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Discurso da Ministra do Mar na sessão de abertura da reunião ministerial do Encontro Internacional dos Oceanos. Lisboa, 3 de junho de 2016

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Discurso da Ministra do Mar na sessão de abertura da reunião ministerial do Encontro Internacional dos Oceanos

Lisboa, 3 de junho de 2016

Senhor Primeiro-Ministro,

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Senhores Ministros e Secretários de Estado,

Senhores chefes das delegações dos países e organizações internacionais aqui presentes,

Senhores Dirigentes de Instituições portuguesas, comunitárias e internacionais,

Minhas senhoras e meus senhores,

Bem-vindos à reunião ministerial do Oceans Meeting 2016!

É com muito gosto e honra que dou as boas vindas a todos e muito especialmente aos que se deslocaram dos seus países para estarem connosco nestes dias.

A vossa presença é demonstrativa do vosso compromisso com o futuro dos oceanos, com o futuro do nosso planeta e das sociedades com que estamos envolvidos.

Por isso agradeço a vossa presença e espero que os trabalhos de hoje sejam um valor acrescentado para os nossos países e organizações.

Portugal tem e assume as suas responsabilidades na Governação dos Oceanos: Como um Estado que tem das maiores áreas marítimas da União Europeia, com a sua vocação Atlântica e de mar profundo específicas, que possibilitam que Portugal disponha de uma diversidade de recursos biológicos, geológicos e geoestratégicos muito procurados pela comunidade internacional;

Como uma nação marítima que demonstrou ser ao longo da sua história, mas reforçada na atualidade pela alta qualificação dos seus recursos humanos nas

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várias disciplinas das ciências e tecnologias do mar (biologia e biotecnologia, geologia e geofísica ou tecnologias oceânicas e subaquáticas);

Como uma nação que percebeu e defende que a Governação do Oceano tem que ser acordada e implementada em cooperação internacional, e por isso tem sido pioneira na formulação e implementação de quadros legais e institucionais a nível europeu e internacional, como é o caso da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (COI-UNESCO), da Lei do Mar (Law of the Sea) ou no contexto europeu do European Marine Board e da Política Marítima Integrada Europeia. Em todos estes Portugal esteve envolvido desde o início tendo sido líder em vários destes processos;

Como uma nação que percebeu e defende que só em diálogo com as populações, e tendo em atenção os estados e regiões ultraperiféricos e ilhas, se pode garantir a sustentabilidade desse recurso que é o Oceano, e por isso tem tido equipas e organizações envolvidas nas questões da Cultura e Literacia dos Oceanos na Europa, propondo, desenvolvendo e promovendo novas abordagens na relação entre as pessoas e o Oceanos, como é o caso do conceito de “Blue Society” que terá uma apresentação durante a Conferência Internacional do Oceans Meeting hoje à tarde.

Por tudo isto assumimos a responsabilidade e o desafio de promover Portugal como uma plataforma de diálogo internacional da Governação dos Oceanos, nas suas diversas componentes através do evento “Oceans Meeting”. Este ano os temas escolhidos foram a Economia do Mar, a Ciência e Inovação no Oceano e a Cultura e Literacia dos Oceanos.

Na nossa perspetiva, e em linha com os últimos relatórios internacionais, a economia do mar (economia azul) tem margem de crescimento, muito no setor portuário e do transporte marítimo ou do turismo, mas precisa ainda assim de maximizar a produtividade e sustentabilidade das suas atividades tradicionais. Achamos que isso só pode ser feito através do “cruzamento produtivo” de algumas dessas atividades, seja nas zonas costeiras (zonas de marinas e portos) seja nas áreas de offshore através de um “planeamento/ordenamento espacial das zonas marítimas” com zonas dedicadas a atividades específicas mas também a multiusos (ex. energia/aquacultura), ou com a utilização de “plataformas offshore multiusos” onde atividades como a produção energética, a aquacultura ou a investigação científica possam ser coexistentes, coordenadas e criadoras de novas cadeias de valor económico, como menos utilização extensiva do espaço marítimo e menos impacto ambiental.

