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EDUCAÇÃO FINANCEIRA DE SERVIDORES PÚBLICOS: HÁBITOS DE CONSUMO, INVESTIMENTO E PERCEPÇÃO DE RISCO 1

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REVISTA EVIDENCIAÇÃO CONTÁBIL & FINANÇAS

João Pessoa, v. 5, n. 2, p. 104-120, mai./ago. 2017. ISSN 2318-1001 DOI:10.18405/recfin20170207

Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/recfin

EDUCAÇÃO FINANCEIRA DE SERVIDORES PÚBLICOS:

HÁBITOS DE CONSUMO, INVESTIMENTO E PERCEPÇÃO DE RISCO

1

FINANCIAL EDUCATION OF PUBLIC SERVERS:

CONSUMPTION HABITS, INVESTMENT AND PERCEPTION OF RISK

Jucyara Gomes da Silva2

Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

jucyaragomes@hotmail.com

Odilon Saturnino Silva Neto Odilon Saturnino Silva Neto

Doutor em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB)

odilon.saturnino@gmail.com

Rebeca Cordeiro da Cunha Araújo

Doutora em Administração pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB)

rebecacordeiro1@gmail.com

RESUMO

Objetivo: Relacionar a educação financeira com os hábitos de consumo, investimento e a percepção de risco de servidores públicos.

Fundamento: A literatura base desta pesquisa versa sobre educação financeira e sobre os fatores determinantes na propensão ao endividamento, tendo como base os estudos de Chen e Volpe (1998), Weber, Blais e Betz (2002) e Flores, Vieira e Coronel (2012).

Método: A amostra não probabilística foi composta por 42 respondentes. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário estruturado em quatro dimensões: perfil socioeconômico, hábitos de consumo, nível de educação financeira e percepção de risco. Aplicou-se técnicas de esta-tística descritiva e análise fatorial.

Resultados: Os principais resultados mostram que a maioria dos respondentes atua no serviço pú-blico há mais de 15 anos e os principais motivos que os levaram a optar pelo emprego foram a esta-bilidade e a remuneração; com relação as dívidas, os principais itens atribuídos ao atraso no paga-mento destas foram a falta de planejapaga-mento, a má gestão orçamentária e a facilidade de acesso ao

1 Artigo recebido em: 15/12/2106. Revisado por pares em: 16/03/2017. Reformulado em: 28/03/2017. Recomendado para

publicação em: 01/04/2017 por Adriana Vasconcelos (Editora Adjunta). Publicado em: 30/04/2017. Organização responsá-vel pelo periódico: UFPB.

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crédito; os servidores são menos propensos ao risco, apresentando um perfil mais conservador em relação às decisões financeiras; E o nível de educação financeira deles é baixo.

Contribuições: Como contribuição, aponta-se a necessidade de criação de programas institucionais sobre educação financeira, sobretudo diante o aumento da expectativa de vida do brasileiro.

Palavras-chave: Educação Financeira. Endividamento. Percepção de Risco. ABSTRACT

Objective: To relate a financial education with habits of consumption, investment and risk percep-tion of public servants.

Background: The literature base of this research is about financial education and on the determi-nants factors of propensity for indebtedness based on studies by Chen and Volpe (1998), Weber, Blais and Betz (2002) and Flores, Vieira and Coronel (2012).

Method: The non-probabilistic sample consisted of 42 respondents. The data collection instrument used was a questionnaire structured in four dimensions: socioeconomic profile, consumption habits, level of financial education and risk perception. Techniques of descriptive statistics and factorial analysis were applied.

Results: The main results show that the majority of the respondents have been in the public service for more than 15 years and the main reasons that led them to choose employment were stability and remuneration; with respect to debts, the main items attributed to the delay in payment of these were the lack of planning, poor budget management and easy access to credit; the servers are less prone to risk, presenting a more conservative profile with respect to financial decisions. And their level of financial education is low.

Contributions: As a contribution, it is pointed out the need to create institutional programs on fi-nancial education, especially given the increase in the life expectancy of the Brazilian.

Keywords: Financial Education. Indebtedness. Perception of Risk. 1 INTRODUÇÃO

O aumento da oferta de crédito, motivada pela expansão dos prazos de pagamento e o baixo custo dos financiamentos, tem incentivado as pessoas a consumirem mais, resultando em níveis de endividamento mais elevados (Claudino, Nunes & Silva, 2009). O Observatório de Endividamento dos Consumidores (OEC, 2002) da Faculdade de Economia de Coimbra define endividamento como sendo o saldo devedor de um indivíduo e este pode resultar de apenas uma dívida ou de mais do que uma simultaneamente, caso resulte em mais de uma, denomina-se multiendividamento.

Diante do crescimento de consumidores endividados no mercado brasileiro, o estudo dos fatores que influenciam o endividamento se mostra de grande valia para a área de Finanças, visto que a relação desejo / necessidade / consumo / endividamento / inadimplência se torna de interesse das empresas, pois afetam todo o ciclo operacional e financeiro destas, podendo implicar, inclusive, em desajustes na liquidez e aumento de risco (Ribeiro, Vieira, Santos, Trindade & Mallmann, 2009). Ademais, estudar o comportamento econômico dos indivíduos pode representar uma possibilidade de debater fenômenos psico-econômicos de modo a contribuir para as políticas econômicas mais justas e apropriadas aos problemas desses indivíduos (Ferreira, 2007). Em outras palavras, pode-se notar que, tais estudos podem contribuir no combate do problema de endividamento dos indiví-duos, estudando suas causas e consequências.

