Área 4 – Economia e Movimentos Sociais: mercado de trabalho e sindicalismo; política agrária e movimentos sociais no campo; economia solidária; desigualdade étnico-racial e de gênero; movimento estudantil e educação.
Título: Características do trabalho por conta própria no Brasil Autor: Marcos Antonio Tavares Soares Instituição: UESB
Contato: marcostavarespe@gmail.com, tel. 991730041
Características do trabalho por conta própria no Brasil
Resumo:
O objetivo desse estudo é identificar as principais características do trabalho por conta própria no Brasil, analisando de modo articulado os rendimentos, nível de escolaridade, gênero, jornada de trabalho, faixa etária e distribuição regional. Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD/IBGE) do ano de 2008. Com a investigação foi possível compreender a composição do trabalho por conta própria no ano de 2008, perfil dos trabalhadores e suas implicações para estrutura ocupacional brasileira. Palavraschave: Trabalho por conta própria. Estrutura ocupacional. Capitalismo. 1. Introdução
O objetivo desse estudo é investigar o papel dos trabalhadores por conta no processo de desenvolvimento do capitalismo brasileiro, particularmente no que se refere as suas principais características e implicações. Entendese que a categoria trabalhador por conta própria sob a regência do capital integrase ao sistema de modo subordinado, sendo sua função, sua renda e seu espaço de reprodução determinados, limitados e recriados pela produção capitalista. Assim, a compreensão do objeto de estudo passa pela compreensão das transformações nas relações de produção que ocorreram na economia brasileira.
Segundo o IBGE, trabalhador por conta própria se refere a “pessoa que trabalhava explorando o seu próprio empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado e contando, ou não, com ajuda de trabalhador não remunerado”. Nesse trabalho, partindo da definição supracitada e utilizando os dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD/IBGE) de 2008, serão apresentadas as principais características dos trabalhadores por conta própria.
Identificar as principais características dessa forma de inserção ocupacional que se mantém atual e relevante, sendo responsável pela ocupação e geração de renda
para um quinto (1/5) dos ocupados com remuneração no Brasil na última década, é uma das razões que justificam a presente investigação.
Vale destacar que são poucos os estudos que investigaram especificamente a categoria trabalho por conta própria. A maior parte da produção acadêmica que esteve voltada para análise do excedente populacional e das formas de inserções desses trabalhadores e de outros não assalariados, centrouse na investigação da informalidade, conjunto amplo de formas de inserção na estrutura ocupacional, de modo não assalariado, de baixa produtividade, no qual o trabalho por conta própria é compreendido como uma parte desse todo. Ao tratar da questão do trabalho por conta própria, nessa perspectiva agregada, perdese a possibilidade de observar as possíveis especificidades dessa categoria analítica. Geralmente, os trabalhadores por conta própria aparecem diluídos nesse amplo conjunto de trabalhadores informais que representa algo em torno de 50% das ocupações não agrícolas.
Com essa constatação, não se quer diminuir a importância dos estudos que trataram e tratam da informalidade de modo amplo, apenas se intenciona mostrar com a presente investigação a importância de um estudo mais profundo e específico sobre a categoria trabalho por conta própria. Podendo inclusive, a partir daí, contribuir não só para a compreensão das razões da sua expansão e seu papel no desenvolvimento do capitalismo brasileiro, como também, destacar quais semelhanças, diferenças e como ele se articula com o conjunto de trabalhadores não assalariados.
Para além da divisão analítica dos trabalhadores por conta própria em qualificados e não qualificados ou em trabalhadores precários de baixo rendimento e os profissionais liberais com rendimento mais elevado, nesse estudo compreendese que esses trabalhadores apresentam uma característica peculiar, como a sua distribuição proporcional nas três faixas de rendimentos, diferente dos assalariados sem carteira e assalariados com carteira que se apresentam concentrados em duas das três faixas de remuneração. Os dados permitem afirmar que os trabalhadores por conta própria estão presentes nos estratos sociais composto pelos trabalhadores pobres, com renda abaixo de um salário mínimo, e também nos estratos típicos dos trabalhadores de classe média.
