• Nenhum resultado encontrado

Sistema de integração de bovinos de corte: análise de viabilidade para a região da campanha do Rio Grande do Sul

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Sistema de integração de bovinos de corte: análise de viabilidade para a região da campanha do Rio Grande do Sul"

Copied!
83
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUI

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO LOCAL E GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

LICURGO LAUDA BURMANN

SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE:

ANÁLISE DE VIABILIDADE PARA A REGIÃO DA CAMPANHA DO RIO GRANDE DO SUL

Ijuí 2016

(2)

LICURGO LAUDA BURMANN

SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE:

ANÁLISE DE VIABILIDADE PARA A REGIÃO DA CAMPANHA DO RIO GRANDE DO SUL

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto

Sensu em Desenvolvimento, na linha de

pesquisa Desenvolvimento Territorial e Gestão de Sistemas Produtivos, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Oneide Sausen

Ijuí 2016

(3)

B962s Burmann, Licurgo Lauda

Sistema de integração de bovinos de corte: uma análise de viabilidade para a região da campanha do Rio Grande do Sul / Licurgo Lauda Burmann. – Ijuí, 2016. –

81 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Jorge Oneide Sausen”.

1. Bovinos. 2. Cadeia produtiva da carne bovina. 3. Contratos de integração. 4. Região da Campanha gaúcha. I. Sausen, Jorge Oneide. II. Título. III. Título: uma análise de viabilidade para a região da campanha do Rio Grande do Sul.

CDU: 636.2

Catalogação na Publicação

Gislaine Nunes dos Santos CRB10/1845

(4)

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE: UMA ANÁLISE DE VIABILIDADE PARA A REGIÃO DA CAMPANHA DO RIO GRANDE DO SUL

elaborada por

LICURGO LAUDA BURMANN

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Jorge Oneide Sausen (UNIJUÍ): _________________________________________

Prof. Dr. Júlio Cesar Valandro Soares (UFG): ______________________________________

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (UNIJUÍ): _________________________________________

(5)

RESUMO

A cadeia produtiva da bovinocultura de corte está passando por um momento de reestruturação e profissionalização dos diferentes elos que a compõem, visto que, além de representar renda aos produtores rurais, exerce uma função social e econômica, empregando e mantendo o homem no campo. Contudo, a baixa especificidade dos produtos transacionados e a desconfiança entre os agentes a torna vulnerável num ambiente de mercado globalizado e traz riscos aos elos, favorecendo o oportunismo. Neste contexto, o objetivo do estudo foi o de analisar a viabilidade de contratos de integração na cadeia produtiva dos bovinos de corte da região da Campanha do estado do Rio Grande do Sul, entre produtores e indústrias, como forma de fortalecer a competitividade do segmento e o seu desenvolvimento. Neste sentido, foi feita uma revisão bibliográfica e entrevistas com atores que interagem com a cadeia na região de estudo durante o primeiro semestre de 2016. Através das entrevistas, foi possível verificar empiricamente, através da análise dos discursos, que a informalidade da cadeia produtiva não interessa a nenhuma das partes, por representar uma insegurança e elevar os custos de transação, diminuindo, assim, a lucratividade e atenuando a evolução do setor. A adoção de contratos em outras cadeias produtivas, como exemplo, a cadeia de suínos/aves ocorreu num processo de profissionalização exigida pelo mercado com o aumento populacional, a necessidade de escala de produção, produto de qualidade com padrões para importação e exportação, o que se visualiza como uma tendência natural também na cadeia da bovinocultura. Há, contudo, um desalinhamento de interesses entre os produtores e as empresas, vinculados num mercado caracterizado por ações oportunistas por ambas as partes. Finalmente, os contratos de integração se apresentam como uma alternativa viável na cadeia produtiva da carne por representarem uma segurança para as partes, formalizando as demandas acordadas na negociação e trazendo a confiança que os elos envolvidos no processo precisam para melhor se desenvolverem, estando de acordo com a evolução do setor.

Palavras-chave: Cadeia produtiva da carne bovina. Contratos de integração. Região

(6)

ABSTRACT

The beef production chain is going through a period of restructuring and professionalization of its components, and in addition to represent income to farmers, it has a social and economic function, employing and keeping people in the countryside. However, the low specificity of the products traded and the lack of trust among the agents leave the sector vulnerable in a globalized market environment and bring risks to those involved in this chain, favoring opportunism. In this context, the objective of this study is to analyze the viability of integration contracts for the beef production chain between producers and industries from the south-west region of Rio Grande do Sul, which could strengthen the sector's competitiveness and development. In this sense, a literature review was carried out as well as interviews, during the first half of 2016, with the people who interact with the chain in the studied area. Through those interviews, it was verified, empirically, by analyzing the speeches, that the existing informality of the production chain is not interesting to any of the parties, since it represents insecurity and raises transaction costs, reducing the profitability and the evolution of the sector. The adoption of contracts in other supply chains, such as in the pork and poultry chains, happened because the market demanded for more professionalization, due to the population increase, the need for scale production and quality products with trade standards, and this is considered as a natural tendency for the beef cattle chain. However, there is a divergence of interests between producers and companies linked to this market, characterized by opportunistic actions by both parties. At last, the integration contracts are presented as a viable alternative in the meat production chain, since it represents a security for the parties, formalizing the demands agreed in negotiations and raising the confidence for those involved in the process, helping them to develop their business, in line with the evolution of the sector.

