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Formação do imaginário do Senhor Jesus dos Passos em Florianópolis

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

THIAGO ESPÍNDOLA

FORMAÇÃO DO IMAGINÁRIO DO SENHOR JESUS DOS PASSOS EM FLORIANÓPOLIS

Florianópolis 2018

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FORMAÇÃO DO IMAGINÁRIO DO SENHOR JESUS DOS PASSOS EM FLORIANÓPOLIS

Trabalho submetido à Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para a conclusão do Curso de Graduação em História.

Orientadora: Aline Dias da Silveira.

Florianópolis 2018

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FORMAÇÃO DO IMAGINÁRIO DO SENHOR JESUS DOS PASSOS EM FLORIANÓPOLIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado, adequado para obtenção do título de licenciado e bacharel em História e aprovado em sua forma final pelo Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 28 de junho de 2018. Banca Examinadora:

_______________________________________ Prof.ª Dra.ª Aline Dias da Silveira

Orientadora

Universidade Federal de Santa Catarina

_______________________________________ Prof.ª Dr.ª Janine Gomes da Silva

Membro

Universidade Federal de Santa Catarina

_______________________________________ MSc Rodolpho Alexandre Santos Melo Bastos

Membro

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À minha mãe, por todo o incentivo e apoio constante.

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Agradeço primeiramente a minha mãe Eliane Espíndola, pelo incentivo, dedicação e afeto.

A minha namorada Daniela Frutuoso, por estar sempre ao meu lado. Sem você, não teria chegado até aqui.

Agradeço a minha orientadora Aline Dias da Silveira pela paciência comigo. Possuo uma grande admiração pelo seu trabalho e me honro de terminar este ciclo tendo você como minha orientadora.

Agradeço a professora Liane Nagel que me ajudou muito em como conduzir e lidar com as entrevistas.

Agradeço aos amigos que fiz durante a graduação: Adriano de Campos, Osmar Nenevê, Daniel Adenir dos Santos e Matheus Ferreira Machado. Sem dúvidas, amigos para toda a vida.

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O prazer do trabalho aperfeiçoa a obra. Aristóteles.

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Em 1994, acontece o terrível incêndio que consome quase por completo as estruturas do Hospital de Caridade, este que tem por anexo a Capela Menino Deus, onde se encontra a imagem do Senhor dos Passos, neste incêndio a imagem acaba por se salvar das chamas milagrosamente. Perante a história de mais de 200 anos da estátua milagrosa foi despertada em mim a vontade de entender a religiosidade em torno do Senhor dos Passos em Florianópolis. Deste modo, foram entrevistadas pessoas envolvidas no incêndio e na história da imagem religiosa. A partir desta fonte oral, foram levantadas questões acerca do imaginário religioso, a visão das pessoas com relação ao incêndio e sobre a identidade da imagem. O objetivo deste trabalho é entender da formação do imaginário religioso dos entrevistados e suas transformações após o incêndio.

Palavras-chave: Imaginário. Senhor dos Passos. Memória.

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Charity, this one that has by annex the Child God Chapel, where is the image of the Lord of the Steps, in this fire the image ends up being saved of the flames miraculously . Before this story of more than 200 years of the miraculous statue, I was awakened in me the desire to understand the religiosity around Lord of the Steps in Florianópolis. In this way, people involved in the fire and in the history of the religious image were interviewed. From this oral source, questions were raised about the religious imaginary, the people's view of the fire and the identity of the image. The objective of this work is an analysis of the formation of the religious imaginary and its transformations after the fire.

Keywords: Imaginary. Lord of the Steps. Memory.

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I.I- Passos do Santo...15

I.II - A imagem como objeto de arte (presença divina)...17

I.III – Espaço sacralizado e o tempo primordial...19

I.IV – Memória e imaginário...22

CAPÍTULO II – Lembranças nas cinzas e a memória dos envolvido...24

II.I - O incêndio...24

II.II –Os entrevistados...25

II.III - Memória sacralizada e a auto proteção do Santo...27

II.IV– Considerações finais...30

BIBLIOGRAFIA...31

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INTRODUÇÃO

Desde o começo da graduação detive um verdadeiro fascínio pela pesquisa acerca da imagem do Senhor dos Passos. Desta forma, na escolha do tema do meu trabalho de conclusão de curso, não tive dúvidas de que abordaria a imagem de alguma forma. Por ser natural de Florianópolis e vivendo aqui desde meu nascimento, sempre estive envolto com a mística do Senhor dos Passos, principalmente pelo fato que a aparência visual da imagem sempre me assustou quando criança. Deste modo, fui instigado pelo medo e curiosidade da imagem e seus mistérios. A escolha do tema, não deixa de ter influencia familiar, pois tanto por parte de pai como por parte de mãe, são naturais de Florianópolis e todos muito católicos, por isso, o evento anual da procissão do Senhor dos Passos sempre foi algo próximo e comum em minha vida.

Em 1994, ocorreu um incêndio no Hospital de Caridade de Florianópolis. Nesta época, eu tinha seis anos de idade e lembro que foi algo chocante, por perceber que os adultos estavam apavorados com o ocorrido, sendo algo que paralisou a cidade inteira. Desde então, sempre escutei as duas histórias - a da imagem e a do incêndio – contadas por várias pessoas. Considerado como um fato recente, até hoje, as lembranças do incêndio no Hospital de Caridade estão vivas na memória dos envolvidos.

Um dos desafios encontrados na realização da pesquisa foi o trabalho com história oral, o que, para mim, foi uma forma diferente de estudar a religiosidade. Não foi fácil localizar pessoas dispostas a ceder parte de seu tempo em dar uma entrevista sobre um evento traumático ocorrido há 23 anos. Através do contato com conhecidos, tive a felicidade em conseguir entrevistar algumas pessoas que foram muito solícitas. Não há duvidas de que uma das pessoas que mais me ajudou e me inseriu nesta história tanto do incêndio, como do hospital, foi minha namorada Daniela. Sua mãe dona Marli (uma das entrevistadas), vem de duas gerações da família que trabalharam no Hospital de Caridade e viveu com muita intensidade os acontecimentos do incêndio.

Trabalhar com história do tempo presente de um evento recente, escutar a narração da história e ver a emoção nos olhos das pessoas foi uma coisa fantástica, para alguém como eu que estava acostumado a estudar eventos ocorridos há séculos durante o curso de História. Fui alertado por algumas pessoas das dificuldades que eu poderia encontrar no campo, não apenas pela sensibilidade e fragilidade do assunto para alguns, mas também por se tratar de um assunto delicado. Determinados indivíduos preferem não ceder seus relatos ou até mesmo ao

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encontrar dificuldades na obtenção de alguns materiais sobre o ocorrido, por ser considerado um assunto que deve ser esquecido. Não poderia, também, deixar de citar as peculiaridades dos nativos da ilha1 que, ao mesmo tempo em que são “fechados” ao contato de desconhecidos, deixam uma ligação entre conhecidos em comum, tornando-se extremamente receptivos a longas conversas.

