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A SALA DE AULA COMO DESAFIO PARA A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

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Academic year: 2021

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A SALA DE AULA COMO DESAFIO PARA A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

Neide Pena Cária Doutora em Educação: Currículo (PUC/SP) Docente na Universidade do Vale do Sapucaí (Univás)

Resumo

O presente artigo versa sobre a sala da sala como desafio à formação de professores profissionais. Tem-se como objetivo chamar a atenção dos profissionais da educação para a construção de novas relações em sala de aula a partir do conhecimento das características das gerações a que pertencem os alunos, especificamente, a geração Y e a Z. O estudo originou-se de duas pesquisas cadastradas no Programa de Iniciação Científica da Universidade do Vale do Sapucaí (Univás), realizadas com o apoio da FAPEMIG, em que se investigou a percepção dos discentes sobre a sala de aula e o conhecimento dos docentes sobre as gerações que chegam às escolas. Os resultados dessas pesquisas motivaram o presente artigo que propõe aos profissionais da educação procurar conhecer as características dos alunos das novas gerações que chegam às escolas e busquem desenvolver novas competências profissionais a fim de adequar a sala de aula a esse público, de modo a otimizar este espaço de produção de conhecimento, tornando-o mais produtivo e eficaz para todos.

Palavras-chave: Sala de aula. Formação docente. Geração Y e Z.

1 Introdução

Este estudo origina-se de resultados finais de duas pesquisas, que fazem parte do Programa de Iniciação Científica da Universidade do Vale do Sapucaí (Univás/MG), realizadas em escolas públicas, da cidade de Pouso Alegre, Sul de Minas Gerais, e contaram com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Ambas as pesquisas são subprojetos de um projeto mais amplo que estuda a formação de professores profissionais para a educação básica, tendo como sujeitos de pesquisa o aluno e os profissionais da educação e como foco a sala de aula. O pressuposto que orienta este projeto de pesquisa é o de que a sala de aula é o lugar de encontro de experiências, saberes, expectativas, reflexão, mas também de incertezas, contradição e confrontos; envolve uma relação pedagógica, de natureza assimétrica, entre sujeitos históricos que pode ser comparado ao “poder disciplinar”, estudado por Foucault (1996). Trata-se de um espaço de poder em que o professor assume o poder disciplinar não apenas da palavra e do saber, mas também dos corpos.

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Ao revelar, na percepção dos alunos e dos professores, que o desinteresse, o falatório, o desrespeito são o que mais incomoda atualmente o ensino e a aprendizagem (CÁRIA, 2013), os resultados das pesquisas trouxeram à tona o perfil do público que frequenta atualmente as salas de aula e as competências profissionais necessárias para lidar com esse novo público, ou seja, com esta nova sala de aula. Como um processo em cadeia, levantou-se a necessidade de um repensar sobre as competências profissionais dos docentes; seu processo de formação, inicial e continuada, em serviço, ou não, e a necessidade de encontrar novos caminhos que garantir condições de ensino e de aprendizagem.

Com este propósito, procura-se neste artigo, abordar a temática da sala da sala como desafio à formação de professores profissionais, tendo como objetivo chamar a atenção dos profissionais da educação para a construção de novas relações em sala de aula, a partir de novos parâmetros de identificação entre professor e aluno, baseados no conhecimento das características das novas gerações que chegam à escola e, assim, procurar adequar a sala de aula a esse público, de modo a otimizar este espaço de produção de conhecimento, tornando-o mais produtivo para todos.

Toma-se como amparo teórico uma revisão de literatura realizada no decorrer das pesquisas sobre a classificação das gerações, a partir da década de 1950, com foco nas gerações Y e Z; em Oliveira (2009) e em pesquisas de mercado, divulgadas na mídia.

2 A propósito da formação profissional docente para as novas gerações

Por que o estudo das gerações deve interessar aos profissionais da educação? Como a compreensão das características das novas gerações que chegam às escolas, ano após ano, pode contribuir para um melhor relacionamento intrapessoal e interpessoal em sala de aula, propiciando, assim, mais condições de ensino e de aprendizagem?