Keywords: Beef production chain. Integration contracts. South-west region of Rio

(7)

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Tipos de sistema de produção... 23 QUADRO 2 - Quadro comparativo para produtores e indústria na análise de

(8)

LISTA DE TABELAS

(9)

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Fases de Produção da Pecuária Bovina de Corte... 22

FIGURA 2 - Exportação de Carne Bovina (1999-2015)... 27

FIGURA 3 - Importação de Carne Bovina (1999-2015)... 28

FIGURA 4 - Mapa do Estado do RS... 44

(10)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 10 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA... 13 1.2 OBJETIVOS... 16 1.2.1 Objetivo geral... 16 1.2.2 Objetivos específicos... 16 1.3 JUSTIFICATIVA... 16 1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO... 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO... 21 2.1 ATIVIDADE PECUÁRIA... 21

2.2 CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA... 26

2.3 SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE VIABILIDADE E COMPETIVIDADE DA ATIVIDADE DE BOVINOCULTURA DE CORTE... 33

2.4 COMPETITIVIDADE NO MERCADO DA BOVINOCULTURA DE CORTE... 38

3 METODOLOGIA... 42

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA... 42

3.2 POPULAÇÃO... 42

3.3 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS... 44

3.4 ANÁLISE DE DADOS... 46

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO DE ESTUDO... 47

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS... 48

4.1 A ESTRUTURA DA CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE NA REGIÃO DA CAMPANHA DO RIO GRANDE DO SUL... 48

4.2 CONDIÇÕES PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE NA REGIÃO DA CAMPANHA DO RIO GRANDE DO SUL SEGUNDO ANALISE JUNTO AOS AGENTES DE PESQUISA... 51

4.3 DESCRICÃO DAS PERCEPCÕES DOS PRODUTORES... 53

4.3.1 Quanto a contratos e ou alianças, existem alianças e ou iniciativas de cooperação entre produtores e indústrias... 53

4.3.2 Quanto a qualidade de serviços e produtos, dificuldades existentes... 55

4.3.3 Quanto a garantia de volumes e prazos, inocuidade(segurança alimentar), quais as necessidades para melhoria dos padrões de produção... 56

4.4 DESCRIÇÃO DAS PERCEPÇÕES DOS GESTORES DAS INDÚSTRIAS... 58

4.4.1 Quanto a contratos e ou alianças, existem alianças ou iniciativas de cooperação entre produtores e indústrias... 58

4.4.2 Quanto a qualidade de serviços e produtos em relação as exigências do mercado interno e externo e padrões de matéria prima existente... 59

(11)

4.4.3 Quanto a garantia de volumes e prazos, inocuidade (segurança alimentar) em relação as condições de competitividade para

permanência no mercado... 60 4.5 ANÁLISE DA VIABILIDADE E DAS CONDIÇÕES DE IMPLANTAÇÃO

DE UM SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE NA

REGIÃO DA CAMPNHA DO RIO GRANDE DO SUL.. 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 66

REFERENCIAS... 69 APENDICE A - QUESTIONÁRIO INDÚSTRIA (bovinocultura de corte)

Perfil da Indústria: (faturamento, número de empregados, tempo de

mercado, perfil dos gestores, volume de abate)... 77 APENDICE B - QUESTIONÁRIO PRODUTOR (bovinocultura de corte)

Perfil do produtor (Volume de venda anual, tempo na atividade,

(12)

11

1 INTRODUÇÃO

A cadeia industrial da carne bovina, bem como a evolução da demanda de produtos alimentares aponta para exigências crescentes tanto no que se refere à diferenciação dos mesmos quanto nas questões de segurança alimentar. De acordo com este cenário. Faz-se necessária uma maior articulação entre os elos desta cadeia no Rio Grande do Sul (RS) visando ao atendimento de novos mercados e à manutenção dos já existentes.

Na cadeia produtiva da carne bovina, têm-se como agentes de produção mais expressivos os pecuaristas, os abatedouros, os frigoríficos e a rede de atacadistas e varejistas de carnes (MICHELS, 2001).

O setor de insumos é representado basicamente por empresas estrangeiras. É a parte da cadeia produtiva de carne bovina responsável pela manutenção do gado, desde sua inseminação até o momento do seu abate. Assim, ele é formado basicamente pelos setores veterinários, de nutrição, de forragicultura e os relacionados ao melhoramento genético (BÁNKUTI, 2002).

A indústria frigorífica situa-se entre o pecuarista e os canais de distribuição, sendo responsável pelo abate do gado fornecido pelo pecuarista e pelo repasse dos cortes aos canais de distribuição, os quais ficarão responsáveis por colocar o produto no mercado pronto para o consumo. No Brasil, a indústria frigorífica possui um bom nível tecnológico e grande competitividade no mercado internacional, estando a maior parte das empresas localizadas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste (BÁNKUTI, 2002).

Esses canais de distribuição são todas as organizações interdependentes que buscam conferir valor ao produto e, assim, disponibilizá-lo de acordo com as necessidades dos consumidores. De acordo com Bánkuti (2002), no caso da carne bovina, entre os canais de distribuição, estão as feiras livres, os açougues, os pequenos supermercados, os hipermercados e as boutiques de carne.

Pigatto et al. (1999) relatam que existe um grande número de participantes em cada um dos elos da cadeia produtiva da carne bovina e que dificilmente se encontra um grupo de produtores, frigoríficos ou distribuidores que efetivamente exerçam um papel de liderança nacional. O número de associações e entidades de classe (de produtores, de indústria e varejistas), estaduais e nacionais supera o necessário e conduz à superposição de funções. Em grande medida isso se deve

(13)

12 aos conflitos de interesses entre os agentes. A cadeia como um todo, ou mesmo qualquer um de seus elos, carece de uma organização hegemônica que lhe represente e exerça funções de coordenação.

Em se tratando de cadeia brasileira de gado bovino, Michels (2001) afirma que este segmento é um dos mais complexos quanto à sua estruturação e aos agentes envolvidos. A tendência é que esta cadeia tenha importância cada vez mais crescente na economia nacional, através de uma maior agregação de valor interno. Apesar do declínio dos grandes frigoríficos líderes da década de 1980, o setor continua evoluindo em termos logísticos, tecnológicos e de estrutura empresarial. Os frigoríficos médios e grandes assumiram, em geral, nova estrutura empresarial, incorporando setores laterais como couro e sabões, além de se especializarem no fornecimento de cortes especiais e produtos industrializados. Algumas empresas têm investido no desenvolvimento e consolidação de marcas próprias, através das estratégias, não excludentes, de lojas próprias e parcerias com redes de supermercados.

