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A pesquisa visa investigar o fracasso em alfabetização dos adolescentes do terceiro ciclo de formação, das turmas-projeto, das escolas do Município

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Academic year: 2021

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Gênero e Preconceitos. ST 58

Denise Conceição das Graças Ziviani César Augusto Minto (orientador)

Integrante do Grupo de Educadoras Negras de Belo Horizonte e doutoranda pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

A inclusão e a diferença: estudo dos processos de exclusão e inclusão de crianças e adolescentes negros através da alfabetização no contexto da Escola Plural

A Escola Plural foi implantada em 1995, pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, que traduzia oficialmente a “pluralidade de ações significativas realizadas pelas escolas” e fundamenta-se pela prática não dos níveis de ensino seriado, mas, nos ciclos de formação humana. Os ciclos de formação baseiam-se no tempo de escola como sendo uma oportunidade de “uma socialização - vivência” mais plena possível dos profissionais e dos alunos. Prevê uma lógica mais global e determinante da formação de cada idade homogênea de formação (Caderno da Escola Plural, 1994:16).

A implantação da Escola Plural fez-se em 1994, a partir do primeiro ciclo de formação, onde o agrupamento é pelos pares de idade: 6-7, 7-8 e 8 e 9 anos. Na ocasião, surgiu o problema: o que fazer com os alunos que a cultura da seriação manteve na primeira série, os multirrepetentes, cuja idade estava além do agrupamento proposto?

A partir de tais questões a Escola Plural propôs a enturmação desses alunos, considerados “fora de faixa” no segundo ciclo e criou oportunidade para que projetos específicos de trabalho fossem desenvolvidos com eles – as “Turmas Aceleradas”.A proposta de “Turmas Aceleradas” foi uma alternativa criada pelo programa para dar encaminhamento e garantir o desenvolvimento dos alunos, que por serem “fora de faixa”, não podiam estar aos 10, 11 e 12 anos ou mais sendo reenturmados no primeiro ciclo. Somente em 1996, esses alunos e alunas estariam sendo atendidos com projetos específicos em suas habilidades e conhecimento disciplinares para que se aproximasse de seus pares de idade. As “Turmas Aceleradas” foram, então, uma alternativa transitória para a implementação dos ciclos e sua intenção inicial era garantir o direito dos alunos fora de faixa de concluírem os estudos com os pares de sua idade e, para isso, a escola deveria criar projetos interessantes e colocar grupos de professores competentes que conduzisse tais turmas. Porém o que se observa na prática, é que essa experiência, desde o início e ao se transformar em “turma-projeto”, sofreu um processo de resignificação no interior da maioria das escolas, transformando-se em espaços de segregação racial e de gênero, ou seja, criou uma alternativa que propunha a mudança, mas a prática de exclusão continua.

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A pesquisa visa investigar o fracasso em alfabetização dos adolescentes do terceiro ciclo de formação, das “turmas-projeto”, das escolas do Município de Belo Horizonte, a Escola Plural, a partir da história de vida. A prática e a política de educação que vem se concretizando comprovam que existe nas citadas turmas, uma concentração de meninos homens negros.

Esse dado é semelhante aos estudos de CARVALHO (2001) que aponta a necessidade de investigarmos até onde as opiniões de professoras sobre masculinidade e feminilidade interferem nos seus julgamentos e o que elas valorizam mais no comportamento de meninas e meninos. Para a autora, existe uma urgência em promover uma reflexão gênero X aproveitamento escolar, pelo fato de essas variáveis terem marcado o sistema formal de avaliação, no qual os testes, atribuições de notas e a seriação marcavam a hierarquização de gênero e, hoje, essa hierarquia tornou-se mais poderosa porque está em curso, na maioria das escolas brasileiras, com a implantação dos ciclos de formação, a avaliação processual, avaliação marcada pela “subjetividade e indefinição de critérios”.

Então, estando numa escola estruturada pelos ciclos de formação, não seria pertinente a preocupação com o aproveitamento escolar de meninos? Através da história da trajetória escolar desses sujeitos, a pesquisa tende a verificar se de fato, na produção do fracasso, em alfabetização, estão imbricadas as relações étnico-raciais e as relações de gênero.

