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Acidente de percurso X acidente de trabalho e a responsabilidade civil do empregador: uma visão previdenciária

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DCJS - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CURSO DE DIREITO

CESAR AUGUSTO URNAU

ACIDENTE DE PERCURSO x ACIDENTE DE TRABALHO E A

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR:

UMA VISÃO PREVIDENCIÁRIA

Três Passos (RS) 2017

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CESAR AUGUSTO URNAU

ACIDENTE DE PERCURSO x ACIDENTE DE TRABALHO E A

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR:

UMA VISÃO PREVIDENCIÁRIA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Maristela Gheller Heidemann

Três Passos (RS) 2017

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a minha família, que jamais deixou de me apoiar em toda a minha trajetória acadêmica, mesmo nos momentos mais difíceis.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por me conceder força para lutar até o final desta jornada acadêmica, superando os limites que me foram impostos.

Agradeço a minha família, meu irmão Daniel, meu pai Talor e em especial a minha mãe Delci, que sempre esteve ao meu lado me motivando a buscar meus sonhos.

A minha orientadora, professora Maristela Gheller Heidemann pela sua dedicação e experiência proporcionada neste trabalho.

Aos colegas e professores da UNIJUÌ - Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul, que foram fundamentais nesta caminhada.

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“O que prevemos raramente ocorre; o que menos esperamos geralmente acontece”.

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RESUMO

O trabalho monográfico analisa a lei previdenciária no que tange aos benefícios acidentários sobre os acidentes de trabalho, em específico aos acidentes de trajeto e as responsabilidades do empregador, bem como as suas obrigações legais e os direitos do empregado quando da ocorrência destes tipos de acidentes. A pesquisa também analisa os aspectos relevantes que a nova legislação trabalhista trará a respeito do tema, bem como, se as mudanças poderão trazer benefícios ou prejuízos aos trabalhadores.

Palavras-chave: Acidente do Trabalho. Acidente do Trabalho de Trajeto. Responsabilidade Civil.

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ABSTRACT

The monographic work analyzes the social security law with regard to the accidental benefits of work accidents, specifically to road accidents and the responsibilities of the employer, as well as their legal obligations and the rights of the employee when these types of accidents occur. The research also analyzes the relevant aspects that the new labor legislation will bring about the subject, as well as if the changes can bring benefits or damages to the workers. Keywords: Accident at Work. Road Work Accident. Civil responsibility.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 ASPECTOS LEGAIS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E DA LEI Nº 8.213/91 ... 9

1.1 Surgimento do INSS e os direitos regulados...10

1.1.1 Aspectos relevantes da Lei nº 8.213/91. ... 12

1.1.2 Princípios da Seguridade Social ... 13

1.2 Aspectos históricos do direito do trabalho...17

1.3 Conceito de acidente de trabalho...19

1.3.1 A origem dos acidentes de trabalho ... 21

1.3.2 A evolução histórica dos acidentes de trabalho no Brasil ... 21

2 ACIDENTES DE TRABALHO ... 24

2.1 Acidentes de trabalho in itinere: uma visão previdenciária...25

2.2 A responsabilidade civil do empregador...26

2.2.1 Do direito à indenização civil ... 27

2.2.1.1 Do acidente de trajeto quando fornecido pelo empregador...29

2.2.2 Da responsabilidade pela não emissão do CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho ... 30

2.2.2.1 Dos motivos que levam a não emissão da CAT...31

2.2.2.2 Do dano moral pela não emissão da CAT...32

2.3 O não reconhecimento pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) do infortúnio como acidente ou doença do trabalho...33

2.3.1 Da estabilidade acidentária ... 33

2.3.1.1 Da estabilidade acidentária durante o aviso prévio...34

2.4 Aspectos relevantes da nova legislação trabalhista – CLT...34

CONCLUSÃO ... 36

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objetivo estudar a responsabilidade civil do empregador nos acidentes de trajeto, analisando quais os momentos em que pode o empregador ser responsabilizado.

A pesquisa foi elaborada em dois capítulos, sendo que no primeiro estudam o surgimento do INSS, alguns de seus princípios e o caminho que a previdência percorre até o surgimento dos benefícios previdenciários que abrangem as classes trabalhadoras. Busca demonstrar a importância que a Previdência Social possui e também as relações do direito previdenciário em relação aos direitos trabalhistas relacionados aos acidentes de trajeto.

No segundo capítulo descreve-se o conceito do acidente de trabalho, bem como os caminhos que os trabalhadores devem percorrer até garantir os direitos acidentários atuais.

Busca-se demonstrar por que os acidentes de trajeto são equiparados aos acidentes de trabalho, fazendo uma análise dos aspectos necessários para que seja reconhecido o acidente de percurso, bem como a caracterização, ou não, da responsabilidade civil dos empregadores.

Por fim, aborda alguns aspectos relevantes relacionados à nova Consolidação das Leis do Trabalho e às mudanças na legislação trabalhista e previdenciária.

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1 ASPECTOS LEGAIS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E DA LEI Nº 8.213/91

A partir da Constituição Federal de 1988, a seguridade social passou a ter uma maior intervenção do Estado, com o intuito de traçar linhas objetivas, em busca do bem-estar social.

Essa Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, trouxe o capítulo nominado “A Ordem Social”, específico para tratar da seguridade social, precisamente nos artigos 194 a 204, destinando estes a tratar este gênero do qual são espécies a previdência, a assistência social e a saúde, conforme cita o artigo 194 da CF/88:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. (BRASIL, 1988).

Com este artigo, a Constituição Federal passou a separar o Direito da Seguridade Social do Direito do Trabalho, o que, na Lei Maior anterior, estavam previstos como dois temas no título “Ordem Econômica”, em um único artigo que tratava dos direitos previdenciários e trabalhistas.

Para o doutrinador Frederico Amado (2016, p. 21):

[...] a seguridade social é um sistema instituído pela Constituição Federal de 1988 para a proteção do povo brasileiro (e estrangeiros em determinadas hipóteses) contra riscos sociais que podem gerar a miséria e a intranquilidade social, sendo uma conquista do Estado Social de Direito, que deverá intervir para realizar direitos fundamentais de 2ª dimensão.

Ou seja, a seguridade social tem como objetivo intervir, quando necessário, buscando amparo do Estado com o intuito de proporcionar equilíbrio e bem-estar na sociedade nos momentos em que haja incapacidade do indivíduo em atender suas necessidades.

O mesmo autor leciona que:

Eventos como o desemprego, a prisão, a velhice, a infância, a doença, a maternidade, a invalidez ou mesmo a morte poderão impedir temporária ou definitivamente que as pessoas laborem para angariar recursos financeiros visando a atender às suas necessidades básicas e de seus dependentes, sendo dever do Estado Social de Direito intervir quando se fizer necessário na garantia de direitos sociais (AMADO, 2016, p. 23).

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A Lei nº 8.213, na data 24 de julho de 1991, cria os planos de benefícios da previdência social citando-os em seu artigo 18, as prestações abrangidas pelo Regime Geral da Previdência Social.

1.1 Surgimento do INSS e os direitos regulados

O seguro social no Brasil iniciou-se a partir de empresas privadas que sentiram a necessidade de criar uma espécie de “seguro”, para casos de imprevistos em relação aos seus quadros de funcionários.