Já no ano 2000, o Brasil atingiu a marca de segundo maior produtor mundial, com o valor aproximado de sete milhões de toneladas de carne bovina, sendo superada apenas pela produção dos EUA, que atingiu 12,3 milhões de toneladas. Essa produtividade brasileira deve-se principalmente à nossa extensão territorial que é passível de utilização para a agropecuária e também ao número de estabelecimentos envolvidos, em torno de 1,85 milhão ao longo de toda a cadeia produtiva, o que gerou aproximadamente sete milhões de empregos diretos (BÁNKUTI, 2002).

Segundo dados do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2014), o setor de carnes no Brasil foi o segundo que mais exportou entre janeiro e agosto de 2014 e atingiu o valor de US$ 11,34 bilhões, o que representou 16,8% na participação das exportações do agronegócio. No setor, a carne bovina teve aumento na quantidade exportada (9,0%) e no preço médio de exportação (3,5%), registrando vendas externas de US$ 4,71 bilhões no período.

Atualmente, com toda a intensificação do comércio internacional e as perspectivas de ampliação dos mercados, em especial na União Europeia e na Ásia, o Brasil espera ter vantagens comparativas significativas com a bovinocultura e ampliação dos mercados, em especial na União Europeia e na Ásia.

(14)

Para se manter competitivo no mercado externo, cada vez mais exigente, o setor brasileiro de carnes e derivados precisa assumir uma nova postura, visando à organização e à qualificação de toda a cadeia. “É necessário ser proativo e determinar qual é a referência de carne e produtos bovinos que o Brasil precisa oferecer ao mercado internacional e, com isso, delinear um novo cenário tecnológico a ser alcançado”, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA, 2015).

A adequação da pecuária brasileira traz também a necessidade de investimentos de todos os elos da cadeia, desde o produtor até o frigorífico, que posteriormente devem ser compensados com o aumento das exportações da carne bovina brasileira. A criação de laboratórios de análise e também a estruturação do setor de insumos fazem parte dessa maior qualificação, assim como uma forte parceria entre os níveis privado e público (MIRANDA, 2014).

Para de Zen (2014, p.1), a demanda doméstica por alimentos e as oportunidades geradas para os produtores e a indústria passam por um processo de transição e de incertezas no curto prazo. “O setor pecuário deve aproveitar esse momento para evoluir ainda mais no sentido de continuar produzindo com qualidade e consolidar oportunidades que se abrem no mercado internacional”.

Sendo assim, como base nas colocações esboçadas anteriormente, pode-se afirmar que o pecuarista terá de se transformar em agricultor, terá de tratar a forragem como a lavoura é tratada, pois, com sua expansão, a manutenção do criador passa pela melhora na eficiência do manejo e profissionalização da bovinocultura de corte, apostando em práticas capazes de ampliar a produtividade do rebanho.

Diante de tais considerações, torna-se relevante um estudo que busque avaliar a viabilidade de implantação de um sistema de integração de bovinos de corte na região da Campanha do Rio Grande do Sul. Nesta perspectiva, Frohlich e Westrook (2014) defendem que a integração à montante e à jusante (com fornecedores e compradores) é importante elemento da estratégia de produção. Porém, os referidos autores destacam que é limitado o conhecimento existente sobre as formas de integração que poderiam ser utilizadas pelas organizações para se conectar aos seus fornecedores e aos seus compradores, bem como pouco se conhece sobre possíveis resultados destas ações.

(15)

14 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2011), a bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial. O Brasil apresenta o segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças, superando, em 2010, um recorde histórico nas exportações de carnes, colocações estas, que denotam um setor em franca evolução.

A pecuária brasileira começou a ser fortemente desenvolvida no final da década de 1960 e se consolidou ao longo da década de 1970, sendo que hoje ostenta um dos maiores rebanhos do mundo. O Brasil conseguiu uma boa produção de carne bovina por se beneficiar de boas condições climáticas e ambientais e também apresenta um alto volume de produção e um melhor aproveitamento do boi. Dessa forma, sobressai-se perante alguns países concorrentes, pois a bovinocultura de corte é desenvolvida em todo o território nacional, favorecida pela extensão continental de terras aproveitáveis e pelas condições climáticas que permitem a adaptação da exploração da atividade às características regionais existentes (MAPA, 2011).

O Brasil, desde 2004, assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em mais de 180 países, passando a liderar o ranking de maior exportador de carne bovina do mundo desde 2008, e as estatísticas mostram um crescimento de 2,15% ao ano nos próximos anos. A receita das exportações de carnes (aves, suínos e bovinos) aumentou 6,4%, passando de US$ 1,139 bilhão, em outubro/2009, para US$ 1,213 bilhão em outubro/2010, mas o destaque foi a carne bovina in natura (consumida no seu estado natural), sendo 20,6% superior (MAPA, 2011).

O setor de carne bovina do Brasil, maior exportador global, projeta uma demanda aquecida no exterior, o que deverá contribuir para manutenção dos abates e dos preços elevados para o boi gordo ao longo de 2015. "O consumidor interno pode não ter poder aquisitivo, mas o externo pode ter. A carne do Brasil está ficando mais barata em dólar", conforme José Vicente Ferraz (2015) diretor da FNP. A desvalorização recente do real frente ao dólar torna os produtos brasileiros mais atrativos para compradores externos e também encarece, na moeda local, produtos balizados em preços internacionais. A provável abertura do mercado da China e um

(16)

bom desempenho das aquisições de Rússia, Chile, Egito e Irã, por exemplo, deverão garantir bons embarques para a carne bovina brasileira em 2015, disseram especialistas da área. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC, 2015) projeta embarques recordes de 1,7 milhão de toneladas de carne bovina em 2015, ante 1,56 milhão em 2014.

