• Nenhum resultado encontrado

As cláusulas abusivas nos planos se saúde frente ao código de defesa do consumidor.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "As cláusulas abusivas nos planos se saúde frente ao código de defesa do consumidor."

Copied!
58
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

CARLA REGINA DA SILVA BEZERRA

AS CLAUSULAS ABUSIVAS NOS PLANOS SE SAÚDE FRENTE AO

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

SOUSA - PB

2006

(2)

AS CLAUSULAS ABUSIVAS NOS PLANOS SE SAÚDE FRENTE AO

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS

da Universidade Federal de Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharela em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Professor Esp. Raimundo José de Sales Júnior.

SOUSA - PB

2006

(3)

C A R L A R E G I N A D A S I L V A B E Z E R R A

A S C L A U S U L A S A B U S I V A S N O S P L A N O S D E S A U D E F R E N T E A O C O D I G O D F D F F F S A D O O O N S U M i n O R

T r a b a l h o d e C o n c l u s a o de C u r s o a p r e s e n t a d o e m ,

B A N C A E X A M I N A D O R A

Professor(a) Esp. R a i m u n d o J o s e d a Silva Salles Junior O r I en ta d or( a)

E x a m i n a d o r (a)

E x a m i n a d o r (a)

S o u s a - PB N o v e m b r o - 2 0 0 6

(4)

snnhnu m m e s t a rpal»7ar.an p a c r e d i t o u e m m i n h a forca ate mais

rti 10 est i r\ m o i i o K r o o n « m e«iI/^ir>r»i/~>

A o m e u e s p o s o peio n o s s o lindo [jciijbciuu, fjiesenit! e fuiuiu. A m i n h a irma, e x e m p l o firme e c o n s t a n t e e m m i n n a vida.

(5)

A G R A D E C I M E N T O S

Inicialmente a D E U S , por permitir q u e este objetivo f o s s e c o n c l u i d o , a p e s a r aos i n u m e r o s obstaculo que se insurgiram d u r a n t e s esta c a m i n h a d a .

A m i n h a familia, P e d r a A n g u l a r e m m i n h a vida e motivo pelo qual c o n c i u o mais e s s a vitoria. P r i n c i p a l m e n t e a m i n h a irma Claudia e m e u a m a d o M a n u , por s e m p r e e s t a r e m d o m e u lado e a c r e d i t a r e m na minha s u p e r a c a o .

A s m i n h a s novas irmao q u e conquistei na R U F . Pois s e m a ajuda e o incentivo de Sitia, Vitoria, Thaylla, Eronildes e Sil, e s t e s o n h o e muitos outros nao seriam p o s s i v e l .

A o s m e u s a m i g o s , que f i e l m e n t e s e m p r e e s t i v e r a m c o m i g o , ao passar destes cinco a n o s , na labuta diaria d a U F C G

A o s m e u s professores q u e ao longo desta Jornada m u i t o m e e n s i n a r a m sobre d i g n i d a d e , respeito, etica e d e t e r m i n a c a o .

(6)

E m u m a relagao d e c o n s u m o e m q u e a negligencia d o f o r n e c e d o r p o d e ter c o n s e q u e n c i a s tao f u n e s t a s , c o m o a p e r d a d a s c o n d i c o e s de s a u d e , e ate da propria vida. Obriga a q u e se atente para a abusividade, proveniente da alls lucratividade q u e e s s e r a m o da e c o n o m i a a p r e s e n t a . M e s m o a m e n o r m o r a de u m a s e g u r a d o r a ao autorizar u m a ocorrencia m e d i c a p o d e levar o c o n s u m i d o r a sofrer prejuizos irreversiveis. A fiscalizagao d o f u n c i o n a m e n t o d o s pianos de s a u d e a c o n t e c e de diversas m a n e i r a s , d e n t r e elas: a administrativa, cujo f u n c i o n a m e n t o nao se discutira neste trabalho, e a juridica, e m q u e s e d e t e r m i n a a protegao contratual d o c o n s u m i d o r , s e m p r e e m virtude d o r e c o n h e c i m e n t o d a vulnerabilidade deste. A i n d a no c a m p o d a jurisdigao, d e v i d o ao principio da d e l e g a g a o , v e z q u e a s a u d e e direito social previsto na Carla M a g n a , e c a b i v e l

m e d i d a d e s e g u r a n g a contra o s a t o s d a s o p e r a d o r a s , a s s u n t o q u e t a m b e m nao sera objeto de e s t u d o d e s t a monografia. O p r e s e n t e trabalho m o n o g r a f i c o d e t e m -se, pois, a fiscalizagao e a nulidade d a s clausulas a b u s i v a s , a s s i m e n t e n d i d a s as previstas no C o d i g o d e D e f e s a d o C o n s u m i d o r . A aplicagao subsidiaria d o C o d i g o d e D e f e s a do C o n s u m i d o r na r e g u l a m e n t a g a o d o s pianos d e s a u d e faz c o m q u e incidam sobre e s t e s as regras d o citado d i p l o m a legal no q u e t a n g e a protegao contratual. A s quais, j a m a i s p o d e r i a m deixar de incidir, pois se trata d e u m a relagao d e c o n s u m o , e o n d e d e resto existe u m a v u l n e r a b i l i d a d e a g r a v a d a d o c o n s u m i d o r . A m e t o d o l o g i a e m p r e g a d a na c o n f e c g a o d o trabalho d e c o n c l u s a o d e curso foi a tecnica de f i c h a m e n t o e o m e t o d o indutivo. A s clausulas a b u s i v a s nos pianos d e s a u d e frente a o codigo d o c o n s u m i d o r f o r a m a consulta a textos legais, doutrinas, j u r i s p r u d e n c i a s , leitura e analises d e textos e artigos informativos relativos ao t e m a . B u s c a r - s e - a , d e s s a f o r m a , informar, orientar e ajudar o c o n s u m i d o r a m e l h o r e n t e n d e r e preservar s e u s direitos.

Palavras - chave: Pianos de Saude. Clausulas Abusivas. Vulnerabilidade.

consumidor

(7)

A B S T R A C T

In a c o n s u m p t i o n relation w h e r e t h e recklessness of the supplier c a n h a v e so f u n e s t a s c o n s e q u e n c e s , as t h e loss of t h e conditions of health, a n d e v e n of the proper life. It c o m p e l s the o n e that if attempts against for the abusividade, p r o c e e d i n g f r o m the high profitability that this b r a n c h of t h e e c o n o m y presents. Exactly the lesser deferred p a y m e n t of insuring w h e n authorizeing a medical o c c u r r e n c e c a n t a k e the c o n s u m e r to suffer irreversible d a m a g e s . T h e fiscalization of the functioning of the health plans h a p p e n s in diverse w a y s , a m o n g s t t h e m : administrative, the w h o s e functioning will not be a r g u e d in this work, a n d legal o n e , w h e r e if it d e t e r m i n e s the contractual protection of the c o n s u m e r , always in virtue of the recognition of the vulnerability of this. Still in the field of the jurisdiction, w h i c h had at the outset of t h e d e l e g a t i o n , t i m e that the health right social is f o r e s e e n in the Carla M a g n a , is c a b i v e l m e a s u r e of security against the acts of the operators, subject that also will not be object of study of this m o n o g r a p h . T h e present m o n o g r a p h i c w o r k is lingered, therefore, the fiscalization a n d t h e nullity of the a b u s i v e c l a u s e s , t h u s u n d e r s t o o d f o r e s e e n in t h e C o d e of D e f e n s e of t h e C o n s u m i d o r . A the subsidiary application of the C o d e of D e f e n s e of the C o n s u m e r in t h e regulation of t h e health plans m a k e w i t h that t h e rules of t h e cited statute h a p p e n on t h e s e in w h a t refers to the contractual protection. W h i c h , never could leave to h a p p e n , therefore it is a b o u t a c o n s u m p t i o n relation, and w h e r e of remaining portion an a g g r a v a t e d vulnerability of the c o n s u m e r exists. T h e m e t h o d o l o g y u s e d in t h e confection of t h e w o r k of c o u r s e conclusion w a s t h e t e c h n i q u e of f i c h a m e n t o a n d the inductive m e t h o d . T h e a b u s i v e clauses in the plans of health front to the c o d e of t h e c o n s u m e r had b e e n to the consultation the legal texts, doctrines, j u r i s p r u d e n c e s , reading a n d a n a l y z e of texts a n d relative informative articles to t h e subject. O n e will s e a r c h , of this f o r m , t o inform, to g u i d e a n d to help the c o n s u m e r best to u n d e r s t a n d a n d to preserve its rights.

(8)

I N T R O D U Q A O 0 8 C A P J T U L O 1 D O S C O N T R A T O S 11 1.1 Evolugao historica 11 1.2 Concerto 15 1.3 F u n c a o social d o contrato 16 C A P i T U L O 2 C O N T R A T O S DE P L A N O S D E S A U D E 21 2.1 O s contratos d e a d e s a o 2 1 2.2Contratos d e a d e s a o e f u n g a o social 2 6 2.3 A s p e c t o s d o s contratos d e a d e s a o nos p i a n o s d e s a u d e 2 9 C A P I T U L O 3 C L A U S U L A S A B U S I V A S 37 3.1 N o g a o d e clausulas a b u s i v a s 3 7 3.2 A p l i c a c a o do c o d i g o d e d e f e s a d o c o n s u m i d o r 4 2 3.2.1 Clausulas q u e e x c l u e m d o e n c a s 4 3 3.2.2 C l a u s u l a s q u e i m p o e m limites 4 7 3.2.3 Clausulas q u e i m p o e m limites d e carencia 4 9

3.2.4 Protegao d o contrato d e longa d u r a g a o 5 0

C O N S I D E R A Q O E S F I N A I S 55

(9)

1NTR0DUQA0

N o m o m e n t o e m q u e m u i t o se discute a n e c e s s i d a d e d e e n c o l h e r as atribuicoes d o Estado, s e m q u e s e a l c a n c e o d e s e j a v e l equilibrio entre as posicoes a s s u m i d a s pelas opinioes contraditorias a respeito d o assunto, e preciso q u e s e estabeleca a primazia q u e d e v e m receber por parte d o s o r g a o s g o v e r n a m e n t a i s a s e g u r a n g a , a s a u d e e a e d u c a g a o d o povo, s e m a s quais as relagoes h u m a n a s s e d e t e r i o r a m e os c o l a p s o s sociais e n g o l e m o equilibrio d a nagao.