Nesse surgimento do seguro social as primeiras entidades a atuarem na seguridade social foram as santas casas da misericórdia, como a de Santos, que, em 1543, prestava serviços no ramo da assistência social. A Constituição de 1824 tratou, em seu artigo 179, inciso XXXI, dos socorros públicos, sendo este o primeiro ato securitário com previsão constitucional (KERTZMAN, 2015, p. 44).

Ainda que houvesse previsão constitucional acerca da seguridade social, foi somente a Constituição de 1891 que passou a conter a expressão “aposentadoria”, que versava em seu Artigo 75, benefício dado apenas a funcionários públicos em casos de invalidade a serviço da nação.

Este benefício era concedido pelo estado sem a necessidade de contrapartida pelo beneficiário, o que mudou com a chegada da Constituição Federal de 1934, conforme cita Ivan Kertzman (2015, p. 46):

A Constituição Federal de 1934 foi a primeira a estabelecer a tríplice forma de custeio, com contribuição do Governo, dos empregadores e dos trabalhadores. A Carta de 1937 utilizou, pela primeira vez, o termo "seguro social" sem, no entanto, trazer grandes evoluções securitárias.

A atual previdência social foi instituída no ano de 1923, conforme se pode verificar:

O século XIX também foi marcado pelo surgimento da "previdência privada" brasileira, pode-se dizer que inaugurada em 10 de janeiro de 1835, com a criação do MONGERAL - Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado - proposto pelo então Ministro da Justiça, Barão de Sepetiba, que, pela primeira vez, oferecia

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planos com características de facultatividade e mutualismo. A Previdência Social só viria a ser instituída através da Lei n° 4.682 (Lei Elói Chaves), de 24/01/1923. (SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS, 2016).

Com a criação da Lei Eloy Chaves, que determinou a criação das caixas de aposentadorias e pensões para os ferroviários, a data de 24 de janeiro passa a ser vista como um marco para a previdência social brasileira, por ser a primeira Lei a instituir no Brasil a previdência social, ainda que esta Lei regulasse empresas privadas e não entes públicos.

Esta Lei previa benefícios por invalidez, pensão por morte, assistência médica e invalidez ordinária (equivalente hoje à pensão por tempo de serviço).

O objetivo desta Lei não era de conceder aposentadoria, mas de estabelecer uma caixa de aposentadoria e pensão para os empregados e diaristas das ferroviárias do país.

Após a primeira lei prevendo normas para a previdência social, surge no ano de 1960 a segunda norma previdenciária de grande relevância. Para Sérgio Pinto Martins (2005, p. 275), “a segunda norma de relevo foi a Lei nº 3.807/60, que estabeleceu a organização da previdência social, instituindo benefícios, tanto que foi denominada como Lei Orgânica da Previdência Social”.

A denominação “previdência social” passa a ser vista a partir da Carta Magna de 1946, como cita Sergio Martins (2005, p. 275):

Emprega a Carta Magna de 1937 a expressão “seguro social”, que era a denominação empregada na época. Não era utilizada a expressão “previdência social”. É com a constituição de 1946 que surge pela primeira vez a expressão “previdência social”. Na constituição de 1967, a expressão usada era “previdência social” (Art. 158, XVI).

Finalmente, no ano de 1990, há a criação do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, autarquia federal que veio a substituir o Instituto Nacional de Previdência Social, englobando as funções de arrecadação, fiscalização, aplicação de penalidades, cobrança e regulação da concessão de serviços e benefícios aos seus segurados.

Uma das principais leis relativas à previdência social foi a criação da Lei nº 8.213 no ano de 1991, que veio para tratar dos benefícios da previdência social.

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1.1.1 Aspectos relevantes da Lei nº 8.213/91

A Lei nº 8.213/91 veio para dar objetividade aos benefícios prestados pela previdência social aos seus beneficiários, especificamente do Regime Geral da Previdência Social – RGPS. Esta Lei, ainda em vigor no país, foi regulamentada pelo Decreto nº 357/91, sendo ela uma das leis básicas da seguridade social.

Conforme leciona Sérgio Pinto Martins (2006, p. 276):

Estabelece o Art. 1º da Lei nº 8.213 que a Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar a seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. A definição de Previdência Social do Art. 1º da Lei nº 8.213 toma por base a finalidade da previdência social quanto às contingências a serem cobertas.

Como observado acima, a contribuição é obrigatória por parte do beneficiário. Este requisito, assim como o da filiação obrigatória, está previsto no art. 201 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), o qual consta que “A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial”.

Este caráter contributivo e de filiação obrigatória são dois princípios básicos que regem a organização da previdência social: Compulsoriedade e contributividade.

Neste sentido, importante transcrever os ensinamentos de Ivan Kertzman (2015, p. 33):

O princípio da compulsoriedade é o que obriga a filiação à regime de previdência social aos trabalhadores que trabalhem. Se os segurados pudessem optar entre verter parte de sua remuneração para o sistema de previdência social ou utilizar todos os ganhos para pagamento das despesas domésticas, certamente a maioria escolheria a segunda alternativa. Diversos trabalhadores ficariam, portanto, excluídos do sistema protetivo, gerando um completo caos social, pois, quando ficassem impossibilitados de exercer suas atividades, não teriam como prover o seu sustento (KERTZMAN, 2015, p. 33).

Quanto à contributividade, continua Ivan Kertzman (2015, p. 33):

A contributividade significa que, para ter direito a qualquer benefício da previdência social, é necessário enquadrar-se na condição de segurado, devendo contribuir para

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manutenção do sistema previdenciário. Até mesmo o aposentado que volta a exercer atividade profissional remunerada, é obrigado a contribuir para o sistema.

Perante este ensinamento de Ivan Kertzman, podemos concluir o fato de existir o exercício de atividade remunerada, automaticamente estará estabelecida a relação jurídica entre o segurado e o INSS pelo RGPS, acarretando direitos e obrigações para ambas as partes, independente de vontade.

1.1.2 Princípios da Seguridade Social

Antes de iniciar o estudo acerca dos princípios previdenciários específicos, cita-se o ensinamento de Celso Antônio Bandeira de Mello (1986, p. 230), sobre o conceito de princípio:

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. [...] Violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra o sistema, subversão de seus valores fundamentais.

Importante frisar que a ideia defendida por Mello não contrapõe às normas legais, apenas refere à importância dos princípios no direito positivo1.

Neste mesmo pensamento, o doutrinador Miguel Reale (1994, p. 299) diz:

[...] princípios são verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis.

A Constituição Federal (BRASIL, 1988) em seu artigo 194 elencou os princípios e objetivos que norteiam a seguridade social. Alguns destes princípios voltam a ser referidos no ano de 1991, quando foi criada a lei dos planos de benefícios da previdência social.

1Direito positivo é o conjunto de princípios e regras que regem a vida social de determinado povo em

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O primeiro princípio, da universalidade de cobertura e do atendimento, encontra-se expresso no artigo 194, inciso I da Constituição Federal. O referido princípio busca conferir e garantir a abrangência a todos os que dela necessitam, sendo eles brasileiros ou estrangeiros.

Neste entendimento Hugo Goes (2015, p. 24) explica:

Por universalidade da cobertura entende-se que a proteção social deve alcançar todos os riscos sociais que possam gerar o estado de necessidade. Riscos sociais são infortúnios da vida (doenças, acidentes, velhice, invalidez etc.), aos quais, qualquer pessoa está sujeita.

