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TERMINOLOGIA E SEUS OBJETOS DE INVESTIGAÇÃO

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TERMINOLOGIA E SEUS OBJETOS DE INVESTIGAÇÃO

Maria da Graça Krieger

Maria da Graça Krieger Maria da Graça Krieger Maria da Graça Krieger

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS (Brasil) mgkrieger@terra.com.br

1. 1. 1.

1. O tema dos O tema dos O tema dos O tema dos objetosobjetosobjetos e a identidade da Terminologiaobjetos e a identidade da Terminologia e a identidade da Terminologia e a identidade da Terminologia

A Terminologia, enquanto área de conhecimento é tradicionalmente definida como estudo e tratamento de termos técnicos e/ou-científicos. A identidade da área está, portanto, vinculada ao seu objeto central de investigação teórica e de trabalhos aplicados: as unidades lexicais especializadas. Estas são assim denominadas porque se constituem e são utilizadas no âmbito de atividades que envolvem conhecimentos especializados, como bem expressa Depecker (2004).

A referência à configuração lexical do conhecimento especializado não significa esquecer que as terminologias se articulam também em outras semióticas distintas do verbal. De todo modo, o léxico especializado é dominante, constituindo-se no foco central e privilegiado dos estudos terminológicos. Tal privilégio já se define desde o estabelecimento da área por Eugen Wüster em torno dos anos 60 do século findo, alcançando até as teorias mais contemporâneas da Terminologia, independente dos distintos paradigmas epistemológicos que têm balizado o percurso histórico da área.

Entretanto, apesar dessa unanimidade, atualmente, observa-se uma ampliação no quadro dos objetos de investigação da área tanto que se encontram, por exemplo, proposições que incluem também a fraseologia especializada, a definição terminológica e o texto especializado no universo da Terminologia. Em razão disso, têm surgido questionamentos sobre uma possível dispersão dos estudos terminológicos, tornando-se relevante o tema do deslocamento ou da mudança de foco de interesse em relação à tarefa primeira que a Terminologia tradicionalmente tomou a si. Enfim, a identidade da área está sendo afetada?

Diante dessas questões, a motivação primeira desta exposição é refletir sobre a ampliação dos objetos de investigação no campo terminológico, buscando compreender os motivos pelos quais esse universo tem se alargado. Por este viés, trataremos também das relações entre esse alargamento que inclui a fraseologia, a definição e o texto especializado com o percurso histórico da Terminologia. Com base nesse panorama, destacamos a pertinência de cada um desses três objetos para os estudos terminológicos para tentar responder a algumas das questões relativas à identidade da Terminologia.

Antes, porém, é importante esclarecer que essa ordem de questões faz sentido, ou melhor, justifica-se no marco de uma concepção de Terminologia como uma das disciplinas que integra as ciências do léxico, junto com a Lexicologia e a Lexicografia. Apesar do interesse comum pelo léxico, cada um desses domínios marca sua especificidade por privilegiar um componente lexical. Na disciplina em pauta, a opção pelo léxico terminológico define sua identidade e, simultaneamente, o foco primeiro de seu projeto de estudos teóricos e aplicados.

A relação entre objeto de estudo e área de conhecimento é igualmente enfatizada por Cabré e Adelstein (2000) em palestra sobre a natureza da Terminologia:

De lo dicho hasta ahora puede deducirse que en nuestra opinión una materia solo se delimita precisando su objeto. Partimos de la idea de que existe una distinción entre objeto y objeto de estudio. Por objeto entendemos cualquier elemento o fenómeno de la realidad que puede ser estudiado desde distintas perspectivas y disciplinas; consideramos que todo objeto de por sí es poliédrico (presenta

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diversas caras o facetas) y por tanto multidisciplinar (puede ser estudiado desde distintas disciplinas). Por objeto de estudio entendemos el objeto de la realidad que una materia o teoría estudia, pero que ha sido delimitado por la perspectiva desde la cual lo aborda.

Em seqüência, as autoras afirmam que “El objeto de la terminología, como hemos dicho, es la unidad terminológica.” (Ibidem, 2000).

É à luz dessas mesmas concepções e relações que esta exposição se organiza, considerando antes que a razão maior para a ampliação do campo dos estudos terminológicos é a grande alteração epistemológica da área, determinada e orientada por três focos centrais:

) a introdução dos postulados lingüístico-descritivos na Terminologia, o que a tornou, efetivamente, uma área da ciência da linguagem;

) a concepção de que o termo é uma unidade lingüístico-pragmática, logo segue as regularidades sistêmicas e os efeitos que sofrem os itens lexicais em discurso;

) a compreensão de que a comunicação especializada é o habitat natural das terminologias, o que determina a aproximação e o desenvolvimento com os estudos de texto;

Esses itens não são excludentes; ao contrário, são inter-relacionados, constituindo, juntos, o eixo que alicerça o desenvolvimento da Terminologia atual, desnecessário dizer, de feição lingüística. São também focos que nos permitem balizar o tema dos objetos.