D o s a s p e c t o s referidos, a s q u e s t o e s ligadas a s a u d e s a o as m a i s d r a m a t i c a s no cotidiano d a populagao.

A criagao d o S i s t e m a Unico d e S a u d e - S U S , e a municipalizagao do a t e n d i m e n t o e m p o s t o s , v e m - s e m o s t r a n d o insuficiente para os n u m e r o s o s usuarios. A s dificuldades s u r g e m tanto e m d e c o r r e n c i a de p r o b l e m a s estruturais d o proprio pais c o m o por e v i d e n t e s ingerencias administrativas.

A ineficiencia d o S U S leva a n e c e s s i d a d e d o s c i d a d a o s b u s c a r e m u m a alternativa viavel, q u e Ihes p r o p o r c i o n e o s u p o r t e tanto burocratico q u a n t o e c o n o m i c o d e prestagao de servigos de s a u d e , q u e o E s t a d o n a o tern m e i o s d e oferecer.

P o r outro lado, e indispensavel q u e e x i s t a m m e c a n i s m o s c a p a z e s de garantir q u e a o p e r a d o r a a s s u m a r e a l m e n t e a responsabilidade s o b r e a s a u d e d a q u e l e s que c o n t r a t a r a m o u v i e r e m a contratar s e u s servigos.

A s o p e r a d o r a s de p i a n o s - d e s a u d e , e m s u a s m a i s diversas a c e p g o e s , a saber, pianos de assistencia a s a u d e e s e g u r a d o r a s , pela definigao legal, o u , n a pratica, s e g u r a d o r a s , c o o p e r a t i v a s , pianos privados e d e a u t o - g e s t a o , s u r g i r a m

(10)

e m d e c o r r e n c i a d a n e c e s s i d a d e d e , se suprir as deficiencias do q u e era u m a o b r i g a g a o do Estado.

A s s i m , nao so o c i d a d a o d e u m a classe m a i s alta q u e b u s c a certo conforto e u m a diferenciagao q u a n t o ao t r a t a m e n t o , m a s t a m b e m o trabalhador d e classe m e d i a q u e tern n e c e s s i d a d e de u m sistema de s a u d e eficiente, b u s c a m a s o l u c a o alternativa d o s pianos privados. Hoje, por forca d a inseguranca e da desconfianga c o m q u e s a o vistos os servigos publicos pelos usuarios e por incentivo d o proprio g o v e r n o , p e r c e b e - s e o a u m e n t o na procura d o s pianos de s a u d e .

D e s s e m o d o , os pianos privados e n c o n t r a m - s e e m situagao d e v e r a s privilegiada, m e s m o l e v a n d o - s e e m conta a d i s p a r i d a d e existente na relagao de c o n s u m o , pois o servigo p r e s t a d o nessa relagao particular s e relaciona-se a propria vida d o s s e g u r a d o s e a q u a l i d a d e deste.

C o m o m e t o d o l o g i a d o trabalho, utilizou-se a p e s q u i s a bibliografica, para f o m e n t a r s e u e m b a s a m e n t o teorico, t e n d o c o m o b a s e a Carta M a g n a d e 1988, q u e g a r a n t e , no s e u artigo 5°, a d e f e s a d o c o n s u m i d o r a ser p r o m o v i d o pelo Estado, a Lei 8.078, de 11 de d e z e m b r o d e 1990, t a m b e m c o n h e c i d a c o m o C o d i g o d e d e f e s a do C o n s u m i d o r e a Lei 9.656, d e 0 3 de j u n h o d e 1998 q u e r e g u l a m e n t a o setor da assistencia privada a s a u d e .

O objetivo e s s e n c i a l d e s t e e a p r e s e n t a r o direito d o c o n s u m i d o r e m f a c e da v u l n e r a b i l i d a d e diante d a s clausulas a b u s i v a s nos contratos d e pianos d e s a u d e . Buscar informar, conscientizar e incentivar os c o n s u m i d o r e s a lutarem por s e u s direitos.

A analise d a s relagoes d e c o n s u m o , entre c o n s u m i d o r e pianos de s a u d e , evidencia sua vulnerabilidade diante do poder q u e as instituigoes o r g a n i z a d o r a s dos pianos d e s a u d e e x e r c e m .

(11)

?0 O p r e s e n t e trabalho v e r s a , e n t a o , s o b r e contratos, clausulas a b u s i v a s , f u n c a o social d o contrato, contratos de pianos de S a u d e , t u d o frente a o C o d i g o de D e f e s a d o C o n s u m i d o r , isso s e m , e claro, ter a p r e t e n s a o d e exaurir a materia.

Na constituicao do trabalho d e c o n c l u s a o de curso, d i s c o r r e m o s a c e r c a d o s tipos de contratos, d e s d e sua o r i g e m ate s e u conceito e natureza juridica, n o c o e s d e contratos de pianos de s a u d e , contratos de a d e s a o trazidos pelo C o d i g o d e Defesa d o C o n s u m i d o r , para e m s e g u i d a adentrar n a s f a m i g e r a d a s clausulas a b u s i v a s e s e u s efeitos dentro d o contrato d o s pianos d e s a u d e .

(12)

A relagao j u r i d i c a contratual originou-se no Direito R o m a n o , a partir de u m a c o r d o d e v o n t a d e s s o b r e u m m e s m o ponto ( P E R E I R A , 2 0 0 0 , p. 03). A principio, e s t e a c o r d o d e v o n t a d e s nao refletia n e c e s s a r i a m e n t e a criagao d e u m a obrigagao, visto a exigencia do c u m p r i m e n t o d e f o r m a l i d a d e s e s p e c i f i c a s , tanto nos contratos re ou Mens c o m o nos verbis.

1.1 Evolugao historica

O Direito R o m a n o c o m o era formalista, a f o r m a s e m p r e teve u m papel m u i t o importante , p r i n c i p a l m e n t e na s e a r a contratual, c o m relevancia f u n d a m e n t a l .

A f o r m a l i d a d e c h e g a v a a t a n t o q u e n a o s o as palavras, c o m o os g e s t o s , as roupas e os objetos, t a m b e m f a z i a m parte d o ritual.

A p e n a s c o m o c r e s c i m e n t o d e R o m a e c o m a e v o l u g a o d o Direito, a d m i t i u -se ao contrato o c o n d a o d e char obrigagoes a partir s o m e n t e d o a c o r d o d e v o n t a d e s . Dessa nova nogao d e c o r r e o conceito de Diniz ( 2 0 0 5 , p 23) s e g u n d o a qual " O contrato r e p o u s a na ideia d e u m p r e s s u p o s t o d e fato q u e r i d o pelos c o n t r a e n t e s e r e c o n h e c i d o pela n o r m a j u r i d i c a c o m b a s e do efeito j u r i d i c o p e r s e g u i d o . " O u , c o n f o r m e preleciona a citada autora:

Contrato e o acordo de duas ou mais vontades. na conformidade da ordem juridica, destinado a estabelecer uma regulamentagao de interesses entre as partes, com o escopo de adauirir. modificar ou extinguir relagoes juridicas de natureza patrimonial.

(13)

1? Essa n o c a o d e contrato, q u e perdura ate hoje, g a n h o u importancia c o m o s u r g i m e n t o d o capitalismo. A s s i m , no s e c u l o XIX, a a u t o n o m i a da v o n t a d e era a b a s e de toda a Teoria Contratual, a legislagao contratual protegia a iniciativa d a s partes, d e tal f o r m a q u e o jargao, o contrato faz lei entre as partes, d e c o r r e n t e d e s s a protegao contratual, sintetizava a forga d a s obrigagoes c o n t r a i d a s e m virtude d o contrato. Por isso, m e s m o q u e e m d e t e r m i n a d o contrato, s e u m a d a s partes f o s s e e v i d e n t e m e n t e muito m a i s beneficiada e m d e t r i m e n t o da outra, s e e s t e era o a c o r d o de v o n t a d e s , seria protegido.

A lei nao interfere no contrato, ela a p e n a s p r o t e g e o a c o r d o d e v o n t a d e s d a s partes, e a s s e g u r a o s e u c u m p r i m e n t o dentro d o s limites d a lei, c o m o a c a p a c i d a d e d a s partes e licitude d o objeto. O b s e r v a - s e a s s i m q u e os limites da lei s a o m e r a m e n t e f o r m a i s , pois u m a v e z c u m p r i d o s , firma-se a relagao juridica contratual. ( M A R Q U E S , 1998, p. 37).

A s s i m , para M a r q u e s ( 1 9 9 8 , p. 38), toda a c o n c e p g a o tradicional d e contrato s e baseia na a u t o n o m i a d a v o n t a d e e na liberdade contratual. O Direito, a lei e a j u r i s p r u d e n c i a p r e o c u p a v a m - s e a p e n a s e m proteger tal aspecto. S e g u n d o a citada d o u t r i n a d o r a , veja-se q u e :

-[...] ao juiz nao cabia modificar e adequar a equidade a vontade das partes, manifestada no contrato, ao contrario, na visao tradicional, cabe-lhe respeita-la e assequrar que as partes atinjam os efeitos queridos pelo seu ato.

Pereira ( 2 0 0 4 , p. 4 6 ) , t a m b e m preleciona a respeito d o intervencionismo estatal nos contratos, a p e r c e p g a o d a s aberrantes diferengas entre as partes contratantes, d e c o r r e n t e s d a evolugao d a e c o n o m i a e d a s d i s p a r i d a d e s entre as partes m a i s ou m e n o s fortes e c o n o m i c a m e n t e . T a i s diferengas nao g e r a v a m a

(14)

justiga nos contratos, a qual e, para o referido autor a "ultima ratio d a o r d e m juridica". O m e s m o o b s e r v a ainda q u e , m u i t a s v e z e s , o a m b i e n t e e m q u e o contrato foi a c e r t a d o modifica-se, de f o r m a q u e a s c o n d i c o e s d o a m b i e n t e e m q u e ocorrera a prestacao do contrato nao s a o as m e s m a s q u e existiam a e p o c a de sua celebragao.