Nesse sentido, o endividamento pode ser causado pela falta de planejamento financeiro (Oli-vato & Souza, 2007; Halles, Sokolowski & Hilgemberg, 2008), pelo baixo nível de educação financeira (Claudino et al., 2009), por aspectos comportamentais relacionados ao risco e consumo (Olivato &

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Souza, 2007), bem como pela facilidade que os servidores têm de obter crédito (Furlan, 2009), já que o cargo público parece ser visto pelas empresas fornecedoras de crédito como renda garantida, o que pressupõe um menor risco.

Diante das inúmeras alternativas que podem levar ao endividamento de servidores públicos, bem como a importância destes para as organizações e para a sociedade de forma geral, se faz ne-cessário entender aspectos relacionados à educação financeira destes, sobretudo no que diz respeito aos seus hábitos de consumo, investimento e percepção de risco. Dessa forma, ressalta-se também a importância de estar atento aos níveis de endividamento da sociedade bem como identificar quais fatores contribuem para tal fato.

As finanças pessoais e comportamentais vêm crescendo e se desenvolvendo com a publica-ção de estudos que afirmam que os indivíduos nem sempre tomam decisões baseadas na racionali-dade, podendo esta ser influenciada por vieses e heurísticas (Kahneman; Tvesky, 1974;1979). Ou-trossim, algumas pesquisas dessa natureza foram realizadas com servidores públicos.

A partir da análise da relação entre educação financeira e endividamento dos servidores de uma universidade pública federal, verificou-se que os piores níveis de dívidas estão associados ao baixo conhecimento de educação financeira (Claudino et al., 2009). Em estudo realizado sobre pla-nejamento financeiro e qualidade de vida, Halles et al. (2008) constataram que os servidores de Ponta Grossa possuem dificuldade de planejamento de suas finanças pessoais fazendo necessária a utili-zação de altos índices de empréstimo bancário. Já Furlan (2009) pesquisou sobre a evolução do cré-dito consignado na Administração Pública do Estado de Roraima e verificou o aumento da adesão a empréstimos consignados por parte de servidores públicos após vigorar a Lei n.10.820, que auto-rizou a consignação em folha para trabalhadores, aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Partindo do pressuposto que o problema de endividamento esteja relacionado a educação financeira e que o mesmo também possa ocorrer entre servidores públicos, bem como levando em consideração que o mesmo seja comum aos servidores da Justiça Federal na Paraíba, a presente pes-quisa buscou responder a seguinte questão problema: quais são os hábitos de consumo, investi-mento e percepção de risco de servidores públicos da Justiça Federal na Paraíba, e como esse com-portamento financeiro pode ser influenciado pelos níveis de educação financeira desses servidores?

Para responder à questão problema supracitada, a presente pesquisa teve por objetivo geral relacionar a educação financeira, que é o conhecimento financeiro em si, com os hábitos de consumo, investimento e a percepção de risco de servidores públicos da Justiça Federal na Paraíba, os quais são aspectos que permitem mensurar o comportamento financeiro desses servidores.

Como etapas para atingir o objetivo geral, o primeiro passo consistiu na apresentação do perfil socioeconômico da amostra; em seguida, buscou-se descrever o comportamento financeiro em termos de comprometimento de renda e percepções de investimento e risco. Para estabelecer, por fim, a relação entre conhecimento financeiro (educação financeira) e comportamento financeiro (há-bitos de consumo, investimento e percepção de risco), foram mensurados níveis de educação finan-ceira relacionados a esses comportamentos, conforme perfil socioeconômico.

2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Educação Financeira

A educação financeira, segundo a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Eco-nômico (OECD, 2005), pode ser definida como o processo pelo qual consumidores e investidores melhoram sua compreensão sobre produtos, conceitos e riscos financeiros, obtêm informação e ins-trução, desenvolvem habilidades e confiança, de modo a ficarem mais cientes sobre os riscos e opor-tunidades financeiras, para fazerem escolhas mais conscientes e, assim, adotarem ações para melho-rar seu bem-estar.

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Nos Estados Unidos, Chen e Volpe (1998) analisaram a educação financeira de estudantes de nível superior e como resultado, os autores verificaram que os estudantes americanos apresentam deficiência nesse assunto apesar de terem crescido em um país com cultura de poupança mais di-fundida do que a existente em nosso país. No Brasil, o mesmo estudo foi replicado por Matta (2007), e como resultado, o autor verificou que a maioria os estudantes necessita de conhecimentos acerca da educação financeira, pois apenas 11,1% dos entrevistados apresentaram bons comportamentos em relação as suas finanças pessoais.

Segundo Marques e Frade (2003) o endividamento consiste na utilização por um indivíduo de recursos de terceiros para fins de consumo e, ao se apossar desse recurso, estabelece um compro-misso em devolver, na data estabelecida, tal montante, normalmente acrescido de juros e correção monetária. Cheque especial, cartão de crédito, crediário, crédito imobiliário, crédito consignado, cré-dito produtivo (investimentos e capital de giro), hipotecas, empréstimos com agiotas, parentes e amigos são algumas das várias formas e fontes de crédito que podem ser utilizadas por um indiví-duo para contrair a dívida (Claudino et al., 2009).

Uma situação de inadimplência pode levar um indivíduo a realizar mais de um financia-mento e chegar a uma situação de múltiplo endividafinancia-mento (Claudino et al., 2009). Quando o indivi-duo está impossibilitado, de forma duradoura ou estrutural, de proceder ao pagamento de uma ou mais dívidas, têm-se o que Marques e Frade (2003) chamam de sobreendividamento. Ele pode ser dividido em dois tipos: ativo ou passivo. No primeiro, o individuo contribui ativamente para se colocar em situação de impossibilidade de pagamento, já o segundo é resultado de circunstâncias não controláveis pelo mesmo (OEC, 2002; Brusky & Magalhães, 2006).

