II Seminário
Internacional
“Cognição,
Aprendizagem
e Desempenho”
25 de julho de
2014
CRENÇAS SOBRE A APRENDIZAGEM E O
DESENVOLVIMENTO DE ESTUDANTES DO ENSINO
SUPERIOR: CONTRIBUTO DOS FATORES
CONTEXTUAIS
Sandra T. Valadas
Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações (CIEO) Departamento de Psicologia e Ciências da Educação
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Universidade do Algarve
O Conceito de crenças epistémicas
Crenças dos EES sobre a aprendizagem e o
desenvolvimento
Relações com os produtos da aprendizagem: contributo
dos fatores contextuais
Aquilo em que os indivíduos acreditam sobre a natureza do conhecimento e da
aprendizagem (Schommer, 2005)
Não são inatas, evoluem ao longo do tempo, mas desconhece-se o contributo no
processo da educação e da maturação (Cano, 2005; Schommer, 1994)
Quanto mais baixo o nível de escolaridade, mais simples são as suas crenças
epistémicas (Perry, 1970; Schommer, 1993, 1998); previsão a partir do estilo de vida
dos adultos (Schommer, 1993)
À medida que os estudantes progridem, vão acreditando cada vez menos na
simplicidade e na certeza do conhecimento (Cano, 2005)
Essenciais para a compreensão dos produtos da aprendizagem e o desempenho
académico (Hofer, 2000; Schommer et al., 1990, 1993)
Diferenças em função do sexo (Schommer, 1993): as raparigas crêem mais que a
aprendizagem ocorre gradualmente (maior esforço de compreensão e vantagem em
termos epistemológicos)
Relações entre crenças e desempenho académico mediada pelas abordagens à
aprendizagem (Cano, 2005; Entwistle & Entwistle, 1992; Perry, 1968, 1970;
Sternberg, 1985)
SAL (students approaches to learning)
abordagem ao estudo: forma, um modo específico de
desempenhar/realizar tarefas académicas com base no
conteúdo e no contexto
SCL (students conceptions of learning)
perspetivas qualitativamente distintas da aprendizagem (van
Rossum, Deilkers, & Hamer, 1985) que formam uma
hierarquia
2 GRANDES MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS DA
APRENDIZAGEM DOS EES: STUDENT S CONCEPTIONS OF LEARNING
E STUDENT S APPROACHES TO LEARNING
PERSPETIVA SAL
ABORDAGENS À APRENDIZAGEM: intenções face a uma situação de aprendizagem e estratégias correspondentes para atingir os objetivos; preferências pelo uso de processos cognitivos particulares na realização de tarefas de aprendizagem (Biggs, 2001)
Altamente dependentes do contexto e incluindo uma componente cognitiva (estratégica) e afetiva (motivacional)
Globalmente, os EES expressam ou uma abordagem profunda predominante, ou uma abordagem superficial (Marton & Säljö 1976a, 1976b)
PERSPETIVA SCL
concepções de aprendizagem/modelos mentais de aprendizagem: marcadamente
estáveis, mesmo quando avaliadas ao longo da frequência de um curso superior –
semelhanças com a noção tradicional de estilos de aprendizagem (Richardon, 2011)
efeitos cumulativos das experiências educacionais anteriores e de outras
experiências (Marton 1994; Marton et al., 1993)
podem mudar e evoluir à medida que vão amadurecendo e envolvendo em atividades
de natureza cada vez mais intelectual
AP: papel ativo e perceção da aprendizagem como algo que eles próprios realizam;
AS: papel passivo e perspetiva da aprendizagem como algo que apenas acontece
(Marton, 1976)
década de 70: trabalhos experimentais conduzidos na Universidade de Gotemburgo (Suécia) e no Reino Unido
Marton e Säljö (1976) como primeiros a introduzir o conceito de abordagem à
aprendizagem (Marton & Säljö, 1976a,
1997; Marton & Booth, 1997) preferências do EES em utilizar processos particulares na realização de uma tarefa de aprendizagem (Biggs, 2001)
AS INVESTIGAÇÕES ORIGINAIS DO GRUPO DE
GOTEMBURGO
o que os EES tinham aprendido dependia do que queriam alcançar
• EES com a primeira intenção processavam o texto para compreender o significado, centrando-se em temas e ideias gerais