T a i s influencias l e v a r a m o legislador a criar f o r m a s d e intervir nos contratos, para preservar a propria liberdade d e contratar. A s s i m , o Estado intervem no contrato, por m e i o d a i m p o s i c a o de n o r m a s de o r d e m publica e d e o r d e m e c o n o m i c a , para evitar q u e o contrato seja d e tal f o r m a injusto q u e fira as proprias expectativas d a s o c i e d a d e . T a l corrente, e definida pelo autor a c i m a citado c o m o dirigismo contratual o u intervengao d o E s t a d o na vida do contrato, a q u a l v e m contrapor-se a v i s a o tradicional d a a u t o n o m i a d a v o n t a d e , q u e , antes, era c o m p l e t a m e n t e protegida pelo o r d e n a m e n t o juridico.

Na e v o l u g a o d a s o c i e d a d e , c o m o d e s e n v o l v i m e n t o d o capitalismo e m t o d a s as s u a s f a s e s , o contrato p a s s o u a s e r u m ato c a d a vez m a i s c o m u m entre o s h o m e n s , d e f o r m a a s e tornar m a i s d o q u e u m ato j u r i d i c o , u m instrumento social. ( M A R I O , 2 0 0 4 , p. 4 8 ) . Por outro aspecto, t a m b e m d e m o n s t r a d o por Pereira ( 2 0 0 4 , p. 4 9 ) o s e r h u m a n o , ao contratar, esta criando e m si m e s m o u m a serie d e expectativas legitimas, entre a s quais a propria expectativa d e q u e o Direito protegera o contrato e as expectativas por e l e criadas. A s s i m , a confianga no contrato, no s e u c u m p r i m e n t o p e l o outro contratante, a protegao juridica e estatal s a o u m a f a c e d o conceito q u e ate ha p o u c o t e m p o imperava c o m o fungao social do contrato.

N e s t e seculo, no entanto, a s o c i e d a d e alcangou u m d i n a m i s m o j a m a i s alcangado, s e n d o q u e e m t o d o s os a s p e c t o s d a vida h u m a n a h o u v e alteragoes

(15)

u

significativas. A s o c i e d a d e evoluiu, novas c o n c e p g o e s s u r g i r a m , direitos s e m o d i f i c a r a m e novos f o r a m criados. Entre t o d a s as m u d a n c a s e c o n v e n i e n t e c h a m a r - s e a a t e n c a o para a c o n c e p g a o juridico-politica c h a m a d a Welfare State. O Welfare State e u m a c o n c e p g a o social na q u a l o E s t a d o e responsavel pelo b e m estar d o s proprios c i d a d a o s , s e n d o r e s p o n s a v e l pelo f o r n e c i m e n t o d e m e i o s para q u e a s o c i e d a d e t e n h a bem-estar, c o n f o r m e s e ve pela propria d e s i g n a g a o inglesa. Para a q u e l e s q u e atinge, e s t e E s t a d o proporciona e d u c a g a o , s a u d e , e m p r e g o s , contrariando a c o n c e p g a o liberal d e q u e o Estado era r e s p o n s a v e l a p e n a s pela s e g u r a n g a d e s e u s c i d a d a o s . Essa f o r m u l a g a o estatal levou a u m a nova g e r a g a o d e direitos, o s direitos sociais, q u e , a o contrario d a c o n c e p g a o liberal, priorizavam a igualdade, a i n d a q u e isso limitasse a liberdade.

O E s t a d o liberal q u e surgiu c o m a Revolugao Francesa trouxe a tona a convicgao d e q u e t o d o s o s h o m e n s s a o livres e iguais e m direitos, s e m , no e n t a n t o . q u e s t i o n a r se t o d o s teriam iguais c o n d i g o e s d e e x e r c e r a liberdade q u e Ihes e r a c o n c e d i d a . ( N O N H O R A , 1996, p. 12)

E importante ressaltar q u e os direitos sociais nao p o d e m ficar atrelados a ideia d e q u e s a o d e c o r r e n t e s unica e e x c l u s i v a m e n t e d o Welfare state. S a o c o n c e p g o e s q u e surgiram por diversas c a u s a s , m a s q u e por diferentes m a n e i r a s , principalmente a d i n a m i c i d a d e d o s n o s s o s dias e o e n c u r t a m e n t o d a s distancias d e v i d o ao d e s e n v o l v i m e n t o d o s m e i o s d e c o m u n i c a g a o , v i e r a m a ser a s s i m i l a d o s por outras nagoes, q u e n a o n e c e s s a r i a m e n t e a d o t a v a m o Welfare State.

A c o n c e p g a o de direitos sociais protege a s partes m a i s fracas nas relagoes d a s o c i e d a d e , c o m o , por e x e m p l o , a protegao d a d a a o t r a b a l h a d o r na justiga d o t r a b a l h o , o n d e a relagao e p r o p o s i t a d a m e n t e d e s e q u i l i b r a d a atraves d a lei, d e

(16)

m o d o a reequilibrar u m a situagao criada pela disparidade d o poder e c o n o m i c o d a s partes.

N o r o n h a ( 2 0 0 1 , p. 12) c o m p a r a os direitos d o c o n s u m i d o r a o Direito d o T r a b a l h o , por ter sua o r i g e m na e l i m i n a c a o d e diferengas radicals d a s partes que c o n t r a t a m , s e n d o a m b o s direitos reflexos d e s e n v o l v i d o s p a r a a d e q u a r o o r d e n a m e n t o d a s o c i e d a d e de m a s s a s .

1.2 C o n c e i t o

De a c o r d o c o m o s e n s i n a m e n t o s d o m e s t r e R o d r i g u e s (2005, p. 0 9 ) , A teoria d o s n e g o c i o s juridicos e n o r m a l m e n t e u n a n i m e na distingao entre os a t o s unilaterais e o s bilaterais. A q u e l e s s e c o n s o l i d a m a p e n a s na m a n i f e s t a g a o d a v o n t a d e de u m a d a s partes, e n q u a n t o estes d e p e n d e m d a v o n t a d e d e dois o u m a i s c o n s e n t i m e n t o s . O u seja, para q u e seja u m contrato e necessario q u e o negocio seja bilateral o u plurilateral, isto e, d e c o r r a d o a c o r d o de m a i s d e u m a v o n t a d e .

A ideia d e contrato e a d e u m p r e s s u p o s t o d e fato q u e r i d o pelos c o n t r a e n t e s e r e c o n h e c i d a pela n o r m a j u r i d i c a c o m o b a s e d o efeito j u r i d i c o perseguido.

O contrato e f o n t e d e o b r i g a g a o e m b a s a d a na a u t o n o m i a d a v o n t a d e . A liberdade contratual significa a prerrogativa d o individuo para contatar ou deixar d e faze-lo, escolher s e u parceiro e fixar o s c o n t e u d o s o u limites d a obrigagao.

(17)

',6 1.3 F u n g a o Social d o C o n t r a t o

M a r q u e s ( 1 9 9 8 , p. 12) preconiza a existencia d e u m a nova c o n c e p g a o de contrato, u m a c o n c e p g a o social, q u e eleva a importancia d a s o c i e d a d e na hora d e contratar. S e g u n d o s u a s proprias palavras:

E uma concepgao para a qual nao so o momento da manifestacac da vontade (consenso) importa, mas onde tambem e principalmente os efeitos do contrato na sociedade serao levados em conta e onde a condigao social e economica das pessoas nele envolvidas ganha importancia

A s s i m s e n d o , e importante afirmar q u e o a d v e n t o d o C o d i g o d e Defesa d o C o n s u m i d o r e o ponto c u l m i n a n t e d e s s a n o v a teoria contratual, m a s n a o e p o s s i v e l deixar d e r e c o n h e c e r q u e a t e n d e n c i a j a existe ha a l g u m t e m p o , inclusive no o r d e n a m e n t o brasileiro. Pereira ( 2 0 0 4 , p. 13) cita c o m o e x e m p l o s d o i n t e r v e n c i o n i s m o estatal, o s contratos de locagao e o s contratos d e trabalho, q u e d e v e m seguir u m a g r a n d e g a m a d e regras i m p o s t a s pelo Estado, a fim d e proteger u m a d a s partes d a relagao.

O c o n c e i t o d e f u n g a o social d o contrato b a s e i a - s e na relativizagao d o d o g m a da a u t o n o m i a d a v o n t a d e d e v i d o as p r e o c u p a g o e s de o r d e m social, a s s i m c o m o o recente conceito d e f u n g a o social d a propriedade, q u e relativiza a forga d e s t e instituto. S a o d e c o r r e n c i a s d a socializagao d o Direito, q u e n a o p o d e m a i s ficar alheio a o s fatos o r i u n d o s d a s o c i e d a d e .

O intervencionismo estatal nos contratos e a m a n i f e s t a g a o d o poder q u e o E s t a d o p o s s u i na c o n c e p g a o d a f u n g a o social d o contrato. A s s i m , a legislagao q u e regula u m d e t e r m i n a d o tipo d e contrato, a d e q u a n d o - o a sua fungao social, e

(18)

o intervencionismo estatal q u e s e manifesta atraves d a lei, d a n d o materialidade a f u n g a o social d o contrato.

O intervencionismo estatal tern s u a o r i g e m na planificagao, na fiscalizagao d e certas atividades, c o m o a fixagao d e pregos, e evolui no s e n t i d o d e regulamentar por c o m p l e t o certas atividades (na maioria estatais), e d e t e r m i n a r por c o m p l e t o certos tipos de contrato. A e x e m p l o t e m - s e os c h a m a d o s contratos d e a d e s a o i m p o s t o s pelo E s t a d o para d e t e r m i n a d a s atividades.

A lei d o s p i a n o s de s a u d e (Lei n° 9.656/98), e u m claro e x e m p l o do intervencionismo estatal, q u e , no c a s o , atua d u p l a m e n t e , primeiro c o m o C o d i g o d e Defesa d o C o n s u m i d o r , q u e protege g e n e r i c a m e n t e os c o n s u m i d o r e s d e s s e s servigos, e n o v a m e n t e pela nova lei q u e regula e s s e s pianos, i m p o n d o clausulas e limites para os contratos.