Deste modo, podemos considerar que essas são sem dúvida questões sobre a pesquisa de uma história recente ainda muito viva na comunidade. As barreiras são impostas não só por se tratar de uma cidade pequena, mas pela dificuldade de trabalhar com a religiosidade das pessoas, há sem dúvida um impasse em deixar claro para as pessoas que o intuito não é questionar a sua fé nem desmerece-la, mas sim de se colocar uma nova perspectiva sobre o assunto, além de também preserva-la e compreender as formas que a religiosidade pode tomar. Quanto à importância e nos cuidados no trato dessas entrevistas de história oral:

É na realização de entrevistas que se situa efetivamente o fazer a história oral; é para lá que convergem os investimentos iniciais de implantação do projeto de pesquisa, e é de lá que partem os esforços de tratamento do acervo. (ALBERTI).2

A implantação efetiva do projeto foi algo desafiador, pois tirar do papel todas as propostas se mostrou algo exaustivo, porém esse foi o trampolim e o norte para não se desviar do caminho, já que na história esses desvios são frequentes. Assim, acredito que se manteve o rumo certo no assunto, mesmo que por vezes, durante as entrevistas, esse rumo das conversas se viu em perigo.

Todas as entrevistas feitas por mim foram depositadas no laboratório de história oral da Universidade Federal de Santa Catarina, onde ficarão disponíveis para as próximas pesquisas, o que é sem dúvida uma sensação de fazer parte da história, de estar inserido de alguma forma no acontecimento, pelo fato de eu ter conversado com tantos personagens distintos que viram e viveram o incêndio de tantas formas diferentes. Quanto à transformação das entrevistas em fontes documentais, segundo autora Verena Alberti:

Na história oral, a pesquisa e a documentação estão integradas de maneira especial, uma vez que é realizado uma pesquisa, em arquivos, bibliotecas etc., e com base em um projeto que se produzem entrevistas, as quais se transformarão em documentos, que, por sua vez, serão incorporados ao conjunto de fontes para novas pesquisas. (ALBERTI).3

1O termo nativos da ilha refere-se a aqueles que nasceram na ilha de Florianópolis. 2 ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de janeiro: FGV, 2013. P.157. 3Idem. P.158.

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O uso da história oral é uma metodologia importante para dar voz aos esquecidos, aqueles que a história negligenciou. Para que possamos modificar a história construída vista de cima, e proporcionar uma nova perspectiva do assunto.4 Tanto a história do hospital e da imagem quase sempre é contada por pessoas que compõe a própria irmandade do Senhor dos Passos ou figuras de prestígio onde a crença e o folclore religioso acabam por passar despercebido nessas narrativas e memórias. Pois, segundo Bloch, podemos considerar que “O passado é, por definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa” 5. Assim, com o intuito de um conhecimento mais apurado e crítico, pretende-se observar uma nova visão do incêndio, não da ótica da irmandade, mas sim da visão religiosa das pessoas sobre imagem do Senhor dos Passos e as modificações ocasionadas pelo ocorrido em sua crença e, principalmente, das pessoas comuns.

A problematização deste estudo se dá pelo fato da sacralização de alguns acontecimentos sobre a imagem do Senhor dos Passos, essa que por várias vezes esteve relacionada a acontecimentos onde a imagem se mostrou com vontade própria. Desde sua chegada em 1764 até o incêndio em 1994, onde houve grande repercussão acerca da proteção da imagem em meio às chamas, que consumiram 70% das estruturas do hospital, deixando mortos e feridos. O imaginário a respeito desses acontecimentos é muito rico, e permeia a população de Florianópolis, sendo difícil alguém que não saiba um pouco dessas histórias, assim a imagem hoje se tornou parte do folclore da cidade, mesmo na memória das pessoas que não são religiosas.

Além das entrevistas nesse estudo, também, foi utilizado jornais da época, e uma bibliografia diversa que irá contribuir e dar sustentação a pesquisa. Pretende-se com esse trabalho, abrir um novo leque de possibilidades a respeito do estudo de religiosidade, além de corroborar com a história local. Assim por meio dos relatos, pretende-se perceber a perspectiva da relação imagem/incêndio e suas transformações no imaginário religioso: “O objeto último do historiador das religiões é compreender, e tornar compreensível aos outros, o comportamento do homo religiosus e seu universo mental.”(ELIADE).6

4FERREIRA, Marieta de Moraes. Amado, Janaína (org.). Usos e abusos da história oral. Rio de janeiro: Editora FGV, 2006. P. 4.

5BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Ed Jorge Zahar, 2001. P.75.

6ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: A essência das religiões. São Paulo: Editora Martins fontes, 2013. P. 133.

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Assim, o estudo desses acontecimentos nos levará a uma melhor compreensão desse comportamento religioso e seu imaginário. Pois, o cosmos religioso da imagem do Senhor dos Passos e do Hospital de Caridade, seja algo único em toda cristandade, por isso, a relevância dessa pesquisa para um melhor entendimento. Quanto ao critério das entrevistas, de acordo com Alberti:

A escolha dos entrevistados não deve ser predominantemente orientada por critérios quantitativos, por uma preocupação com amostragens, e sim a partir da posição do entrevistados no grupo, do significado de sua experiência. Assim em primeiro lugar, convém selecionar os entrevistados entre aqueles que participaram, viveram, presenciaram ou inteiraram de ocorrências ou situações ligadas ao tema e que possam fornecer depoimentos significativos. (ALBERTI).7

Por esse fato não se utilizou de um número maior de entrevistas, para que cada uma tenha o devido zelo e cuidado na sua análise dos relatos. Se trata de uma história com impacto na vida dos entrevistados, algo que mexeu muito com suas vidas e suas memórias. Sendo assim, não foram utilizadas um grande número de entrevistas, com o intuito de utilizar suas histórias como meros gráficos de uma forma fria e matemática, o que seria algo insensível.

Quanto à visão do passado na história dos acontecimentos abordados, o passado acaba por se tornar evidência, pois o passado é uma construção e reinterpretação constante do presente8, por isso, existe a dificuldade em se mostrar novas abordagens sobre um assunto que no imaginário social já está consolidado. Assim mesmo, nesse caso, do incêndio de 24 anos atrás, há sem dúvidas o medo do pecado do anacronismo histórico. De acordo com Hobsbawn, “em história, na maioria das vezes, lidamos com sociedades e comunidades para as quais o passado é essencialmente o padrão para o presente9” (HOBSBAWN). Deste modo, lidando com esse paradigma e tomando os devidos cuidados, a pesquisa se utiliza de embasamento teórico e metodológico.

7 ALBERTI, ibdem. P.40.

8LE GOFF, Jaques. História e memória. São Paulo: Editora da Unicamp, 2013. P.28. 9HOBSBAWN, Eric. Sobre história. São Paulo, Companhia das letras, 1998. P.22.

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CAPÍTULO I: A CHEGADA DA IMAGEM

A história da imagem do Senhor dos Passos tem seu próprio mito fundador. A sua chegada se tornou uma lenda entre os cristãos e demais moradores de Florianópolis, antiga Desterro. Os relatos da chegada são poucos, e são narrados nos livros do memorial da irmandade do Senhor dos Passos:

Nas três frustradas tentativas para entrar na barra do Rio Grande do Sul feitas pela embarcação que transportava uma imagem do Senhor Jesus dos Passos, e nas três consequentes arribadas ao porto de desterro, pareceu visível a vontade divina para que aveneranda encomenda ficasse na cidadezinha sede da capitania de Santa Catarina. E a permanência foi acordada entre o capitão do barco e moradores da terra, pago aquele o feitio da imagem – o feitio, sim, porque a imagem, como coisa sagrada, não podia receber preço. O caso aconteceu no ano de 1764, reinando em Portugal Dom José I, sendo Vice-rei do Brasil o Conde da Cunha, governando a capitania o Coronel Francisco Antônio Cardoso de Meneses e Sousa e sendo Bispo do Rio de Janeiro, com jurisdição em Santa Catarina, Dom Frei Antônio do Desterro. (FONTES).10

A imagem vinha da região nordeste com destino final na região sul do Brasil. O translado enfrentou adversidades que foram compreendidas como vontade divina, por se tratar do transporte de algo sagrado. Compreendendo que a imagem interveio por vontade própria de ficar na cidade de Desterro acataram por sua permanência. Em relação a essa transação comercial da imagem não se tem documentação, nem outros relatos sobre o ocorrido, pois muito se perdeu no incêndio de 1994.