Já Zerrenner (2007) indica que o sobreendividamento também pode ser fruto de atos de cre-dores que, rompendo com as justas expectativas dos devecre-dores, cometem ilícitos no afã de obterem margens de lucro cada vez maiores. Mesmo sob este prisma, revela-se patente que este fenômeno é característico de uma sociedade onde o consumo é cada vez mais valorizado, passando a pessoa humana a ser vista como algo com potencial de compra.

Ferreira (2008) aponta que tem sido cada vez mais corrente a aceitação social da inadimplên-cia como uma espécie de fato da vida, pois se antes causava vergonha e angústia à maioria das pes-soas, hoje podemos encontrar até mesmo a situação oposta, pessoas que chegam a se vangloriar do alto volume de dívidas como um tipo de troféu. Portanto, segundo Olivato e Souza (2007) é neces-sário levar em consideração também que as pessoas atribuem um significado ao dinheiro e isto se reflete no comportamento de gastar, investir, economizar, doar. Para algumas pessoas ele pode ser fonte de prestígio e reconhecimento social, para outros assume aspecto de sofrimento, gerando transtornos emocionais.

“Teorias econômicas tradicionais sugerem que as pessoas se endividam em alguns períodos da vida porque possuem expectativas racionais de renda futura mais alta e que seriam mais capazes de poupar” (Ferreira, 2008, p. 243). Para Keese (2010) o endividamento é influenciado por expectati-vas pessoais e pelo ambiente sócio-econômico, ou seja, aspectos subjetivos e aspectos objetivos. Já para Katona (1975 apud Trindade, 2009), existem três razões que explicam por que uma pessoa pode gastar mais do que ganha: (i) baixa renda, de modo que nem sequer são cobertas despesas essenciais, (ii) alta renda, combinada com um forte desejo de gastar, e (iii) uma falta de vontade para economi-zar (independentemente da renda).

2.2 Fatores Determinantes na Propensão ao Endividamento

O endividamento tem origem do verbo endividar-se que indica assumir ou contrair dívidas (Ferreira, 2006). No Brasil, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC, 2015) realizada em janeiro de 2015 aponta o cartão de crédito como um dos principais tipos de dí-vida, sendo este citado por 71,4% das famílias endividadas, seguido por carnês, 18,4%, e, em terceiro,

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por financiamento de carro, 14,3%. Entre as famílias com renda até dez salários mínimos, o cartão de crédito foi citado por 72,5%, carnês, por 19,7%, e financiamento de carro, por 11,3%. Já entre aquelas com renda acima de dez salários mínimos, os principais tipos de dívida apontados em ja-neiro de 2015 foram: cartão de crédito, por 66,3%, financiamento de carro, por 27,8%, e financiamento de casa, para 17,3%.

Zerrenner (2007) pesquisou acerca das razões que levam a população de baixa renda a endi-vidar-se. Como resultado, a autora verificou que os dois principais motivos que levaram os indiví-duos ao endividamento foram a falta de planejamento com 43,1% e o consumismo com 35,1% res-pectivamente. Para avaliar o nível de endividamento de servidores técnico-administrativos, Clau-dino et al. (2009), realizaram, a partir de um trabalho desenvolvido por Brusky e Magalhães (2006), o cruzamento de dados entre a dívida e a renda e se os gastos excedem ou não o valor da renda mensal. Como resultado, verificou-se que mais da metade da amostra está em um bom nível de endividamento, sendo capazes de lidar com o valor da dívida e até mesmo saldá-la. No entanto, 25,7% encontram-se com risco de sobreendividamento e sobreendividados. E, quando questionados acerca dos principais eventos e situações que os levaram a se endividar, cerca de 16,97% mencionou os gastos referentes à saúde, seguido do endividamento para pagamento de empréstimos (12,63%) e para compra de alimentos (10,66%).

Dando continuidade à busca pelo entendimento da influência dos aspectos comportamentais nos níveis de endividamento, verificou-se, a partir de Olivato e Souza (2007), que os principais in-fluenciadores do endividamento são a falta de planejamento, a oneomania, que diz respeito ao con-sumo compulsivo, os desejos e as necessidades e o status social. Os autores também destacam em sua pesquisa que os apelos midiáticos que exploram a necessidade de aceitabilidade social, o status e os modismos, acompanhados pelas pressões do círculo social em conjunto com as facilidades de crédito são grandes contribuintes para o endividamento dos entrevistados.

No que diz respeito à relação entre aspectos demográficos e o endividamento, evidencia-se o estudo de Ponchio (2006). Tal estudo constatou a relação entre idade, gênero e escolaridade, onde, pessoais mais velhas apresentam menor probabilidade de assumir dívidas, mulheres são mais favo-ráveis à atitude de endividamento e, quanto menor o grau de escolaridade, maior é a disposição a endividar-se.

Nesta linha, ressalta-se o estudo de Flores (2012) que analisou 15 variáveis a fim de explicar a propensão ao endividamento. As variáveis pesquisadas pela autora foram: idade, gênero, estado civil, dependentes, filhos, moradia, escolaridade, religião, princípios religiosos, raça, ocupação, renda familiar, utilização do cartão de crédito, dependência do crédito e perfil dos gastos. Os resul-tados dos testes paramétricos apontaram a existência de diferença significativa no endividamento conforme idade, gênero, estado civil, escolaridade, religião, princípios religiosos, ocupação, renda, utilização de crédito, dependência do crédito e gastos.