• EES com a segunda intenção, valorizavam as palavras e as frases isoladas, “saltavam”
questões e concentravam-se em aspetos específicos do texto, mais do que no sentido global do mesmo
duas grandes intenções: i) compreender a intenção do autor e recordar termos-chave, ou ii) memorizar pormenores tão rapidamente quanto possível, com vista à preparação para futuras questões em exames
não é um traço de personalidade; a abordagem e a escolha da estratégia de aprendizagem são
dinâmicas e dependentes do contexto (Biggs et al., 2001; Snelgrove & Slater, 2003)
forma como os estudantes se comportam face à aprendizagem, intenções de aprendizagem (motivos) e os métodos utilizados para o fazer (estratégias) (Biggs, 2001)
os EES tenderão a utilizar abordagens menos desejáveis (superficiais) à medida que se vão adaptando às novas exigências institucionais (curricula mais pesados, pressões de trabalho, procedimentos de avaliação)
ab or da ge m p ro fu nd a (Bi ggs , 2 0 01 ; Bi ggs et al. , 2 0 01 ; Ent wis tle & McCune , 2004)
registos abstratos,
valorização dos pormenores e
leitura
envolvimento ativo com o
conteúdo
construção de conhecimento e
ênfase na compreensão
estratégia focada nos
conceitos, na avaliação e
síntese de conhecimentos
motivação intrínseca
novas ideias relacionadas com
conhecimentos anteriores e os
conceitos com a experiência
quotidiana
ab or da ge m su pe rf icia l (Bi ggs , 2 0 01 ; Bi ggs et al. , 2 0 01 ; Ent wis tle & McCune , 2004)afirmações simples e factuais
sobre os detalhes
concentração nas palavras
isoladas ou nos factos (Marton
& Säljö, 1976a, 1976b)
completar tarefas
(envolvimento pessoal baixo)
resolução procedimental de
problemas – compreensão
conceptual limitada
memorização rotineira dos
aspetos que se espera sejam
avaliados
desejo de completar a tarefa o
mais rapidamente possível
com o mínimo esforço
motivação extrínseca
ABORDAGEM À APRENDIZAGEM:
O QUE OS ESTUDANTES FAZEM
(ESTRATÉGIA) E PORQUE O FAZEM ( INTENÇÃO OU MOTIVO) (MARTON
E SÄLJÖ, 198 4)
ab or da ge m e st ra té gica (A da pt ad o d e Ent wis tle , 1 9 9 5 )
classificações escolares mais altas
organiza o tempo e distribui os seus esforços valoriza os indícios relativos à avaliação
perceber as preferências do professor
organiza adequadamente as condições e os materiais para o seu estudo
dedica-se frequentemente à revisão de exercícios realizados anteriormente
ABORDAGEM À APRENDIZAGEM:
O QUE OS ESTUDANTES FAZEM
(ESTRATÉGIA) E PORQUE O FAZEM ( INTENÇÃO OU MOTIVO) (MARTON
E SÄLJÖ, 198 4)
A opção por uma ABORDAGEM parece
depender do conteúdo, do contexto e das exigências particulares da tarefa (Laurillard, 1979; Richardson, 2003)
Impacto dos fatores
contextuais nas abordagens mediado pelas percepções do ambiente: possibilidade de orquestração do contexto por parte dos docentes
Promoção do
desenvolvimento intelectual apresentar incongruências calculadas que desafiem a lidar com o crescimento, aceitar a incerteza e pontos de vista alternativos como possíveis e legítimos; reconhecimento e suporte para evitar a alienação não responsável e encorajar a orientação pessoal para o compromisso
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
diversos estudos para encontrar formas de melhorar o raciocínio de ordem superior em EES (Allen, 1983; Brookfield, 1987; Imrie, 1995; King, Kitchener, & Wood, 1994; Lawson, 1980; Mines, 1980, 1981)
muitos situados num dos modelos teóricos que estudam aspetos particulares do desenvolvimento do EES (Zhang, 1999): modelo de desenvolvimento
psicossocial de Erikson (1968), modelo de desenvolvimento moral de Kohlberg (1969) e teoria do desenvolvimento ético e intelectual de Perry (1970)
entre os anos 50 e 70 enorme proliferação de estudos sobre teorias e modelos de estilos (Zhang, 2002)