Nas atividades emergentes da economia do mar, Portugal, em linha com as diretrizes internacionais e europeias nomeadamente o Crescimento Azul (Blue Growth), também aposta em áreas como a biotecnologia ou a mineração dos fundos marinhos, mas aí, por falta de informação histórica e empírica, é onde

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se requer maior aposta no conhecimento científico, como base para a tomada de decisões, sejam de carácter económico, ambiental ou de soberania, sobre os recursos e espaços. De lembrar que o “Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 14” do sistema das Nações Unidas, prevê “Conserve and sustainably use the Oceans, seas and marine resources for sustainable devélópment”.

É neste contexto que o Conhecimento Científico é inultrapassável, e não tem sido completamente aproveitado e valorizado nos processos de planeamento e gestão do oceano. Há uma grande incerteza sobre o que existe no Oceano, é reduzido o conhecimento sobre os efeitos das interações de diferentes usos em simultâneo, além de que o Oceano é dinâmico em constante alteração, muito devido às alterações climáticas. Precisamos de mais dados sobre os recursos marinhos e a sua localização, mas precisamos também de ir para lá de uma identificação biofísica dos recursos e assumir uma identificação económica e social com o ambiente marinho, para que seja um planeamento e gestão não conservacionista (de não mexer) mas de utilização sustentável (de usar e proteger o recurso).

É por isso que achámos imprescindível trazer para este evento um debate sobre ciência e tecnologia do mar nas suas componentes biológicas e tecnológica, porque ambas nos podem abrir essas perspetivas de desenvolvimento sustentável. Conhecer o que existe e o seu potencial, e as novas tecnologias que nos permitirão ser o menos intrusivo e impactante possível no ambiente marinho. Simultaneamente estas novas tecnologias poderão criar uma nova fileira de negócio, o que poderá originar novas empresas ou a reconversão de existentes, como por exemplo a construção naval, que poderão diversificar o seu negócio para a construção de equipamentos subaquáticos de exploração e prospeção ou de produção energética.

As populações precisam perceber e interiorizar que os recursos do Oceano são finitos (ao contrário do que se pensou durante muitos anos) mas também de estar conscientes destas novas oportunidades tecnológicas e de como estas podem ajudar a preservar o ambiente e recursos do oceano. É neste contexto que precisamos partilhar com as populações ideias inovadoras de gestão do oceano, para que atitudes de oposição Poluidor/Protector não sejam a cultura vigente. Podemos utilizar os recursos sem prejudicar os ecossistemas, e hoje temos a tecnologia e o conhecimento para criar ferramentas eficazes para tal. Ensinar e aprender com as populações é por isso uma vontade e uma necessidade. Ações orientadas para toda a população mas com cuidado especial com as gerações mais novas são uma prioridade para Portugal. Ações no contexto formal educativo, nas escolas, mas também nos tempos livres, através do desporto ou dos aquários e museus, são uma obrigação dos políticos e dos Estados. Portugal tem dados passos nesse sentido, temos um

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Oceanário que é o museu mais visto em Portugal e na Europa, temos ações de reforço dos desportos náuticos no desporto escolar, temos iniciativas, como o Prémio Mário Ruivo – Gerações Oceânicas, que pretende estimular o interesse e a criatividade das gerações jovens para os assuntos e potencialidades do oceano. As sociedades precisam saber que os oceanos não são só praias paradisíacas e inspiração para artistas, existem factos que precisam de ser interiorizados que mudarão com certeza a forma como olhamos e valorizamos o Oceano. Como por exemplo: que 50% do oxigénio do planeta terra provém do oceano; que o oceano é o habitat de espécies fundamentais na criação de medicamentos para diversas doenças, ou que o Oceano é a principal via de transporte de mercadorias à escala global, para além de fonte de alimento que é o mais reconhecido serviço oceânico.