A cadeia produtiva da bovinocultura de corte, segundo Michels (2001), vem cumprindo, ao longo da história e do desenvolvimento nacional, um papel fundamental, sobretudo no abastecimento dos centros urbanos que se formaram nas diversas regiões do país. Ora, em termos de volume para a sustentação de um abate de 300 bois/dia, é necessário disponibilizar, para uma planta frigorífica, 6.600 bois/mês, sendo um total de 79.200 cabeças/ano. Para tanto, é preciso ter 81.000 vacas com um índice de 90% de prenhes, obtendo, assim, esta quantidade de cabeças de gado (machos e fêmeas), fazendo-se necessária a utilização de uma área de aproximadamente 100.000ha. Tal realidade traz consigo emprego, renda e desenvolvimento para a cadeia produtiva e para as regiões onde a atividade estiver instalada1.

No RS encontra-se, dentre outras, a região da Campanha, onde se percebe a existência de inúmeros ativos estratégicos disponíveis em seu território, tais como vocação granadeira, o privilegiado ecossistema pampa, sua base genética de produção, criação a pasto, abate humanitário, grandes extensões de campo nativo, conhecimento tácito dos produtores, pesquisa agropecuária, cultura e tradição do povo gaúcho, entre outros, que podem favorecer a atividade (MALAFAIA et al., 2007).

Os municípios que compõem a região são Dom Pedrito, Lavras do Sul, São Gabriel, Barra do Quaraí, Alegrete, Quaraí, Rosário do Sul, Bagé, Vila Nova do Sul, Aceguá, Candiota, Maçambará, Santana do Livramento, Uruguaiana e Itaqui, Santa Margarida do Sul, Hulha Negra, Manoel Viana, São Borja e São Francisco de Assis (Figura 4).

Conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2015), o Valor Bruto da Produção Agropecuária do RS somou R$ 48,5 bilhões em 2014. A produção pecuária totaliza R$ 15,8 bilhões (32,6%) e a agricultura, 32,7 bilhões (67,4%). Para 2015, é projetado um aumento real de aproximadamente 3% no VBP

(17)

16 da agropecuária do RS. A atividade agropecuária (dentro da porteira) corresponde a 9% do PIB do RS e avançou significativamente nos últimos anos.

Contudo, a influência da agropecuária no conjunto da economia gaúcha é superior ao sugerido por esse número. Isso porque a atividade primária interliga-se com as indústrias de insumos e máquinas agrícolas (antes da porteira) e oferta matéria-prima para a indústria de alimentos, fumo e biocombustíveis (depois da porteira). Além disso, em um número expressivo de municípios do interior do Estado, a renda gerada na agropecuária é fundamental para o dinamismo do setor de serviços. Nas duas décadas mais recentes, o produto da agropecuária cresceu acima da média dos demais setores de atividade.

Segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE, 2015), dos 20,3 milhões de hectares de área ocupados pelos 440 mil estabelecimentos agropecuários do RS, aproximadamente 46% são constituídos de pastagens. As pastagens naturais, concentradas no Bioma Pampa, ocupam aproximadamente 8,3 milhões de hectares (89,4% do total) e representam o principal ativo a partir do qual a bovinocultura de corte gaúcha se desenvolveu.

De acordo com o IBGE (2013), o RS é detentor do sexto maior rebanho de bovinos, do segundo maior rebanho de equinos e do maior rebanho de ovinos do território nacional. Em 2014, o Valor Bruto da Produção pecuária do RS totalizou R$ 15,8 bilhões. Além da bovinocultura de corte, contribuem efetivamente para a composição desse valor a atividade leiteira, a avicultura e a suinocultura.

Ainda de acordo com dados da Fundação de Economia e Estatística (2015), uma parcela expressiva da produção gaúcha de carnes é destinada para o mercado internacional. Em 2014, a carne de frango produzida em território gaúcho foi vendida para 178 países; a carne de gado, para 159 países; e a carne suína, para 122 países. As exportações de carne de frango são responsáveis por mais de 60% das exportações totais do complexo de carnes do RS, sendo o Brasil o maior exportador mundial desse produto. Em 2014, o principal cliente externo da carne de frango do RS foi a Venezuela. Rússia e Reino Unido destacaram-se, respectivamente, como principais destinos da carne suína e bovina exportada pelo RS.

Seguindo esta temática, este trabalho visa responder a seguinte pergunta de pesquisa: Que fatores são determinantes para propiciar a viabilidade de um sistema de integração de bovinos de corte na região da Campanha do Rio Grande do Sul?

(18)

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a viabilidade, bem como as condições, para implantação de um sistema de integração de bovinos de corte na região da Campanha do estado do Rio Grande do Sul.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Descrever a estrutura da cadeia produtiva da bovinocultura de corte na região da Campanha do Rio Grande do Sul.

b) Observar a ligação entre os elos da cadeia da bovinocultura de corte na região em questão.

c) Analisar a viabilidade de implantação do sistema de integração de bovinos de corte na região da Campanha do Rio Grande do Sul, de modo a apresentar um conjunto de fatores e/ou variáveis determinantes para inserção de tal sistema.

1.3 JUSTIFICATIVA

Conforme afirmam Costa, Quoos e Dickel (2010), a região da Campanha Gaúcha abrange a maior extensão de campos do Rio Grande do Sul e está localizada sobre a porção sudoeste da cobertura arenito-basáltica da bacia sedimentar do Paraná na sua parte mais meridional, constituindo um bioma transfronteiriço, com territórios no Uruguai e Argentina. Nas áreas de contato com os arenitos das formações Guará, Sanga do Cabral e Botucatu, ocorrem solos

podzólicos vermelho-escuros, principalmente a sudoeste de Quaraí e a sul e sudeste

de Alegrete, onde se constata a presença de extensos fenômenos de arenização. Em geral, são solos de baixa fertilidade natural e bastante suscetíveis à erosão.