Diversas questões que envolvem a sala de aula, seus processos e seus atores, já mereceram a atenção de diversos estudiosos e pesquisadores, o que poderia levar o tema a ser considerado desgastado não fosse o fato de os problemas de comportamento em sala de aula serem apontados na literatura e nas pesquisas como o principal desafio da docência. Conhecer as características das gerações, até o presente momento, tem despertado o interesse apenas de empresários e instituições de pesquisa do mercado, com foco no consumo dessas gerações e pelo potencial de lucro que eles representam

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neste segmento. Poucos são os estudos destinados a observar como as características e expectativas das novas gerações podem influenciar a dinâmica de uma sala de aula e da escola, como um espaço institucionalizado onde se dá o processo de identificação desses sujeitos com o conhecimento e com a estrutura formal, disciplinada, própria desta instituição, no mundo capitalista.

O mundo capitalista construiu um sistema capaz de moldar um sujeito passivo e disciplinado, inserido no sistema de poder que pode ser comparado ao poder disciplinar, conforme denominado por Foucault (1996). O poder disciplinar, segundo Foucault (1996), é antes de tudo, uma forma de organizar o espaço por meio de micro práticas de poder. Trata-se de uma maquinaria que impõe uma nova forma ao indivíduo, modela seus modos de ação, isola-o e com esses e outros mecanismos de controle impõe também nas instituições e na sociedade forças coercitivas do modelo econômico vigente. Essas micropráticas de poder produzem uma mecânica que impõe regularidade e ordem, sujeita os corpos, impõe hierarquia e ajusta os sujeitos a um aparelho de produção e, ao mesmo tempo atua como mecanismo para silenciar os efeitos de poder da suposta moderna democracia; do poder econômico sobredeterminando, o político e o social.

Instituída neste espaço de relações de poder, a sala de aula foi sendo transformada ao longo dos anos, devido às mudanças sociais e econômicas do país nas últimas décadas, ao crescente acesso da população em idade escolar à educação e ao desenvolvimento das tecnologias, exigindo cada vez mais dos professores, não apenas formação especializada, mas também outras competências profissionais (CÁRIA, 2013). Ou seja, o ensino não é mais uma questão apenas de um conjunto de saberes cognitivos, utilização de tecnologia, nem tarefa de transmissão de conteúdos e utilização de métodos definidos a priori e, sim “uma atividade humana, um trabalho interativo, ou seja, um trabalho baseado em interações entre as pessoas” (TARDIF, 2012, p. 118). Portanto, para desencadear interações positivas em uma sala de aula, que são por si mesmas carregadas de subjetividade (CÁRIA, 2006), conhecer melhor as características das novas gerações que chegam às escolas, identificar as suas expectativas e possibilidades poderá ser uma oportunidade para adequar conteúdos e práticas a um interesse comum.

Essa nova realidade da sala de aula ou da escola traz à tona a necessidade repensar a formação de profissionais da educação para novas perspectivas ou inovações em sala de aula (TEDESCO; TENTI, 2002), com novas estratégias de gerenciamento

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dos processos de ensino e de aprendizagem. O gerenciamento da sala de aula tem sido um dos grandes desafios dos profissionais que se dedicam ao trabalho da docência, em todos os níveis de forma distinta.

Nessa perspectiva, o conhecimento das gerações que constituem o público da escola e as relações que se estabelecem em sala de aula no desenvolvimento do trabalho educativo permeia o processo de profissionalização docente e nunca será tema desgastado de estudo, enquanto houver escola, pois a mesma possui uma dinâmica viva, singular e plural. Entretanto, são poucos os estudos sobre as gerações e não há um consenso sobre a classificação e o período em que se inclui cada uma delas. Para Oliveira (2009), as gerações podem ser classificadas como: Geração Belle Epoque – nascidos entre 1920 e 1940; Geração Baby Boomers – nascidos entre 1940 e 1960; Geração X – nascidos entre 1960 e 1980; Geração Y – nascidos entre 1980 e 1999. Oliveira, em seu estudo, não previu a recente geração Z, ou, Digital Natives, ou “nativos digitais”, estudada apenas por algumas instituições de pesquisa do mercado, como é o caso do Instituto IBOPE, no Brasil.