Os assalariados sem carteira se concentram majoritariamente entre os baixos rendimentos e na faixa de renda de um e menos de dois salários mínimos. Já os assalariados com carteira estão presentes nas faixas de um a menos de dois SM e de dois e mais. Essa constatação revela a importância do trabalho por conta própria para a determinação da heterogeneidade de rendimentos na estrutura ocupacional brasileira.
A primeira parte desse estudo trata de forma breve da participação do trabalho por conta própria ao longo do século XX na estrutura ocupacional brasileira. Na segunda parte são apresentadas as principais características desses trabalhadores como: distribuição por faixa de rendimento, gênero, faixa etária e distribuição regional. Na última parte são apresentadas as considerações finais acerca da investigação.
2. Trabalho por conta própria não agrícola na estrutura ocupacional brasileira no século XX.
Ao longo do processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, observase a existência continuada de trabalhadores que contribuem para o produto social, exercendo suas atividades econômicas sem vínculo empregatício, seja na condição de empregado ou de empregador, podendo ter sócios e/ou ajudantes não remunerados, situação ocupacional esta denominada pelo IBGE como trabalho por conta própria. O Censo Demográfico brasileiro de 1940 (IBGE/1950), por exemplo, já apresentava o expressivo número 28,5% de trabalhadores nessa situação.
Nas décadas de 1950, 1960 e 1970, com o processo mais intenso de industrialização, crescimento econômico e proletarização da força de trabalho, observouse a redução da participação desses trabalhadores na estrutura ocupacional não agrícola, ao mesmo tempo em que avançava a estruturação do mercado de trabalho. Esse processo implicou na redução da participação dos trabalhadores por conta própria no total da ocupação, quando em 1977 atinge o nível mais baixo de 17,7% dos ocupados não agrícolas.
No ano seguinte, como reflexo da queda do crescimento econômico, elevase para 19%, iniciando a partir desse ano a trajetória de crescimento na ocupação não 4
agrícola, que se estenderá pelas décadas de 1980 e 1990, chegando em 1999 a representar 23% das ocupações, só voltando a cair em meados dos anos 2000, quando se inicia uma fase de crescimento com geração de emprego formal suficiente para absorver o crescimento da PEA e também para reduzir parte do estoque de desempregados (desemprego aberto).
Desse modo, desde os anos de 1970 que a participação desses trabalhadores na ocupação global, apesar das flutuações, apresenta valores próximos a um quinto (1/5) da ocupação não agrícola. Nos períodos de crescimento econômico o contingente de trabalhadores por conta própria tende a apresentar redução de participação na ocupação urbana. Essa redução decorre do crescimento do emprego formal que se dá em maior magnitude do que a expansão das ocupações por conta própria.
Mesmo quando decresceu em termos relativos, o trabalho por conta própria se expandia em números absolutos. Assim, nas diversas fases econômicas – crescimento, estagnação e recessão – um número maior de pessoas passam a exercer atividades econômicas por conta própria. Essa constatação aponta para uma das características do subdesenvolvimento, que é a capacidade do desenvolvimento econômico se dá com manutenção e reprodução de trabalho não assalariado em grande proporção.
Entendese nessa investigação que a intensificação do processo flexibilização do trabalho engendrado a partir dos anos de 1990, em decorrência da reestruturação produtiva e organizacional e das políticas de regulação permissiva do mercado de trabalho contribuiu para que mesmo nas fases de crescimento da economia e do emprego, ainda assim o trabalho por conta própria se expandisse. Com isso, a título de terceira hipótese, afirmase que no atual estágio de desenvolvimento do capitalismo brasileiro parte da expansão do trabalho por conta própria está associado ao emprego disfarçado. A partir da década de 1990 avançou no Brasil e no mundo formas de gestão da força de trabalho que atendem ao imperativo de reduzir custos da produção via a utilização do trabalho flexível.