A universalidade do atendimento tem por objetivo tornar a seguridade social acessível a todas as pessoas residentes no país, inclusive estrangeiras.

Nos ensinamentos de Frederico Amado (2016, p. 28):

A seguridade social deverá atender a todos os necessitados, especialmente através da assistência social e da saúde pública, que são gratuitas, pois independem do pagamento de contribuições diretas dos usuários (subsistema não contributivo da seguridade social).

Este princípio tem o objetivo de garantir a subsistência do beneficiário nos momentos em que não seja possível exercer suas atividades normalmente, seja por motivos ocasionais, como nos casos de acidentes ou por motivos naturais, como por exemplo, a idade avançada.

Já o princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, busca garantir tratamento isonômico entre as populações urbanas e rurais.

Nas lições de Ítalo Romano Eduardo (2013, p. 53):

A CF/1988, em seu art. 7º, dispõe que não há diferenças entre os direitos sociais dos trabalhadores urbanos e rurais. No que se refere à Seguridade Social, equivale dizer que as mesmas contingências que receberem garantia no meio urbano deverão também receber garantia no meio rural. Em outras palavras, é vedada a criação de benefícios diferenciados para trabalhadores urbanos e rurais. Além disso, deverão ter o mesmo valor econômico, bem como serviços da mesma qualidade.

Importante atentar que para este princípio, a equivalência deve ser analisada de maneira relativa, pois não se trata de igualdade e sim de equiparação, uma vez que os trabalhadores rurais possuem condições especiais de contribuição para o sistema.

Também importante ressaltar acerca do princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços, para o qual a seletividade surge com o intuito de dar os benefícios não de maneira igualitária, mas de maneira a dar àqueles que realmente necessitem.

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Nas palavras de Carlos Alberto Castro e João Batista Lazzari (2016, p. 116) “[...] o princípio da seletividade pressupõe que os benefícios são concedidos a quem deles efetivamente necessite, razão pela qual a seguridade social deve apontar os requisitos para a concessão de benefícios e serviços”.

No que diz respeito à distributividade, “inserido na ordem social, é de ser interpretado em seu sentido de distribuição de renda e bem-estar social, ou seja, pela concessão de benefícios, visa-se ao bem-estar social e à justiça social” (CASTRO; LAZZARI, 2016, p. 116).

Nas palavras do doutrinador Ítalo Romano (2013, p. 53):

A Seguridade Social, como o próprio nome diz, tem caráter social. Seu objetivo é distribuir renda, principalmente para as pessoas de baixa renda. Como os recursos são finitos e as necessidades da população são “infinitas”, o sistema tem de estabelecer preferências, de acordo com as possibilidades econômico-financeiras. Melhor dizendo, deve tratar desigualmente os desiguais, favorecendo, portanto, os indivíduos que se encontrem em situação inferior.

Já o princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios decorre da segurança jurídica, onde os valores nominais dos benefícios da seguridade social não poderão sofrer reduções, mesmo em períodos de crise financeira.

Nas palavras de Castro e Lazzari (2016, p. 117):

Princípio equivalente ao da intangibilidade do salário dos empregados e dos vencimentos dos servidores, significa que o benefício legalmente concedido – pela Previdência Social ou pela Assistência Social – não pode ter seu valor nominal reduzido, não podendo ser objeto de desconto – salvo os determinados por lei ou ordem judicial –, nem de arresto, sequestro ou penhora. Dentro da mesma ideia, o art. 201, § 2º, estabelece o reajustamento periódico dos benefícios, para preservar-lhes, em caráter permanente, seu valor real.

Por décadas a inflação afetou fortemente a economia mundial, impactando diretamente sobre o poder de compra dos beneficiários previdenciários. O surgimento deste princípio visou garantir a preservação do real valor do benefício, estabilizando o poder de compra, conforme cita o artigo 2º, inciso V da Lei nº 8.213/91.

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No que tange ao princípio da equidade na forma de participação no custeio, inicialmente, há que se dizer que o princípio da equidade2 busca adaptar o pagamento da contribuição em relação à situação financeira de cada um, ou seja, aquele que ganha mais, paga mais, o que ganha menos, obviamente pagará menos.

Nas palavras de Frederico Amado (2016, p. 33):

O custeio da seguridade social deverá ser o mais amplo possível, mas precisa ser isonômico, devendo contribuir de maneira mais acentuada para o sistema aqueles que dispuserem de mais recursos financeiros, bem como os que mais provocarem a cobertura da seguridade social.

Neste sentido, pode-se usar como exemplo as instituições financeiras, que possuem um acréscimo de 2,5 % no valor de suas alíquotas, visto a sua alta lucratividade, ao passo que empresas de pequeno porte possuem um sistema de contribuição mais simplificado e reduzido.

Outro exemplo válido para tal princípio são as empresas que desenvolvem atividade de risco, onde possuem maiores possibilidades de concessão de benefícios acidentários, por consequência terão alíquotas maiores em suas contribuições.

O princípio da diversidade da base de financiamento tem o intuito de evitar crises no sistema previdenciário; busca garantir que crises em setores específicos não abalem a arrecadação, agregando várias fontes de arrecadação para o custeio.

O artigo 195, caput da Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento; c) o lucro;

I - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;

III - sobre a receita de concursos de prognósticos.

2Equidade consiste na adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os critérios de justiça e

igualdade. Pode-se dizer, então, que a equidade adapta a regra a um caso específico, a fim de deixá-la mais justa. Ela é uma forma de se aplicar o Direito, mas sendo o mais próximo possível do justo para as duas partes.

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IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. (BRASIL, 1988).

Assim, “bases diferentes no financiamento da Seguridade Social garantem maior segurança para o sistema, pois a variedade evita que possíveis crises em determinado setor do mercado causem grandes oscilações na arrecadação previdenciária” (ROMANO, 2013, p. 54). Por fim, o princípio do caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Conforme estabelece o artigo 10 da Constituição Federal “[...] é assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação”. Ou seja, este princípio tem por objetivo trazer para a sociedade, por meio de representantes, as discussões acerca da gestão da seguridade social.

Nas palavras de Castro e Lazzari (2016, p. 116–117):

A gestão dos recursos, programas, planos, serviços e ações nas três vertentes da Seguridade Social, em todas as esferas de poder, deve ser realizada mediante discussão com a sociedade. Para isso, foram criados órgãos colegiados de deliberação: o Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, criado pelo art. 3º da Lei n. 8.213/91, que discute a gestão da Previdência Social; o Conselho Nacionalde Assistência Social – CNAS, criado pelo art. 17 da Lei n. 8.742/93, que delibera sobre a política e ações nesta área; e o Conselho Nacional de Saúde – CNS, criado pela Lei n. 8.080/90, que discute a política de saúde. Todos estes conselhos têm composição paritária e são integrados por representantes do governo, dos trabalhadores, dos empregadores e dos aposentados.

No entendimento de Hugo Goes (2015, p. 35), “[...] de acordo com este princípio, a gestão dos recursos, programas, planos, serviços e ações, nas três áreas da seguridade social, em todas as esferas de poder, deve ser realizada mediante discussão com a sociedade”.