Ainda para os mesmos autores, os campos naturais da Campanha são historicamente explorados sob pastoreio contínuo e extensivo. As técnicas de manejo adotadas, porém, não são adequadas para as condições desses campos e a prática artesanal do fogo ainda não é bem conhecida em todas as suas

(19)

18 consequências. As pastagens são, em sua maioria, utilizadas sem grandes preocupações com a recuperação e a manutenção da vegetação.

A Campanha Gaúcha, com seus vastos campos consagrados à pecuária extensiva em grandes propriedades, entremeados por lavouras de arroz nas terras mais baixas, situada no sudoeste do Rio Grande do Sul, é, talvez, a região que melhor corresponde à imagem que o grande público possui do “sul” desse Estado. Além disso, as características socioeconômicas dessa região frequentemente são as que servem para demonstrar o contraste muitas vezes evocado entre o “sul” do Rio Grande do Sul, descrito como estagnado e pobre, em relação ao “norte” desse Estado, considerado mais dinâmico social e economicamente (COSTA et al., 2010).

Ortega (1998) ainda alerta que, com o “esgotamento” do sistema de crescimento com base na expansão da fronteira agropecuária, a perda do interesse pela terra como reserva de valor, a concorrência de outras carnes, a redução do subsídio e crédito agrícola e a competição de culturas mais intensivas em bens de capital, a pecuária extensiva deverá sofrer alterações estruturais importantes.

Um dos aspectos que ainda permitem a sustentação desta atividade, aparentemente pouco atrativa, refere-se ao baixo risco que se incorre no processo produtivo. Os fornecedores de bovinos podem adiar a entrega do produto à agroindústria, pois, se, de um lado, o boi pode ser mantido no pasto sem necessidade ou dificuldades de equipamentos de armazenagem, por outro, os desencaixes monetários são relativamente baixos. As perdas são sentidas mais lentamente do que, por exemplo, na avicultura, onde os gastos com rações se transformam em prejuízo imediatamente após um determinando ponto ótimo de abate (ORTEGA, 1998).

Entretanto, há que se destacar o relativamente baixo custo em se incrementar inovações tecnológicas na pecuária bovina. Salvo algumas exceções, várias ferramentas hoje empregadas na modernização da bovinocultura, como inseminação artificial, transferência de embriões, confinamento, semiconfinamento, mineralização do rebanho (sal mineral, proteinado, energético e misturas múltiplas), cruzamento industrial, implantação de forrageiras artificiais e outros, não demandam, necessariamente, grandes dispêndios de capital. Além disso, ao mesmo tempo em que se intensifica a base tecnológica no campo, estão sendo introduzidas também grandes mudanças no gerenciamento, controle e manejo do rebanho (ORTEGA, 1998).

(20)

Um número significativo de produtores vem transformando a maneira de gerir seus negócios, tratando sua propriedade rural como empresa, onde a gestão de recursos humanos, as finanças, a contabilidade, os tributos e o ambiente ganham nova conotação. Assim, passa a ser estabelecido, por exemplo, uma estação de monta para a cria, a seleção dos animais (por ganho de peso, precocidade da raça, habilidade materna), o descarte de animais com problemas reprodutivos, a identificação individual do rebanho e um maior controle sanitário (ORTEGA, 1998).

Para os pecuaristas que se engajaram no processo de modernização da bovinocultura, o ciclo da atividade, um dos melhores ponderadores de excelência desse setor, reduz-se para cerca de quatro anos (ANUALPEC, 1997), praticamente dobrando o giro do capital dentro da atividade que, em anos passados, era de 7 a 8 anos, mas, na atualidade, já é possível se fazer o abate dos animais entre 24 e 36 meses conforme dados obtidos juntos ao IMEA, 2013 (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), melhorando a performance econômica da atividade.

Em relação às cadeias agroindustriais, a evolução da demanda de produtos alimentares aponta exigências crescentes, tanto no que se refere à diferenciação de produtos quanto nas questões de segurança alimentar. Neste cenário, a coordenação destas cadeias é vital para o desenvolvimento de novos mercados e para o atendimento da demanda daqueles já existentes (FERREIRA; PADULA, 1998).

O conceito e a prática do gerenciamento de cadeias de suprimentos (COOPER; ELRAM, 1993), que envolvem produtores rurais, agroindústria, canais de distribuição e comercialização, têm viabilizado avanços significativos no controle de qualidade da matéria-prima, regularização do fluxo de produtos e padronização de normas e práticas produtivas ao longo da cadeia.

A organização de empresas nos moldes do gerenciamento de cadeia de suprimento é muito incipiente no Brasil, de acordo com Wood Jr. e Zuffo (1998), e, especificamente em cadeias agroalimentares, esta realidade é ainda mais distante. Neste caso, a grande pulverização de empresas, principalmente no elo da produção primária, e a baixa especificidade dos ativos envolvidos condicionam a coordenação via mercado (WILLIAMSON, 1985; ZYLBERSTAJN, 1995).

O aprimoramento das relações contratuais em cadeias agroalimentares tem sido buscado como forma de aumentar a competitividade das empresas nelas inseridas. Mediante contratos entre os diversos elos da cadeia – produtores rurais,

(21)

20 agroindústria, serviços de distribuição –, a sincronia entre eles tende a crescer, havendo maior possibilidade de controle de qualidade da matéria-prima, de regularização do fluxo de quantidades, padronização e definição de normas que regulamentem as transações (BRANDENBURG; FERREIRA, 1995).

A evolução da pecuária bovina mostra a falta de integração do setor industrial com o abastecimento de matéria-prima, quando comparada com aves e suínos. O grau de autonomia e poder econômico que o setor primário ainda mantém no caso de bovinos também são um entrave à maior integração com os demais agentes da cadeia, em especial os frigoríficos (COUTINHO; FERRAZ, 1995). Esta autonomia dos agentes viabiliza a existência de comportamentos oportunistas por parte deles, impedindo que se estabeleçam relações de confiança entre os agentes.