Desse modo, o avanço dochamado emprego disfarçado ou “trabalho por conta
alheia” pode ser uma das causas da expansão verificada do trabalho por conta própria entre os anos de 2004 e 2008 no Brasil. Esse trabalhador inserido no processo de 5
acumulação de capital, apesar de não ser empregado assalariado, modo clássico de subordinação do trabalho ao capital, está de fato na condição de trabalhador produtivo ou improdutivo para o capital. Isto é, participa diretamente (se produtivo) ou indiretamente (se improdutivo) do processo de valorização1.
3. Caracterização dos trabalhadores por conta própria
Segundo o IBGE, trabalhador por conta própria se refere a “pessoa que trabalhava explorando o seu próprio empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado e contando, ou não, com ajuda de trabalhador não remunerado”. Nesse item, partindo da definição supracitada e utilizando os dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD/IBGE) de 2008, serão apresentadas as principais características dos trabalhadores por conta própria. No primeiro subitem, 3.1, serão apresentados os dados referentes à renda dos trabalhadores por conta própria. No subitem 3.2, a investigação se detém nas informações de faixa etária, gênero e escolaridade média desses trabalhadores. No subitem 3.3 serão apresentados os dados referentes à jornada e distribuição regional.
3.1 Rendimento do trabalho
A compreensão dos determinantes da heterogeneidade dos rendimentos do trabalho por conta própria passa pela análise do processo de estruturação do mercado de trabalho articulado ao padrão de desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Em países com processos de industrialização tardios, como o Brasil, o mercado de trabalho se apresenta pouco estruturado, com elevada desigualdade de renda e com elevada participação dos trabalhadores não formais na estrutura ocupacional. O crescimento do emprego urbano, principalmente nos setores mais dinâmicos da economia capitalista,
1Marx, discussão acerca do trabalho produtivo e improdutivo no “Capítulo VI Inédito de O Capital”, p. 108-120, 2004.
foi acompanhado pela expansão do trabalho por conta própria em termos absolutos, estando sua participação relativa condicionada pelo crescimento econômico e pela magnitude da ampliação do emprego.
A redução da participação dos trabalhadores por conta própria na ocupação global pode ser observada a partir da década 1950 até o ano de 1977, quando se registrou 17,7% de trabalhadores por conta própria na estrutura ocupacional urbana contra 28,5% em 1940. Apesar disso, o emprego urbano gerado não era suficiente para atender a oferta de trabalho resultante do crescimento da PEA e do movimento migratório campocidade que exerceram forte pressão no mercado de trabalho. Assim avançavam o emprego – nos setores com maior incorporação do progresso tecnológico – e o subemprego e formas de trabalho não assalariadas, principalmente nos setores de menor progresso tecnológico. Resultou desse processo a heterogeneidade na estrutura ocupacional e nos rendimentos do trabalho.
Analisando os dados do ano de 2008, referentes à remuneração dos trabalhadores assalariados e os rendimentos dos trabalhadores por conta própria, observase a heterogeneidade dos rendimentos comuns as duas situações, a regulamentada e não regulamentada típica (assalariada sem carteira e trabalho por conta própria), estando os baixos rendimentos – menos de um salário mínimo associados a esta última situação. Contudo, estes trabalhadores também se situam em outras faixas de renda.
Os dados da tabela 1 mostram a precariedade da renda para parte significativa do contingente de trabalhadores por conta própria e assalariados sem carteira, respectivamente 36,5%, e 43,7%. Essa precarização resulta do baixo dinamismo econômico e da ausência de política sociais, pois mesmo nas décadas de intensa industrialização e crescimento econômico não se viu no Brasil a estruturação do estado social comum as sociedades salariais dos países desenvolvidos capaz de assegurar condições de vida dignas aos trabalhadores que estavam fora do mercado de trabalho.