Estudiosas como MEYER (2003) e CARVALHO (2001) ressaltam que as pesquisas que investigam a questão do gênero, avaliação, rendimento e aprendizagem escolar constitui campo ainda inexplorado. Vários estudos em nível internacional tem discutido a diferença de rendimento entre meninos e meninas e apontando a necessidade de articular gênero, raça e condição sócio-econômica para a compreensão do fenômeno. Segundo MEYER não são numerosos no Brasil os estudos qualitativos preocupados em discutir estas articulações.

MEYER (2003:20) cita a pesquisa de doutorado de Maria Luiza Xavier (2003) da UFRGS, que investigou o que constitui como sendo “problemas disciplinares” em escolas públicas do Município de Porto Alegre. A pesquisadora comenta sobre “a presença de meninos não brancos, nas chamadas classes de progressão”. Ao pesquisar o conjunto de instrumentos utilizados para medir o rendimento escolar, a pesquisadora chama atenção dizendo que, grande parte desses instrumentos está mais relacionada “com comportamentos, atitudes e habilidades consideradas adequadas ou inadequadas no espaço escolar, do que com as dificuldades cognitivas de estrito senso” (p.20).

Como historiadora e feminista, LOURO (1995) aponta para a necessidade de integrar o gênero às pesquisas em educação porque “se temos poucos trabalhos sobre a educação de meninas e mulheres, talvez tenhamos ainda menos estudos sobre a formação de meninos homens”. Se pensarmos na articulação gênero, etnia e produção do fracasso em alfabetização, muitas questões

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novas surgem e questões preocupantes, se considerarmos que o analfabetismo é um mal social e que atinge sobretudo a população negra brasileira.

A pesquisa propõe dar continuidade ao estudo realizado no mestrado, quando os sujeitos da pesquisa foram professoras alfabetizadoras, em sua interação com crianças brancas e negras, investigando desta vez, os adolescentes das “turmas-projeto” do terceiro ciclo e o seu processo de alfabetização. Durante a coleta de dados, pretendeu partir da reconstituição da história da trajetória escolar dos sujeitos, partindo da análise de documentos, buscando a escuta de professores e principalmente a escuta da família, para construir uma intervenção no processo de leitura e escrita do grupo de alunos, de uma das turmas, que estão envolvidos num projeto de ampliação do tempo escolar, que vem tornando-se política de educação do município e objetiva atender esses adolescentes em suas defasagens cognitivas e especialmente na sua inclusão escolar. Propõe nesse movimento evidenciar se existe de fato, a discriminação envolvendo a relação alfabetizadora/alfabetizando, identificar a forma como o preconceito étnico e o preconceito de gênero atuam na prática produzindo o fracasso e a exclusão escolar.

Torna-se fundamental para a compreensão do que acontece com esses alunos, conhecermos a sua história de vida. É necessário somarmos o conhecimento produzido pelos estudos já realizados, considerando o gênero, as relações étnicas, a classe social e o aproveitamento escolar. Se queremos de fato construir uma sociedade mais humana, um caminho pode ser a pista de LOURO (1997:124) que aqui eu diria, modifica a concepção e a prática de alfabetizadoras comprometidas com o rompimento da cultura excludente e com a reprodução do analfabetismo, que é a importância de observar as relações de gênero não apenas no que elas apresentam de “mais evidente” e que, normalmente se ajustam às nossas representações de mundo, mas que sejamos capazes de olhar para os comportamentos que fogem ao esperado.

Nesse sentido, precisamos considerar o que Erick Erikson (1987:125) aponta sobre a socialização escolar de meninos: o fato de a maioria dos professores em nossas escolas primárias ser mulheres, constitui fator preponderante e precisa ser considerado, porque pode “redundar num conflito com a identificação masculina do rapaz-não intelectual como se o conhecimento fosse feminino e a ação masculina”.

O estudo se compromete através da história de vida e da pesquisa-ação dar voz a esse adolescente, da “turma-projeto”, que mesmo com mais de seis anos de escolarização se vê representado no seu ambiente escolar, como quem “não lê e não escreve”, buscando repensar questões que alimentam o cotidiano da escola: que situações de leitura e escrita foram propostas para esses alunos ao longo de mais de seis anos de escolarização? Em que tipo de relação pedagógica as situações de leitura foram propostas? E qual era o peso do estigma nessa relação? Como o gênero, a etnia e a classe social se entrecruzam para produzir o fracasso escolar? Como

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trabalhar o entrecruzamento etnia, gênero e classe social em um processo que reverta o fracasso escolar e que aprendizagem seja possível?