Estes foram os desafios que colocámos a nós próprios em Portugal:

O desafio da economia, seja no desenvolvimento das atividades económicas tradicionais, seja na aposta na aceleração empresarial das atividades emergentes (energias renováveis offshore e biotecnologias), ou ainda no reforço da nossa centralidade euro-atlântica do ponto de vista portuário e logístico,

Temos consciência que os primeiros agentes deste desafio são as empresas, que são fundamentais para a exploração dos novos recursos do mar, biológicos e geológicos, aumentando a internacionalização e exportação de bens e serviços no sector do mar.

As atividades emergentes da economia do mar, sendo um sector de elevada intensidade em conhecimento e tecnologia, são geradores de alto valor acrescentado, que por si só podem formar uma nova fileira tecnológica inovadora da robótica e automação submarinas, alavancando outras indústrias.

Para uma efetiva alavancagem do investimento empresarial nestas atividades emergentes, foi criado em Portugal, um mecanismo financeiro denominado «Fundo Azul», para apoio ao desenvolvimento da economia do mar, da investigação científica e da proteção e monitorização do meio marinho. Este fundo está aberto a parcerias com outros fundos nacionais ou internacionais. É um instrumento concreto para atrair e alavancar o investimento num setor “capital-intensivo” como é o mar, e uma poderosa uma ferramenta essencial para criar uma poderosa dinâmica de empreendedorismo e de Startups inovadoras.

Mas também assumimos o desafio da soberania, seja em matérias de fiscalização, segurança, proteção, preservação, planeamento ou da literacia oceânica;

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Este potencial e esta responsabilidade, que não é só de Portugal mas de toda a Comunidade Internacional, exigem que se reforce a coordenação transversal do Assuntos do Mar e se garanta uma presença efetiva nos Mares e Oceano. Exige também que se aposte na Literacia para o Oceano, precisamos todos de criar “Gerações Oceânicas” que entendam, valorizem e saibam como utilizar os recursos de forma sustentável.

Na verdade existe uma expressão em Inglês que traduz bem aquilo que é o relacionamento da generalidade da população mundial com o Oceano: “Sea Blindness”.

Só conhecendo o que está abaixo da superfície poderemos usufruir desse potencial de uma forma sustentável, protegendo o capital natural e serviços dos ecossistemas marinhos, essencial para uma verdadeira “Economia Azul”. E em terceiro lugar assumimos o desafio do conhecimento: É este o garante da exploração económica sustentável dos recursos oceânicos, com maior probabilidade de retorno efetivo para as populações.

Possuir conhecimento exige um investimento estratégico na investigação científica ligada ao Mar, mas a médio e longo prazo possibilita um crescimento mais sustentável e duradouro.

Para isso temos em marcha um conjunto de programas e iniciativas que visam a qualificação avançada dos recursos humanos e das Infraestruturas tecnológicas, onde se prevê a criação de um Observatório para o Atlântico, dedicado ao conhecimento e exploração do mar profundo a situar no centro do Atlântico na Região Autónoma dos Açores.

Minhas senhoras e meus senhores,

Como sabem este ano os temas escolhidos foram a Economia do Mar, a Ciência e Inovação no Oceano e a Cultura e Literacia dos Oceanos, que refletem prioridades que não são apenas para Portugal mas, que acreditamos, serem também para todos vós.

Foi também com base nestas prioridades que vos apresentámos uma proposta de Declaração para esta reunião, que com muita satisfação nossa foi extremamente valorizada pelos muitos comentários e sugestões apresentados por muitas delegações, tornando-a mais robusta e abrangente.

O evento Oceans Meeting 2016 e em particular esta reunião acordará uma série de princípios que poderão desde já lançar as bases concertadas entre os países presentes para dois grandes eventos que terão lugar no próximo ano:

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1. A Cimeira das Nações Unidas para apoiar a Implementação do “Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 14”, sobre os Mares e Oceanos;

2. E a Iniciativa da União Europeia sobre Governação Internacional dos Oceanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Agradeço a todos a vossa disponibilidade, presença e contributos em mais este passo na concertação internacional sobre O Oceano e desejo a todos uma boa estadia em Portugal.

Referências

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