D e a c o r d o c o m os e n s i n a m e n t o s d e M a r q u e s (1998, p. 104), a c e r c a d o t e m a :

O direito dos contratos socializado redescobre o papel da iei, que nao sera mais meramente interpretativa ou supletiva, mas cogente. A lei protegera determinados interesses sociais e servira como instrumento limitador do poder da vontade.

C o m o o p o d e r d o s contratos q u e vincula a s partes as obrigagoes a s s u m i d a s e d e c o r r e n t e d a lei, e e esta q u e protege a propria relagao d o contrato, a posigao d o m i n a n t e nos contratos e d a propria lei.

A s leis d e c o r r e n t e s da nova visao social trazida pelo C o d i g o d e Defesa do C o n s u m i d o r p o s s u e m u m n o v o ideal de c o n c r e t u d e , s e n d o q u e , para a resolugao d o s novos p r o b l e m a s p r o p o s t o s pela atual realidade social, as leis s a o mais abertas, d e i x a n d o u m a larga m a r g e m d e intervengao ao juiz. Isso representa u m a

(19)

*8 g r a n d e m u d a n g a na c o n c e p g a o tradicional d a Teoria d o s Contratos, pois ate a g o r a nao Ihe era permitido q u e interferisse no a c o r d o de v o n t a d e s celebrado entre as partes, a s s i m cabera ao juiz, q u a n d o p r o v o c a d o , fiscalizar a e q u i d a d e e m e s m o o c o n t e u d o do contrato.

O C o d i g o d e Defesa d o C o n s u m i d o r foi a n o r m a q u e d e fato introduziu a nova c o n c e p g a o de contrato de f o r m a a m p l a e irrestrita na vida civil d a s p e s s o a s , pois a n t e r i o r m e n t e , a p e n a s a legislagao trabalhista continha regras d e sentido social.

O s u r g i m e n t o d o intervencionismo estatal e a f u n g a o social dos contratos v e m , na v e r d a d e , impor u m realinhamento, reajustar a relagao contratual para que nela volte a s e r e n c o n t r a d o o p o n t o d e equilibrio. O s contratos d e m a s s a i m p u s e r a m , ao longo d o t e m p o , u m a d e s i g u a l d a d e nas relagoes contratuais, u m a vez q u e , n e s s e s tipos d e contratos e e v i d e n t e q u e u m a d a s partes, a q u e l a a quern s o e d a d a a opgao de contratar ou nao, o u a i n d a de a p e n a s escolher qual f o r n e c e d o r Ihe provira u m servigo, n a o p o s s u i n e n h u m a liberdade a o contratar, n a o p o s s u i a u t o n o m i a na s u a v o n t a d e . Por isso, e necessario q u e o p o d e r estatal intervenha n e s s a relagao, p r o t e g e n d o a parte v u l n e r a v e l , nao nos s e u s interesses individuals, m a s sim c o m o m e m b r o d a s o c i e d a d e , d e quern nao e licito usurpar a liberdade de contratar.

A s s i m , q u a n d o for d o interesse social, r e p r e s e n t a d o pela lei, d e t e r m i n a M a r q u e s (1998, p. 121) q u e :

A iimitacao da liberdade contratual vai possibilitar, [...] que novas obrigagoes, nao oriundas da vontade declarada ou interna dos contratantes, sejam inseridas no contrato em virtude da lei ou ainda em virtude de uma interpretagao construtiva dos juizes.

(20)

H9 controlar o conteudo dos contratos, do modo Q U O O juiz ao interpreter o contrato nao sera u m simples servidor d a v o n t a d e d a s partes, sera, a o contrario, u m servidor do interesse geral ( M A R Q U E S , 1998, p. 123). E d e v i d o a e s s e poder q u e e l e p o d e suprimir as clausulas a b u s i v a s e substitui-las pela n o r m a legal supletiva.

O u t r o a s p e c t o f u n d a m e n t a l d a protegao d a d a pelo C o d i g o de d e f e s a do C o n s u m i d o r , e m virtude d a fungao social d o s contratos e q u e m e r e c e d e s t a q u e , e a boa-fe q u e d e v e a c o m p a n h a r t o d o o d e s e n v o l v i m e n t o d o contrato e n a o ficar restrita a p e n a s ao m o m e n t o da contratagao.

N o r o n h a ( 2 0 0 1 , p. 38) relata a importancia d a d a ao principio d a boa-fe e m s u a caracteristica objetiva, o n d e o qual e r e p r e s e n t a d o pela atuagao d a s partes "de f o r m a a nao d e f r a u d a r a confianga legitima d a contraparte". A s s i m , o principio citado s e traduz e m tres fungoes: a interpretativa, a integrativa e a f u n g a o de controle.

Destarte, c o n f o r m e d e t e r m i n a o citado autor ( 2 0 0 1 , p. 7 0 ) :

A tuteia especifica do consumidor e realizada prectsamente atraves de dispositivos que visam resguardar, nos contratos de consumo, um respeito minimo pelo principio da justiga contratual, ao mesmo tempo em que buscam assegurar efetividade ao dever de agir de acordo com a boa-fe.

D e s s a f o r m a , p o d e - s e afirmar q u e a motivagao principal para o s u r g i m e n t o do C o d i g o d e Defesa d o C o n s u m i d o r , d o proprio Direito d o C o n s u m i d o r e, c o m certeza, u m d o s e l e m e n t o s que g e r o u a socializagao do Direito: a massificagao d a s o c i e d a d e neste seculo, no q u a l , d e v i d o as n e c e s s i d a d e s d o s e m p r e s a r i o s

(21)

20 (comerciais, industriais e financeiros), d e s e n v o l v e r a m - s e t e c n i c a s contratuais u n i f o r m e s .

(22)

2.1 O s C o n t r a t o s de a d e s a o

N o r o n h a ( 2 0 0 1 , p. 15), ao tratar d o s contratos que s u r g i r a m a partir d a massificacao d e s t e seculo, inicia c o m a distincao e m contratos entre partes iguais e c o n t r a t o s entre partes d e s i g u a i s , d e s t a c a n d o q u e , nos ultimos, existe u m a parte m a i s forte e outra vulneravel. A p r o f u n d a n d o e s s a distincao, distingue os contratos de c o n s u m o e inter-empresariais, visto q u e o s primeiros s a o t a o p r e s e n t e s na s o c i e d a d e e Ihes e dada t a m a n h a importancia q u e p o s s u e m "regras e s p e c i f i c a s , d e u m r a m o j u r i d i c o a u t d n o m o " . Essa distincao d e c o r r e p r i n c i p a l m e n t e d a vulnerabilidade atribuida ao c o n s u m i d o r nas relagoes de c o n s u m o . N e s t e t r a b a l h o , s e r a o objeto d e interesse a p e n a s os contratos de c o n s u m o .

F u n d a m e n t a l para o d e s e n v o l v i m e n t o d o t e m a e o r e c o n h e c i m e n t o d a s razoes d a vulnerabilidade a p o n t a d a s pelo r e n o m a d o autor, que d e s t a c a a informagao deficiente prestada a o c o n s u m i d o r e a p r e p o n d e r a n c i a d o s contratos " p a d r o n i z a d o s e de a d e s a o , c o m u m q u a d r o e x t r e m a m e n t e propicio a imposigoes ilegftimas d o p r e d i s p o n e n t e contra o a d e r e n t e , g e r a d o r a s de g r a v e s desequilibrios". ( N O R O N H A , 2 0 0 1 , p. 6 9 ) .

O d e s e n v o l v i m e n t o d a s o c i e d a d e a p o s a revolugao industrial g e r o u u m a s o c i e d a d e d i n a m i c a , q u e p o d e ser c o n s i d e r a d a m a s s i f i c a d a . Essa s o c i e d a d e d e s e n v o l v e u u m a g r a n d e q u a n t i d a d e de relagoes d e c o n s u m o , b a s e para sua propria organizagao. O c o n s u m o , p o d e - s e dizer, m o v i m e n t a o m u n d o atual. O s contratos de c o n s u m o , e m sua m a i o r parte, s a o c e l e b r a d o s c o n f o r m e as tecnicas

(23)

d e contratagao e m m a s s a , a d e q u a d a a d i n a m i c i d a d e exigida pelo s i s t e m a e c o n o m i c o vigente. S e g u n d o a licao d e M a r q u e s (1998, p. 49)

f\!3 S0C1SG3G9 OS CCnSGmO CGfTl SSL! S!SISm3 OS • — ••*--distribuigao em grande quantidade, o comercio juridico s e £JSS0SrS0n3!!Z0U o Q C fTlSTOGOS no C0nir3I3^30 Sm m3SS3 OU estandartizados, predominam em quase todas as relagoes contratuais entre empresas e consumidores.

Entre o s contratos d e m a s s a , c h a m a m atengao pela s u a importancia, os contratos de a d e s a o e os p a d r o n i z a d o s , b e m c o m o as condigoes gerais d o s c o n t r a t o s (ou clausulas gerais). O s contratos d e a d e s a o e o s p a d r o n i z a d o s sao diferentes tipos de contratos de m a s s a , q u e tern c o m o a s p e c t o c o m u m a p e q u e n a o u n e n h u m a possibilidade d e n e g o c i a g a o permitida ao c o n s u m i d o r .

N o dizer d e M a r q u e s ( 1 9 9 8 , p. 53), c o n s t i t u e m contratos de a d e s a o a q u e l e s q u e :

uujas clausulas sao preestaoeiecioas uniiateraimente peso parceiro contratual mais forte (fornecedor), ne varietur, isto e, sem que o outro parceiro (consumidor) possa discutir ou modificar substancialmente o conteudo do contrato escrito.

C o n t i n u a a autora a c i m a citada q u e os referidos contratos d e s t a c a m - s e por tres caracteristicas principais, a saber: a pre-elaboragao unilateral; a oferta u n i f o r m e para u m n u m e r o indefinido d e contratantes; e o m o d o de aceitagao por a d e s a o d o c o n s u m i d o r a v o n t a d e m a n i f e s t a d a pelo fornecedor.