Grigorenko e Sternberg (1995) classificaram os modelos em três tradições distintas: cognition-centered (Kagan, Witkin), personality centered (GRegorc, Myers e McCaulley, baseadas no trabalho de Jung) e activity centered (Marton, Biggs e Entwistle)
• prestar atenção às aulas, selecionar o que é mais relevante, raciocinar, adquirir conhecimento e monitorizar a aprendizagem (Pozo, 2002, Sternberg, 2007)
• uso de estratégias mnemónicas e de aprendizagem para adquirir conhecimento e para raciocinar sobre ele (Sternberg, 2009)
• planeamento estratégico e criatividade no sentido da resolução de problemas (Sternberg, 2009)
MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS
(RICHARDSON, 2013)
Stag
e
th
eo
rie
s
Piaget e colaboradores (Inhelder &Piaget, 1958)
Modelo do Desenvolvimento Ético e Cognitivo de Perry (1970, 1981): perspetiva piagetiana, entrevistas a estudantes de Harvard, postulou uma sequência de 9 estádios de
desenvolvimento possíveis, em que o estudante se movia de uma estádio simplista ou absoluto, relativo à natureza do conhecimento, para uma perspetiva pluralista e complexa - dualismo (posições 1-3), relativismo (posições 4-6) e compromisso no relativismo (posições 7-9); os estádios representam formas cada vez mais sofisticadas de resolver a dissonância produzida pelas discrepâncias e inconsistências das figuras de autoridade
No
n-st
ag
e
th
eo
rie
s
R. Heath (1964) – descrição do estudante ideal (o “reasonable adventurer”)Chickering (1969) – Modelo dos sete vetores
Schommer (1990, 1993a, 1993b) – sistema de crenças epistemológicas medido através do Epistemological
RELAÇÕES ENTRE APRENDIZAGEM E MODOS DE
PENSAMENTO: CONTRIBUTO DOS FATORES CONTEXTUAIS
importância de relacionar o desenvolvimento cognitivo com as diferenças individuais na aprendizagem para o
desempenho humano (primeiros esforços por volta dos anos 50/60, Zhang, 2002))
ideias de 3 grupos de
investigadores têm determinado de forma predominante a
natureza do pensamento sobre a aprendizagem dos estudantes do ensino superior (Zhang &
Watkins, 2001)
a. teoria do desenvolvimento ético e intelectual de Perry (1970) b. trabalho de Pask (1972, 1976): dois tipos essenciais de
aprendizes – serialists e holists c. modelo teórico de Marton e Säljö (1976a, 1976b) sobre as abordagens à aprendizagem
REFLEXÕES FINAIS
A opção por uma determinada abordagem parece depender do conteúdo, do contexto e das exigências particulares da tarefa.
A SAL sugere que o impacto dos fatores contextuais nas abordagens ao estudo é mediado pelas suas percepções do ambiente: possibilidade de orquestração do contexto por parte dos docentes
Natureza única e individual das abordagens.
É possível promover o uso de abordagens mais desejáveis se alterarmos o desenho dos cursos/disciplinas, utilizarmos métodos de ensino
REFLEXÕES FINAIS
Intervenções educacionais só serão efetivas se também provocarem alterações nas percepções dos estudantes)
Tanto Perry (1970), como Säljö (1978, 1979) e Entwistle (1981) acreditavam que as abordagens dos estudantes às tarefas se relacionavam com as suas conceções sobre o que era/em que consistia o conhecimento e a aprendizagem.
Estratégias de promoção do desenvolvimento intelectual: apresentar incongruências calculadas que desafiem a lidar com o crescimento, aceitar a incerteza e pontos de vista alternativos como possíveis e legítimos; reconhecimento e suporte para evitar a alienação não responsável e encorajar a orientação pessoal para o compromisso
II Seminário
Internacional
“Cognição,
Aprendizagem
e Desempenho”
25 de julho de
2014
CRENÇAS SOBRE A APRENDIZAGEM E O
DESENVOLVIMENTO DE ESTUDANTES DO ENSINO
SUPERIOR: CONTRIBUTO DOS FATORES
CONTEXTUAIS
Sandra T. Valadas
Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações (CIEO) Departamento de Psicologia e Ciências da Educação
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Universidade do Algarve