Após ser definida a permanência da imagem, ela foi depositada na capela menino Deus, que foi construída pela beata Dona Joana de Gusmão, segundo Cabral:

A matriz estava inconclusa e Da. Joana com a sua capela no Menino Deus já terminada. Não é de duvidar que os homens mais eminentes da pequena Vila, Governador inclusive, que haviam acertado a conservação da imagem do Senhor Jesus dos Passos no Desterro, se tivessem congregado para fundação de uma Irmandade para venerá-la e festeja-la e, depois, trabalhando junto a Beata para que, na pequenina capela, situada na colina, dominando todo o cenário, e cuja subida pela veneranda figura poderia lembrar aos moradores aquela que fez o Salvador a caminho do Gólgota, despertando neles maior piedade e devoção, desse agasalho a imagem.(CABRAL). 11

10FONTES, Henrique da Silva. A Irmandade do Senhor dos Passos e o seu Hospital, e Aqueles que os

Fundaram. Edição do Autor, Florianópolis, 1965. P. 5.

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Localizada no morro da Boa Vista, a capela do Menino Deus fica em um local estratégico pela vista superior e panorâmica da cidade, algo que ajudou na propagação do folclore da imagem, já que se encontra aos olhos de todos os moradores, colocando-se colocando-sempre em foco.

A evidência da vontade da imagem a colocou em destaque fazendo assim a consagração, o que deu origem ao seu culto. Deste modo, podemos entender que a chegada da imagem na cidade é seu mito fundador. Por mito fundador12 entendemos um acontecimento extraordinário que deu origem a determinado culto, neste caso a adoração da imagem do Senhor dos Passos, outra interpretação de mito inicial é a de modelo exemplar a qual se segue. Esta que não é uma religião específica, pois é um dos muitos cultos dentro da religião católica, e o culto do Senhor dos Passos não é apenas encontrado na cidade de Florianópolis e sim em várias regiões do Brasil e inclusive em outros países. Porém, os acontecimentos envolvendo esta imagem em específico cria uma peculiaridade que a destaca de todos os outros cultos, pois esses acontecimentos são únicos e exclusivos desta imagem e da cidade de Florianópolis.

Portanto, partir da legitimação da intervenção divina interpretada como vontade da imagem em permanecer na cidade, todo e qualquer acontecimento relacionado ao Senhor dos Passos se torna assim parte do seu cosmos religioso. Podemos dizer que dentro da cristandade é possível observar um micro e macro cosmo religioso.

I.I - Passos do Santo

A imagem do Senhor dos Passos é a representação de Jesus Cristo no caminho da crucificação (calvário), ela é entalhada em madeira e tem características de uma pessoa viva, como tamanho, cabelo, roupas e, como sua principal peculiaridade, temos a sua expressão facial que refletem o realismo barroco.

Existem, sem dúvida, inúmeras imagens do Senhor Jesus dos Passos por todo Brasil, mas talvez nenhuma tem tanta complexidade como a que se encontra no Hospital de Caridade de Florianópolis.

A imagem tem a compleição de homem muito alto e representa Nosso Senhor Jesus Cristo num dos seus Passos, no caminho do Calvário, certamente na primeira queda. Com o joelho esquerdo posto no chão,

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trajando túnica de tecido roxo, que lhe deixa ver os pés, suportando no ombro esquerdo grossa cruz que as duas mãos seguram, cingidos os cabelos longos e verdadeiros por uma coroa de espinhos, manifesta no rosto, em que escorre suor de sangue, profunda angústia, parecendo fitar os olhos nos de quem para eles levante os seus. É assim que hoje se apresenta a imagem. Reza, porém, a tradição, – e o exame da estrutura a confirma, – que, primitivamente, movia a cabeça, os olhos e a língua, o que lhe aumentava a semelhança com um homem vivo, mas tão atemorizadora a fazia, que foi aconselhável travar-lhe tais movimentos.(FONTES).13

O folclore envolto a imagem se dá principalmente por suas características marcantes como seu tamanho e fisionomia que assustam e atraem a curiosidade das pessoas, talvez por esse fato seja atribuído à imagem tantos acontecimentos como curas e a sua própria vontade de permanecer na cidade. Segundo a representação bíblica da imagem, a imagem, que bem representa “o homem das dores”, da visão do profeta Isaías, “experimentado nos sofrimentos” “castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades”, suscitou a organização de uma confraria: A Irmandade do Senhor dos Passos.14

Muitos devotos se referem ao Senhor dos Passos como um santo, algo que é certo, já que ele representa para os cristãos o messias Jesus Cristo, filho de Deus enviado para salvar os homens de seus pecados. Essa referência, como Santo se dá pela fisionomia da imagem, que mostra uma figura pálida com expressão de dor e sofrimento, com aparência diferente da imagem que Jesus Cristo frequentemente costuma ser retratado. Assim, por este fato, a imagem tem uma dupla personalidade, e assim um duplo sentido, para uma parcela da comunidade cristã ele é apenas um santo comum como tantos que existem no panteão cristão, e para outros mais atentos ele representa Jesus Cristo. Referente a essa questão da identidade podemos dizer que a imagem é mais vista como um Santo do que como o próprio messias que ela representa. Segundo Ginzburg, podemos afirmar,

Que imagem de Jesus – a que mudou a história do mundo – era profundamente impregnada da identificação com o “servo de Deus” do Deutoro-Isaias, é absolutamente certo. Igualmente certo é que essa identificação foi compartilhada pelos redatores dos evangelhos.15

A narrativa bíblica da imagem de Jesus que mais se expressa nas artes sacras é Jesus crucificado. Esta que sem dúvida está impregnada nas raízes do imaginário cristão pelo fato

13FONTES, Ibidem. P. 5.

14PEREIRA, Nereu do Vale(Org.). Memorial Histórico da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos. Florianópolis, Editora: Ministério da Cultura, 1997. P. 21.

15GINZBURG, Carlos. Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância. São Paulo: Editora Companhia brasileira de letras, 2001. P. 110.

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de ser a mais usada nos templos religiosos. Talvez se encontre essa diferença de interpretação na comunidade leiga cristã que muitas vezes transita entre várias religiões, como é visto na procissão do Senhor dos Passos que reúne pessoas de vários credos, pois a mesma já se tornou algo que transcende a religiosidade para alguns e acaba por se tratar de um fenômeno popular da cidade. Esse fenômeno da dualidade da personalidade da imagem do Senhor dos Passos entre messias e santo pode ser percebida nas entrevistas feitas para este trabalho, onde em nenhum momento durante as quatro entrevistas os entrevistados se referiram a imagem como Jesus e sim como apenas Senhor dos Passos. Esta personalidade folclórica de Santo é também um fenômeno único que apenas é encontrado neste culto, esse fato já é algo muito sólido no imaginário religioso local.