N e s s e s contratos, nao existe entre as partes u m a n e g o c i a g a o q u a n t o a s s u a s clausulas q u e seja anterior a o m o m e n t o d a f o r m a g a o d o contrato, a n e g o c i a g a o se restringe a certos a s p e c t o s s e c u n d a r i o s d o contrato, c o m o prego, f o r m a d e p a g a m e n t o , prazo para entrega d o p r o d u t o o u prestagao do servigo. O s

(24)

a s p e c t o s estritamente contratuais, c o m o penalidades contratuais, foro privilegiado, e u m a g r a n d e diversidade de a s p e c t o s q u e p r o t e g e m o f o r n e c e d o r contratado (e estipulante d o contrato) s a o por ele estabelecidos, s e m a p e r m i s s a o d e m u d a n g a s .

C o m o nos contratos de a d e s a o o c o n s u m i d o r nao pode modificar as c o n d i g o e s do contrato, o v i n c u l o entre este e o f o r n e c e d o r f o r m a - s e atraves da a d e s a o do c o n s u m i d o r ao contrato. A n t e s d e s s e m o m e n t o nao existe p r o p r i a m e n t e u m contrato, visto q u e o contrato s e m a a d e s a o nao tern n e n h u m efeito j u r i d i c o para o c o n s u m i d o r , s e n d o , no m a x i m o , u m a d e c l a r a c a o unilateral d e v o n t a d e d o fornecedor.

N o r o n h a ( 2 0 0 1 , p. 68) a p r e s e n t a u m a distincao d e f u n d a m e n t a l importancia a o s e p a r a r o s contratos d e a d e s a o e o s p a d r o n i z a d o s c o m o d u a s e s p e c i e s distintas d o s contratos m a s s i f i c a d o s , a primeira e m o p o s i c a o a o s contratos n e g o c i a d o s e a s e g u n d a e m relagao aos contratos nao p a d r o n i z a d o s . Relaciona o poder e c o n o m i c o d e u m contratante a o s contratos d e a d e s a o , e n q u a n t o relaciona o f e n d m e n o d a massificagao a o s contratos p a d r o n i z a d o s . O contrato d e c o n s u m o , g e r a l m e n t e concentra a m b a s as m o d a l i d a d e s d a contratagao e m m a s s a .

S e g u i n d o os e n s i n a m e n t o s do referido doutrinador, o s contratos p a d r o n i z a d o s s a o a q u e l e s c e l e b r a d o s atraves d e m o d e l o s pre-estabelecidos, t e n d o s u a s clausulas oferecidas para a g e n e r a l i d a d e d o s c e l e b r a n t e s d e s s e s contratos. E possivel afirmar, s e m n e n h u m a s o m b r a d e d u v i d a , q u e as clausulas q u e f o r m a m o s contratos p a d r o n i z a d o s s a o c o n d i g o e s gerais, a n a l i s a d a s abaixo.

A s c o n d i g o e s gerais d o s contratos s a o clausulas g e n e r i c a s q u e integram u m ou m a i s contratos d e u m fornecedor. Elas, i g u a l m e n t e a o s contratos p a d r o n i z a d o s , s a o e l a b o r a d a s unilateralmente pelo fornecedor, e s a o oferecidas

(25)

24 para u m n u m e r o i n d e t e r m i n a d o d e contratantes futuros. A s c o n d i g o e s gerais p o d e m ser oferecidas p a r a t a n t o s tipos de contratos q u a n t o s o f o r n e c e d o r achar c o n v e n i e n t e . A s s i m , para u m a m e l h o r c o m p r e e n s a o , p o d e - s e dizer q u e a s c o n d i g o e s gerais s a o u m g r u p o d e clausulas q u e e s t a o escritas no proprio contrato ou s e p a r a d a m e n t e deste, c o m u n s a t o d o s os tipos d e contrato q u e a s u s a m . D e s s a f o r m a , u m d e t e r m i n a d o f o r n e c e d o r disciplina as clausulas q u e s e r a o c o m u n s a t o d o s os contratos por ele f i r m a d o s , c o m o prazo d e garantia, prazo para a r r e p e n d i m e n t o , c o n d i g o e s d a garantia, a n a o - r e s p o n s a b i l i d a d e pelo t r a n s p o r t e d a m e r c a d o r i a e outras diversas; e a s fixa no e s t a b e l e c i m e n t o , o u e n t a o a s i m p r i m e no v e r s o d a nota fiscal o u recibo, e o c o n s u m i d o r a s aceita, o b r i g a n d o - s e a seguir o q u e d e t e r m i n a m .

Dentro d e s t e contexto, M a r q u e s (1998, p. 59) d e f i n e c o m bastante p r o p r i e d a d e as caracteristicas d a s condigoes gerais d o s contratos, s e g u n d o a qual tais c o n d i g o e s sao clausulas ou c o n d i g o e s de u m contrato, p r e - e l a b o r a d a s , dirigidas para u m n u m e r o multiplo e i n d e t e r m i n a d o d e contratos, e e l a b o r a d a s unilateralmente e oferecidas a aceitagao. S a o bastante c o m u n s nos contratos c o m g r a n d e s e m p r e s a s , inclusive c o m a inclusao nos contratos d e clausulas escritas s o b a d e n o m i n a g a o d e c o n d i g o e s gerais, registradas e m d e t e r m i n a d o cartorio d a cidade s e d e d a e m p r e s a , dificultando a s s i m o a c e s s o do c o n s u m i d o r a Integra d o contrato q u e ele m e s m o esta a s s i n a n d o .

O s contratos p a d r o n i z a d o s p o d e m ser orais, atraves d a a d o g a o d a s c o n d i g o e s gerais; p o d e m ser sob m o d e l o s e s t a b e l e c i d o s por terceiros, m a s aqui e e v i d e n t e que a e s c o l h a do m o d e l o cabera a parte mais forte na relagao contratual; o u p o d e m ser a i n d a d e predisposigao unilateral, q u e e o tipo m a i s c o m u m .

(26)

a q u e l e s inteiramente e l a b o r a d o s pela parte m a i s forte n a relagao, s a o tao c o m u n s nos contratos c e l e b r a d o s h o d i e r n a m e n t e , q u e c h e g a m a s e confundir c o m os contratos de c o n s u m o , e m b o r a n e m s e m p r e e s t e s p e r t e n g a m a categoria d a q u e l e s .

T a i s contratos s a o muitas v e z e s i m p r e s s o s , o s e u c o n t e u d o e g e r a l m e n t e e l a b o r a d o pelo proprio fornecedor, m a s nao s a o i n c o m u n s os contratos tipo, u m a variagao d o s contratos de a d e s a o , e m q u e o c o n t e u d o e ditado por a s s o c i a g o e s profissionais. A i n d a entre os contratos tipo, e n c o n t r a - s e o s q u e a s s i m s a o e m virtude d e lei, c h a m a d o s contratos dirigidos, entre o s quais M a r q u e s ( 1 9 9 8 , p. 55) cita os contratos d e c o n s o r c i o . Por s u a v e z N o r o n h a ( 2 0 0 1 , p. 98) c o n s i d e r a q u e e s t e s contratos g o z a m d e u m a p r e s u n g a o fatica d e imparcialidade d a administragao ou o r g a o q u e i m p o e s u a s caracteristicas, visto q u e s a o p a u t a d o s pelo interesse publico.

E m b o r a t o d o s os contratos d e c o n s u m o s e j a m protegidos pelo C o d i g o d e d e f e s a do C o n s u m i d o r , e s s e s sao, na maioria, contratos de a d e s a o e p a d r o n i z a d o s , j u n t a n d o as caracteristicas d e a m b o s os institutos, e, d e s s e m o d o , c o n t r i b u e m ainda m a i s para a vulnerabilidade d o c o n s u m i d o r . E m sua g e n e r a l i d a d e , os contratos d e a d e s a o s a o p a d r o n i z a d o s , a s s i m c o m o o inverso, o q u e leva a categoria unitaria de contratos p a d r o n i z a d o s e d e a d e s a o definida por N o r o n h a ( 2 0 0 1 , p. 106).

E e s s a categoria q u e e n g l o b a a g r a n d e maioria d o s contratos d e c o n s u m o , e, e m particular, o s contratos oferecidos por pianos e s e g u r o s d e s a u d e , q u e s e

(27)

26 2.2 Contratos de a d e s a o e f u n g a o social

O f e n o m e n o d a massificagao d o s contratos e as implicagoes decorrentes d o s contratos p a d r o n i z a d o s e d e a d e s a o , c o m o a maior vulnerabilidade d o s c o n s u m i d o r e s sujeitos a c o n t r a t o s d e s s e tipo, s a o controlados atraves d o s institutos q u e c o m p o e m a propria fungao social d o s contratos.

A doutrina d e s c r e v e g e n e r i c a m e n t e f o r m a s d e controle d a s e v e n t u a i s a b u s i v i d a d e s d o s contratos p a d r o n i z a d o s e d e a d e s a o atraves d a f u n g a o social d o contrato. N o e n t a n t o nao se p o d e p e r d e r d e vista q u e e no proprio C o d i g o d e Defesa d o C o n s u m i d o r q u e e s t a o previstas as protegoes d a d a s a o s contratos d e c o n s u m o , classificando e p r e v e n d o u m a serie de clausulas abusivas, e, ainda, de m o d o g e n e r i c o , p r e v e n d o u m a serie de clausulas nao tipificadas q u e p o d e m ser c o n s i d e r a d a s a b u s i v a s . D e s s e m o d o , o C D C traz u m a a m p l a protegao contratual a o s c o n s u m i d o r e s , ratificando a nogao d e f u n g a o social d o s contratos q u e o proprio codigo reforgou.

A protegao d a d a pelo c o d i g o se d a , portanto, d e dois m o d o s . O primeiro, preventivo, q u a n d o se e s t a b e l e c e m limites para o direito d e contratar d o s f o r n e c e d o r e s , proibindo a s clausulas a b u s i v a s ; e o s e g u n d o , repressivo, e s t a b e l e c e n d o punigoes e fiscalizagao d a s clausulas a b u s i v a s a o s c o n s u m i d o r e s pelo poder judiciario. O s j u i z e s tern, inclusive, p o d e r para modificar o u substituir clausulas d o contrato, o q u e mostra u m a clara manifestagao d a fungao social do contrato sobre o principio d a a u t o n o m i a da v o n t a d e , nos contratos d e c o n s u m o .