1.2 Aspectos históricos do direito do trabalho

O Trabalho sempre fez parte da vida humana, seja ela para proveito particular ou de outrem. Nele o homem tirou seu sustento e possibilitou a sua evolução.

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O significado do direito do trabalho, conforme cita a enciclopédia Wikipédia (grifo do autor):

Direito do trabalho é o conjunto de normas jurídicas que regem as relações entre empregados e empregadores, são os direitos resultantes da condição jurídica dos trabalhadores. Estas normas, no Brasil, estão regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Constituição Federal de 1988 e várias leis esparsas (como a lei que define o trabalho do estagiário, dentre outras).

Surge como autêntica expressão do humanismo jurídico e instrumento de renovação social. Constitui atitude de intervenção jurídica em busca de um melhor relacionamento entre o homem que trabalha e aqueles para os quais o trabalho se destina. Visa também a estabelecer uma plataforma de direitos básicos. Portanto, a definição de direito do trabalho é o conjunto de normas e princípios que regulamentam o relacionamento entre empregado e empregadores.

Percebe-se que o direito do trabalho possui cunho social e vem buscar nas relações entre o trabalhador e àqueles para os quais trabalha o cumprimento dos direitos básicos, adotando normas gerais e específicas para regular estas condições jurídicas.

O trabalho possui diferentes concepções que se deram com a evolução histórica do trabalho. Inicialmente, o trabalho foi considerado na Bíblia como castigo. Adão teve de trabalhar para comer em razão de ter comido o fruto proibido (MARTINS, 2012, p. 3).

O doutrinador Rafael Altafin Galli (2016, p. 12), também faz referência ao trabalho como castigo quando cita:

A palavra trabalho vem do latim “Tripliare”, que significa martirizar com tripadium, ou seja, martirizar com um chicote conhecido por possuir três pontas. Assim, temos que, a palavra trabalho, foi conceituada em um primeiro momento, como um castigo.

Entende-se que conforme a citação vista do autor Rafael Galli, que o instrumento

tripadium deu origem à palavra trabalho, que diferentemente do conceito atual, o trabalho era

tido como um castigo, ou seja, o trabalho não era visto “com bons olhos”.

Nesta perspectiva, o trabalho era visto como um castigo, segundo Sérgio Pinto Martins (2012) o trabalho escravo foi a primeira forma de trabalho conhecida, onde o escravo não era detentor de direitos, apenas tinha a obrigação de trabalhar, sem nenhum meio de retribuição.

A doutrinadora Alice Monteiro de Barros (2011, p. 45) completa:

Paralelamente ao trabalho do escravo havia, sobretudo entre os romanos, aqueles que exerciam uma atividade com autonomia, em regime de liberdade, como os

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artesãos. Suas associações recebiam o nome de colégios romanos, provavelmente fundadas por Numa Pompílio, com finalidade religiosa e de socorro mútuo. Não se confundiam com os sindicatos, que são órgãos de defesa dos interesses de determinada categoria econômica, profissional, de trabalhadores avulsos, autônomos e de servidores públicos.

O trabalho subordinado não pode ser confundido com o trabalho escravo, uma vez que no trabalho escravo não ocorre uma subordinação, hoje elemento essencial para a caracterização de vínculos de trabalho, e sim uma sujeição pessoal entre o escravo e seus senhores (DELGADO, 2011, p. 86).

Mauricio Godinho Delgado (2011, p. 86, grifo do autor) explica o conceito de subordinação:

Subordinação é o conceito que traduz a situação jurídica derivada do contrato de trabalho mediante a qual o empregado se obriga a acolher a direção do empregador sobre o modo de realização da prestação de serviço [...]. Não gera um estado de sujeição pessoal (prisma subjetivo) do prestador de serviços – razão por que supõe e preserva a liberdade do prestador. Já a sujeição é objetiva, atuando sobre a pessoa do trabalhador – razão por que supõe e reproduz sua falta de liberdade pessoal.

Apenas no decorrer da revolução industrial do século XVII (e principalmente no século XVIII) quando ocorre a ruptura do sistema produtivo feudal, que a relação empregatícia (onde a subordinação é inerente) passa a se estruturar seus pilares, que vigoram até os dias de hoje. Esse processo de hegemonia – de generalização e massificação da relação de emprego no universo societário – acaba se firmando ao decorrer do século XIX na Europa e Estados Unidos (DELGADO, 2011, p.86).

Portanto, a subordinação, hoje vista como característica da relação emprego, remete ao modo com que a relação entre o empregado e o empregador ocorre, vinculando-os não de maneira pessoal, mas sim uma relação profissional apenas.

1.3 Conceito de acidente de trabalho

O acidente de trabalho é aquele que ocorre durante a realização da atividade laboral a serviço da empresa ou, no caso dos segurados especiais, dos trabalhos prestados. Os acidentes são caracterizados, segundo Castro e Lazzari (2014, p. 391), em três elementos principais: a

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exterioridade da causa do acidente, ou seja, o evento danoso ocorre por um agente externo, não natural da pessoa; a violência: no sentido que para configurar o acidente há a necessidade de que o evento resulte em lesão corporal ou perturbação funcional que deixe o indivíduo incapaz, provisória ou definitivamente ou lhe cause a morte.

Quanto à terceira característica, cita-se a definição exata de Castro e Lazzari (2014, p. 391):

Por fim, a caracterização do acidente de trabalho impõe tenha ele sido causado pelo exercício de atividade laborativa. Exclui-se, portanto, o acidente ocorrido fora do âmbito dos deveres e das obrigações decorrentes do trabalho. Não é necessário, neste aspecto, que o fato tenha ocorrido no ambiente de trabalho, mas tão somente em decorrência do trabalho. Daí se conclui que os acidentes de trajeto e os sofridos em trabalhos externos também devem ser considerados como integrantes do conceito.

O Professor Sérgio Pinto Martins (2006, p. 406), expressa o conceito de acidente de trabalho da seguinte maneira:

Seria melhor conceituar o acidente de trabalho como a contingência que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço do empregador ou pelo exercício de trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

A Lei nº 8.213/91 traz o conceito de acidente de trabalho:

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

O acidente de trabalho é aquele que se dá no exercício laboral, diante de uma ocorrência que cause lesão ou incapacidade funcional no exercício do trabalho, ou seja, ocorre com trabalhadores que estão prestando serviços à empresa.

Importante salientar que para a existência do acidente de trabalho, há a necessidade do nexo da causa-efeito. Este nexo é tríplice, envolvendo a atividade laboral, o acidente e a consequente lesão, e incapacidade resultante da lesão (MARTINS, 2006, p. 406).

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1.3.1 A origem dos acidentes de trabalho

A preocupação com acidentes de trabalho surgiu durante a revolução industrial, no momento em que o trabalho manual passou a ser substituído pelo uso de máquinas. O manuseio das máquinas de tear e a vapor traziam consigo um grande número de acidentes (MARTINS, 2006, p. 394).

A primeira legislação mundial a versar sobre acidentes de trabalho foi a alemã, no ano de 1884, por intermédio de Bismarck3. A lei aplicava-se apenas às indústrias que possuíam atividades perigosas, determinando o pagamento de valores pecuniários para compensar a falta de salário enquanto o acidentado se recuperava. A lei também previa pensões por morte, assistência médica e farmacêutica. Inicialmente o seguro era feito mutualmente, o que depois passou a ser garantido pelo tesouro alemão (MARTINS, 2006, p. 394).

