os comportamentos sintáticos e semânticos dos adjetivos atributivos não estão bem descritos pelas gramáticas gerativas de enfoque funcionalista. O fenômeno é, portanto, averiguado em uma gramática gerativa de enfoque lexicalista, especificamente a HPSG. Conclui-se que esta abordagem não agrega ao modelo o conhecimento sintático descrito pelo enfoque funcionalista e propõe-se uma revisão do modelo.

Palavras-chave. Adjetivo atributivo; sintaxe; semântica; HPSG.

1. Introdução

Os trabalhos até agora produzidos no âmbito das gramáticas gerativas de enfoque funcionalista parecem não ter chegado à uma teoria da estrutura sintagmática satisfatória para os adjetivos atributivos (CHOMSKY, 1995:242, nota 22). Desta forma, este trabalho apresenta sistematizações de um conjunto de conhecimentos sintáticos e semânticos sobre os adjetivos (Seção 2) e averigua como uma gramática de enfoque lexicalista, a HPSG, representa esses conhecimentos (Seção 3). Observadas as deficiências da HPSG, propõe-se a ampliação do modelo para a descrição do adjetivo atributivo no inglês e no português (Seção 4).

2. Sistematização de conhecimento lingüístico sobre o adjetivo

2.1. Sistematização do conhecimento sintático

Vários autores argumentam a favor de três subclasses adjetivais mais amplas para o inglês e o português. Para a primeira língua, citam-se Lucas (1971), Teyssier (1968) Coates (1971), Bosque;Picalo (1996) e Kemmerer (2000). Para a segunda língua, citam-se Neves (2000), Borba (1996) e Silva;Pria (2002).

Em Pria (2004), a síntese desses trabalhos resulta em uma proposta de classificação aplicável às duas línguas. São previstos três grupos de adjetivos: os

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avaliativos, os determinativos e os classificadores. Os avaliativos podem

desempenhar as funções predicativa (the man is big/o homem é grande) e atributiva (the

big man/o homem grande) nas duas línguas. No inglês, podem ser coordenados (his big and fat man), graduados (the biggest man) e admitem comparação (this man is bigger than that) e intensificação (the very big man). No português, ocorrem nas posições pré e pós-nominal (o homem grande; o grande homem), na função atributiva. Admitem gradação (uma mulher belíssima), intensificação (uma mulher muito bonita), comparação (uma mulher mais bonita do que a outra) e coordenação (uma mulher

bonita e alta), quando na posição pós-nominal.

Os determinativos só desempenham a função atributiva e só ocorrem antepostos ao nome (certas palavras), no português. Nas duas línguas, esses adjetivos apresentam comportamento semelhante a quantificadores e determinantes (certain diseases).

Os classificadores desempenham apenas a função atributiva e só ocorrem pospostos ao nome, no português. Nas duas línguas, subcategorizam o núcleo que modificam (a presidential election; uma eleição presidencial), não admitem intensificação (*a very presidential election; uma eleição muito presidencial) ou gradação (*the most presidential election; *a eleição presidencialíssima). Eles também não denotam propriedades, apenas relacionam entidades, classificando-as.

2.2. Sistematização do conhecimento semântico

O estudo da semântica lexical dos adjetivos, surgido no contexto da semântica formal, começou com Montague (1970), que adotou uma abordagem puramente intensional ao considerar todos os adjetivos como funções de propriedades para propriedades. O significado do adjetivo former/antigo, por exemplo, era tratado como uma função que mapeava o significado de owner/proprietário dentro de former owner/antigo proprietário. Assim, former/antigo pode ser interpretado como uma função que transforma a propriedade “ser um proprietário” na propriedade “ser um antigo proprietário”.

A partir do trabalho de Montague (1970), vários autores têm argumentado a favor de, basicamente, três comportamentos semânticos para a categoria adjetival. Citam-se Partee (2001), Kamp (1975) e Kamp;Partee (1995). Chierchia;McConnell-Ginet (1990) resumem esses trabalhos e classificam os três comportamentos como:

intersectivo, subsectivo ou não-predicativo.

