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UM OLHAR PARA A DELINQUENCIA JUVENIL DENTRO DE UM CENTRO EDUCATIVO PORTUGUÊS 1

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Academic year: 2021

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UM OLHAR PARA A DELINQUENCIA JUVENIL DENTRO DE UM CENTRO EDUCATIVO PORTUGUÊS1

DALLA PORTA, Daniele2; SEHN, Amanda Schöffel2; DIAS, Ana Cristina Garcia4.

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Trabalho de Pesquisa _UFSM

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Curso de Psicologia Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil

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Curso de Psicologia Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil

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Curso de Psicologia Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil

E-mail:danidallaporta@hotmail.com; amanda_sehn@hotmail.com; anacristinagarciadias@gmail.com

RESUMO

Este projeto visa conhecer aspectos da delinquencia juvenil na realidade portuguesa, bem como observar as características pessoais e contextuais de adolescentes que cumprem medida tutelar educativa no Centro Educativo Santo Antônio, da cidade de Porto/Portugal. Para a coleta de dados foi utilizado o Questionário da Juventude Brasileira (Versão Fase II, Dell’Aglio, Koller, Cerqueira-Santos, & Colaço, 2009. Foram aplicados 33 questionários com os jovens que aceitaram participar do estudo. A análise dos dados está sendo realizada pelo programa SPSS, após isso serão destacados alguns resultados específicos para discussão. No momento tem-se resultados parciais já que os dados estão em fase de análise. Entretanto, já é possível delinear alguns pontos relevantes, como a relação entre o uso de drogas, a escolaridade e a influência dos pares na delinquencia.

Palavras-chave: Delinquência Juvenil, Realidade Portuguesa, Medida Tutelar Educativa.

1. INTRODUÇÃO

A delinquência juvenil tem sido alvo de debates e estudos no meio acadêmico. O significado deste termo, segundo o dicionário Aurélio, consiste no ato de delinquir, que por sua vez pode ser traduzido por “cometer falta, crime, delito” (p. 154). Em outras palavras, a delinquência juvenil pode ser explanada como o descumprimento da lei por parte de um adolescente. As faltas cometidas pelos jovens são comuns em diversos lugares do mundo, porém, muitas vezes a forma que ocorre, os motivos que levam o jovem a executar tal ato são distintos. E é nesse sentido que se visa fazer um estudo aprofundado da realidade portuguesa enfatizando os adolescentes em conflito com a lei.

O código penal português fixa em 16 anos o inicio da responsabilidade penal que determina que a punição pelo ato transgressivo cometido não pode ser aplicada e o indivíduo

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não pode ser judicialmente responsabilizado por seus atos. Assim, empregam-se as medidas sócio-educativas ou medidas tutelares educativas, que são sanções que envolvem o conjunto de respostas e de intervenções institucionais e legais em relação a menores que cometem infrações criminais. Na cidade do Porto/Portugal o cumprimento destas medidas se dá no Centro Educativo de Santo Antônio.

Esta instituição apresenta um caráter total, já que priva o sujeito de liberdade e impõe a ele um estilo de vida, com horários e atividades. Diferentemente da realidade brasileira, o Centro Educativo em questão estabelece uma rotina aos adolescentes. Faz parte das atividades ir à escola, que está instalada dentro da instituição, participar de oficinas de marcenaria, ter horário para levantar, para almoçar, para dormir e para a hora de lazer. A forma que a instituição organiza a vida do menor merece destaque, já que fornece uma organização para este, seja em termos de rotina, assim como uma organização psíquica interna. O controle dessas atividades é realizado e supervisionado por guardas. Os adolescentes podem receber visita dos familiares durante o final de semana, e durante a semana são permitidas ligações telefônicas. As “regalias” concedidas aos internos dependem do tipo de regime (aberto, semi-aberto ou fechado) ou da evolução da medida, nesses casos, é permitido a eles visitar as famílias aos fins de semana, bem como passar alguns feriados, ou até mesmo férias, em casa.

O jovem se encontra passando pela adolescência, fase caracterizada por conflitos internos e externos. É nela que surgem as dúvidas e as experiências que irão conduzir as pessoas rumo à fase adulta. Neste período da vida, o adolescente é imediatista, não faz planos para o futuro como um adulto que planeja suas economias para tempos difíceis; pois para ele o que importa é o agora, e não há preocupações com o amanhã (FERREIRA, 1997).