Para iniciar, vale sempre lembrar que a Terminologia Lingüística está associada ao surgimento da Socioterminologia com Gaudin (1993), atingindo sua forma mais elaborada com a Teoria Comunicativa da Terminologia, elaborada por Teresa Cabré e o Grupo IULATerm, cujo desenvolvimento situa-se na segunda metade da década de 90, do século findo.

Na realidade, a face lingüística que a Terminologia passou a assumir representa uma profunda contraposição à Escola de Viena, representada pela Teoria Geral da Terminologia (TGT). O antagonismo entre princípios normativos adotados pela TGT e os princípios descritivos da Terminologia de fundamento lingüístico-comunicacional, agora referida como Lingüística, é também revelador de propósitos pragmáticos distintos: estabelecer bases metodológicas, com propósitos de aplicação e de controle dos léxicos temáticos contrapõe-se aos fins investigativos que caracterizam os procedimentos da ciência da linguagem.

Além disto, a TGT privilegiou a dimensão conceitual do termo, caracterizando-o como unidade cognitiva e, como tal, evidenciou uma compreensão de que é possível dissociar conceito e forma de expressão, ou significado e significante para retomar Saussure. Em contraponto, as teorizações de fundamento lingüístico recusam a dicotomia entre pensamento e linguagem, além de postularem os termos como elementos naturais das línguas naturais e, em decorrência, como unidades lingüístico-pragmáticas que participam da constituição dos discursos científicos e técnicos. Mais, que isto são inerentes a toda comunicação especializada.

Essa face lingüística da Terminologia tem muitos desdobramentos, tanto sob o prisma da pesquisa teórica, quanto aplicada, evidenciando que não se resumiu a uma divergência epistemológica com a Escola de Viena. Aqui não é intenção, e nem poderíamos, enumerar todos os fatores envolvidos nesse novo paradigma teórico, nem tampouco todos os produtivos desdobramentos que dela decorrem ou que com ela se harmonizam. No entanto, alguns serão salientados na medida em que estão diretamente relacionados ao nosso tema de fundo: os objetos dos estudos terminológicos. Assim, enfatizamos o postulado de que o termo é uma unidade complexa, poliédrica, que enfeixa três ângulos básicos: o lingüístico, o cognitivo, o comunicacional (Cabré, 1999).

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Ora, essa concepção epistemológica, central na Terminologia, nascida para descrever e explicar o termo, e não para padronizá-lo, explica também, em muito, a ampliação de percursos e objetos da Terminologia. Não apenas estudos, mas também teorias têm surgido, cujos temas centrais estão relacionados a algum dos ângulos constitutivos do termo, conforme ilustra a Teoria Sociocognitiva de Temmerman (2000) que, ao conceber o termo como unidade de compreensão, o concebe também como resultado de uma estruturação sócio-culturalmente modelizante. Nessa direção, busca dar conta da complexidade que envolve o componente cognitivo das unidades terminológicas.

Embora com foco distinto, mas também relacionado a este componente cognitivo, inserem-se os atuais estudos de definição terminológica. A relação explica-se porque ela materializa lingüística e discursivamente o componente conceitual dos termos. Vistos sob essa ótica, termo e definição são duas faces da mesma moeda, tanto que:

As palavras “definição” e “termo” são ligadas por um traço comum: eles designam na origem o estabelecimento de um limite, de um fim (dé-finir) e seu resultado (termo). No plano nocional, para que um nome tenha direito ao título de “termo”, é necessário que ele possa, enquanto elemento de um conjunto (uma terminologia) ser distinguido de outro. O único caminho para exprimir esse sistema de distinções recíprocas é a operação dita “definição”. (Rey, 1973, p. 41)

Em razão, portanto, dessa indissociável intersecção, cabe à Terminologia compreender os modos de manifestação lingüística e discursiva da dimensão conceitual dos termos, voltando-se ao exame dos enunciados definitórios. Estes, de diferentes maneiras, cumprem a funç ã o de expressar lingüí st ica e discursivament e o component e cognit ivo dos t ermos, j ust ificando a proposição que já fizemos de que a definição terminológica deve ser um componente integrante dos estudos da área (Krieger, 2001, p. 42).