Os não-predicativos apresentam comportamento intensional, operam como funções de propriedades para propriedades, como em former owner/antigo proprietário. Assim, para a regra sintática ǻ = inglês[SN Adj N] e ǻ = português[SN Adj N]1, tem-se a

interpretação semântica ǻ = [Adj(N)]. Para os intersectivos, prevê-se que a denotação

da estrutura adjetivo-nome é a intersecção das denotações do nome e do adjetivo, como, por exemplo, em red car/carro vermelho. Nesse caso, o resultado da semântica do adjetivo será algo como [red car] = red ˆ car.2 Assim, para a regra sintática ǻ =

inglês[SN Adj N] e português[SN N Adj], tem-se a interpretação semântica3 ǻ = Ȝx [Adj(x) š

N(x)]. Os subsectivos são de alguma forma como os intersectivos, ambos produzem um

sintagma nominal cuja extensão é um subconjunto do nome modificado. Para os subsectivos, prevê-se que a denotação da estrutura adjetivo-nome é a subsecção das denotações do nome e do adjetivo. Em big car/carro grande, por exemplo, o resultado da semântica do adjetivo será algo como [big car] Ž car. A regra sintática e a

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interpretação semântica dos adjetivos subsectivos são semelhantes àquelas propostas para adjetivos intersectivos. A diferença está na inserção do índice n para especificar a classe de predicados à qual o adjetivo está associado4, daí a interpretação semântica ǻ =

Ȝx [Adjn(x) š N(x)].

3. A HPSG e o adjetivo atributivo

A HPSG é uma teoria lingüística formal comprometida com descrições lexicalistas, formalmente precisas e não-transformacionais dos fenômenos das línguas naturais. Sua linguagem formal está baseada em um sistema de estruturas de traços tipadas que modelam todas as entidades lingüísticas. A ontologia da gramática constitui-se de uma hierarquia de tipos (Figura 1), que introduzem restrições sobre os objetos lingüísticos através de estruturas de traços atributo-valor organizadas em matrizes de atributo-valor (Figura 2). Tanto as regras sintagmáticas quanto as entradas lexicais são descritas em termos de estruturas de traços (POLLARD;SAG, 1994).

Figura 1: Representação de uma hierarquia de herança em forma de grafo.

Os adjetivos atributivos são tratados, na HPSG, como adjuntos dentro do SN (Figura 2). A entrada lexical de um adjetivo especifica, através do valor do traço MOD (a etiqueta 3), qual o núcleo sintático por ele modificado. O valor do traço HEAD do SN tem ocorrência idêntica (a etiqueta 1) ao valor do traço HEAD do núcleo sintático (X) e o valor do traço CONT do SN tem ocorrência idêntica (representada por 2) ao valor do traço CONT do núcleo semântico do sintagma. Nesse caso, o adjetivo-adjunto seleciona seus núcleos e introduz o valor semântico do SN (Pollard;Sag, 1994).

Figura 2: Esquema de Dominância Imediata para estruturas de adjunção (Pollard; Sag, 1994:56).

A HPSG não dispõe de restrições para representar demais comportamentos sintáticos e semânticos dos adjetivos (Seção 2). É necessário, portanto, ampliar a gramática para torná-la eficiente na descrição da categoria adjetival.

4. Proposta

A sistematização de propostas de classificação sintática e semântica (Seção 2), parece contribuir para a extensão do sistema de tipos da HPSG.

3 HEAD CONT 4 noun 1 X (núcleo) HEAD CONT 2 adjective [MOD 3] X-adjunto HEAD CONT 2 1 SN object sign

phrase word nominal-object content

psoa

substantive

verb noun adjective . . . functional head

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A classificação determinativo, avaliativo e classificador (SILVA;PRIA, 2002) parece contribuir para a extensão do tipo adjective. Essa extensão possibilita a introdução de um conjunto de restrições sintáticas sobre os adjetivos. À hierarquia de tipos, são introduzidos os tipos determinative, avaliative e classifying correspondentes às três categorias, respectivamente.

Figura 3: Extensão do tipo adjective.

A classificação intersectivo, subsectivo e não-predicativo

(CHIERCHIA;McCONNELL-GINET, 1990) parece contribuir para a extensão do tipo psoa5. Essa extensão possibilita a introdução de um conjunto de restrições sintáticas sobre os adjetivos. À hierarquia de tipos, são introduzidos os tipos intersective, subsective e nonpredicative correspondentes aos três comportamentos, respectivamente.