Pensando na perspectiva da família desses adolescentes, a questão que prevalece é a necessidade de apreender os valores que as famílias negras preservam e que fazem com que mantenham seus filhos na escola, mesmo sabendo que ele fracassa. O que mobiliza estas famílias? O que deixa-lhes atenta às questões de escolarização dos filhos? A exclusão montada a partir das relações étnico-raciais, gênero e classe social é o tripé que será tratado na pesquisa.

Questões Éticas da Pesquisa

No ano de realização da coleta de dados para a investigação, a pesquisadora compunha num turno de trabalho, o Núcleo de Relações Étnico-raciais, Gênero e Sexualidade da Secretaria Municipal de Educação da cidade de Belo Horizonte e, noutro horário era professora dos adolescentes do grupo pesquisado. No contato com as famílias desses adolescentes recebeu a permissão para entrevistá-los. A exposição de fotos foi autorizada pelos adolescentes, seus alunos e por suas famílias. Os registros e documentos escolares relativos à vida escolar dos mesmos, foram colocados à disposição da professora pesquisadora, assim como foi previamente negociado pela escola e Secretaria Municipal de Educação, o espaço escolar e espaço da cidade onde o trabalho aconteceu.

Referências Bibliográficas

1-AFONSO, Lúcia. (org) Oficinas em Dinâmicas de Grupo: um método de intervenção psicossocial. Belo Horizonte: Edições do Campo Social, 2002. 151p.

2-BETTHELHEIM, Bruno & ZELAN, Karen. Psicanálise da Alfabetização. Porto Alegre: Artmed, 1992.

3-CAMPOS, Maria das Graças Cunha. Fracasso Escolar na Alfabetização: atribuições de causalidade na percepção dos professores alfabetizadores. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, 1994.

4-CARVALHO, Marília Pinto de. Mau aluno, Boa aluna? Como as professoras avaliam Meninos e meninas. Estudos feministas, Rio de Janeiro, ano 9 , 2o semestre, p. 554–575, fev. 2001.

5- ERIKSON, Erik. Identidade juventude e crise. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. 323 p.

6-O PRIMEIRO CICLO DE FORMAÇÃO: Algumas Considerações Acerca dos Processos de Enturmação Organização do Trabalho e Avaliação. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Belo Horizonte. 2002.

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7-LOURO, Guacira L. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-estruturalista. ,Petrópolis: Vozes, 1997.

8-MEYER, Gênero e Educação: Teoria e Política. In. LOURO, Guacira, NECKEL, Jane & GOELLNER, Silvana V. (orgs.). Corpo, Gênero e Sexualidade: Um Debate contemporâneo na Educação. Petrópolis: Vozes, 2003.

9-PROPOSTA POLÍTICO PEDAGÓGICA: assumindo a Escola Emergente. Ano 1994.

10-ROSALDO, Michele. O uso e o abuso da antropologia: reflexões sobre o feminismo e o entendimento intercultural. Horizontes Antropológicos. Ano 1, n.1 p. 11-36

11-ROSEMBERG, Fúlvia. Expansão da educação infantil e processos de exclusão. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, 107, p.7 a 40, jul.1999.

12-______.Políticas educacionais e gênero: um balanço dos anos 1990. Cadernos Pagu, Campinas, n.16, p.151-197, 2001.

13- SCOTT, Jean. Gênero uma Categoria útil de Análise Histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, V.20, n.2, p.71 a 100, jul/dez.1995.

14-SILVA, Carmem et alii. Meninas bem-comportadas, boas alunas; meninos inteligentes, indisciplinados. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, 107, p-207 – 225, julho, 1999.

15- THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2000.

16- TURMAS ACELERADAS: Retratos de uma nova prática. Caderno 2. Escola Plural. Coordenação Político Pedagógica. SMED. Prefeitura de Belo Horizonte.1996.

17- ZIVIANI, Denise Conceição das Graças. À flor da pele: a alfabetização de crianças negras entre o estigma e a transformação. 2003. 255 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, Belo Horizonte, 2003.

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