1.3.2 A evolução histórica dos acidentes de trabalho no Brasil

No Brasil, a primeira orientação acerca dos acidentes de trabalho veio com a promulgação do Código Comercial Brasileiro, no ano de 1850, prevendo em seu artigo 78, a manutenção do salário dos acidentados por três meses nos casos de acidentes “imprevistos e inculpados” (MARTINS, 2006, p. 395).

Entretanto, mesmo antes do advento do Código Civil, os acidentes de trabalho poderiam ser indenizados a partir da culpa aquiliana, que trata da reparação dos danos causados às coisas alheias. Esta teoria surgiu com o intuito de cobrir os riscos de força maior que tinham os empregadores em relação aos empregados (Martins, 2006, p. 399).

Mesmo com a culpa aquiliana, que possibilitava o empregado a receber indenização, esta esbarrava em problemas como a falta de testemunhas, uma vez que eram também empregados e não testemunhavam por medo de demissão e falta de documentação, pois a empresa não lhes fornecia, deixando o empregado acidentado sem meios de produzir provas. Com o surgimento da teoria da responsabilidade subjetiva contratual, o ônus da prova passa a ser invertido, ficando o empregador incumbido de provar que não teve culpa, porém muitas

3 Otto Eduard Leopoldvon Bismarck-Schönhausen (Schönhausen, 1 de Abril de 1815 — Aumühle, 30 de Julho

de 1898) foi um nobre, diplomata e político prussiano e uma personalidade internacional de destaque do século XIX.

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vezes o empregador conseguia demonstrar que não possuía culpa, deixando o acidentado sem indenização (MARTINS, 2006, p. 399).

A Lei nº 3.724 de 1919, foi a primeira a tratar especificamente acerca dos acidentes de trabalho. Esta passou a adotar a teoria da responsabilidade objetiva do empregador. Ocorrido o acidente, não há mais que se discutir acerca da culpa no acidente, a responsabilidade era sempre incumbida ao empregador. A lei não abrangia atividades comerciais, ficando adstrita às atividades mais perigosas.

Um marco para a legislação acidentária foi o Decreto-lei nº 7.036/44, que trouxe mudanças significativas em relação às normas anteriores.

Conforme ensina Sérgio Pinto Martins (2006, p. 401):

O acidente passou a ser conceituado como o que provoca lesão corporal, indicando sua causa e ação mais o efeito como na norma anterior [...]. Foi estendido o conceito de trabalho para abranger aquele que ocorresse durante o intervalo para refeições, ou destinado a satisfazer necessidades fisiológicas ou para descanso nos locais de trabalho.

Os acidentes in itinere também passaram a ter uma maior abrangência, deixando de limitar apenas os casos em que a condução fosse fornecida pelo empregador, mas também nos casos em que fosse transportado por via e meios perigosos (MARTINS, 2006, p. 401).

No ano de 1976, a Lei nº 6.367/76 em seu artigo 1º, incumbe ao Instituto Nacional de Previdência Social-INSS, a responsabilidade pelos pagamentos do seguro obrigatório contra acidentes de trabalho, assim como institui à justiça comum a competência das ações acidentárias (MARTINS, 2006, p. 403).

A Constituição de 1988 insere o acidente de trabalho como risco social. Logo, passível de proteção previdenciária (artigo 201, I). (CASTRO; LAZZARI, 2003, p.463).

As Leis nº 8.212 e nº 8.213/91, em seus textos originais, tratam do acidente do trabalho com benefícios diferenciados, regulamentando o custeio pelo empregador “[...], mantida a exclusividade pelo oferecimento da SAT pela previdência estatal” (CASTRO; LAZZARI, 2003, p. 463).

A Emenda constitucional nº 20/98 excluiu o acidente do trabalho dos eventos protegidos somente pelo regime geral da previdência social, dando margem para a cobertura

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concorrente pelo setor privado, que já possui projeto de lei em tramitação junto ao congresso nacional (CASTRO; LAZZARI, 2003, p. 464).

Com a Emenda Constitucional nº 20/98, a responsabilidade não cabe apenas ao INSS em arcar com os danos, mas concorre o empregador nas custas de sua culpa. Esta emenda possibilita a ação de regresso do INSS contra o empregador que, por ventura, tenha sido negligente possibilitando a ocorrência do fortuito.

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2 ACIDENTES DE TRABALHO

A Lei nº 8.213/91 traz em seus artigos 19, 20 e 21 um rol exemplificativo que é tratado como acidentes de trabalho.

O artigo 19 cita os acidentes de trabalhos considerados típicos no ordenamento jurídico que são aqueles que ocorrem no exercício do trabalho a serviço do emprego, dos empregados domésticos e dos segurados especiais que venham a causar incapacidade temporária ou permanente ao empregado.

Já o artigo 20 menciona as moléstias ocupacionais que, resumidamente, podem ser classificadas em dois tipos: A doença profissional, ou seja, aquela trazida pelo exercício de atividade peculiar; e também a doença do trabalho, que decorre das condições especiais em que o trabalho é realizado, no qual a doença se relacione diretamente.

Por fim, o artigo 21 refere os acidentes de trabalho por equiparação, tratados pelo ordenamento jurídico como atípicos. Referido artigo traz uma listagem exemplificativa de eventos que podem ser tratados como acidente de trabalho pela equiparação, ou seja, embora não tenha tido causa única, tal evento tenha contribuído diretamente com a morte, perda ou redução da capacidade para o trabalho (AMADO, 2016, p. 294).

O legislador, também decidiu abranger eventos fortuitos que não possui ligação direta com o trabalho, porém ainda podem ser enquadrados como acidentes de trabalho, pois a atividade laboral é considerada uma concausa para o fato jurídico.

Assim, nas exatas palavras de Amado (2016, p. 294):

Logo, se um empregado se acidenta no exercício do labor, potencializando a sua lesão pelo fato de ser hemofílico, enfermidade que somada ao acidente gera a incapacidade laboral, configurado está o acidente de trabalho por equiparação.

Importante frisar “que nos períodos destinados à refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho” (AMADO, 2016, p. 294).

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Portando, mesmo que o incidente venha a ocorrer no momento em que o empregado não esteja realizando sua atividade habitual de trabalho, mas que esteja ainda à disposição do empregador ou no ambiente de trabalho, configura-se então o acidente de trabalho.

2.1 Acidentes de trabalho in itinere: uma visão previdenciária

A lei também abrange os eventos ocorridos longe e fora do horário de trabalho, como se pode verificar no caso dos acidentes in itinere, ou seja, aqueles ocorridos durante o deslocamento de casa para o trabalho ou vice-versa, ainda que fora do horário de expediente.

O artigo 21, da Lei nº 8.213/91, enquadra o acidente in itinere em seu inciso III, alínea “d”, que diz:

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: [...]

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: [...]

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

Estes eventos são equiparados aos acidentes de trabalho, tais como, os acidentes in

itinere (trajeto entre a residência e o emprego e vice-versa), também na prestação de serviço

espontâneo que objetiva trazer algum tipo de benefício para e empresa, pois em todos estes e em outros casos semelhantes existe um nexo com a atividade laboral (AMADO, 2016, p. 294).