E m b o r a n e m t o d o s os c o n t r a t o s d e c o n s u m o s e j a m p a d r o n i z a d o s e de a d e s a o , por s e r e m de c o n s u m o e q u e s a o protegidos pelos dispositivos d o C D C . E m e s m o evidente q u e e nos contratos p a d r o n i z a d o s e d e a d e s a o q u e a protegao

(28)

se m o s t r a m a i s necessaria. A vulnerabilidade, r e p r e s e n t a d a pela m e n o r forca e c o n o m i c a e juridica, s o m a - s e a inibicoes psicologicas do c o n s u m i d o r (geralmente p e s s o a fisica), d e v i d o a c r e n c a d e q u e por nao c o m p r e e n d e r o q u e esta no contrato nao d e v e contestar s u a s clausulas, para nao passar u m a i m p r e s s a o de d e s c o n h e c i m e n t o . O fornecedor, profissional, c o n h e c e as f r a q u e z a s d o c o n s u m i d o r e as explora, criando nele u m a n e c e s s i d a d e de contratar.

Devido a caracteristica d e a d e s a o d o contrato, e n t e n d e - s e q u e existe u m d e v e r d e t r a n s p a r e n c i a d o f o r n e c e d o r e m relagao a o c o n s u m i d o r na celebragao d o contrato ( M a r q u e s , 1998, p. 5 6 ) : c o m isto o c o n s u m i d o r d e v e ser i n f o r m a d o , p e l o m e n o s , d e v e ter a o p o r t u n i d a d e d e t o m a r c o n h e c i m e n t o d o c o n t e u d o d o contrato. A l e m do q u e devera o contrato de a d e s a o ser redigido d e tal f o r m a a possibilitar a c o m p r e e n s a o pelo h o m e m c o m u m .

R e f i n a n d o o principio d a t r a n s p a r e n c i a q u a n t o a s e u uso nos contratos de c o n s u m o , e s p e c i f i c a m e n t e o s p a d r o n i z a d o s e de a d e s a o , tres requisitos s a o definidos por M a r q u e s ( 1 9 9 8 , p. 6 3 ) . O primeiro e q u e o c o n s u m i d o r t e n h a sido i n f o r m a d o de q u e o contrato a ser f i r m a d o utilizara c o n d i g o e s gerais. A s condigoes gerais, nesse caso, d e v e m constar da oferta do produto ou servigo, s e n d o a s s i m , parte do d e v e r d e informar.

O s e g u n d o requisito e d e q u e o c o n s u m i d o r seja informado d o real c o n t e u d o d a s c o n d i g o e s gerais q u e Ihe s a o impostas. E e v i d e n t e q u e a s u p e r i o r i d a d e e c o n o m i c a (e portanto contratual) d o f o r n e c e d o r Ihe proporciona t a m b e m u m a g r a n d e v a n t a g e m juridica, tanto na e l a b o r a g a o do contrato q u a n t o nos efeitos q u e e s t e g e r a , visto q u e as e m p r e s a s d a atualidade g e r a l m e n t e c o n t a m c o m u m a eficiente assessoria j u r i d i c a . A s s i m , d e v i d o a vulnerabilidade e a pouca c o m p r e e n s a o q u e o c o n s u m i d o r c o m u m tern d o real sentido d a s clausulas

(29)

2 8 q u e Ihe s a o i m p o s t a s no contrato de c o n s u m o , o d e v e r de informar ieva o f o r n e c e d o r a obrigagao d e e s c l a r e c e r ao c o n s u m i d o r o q u e r e a l m e n t e significam as clausulas a q u e s e esta o b r i g a n d o .

O terceiro requisito e a a c e i t a c a o pelo c o n s u m i d o r d a oferta, a p o s t o m a r c o n h e c i m e n t o d o uso e d a s condigoes gerais a q u e s e obrigara. Essa aceitagao p o d e se dar de f o r m a tacita ou e x p r e s s a .

Na interpretagao do contrato d e a d e s a o beneficia-se o a d e r e n t e , m e s m o q u e n a o se trate d e u m contrato de c o n s u m o . A s s i m , o contrato sera inteiramente interpretado contra a parte q u e houver redigido o contrato, e m especial a s c l a u s u l a s de interpretagao dubia.

Q u a n t o a interpretagao d a s clausulas nos contratos p a d r o n i z a d o s , a l g u n s principios g a r a n t e m a e x e c u g a o d o s contratos e sua interpretagao d e a c o r d o c o m a f u n g a o social. A interpretagao contra o p r o p o n e n t e e u m d e s s e s principios, e m b o r a nao seja o principal. M a r q u e s (1998, p. 6 5 ) cita c o m o principal principio da interpretagao d e s s e s contratos a primazia d a s clausulas p a c t u a d a s individualmente. s e j a m elas escritas o u orais. C o m isso, d a - s e m a i o r valor aquela parte d o contrato q u e foi r e a l m e n t e discutida e negociada por a m b a s a s partes, e, portanto, representa a v o n t a d e d e a m b a s e nao de a p e n a s u m a delas.

O u t r o principio d a m a i o r importancia para a interpretagao d o s contratos de c o n s u m o , e m e s p e c i a l os p a d r o n i z a d o s e de a d e s a o , e o principio d a boa-fe. A q u i e s t e principio e t r a b a l h a d o nas s u a s d u a s d i m e n s o e s , s e n d o q u e , na subjetiva, proteger-se-a a confianga e os l e g i t i m o s interesses d o c o n s u m i d o r contratante, e na, objetiva, o C o d i g o d e Defesa d o c o n s u m i d o r p r o i b e o u s o d e clausulas i n c o m p a t i v e i s c o m a boa-fe (art. 5 1 , IV).

(30)

O s contratos d e a d e s a o i m p o s t o s a o s c o n s u m i d o r e s d e pianos de s a u d e d e v e m ser a n a l i s a d o s por dois a s p e c t o s , ou seja, a n t e s e depois d a vigencia d a Lei 9.656/98, q u e regulou g e n e r i c a m e n t e e s t e setor d a e c o n o m i a . A i n d a , antes da vigencia da lei d o s pianos d e s a u d e , os contratos f i r m a d o s entre os f o r n e c e d o r e s d e s s e s servigos e os c o n s u m i d o r e s e r a m p r o t e g i d o s s o m e n t e pelo C o d i g o de Defesa do C o n s u m i d o r , o q u e equivale a dizer q u e a n t e r i o r m e n t e ao s u r g i m e n t o d o citado d i p l o m a legal nao existia protegao direta a o s c o n s u m i d o r e s d e tais servigos.

S e g u n d o S a r r u b b o (1997, p. 159), a partir da d e c a d a de 1970, c o m e g o u - s e a p e r c e b e r o s u r g i m e n t o e o c r e s c i m e n t o d o setor privado na prestagao d o s servigos d e s a u d e . D e s d e e s s a e p o c a , e x i s t e m c a s o s de a b u s o s d o s f o r n e c e d o r e s , p r i n c i p a l m e n t e d e v i d o a utilizagao de contratos p a d r o n i z a d o s e d e a d e s a o na contratagao d e s s e s servigos. T a i s a b u s o s c o n f i g u r a m - s e d e e n o r m e g r a v i d a d e , do ponto de vista social, p o r q u e d e v i d o a m a atuagao do E s t a d o , c o m o p r e s t a d o r de servigos d e s a u d e , parcela significativa d a populagao, aquela q u e p o s s u i as c o n d i g o e s financeiras para tanto, foi levada a recorrer a u m p i a n o o u s e g u r o privado d e s a u d e .

C o m o a d v e n t o do C o d i g o d e Defesa do C o n s u m i d o r , no entanto, a f a c e jurisdicional do Estado p o d e atuar de m o d o a intervir no contrato, e l i m i n a n d o , na m e d i d a d o p o s s i v e l , o d e s e q u i l i b r i o entre f o r n e c e d o r e c o n s u m i d o r . D e s s e m o d o , o s tribunais p a s s a r a m a disciplinar o assunto, no sentido d e eliminar a s

(31)

30 a b u s i v i d a d e s contidas nos contratos e l a b o r a d o s pelos f o r n e c e d o r e s de pianos d e s a u d e .

E importante para a c o m p r e e n s a o d e s t e capltulo, enfatizar q u e a nova lei q u e regula a materia d o s pianos d e s a u d e nao afastou a aplicacao do C o d i g o d e Defesa d o C o n s u m i d o r para os contratos f i r m a d o s a n t e s ou d e p o i s d a lei. A doutrina e u n a n i m e e m aceitar q u e a lei nova, e s p e c i f i c a , regula o s i s t e m a , o setor j u r i d i c o e m q u e t r a b a l h a m tais f o r n e c e d o r e s , m a s s e m afastar a incidencia d o citado codigo, visto q u e a protegao contratual d a d a por e s t e i n d e p e n d e da protegao d a d a pela lei nova, d e s t i n a d a a r e g u l a m e n t a r o setor.

E interessante para a c o m p r e e n s a o d o s contratos i m p o s t o s pelos pianos de s a u d e q u e se p e r c e b a m d u a s caracteristicas d e s s e s contratos q u e influem d e m o d o d e t e r m i n a n t e na protegao q u e e d a d a ao c o n s u m i d o r . A primeira e o r e c o n h e c i m e n t o do contrato imposto pelas s e g u r a d o r a s e pianos c o m o s e n d o d e a d e s a o , e s s a caracteristica ja e suficiente para q u e s e proteja o c o n s u m i d o r , c o m a aplicagao d o C o d i g o d e Defesa d o C o n s u m i d o r . D e c o r r e n t e d a a d e s a o , salienta-s e a interpretagao do contrato contra o p r o p o n e n t e , a forte exigencia de boa-fe do fornecedor, a importancia d o s d e v e r e s de informagao, d e clareza, de c o o p e r a g a o e de t o d a s as protegoes contratuais e l e n c a d a s no citado d i p l o m a .