No estrato de renda de um até dois salários mínimos, encontrase mais da metade dos trabalhadores (assalariados e conta própria), o equivalente a 53,6% do total. Nessa faixa, o percentual dos ocupados por conta própria é de 35,7%, ficando bem 7
abaixo do observado para o conjunto dos trabalhadores assalariados que é de 58,3%. Para as faixas subseqüentes – dois e mais SM os percentuais para as duas situações ocupacionais são bem próximos, com uma pequena diferença positiva de meio ponto percentual para os trabalhadores por conta própria que apresentam 27,8% contra 27,3% para os assalariados. Tabela 1 Distribuição dos trabalhadores não agrícolas por conta própria e assalariados, segundo faixas de renda. Brasil, 2008. Faixas de renda Conta Própria Todos Assalariado s Assalariado sem carteira Assalariado com carteira 0 a 1/2sm 19,7% 7,2% 22,4% 0,1% 1/2sm a 1sm 16,8% 7,2% 21,3% 0,7% Subtotal – menos de 1sm 36,5% 14,4% 43,7% 0,8% 1sm a 2sm 35,7% 58,3% 45,1% 64,4% 2sm a 5sm 20,5% 19,6% 8,6% 24,7% 5sm a 10sm 5,2% 5,3% 1,8% 6,9% 10 e mais sm 2,1% 2,4% 0,8% 3,1% subtotal de 2 e mais 27,8% 27,3% 11,2% 34,7% Total 100% 100,0% 100% 100% Fonte: microdados da PNAD/IBGE, 2008. Elaboração do autor. Salário mínimo de 2008, R$415,00.
Do total dos 67,7 milhões de trabalhadores não agrícolas ocupados com renda, com exceção dos empregadores, 19% são trabalhadores com baixos rendimentos, 12,8 milhões de trabalhadores que ganham menos de um salário mínimo. Destes, o trabalho por conta própria responde por 39,6%, e os assalariados sem carteira por 58%. Considerando um salário mínimo como linha de corte da pobreza, observase que os trabalhadores pobres são essencialmente os assalariados sem carteira e os trabalhadores por conta própria.
Outro ponto a ser destacado entre os trabalhadores com baixos rendimentos, é a expressiva participação daqueles que auferem rendimento de zero a menos de meio salário mínimo, o que equivale a mais da metade dos trabalhadores de baixo rendimento ou 51,5% desse total. São os trabalhadores de baixíssimos rendimentos. Dos trabalhadores por conta própria com baixo rendimento, 54% deles estão na faixa de baixíssimos rendimentos, enquanto 46% dos assalariados sem carteira se encontram na mesma condição.
3.2 Gênero, faixa etária e escolaridade
Do conjunto dos trabalhadores ocupados em 2008, assalariados e conta própria, 55,2% são homens e 44,8% são mulheres. Observando separadamente a distribuição por gênero, a participação das mulheres é maior entre os assalariados do que no trabalho por conta própria, respectivamente 46,4% e 38,8%.
A tabela 2 mostra que elas são maioria nas faixas de rendimento mais baixos e a situação ainda se agrava na condição de assalariamento. Nos trabalhadores por conta própria, as mulheres representam 66,2% dos trabalhadores com baixíssimos rendimentos e 57,2 dos trabalhadores de baixa renda. Vale destacar que, de um lado, à medida que a renda aumenta a participação delas é reduzida, e de outro, ocorre o inverso com os homens. Características essa que não é exclusiva dos trabalhadores por conta própria, pois se observa o mesmo movimento com os assalariados. 9
Tabela 2 Distribuição dos trabalhadores por conta própria e assalariados, segundo gênero e faixa de renda. Brasil, 2008.