I.II - A Imagem como Objeto de Arte

A imagem do Senhor dos Passos, além de sua importância espiritual e religiosa, tem grande relevância como obra de arte sacra, pois foi concebida durante o período artístico brasileiro denominado barroco. Pela sua importância como objeto de arte seria negligência trabalhar sobre a imagem e seu imaginário que é o foco deste trabalho e omitir em abordar o tema da imagem como arte, por isso destinei esse breve relato para trabalhar a obra, seu autor e o período artístico. Porém, devemos partir do pensamento das imagens religiosas como sua real função, segundo Jean-Cloude Schimid: “Primeiramente, elas tem função de instrução (aedificatio, instructio, addiscere) especialmente para os iletrados; vendo as imagens, eles poderão compreender (intendere) a história sacra (historia).”16 Dessa forma, tanto as imagens como quadros tem como fundamento serem didáticas e ilustrativas das passagens do cristianismo, a partir disso vemos uma variedade e uma transformação das formas como são representadas ao longo do tempo. Uma das características do catolicismo é sua diversidade iconográfica, principalmente nas formas como é representado Jesus Cristo em todas as narrativas bíblicas.

A riqueza iconográfica e as características das imagens religiosas refletem o lugar que cada comunidade religiosa concede as imagens. Os cristãos investiram amplamente nas imagens, diferentemente de Judeus e

16 SCHIMITT, Jean-Claude. O corpo Da imagens: ensaios sobre a cultura visual na idade média. Bauru, SP: EDUSC, 2007. Página 60.

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mulçumanos que as rejeitaram em função da interdição contida no antigo testamento.(VISALLI).17

No Brasil do século XVII, figurou um tipo de expressão plástica que ficou conhecido como barroco. Esse movimento artístico foi fruto da aproximação de associações leigas com ordens religiosas, e de mão de obra predominantemente africana que junto com a descoberta de ouro em várias partes da colônia fez florescer uma demanda por obras sacras requintadas. Segundo Etzel:

O barroco foi como um fogo-fátuo: surgiu, brilhou e decaiu. Teve surtos muito ricos em determinadas regiões. Foi modestíssimo em muitas outras. Existiu em todas. Pode-se sentir que o “fluido” que criou teve consistência variável no vasto território da colônia. Mas onde quer que tenha surgido, foi sempre a expressão de algo grande, importante e ambicioso. Poderíamos mesmo pensar que representou um ideal de perfeição e da mais alta aspiração.(ETZEL).18

Deste modo, o barroco foi a representação de um momento de ascensão econômica da colônia, do qual refletiu na espiritualidade das pessoas, desde adornos nas igrejas até nas imagens religiosas. Esse período teve como destaque grandes artistas como Aleijadinho e Francisco das Chagas autor da obra do Senhor Jesus dos Passos a qual este trabalho está voltado.

Esta figura de tão dolorosa e impressionante beleza e de tão perfeita execução viera da Bahia e, ao que se supõe, é do cinzel de Francisco das Chagas, homem de cor, alcunhado “o cabra”, de quem há na cidade de Salvador, esculturas sacras comparáveis com o Senhor dos Passos que veio a ficar em Santa Catarina.(FONTES).19

Francisco das Chagas, autor da imagem do Senhor dos Passos, é um artista muito conhecido na Bahia, com muitas obras e de extrema importância para as artes plásticas brasileira no barroco. Sobre a origem do artista:

Que possuía o apelido de “cabra” mostra ter sido filho de um mulato e de uma negra oi vice-versa; dai tirar conclusão de ele ter nascido na Bahia não é segura e certa, pois muitos negros sudaneses que vieram da África eram mulatos. E que tinha tantos recalques psicológicos, mostra ter sido escravo

17VISALLI, Angelita Marques. Imagens religiosas. Universidade Estadual de Londrina, 2014. Página 41. 18ETZEL, Eduardo. O barroco no Brasil: psicologia e remanescentes em São Paulo, Goiás, Mato

Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo,

1974.

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na juventude e de uma mulher escravocrata que andava de chicote na mão e não perdoava nada aos seus escravos.(OTT).20

Esses fatos de Francisco das Chagas são pouco conhecidos pelos fiéis da imagem do Senhor dos Passos. A importância artística da imagem de certo modo se mostra negligenciada e ofuscada pelo imaginário religioso que se construiu ao redor da imagem, pois nenhum dos entrevistados relatou a imagem como objeto de arte ou de conhecimento de seu autor.

I.III – Espaço Sacralizado e o Tempo Primordial

O Hospital de Caridade de Florianópolis é um advento da chegada da imagem do Senhor dos Passos. Por causa da imagem foi fundada a irmandade, com sede anexa à capela Menino Deus, construída pela beata Joana de Gusmão, e, posteriormente se deu início ao hospital que funciona até os dias de hoje.

Segundo Megale, quanto à da devoção de santos populares:

O povo em geral possui devoções próprias derivadas de tradições herdadas de seus antepassados ou agregadas ao culto conforme as necessidades de cada época. Os mais venerados são os padroeiros das cidades, das profissões ou aqueles que propiciam a cura das doenças comuns nas populações interioranas, competindo com os profissionais da saúde.(MEGALE).21

O fato do espaço religioso onde se encontra a imagem do Senhor dos Passos se situar dentro de um hospital, acarreta uma sacralização de toda estrutura física do ambiente, esse fato corrobora com a devoção e imaginário do culto ao Senhor dos Passos. Por ser toda a estrutura anexa ao hospital e à capela, isso propicia que todo e qualquer acontecimento dentro desse espaço, que tenha ou não explicação, principalmente se os envolvidos forem religiosos, terão uma conotação sacralizada, ou seja, pode-se ser atribuído como cura ou milagre ao Santo. Assim, todo o espaço do hospital está profundamente sacralizado no imaginário religioso.

Existe, portanto, um acontecimento religioso similar ao da chegada da imagem em Desterro, esse caso aconteceu em 1654 em Recife com uma imagem do Senhor dos Passos:

20OTT, Carlos. História das artes plásticas na Bahia (1550-1900). Bahia: Alfa gráfica editora, s/d. página. 45.

21MEGALE, Nilza Botelho. O livro de ouro dos santos: vidas e milagres dos santos mais venerados no

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Súbito, pancadas fortes e repetidas ferem o silêncio da portaria do Convento do Carmo do Recife, acordando o leigo, em sobressalto. Sonolento abre a portinhola e ao clarão de um relâmpago pode reconhecer no tresnoitado visitante a figura de um pobre velhinho, tremulo e friorento, que pedia agasalho para aquela noite de chuva. Aborreceu-se o porteiro, julgando-o um vagabundo e ordenou-lhe que fosse mendigar, adiante. Dirigiu-se então, o pedinte para a Igreja do Corpo Santo. E acolhido carinhosamente, ali pernoitou no interior do próprio templo. Ao amanhecer foi procura-lo, antes da primeira missa da madrugada, o mesmo vigia que lhe houvera dado abrigo e qual não foi sua admiração ao encontrar, em lugar de um mendigo maltrapilho, uma imponente imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos. Espalhou-se a notícia do milagre.(PIO).22

Essa história faz parte do folclore religioso de Recife e é anterior a história da chegada da imagem do escultor Francisco das Chagas a Desterro. Ambas são imagens que representam Jesus nos passos do calvário e possivelmente a primeira possa ter influenciado a elaboração da segunda. O local da aparição da imagem em Recife foi uma igreja, espaço santo propício aos acontecimentos divinos. Assim, os dois acontecimentos tem este fato em comum, pois em 1994 no incêndio a imagem foi atribuída a um acontecimento sem explicação.