Conforme Bordin & Offord (2000) “o comportamento anti-social de crianças e adolescentes tem sido atribuído a fatores constitucionais e ambientais” (p. 13). Pois a partir da história de vida dos delinquentes juvenis, formulou-se a hipótese de uma reação às adversidades encontradas tanto no ambiente familiar como na comunidade (LOEBER, 1983).

São fatores associados a comportamento anti-social na infância: ser do sexo masculino, receber cuidados paternos e maternos inadequados, viver em meio à discórdia conjugal, ser criado por pais agressivos e violentos, ter mãe com problemas de saúde mental, residir em áreas urbanas e ter nível socioeconômico baixo (BORDIN & OFFORD, 2000 p. 13).

Os casos de adolescentes que cometem atos infracionais tem sido estudados a partir de três níveis de conceitualização: o nível estrutural, o sociopsicológico e o individual, conforme sistematização proposta por Shoemaker (1996).

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O nível estrutural incorpora as condições sociais, enfatizando a influência da organização social na constituição do sujeito que comete atos infracionais. O nível sociopsicológico refere-se às instituições de controle social, como a família e a escola, além de aspectos como autoestima e influência de grupos de pares no comportamento delinquente juvenil. Por fim, o nível individual inclui aspectos biológicos e psicológicos, privilegiando os mecanismos internos do indivíduo como determinantes para a delinquência.

Nenhum desses fatores é suficiente, de modo isolado, para explicar a situação dos jovens em conflito com a lei. Esse é um fenômeno complexo, resultado da interação entre os diversos fatores organizados em diferentes níveis, como proposto por Shoemaker (1996). Assim, um conhecimento abrangente sobre a delinquência juvenil deve considerar uma análise destes três níveis integradamente (ASSIS & SOUZA, 1999).

Dessa forma, a delinquência não pode ser definida ou julgada somente a partir do tipo de delito, da lei transgredida ou do objeto de delito, pois segundo Mucchielli (1979) “tudo não é senão efeito, consequência, expressão, ocasião de manifestação... da consciência criminosa como realidade estruturada, como sistema específico de relações vividas com o real e com o meio familiar, social e humano”(p. 26.).

No intuito de avaliar a delinquência dentro de diversos aspectos e realidades, busca-se com essa pesquisa observar as características pessoais e contextuais de jovens que cumprem medida sócio-educativa na cidade de Porto/Portugal, descrevendo a presença de alguns fatores de risco e de proteção presentes na vida desses jovens.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, de caráter quantitativo realizado no Centro Educativo Santo Antônio na cidade de Porto/Portugal.

Para a coleta dos dados quantitativos foi utilizado o seguinte instrumento: Questionário da Juventude Brasileira (Versão Fase II, Dell’Aglio, Koller, Cerqueira-Santos, & Colaço, 2009). Este questionário foi elaborado para segunda etapa do Estudo Nacional sobre Fatores de Risco e Proteção na Juventude Brasileira, a partir do questionário utilizado na etapa I (Koller, Cerqueira-Santos, Morais, & Ribeiro, 2005), vinculado ao Grupo de Trabalho “Juventude, Resiliência e Vulnerabilidade” da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP). Para a construção desta versão do instrumento foram realizadas análises de consistência interna e análises fatoriais dos itens das escalas que compuseram a versão I do instrumento. A questão 74 do instrumento Versão II, está constituída pelos itens da Escala de

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Auto-estima de Rosenberg (1989), adaptada por Hutz (2000); e a questão 75 está constituída pelos itens do instrumento de Schwarzer e Jerusalem (1995), adaptada por Teixeira e Dias (2005).

A análise dos dados será feita pelo Programa SPSS. O questionário será avaliado de forma quantitativa, através de análise estatística descritiva, observando-se frequências, médias e desvios-padrão. Também será realizada análise de consistência interna das escalas utilizadas, de acordo com as suas especificidades, assim como correlações entre as diferentes escalas que compõem o questionário. Para avaliar relações significativas entre as variáveis será utilizada análise estatística inferencial, observando as variáveis - idade, sexo e escolaridade, através de Análise de Variância (ANOVA).