Destaca-se, no estudo supramencionado, a maior propensão ao endividamento entre pessoas viúvas, solteiras e separadas; do sexo masculino; com menos de 30 anos de idade; com renda de até um salário mínimo e aqueles com renda superior a vinte salários mínimos. Este último resultado corrobora o estudo de Katona (1975 apud Trindade, 2009) onde foram citados três motivos principais para o endividamento dos quais dois deles são a baixa renda e a alta renda.

Conforme apontado, diversos estudos foram realizados sob a ótica do endividamento assim como dos fatores que podem ocasioná-lo. No entanto, salienta-se que os estudos na área das finanças pessoais e comportamentais ainda estão em desenvolvimento. Assim sendo, diversos outros fatores que expliquem o endividamento poderão ser abordados em novas pesquisas.

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3 METODOLOGIA

Este estudo propõe relacionar a educação financeira com os hábitos de consumo, investi-mento e percepção de risco de servidores públicos da Justiça Federal na Paraíba. Para tanto, levan-tou-se o perfil socioeconômico da amostra e caracterizou-se o nível de endividamento dos servidores a partir de seus hábitos de consumo. Posteriormente, levantou-se o nível de educação financeira e verificou-se a percepção de risco apresentada pelos servidores. Por fim, realizou-se uma analise fa-torial com as variáveis relacionadas a educação financeira e a percepção de risco, cujos fatores obti-dos foram cruzaobti-dos com o perfil socioeconômico da amostra.

A população desta pesquisa compreendeu todos os servidores da Seção Judiciária da Justiça Federal na Paraíba, situada na capital do Estado, que totalizam 244 indivíduos. A amostra não pro-babilística, escolhida através do critério de acessibilidade, foi composta por 42 respondentes, o que representa 28,19% do universo.

O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário estruturado em quatro di-mensões. Inicialmente, buscou-se levantar o perfil socioeconômico da amostra através de nove ques-tões que envolveram aspectos como idade, gênero, estado civil, nível de escolaridade, renda, tempo de serviço público, etc. A segunda parte buscou caracterizar o perfil da dívida assim como os hábitos de consumo dos servidores com base em cinco questões sobre os tipos de dívidas, as razões para a dívida, os gastos, etc., retiradas do estudo de Flores, Vieira e Coronel (2012).

Posteriormente, buscou-se levantar o nível de educação financeira dos servidores. Para tanto, adaptou-se a escala de cinco pontos, do tipo Likert, desenvolvida por Chen e Volpe (1998) nos Esta-dos UniEsta-dos e validada no Brasil por Matta (2007). A escala foi dividida em: nunca (1), quase nunca (2), às vezes (3), quase sempre (4) e sempre (5). De acordo com a pontuação obtida, que pode variar entre 6 e 30, os casos são classificados em baixo nível de conhecimento (abaixo de 60% da pontuação máxima), nível médio de conhecimento (entre 60% e 79% da pontuação máxima) e alto nível de conhecimento sobre finanças pessoais (acima de 80% da pontuação máxima). Neste caso, quanto menor a pontuação, menor o conhecimento acerca do assunto.

Por fim, a percepção de risco dos servidores foi levantada através questões baseadas no es-tudo desenvolvido por Weber, Blais e Betz (2002), cujo questionário original contém 101 itens divi-didos em cinco domínios: financeiro, saúde/segurança, lazer, ética e social. No entanto, para esta pesquisa, foram consideradas apenas as questões relacionadas a percepção de risco nas decisões financeiras. Para tanto, utilizou-se uma escala de cinco pontos, cujos níveis de avaliação variavam entre nenhum risco a risco extremo. No quadro 1 são apresentadas as dimensões e bases teóricas da pesquisa.

Quadro 1: Detalhamento das dimensões abordadas na pesquisa

Dimensão Base Teórica

Perfil socioeconômico

Flores, Vieira e Coronel (2012) Perfil da dívida e hábitos de consumo

Nível de Educação Financeira Chen e Volpe (1998)

Percepção de Risco Weber, Blais e Betz (2002)

Fonte: Elaborado pelos autores.

A análise de dados foi realizada em duas etapas. Inicialmente, utilizou-se técnicas de estatís-tica descritiva a fim de apresentar, resumidamente, caracterísestatís-ticas da amostra pesquisada por meio de gráficos e tabelas. Posteriormente, realizou-se uma analise fatorial exploratória a fim de reduzir o número de variáveis pesquisadas e maximizar o poder de explicação como um todo. Conforme Bezerra (2009), a AF caracteriza-se pelo fato de não exigir do pesquisador o conhecimento prévio da relação de dependência entre as variáveis. As variáveis analisadas através desta técnica versam so-bre Educação Financeira (comportamento) e Percepção de Risco. Os fatores obtidos com a AF foram cruzados com variáveis socioeconômicas que caracterizam o perfil dos respondentes.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Perfil da Amostra

A fim de apresentar o perfil da amostra pesquisada, levantou-se informações acerca da idade, gênero, estado civil, número de dependentes, tipo de moradia, renda bruta familiar e tempo de ser-viço público. No tocante à idade, verifica-se que mais da metade dos respondentes tem idade supe-rior a 46 anos. Trata-se, portanto, de um público mais amadurecido, o que possa vir a indicar mais prudência nas decisões financeiras. O gênero predominante é o masculino. Em relação ao estado civil, a maior parte dos entrevistados encontra-se casada ou em união estável.