Outro fenômeno de sacralização de espaço é o trajeto da procissão do Senhor dos Passos que acontece no mês de abril, onde é organizada pela irmandade do Senhor dos Passos. Ao redor da imagem ficam as pessoas de maior destaque, como prefeito, governador, deputados, vereadores, empresários e outras figuras ilustres. A irmandade mantêm uma característica elitista no seu corpo de membros desde a sua fundação.

Durante o trajeto, o santo é carregado em andor por homens, normalmente pertencentes a irmandade e autoridades convidadas, e ocorre a Via Sacra, paradas ao longo do percurso, quando são declamadas orações. O ponto forte da procissão é o momento do encontro entre o Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores, também em procissão, conduzida pelas mulheres por outro percurso. Neste momento o ocorre a prática e a Verônica entoa seu canto, ainda em latim.(FARIAS).23

O trajeto percorrido pela imagem na procissão remete a um retorno ao tempo sagrado da chegada da imagem na cidade. Neste momento houve a formação do mito teogônico do Senhor dos Passos, onde ele demonstrou sua primeira vontade, a da permanência na cidadezinha.

22PIO, Fernando. Imagens, arte sacra e outras histórias. Recife: Edição do Museu Franciscano de arte sacra, 1977. Página. 61.

23FARIAS, Vilson Francisco de. De Portugal ao sul do Brasil – 500 Anos – História, Cultura e

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Segundo Eliade, “assim, periodicamente, o homem religioso torna-se contemporâneo dos deuses, na medida em que reatualiza o tempo primordial no qual se realizaram as obras divinas.”24A procissão feita anualmente faz essa referência ao retorno ao tempo primordial do mito da chegada da imagem, assim o espaço religioso se abrange ao percurso da procissão já que este foi o caminho feito pela imagem na sua chegada. Quanto a esse comportamento:

O homem religioso sente necessidade de mergulhar por vezes nesse tempo sagrado e indestrutível. Para ele, é o tempo sagrado que torna possível o tempo ordinário, a duração profana em que se desenrola toda a existência humana.25

Esse acontecimento no calendário religioso da cidade faz parte de um ritual cíclico que tem por intuito a renovação da crença e o contato do fiel com o tempo sagrado onde aconteceu a manifestação do sagrado, assim se tem uma renovação da fé. Deste modo, tanto a estrutura sacralizada do hospital quanto as festividades da procissão e sua menção ao tempo primordial, fazem parte do cosmo religioso da crença na imagem e são de suma importância para ter uma compreensão da religiosidade em torno da imagem do Senhor dos Passos. Sobre o entendimento do tempo da festividade, Da Mata afirma que “o tempo da festa se distingue por constituir uma espécie de nódulo, de adensamento, do foco quantitativamente distinto e superior”26.

Dessa forma, pode-se compreender esse período da festividade que infere além da renovação da fé, como também um período temporal onde se concentra a religiosidade num determinado dia.

Segundo Sergio da Mata, tempo e espaço religioso não se pode ser concebido separadamente, pois a concepção de espaço corresponde à representação do tempo. Também a construção da ideia de espaço religioso comporta vários níveis de sacralidade como envolta da estrutura onde tanto o ar, tempo e espaço geográfico demostram uma realidade diferente das estruturas diferenciando o espaço sagrado e profano.

É notado, desde acontecimento do incêndio, um aumento significativo no número de fiéis na procissão. Nos últimos anos, esse número tem oscilado entre 30 a 60 mil pessoas segundo matérias de jornal27. Pode-se interpretar que o incêndio trouxe uma visível renovação colocando a crença na imagem em destaque.

24ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: A essência das religiões. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2013. P.78.

25 Ibidem, p.79.

26 DA MATA, Sérgio. O espaço da religião. Caminhos, v.4,n.1,p.31-47. Goiânia, jan-jun 2006 P.38. 27 Matéria do jornal Notícias do dia de segunda feira dezenove de março de 2018 (ver em anexo dois).

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I.IV – Memória e Imaginário

Toda a história da imagem, seja da chegada ou do incêndio, é algo que é construído por uma memória coletiva das pessoas, essa memória se tornou folclore28 e é passada oralmente por gerações, e acaba por se transformar de certa maneira em um fato incontestável. Dessa forma, precisamos, primeiramente, uma definição elaborada do que pode ser e como se constrói o imaginário29 folclórico.

“Imaginário é aquilo que pertence ao domínio da imaginação. É a reunião de elementos pertencentes ou característicos do folclore, da vida, seja de um grupo de pessoas, um povo ou uma nação.”30

Assim, segundo José Carlos Pereira definição de imaginário está ligada às características do folclore, pode-se concluir que o folclore e imaginário estão intimamente ligados e que pode ou não ser correspondido à religiosidade, assim corroborasse com a história local todo indivíduo que contribui para a propagação da memória coletiva, sendo este ou não um ser religioso pertencente à localidade. Folclore está relacionado com a propagação de costumes, tradições e lendas pela oralidade. Desta forma, o cosmo religioso da imagem do Senhor dos Passos não corresponde mais apenas ao Hospital de Caridade, e sim a toda comunidade de Florianópolis. Outra definição de imaginário, segundo autora Aline Dias da Silveira: “De minha parte, considero o imaginário a reunião de elementos mentais coletivos que surgem da necessidade humana de explicar o mundo, de dar uma ordem ao caos, de opor e reunir princípios.”31

Assim, esses acontecimentos são sacralizados e se tornam parte do imaginário folclórico da sociedade, eles são atribuídos ao sagrado neste caso por se tratar de um totem32 simbólicodo cristianismo, ou seja, a imagem de Jesus Cristo. Essa relação entre religião e sociedade está atrelada desde os primórdios do homem, ela tenta dar sentido e explicação aos acontecimentos humanos. Segundo Freud, a busca por sentido do homem levou à descoberta

28 Compreende-se folclore segundo dicionário https://www.dicio.com.br/folclore/ : Reunião das expressões culturais, artísticas, dos costumes e tradições de um povo que, através da tradição oral, são preservadas e passadas de uma geração para outra; populário.

29 Compreende-se o termo imaginário como sendo aquilo que está ligado a imaginação.

30PEREIRA, José Carlos. Devoções marginais: interfaces do imaginário religioso. Porto Alegre, RS: Zouk, 2005. P.30.

31 SILVEIRA, Aline Dias da. O pacto das fadas na Idade média Ibérica. São Paulo: Annabluma, 2013. P.94. 32 Compreende-se totem segundo Freud(2015, p.159) como um objeto material a qual o homem presta um respeito supersticioso onde existe uma relação de proteção.

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das ideias da alma, também chamado de animismo33, sendo esse possivelmente o primeiro estágio do homem religioso. Porém, não somente a busca por sentido define o homem religioso, mas também a necessidade de respostas aos acontecimentos do seu mundo. “Resumindo, podemos dizer: o princípio que rege a magia, a técnica do modo animista de pensar, é o da onipotência dos pensamentos.”34

O poder coletivo, que a fé coloca sob a imagem, traz aos devotos uma relação de confiança nos poderes da imagem, são inúmeros os casos de idolatria35 similares ao caso do Senhor dos Passos.