Total Conta própria Assalariados Faixas de renda Masc Fem Masc Fem Masc Fem 0 a 1/2sm 31,1 68,9 33,8 66,2 29,2 70,8 1/2sm a 1sm 45,1 54,9 53,5 46,5 40,1 59,9 Subtotal ( menos de 1 sm) 37,9 62,1 42,8 57,2 34,7 65,3 1sm a 2sm 54,6 45,4 68,9 31,1 52,3 47,7 2sm a 5sm 68,1 31,9 74,9 25,1 66,2 33,8 5sm a 10sm 67,1 32,9 75,9 24,1 64,9 35,1 10 e mais Subtotal ( 10 e mais SM) 72,9 68,3 27,1 31,7 80,9 75,5 19,1 24,5 71,1 66,4 28,9 33,6 Total 55,2 44,8 61,2 38,8 53,6 46,4 Fonte: microdados da PNAD/IBGE, 2008. Elaboração do autor.
Nos assalariados o peso dos jovens é de 27%; adultos na faixa etária entre 26 e 39 anos 39,1%; e na última faixa 33,9%, adultos com mais de 39 anos. Constatase que na distribuição por faixa etária o jovem tem maior inserção no assalariamento do que no trabalho por conta própria.
Entre os trabalhadores por conta própria a distribuição por faixa etária é bem desigual, predominando os adultos com 88,7%, sendo 57,1% com mais de 39 anos; cabendo ao jovens a participação de 11,3%. Essa baixa participação dos jovens pode decorrer da permanência dos adultos na atividade por mais tempo e indicar que essa não é a porta de entrada principal para os jovens.
Vale destacar que 56,7% dos jovens são trabalhadores de baixos rendimentos e, à medida que aumenta a renda reduz sua participação. Com os adultos ocorre o contrário. O mesmo movimento também é observado entre os assalariados.
A maioria das mulheres conta própria, 53,8%, aufere baixo rendimento e só 17,5% está na faixa de renda dois salários mínimos e mais (tabela 3). Com relação aos homens essa distribuição é mais equilibrada, e a maior concentração está na faixa de um a menos de dois salários mínimos, com 40,2% deles; 34,3% na faixa dois e mais salários mínimos; e 25,5% na faixa de baixos rendimentos.
Tabela3 Distribuição dos trabalhadores por conta própria, segundo gênero e faixa de renda. Brasil, 2008.
Total 10 a 25 anos 26 a 39 anos 40 e mais
Conta Própria Total Masc Fem Total Masc Fem Total Masc Fem Total Masc Fem
0 a 1/2sm 19,7 10,9% 33,7% 34,8 % 25,7% 48,9% 16,9% 7,5% 30,5% 18,3 % 9,8% 32,4% 1/2sm a 1sm 16,8 % 14,7% 20,2% 21,9 % 22,7% 20,5% 16,2% 14,5% 18,8% 16,1 % 13,2% 20,9% Subtotal (até 1 sm) 36,5 % 25,5 % 53,8 % 56,7 % 48,4 % 69,4 % 33,1 % 22,0 % 49,3 % 34,4 % 23,0% 53,3 % 1sm a 2sm 35,7 % 40,2 % 28,6 % 30,6 % 36,4 % 21,6 % 36,8 % 41,2 % 30,3 % 36,1 % 40,4% 29,1 % 2sm a 5sm 20,5 % 25,1% 13,3% 10,9 % 13,2% 7,5% 22,7% 27,8% 15,3% 21,2 % 25,9% 13,2% 5sm a 10sm 5,2% 6,5% 3,3% 1,6% 1,7% 1,4% 5,4% 6,4% 3,9% 5,9% 7,4% 3,3% 10 sm e mais 2,1% 2,7% 1,0% 0,3% 0,4% 0,1% 2,1% 2,6% 1,3% 2,4% 3,2% 1,1% Subtotal(2sm e mais) 27,8 % 34,3 % 17,5 % 12,8 % 15,2 % 9,0% 30,2 % 36,8 % 20,5 % 29,5 % 36,6% 17,6 % Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Fonte: microdados da PNAD/IBGE, 2008. Elaboração do autor.