Foi considerada a ética, a preservação da identidade dos participantes, não oferecendo riscos ou perdas para esses, conforme os preceitos da Resolução de 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996) que regulamenta as condições da pesquisa envolvendo seres humanos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No momento, os dados da pesquisa já foram coletados e estão sendo analisados através do programa estatístico SPSS. Foi realizada a aplicação de 33 questionários, em jovens, todos do sexo masculino com idade compreendida entre 14 e 19 anos. Todos os jovens cumpriam medida tutelar educativa no Centro Educativo Santo Antônio (Porto/Portugal) nas três modalidades de regime: aberto, semi-aberto e fechado. É importante frisar que os questionários só foram aplicados nos jovens que aceitaram participar do estudo. A idade de maior prevalência entre os jovens foi de 16 anos, que compreende à adolescência, fase do desenvolvimento humano em que há maior busca por novidades e desafios. Além disso, foi enfatizada a relação entre algumas variáveis específicas, sendo elas drogas, escolaridade e influência dos pares.

Em relação às drogas, é possível afirmar que as mais utilizadas pelos jovens entrevistadas são o Haxixe e a Ganza, drogas pouco conhecidas e difundidas no contexto brasileiro. A maioria dos jovens portugueses em medida tutelar educativa já havia experimentado essas substâncias e fazia uso regular da mesma, não apresentando dependência.

Outro dado que merece destaque é a relação do jovem infrator com a escola. Com exceção de 1(um) entrevistado, todos os outros apresentaram problemas com a instituição de ensino, como a repetência de ano ou a expulsão do colégio por brigas ou motivo semelhante.

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Associado ao baixo desempenho escolar e os problemas relacionados à essa instituição estão as amizades. Segundo os dados dos questionários, a maioria dos jovens se sente influenciada pelos pares e se envolve em questões antissociais e com a drogadição a partir do exemplo dos amigos.

Dessa forma, é possível identificar dados importantes que merecem uma análise detalhada e juntamente com isso um questionamento relevante acerca do estilo de vida que esses jovens levam e a influência que este exerce na prática de atos infracionais. Pelo fato da análise da pesquisa em questão estar em andamento, apresentam-se aqui apenas alguns dados preliminares que oferecem espaço para discussão. Posteriormente será feita a análise completa desses dados e assim, ter-se-á os resultados completos da pesquisa.

4. CONCLUSÃO

A pesquisa ainda encontra-se em andamento e os dados e análises apresentados constituem apenas resultados preliminares. A partir destes é possível afirmar que a maioria dos adolescentes que cometem delitos apresentam uma justificativa para a e entrada no mundo da delinquência, representando uma pequena parte do universo juvenil. Para a maioria dos jovens que cometem esses atos, a delinquência é, quando muito, uma experiência esporádica e transitória e nunca um modo de vida. O que determina a adesão a valores delinquentes ou não nessa fase do desenvolvimento humano, no caso a adolescência, está relacionado com questões familiares, relacionais (principalmente a relação com os pares), escolares e sociais.

Assim, é possível afirmar que a relação entre o jovem e a delinquência, merece ser explorada, pelo fato do jovem testar as suas limitações no meio social e isso trazer consequências para a sociedade em si. Nesse sentido, observar uma realidade que não seja a brasileira, permite lançar um olhar sob outros aspectos da delinquência, outras formas de “trata-la” e de encarar este tipo de problema.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, S. G. & SOUZA, E. R. Criando Caim e Abel – Pensando a prevenção da infração juvenil.

Ciência & Saúde Coletiva,1999, 4 (1), 131-144.

BRASIL. Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 1996. Disponível em http://conselho.saude.gov.br/.

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BORDIN I. A. S. & OFFORD, D. R. Transtorno da conduta e comportamento anti-social. Rev Bras Psiquiatra 2000; 22 (Supl II):12-5

DELL’AGLIO, D., KOLLER, S., CERQUEIRA-SANTOS, E., & COLACO, V. F. R.Estudo nacional

sobre fatores de risco e proteção na juventude brasileira. Projeto de pesquisa. Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, 2009.

FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

FERREIRA, P. M. “Delinquência Juvenil”, família e escola. Análise Social, v. XXXII, n. 143. Lisboa, 1997.

HUTZ, C. Adaptação brasileira da Escala de Autoestima de Rosenberg. Curso de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Mimeo, 2000.

KOLLER, S. H., CERQUEIRA-SANTOS, E., MORAIS, N. A., & RIBEIRO, J. Juventude

brasileira. Relatório técnico para o Banco Mundial. Washington, DC: World Bank, 2005.

LOEBER, Dishion T. Early predictors of male delinquency: a review. Psychol Bull 1983;94:68-99

MUCCHIELLI, Roger. Como eles se tornam delinquentes. Editora Safil: Lisboa, Portugal, 1979.

SCHOEMAKER, D.J. Theories of delinquency: an examination of explanations of delinquent. Oxford University Press: New York, 1996.

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