Outra caracteristica q u e d e v e ser levada e m c o n s i d e r a g a o e o carater securitario d o s contratos e n v o l v e n d o assistencia a s a u d e . I n d e p e n d e n t e m e n t e d a d e n o m i n a g a o , piano, cooperativa o u s e g u r o , o carater aleatorio d o contrato, d e r i v a d o d a incerteza d a prestagao por u m a d a s partes e a certeza d o p a g a m e n t o d a prestagao o u p r e m i o pela outra, mostra o carater securitario d e s s e s contratos. C a s o o c o n s u m i d o r n u n c a v e n h a a necessitar d a cobertura d o p i a n o de s a u d e ,

(32)

nao recebera d o f o r n e c e d o r nada e m troca das p r e s t a c o e s que p a g o u a o longo d e toda a contratualidade, pois tera p a g o pela protegao ao risco.

Silva (1998, p. 748) a respeito do carater aleatorio d o contrato d e assistencia m e d i c a , salienta q u e :

Cumpre lembrar que o contrato de assistencia medica nao e - v i . am due as emoresas tennam se oDnaaao a Tazer aiqo equivalente a contraprestagao do conveniado. E contrato aleatorio. na reaiidade. em que a prestagao aas emoresas depende de risco futuro e incerto, nao podendo antecipar o seu montante.

D e c o r r e n t e do carater securitario, o valor da prestagao e definido por m e i o de calculo atuarial, no q u a l o fornecedor, atraves de estatisticas, define q u a n t o sera o custo d a m a n u t e n g a o d o s contratos q u e f i r m o u , para estabelecer, s u a m a r g e m d e lucro ( S a r r u b b o , 1998, p. 4 0 ) . D e a c o r d o c o m Oliveira (1997, p. 146) a relagao e c o n o m i c a p r o v e n i e n t e d o contrato d e s e g u r o - s a u d e , o equilibrio de tal relagao subsiste:

Enquanto houver possibilidade de o segurador auferir beneficio economico se nao ocorrer a condigao contratual (o sinistro) e, ao mesmo tempo mas inversamente. suportar prejuizo no caso de superveniencia da condigao.

O q u e ocorre, no entanto, e a pratica, pelas s e g u r a d o r a s , de diversas c o n d u t a s a b u s i v a s , no sentido d e diminuir, para a l e m d o s limites q u e seriam razoaveis, o risco d a relagao, por intermedio de artificios contratuais variados. D e s s a f o r m a , o s f o r n e c e d o r e s t e n t a m diminuir ao m a x i m o a cobertura d i s p o n i v e l a o c o n s u m i d o r , e m d e t r i m e n t o d a q u e l a q u e havia sido oferecida, frustrando, a s s i m , a expectativa d e protegao g e r a d a no c o n s u m i d o r .

(33)

22 O s contratos i m p o s t o s pelos f o r n e c e d o r e s d e pianos d e s a u d e p o s s u e m a b u s o s s e m e l h a n t e s entre as diversas o p e r a d o r a s . Fala-se e m contratos i m p o s t o s porque, s e n d o eles p a d r o n i z a d o s e d e a d e s a o , fica eliminada a possibilidade d e n e g o c i a g a o pelo consumidor. E s s e s a b u s o s , e m g r a n d e parte, j a f o r a m identificados pela doutrina e pela jurisprudencia e s e r a o d e t a l h a d o s a seguir.

C o m u m e n t e identificadas nos contratos i m p o s t o s e s t a o as clausulas q u e limitam a cobertura a certas d o e n g a s , ou m e s m o e x c l u e m outras. N o s e g u n d o c a s o e n c o n t r a m - s e as d o e n g a s infecto-contagiosas, e p i d e m i c a s e preexistentes. E particularmente neste ultimo tipo, q u e existe a m a i o r incidencia de a b u s o s por parte d o s f o r n e c e d o r e s d e pianos e s e g u r o s d e s a u d e , pois d o e n g a s c o m o o c a n c e r e o d i a b e t e s , q u e e v o l u e m c o m o t e m p o e a p r e s e n t a m o s s i n t o m a s a p e n a s a p o s t e r e m se estabelecido definitivamente no paciente, s e n d o d e dificil e c u s t o s o t r a t a m e n t o , s a o c o n s i d e r a d a s preexistentes e tern sua cobertura n e g a d a .

A negativa d o f o r n e c e d o r e m prestar cobertura a d e t e r m i n a d a doenga d o c o n s u m i d o r , a g r a v a - s e pelo fato d e q u e o b e m e m c a u s a e a propria vida do paciente ou c o n s u m i d o r , o qual p o d e sucumbir, s e nao Ihe for p r e s t a d o o d e v i d o a t e n d i m e n t o e m t e m p o habil. Por isso, e d a m a i o r importancia a presteza dada ao a t e n d i m e n t o d e d e t e r m i n a d a s d o e n g a s , para evitar q u e o prejuizo sofrido pelo c o n s u m i d o r , muito a l e m do financeiro, por ter e m p r e g a d o o s e u dinheiro n u m piano de s a u d e q u e n a o Ihe o f e r e c e a s e g u r a n g a pretendida, seja irreversivel, c o m p r o m e t e n d o s u a s a u d e ou a propria vida.

E c o m u m encontrar, nos contratos d e a d e s a o i m p o s t o s pelas o p e r a d o r a s d e p i a n o s d e s a u d e , clausulas q u e e x c l u e m certas d o e n g a s , escritas c o m l i n g u a g e m tecnica, inacessivel a o c o n s u m i d o r c o m u m , e n q u a n t o outras, m e s m o

(34)

q u e escritas e m l i n g u a g e m m a i s s i m p l e s , a p r e s e n t a m - s e de f o r m a a iludir o c o n s u m i d o r . Entre as primeiras, estao, por e x e m p l o , as referencias a d o e n g a s cronicas e c o n g e n i t a s , q u a n t o a s s e g u n d a s , esta a clausula q u e exclui o t r a t a m e n t o d e d o e n g a s c o n s i d e r a d a s incuraveis.

A clausula relativa a d o e n g a s incuraveis acarreta ao c o n s u m i d o r u m a terrivel imposigao, pois, ao defrontar-se c o m u m a doenga g r a v e , p o d e ela ser c o n s i d e r a d a unilateralmente pelo f o r n e c e d o r c o m o incuravel, d e i x a n d o o c o n s u m i d o r d e s a m p a r a d o , muitas v e z e s a g r a v a n d o ainda m a i s o s e u e s t a d o de s a u d e . A A I D S ( S f n d r o m e da Imunodeficiencia A d q u i r i d a ) e u m a d o e n g a q u e c o s t u m a ser e x p r e s s a m e n t e e x c l u i d a d a cobertura d o s pianos d e s a u d e . Inicialmente era c o n s i d e r a d a c o m o doenga infecto-contagiosa ou e p i d e m i c a e tinha sua cobertura n e g a d a . Entao, s e g u n d o a corrente q u e afirma q u e a A I D S nao e u m a doenga contagiosa, m a s s i m t r a n s m i s s i v e l (vez q u e nao s e d i s s e m i n a livremente), a d o e n g a p a s s o u a ser e x p r e s s a m e n t e e x c l u i d a d a maioria d o s pianos. D e n t r o d e s t e c o n d i c i o n a l i s m o , a clausula q u e e x p r e s s a m e n t e exclui a citada d o e n g a , d e s d e q u e redigida c o m a devida clareza, nao poderia ser c o n s i d e r a d a abusiva. O q u e c h a m a a atengao no c a s o e q u e diversos pianos o f e r e c e m cobertura a referida molestia, utilizando o fato c o m o publicidade, e, e v i d e n t e m e n t e , c o b r a n d o pregos m a i s altos d o c o n s u m i d o r por isso.

O s p i a n o s c o s t u m a m excluir t a m b e m certos t r a t a m e n t o s mais o n e r o s o s , e s p e c i a l m e n t e a q u e l e s d e o r i g e m m a i s recente, a s s i m c o m o e x a m e s diagnosticos. pois, u m a d a s alegagoes m a i s f r e q u e n t e s e a d e se e x c l u i r e m t r a t a m e n t o s e x p e r i m e n t a i s .

E m b o r a a p a r e n t e m e n t e licita, a clausula q u e e s t a b e l e c e limites a d e t e r m i n a d o s t r a t a m e n t o s e e s p e c i a l m e n t e g r a v o s a , e, a o analisa-la

(35)

34 d e t a l h a d a m e n t e , p o d e - s e p e r c e b e r a a b u s i v i d a d e nela contida. Limitar d e t e r m i n a d o s t r a t a m e n t o s e incoerente c o m a ideia de proteger a s a u d e do c o n s u m i d o r . U m paciente internado n u m a U n i d a d e de T r a t a m e n t o I n t e n s i v e por e x e m p l o , nao p o d e ter sua p e r m a n e n c i a limitada a u m d e t e r m i n a d o n u m e r o de dias, pois s u a propria vida d e p e n d e do t r a t a m e n t o a q u e esta s e n d o s u b m e t i d o .

D e e x t r e m a g r a v i d a d e , t a m b e m , e a imposigao de limites de carencia para q u e o c o n s u m i d o r p o s s a usufruir d e internagoes, t r a t a m e n t o s e e x a m e s por ele c o n t r a t a d o s . C a r e n c i a d e a c o r d o c o m os e n s i n a m e n t o s da autora M a r q u e s (1998, p. 4 7 4 ) e o p e n o d o q u e se s e g u e a assinatura do contrato e m q u e o c o n s u m i d o r paga o piano s e m p o d e r desfrutar o beneficio. A s c a r e n c i a s p o d e m referir-se a t o d o o p i a n o contratado ou a cada item e s p e c i f i c a m e n t e . A s m e s m a s m o s t r a m - s e c o m o restrigoes contratuais m u i t o s e v e r a s e m relagao ao c o n s u m i d o r , s e n d o muitas vezes s u p e r i o r e s , inclusive, a o prazo d o contrato.