Figura 4: Extensão do tipo psoa.

A Figura 5 ilustra uma hierarquia de heranças múltiplas parcial6 para os adjetivos great/grande, big/grande, former/antigo e ancient/antigo nos sintagmas nominais great man/grande homem, big man/homem grande, former smoker/antigo fumante e ancient smoker/fumante antigo, respectivamente.

Figura 5: Hierarquia de heranças múltiplas para os adjetivos great/grande,

big/grande, former/antigo e ancient/antigo.

Essa abordagem teórica permite a descrição de aspectos sintáticos e semânticos substantive

verb noun adjective

determinative evaluative classifying

nominal-object content psoa intersective subsective nonpredicative phrasal object noun verb adjective

determinative evaluative classifying word nonpredicative intersective subsective head

sign

content functional substantive

nominal-object psoa

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Sua vantagem está na concisão das informações especificadas e na generalização de informações comuns a grupos de objetos cujos comportamentos são semelhantes nos níveis sintático e semântico-lexical.

5. Conclusão

A incursão pelo tratamento do adjetivo na HPSG demonstra que essa abordagem não agrega ao modelo o conhecimento sintático descrito pelo enfoque funcionalista e propõe-se uma ampliação para o modelo. Assim, propõe-se uma extensão da hierarquia de tipos da teoria a fim de permitir a introdução de restrições sobre adjetivos que compartilham dos mesmos comportamentos sintáticos e semânticos.

Notas

* Capítulo da minha dissertação de mestrado, sob a orientação do professor Bento Carlos Dias-da-Silva, a quem agradeço pelo incentivo. Agradeço também ao William Ramos pelos comentários sobre o material aqui apresentado. Este trabalho teve o apoio da FAPESP (processo 02/10650-8).

1. O delta “ǻ” representa um fragmento da estrutura sintática e o “ǻ” representa a estrutura semântica.

2. Essa leitura está sendo considerada para qualquer mundo w e em qualquer tempo i. O mesmo se aplica à interpretação semântica de adjetivos subsectivos e não-predicativos. 3. O processo de mapear uma expressão para sua forma lógica é chamado interpretação semântica (ALLEN, 1994).

4. Os subsectivos são propriedades altamente dependentes de contexto. Ser grande é relativo a uma propriedade contextual, por exemplo, ser uma formiga ou ser um navio, e assim por diante.

5. Os estados-de-coisas parametrizados ou “psoa” (do inglês, parametrized state of affair), correspondem aproximadamente a fórmulas atômicas de lógica de predicado. 6. A hierarquia é parcial porque não descreve todas as propriedades que podem ser herdades pelos adjetivos em análise.

Referências

ALLEN, J. Natural Language Understanding. 2. ed. The Benjamin/Cummings Publishing Company, 1994.

BORBA, F. S. Uma gramática de valências para o português. São Paulo: Ática, 1996. BOSQUE, I.; PICALLO, C. Postnominal adjective in Spanish DPs. Journal of

linguistics, n. 32, p. 349-385, 1996.

CHIERCHIA, G.; MCCONNELL-GINET, S. Meaning and grammar. Cambridge: The MIT Press, 1990.

CHOMSKY, N. The minimalist program. Massachusetts: The MIT Press, 1995.

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KEMMERER, D. Selective impairment of knowledge underlying prenominal adjective order: evidence for the autonomy of grammatical semantics. Journal of neurolinguistics, n. 13, p. 57-82, 2000.

LUCAS, M. The syntactic classes of antenominal adjectives in English. Lingua, n. 35, p. 155-171, 1971.

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NEVES, M. H. de M. Gramática de usos do português. São Paulo: EDUNESP, 2000. PARTEE, B. H. Privative adjectives: subsective plus coercion. ZIMMERMANN, T.E.

(Ed.) Studies in Presupposition. 2001. (no prelo) Disponível em: http://www-unix.oit.umass.edu/~partee/docs/NoPrivatives2.PDF. Acesso em: 10 out. 2003. POLLARD, C.; SAG, I. Head-driven phrase structure grammar. Standford: CSLI/The

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