Por sua vez, entre os jovens a maioria, 56,7%, auferem baixos rendimentos e mais da metade das mulheres também estão na mesma situação. Os dados sobre escolaridade e jornada são apresentados nas tabelas 4 e 5.
Com relação à escolaridade, a diferença entre o grupo de baixos rendimentos que tem até o ensino fundamental e o subseqüente é de 7.2 pontos percentuais. Vale salientar que nesses dois grupos se encontram mais de 70% dos trabalhadores por conta própria. Já para os maiores rendimentos, à medida que a renda cresce se reduz a baixa escolaridade e ampliase o número de trabalhadores com ensino superior completo. Tabela4 Distribuição dos trabalhadores por conta própria, segundo faixa de renda e Nível de instrução mais elevado alcançado. Brasil, 2008. Total 0 a 1/2s m 1/2sm a 1sm Subtota l menos de 1sm De 1sm a meno s de 2sm Subtota l 2sm e mais 2sm a 5sm 5sm a 10sm 4150,0 0 e + Sem instrução 8,4% 16,0% 11,8% 14,1% 7,2% 2,5% 2,9% 1,9% 0,5% Fundamental incompleto 40,1% 49,3% 46,0% 47,8% 43,5% 25,6% 29,4% 16,3% 11,0% Fund completo 12,4% 9,9% 11,9% 10,8% 14,8% 11,4% 13,0% 7,9% 4,4% Subtotal 60,9 % 75,3 % 69,7 % 72,7% 65,5 % 39,5% 45,3 % 26,0 % 15,9% Médio incompleto 6,1% 6,9% 7,4% 7,1% 5,7% 5,3% 6,0% 4,1% 1,9% Médio completo 22,6% 15,3% 19,5% 17,2% 23,2% 28,8% 29,8% 27,5% 22,6% Superior incompleto 2,9% 1,1% 1,3% 1,2% 2,1% 6,3% 5,6% 7,7% 8,6% Superior completo 7,1% 1,0% 1,6% 1,3% 3,2% 19,9% 13,0% 34,7% 51,0% Não determinado 0,4% 0,5% 0,5% 0,5% 0,4% 0,2% 0,2% 0,0% 0,0% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Fonte: microdados da PNAD/IBGE, 2008. Elaboração do autor. 3.3 Jornada de trabalho e distribuição regional 12
Analisando os dados referentes a jornada de trabalho, observase que a diferença de jornada de trabalho entre os trabalhadores situados nas duas primeiras faixas de renda é bem significativo com 36.1 pontos, porém entre os componentes da segunda faixa e da terceira a diferença é de apenas 5.8 pontos. Considerando mais duas faixas de renda, uma, de 5 a 10 SM, e outra, de 10 e mais, verificase que não há diferença de jornada de trabalho para o conta própria de maior rendimento.
Vale destacar a extensa jornada para os trabalhadores que auferem rendimentos igual ou maior que dois salários mínimos, aproximadamente 50% deles tem jornada superior a 44h semanais. No grupo de trabalhadores de baixo rendimento, observase um elevado contingente de 28,7% com jornada acima de 44h. Dados esse que confirma o grau de precariedade desses trabalhadores pobres. Tabela 5 Distribuição dos trabalhadores por conta própria, segundo faixa de renda e jornada de trabalho. Brasil, 2008. Total 0 a 1/2sm 1/2sm a 1sm Subtota l até menos de 1sm 1sm a meno s de 2sm Subtot al 2sm e mais 2sm a 5sm 5sm a 10sm 4150,0 0 e + Jornada de trabalho de 0 a 14 9,2% 28,4% 9,6% 19,8% 3,6% 2,5% 2,7% 2,5% 1,5% 15 a 39 28,9 % 46,3% 38,8% 42,9% 22,9 % 18,2% 17,4% 19,9 % 21,5% Subtotal até 39h 38,1 % 74,7% 48,4 % 62,6% 26,5 % 20,7% 20,1% 22,4 % 22,9% 40 a 44h 26,2 % 12,0% 22,9 % 17,0% 32,0 % 30,7% 30,8% 30,1 % 31,9% Subtotal mais de 44h 35,7 % 13,3% 28,7 % 20,4% 41,5 % 48,6% 49,2% 47,5 % 45,2% 45 a 48 11,7 % 4,2% 11,1% 7,3% 15,5 % 12,7% 13,7% 10,5 % 7,6% 13
49 e mais 24,0 % 9,2% 17,6% 13,0% 26,0 % 35,9% 35,4% 37,0 % 37,6% Total 100 % 100% 100% 100% 100 % 100% 100% 100% 100% Fonte: microdados da PNAD/IBGE, 2008. Elaboração do autor.