D i r e t a m e n t e relacionada c o m o a b u s o e m relagao as carencias, esta a rescisao unilateral do contrato por falta d e p a g a m e n t o . U m a vez c o n s i d e r a d o rescindido o contrato, c a s o o c o n s u m i d o r volte a contratar, serao n o v a m e n t e c o n t a d o s os prazos d e carencia. Isso e v i d e n t e m e n t e configura u m a b u s o por parte d o fornecedor, pois o c o n s u m i d o r estara p a g a n d o por u m servigo q u e nao Ihe esta s e n d o p r e s t a d o , s e n d o penalizado de f o r m a e x t r e m a m e n t e s e v e r a , i n c o m p a t i v e l c o m o d e v e r d e boa-fe e s p e r a d o d a s partes e m u m contrato. N a o se pode e s q u e c e r , t a m b e m , q u e a principal razao d a existencia d a s carencias e evitar o uso d o piano d e s a u d e por a q u e l e c o n s u m i d o r q u e j a contrata d o e n t e , nao persistindo e s s e motivo d u r a n t e o contrato, e m o s t r a n d o - s e ainda m a i s d e s n e c e s s a r i a a nova c o n t a g e m de p r a z o s d e carencia por atraso no p a g a m e n t o d a s prestagoes.

(36)

A i n d a m a i s s e v e r o q u e s u b m e t e r - s e a novos p r a z o s d e carencia e interromper u m t r a t a m e n t o o u internacao de u m c o n s u m i d o r por falta d e p a g a m e n t o , o q u e colocaria e m risco sua s a u d e ou s u a vida.

O u t r o tipo de a b u s o f r e q u e n t e m e n t e c o m e t i d o pelos f o r n e c e d o r e s d e pianos d e s a u d e e o a u m e n t o unilateral d a s p r e s t a c o e s o u m e n s a l i d a d e s , q u a n d o o c o n s u m i d o r troca de categoria. E s s a s categorias s a o divisoes d o s c o n s u m i d o r e s por faixa etaria, nas quais q u a n t o m a i s idoso fica o c o n s u m i d o r , m a i s cara se torna a m e n s a l i d a d e do s e u p i a n o de s a u d e . T a l clausula se mostra a b u s i v a na m e d i d a e m q u e a m a n u t e n g a o do piano d e s a u d e se torna inviavel para o c o n s u m i d o r idoso, j u s t a m e n t e na e p o c a d a vida e m q u e m a i s precisa d a assistencia d o p i a n o de s a u d e .

E x i s t e m , ainda, diversos outros tipos d e a b u s o praticados pelos f o r n e c e d o r e s de p i a n o s , c o m o requisitos dificeis d e s e r e m c u m p r i d o s o u exigencia de a p r o v a c a o d a o p e r a d o r a para realizacao d e cirurgias e e x a m e s d e maior c u s t o o u c o m p l e x i d a d e . Tais clausulas s a o c h a m a d a s de clausulas-barreira ( M a r q u e s , 1998, p. 541) e c o n s t i t u e m o b s t a c u l o s para o perfeito d e s e n v o l v i m e n t o do contrato.

Ha t a m b e m a b u s o s c o m u n s , q u e nao d i f e r e m m u i t o d a q u e l e s praticados pela maioria d o s f o r n e c e d o r e s de outros p r o d u t o s o u servigos, c o m o os contratos redigidos c o m letras p e q u e n a s , e m l i n g u a g e m t e c n i c a , inacessivel ao c o n s u m i d o r , o u a p r o p a g a n d a e n g a n o s a . Igualmente c o m u n s s a o os a b u s o s caracteristicos d o s contratos d e a d e s a o p r o v e n i e n t e s de f o r n e c e d o r e s e c o n o m i c a m e n t e superiores aos c o n s u m i d o r e s , c o m o a pratica de nao dar ao c o n s u m i d o r toda a i n f o r m a g a o e c o n h e c i m e n t o do real c o n t e u d o d o contrato.

(37)

O carater a b u s i v e d e s s e s contratos fica e v i d e n c i a d o diante de tais c o n d u t a s . O s c o n s u m i d o r e s , no e n t a n t o , nao t i c a r a m d e s p r o t e g i d o s no p e r i o d o decorrido a p o s a entrada e m vigor do C o d i g o de D e f e s a do C o n s u m i d o r e ate a Lei n° 9.656/98. A s limitagoes as clausulas a b u s i v a s e a intervengao jurisdicional a d v i n d a d e s s e codigo v i e r a m limitar e controlar os a b u s o s m a i s f r e q u e n t e m e n t e c o m e t i d o s . A s s i m , a j u r i s p r u d e n c i a c o n s o l i d o u - s e , m o s t r a n d o - s e eficiente para coibir os a b u s o s e e v e n t u a l m e n t e corrigi-los.

(38)

3.1 N o g a o de clausulas abusivas

A s clausulas a b u s i v a s sao, s e g u n d o a definicao d e N o r o n h a ( 2 0 0 1 , p. 138):

As estioulacoes que em contratos entre as partes de desiaual forca reduzem unilateralmente as obrigagoes do contratante mais torte ou aaravam as do mais traco. cnando uma situacao de qrave desequilibrio entre elas.

O C o d i g o de Defesa do C o n s u m i d o r preve no s e u artigo 51 u m a serie d e clausulas q u e s e r a o c o n s i d e r a d a s a b u s i v a s , d e m o d o q u e p o d e - s e afirmar q u e hoje e m dia as clausulas a b u s i v a s s a o u m a categoria legal. O primeiro inciso d a lista j a deixa t r a n s p a r e c e r o espirito d o legislador a o definir c o m o a b u s i v a s a s clausulas q u e impossibilitem, e x o n e r e m o u a t e n u e m a responsabilidade d o f o r n e c e d o r por vicios d e q u a l q u e r natureza d o s p r o d u t o s e servigos o u i m p l i q u e m renuncia ou d i s p o s i c a o de direitos.

A s s i m , a definicao legal e bastante a p r o x i m a d a d a definicao doutrinaria, d e m o d o q u e a principal caracteristica d a clausula a b u s i v a e a g e r a g a o d e desequilibrio e n t r e a s partes c o n t r a t a n t e s , e m e s p e c i a l e m contratos f i r m a d o s entre f o r n e c e d o r e c o n s u m i d o r , d e v i d o a e v i d e n t e d e s i g u a l d a d e d a s partes.

A nogao d e clausula a b u s i v a , no e n t a n t o , nao surgiu c o m a sua previsao e m lei. E u m conceito q u e v e m s e d e s e n v o l v e n d o d e s d e ha bastante t e m p o . E m b o r a nao f o s s e m a s s i m d e s i g n a d a s , j a e r a m a b u s i v a s a s clausulas potestativas, q u e a t r i b u i a m a u m a d a s partes o p o d e r de modificar a s c o n d i g o e s d o contrato. A protegao contratual d a s clausulas potestativas e anterior a nogao

(39)

38 d o s contratos m a s s i f i c a d o s e m e s m o d a ideia da fungao social d o contrato, visto q u e o C o d i g o Civil de 1916 j a as previa.

No e n t a n t o foi o f e n o m e n o d a massificagao dos contratos, d a sua utilizagao na f o r m a p a d r o n i z a d a e d e a d e s a o , q u e fez surgir a n e c e s s i d a d e de d e s e n v o l v e r -se o conceito d e clausulas a b u s i v a s . Essa massificagao d a contratagao fez c o m q u e s e m o s t r a s s e m m a i s e v i d e n t e s o s a b u s o s c o m e t i d o s atraves d e a p e n a s a l g u m a s p o u c a s clausulas d o negocio, q u e nao significava q u e t o d o o contrato f o s s e m a l intencionado, m a s a p e n a s q u e a l g u m a s d a s s u a s clausulas, f a z i a m desequilibrar o contrato.

M a n d e l b a u m ( 1 9 9 6 , p. 177), repetindo afirmagao q u e j a havia sido feita por N o r o n h a , alerta q u e :

Nao e DroDnamente a adesao. como modo de tormacao do vinculo contratual a responsavel pelo surgimento de desequilibrios contratuais. mas sim a insercao nestes de clausulas abusivas. introduzidas pela posigao que ocupa o predisponente de poder estabelecer unilateral e antecipadamente o conteudo do contrato.

E importante nao e s q u e c e r - s e q u e a s clausulas a b u s i v a s nao e x i s t e m a p e n a s n o s contratos d e c o n s u m o , e x i s t e m i g u a l m e n t e nos contratos paritarios. Neste sentido, N o r o n h a ( 2 0 0 1 , p. 153) afirma q u e :

Clausulas abusivas sao aouelas due em dualduer contrato (mas especialmente nos de consumo) desequilibram significativamente a relacao de eauivalencia entre direitos e obriqacdes de uma e outra parte, quando esta deva ser pressuposta de acordo com o principio da justiga contratual.

Referências

Documentos relacionados

Para o Planeta Orgânico (2010), o crescimento da agricultura orgânica no Brasil e na América Latina dependerá, entre outros fatores, de uma legislação eficiente

Quando um canal não mantém o seu eixo-árvore master, no arranque do CNC e depois de um reset, o canal aceita como eixo-árvore master o primeiro eixo-árvore definido nos parâmetros

O arrematante adquire o bem(ns) no estado de conservação em que o mesmo se encontra e declara que tem pleno conhecimento de suas condições e instalações, nada tendo

II - produtor integrado ou integrado: produtor agrossilvipastoril, pessoa física ou jurídica, que, individualmente ou de forma associativa, com ou sem a cooperação

Métodos: Este foi um estudo longitudinal prospectivo de coorte no qual foram avaliados 49 indivíduos, no período inicial, contemplando a anamnese e levantamento de dados antropométricos

Evento que exigiu o fim da impunidade para os Crimes de Maio de 2006 reuniu vítimas da violência policial de vários Estados e deixou claro que os massacres de pobres e jovens

II - os docentes efetivos, com regime de trabalho de 20 (vinte) horas semanais, terão sua carga horária alocada, preferencialmente, para ministrar aulas, sendo o mínimo de 8 (oito)

Corpos de prova de cada amostragem foram submetidos aos ensaios de resistência à compressão axial, sendo 3 unidades aos 28 dias e 5 unidades aos 56 dias, ou à tração