A solução da sazonalidade e instabilidade de fornecimento de matéria-prima para os abatedores de aves e suínos, entre outros problemas, passou necessariamente pelo estabelecimento de contratos entre produtores primários e indústria. Outra importante vantagem do sistema integrado no caso de aves foi a redução de custos. A coordenação deste sistema, por parte da indústria, é fundamental face às dificuldades de estocagem na cadeia, seja de aves vivas, seja do frango abatido (FARINA, 1995).

A coordenação dos agentes e seu trabalho conjunto na cadeia são vitais para o desenvolvimento de novos mercados e para o atendimento da demanda daqueles já existentes (FERREIRA; PADULA, 1998). Atualmente, os agentes da cadeia da carne bovina, movidos pela necessidade de aumentar a sua competitividade, caminham para abandonar a forma atual de relacionamento, que é de conflito permanente entre os participantes da cadeia. Neste sentido, novas formas de organização têm sido buscadas, utilizando como exemplo as experiências das cadeias de aves e suínos, que têm obtido ganhos de competitividade a partir de maior formalização das transações dos produtores com a indústria.

Observando tal cenário, é fundamental desenvolver um novo sistema que possa trazer consigo uma ideia de inovação para a região da Campanha do Rio Grande do Sul, aproveitando as condições que ela oferece, tais como vastos campos para pecuária bovina, tradição e conhecimento na atividade, melhorando a renda de uma região que hoje é uma das mais carentes economicamente do Rio Grande do Sul.

(22)

Diante da pesquisa bibliográfica, constata-se que ainda não foi viabilizado no Brasil a formatação de um sistema de integração vertical na bovinocultura de corte que contemple as três fases da produção pecuária, ou seja, cria, recria e engorda, como os já consagrados nas indústrias de suínos e frangos. Portanto, o estudo sobre tal sistema será inovador e trará consigo resultados e dados relevantes que poderão contribuir com interferências e conclusões para auxiliar no desenvolvimento da região analisada.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos. O primeiro é constituído por esta introdução. No segundo capítulo, apresenta-se o referencial teórico. No terceiro capítulo, apresenta-se a metodologia utilizada. No quarto capítulo, discutem-se os resultados. Por fim, no último capítulo, são apresentadas as principais conclusões do trabalho.

(23)

22

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo, expõe-se a fundamentação teórica, que balizou o presente trabalho.

2.1 ATIVIDADE PECUÁRIA

Conforme Marion (2007), a atividade pecuária consiste na criação de animais no campo em geral, como bovinos, aves, suínos, e caprinos, e a exploração de produtos obtidos do animal vivo, como ovos, leite, lã, e de outros que dependem do abate do animal para se obter a carne, como o couro.

Não obstante a isso, Marion (2004) considera a pecuária como a arte de criar e tratar gados, que são animais geralmente criados no campo, para serviços na lavoura, para consumo doméstico ou para fins industriais e comerciais.

De acordo com Crepaldi (2005), a atividade da pecuária ou criação de gado se refere ao gado vacum (bois e vacas), entretanto ela se refere à criação de gado em geral como, por exemplo, bois, vacas, búfalos, carneiros, ovelhas e aves. No Brasil, o rebanho bovino é explorado com a finalidade do leite e do corte, sendo em primeiro lugar a produção do leite e, após, a venda dos bezerros para a recria e engorda como gado de corte.

Assim, estudar a bovinocultura de corte e desenvolver ferramentas que auxiliem o proprietário a tomar decisões, como, por exemplo, um melhor planejamento do sistema de produção com análise de probabilidade do retorno e do risco, ou uma análise dos custos envolvidos na atividade, podem melhorar ainda mais os resultados dessa atividade (MARION, 2007).

Conforme apontam Mendes e Zucolotto (2009), o propósito da atividade de bovinocultura de corte é que o gado ganhe o maior peso possível no menor espaço de tempo, utilizando a menor quantidade de recursos, pois o ganho de peso durante o processo de crescimento do animal e a relação com os custos de produção é o que determina a eficiência e a rentabilidade do negócio.

O processo de produção de bovinos consiste basicamente em três fases de produção distintas: cria, recria e engorda. Essas fases podem ser desenvolvidas em uma mesma propriedade ou em propriedades diferentes, isto de acordo com o serviço de apoio as micro e pequenas empresas (SEBRAE, 2000), a saber:

(24)

- Cria: consiste na produção e venda de bezerros após o desmame. - Recria: é a produção e venda do novilho magro para engorda.

-Terminação: ocorre a partir do novilho magro adquirido, com a produção e a venda do novilho gordo.

Na Figura 1 a seguir observa-se analiticamente todas as fases do sistema de produção e pecuária.

Figura 1- Fases de Produção da Pecuária Bovina de Corte

Fonte: Medeiros (2006).

Convém destacar que o produtor rural pode utilizar-se da técnica de processo de cria passando direto ao processo de engorda, utilizando-se de um ciclo operacional de produção reduzido e não em longo prazo como de costume, através de um sistema de produção adequado. O sistema adequado a ser utilizado pelo produtor rural depende do que ele possui e também da região onde atua. Basicamente são três os sistemas de produção, conforme esboça Santos (2008).

(25)

24 Quadro 1 – Tipos de sistema de produção

Fonte: Adaptado de Santos (2008)

As pastagens, segundo Marion (2004, p. 54), são os lugares onde pasta ou pode pastar o gado. É uma das partes mais importantes do planejamento agropecuário e podem ser classificadas, conforme o autor, em:

Pastagem natural: é o pasto nativo; são áreas não cultiváveis as quais utilizam o potencial natural (capins naturais...).

Pastagem artificial: é formada por pastos cultivados. Ex: gramíneas, leguminosas, cactáceas e outras como a silagem de milho considerada alimentação suplementar.