O Sudeste apresenta o maior contingente de trabalhador por conta própria com 41,9%, depois vem o Nordeste com 28,4%, o Sul com 13,3%, Norte com 8,7% e o Centrooeste com 7,6%, a menor participação.
Os dados por regiões mostram que os trabalhadores com melhores rendimentos se concentram no Sudeste com 60% e no Sul com 19,9%. Já o Nordeste que tem o segundo maior contingente de conta própria, na faixa de renda mais elevada o seu contingente de conta própria só supera o do Norte (tabela 6).
O conta própria da produção de bens e serviços de reparação e manutenção, com renda igual ou superior a 10 sm, 64,7% se encontra no Sudeste; 14,9% no sul; 12,1% no Centrooeste; e apenas 4,9% no Nordeste. Dos ocupados como vendedores e prestadores de serviço, na faixa de 10 sm e mais, o Sudeste tem 39,2% do total, o Sul 26,8% e o Nordeste 15,8%. (tabela? Anexo). Tabela6 Distribuição dos trabalhadores por conta própria, segundo faixa de renda e regiões. Brasil, 2008 Regiões Total 0 a 1/2sm 1/2sm a 1sm Subtota l menos de 1 sm 1 a menos de 2sm 2sm a 5sm 5sm a 10sm 10 e + Nordeste 28,4 50,2 39,3 45,2 23,7 13,5 10,4 8,6 Sudeste 41,9 27,5 34,4 30,6 44,0 52,5 58,0 60,0 Sul 13,3 8,0 9,0 8,5 13,5 19,3 19,5 19,9 Centrooest e 7,6 5,4 6,1 5,7 8,7 9,0 8,0 8,7 Norte 8,7 9,0 11,3 10,1 5,8 4,0 2,8 14
10 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 Fonte: microdados da PNAD/IBGE, 2008. Elaboração do autor.
Com base nos dados, podese concluir que os trabalhadores de baixo rendimento estão concentrados na região Nordeste com 45,2% do total, seguido pela região Sudeste. Contudo a forte participação desses trabalhadores nesta última região devese ao fato da mesma representar 41,9% do total de trabalhadores por conta própria brasileiros contra 28,4% no Nordeste e 13,3% no Sul.
4. Considerações finais
Os dados permitem afirmar que as ocupações por conta própria não se configuram como a principal porta de entrada para os jovens trabalhadores; parte significativa das baixas remunerações se devem a jornadas de trabalho irregular e baixo nível de instrução, já boa parte daqueles que auferem rendimentos mais elevados apresentam jornadas de trabalho acima de 44 horas semanais.
Os trabalhadores por conta própria são representados de forma significativa nas três faixas de renda selecionadas, deferente dos trabalhadores assalariados que se concentram na faixa de rendimento que vai de 1 salário mínimo a menos de 2 salários mínimos. Estes trabalhadores se apresentam com uma heterogeneidade significativa em relação a rendimentos médios quando comparado aos trabalhadores assalariados.