Para que se configure o acidente de percurso, é necessário que o trabalhador esteja realizando seu trajeto habitual, não necessariamente o mais curto, mas aquele que pratica diariamente, pois no momento em que o empregado não esteja no caminho habitual, pode ensejar na descaracterização do acidente de trabalho, conforme disposto na Instrução Normativa INSS/PRES nº 77, de 21 de janeiro de 2015 em seu artigo 320, § 5º que diz:

Art. 320 [...]

§ 5º Não se caracteriza como acidente de trabalho o acidente de trajeto sofrido pelo segurado que, por interesse pessoal, tiver interrompido ou alterado o percurso habitual.

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Não apenas o caminho percorrido pelo trabalhador deve ser habitual, mas também o tempo que dele decorre da saída do trabalho ou de casa. Este deve ser compatível com o tempo normal do percurso, pois caso exceda demais o tempo também pode descaracterizar o acidente de trabalho (NETO, 2011).

2.2 A responsabilidade civil do empregador

O conceito de responsabilidade civil, segundo o doutrinador de Paulo Nader (2016, p. 8):

A nomenclatura responsabilidade civil possui significado técnico específico: refere-se à situação jurídica de quem descumpriu determinado dever jurídico, causando dano material ou moral a ser reparado.

A responsabilidade civil ocorre nas situações onde aquele que sofre consequências por atos ilícitos praticados por outrem tenha o direito a ser indenizado, como forma de reparação e compensação do dano.

A responsabilidade objetiva do empregador surgiu diante da grande dificuldade de se provar a culpa do empregado em face dos empregadores nos acidentes de trabalho, o que acabava gerando muitas injustiças e trabalhadores não indenizados.

Responsabilidade civil objetiva é aquela em que não há necessidade de comprovação de culpa ou dolo para gerar a obrigação de indenizar.

O artigo 927 do Código Civil brasileiro dispõe que:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Muitos doutrinadores defendem que se a atividade crie um grande risco ao empregado, este já configura a responsabilidade objetiva, que não dependerá de prova de culpa e dolo, entretanto a Constituição Federal no Artigo 7º, XXVIII, deixa claro que, havendo culpa ou

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dolo do empregador, fica este sujeito à responsabilidade civil pelo fato (teoria subjetiva) (NINA, 2013).

Esta responsabilidade objetiva somente aprecia evento danoso, ou seja, é considerada uma responsabilidade sem culpa, pois não faz análise ao comportamento daquele que tenha sofrido tal ato. Portanto, o dever de indenizar surge independentemente de conduta culposa, lícita ou ilícita, apenas é necessária a conexão entre a conduta e o dano (NINA, 2013).

Esta conexão entre a conduta e o dano deve ser posto em análise, caso a caso, para que se busque identificar indícios que justifiquem e comprovem a relação.

2.2.1 Do direito à indenização civil

A responsabilidade pela reparação civil se configura mediante a presença de dolo ou culpa, sendo esta classificada como: – levíssima (quando há um mínimo de desvio de comportamento), leve (falta de diligência habitual do bono pater familiae) ou grave (falta absoluta de atenção exigida de qualquer pessoa.

A necessidade de ficar caracterizado o dever de indenizar decorre dos seguintes aspectos: a) Acidente é fato humano; b) causa dano ou prejuízo; c) violação de um direito da vítima; d) noção de culpa do empregador.

Cabe a reparação mediante indenização por perdas e danos materiais, bem como morais, nos casos em que decorre o dolo/culpa do empregador para com o empregado, respeitando sempre todos os requisitos acima expostos (CASTRO; LAZZARI, 2016, p. 582).

Portanto, de acordo com a doutrina e jurisprudência gaúcha, pode-se concluir que em regra, a responsabilidade do empregador nos casos de acidentes é subjetiva, sendo necessário o dolo ou culpa por ato do empregador para que possa ocorrer o dever de indenizar.

Neste sentido, seguem algumas decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE

INITINERE. MORTE DE SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. PRESSUPOSTOS DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. Para a configuração da responsabilidade do empregador, é necessária a presença dos pressupostos da obrigação de indenizar, quais sejam: a conduta ilícita, o dano e o nexo de causalidade. Ainda, de acordo com o disposto no art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, a responsabilidade do empregador é subjetiva, dependendo de prova da culpa. AUSÊNCIA DE CULPA DO EMPREGADOR. DEVER DE

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INDENIZAR INEXISTENTE. Não tendo sido comprovado que o município demandado tenha concorrido culposamente para a ocorrência do acidente de trânsito que vitimou o servidor, no deslocamento do trabalho para residência, revela-se inviável a concessão da indenização. Hipótese em que o falecido conduzia veículo próprio, tendo a prova dos autos evidenciado que o acidente ocorreu por culpa da própria vítima, por imprudência no trânsito. Lições doutrinárias e precedentes jurisprudenciais. Sentença de improcedência mantida. APELAÇÃO DESPROVIDA. (RIO GRANDE DO SUL, 2015).

Neste mesmo sentindo o relator Miguel Ângelo da Silva expõe:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE

TRABALHO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. REPARAÇÃO DE DANOS

MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS. DEMANDA PROPOSTA CONTRA O MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE. SERVIDOR MUNICIPAL ADMITIDO COMO CELETISTA CUJO REGIME JURÍDICO FOI CONVERTIDO AO ESTATUTÁRIO EM 01-01-1991. COMPETÊNCIA DECLINADA PELA JUSTIÇA LABORAL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ALEGAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE ACIDENTE DE TRABALHO "INITINERE". AMPUTAÇÃO DO MEMBRO INFERIOR ESQUERDO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO MUNICÍPIO. INEXISTÊNCIA DE PROVA DA CULPA E DO NEXO DE CAUSALIDADE. DEVER DE INDENIZAR INEXISTENTE. Versando a demanda sobre responsabilidade civil por acidente do trabalho, há presunção de culpa do empregador, a quem incumbe demonstrar que adotou todas as diligências, cautelas e precauções necessárias para assegurar a incolumidade física do obreiro e evitar a ocorrência do infortúnio. Caso concreto em que os elementos de convicção coligidos ao bojo dos autos revelam que o demandante se envolveu em acidente de trânsito, quando dirigia uma motocicleta e teria sido "cortado" por veículo automotor, quando se deslocava para o local onde habitualmente desempenhava suas atividades laborativas, atuando como Guarda Florestal na Reserva Biológica do Lami/SMAM. Conjunto probatório revelador de que o autor não se deslocava para atender chamado de emergência ou situação excepcional. Acidente de trânsito para o qual o Município acionado não concorreu de qualquer modo. Nexo de causalidade não demonstrado. Dever de indenizar inocorrente. APELO DESPROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL, 2014).

O grande número de ações que chegam à justiça gaúcha com pedido de danos morais e materiais acaba esbarrando na ausência de culpa do empregador, criando assim uma jurisprudência uniforme sobre estas causas.

Também na Justiça Trabalhista, referida questão já foi enfrentada por diversas vezes, como se pode observar pela ementa oriunda do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região:

EMENTA: ACIDENTE DE PERCURSO OCORRIDO NO DESLOCAMENTO

TRABALHO-RESIDÊNCIA. INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR DA EMPREGADORA POR DANOS MORAIS. O acidente de percurso considerado como acidente de trabalho pela legislação previdenciária (art. 21, IV, "d", da Lei nº 8.213/91), não enseja a responsabilidade da empregadora pelos danos sofridos pelo empregado, quando não comprovado que a empresa tenha concorrido com dolo ou culpa para a ocorrência do evento (RIO GRANDE DO SUL, 2016).