O gado normalmente alimenta-se no pasto através do pastoreio contínuo (gado permanece no pasto com lotação o ano todo) ou rotativo (em determinado tempo interrompe-se o pastoreio para manter o pasto em repouso), salienta o mesmo autor.

Conforme Cohen (2005), o Brasil é o único país do mundo com capacidade de expansão da sua área agricultável da ordem de 90 milhões de hectares ou mais, sem interferir nas florestas ou matas, por isso é considerado a última fronteira agrícola do mundo. Possui o maior rebanho bovino comercial e é, desde 2003, o maior exportador, em volume, de carne bovina do mundo. Sampaio (2012) aborda

Sistema Extensivo

Os animais são geralmente mantidos em pastos nativos (campos, cerrados, capins naturais), sem alimentação suplementar (ração, silagem, etc). Esses animais ocupam grande área de terra, cujo rendimento é normalmente baixo.

Sistema Semi-Intensivo:

Por meio dele se consegue alta produtividade por hectare e aumento da capacidade de cab/ha, mantendo o gado no pasto (orgânico) com elevado ganho de peso. A tecnologia usada para esse sistema baseia-se na implantação de cerca elétrica e adubação constante do capim e irrigação no período de seca.

Sistema Intensivo:

Faz-se com aumento do número de animais em pequena área útil, com o objetivo de conseguir bons rendimentos (ganho de peso) e maior rentabilidade, buscando o aprimoramento técnico; as vendas são realizadas em períodos de escassez de mercado.

(26)

que, entre 1997 e 2007, o crescimento econômico mundial foi praticamente ininterrupto e vigoroso o suficiente para aumentar a renda das famílias, a despeito do aumento da população mundial. O cenário era favorável à produção e à exportação de carnes, assim sendo, a cadeia de produção da pecuária brasileira soube explorar a oportunidade, firmou-se no mercado internacional como o maior exportador de carne bovina e criou corporações transnacionais com sede no Brasil.

Com referência ao serviço de Informação da Carne (S.I.C, 2013), os primeiros registros da atividade pecuária no Brasil se deram ainda no período de colonização, no século XVI, quando foram introduzidos os primeiros bovinos oriundos de Cabo Verde, onde hoje se localiza o estado da Bahia. Já no século XVII, outros animais teriam chegado à Capitania de São Vicente. O maior valor para o gado bovino nesta época estava na tração, principalmente para a movimentação dos moinhos e engenhos de cana-de-açúcar e no transporte em geral, sendo que também servia de alimentos para os escravos. O bovino foi utilizado também na expansão de novas áreas e penetração em regiões interioranas da Colônia, onde se encontram atualmente os estados de Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e Maranhão. Entretanto, no Sul, no atual estado do Rio Grande do Sul, a atividade da pecuária bovina se desenvolveu como resultado da própria colonização, com a chegada de animais de origem europeia e bem adaptados à região sulina.

No final do século XVIII, estavam envolvidos na atividade não mais que 13 mil pessoas e um rebanho de cerca de 650 mil animais.

De acordo com Recco (2005), no Rio Grande do Sul, o crescimento das Missões Jesuítas, agregando índios a sua volta, determinou a introdução da atividade pecuarista, de forma extensiva, geralmente com o gado solto nas pradarias, com o objetivo de alimentação, dessa maneira, a região passou a oferecer dois atrativos para os forasteiros: o índio, que seria escravizado, e o gado. As Missões acabaram desmanteladas, mas deixaram um legado que, por muito tempo, seria a base da economia gaúcha: os grandes rebanhos de bovinos e cavalos, criados soltos pelas pradarias.

Ries (2010) aponta que a pecuária de corte para o Rio Grande do Sul representou sua primeira atividade econômica, tendo iniciado com a introdução de gado nas Reduções Jesuíticas a partir do Século XVII. O primeiro produto da pecuária foi o couro e, posteriormente, com a descoberta de minas de ouro no centro do país, ganhou importância também como fornecedora de matéria-prima

(27)

26 para a fabricação do charque, utilizado em larga escala na alimentação dos escravos. A atividade, portanto, está intimamente relacionada com o processo de ocupação do território rio-grandense e com a manutenção das fronteiras nesta região do país, a partir do estabelecimento das primeiras estâncias de criação de gado.

Para alimentação destes animais, sempre se fez uso da pastagem natural. Andreatta e Miguel (2009) ressaltam que o campo nativo é o recurso forrageiro mais utilizado pela bovinocultura de corte no Rio Grande do Sul, sendo a atividade desenvolvida de forma predominantemente extensiva e, portanto, fortemente dependente da exploração dos recursos naturais. Em função dessa característica, a pecuária gaúcha concentra-se nas regiões Sul, Fronteira Oeste e Campanha, situadas na denominada “Metade Sul” do Estado, além de outro núcleo de menor significado na região dos Campos de Cima da Serra, no extremo Nordeste.

No passado, o rebanho gaúcho se diferenciava pela predominância de raças europeias caracterizadas pela qualidade da carne, principalmente maciez e cobertura de gordura (SUÑE, 2005). Trabalho de caracterização da bovinocultura de corte no Estado do Rio Grande do Sul, desenvolvido nos anos de 2003/2004, identificou, no entanto, praticamente a metade do rebanho gaúcho como constituída por animais resultantes de cruzamentos entre raças europeias e zebuínas. Neste mesmo trabalho, os autores identificaram a existência de mais de 30 diferentes tipos de cruzamentos envolvendo raças europeias e zebuínas. Essa diversidade de raças e cruzamentos resulta em diferentes características de carcaça, acarretando falta de homogeneidade do produto em termos de peso, conformação, acabamento de gordura e maciez, entre outros aspectos de interesse comercial (MIGUEL et al., 2007).

Para Schuntzemberger (2007) qualidade da carne bovina é um conceito complexo que se define em todos os segmentos da cadeia, iniciando no nascimento do animal e indo até o seu preparo e consumo na forma in natura ou processada.