No que diz respeito à escolaridade, verifica-se o alto grau de instrução entre os entrevistados, pois metade dos deles possui diploma de pós-graduação. Esta variável é relevante no que diz res-peito ao levantamento do nível de educação financeira, posteriormente.

Com relação à renda, verifica-se que a maioria possui renda bruta familiar mensal entre R$ 7.880,00 e R$ 15.7600,00. Quanto ao tipo de moradia, mais da metade dos respondentes possuem casa própria quitada assim como algum dependente (filho, enteado, etc). No que diz respeito ao tempo no serviço público, verifica-se que há predomínio de servidores públicos federais que atuam há mais de 15 anos. A estabilidade, neste caso, pode ser um fator relevante na propensão ao risco.

Como último aspecto a ser ressaltado em relação ao perfil, foi questionado aos entrevistados acerca dos motivos que os levaram a escolher o cargo público federal, já que questões como essa podem influenciar o endividamento por meio da percepção de risco. Os respondentes deveriam as-sinalar as variáveis a partir de uma escala de sim (1) e não (0). O item que obteve a maior frequência foi a estabilidade, sendo esta o principal motivo para a escolha do cargo público para 35 responden-tes. Em seguida têm-se a remuneração com frequência de 34 respondenresponden-tes. Em contrapartida, o item regulamento interno não foi escolhido por nenhum dos respondentes. Ou seja, nenhum dos entre-vistados optou pelo serviço público devido ao regulamento interno da instituição. Mas sim, devido à estabilidade e a remuneração proveniente do cargo público.

4.2 Hábitos de Consumo e Investimento

O perfil da dívida dos servidores foi levantado a partir de 6 questões que versaram sobre o tipo da dívida, as razões para a dívida, os gastos entre outras, adaptadas do estudo de Flores, Vieira e Coronel (2012).

Sobre o tipo de dívida dos respondentes, o item mais significativo foi o cartão de crédito, cujo percentual obtido foi de 81%. Este resultado é corroborado pela Pesquisa de endividamento e Ina-dimplência do consumidor (PEIC, 2015) realizada no mês de janeiro de 2015, que aponta o cartão de crédito como o principal tipo de dívida das famílias, sendo citado por 71,40% destas.

Tabela 1: Tipo de dívida

Variáveis Frequência Percentual %

Cartão de Crédito 34 81%

Financiamento de automóvel 31 73,8%

Financiamento de Imóvel 16 38,1%

Empréstimo Pessoal 9 21,4%

Cheque Especial 9 21,4%

Não possuo dívidas 3 7,1%

Crediário 2 4,8%

Outro 0 0%

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Além do perfil da dívida, buscou-se identificar o nível de gastos mensais dos pesquisados. Para tanto, foram utilizadas variáveis como lazer, alimentação, cartão de crédito, financiamento, plano de saúde, entre outras indicativas do comprometimento mensal de renda, em uma escala de 1 (nenhum gasto) até 6 (gasto de mais de R$ 1.000,00). As estatísticas descritivas desse comprometi-mento estão apresentadas na tabela 2.

Tabela 2: Estatística Descritiva dos Gastos Mensais

N Mínimo Máximo Média Moda

Cartão de Crédito 40 0 6 5,2 6 Alimentação 40 2 6 5,18 6 Financiamento (imóvel/automóvel) 39 0 6 4,69 6 Educação 39 0 6 3,64 6 Lazer 38 0 6 3,63 4 Plano de Saúde 42 0 6 3,36 2 Combustível 41 1 6 3,07 2 Energia elétrica 42 0 5 2,31 2 Empréstimo 41 0 6 2,2 0 Cheque Especial 40 0 6 1,4 0 Internet 40 0 2 1,37 1

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com relação aos gastos, observa-se na Tabela 2 que os itens com os quais os servidores pú-blicos entrevistados mais comprometem suas rendas são cartão de crédito e alimentação, ambos com média acima de 5,0. O comprometimento com financiamentos de imóvel e veículo também foi ele-vado em relação a gastos mais essenciais, como educação e plano de saúde. Este último apresentou média menor que a referente ao lazer. Gastos com internet apresentaram as menores médias, sendo sua moda de 1 e assim indicando que a resposta mais frequente foi de um gasto de até R$ 150,00 com esse item. Cheque especial e empréstimo, embora acima de internet, compuseram os três itens com menor comprometimento da renda.

Dando continuidade à pesquisa, buscou-se informações acerca da alocação do patrimônio dos entrevistados. Considerando os resultados obtidos, verificou-se que os entrevistados apresen-tam um perfil mais conservador perante o risco, pois a alternativa considerada mais arriscada (Ações) apresentou o menor percentual de alocação do patrimônio. Verifica-se também a necessi-dade de diversificação da carteira de investimentos já que a maior parte deles está concentrada em alternativas pouco rentáveis que é o caso da poupança.

Os títulos públicos e as ações foram os únicos itens que não foram mencionados pelos entre-vistados. Atribui-se este resultado à possível falta de educação financeira dos servidores, pois, le-vando em consideração o perfil mais conservador, os títulos públicos poderiam ser considerados uma alternativa de investimento, dentre as mencionadas na pesquisa.

4.3 Educação Financeira

O nível de educação financeira foi obtido a partir da adaptação de uma escala de cinco pon-tos, estilo Likert, desenvolvida por Chen e Volpe (1998). Para cada caso estudado foi efetuada a soma dos itens assinalados chegando a uma pontuação compreendida entre 6 e 30. Quanto menor a pon-tuação obtida, menor o conhecimento no que diz respeito a educação financeira. Constatou-se que a maioria (41%) possui um baixo nível de educação financeira. E que apenas 19% estão classificados no grupo com alto nível de educação financeira.