Por outro lado, examinar a definição, compreendendo toda a sua complexidade constitutiva, representa dar conta da junção entre a dimensão cognitiva, lingüística e discursiva que a modelam. Dessa forma, os estudos de definição diferenciam-se daqueles que seguem a Escola de Viena, porquanto abstraem os componentes lingüístico e enunciativo que estruturam a definição terminológica como já demonstrou Finatto (2001). Essas apreensões muito beneficiam a Terminografia para mencionarmos o universo de interesses específicos da Terminologia, mas também contribuem largamente para as pesquisas sobre textos e discursos. Ao mesmo tempo demonstram que as bases epistemológicas da Terminologia, de fundamento lingüístico-comunicacional, alargam seus horizontes ao dar conta dos diferentes fenômenos terminológicos.

O alargamento de horizontes nos faz retomar, mais diretamente, o tema dos objetos. Para nele avançar, dividimos o que segue em dois pontos: a dimensão lingüística e a dimensão comunicativa, examinando, rapidamente, a trajetória do percurso evolutivo da Terminologia de fundamento lingüístico-comunicacional. Logo, a divisão agora é de ordem metodológica.

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2. A dimensão lingüísticaA dimensão lingüísticaA dimensão lingüísticaA dimensão lingüística

Ao adotar os princípios descritivos que caracterizam a ciência da linguagem, esta vertente da Terminologia incorporou fundamentos e metodologias de distintas teorias lingüísticas para, em primeiro plano, examinar o termo, avançando de tal forma que hoje conhecemos muito mais acerca deste objeto fundamental. De fato, áreas tradicionais, como a morfologia e a morfossintaxe, têm auxiliado a dar conta, por exemplo, da estrutura formal dos termos, em particular dos sintagmas terminológicos. Nessa linha, inscreve-se o pioneiro trabalho de Estopa (1999), que demonstrou o

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abrindo perspectivas para o reconhecimento automático dessas unidades. De igual modo, os estudos de Margarita Correia (2004) sobre a morfologia do português europeu têm sido relevantes para a Terminologia.

A descrição dessas estruturas composicionais é um dos aspectos necessários, em especial, porque os termos, em sua grande maioria, constroem-se como unidades poliléxicas. Além disso, seu reconhecimento é ainda bastante complexo, envolvendo fatores de ordem semântica. A isso agrega-se o problema de que os itens lexicais que integram essas unidades, em geral, não mais agrega-se distinguem do léxico geral das línguas. Como sabemos, as fronteiras entre léxico especializado e léxico geral perderam a rigidez.

Por outro lado, a Terminologia tem se apoiado em pressupostos de determinadas teorias como o Gerativismo e o Funcionalismo para explicar o comportamento das terminologias. A identificação da variação e sinonímia terminológicas atesta a consonância com a Sociolingüística. Em paralelo, efetiva-se o princípio adotado pela Terminologia Lingüística de observar as terminologias como dados empíricos, projetados em seus reais contextos de ocorrência.

Muitos outros achados estão associados ao direcionamento do olhar para os contextos de ocorrência. Tal perspectiva, junto a postulados de estudos lingüísticos, permitiu, por exemplo, a descrição de fraseologias especializadas nas comunicações profissionais. Embora as fraseologias apresentem várias tipologias, dentre elas, encontram-se as de feição nominalizada, cujo percurso de identificação encontrou inspiração na teoria gerativa, avançando para outros postulados explicativos. Referimos aqui o modo de conversão de verbos em nominalizações, gerando estruturas formais que, comportando termos, se assemelham a sintagmas terminológicos, embora com eles não se confundam, pelo traço eventivo mantido, como muito bem demonstrou Bevilacqua (2004).

A despeito dos diferentes tipos de fraseologias especializadas, elas veiculam componentes cognitivos basilares das distintas comunicações profissionais. De fato, os estudos atuais vêm amplamente demonstrando que o conhecimento especializado é também veiculado por estruturas de natureza frasal. Assim, apesar das particularidades próprias dessas estruturas, que as fazem distintas lingüística e pragmaticamente dos termos, sua presença é recorrente nos diferentes universos de discurso das ciências e das técnicas, o que justifica a inclusão das fraseologias no quadro dos objetos terminológicos.

Com base, portanto, em distintos estudos lingüísticos, a Terminologia vem aprofundando o conhecimento sobre a constituição e modos de comportamento dos termos e das fraseologias. Importa lembrar que esses resultados estão sendo alcançados também porque a unidade lexical especializada deixou de ser concebida como um rótulo, como simples mecanismo de nomeação, passando a ser compreendida como um componente da linguagem com todas as implicações sistêmicas e discursivas aí envolvidas.