33FREUD, Sigmund. Totem e tabu: Algumas correspondências entre a vida psíquica dos selvagens e a dos

neuróticos. Porto Alegre, RS: L&PM, 2015.p.126.

34Idem.p.139.

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CAPÍTULO II: LEMBRANÇAS NAS CINZAS E A MEMÓRIA DOS ENVOLVIDOS II.I - O incêndio

Em 1994, irrompeu o terrível incêndio que consumiu quase que todo o Hospital de Caridade de Florianópolis, sendo um dos maiores incêndios registrados na cidade até então. A nomenclatura “o sinistro” foi dada por Nereu do Vale Pereira membro da irmandade do Senhor dos Passos e organizador de um livro sobre a história do hospital. Segundo relato:

Este livro de atas está sendo aberto dia seis de abril de 1994 (mil, novecentos e noventa e quatro), para marcar uma nova fase de vida da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos em decorrência do fato de que na noite do dia cinco para o dia seis ter sido, o hospital de caridade, atingido por um fatídico incêndio, catástrofe das maiores no gênero já registrada em nossa capital, Florianópolis, antiga Nossa Senhora do Desterro, em todos os tempos.(PEREIRA).36

Esta data marca uma ruptura na história do hospital, da imagem e da cidade, onde uma forte comoção assolou a sociedade para a reconstrução da estrutura do hospital, segundo relatos dos entrevistados o choque do acontecimento é algo imensurável e aterrorizador.

Segundo professor Nereu do Vale Pereira, que ocupava o cargo de tesoureiro adjunto na data do incêndio: “O fogo era fenomenal, horrível, dantesco e iluminava chocantemente, do alto do morro da Boa Vista, toda cidade que constrita da presenciava, com estupor o sinistro.”37 Porém, esse terrível acontecimento é um marco na história religiosa sobre o culto da imagem.

A imagem como na sua chegada mostra sua vontade divina com a alta defesa e a preservação das chamas do incêndio. Nesse acontecimento, vemos claramente um duelo de forças entre o bem e o mal na concepção religiosa, o mal representado pelo fogo e o bem pela intervenção divina da imagem que se mostra mais forte que as chamas, bem como da força das pessoas na reconstrução do hospital. Essa possível disputa criada no imaginário religioso local cria uma justificativa ao início das chamas de que irrompeu por acontecimento nefasto como acontecimento sobrenatural, segundo explicação cristã sobre a questão sobrenatural do

36PEREIRA, Nereu do Vale org. Memorial histórico da irmandade do Senhor Jesus dos Passos volume II. Florianópolis: ministério da cultura, 1998. P. 321.

37 PEREIRA, Nereu do Vale org. Memorial histórico da irmandade do Senhor Jesus dos Passos volume II. Florianópolis: ministério da cultura, 1998. P. 321.

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ocorrido: “A igreja não negava que a ação sobrenatural fosse possível, mas enfatizava que tal ação só poderia emanar de duas fontes possíveis: Deus ou Diabo.”38

Deste modo, essa teoria justificável da luta de força eterna entre bem e o mal foi recebida pelas pessoas mais receptíveis ao credo religioso. Esse acontecimento foi incluído no imaginário do Senhor dos Passos sendo atribuído como feito divino da mesma como resposta as chamas do sinistro. O fato das chamas serem impedidas por manifestação divina de alcançar o Senhor dos Passos acabou por sobrepujando o início do incêndio que até hoje não foi conclusivo.

II.II – Os Entrevistados

Como já citado, foram produzidas quatro entrevistas ao longo da pesquisa, somado a matéria televisiva sobre o incêndio que foi utilizado com o intuito de agregar ao trabalho. Todas estarão na íntegra nos anexos deste. Desta forma, traçarei um panorama geral neste tópico sobre os entrevistados.

Sobre as entrevistas produzidas, os participantes possuem entre 44 e 63 anos de idade e são moradores da grande Florianópolis, onde ¾ das quatro pessoas declararam católicos e dentre esses, apenas dois se manifestaram como devotos do Senhor dos Passos. Todos os declarados católicos se referiram à imagem ou como “santo” ou como “Senhor dos Passos”. Nenhum fez menção à imagem como sendo de Jesus Cristo, isso reforça a teoria de uma criação da personalidade própria, individual e local da imagem separadamente da visão de Jesus Cristo da Bíblia.

Referente à história da chegada da imagem na cidade, todos os entrevistados souberam mencionar total ou parcialmente os fatos, é claro, a existência de uma propagação dessa história de uma forma oral e coletiva, os acontecimentos da chegada da imagem são relatados inclusive com a entrevistada não declarada católica. Sobre a relação dos entrevistados com o complexo do Hospital de Caridade, três foram funcionários e uma pessoa esteve internada no mesmo que posteriormente veio a ser um dos bombeiros ao atendimento do incêndio no ano de 1994.

38THOMAS, Keith. Religião e declínio da magína: crenças populares na Inglaterra, séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das letras, 1991. Pág. 215.

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Quanto à representação da imagem para os entrevistados, as declaradas devotas da imagem usaram as mesmas palavras “fé” e “esperança”, isso demostra uma profunda resiliência por parte dos devotos. Como entrevistador, tento ser imparcial e não deixar meu credo influenciar tanto nas entrevistas feitas como neste trabalho, porém foi claro o sentimento de que com o incêndio ocorrido os devotos após o choque e o abalo inicial da notícia do incêndio, não se desacreditaram de que a instituição do hospital seria retomada, mostrando uma grande força por parte destes sem desistir. É possível acreditar que essa esperança se deu graças ao suposto milagre da autopreservação da imagem. Talvez se não houvesse esse ocorrido com a imagem, a reconstrução do complexo não seria concluída, dessa forma a religião teve papel fundamental. Sobre a reconstrução do hospital, vale salientar que além da ajuda do estado e prefeitura foram inúmeras as doações tanto dos próprios funcionários como da comunidade.

De fato, propositalmente, procurou-se pessoas relacionadas com o evento, e com relatos que intencionalmente vão divergir em alguns pontos, isso para que se possa traçar um amplo mapa de opiniões, não sendo tendencioso e expondo essas divergências de forma positiva para corroborar a discussão. Entre eles, como já citado. o bombeiro Jusinei, que trabalhou no combate do incêndio tendo visto a capela em chamas in loco, e a médica Ada que tem uma longa trajetória junto com a instituição do hospital e que se declara agnóstica, tem uma visão não sacralizada e traça uma perspectiva diferente dos outros trazendo informações antes não citadas. Já dona Marli traz uma visão dos acontecimentos muito ligada a sua religiosidade, já que a mesma tem, também, uma longa relação com o hospital e a irmandade, a entrevistada Rita tem o mesmo perfil arraigado tanto à instituição quanto a irmandade.

Já a entrevista utilizada da matéria televisiva39 foi feita no dia 4 de abril de 2014 pelo jornal Diário Catarinense, onde são entrevistados o senhor João Guedes e o senhor Sebastião, que eram moradores das proximidades do hospital que auxiliaram tanto na retirada da imagem do Senhor dos Passos da igreja em chamas como dos pacientes do hospital, estando também transcrita e anexada ao trabalho.

39http://videos.clicrbs.com.br/sc/diariocatarinense/video/diario-catarinense/2014/04/guardioes-imagem/71898/. Acesso em: 31 de março de 2018.