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Após levantar o nível de educação financeira, realizou-se o cruzamento desta variável com a idade dos respondentes. Conforme apontado no Gráfico 1, quanto maior a idade, menor o nível de educação financeira. Portanto, nesta pesquisa, verifica-se que as pessoas com mais idade tem maio-res dificuldades em controlar as finanças.

Gráfico 1: Cruzamento entre nível de educação financeira e idade

Fonte: Elaborado pelos autores.

O nível de educação financeira também foi cruzado com o estado civil, renda, gênero e esco-laridade. Constatou-se que é preponderante o nível médio de educação financeira entre os separa-dos. Já o nível baixo é mais representativo entre os casados ou em união estável. No tocante à renda, o alto nível de educação financeira encontra-se entre os respondentes que têm renda bruta mensal familiar entre R$ 3940,00 e R$ 15.760,00. Já o cruzamento com gênero apontou que o sexo masculino é mais representativo nos níveis médio e baixo de educação financeira. No que diz respeito à esco-laridade dos respondentes, prevalece o nível médio de educação financeira entre os respondentes pós-graduados. Portanto, a estatística descritiva mostra que a escolaridade pode não se relacionar com o nível de educação financeira.

Para uma verificação das evidências descritivas relacionadas aos aspectos de comportamento financeiro em função da educação financeira, foi realizada uma análise fatorial das variáveis que refletem essas categorias. A primeira etapa consistiu do teste Alfa de Cronbach e o resultado obtido foi de 0,763, indicando um alto grau de confiabilidade das variáveis supramencionadas. Para pros-seguir com a análise fatorial, realizou o teste KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) obtendo resultado de 0,711, satisfatório para tal análise segundo Bezerra (2009).

Dando continuidade, analisou-se a tabela de comunalidades a fim de eliminar os atributos que apresentam baixo grau de explicação do que se caracterizou como comportamento, já que foram envolvidas variáveis relacionadas aos hábitos de consumo e planejamento financeiro. Na 1ª rodada do teste, verificou-se que a frase “pago integralmente a fatura do cartão de crédito” apresentou baixo poder explicativo, sendo então, retirada, e o teste, realizado novamente. Na segunda rodada do teste, todos os resultados obtidos foram satisfatórios.

0 1 2 3 4 5

27 a 35 anos 36 a 45 anos 46 a 55 anos Mais de 55 anos

Baixo Nível Nível Médio Alto Nível

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Tabela 3: Comunalidades - Comportamento

Comunalidades – 1ª rodada Comunalidades – 2ª rodada

Atributos Inicial Extração Atributos Inicial Extração

Anoto e controlo gastos

pes-soais 1 0,861 Anoto e controlo gastos pessoais 1 0,865

Estabeleço metas financeiras 1 0,857 Estabeleço metas financeiras 1 0,857 Sigo um orçamento ou plano

de gastos 1 0,753

Sigo um orçamento ou plano de

gastos 1 0,806

Consigo identificar os custos que pago na compra de um produto

1 0,683 Consigo identificar os custos que

pago na compra de um produto 1 0,696 Ao comprar a prazo, faço

comparação entre as opções de crédito

1 0,732 Ao comprar a prazo, faço

compara-ção entre as opções de crédito 1 0,727 Pago integralmente a fatura

do cartão de crédito 1 0,162 Fonte: Elaborado pelos autores.

Tendo constatado alto poder explicativo das variáveis através das tabelas de comunalidades, verificou-se o total da variância explicada, cujo resultado para a dimensão comportamento foi de 79,07%. A partir desses resultados, foram selecionados 2 fatores conforme verifica-se na Matriz após a Rotação dos Fatores, na Tabela 4.

Tabela 41: Matriz após a rotação dos fatores - comportamento

Variáveis Componentes

1 2

Anoto e controlo gastos pessoais 0,910

Estabeleço metas financeiras 0,926

Sigo um orçamento ou plano de gastos 0,846 0,302 Consigo identificar os custos que pago na compra de um produto 0,825 Ao compra a prazo, faço comparação entre as opções de crédito 0,840 Fonte: Elaborado pelos autores.

Quadro 2: Fatores agrupados - Comportamento

Orçamento e Controle

Anoto e controlo gastos pessoais Estabeleço metas financeiras

Sigo um orçamento ou plano de gastos

Consciência Financeira Consigo identificar os custos que pago na compra de um produto Ao compra a prazo, faço comparação entre as opções de crédito Fonte: Elaborado pelos autores.

Os fatores identificados permitiram melhor agrupamento das variáveis envolvidas na aná-lise. Primeiramente, apresentaram correlação maior as que indicaram os hábitos de registro dos gas-tos (controle) e de elaboração de um orçamento pessoal, que envolve o estabelecimento de metas financeiras e seu respectivo acompanhamento. Foi por essa razão que, ao agrupamento dessas vari-áveis se chamou de “Orçamento e Controle”.

Em seguida, foram mais fortemente correlacionadas entre si a identificação dos custos envol-vidos nas compras e a comparação entre as diversas opções de crédito nas aquisições a prazo. Nessa categoria se verifica, portanto, indivíduos com maior nível de consciência financeira, os quais a prin-cípio não incorrem em um consumo impulsivo, mas criterioso, mediante pesquisas. O fator foi, por-tanto, denominado de “Consciência Financeira”.