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Neste mesmo sentido segue decisão do Tribunal Superior do Trabalho:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.

ACIDENTE DE TRÂNSITO OCORRIDO, APÓS A JORNADA LABORAL, NO TRAJETO ENTRE A EMPRESA E RESIDÊNCIA DO EMPREGADO. INEXISTÊNCIA DE CULPA DA RECLAMADA. No caso, restou inconteste que o acidente de trânsito sofrido pelo Reclamante não se verificou durante a jornada de trabalho ou no exercício das atividades laborais desenvolvidas, cumprindo destacar que, embora o Reclamante tenha afirmado que exercia a função de Motoboy, tal premissa não restou assentada no acórdão regional. Nesse contexto, em que o acidente de trânsito sofrido foi desvinculado das atividades laborais desenvolvidas, tendo ocorrido no trajeto entre a empresa e a residência do Obreiro, após a jornada laboral e por culpa de terceiro, a equiparação a acidente de trabalho se verifica apenas para fins previdenciários (artigo 21, IV, d, da Lei 8.213 /91), não se afigurando possível a condenação da Reclamada ao pagamento de indenização por danos morais. Precedentes. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (BRASIL, 2015).

Portanto não incorrerá o dever de indenizar sem existir culpa/dolo na conduta patronal em relação ao acidente sofrido pelo empregado.

2.2.1.1 Do acidente de trajeto quando fornecido pelo empregador

Entretanto, nos casos em que ocorre o acidente in itinere quando o transporte for oferecido pela empresa, atrai a conduta objetiva da culpa, ficando condicionada à empresa como transportadora de seus empregados.

Maurício Godinho Delgado na decisão do Tribunal Superior do Trabalho assim já se manifestou:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.

ACIDENTE DE TRAJETO. TRANSPORTE FORNECIDO PELO

EMPREGADOR. RESPONSABILIDADECIVIL OBJETIVA. DECISÃO

DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. O pleito de indenização por dano moral e material resultante de acidente do trabalho e/ou doença profissional ou ocupacional supõe a presença de três requisitos: a) ocorrência do fato deflagrador do dano ou do próprio dano, que se constata pelo fato da doença ou do acidente, os quais, por si sós, agridem o patrimônio moral e emocional da pessoa trabalhadora (nesse sentido, o dano moral, em tais casos, verifica-se in reipsa); b) nexo causal, que se evidencia pela circunstância de o malefício ter ocorrido em face das circunstâncias laborativas; c) culpa empresarial, a qual se presume em face das circunstâncias ambientais adversas que deram origem ao malefício (excluídas as hipóteses de responsabilidade objetiva, em que é prescindível a prova da conduta culposa patronal). Na hipótese, o TRT consignou que a obreira sofreu acidente de trânsito quando estava a caminho para o trabalho, em transporte fornecido pela empresa, caso que atrai a responsabilidade objetiva da empresa Reclamada, na condição de transportadora de seus empregados. Em decorrência do acidente, a Reclamante sofreu fraturas na

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coluna, submetendo-se a cirurgia. Com efeito, a jurisprudência desta Corte Superior tem entendido que a responsabilidade do empregador é objetiva no caso em que o acidente de trânsito ocorre durante o transporte do empregado em veículo fornecido pela empresa, com base nos arts. 734 e 735 do Código Civil. Precedentes. Além disso, o Regional assentou que, a par da aplicação da responsabilidade objetiva, a Reclamada incorreu em culpa pelo acidente, por não ter contratado pessoa idônea para o serviço de transporte de seus empregados. Desse modo, não há como assegurar o processamento do recurso de revista quando o agravo de instrumento interposto não desconstitui os fundamentos da decisão denegatória, que ora subsiste (BRASIL, 2013).

Observados assim os artigos 734 e 735 do Código Civil, poderá haver o dever de indenizar do empregador quando o transporte for oferecido pelo mesmo e ainda incorrer em fato danoso aos empregados envolvidos.

2.2.2 Da responsabilidade pela não emissão do CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho

A inciativa da emissão do CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho – é um dever do empregador sempre que ocorrer acidente de trabalho ou doença profissional. O legislador estabeleceu um modo de eximir esta iniciativa do empregado ou de seus dependentes, estipulando que o empregador reste incumbido de realizar a comunicação do acidente de trabalho ao INSS.

Para a concessão do benefício acidentário é obrigatória a emissão do CAT pela empresa em até um dia útil após o evento, em formulário próprio, sob pena da incidência das sanções do artigo 22 da Lei nº 8.213/91, que estipula multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, e também multa em caso de reincidência que serão aplicadas e cobradas pela previdência social. (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 579).

Nos casos em que não ocorra a emissão pela empresa empregadora ou pelo empregador doméstico, a comunicação poderá ser realizada pelos dependentes, sindicatos competentes, médico ou autoridade pública, sem prejuízo à responsabilidade do empregador pela não emissão da CAT.

Nos casos de empregados especiais, a comunicação deve ser realizada pelo próprio trabalhador, sindicato competente, seus dependentes, médico ou autoridade pública.

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É obrigatória a emissão de quatro vias da comunicação, sendo que uma via deverá ser entregue ao INSS, uma ao trabalhador ou dependente, uma ao sindicato competente e uma última à empresa onde o trabalhador labora (AMADO, 2016, p. 297).

Esta exigência garante além de transparência, uma garantia jurídica para o empregado, que poderá verificar as informações que foram repassadas ao INSS sobre seu acidente.

2.2.2.1 Dos motivos que levam a não emissão da CAT

Por diversas vezes não ocorre a emissão da CAT, sendo vários os motivos, como por exemplo, a falta de conhecimento do empregador, principalmente nos casos de acidentes in

itinere, falta de amparo dos sindicatos competentes, bem como a má fé dos empregadores em

alguns casos.

Estas situações acabam prejudicando unicamente o empregado acidentado, que uma vez já prejudicado em decorrência do infortúnio, acaba sendo injustiçado, tendo seus direitos violados e exatamente no momento em que o trabalhador mais necessita.

A não emissão da CAT ocorre por diversos fatores, como o não conhecimento da obrigatoriedade da emissão, não enquadramento de mais ocorrências de acidentes junto às estatísticas ou até mesmo manobras do empregador para buscar evitar futuros encargos trabalhistas decorrentes destes acidentes.

Muitos empregadores ainda burlam a emissão do CAT com o intuito de obter vantagens nas alíquotas da contribuição do SAT – Seguro de Acidente de Trabalho, o que não ocorrerá a partir de 2018, quando o acidente de trajeto não fará mais parte do cálculo do fator acidentário de prevenção – FAP, conforme Resolução 1.329/2017 do Conselho Nacional de Previdência, pois se entende que o empregador não pode arcar com um ônus de algo que não esteja a seu controle.

Em todos os casos de acidente ou doença de trabalho, mesmo sem o afastamento do trabalho pelo empregado, o INSS está obrigado a registrá-lo. Portanto, em qualquer evento onde fica caracterizado o acidente, deve ocorrer a emissão da CAT (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 579).