Os trabalhadores por conta própria se distribuem nas três faixas de renda de forma peculiar, pois praticamente um terço (1/3) deles se localizam em cada faixa de renda, sendo a participação mais representativa na faixa inferior, e menos representativa na faixa superior. Isso no caso de considerar apenas três faixas de renda de 01 salário mímino (SM), de 12 SM, e de 2 e mais SM , a diferença entre a primeira e a última faixa de renda não passa de 8,8 percentuais para o ano de 2008. Mas, mesmo que sejam
consideradas as quatros faixas de renda superiores, ainda assim o trabalho por conta própria apresenta uma distribuição heterogênea semelhante à dos assalariados (tabela1).
Essa distribuição dos trabalhadores por conta própria tem pelo menos três implicações importantes. Primeiro, a elevada participação desses trabalhadores na faixa inferior na ordem de 36,5%, revela a contribuição desses trabalhadores para a heterogeneidade de renda do trabalho na estrutura ocupacional brasileira.
Segundo, aponta para a ausência de políticas sociais e para as debilidades do padrão de desenvolvimento do capitalismo brasileiro que não tem sido capaz de criar postos de trabalho suficientes para ocupar a maior parte da força de trabalho existente e nem gerar renda que possibilite aos trabalhadores que se encontram nos espaços intersticiais – lócus de manifestação de atividade de baixa produtividade – sair da pobreza2.
Terceira e mais importante para o objetivo desse estudo, a participação desses trabalhadores em diversos estratos de renda implica em diferentes papéis assumidos por eles no desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Assim, enquanto os de baixa renda são funcionais à medida que contribuem para o produto social fornecendo bens e serviços para os trabalhadores de baixos salários e por evitarem uma possível convulsão social; a outra parte dos trabalhadores por conta própria que se encontram nas faixas de renda seguintes podem também contribuir direta ou indiretamente para o processo de acumulação de capital, o que justificaria a expansão do trabalho por conta própria nas fases de crescimento da economia.
Nas faixas de renda seguintes, observase que as três situações ocupacionais estão representadas. Sendo que os trabalhadores por conta própria têm participação expressiva em ambas, enquanto os assalariados sem carteira se concentram nas duas primeiras faixas, as quais juntas representam 88,8% do contingente. Já com os assalariados com carteira ocorre o inverso, praticamente todos estão nas faixas posteriores a dos trabalhadores pobres, com concentração mais expressiva na que vai de
2Utiliza-se nesse trabalho como linha de corte da pobreza o valor de um salário mínimo, por entender que pela própria definição do termo, ele deveria atender as necessidades básicas, embora o DIEESE estabeleça um valor quatros vezes maior para essa renda mínima.
1 a menos de 2 salários mínimos com 64,4%, e na faixa de 2 e mais salários mínimos com 34,8%.
Com isso, destacase o caráter peculiar dos trabalhadores por conta própria ao se observar a distribuição dos trabalhadores em três faixas de renda: a primeira já citada, a participação quase paritária nas três faixas; a segunda é que eles dividem com os assalariados sem carteira a condição de trabalhadores pobres, precários, subocupados (baixa jornada) e subremunerados, comuns aqueles que estão na faixa dos baixos rendimentos (menor que um salário mínimo); a terceira, a distribuição dos trabalhadores por conta própria na última faixa de renda (2 e mais salário mínimos) apresenta distribuição semelhante aos trabalhadores assalariados com carteira e aos assalariados em geral.
Assim, os trabalhadores por conta própria dialeticamente contribuem para heterogeneidade de renda da estrutura ocupacional brasileira ao mesmo tempo em que são reflexo dela. Estes expressam o que tem de mais deletério nela que é a condição de trabalhador pobre visàvis manifestarse também no extrato superior, lócus dos melhores rendimentos, apresentando padrão de vida que se aproximam dos trabalhadores assalariados melhor posicionados.
Diante da constatação da peculiar heterogeneidade do trabalho por conta própria, acreditase que a distribuição desses trabalhadores nas diversas faixas de renda implica em diferentes condições de trabalho e de vida e possivelmente em funções diferenciadas no processo de acumulação de capital e de reprodução da sociedade burguesa.
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