(11)

Uma segunda análise de componentes principais envolveu outra dimensão considerada na pesquisa, a saber, percepção de risco, a partir de expressões indicativas do risco percebido em atitu-des de gastos em loterias, como avalista de alguém, gasto impulsivo, empréstimo a amigos/familia-res, e entre essas opções, investimentos em poupança, títulos públicos, CDB e ações. A seção a seguir trata desse aspecto.

4.4 Percepção de Risco

A percepção de risco dos servidores, levantada a partir de questões baseadas no estudo de-senvolvido por Weber, Blais e Betz (2002), foi primeiramente verificada quanto aos seus resultados descritivos, apresentados na Tabela 5. A escala utilizada foi: 1 (nenhum risco); 2 (Pouco risco); 3 (risco moderado); 4 (muito risco); 5 (risco extremo).

Tabela 5: Percepção de risco dos entrevistados

VARIÁVEL PERCEPÇÃO DE RISCO Nenhum risco Pouco risco Risco mo-derado Muito risco Risco extremo Gastar grande quantidade de dinheiro em loterias 14,30% 11,90% 11,90% 11,90% 50,00%

Ser avalista de alguém 7,10% 4,80% 21,40% 9,50% 57,10%

Gastar dinheiro impulsivamente, sem pensar nas

con-sequências 2,60% 5,10% 5,10% 10,30% 76,90%

Emprestar para amigo/familiar a maior parte do seu

salário 7,70% 2,60% 20,50% 7,70% 61,50%

Guardar dinheiro na poupança 58,50% 34,10% 7,30% 0,00% 0,00%

Investir em títulos públicos 25,00% 36,40% 18,20% 9,10% 2,30%

Investir em CDB 15,00% 52,50% 25,00% 5,00% 2,50%

Investir em ações 9,80% 24,40% 31,70% 17,10% 17,10%

Fonte: Elaborado pelos autores.

No que diz respeito à percepção de risco, verifica-se na Tabela 5, que itens de alto risco, como é o caso do investimento em ações, são assinalados por 9,80% dos entrevistados como sendo um item com nenhum risco assim como 24,40% considera-o com pouco risco. Este resultado corrobora o baixo nível de educação financeira dos entrevistados levantado anteriormente nesta pesquisa.

Após levantar a percepção de risco, realizou-se o teste Alfa de Cronbach para verificar a con-fiabilidade das variáveis deste item e o resultado obtido de 0,793 indicando um alto grau de confia-bilidade. Dando prosseguimento, objetivando a realização de uma análise fatorial, realizou o teste KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) obtendo resultado de 0,701, satisfatório para tal análise conforme apon-tado por Bezerra (2009).

Em seguida, verificou-se a tabela de comunalidades e constatou-se que todos os resultados apresentam valores superiores a 0,5. Ou seja, as variáveis apresentam alto poder explicativo.

(12)

Tabela 6: Comunalidades - percepção de risco

Atributos Inicial Extração

Gastar grande quantidade de dinheiro em loterias 1 0,585

Ser avalista de alguém 1 0,791

Gastar dinheiro impulsivamente 1 0,669 Emprestar boa parte do salário 1 0,723

Guardar dinheiro na poupança 1 0,559

Investir em títulos públicos 1 0,609

Investir em CDB 1 0,706

Investir em ações 1 0,594

Fonte: Elaborado pelos autores.

Tendo constatado alto poder explicativo das variáveis através das tabelas de comunalidades, verificou-se o total da variância explicada. A dimensão percepção de risco apresenta 65,49% de ex-plicação da variação dos dados. A partir desses resultados, foram selecionados 2 fatores, conforme verifica-se na Matriz após a Rotação dos Fatores, tabela 7.

Tabela 7: 2 Matriz após a rotação dos fatores – percepção de risco

Variáveis Componentes

1 2

Gastar grande quantidade de dinheiro em loterias 0,764

Ser avalista de alguém 0,889

Gastar dinheiro impulsivamente 0,816

Emprestar boa parte do salário 0,835

Guardar dinheiro na poupança 0,727

Investir em títulos públicos 0,738

Investir em CDB 0,84

Investir em ações 0,437 0,634

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os fatores selecionados foram agrupados conforme correlação entre as variáveis, sendo de-nominados “gastos/risco” e “investimentos” conforme explicitado no Quadro 3 e onde se pode per-ceber as características de cada um conforme resposta dos entrevistados.

Quadro 3: Fatores agrupados – Percepção de Risco

Gastos/risco

Gastar grande quantidade de dinheiro em loterias Ser avalista de alguém

Gastar dinheiro impulsivamente Emprestar boa parte do salário

Investimentos

Guardar dinheiro na poupança Investir em títulos públicos Investir em CDB

Investir em ações Fonte: Elaborado pelos autores.

Após a identificação dos fatores das dimensões comportamento e percepção de risco, proce-deu-se os cruzamentos com o perfil socioeconômico da amostra.

(13)

4.5 Comportamento Financeiro, Percepção de Risco e Perfil Socioeconômico

A partir dos fatores encontrados das variáveis que versam sobre comportamento e percepção de risco, foram realizados cruzamentos com o perfil socioeconômico da amostra. Inicialmente, rea-lizou-se o cruzamento dos fatores com o gênero. O gráfico 2 demonstra que as mulheres pesquisadas apresentam um maior controle financeiro em relação aos homens, assim como menores gastos. Tal resultado é corroborado por Flores (2012), que aponta os homens como sendo mais propensos ao endividamento, porém, vai contra os resultados encontrados por Ponchio (2006) onde, as mulheres eram mais favoráveis a atitude de endividamento. Ademais, observa-se no gráfico 2 que tanto ho-mens quanto mulheres apresentam baixa percepção de investimentos.