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II.III - Memória Sacralizada e a Auto Proteção do Santo

Até a presente data a causa do incêndio ocorrido em 1994 é inconclusiva. Há muitos rumores sobre sobrecarga de energia, instalações elétricas antigas, entre outros fatores. O fato sobre o incêndio que mais se popularizou foram as chamas na Capela Menino Deus, onde se encontrava a imagem do Senhor Jesus dos Passos.

Havia poucos dias que as festividades da procissão haviam terminado, segundo relato de entrevista de Rita: “Tinha acabado de acontecer a procissão naquela semana. Foi em seguida. E a imagem ainda estava em baixo.”40 Essa fala indica, talvez, que a imagem, por estar “em baixo”, estava mais suscetível as chamas. Contudo, no relato de outra entrevistada: “A imagem do Senhor dos Passos estava em uma urna de vidro. Então, estouraria e ainda sim demoraria pra pegar fogo. Ela estava muito protegida, então, por isso, ela não pegou fogo.”41

É interessante analisar sobre a discrepância nestes relatos, onde as duas entrevistadas não estavam no momento exato do incêndio, mas, estavam presentes no cotidiano do hospital horas antes do mesmo. Também a de se levar em consideração de que a senhora Ada não se declara religiosa nem devota do Senhor dos Passos, diferente da senhora Rita (o fato da urna de vidro não foi relatado por mais nenhum entrevistado). No anexo A deste trabalho, pode-se observar a cena das pessoas carregando a imagem para fora da capela. Não é possível identificar se a imagem está em uma urna ou não, porém, consegue-se ter uma noção das tamanho/dimensões da imagem religiosa. Assim, estes relatos abrem uma possibilidade sobre a existência do vidro, sendo que a sua não existência corroboraria com a mitificação da imagem, e a sua existência talvez entrasse como uma possível causa da imagem não ser consumida pelas chamas. Devemos também perceber que o fato ocorreu a mais de vinte anos e que por mais devastador que seja a memória do ocorrido, pode acabar por influenciar nos fatos históricos, já que tantos anos após as memórias42 já passaram por uma reflexão. Como coloca Le Goff:A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas.43

40PERUCHI, Rita. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. Florianópolis, 21 de abril de 2017. 41 VIEIRA, Ada. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. Florianópolis, 12 de maio de 2017.

42 Siginificado de memória segundo dicionário: https://www.dicio.com.br/memoria/ “Faculdade de reter ideias, sensações, impressões, adquiridas anteriormente. Efeito da faculdade de lembrar; a própria lembrança.”

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Desta forma, segundo Le Goff, podemos constatar dois tipos de memória: a histórica e a social. Como memória histórica, pode-se compreender os fatos como ocorreram e a social como uma memória coletiva paralela à histórica.

Quanto ao relato dos entrevistados com relação à elucidação acerca do evento do fogo na capela, o consenso é a falta de explicação. Todos recorrem ao não entendimento do ocorrido e nessa forma se pauta a questão religiosa que traz uma solução ao acontecimento como milagre.

Segundo relato de dona Marli sobre o incêndio: “É um santo que é considerado poderoso, né. Todo mundo tem fé nele, e é um santo que realmente faz milagre, né. Ele tem poder.”44

Neste trecho, vemos a denominação de “santo” conforme já foi mencionado anteriormente sobre a identidade da imagem, e, também, a referência ao poder que a imagem representa dito como poderoso e milagreiro, trazendo uma menção de que a imagem é incorruptível já que sobreviveu as chamas.

Sobre a pergunta feita aos entrevistados sobre o incêndio na capela, ¾ descrevem como algo sobrenatural: “Queimou parte da capela e a imagem protegeu, então as pessoas acreditaram mais ainda que o Senhor dos Passos é milagroso.”45

Mesmo a entrevistada Ada que não se declara religiosa e que traz uma visão mais cética do acontecimento, também não oferece uma explicação sobre o fogo na igreja:

Eu tenho uma certa dificuldade em dimensionar a fé das pessoas, porque eu não sou uma pessoa de fé. Mas, eu acho que deve ter reforçado, uma vez que a igrejinha não pegou fogo, a imagem não foi danificada, isso talvez tenha reforçado o imaginário popular, pela fé e aquela espiritualidade protegeu aquele, digamos, local sacro da igrejinha, do fogo.(ADA).46

O relato do Bombeiro Jusinei corrobora com o milagre, já que era o único dos entrevistados que estava no momento do incêndio. Segundo ele sobre o fogo na capela: “O santo é forte. O santo era forte, pode ter certeza que não pegou cara. Não atingiu nada ali.”47

Analisando as entrevistas como um todo, é interessante destacar como o credo pessoal de cada um pode influenciar nos discursos, mesmos aqueles que não são religiosos praticantes. A questão das características marcantes da imagem com o trauma do incêndio talvez corroborem com a mistificação do Senhor dos Passos

44 FRUTUOSO, Marli. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. São José, 24 de maio de 2017. 45PERUCHI, Rita. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. Florianópolis, 21 de abril de 2017. 46 VIEIRA, Ada. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. Florianópolis, 12 de maio de 2017.

(29)

II.IV Considerações Finais

A imagem ao longo dos tempos esteve em volta de acontecimentos incríveis que não a atingiram sendo mantida em perfeito estado. Tais ocorridos agregaram à imagem uma personalidade fruto do imaginário e folclore das pessoas, criando uma mitificação. Como o fato da chegada à “cidadezinha” de Desterro fez com que a comunidade a abraçasse adorando-a. O incêndio a colocou em foco, renovando a fé dos fiéis, além de propagar as duas histórias. Verificou-se com as entrevistas o forte imaginário presente, principalmente na dissipação desta pela história oral passando de geração à geração. Sobre a falta de explicação do incêndio, acredito que seja uma das coisas que mais atraem curiosos para conhecer o Senhor dos Passos. Esse que não é apenas Jesus Cristo nos passos do calvário e sim, um santo popular que está presente “no alto do morro da Boa Vista na pequena capela construída pela dona Joana de Gusmão”. Esta identidade como o santo Senhor dos Passos que recebe tantas promessas e curas costumam ser-lhes atribuídas.

Constata-se que o incêndio por mais devastador que tenha sido criou uma perseverança e resiliência nos seus adeptos que não tiveram dúvida da reconstrução do hospital. Podemos acreditar que essa esperança seja fruto do acontecimento do incêndio que não atingiu a imagem sagrada. Além da reconstrução, uma renovação tanto na fé como no folclore da imagem a colocou em destaque na comunidade cristã, trazendo novos devotos. Realmente podemos perceber que seja indiscutível a formação deste imaginário sobre o Senhor dos Passos, levando do pressuposto destes relatos coletados. E essa devoção ao santo é algo que está em constante transformação tanto na mente do ser religioso como em toda comunidade que compartilha destas histórias incríveis.

Sem dúvida que se forem coletados mais entrevistas tanto de relacionados ao incêndio como é o intuito deste trabalho, como o relato de pessoas da comunidade, vão surgir mais versões da história do incêndio. Esta pesquisa de fato é apenas um vislumbre de um grão de areia sobre o tema, pois as possibilidades são inúmeras com relação a esse imaginário religioso. Talvez esse trabalho corrobore não somente com a história local da cidade e sua religiosidade, mas também com todo o imaginário religioso que esta inserido, pois trabalhou-se transitando entre história oral, memória e religiosidade. Com certeza quem faz toda a história é o ser religioso, dessa forma é nele que se atem a credibilidade e importância das transformações deste folclore que se mistura com imaginário da imagem do Senhor dos

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Passos. Dessa forma são inúmeras as possibilidades da mente humana e sem dúvida será creditado a toda história da imagina ainda muitos fatos.