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Todas as exigências vistas no item anterior visam garantir ao trabalhador acidentado que seus direitos sejam resguardados e cumpridos de maneira a garantir-lhes que tais infortúnios não sejam encobertos ou manipulados pelos empregadores que busquem omitir a CAT.

2.2.2.2 Do dano moral pela não emissão da CAT

Diante do caso de não emissão da CAT pelo empregador, é incontroverso que o trabalhador terá seus direitos corrompidos, o que resulta na jurisprudência gaúcha afirmar que há a obrigação do dever de indenizar por danos morais aquele que tenha sido prejudicado.

Conforme Deborah Coleto Assumpção de Moraes, relatora no Recurso Inominado, nº 71006763742, julgando ação de indenização por danos morais em razão da não emissão da CAT:

A simples ausência da emissão da CAT, obrigação do empregador, é ato suficiente, ainda que sem repercussões patrimoniais, de causar ofensa aos direitos de personalidade. A ausência de emissão da CAT postergou de modo indevido o início do atendimento médico ao autor, causando dor física e moral, caracterizando-se lesão a direito personalíssimo (RIO GRANDE DO SUL, 2017).

Ainda neste mesmo sentido, o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região:

ACIDENTE DE TRABALHO. NÃO EMISSÃO DA CAT PELO EMPREGADOR. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DEVIDA. Comprovado que o autor sofreu uma queda dentro da empresa, não tendo havido emissão da CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), devida a reparação indenizatória em razão dos danos morais (RIO GRANDE DO SUL, 2017).

Importante frisar que o pagamento das indenizações, sejam elas pagas de uma só vez ou pensionada, não podem ser compensadas por nenhum benefício previdenciário (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 579).

Evidente então que o abalo sofrido pelo empregado em não ter recebido benefício de seu direito pelas vias que poderiam lhe ser facilitado, gera o dever de indenizar.

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2.3 O não reconhecimento pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) do Infortúnio como Acidente ou Doença do Trabalho

O fato da não emissão da CAT não impede o empregado de ter reconhecido o acidente de trabalho, sendo necessária a comprovação de que o afastamento superior a quinze dias tenha decorrido de acidente de trabalho (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 579).

Ainda que o trabalhador esteja laborando sem o registro de trabalho em CTPS, venha a sofrer algum tipo de acidente de trabalho, tendo sua capacidade laborativa reduzida por mais de quinze dias, terá garantia de emprego, desde que atendidos os requisitos para a caracterização da relação de emprego (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 594).

Evidente que nestes casos, onde já verificada a ocorrência de falhas na relação jurídica entre o empregado e o empregador, há que se recorrer à Justiça do Trabalho para o empregado ter seus direitos resguardados.

2.3.1 Da estabilidade acidentária

O artigo 118 da Lei nº 8.213/91 prevê que “o segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente”.

Trata-se de um direito trabalhista, vedando o empregador a dispensa sem justa causa do empregado acidentado. Importante salientar que, mesmo o empregado não tendo percebido a verba indenizatória da previdência social, possui garantia do emprego.

A estabilidade é garantida após o 16º dia da incapacidade e começa a ser contada da data da cessação do auxílio previdenciário, quando recebida a alta médica pelo perito do INSS. O benefício apenas abrange os casos de demissão sem justa causa, sem garantia às rescisões por justa causa ou pelo próprio pedido de demissão do empregado (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 594)

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Importante lembrar que o empregado não tendo ficado afastado mais de 15 dias das atividades laborais, mesmo com emissão da CAT, não tem direito à estabilidade provisória.

2.3.1.1 Da estabilidade acidentária durante o aviso prévio

No que tange à possiblidade do benefício da estabilidade acidentária no caso de o fato ter ocorrido dentro do período do aviso prévio é garantido também este direito. Conforme a jurisprudência gaúcha:

ACIDENTE DO TRABALHO. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. O fato de o benefício ter sido requerido após a rescisão contratual levada a efeito pela reclamada não afasta o direito do reclamante quanto à estabilidade no emprego pelo acidente no trabalho, tendo em vista que é incontroverso que o afastamento foi ocasionado pela lesão decorrente daquele. Inteligência da Súmula 378 do TST (RIO GRANDE DO SUL, 2015).

Portanto, “neste sentido, em que pese o teor das súmulas do TST 371 e 378, tem-se firmado o entendimento de que a superveniência de acidente de trabalho ou doença ocupacional no curso do aviso prévio gera, sim, a proteção contra despedida” (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 595).

Justo garantir ao trabalhador tal direito, uma vez que o acidente ocorreu pelo fato de o empregado estar realizando atividade que persegue à atividade laboral.

2.4 Aspectos relevantes da nova Legislação Trabalhista – CLT

A nova legislação trabalhista, trazida pela Lei nº 13.467/17, trouxe grandes mudanças na vida de empregados e empregadores. As mudanças na nova Consolidação das Leis do Trabalho – CLT – não abrangem apenas aspectos de cunho trabalhista, mas também aspectos de cunho previdenciário, onde se pode observar quando se tratam os assuntos relativos aos acidentes de trabalho in itinere.

A nova CLT alterou o artigo 58, §2º, ou seja, pela nova legislação o tempo gasto no percurso entre a ida e a volta não pode mais ser considerado tempo à disposição do

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empregador, mesmo aquele em que o local seja de difícil acesso ou fornecido pela própria empresa.

“Dessa forma enquanto o enunciado atual do artigo 58, § 2º da CLT trata exclusivamente de jornada de trabalho, seu novo enunciado trouxe mais: o empregado não estará à disposição do empregador” (MEDEIROS, 2017).

Frente à análise da citação acima, não se pode mais considerar o acidente de trajeto como acidente de trabalho, quando analisado o aspecto unicamente trabalhista. Entretanto, a Lei nº 8.213/91 continua trazendo em seu artigo 21, IV, “d”, a previsão de que se equiparam aos acidentes de trabalho, aqueles ocorridos no percurso do trabalho para casa e vice-versa, inclusive na utilização de veículo próprio do empregado.

Para o empregado, o não reconhecimento do acidente de trajeto como acidente de trabalho trará grandes prejuízos para sua pessoa, uma vez que já infortunado, ficará desamparado pela lei trabalhista, perdendo a garantia de sua estabilidade, facilitada então a sua demissão sem justa causa e que, provavelmente, ocorrerá de maneira corriqueira nas empresas diante das possíveis perdas de capacidade laborativa e até mesmo o tempo sobre o empregado ficará impossibilitado do trabalho.

Como afirma Medeiros (2017), o artigo 21, IV, “d”, da Lei nº 8.213/91 resta incompatível com o artigo 58, §2º da nova legislação trabalhista, e conforme artigo 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657/1942) será passível de ser interpretada como revogação do primeiro pela segunda.

Referida situação será fundamento para ações judiciais pelos empregadores em busca da revogação da Lei Previdenciária, no intuito de verem afastadas as possibilidades de ainda serem reconhecidos os acidentes in itinere como acidentes de trabalho (MEDEIROS, 2017).

Decisões estas que afetarão milhões de trabalhadores que diariamente se deslocam de seus lares até seus locais de trabalho, e que poderão não mais estarem amparados como antes.

Referências

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