Gráfico 2: Cruzamento dos fatores com o gênero

Fonte: Elaborado pelos autores.

O nível de escolaridade também foi uma das variáveis cruzadas com os fatores. No que diz respeito aos gastos, verifica-se no Gráfico 3 a correlação negativa entre os entrevistados que possuem o ensino médio completo e a correlação positiva entre os que possuem a pós-graduação completa. Em linhas gerais, os pesquisados que possuem o menor grau de instrução gastam menos, contraria-mente ao encontrado por Ponchio (2006), onde o menor grau de escolaridade correspondia a uma maior disposição a endividar-se.

Gráfico 3: Cruzamento dos fatores com o nível de escolaridade

Fonte: Elaborado pelos autores. -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.3 Orçamento e Controle Consciência Financeira Gastos/risco Investimentos Feminino Masculino -4 -3 -2 -1 0 1 Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo Pós-graduação incompleta Pós-graduação completa

(14)

No tocante à idade, verifica-se, no Gráfico 4, que o menor grau de consciência financeira está estabelecido entre os mais idosos. É possível que este público, por sua vez, apresente dificuldades em identificar os custos relacionados a compra de um produto, e também em comparar opções de crédito nas compras a prazo. Os jovens, por outro lado, apresentam-se mais propensos aos gastos no que diz respeito a gastar dinheiro impulsivamente, a emprestar boa parte do seu salário, entre outros itens.

Gráfico 42: Cruzamento dos fatores com a idade

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com relação à renda, destacam-se os entrevistados classificados com as maiores e menores rendas. Conforme exposto no Gráfico 5, os entrevistados classificados com a menor renda são menos propensos a realizarem gastos. Já entre os que possuem renda mais elevada, ressalta-se a correlação positiva com o fator investimentos. Ou seja, quanto mais ricos, mais propensos são a realizarem investimentos.

Gráfico 5: Cruzamento dos fatores com a renda

Fonte: Elaborado pelos autores. -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 Orçamento e Controle Consciência Financeira Gastos/risc Investimentos

27 a 35 anos 36 a 45 anos 46 a 55 anos Mais de 55 anos

-3 -2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 Até R$ 3.940,00 Mais de R$ 3.940,00 a R$ 7.880,00 Mais de R$7.880,00 a R$11.820,00 Mais de R$11.820,00 a R$15.760,00 Mais de R$15.760,00 a R$19.700,00 Mais de R$19.700,00 a R$ 23.640,00 Mais de R$ 23.640,00

(15)

Em linhas gerais, percebe-se que mesmo com a estabilidade do emprego, proveniente do serviço público, os entrevistados com renda de até R$3940,00, que é item mais baixo da escala utili-zada nesta pesquisa, são menos propensos a realizarem gastos.

5 ASPECTOS CONCLUSIVOS

A fim de descrever a relação a educação financeira e os hábitos de consumo, investimento e percepção de risco de servidores públicos federais, a presente pesquisa caracterizou o nível de endi-vidamento dos servidores a partir de seus hábitos de consumo, levantou o nível de educação finan-ceira e verificou a percepção de risco dos pesquisados.

Com relação ao perfil socioeconômico, constatou-se que trata de um público mais amadure-cido e responsável, pois a maioria possui idade superior a 45 anos, e há preponderância de pessoas casadas ou em união estável. A maioria dos entrevistados é do sexo masculino. O público, em geral, possui alto nível de instrução levando em consideração que metade da amostra possui título de pós-graduação.

A maior parcela de entrevistados atua no serviço público federal há mais de 15 anos. E os principais motivos que os levaram a optar pelo emprego foram a estabilidade e a remuneração. Os servidores, portanto, buscam um rendimento fixo mensal. Percebe-se um perfil mais conservador no que diz respeito às decisões financeiras, por conseguinte, menos propensão ao risco. Este resul-tado corrobora as opções de investimento menos citadas na pesquisa, que por sinal, apresentam maior risco, que foi as Ações.

Os servidores possuem dificuldades em gerenciar suas finanças pessoais e a facilidade de acesso ao crédito, proveniente do cargo público, acaba por se tornar um fator que atua negativa-mente nas decisões financeiras. Com relação ao baixo nível de educação financeira, verifica-se a necessidade de implantação de um programa institucional de educação financeira a fim de melhorar a qualidade de vida dos servidores. No tocante à percepção de risco, constatou-se que uma parcela significativa dos entrevistados considera o investimento em ativos de renda variável, que é o caso das ações, com baixo ou nenhum risco. Este resultado corrobora o baixo nível de educação financeira dos respondentes.

De maneira geral, o presente estudo caracterizou o nível de educação financeira dos servido-res e verificou que os mesmos apservido-resentam um baixo nível de conhecimento no que diz servido-respeito às finanças. Este baixo nível de educação financeira corrobora a dificuldade em perceber os riscos nas decisões financeiras assim como em levantar os custos inerentes às operações financeiras de compra de algum produto. O perfil mais conservador, no tocante as decisões de investimento, corrobora a escolha pelo emprego no serviço público devido a estabilidade e remuneração. Os gastos, por outro lado, estão relacionados a idade e ao gênero dos respondentes.

Com base nos resultados encontrados, observa-se a necessidade de investimentos institucio-nais acerca da temática educação financeira. Ressalta-se também que a expectativa de vida vem au-mentando no país, assim como em todo o mundo. Dessa forma, torna-se ainda mais relevantes ques-tões referentes às finanças pessoais, sobretudo no que concerne à aposentadoria.

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