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3. A dimensão comunicativa A dimensão comunicativa A dimensão comunicativa A dimensão comunicativa

Esta dimensão está relacionada e tem motivado questões e estudos sobre o texto especializado, que é, como gostamos de dizer, o habitat natural das terminologias. O texto passou a assumir um papel essencial para os est udos t erminológicos, na medida em que a priori termos e palavras não se distinguem. Os cenários comunicativos fornecem, portanto, as chaves de acesso à identificação dos mecanismos de ativação do valor especializado que tanto unidades lexicais, quanto estruturas fraseológicas adquirem nas comunicações especializadas.

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Entretanto, para a determinação desse valor, não é suficiente levar em conta os temas das áreas de conhecimento. Vale dizer, não se pode compreender cenário comunicativo apenas como conteúdo temático. É preciso ir além, objetivando reconhecer os mecanismos semióticos e pragmáticos que ativam ou que conferem propriedades terminológicas a determinadas estruturas lingüísticas. Para tanto, as teorias de texto e de discurso têm se mostrado de grande valia.

De fato, a orientação analítica que interrelaciona os léxicos terminológicos com os contextos comunicativos em que se materializam têm permitido um conhecimento mais aprofundado sobre a gênese e o comportamento das terminologias. Em relação à gênese, por exemplo, é ilustrativo o estudo de Maciel (2001) sobre a especificidade da terminologia jurídica, na qual os verbos têm valor especializado. Tal pesquisa, inspirada na linha da teoria semiótica francesa de Greimas, mostrou a relevância de considerar a relação entre os propósitos do universo de discurso jurídico e a determinação de sua respectiva terminologia. O reconhecimento desses propósitos é essencial, sobretudo, em comunicações especializadas que não se limitam a um fazer-saber, mas avançam para um dever-fazer, como é o caso do Direito, uma área de caráter deôntico.

Numa outra perspectiva, mas que também exemplifica a importância da relação texto/léxico especializado, está no reconhecimento do processo de redução terminológica, conforme mostra Inés Kuguel (1998). Os resultados desse estudo que mostra um “comportamento textual” dos termos têm auxiliado muito o desenvolvimento de várias pesquisas terminológicas, inclusive, as que se interessam pela tradução.

Esse conjunto de abordagens não constitui um bloco monolítico, há distinções internas na medida em que algumas seguem mais uma orientação discursiva e outras mais a linha da Lingüística Textual. E como tal, privilegiam, diferentemente, aspectos relacionados seja à complexidade constitutiva dos textos, à sua tecitura organizacional, seja ainda aos propósitos que animam a intercomunicação nas diferentes áreas do saber especializado. Independente do tipo de abordagem, em todos esses casos, a análise do texto não representa um fim em si mesmo, mas tem valor funcional, consistindo num requisito metodológico necessário e, mesmo essencial, para as investigações terminológicas, tanto de cunho descritivo, quanto aplicado. Estes estudos, que assumem um caráter funcional, enquadram-se dentro do que compreendemos como Terminologia Textual, tendo por correlato a Terminografia Lingüístico-Textual. Diante disso, o estudo de texto afirma-se como objeto metodológico essencial para a pesquisa terminológica.

Numa perspectiva diferente, e de longa data, desenvolvem-se estudos sobre linguagens de especialidade. Na realidade, o interesse específico pelo texto especializado não nasce no âmbito da Terminologia. Há estudos autônomos e pioneiros a respeito das linguagens de especialidade, dentre os quais citamos Lothar Hoffman, Pierre Lerat e Kocoureck. Para este último:

O conteúdo especializado é o conteúdo dos textos de especialidade; ele reflete todos os componentes essenciais da especialidade, tais como o mundo de especialidade (as coisas estudadas), os conceitos correspondentes, os conhecimentos acumulados, os objetivos visados, os métodos empregados, e os especialistas enquanto especialistas. Trata-se do plano textual suprafrástico, que, entre outros componentes compreende o plano lexical terminológico da língua de especialidade, que é o nódulo da análise semântica desta língua. (Kocoureck, 1991, p. 41)

Avançando ainda no pensamento de Kocoureck sobre a linguagem da ciência e da técnica, que é o modo com que ele se refere ao que denominamos de comunicação especializada, destacamos sua afirmação de que:

O léxico é o fato cognitivo e lingüístico mais “tocante” desta língua. A palavra-lexema e o sintagma lexical dão ao texto a susbstância semântica estável. As abordagens textuais estariam equivocadas ao desprezarem o papel lexical no seio dos textos. (Ibidem, 1991, p. 41)

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Esses fragmentos ilustram e esclarecem a direcionalidade de suas preocupações vale dizer, seu objeto analítico primeiro é a linguagem técnico-científica como um todo. A terminologia é aí considerada por se tratar da “substância semântica estável”, para retomar suas próprias palavras.