A geração Z tem sido descrita com algumas características próprias, que podem ser vistas como uma amplificação de certos comportamentos da geração Y, mais voltada para a lógica dos games, que é muito disseminada na vida deles, já que são indivíduos que acompanharam, de certa forma, o forte desenvolvimento desta indústria nos últimos anos. Além disso, a competitividade e a colaboração, entre os jovens, são valores fortes no mundo dos jogos eletrônicos, sendo incorporados no cotidiano dessa geração, que está mais interessada em “estar” do que, efetivamente, em “ser’”.

Pesquisa desenvolvida pelo IBOPE, no período de agosto de 2009 a outubro de 2010, disponível em no site da agência de pesquisa (www.ibope.com.br) apresenta a seguinte classificação: a geração Z incluiu os indivíduos de 12 a 19 anos e conta com 11,6 milhões de pessoas; a geração Y – 20 a 29 anos- conta com 15,3 milhões de pessoas; geração X – 30 a 45 anos – conta com 20,7 e a geração Baby Boomers – mais de 46 anos – conta com 17,6 milhões de pessoas. Conforme o estudo a geração Z não vive offline e para mais da metade da geração Z, a internet é a principal fonte de entretenimento. Eles se ocupam das seguintes atividades on line com muita destreza: jogos, salas de bate-papo; atualizar redes sociais com fotos e vídeos; escrever em blogs, baixar músicas, jogos e programas; 71% usam frequentemente as redes sociais. Tanto a geração Y como a geração Z são multitarefas, ou seja, são capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo (IBOPE). A geração Z coloca-se no papel de conhecedora das mais

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recentes tecnologias, sendo o celular e a internet os itens mais indispensáveis no dia a dia; 84% estudam, portanto, frequentam algum tipo de sala de aula e levam consigo seus artefatos eletrônicos e deles fazem uso durante as aulas na convivência com os professores, independente de autorização.

Considerações finais

A conclusão de que a escola está diante de impasses, por não saber mais que finalidades a educação deve assumir, nem como lidar com os alunos e como deve orientar suas ações não é nova. Entretanto, compreender que as orientações para a educação, nos últimos anos, especificamente após a década de 1990, de uma forma ou de outra, são manobradas pelo mercado, que define as formas de consumo, os atributos que devem ser agregados ao aluno, que é colocado como sujeito de direito e de poder (aluno cliente), é uma estratégia recorrente a todos os profissionais da educação no repensar de sua prática. Os alunos estão imersos numa cultura de espetáculos (BAUMAN, 2008) e, quando no espaço escolar, desafiam os professores, principalmente os que mantêm aulas tradicionais. Porém, a sala de aula não pode se transformar em um lugar apenas de confrontos, é preciso haver uma boa interação o que significa desde conseguir um excelente encontro e reencontro de professor e alunos com no mínimo um alegre “bom dia, para todos” e um sorriso nos lábios. É consenso que há uma assimetria na relação professor-aluno, porém, manter-se a maior parte do tempo em uma atitude positiva, de diálogo, com postura vencedora, de conquista, de esperança e confiança, pode transformar alunos e professores em aprendizes bem sucedidos.

Referências

BAUMAN, Z. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

CÁRIA, N. P. Na mira do discurso (pedagógico) do professor: o aluno entre o dizer e não dizer. Pouso Alegre. 2006. Dissertação de Mestrado – UNIVÁS/MG.

______. Formação contínua para professores profissionais da Educação básica. Disponível em: http://educere.bruc.com.br/ANAIS2013/pdf/8980_5110.pdf Acesso em: 10/04/2014.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1996.

OLIVEIRA, Sidnei. Geração Y: Era das conexões. Tempo dos relacionamentos. São Paulo: Clube de Autores, 2009.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 14. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

TEDESCO, J. C.; TENTI, E. Nuevos tiempos y nuevos docentes. Buenos Aires, Argentina: UNESCO, 2002.

Referências

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