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REFERÊNCIAS

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Disponível em: < http://videos.clicrbs.com.br/sc/diariocatarinense/video/diario-catarinense/2014/04/guardioes-imagem/71898/.> Acesso em: 08 de outubro de 2017.

FRUTUOSO, Marli. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. São José, 24 de maio de 2017.

PERUCHI, Rita. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. Florianópolis, 21 de abril de 2017.

VIEIRA, Ada. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. Florianópolis, 12 de maio de 2017.

FERREIRA, Jusinei Wilson. Entrevista realizada por Thiago Espíndola. São José, 21 de abril de 2017

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48

ANEXO A – IMAGEM SENDO RETIRADA POR DEVOTOS DURANTE O

INCÊNDIO

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49

ANEXO B – PROCISSÃO SENHOR DOS PASSOS 2018

49 Imagem de jornal retirada da entrevista televisiva:

http://videos.clicrbs.com.br/sc/diariocatarinense/video/diario-catarinense/2014/04/guardioes-imagem/71898/ .

(38)

50

ANEXO C – MANCHETE NO JORNAL SOBRE O INCÊNDIO EM 1994

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51

51 Imagem retirada do livro: PEREIRA, Nereu do Vale org. Memorial histórico da irmandade do Senhor Jesus dos Passos volume II. Florianópolis: ministério da cultura, 1998. P.311.

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ANEXO D – ENTREVISTAS SOBRE O INCÊNDIO EM 1994

Entrevista Ada Vieira Qual seu nome, idade e endereço?

- Meu nome é Ada Vieira, tenho 55 anos e moro no centro de Florianópolis. Qual sua ligação com o Hospital de Caridade?

- Eu sou médica e interna no hospital. Fiz residência lá e atualmente interno pacientes.

Qual o ano que você entrou, lembra? - 1984.

Qual sua religião?

- Minha religião, sou agnóstica.

Conhece a história da Imagem do Senhor dos Passos? A chegada dela? - Não conheço.

O que a imagem do Senhor dos Passos representa pra você?

- Pra mim particularmente nada que não seja de cunho histórico. Ela não

representa uma imagem espiritual, ela representa uma imagem histórica que tá lá já há muito tempo e que faz parte da procissão. Mas, do ponto de vista religioso, nada.

Qual a importância da Irmandade do Senhor dos Passos pra comunidade cristã de Florianópolis? O que você acha?

- Eu acho que a Irmandade, ela tenta suportar ao longo de muitos anos as

dificuldades que o hospital passa frente a problemas materiais, de ordem técnica. Então, tem uma comunidade que apoia com serviço voluntário, tudo fica mais fácil, porque a irmandade dá esse apoio por trás, como se fosse os bastidores de um hospital de cunho técnico.

Fale sobre os eventos ocorridos no incêndio.

- Na época do incêndio eu não estava dentro do hospital, eu saí de plantão, tinha ido pra academia e na academia, pela janela da academia eu vi, tinha a tv ligada, fiquei sabendo da notícia e na janela a gente via fumaça. Eu saí dali, fui para o

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hospital, os bombeiros já estavam lá, eu tinha um paciente internado, foi retirado pela janela pelos bombeiros. A emoção maior, o sentimento maior é o respaldo, quando já tava, o fogo já tava apagado e a gente via a imensa destruição daquele local que a gente frequentava todo dia.

Quais as mudanças que você identifica na fé das pessoas depois do incêndio? - Eu tenho uma certa dificuldade em dimensionar a fé das pessoas porque eu não sou uma pessoa de fé. Mas, eu acho que deve ter reforçado, uma vez que a

igrejinha não pegou fogo, a imagem não foi danificada, isso talvez tenha reforçado o imaginário popular, pela fé e aquela espiritualidade protegeu aquele, digamos, local sacro da igrejinha, fogo.

E o que você acha desses episódios de não ter pego fogo?

- A igreja ela, tirando os bancos, tinha muita pouca coisa de madeira. A imagem do Senhor dos Passos estava em uma urna de vidro. Então, estouraria e ainda sim demoraria pra pegar fogo. Ela tava muito protegida, então por isso ela não pegou fogo.

Você ainda tem ligação com o Senhor dos Passos?

- Com o Senhor dos Passos não. Apenas com a parte técnica do hospital. Frequenta procissão ou missa na Capela?

- Não.

Mais alguma coisa pra falar sobre o incêndio? Alguma coisa que lembre assim, alguma coisa?

- Tem um episódio que eu gosto muito de lembrar, mais ou menos uma três semanas após o incêndio, todos os médicos do hospital ( mesmo aqueles que estavam em férias) foram convocados pra uma reunião. E ao estarmos no auditório, o diretor do hospital trancou a porta e pegou a chave, levou lá pra frente e disse que nenhum médico sairia dali sem antes deixar um donativo pra reerguer o hospital. Não importava quanto, mas nenhum médico poderia sair sem contribuir pra reconstrução do hospital. E todos os médicos contribuíram por ligação afetiva com o hospital.

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Entrevista Jucinei Wilson Ferreira

Qual o seu nome?

- Jucinei Wilson Ferreira Idade e endereço?

- Tenho 44 anos e moro na Rua José Fernandes Garcia, número 43 - Bairro Aririú - Palhoça.

Qual sua ligação com o Hospital de Caridade?

- A minha ligação foi, eu já fui internado no Hospital de Caridade em 94. Fiz uma cirurgia lá da clavícula, sofri um acidente de moto e eu conheci o hospital devido à cirurgia que eu fiz. Depois eu atendi o incêndio que foi de grande proporção no Hospital de Caridade.

Qual sua religião? - Católico.

Tu conheces a história da imagem do Senhor dos Passos?

- Vagamente, eu conheço bem pouco. O que eu sei é o seguinte, foi traduzida na verdade ela não foi trazida pra Florianópolis. Pararam aqui pra descansar ou pra fazer alguma coisa e ia seguir pro Rio Grande do Sul só que daí, com o tempo ruim, tentaram uma ou duas vezes levar ela e como o tempo tava bom e derrepente piorava, aí eles desistiram e deixaram ela aqui. É isso que eu sei, não sei se realmente é o que procede.

O que a imagem do Senhor dos Passos representa pra você? - Bom pra mim, eu não sou devoto do Senhor dos Passos. Eu respeito, mas não sou devoto.

Qual a importância da irmandade pra comunidade cristã de Florianópolis? - Pra comunidade é importante, tem aquela procissão do Senhor dos Passos e tal. Mas a irmandade em si que cuidava e administrava o hospital eu acho que é mais capitalista.

Fala sobre os eventos que ocorreram no incêndio.

- Bom no incêndio eu tava de serviço nesse dia, eu lembro que a gente ( eu tava lá no bombeiro do centro), eu cheguei e acionaram o alarme e a gente foi. Foi Acionado o alarme pra uma ocorrência de incêndio ao lado do Hospital de Caridade, quando falaram isso. Aí eu peguei e saí, eu travalhava de motorista

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