Esta proposta de estudo seguiu um caminho inverso daquele que antes descrevemos. A Terminologia Lingüística para dar conta da constituição e comportamento do termo, seu foco inicial, foi levada a considerar as questões textuais, abrindo o percurso da Terminologia Textual. Aqui, ao contrário, as linguagens de especialidade não podem ser descritas sem reconhecer o papel que o termo desempenha na sua tecitura, focalizando, posteriormente, seu olhar para a constituição das terminologias em toda a sua complexidade. Tal direcionalidade marca, portanto, a diversidade entre estudos terminológicos, propriamente ditos, e estudos de linguagens de especialidade.

Apesar dessas diferenças, é preciso sublinhar que os estudos sobre as linguagens de especialidade têm beneficiado fortemente a Terminologia. Assim, além das contribuições referidas, a análise de diferentes tipologias das comunicações especializadas tem contribuído para a descrição dos modos de tratamento, e conseqüente configuração, dos termos, nessas distintas tipologias a exemplo dos trabalhos de Ciapuscio (1998). Seus trabalhos seguem a linha da Lingüística Textual, comprovando-se que os diálogos podem ser muito produtivos e que o texto é, inegavelmente, a chave para identificar o comportamento dos termos, bem como de outras estruturas lingüísticas que veiculam conhecimento especializado.

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4. À guisa de conclusãoÀ guisa de conclusãoÀ guisa de conclusãoÀ guisa de conclusão

Com essas distinções, não visamos à valoração de cada uma das abordagens, tendo em vista que termo e texto especializado implicam-se mutuamente, de modo a comprovar que o texto é um objeto igualmente essencial para a Terminologia Lingüística. Mas, elas são úteis para dimensionar a problemática dos objetos de estudo. No entanto, as direcionalidades historicamente privilegiadas; se por um lado, apenas mostram diferentes caminhos para compreender o mesmo objeto; por outro, podem ser indícios de que o interesse está em focos distintos e, nessa medida, alheios aos interesses da Terminologia. Termo e texto se implicam mutuamente, mas, não o desenvolvimento de seus estudos.

Assim, tal como entendemos, a condição para falarmos em Terminologia Textual, é o estabelecimento concreto dessa intersecção, necessariamente, posto a serviço da investigação mais profunda dos objetos primeiros da vertente lingüística da Terminologia: termo e estruturas fraseológicas. Nessa ótica, são os objetos diretos da Terminologia, enquanto o texto e a definição podem ser situados em relação a estes primeiros, como objetos segundos ou indiretos da Terminologia.

Além disso, à luz do que explanamos, tentando retratar os princípios e os desenvolvimentos da Terminologia, de fundamento lingüístico-comunicacional, buscamos identificar também as razões pelas quais os estudos terminológicos ampliaram seus objetos. Diante disso, termo, fraseologia especializada, definição terminológica e texto especializado, justificam sua legitimidade e sua integração ao universo de interesses da Terminologia.

Por outro lado, podemos dizer que não há dispersão no campo da Terminologia, nem no plano da Terminologia Textual, já que esta denominação aplica-se somente a um determinado tipo de estudo. Isto é, aquele que se volta para a constituição da comunicação especializada, compreendendo os mais distintos ângulos de sua composição, tipologias e intencionalidades, mas que visa, ou ao menos, não deixa de descrever os diferentes modos de manifestação da dependência que envolve termo e texto especializado, relação que vale também para as construções de feição

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fraseológica. Trata-se assim de reafirmar o papel essencial e, simultaneamente, metodológico de teorias do texto e do discurso para os estudos de Terminologia. Entretanto, é importante ressaltar que os interesses investigativos dessas teorias e as de natureza terminológica não se confundem e não se superpõem.

Dimensionadas essas relações e condições, entendemos também que a identidade da área não está afetada, nem tampouco ocorreu um deslocamento de interesses. Apenas se assiste a um alargamento de horizontes, refletido no amplo quadro de seus objetos. A ampliação comprova também que a Terminologia vem evoluindo e que seu horizonte não é pequeno. Há muito a fazer pela frente, desenvolvendo estudos estimulados e orientados pela renovação epistemológica da área.

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Referências

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