A qualidade de um produto agroalimentar tem duas características marcantes. Em primeiro lugar, existem as características e exigências de qualidade que são ocultas como, por exemplo, as normas e regulamentos sanitários e, em segundo lugar, os padrões de qualidade de apresentação, ou representação, que afetam a decisão do consumidor (BATALHA, 1997).

(28)

Portanto com o objetivo de manter a qualidade da carne, torna-se importante o produtor comercializar animais jovens e bem acabados, o frigorífico abater e processar adequadamente, o ponto de venda acondicionar, conservar e expor apropriadamente, e o consumidor final preparar cada corte da maneira mais adequada.

Borrás e Toledo (2006) destacam que a maior facilidade de acesso aos mais variados tipos de informações, a crescente preocupação com a saúde e a evolução do conceito de gestão integrada da cadeia de suprimentos tem levado uma parcela cada dia maior de consumidores a demandarem alimentos que possuam as características que eles esperam, tais como sabor, coloração, aroma e textura adequados, assim como segurança à saúde.

Esses, sem dúvida, serão pré-requisitos para um produto de qualidade que também irá depender do caminho percorrido ao longo da cadeia produtiva.

2.2 CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA

Arbage (2004) ressalta que a cadeia produtiva refere-se aos agentes envolvidos em um determinado encadeamento produtivo específico relacionado a um recorte geográfico. Quando se fala em cadeia produtiva de carne bovina, é importante destacar que esta ocupa posição de destaque no contexto da economia rural brasileira, caracteriza-se como uma cadeia completa e uma das mais complexas quanto à estrutura e aos agentes envolvidos (TIRADO et al., 2008). De acordo com Wilkinson e Rocha (2005, p. 2), indústria de insumos, pecuaristas, indústrias de abate e de preparação da carne, distribuidores (atacadistas e varejistas) e consumidores finais, internos e externos, constituem a cadeia agroindustrial de carne bovina. Pode-se dizer que o eixo central da cadeia de carne bovina é formado pelos pecuaristas, pelos frigoríficos e pelos varejistas, existindo entre eles um grande número de intermediários que realizam a ligação entre esses componentes. A cadeia contempla ainda atividades de pesquisa, atividades de apoio e o sistema financeiro (WILKINSON; ROCHA, 2005). Com relação ao relatório elaborado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, 2015) e Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2016), no cenário nacional, a cadeia da carne bovina passou por transformações decorrentes da inovação, do uso de tecnologia, seja nos processos

(29)

28 produtivos na criação do gado, seja na indústria frigorífica, além da estabilidade financeira associada às reformas econômicas ocorridas na primeira década do século XXI.

Não obstante, o fortalecimento de produtores e agroindústria propiciou ambiente mais competitivo no cenário internacional com aumento das exportações, que passaram a representar aproximadamente 20% da produção nacional, embora a maior parte da produção seja direcionada ao mercado interno (OECD, 2015; FAO, 2016). Nas projeções do agronegócio brasileiro elaboradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2013), para a próxima década, o Brasil terá crescimento anual de produção de carne bovina de 2,0% ao ano em média, entre os períodos 2012/13-2022/23, o que permitirá o abastecimento anual de 200 milhões de brasileiros e gerará excedentes para exportação com crescimento médio de 2,5% ao ano (MAPA, 2013).

De acordo com a Figura 2, observam-se os maiores exportadores de carne bovina, de 1999 a 2015, com destaque para os Estados Unidos e Austrália.

Figura 2 - Exportação de Carne Bovina (1999-2015)

Fonte: MAPA (2016), FAO (2016) e MDIC (2016).

Em relação aos importadores de carne bovina, os três maiores no período são Estados Unidos, Itália e Alemanha, conforme o MAPA (2016), FAO (2016) e o MDIC (2016), esboçados na Figura 3.

(30)

Figura 3 - Importação de Carne Bovina (1999-2015)

Fonte: MAPA (2016), FAO (2016) e MDIC (2016).

A cadeia agroindustrial da carne bovina é muito diversificada, gerando empregos tanto na produção, na industrialização, na comercialização, quanto em outros elos, como o plantio de grãos, o armazenamento, o transporte, etc. Cezar et al. (1996). Essa cadeia compreende um conjunto de componentes interativos tais como sistemas de produção distintos; fornecedores de serviços e insumos; indústrias de processamento e transformação; distribuição e comercialização de produtos e derivados de origem bovina, e seus respectivos consumidores segundo Bliska e Gonçalves (1998). Contudo, o principal objetivo da cadeia é o de oferecer ao mercado consumidor produtos que tenham qualidade.

O consumo mundial de carne vai continuar a crescer, mas uma mudança de foco pelo consumidor de preço para qualidade significa que os processadores de carne precisam melhorar seus esforços de marketing, de acordo com um estudo publicado no jornal de pesquisa Meat Science (2014).

Os processadores vão enfrentar um desafio de apelar para os consumidores em mercados desenvolvidos, onde o consumo de proteína animal irá estagnar e aumentarão as suas preocupações sobre qualidade. Será essencial para a indústria da carne entender como os consumidores percebem a qualidade e como tais percepções influenciam as suas escolhas, a fim de determinar os atributos mais importantes para manter ou melhorar os produtos (CARNE TEC, 2016).

(31)

30 A qualidade deve ser considerada do ponto de vista do consumidor, com ênfase sobre as percepções e dimensões emocionais e funcionais. A qualidade percebida é multidimensional e com base no prazer sensorial da alimentação, segurança, salubridade e comodidade. Por isso, os frigoríficos devem focar em busca de experiência e credibilidade (CARNE TEC, 2016).

As pistas de qualidade para "busca" parecem ser de grande importância e podem ser promovidas por meio de mensagens extrínsecas como marcas de qualidade, informações sobre a origem do produto, prazo de validade e informações sobre a produção e o processamento. Pistas externas também são cada vez mais importantes para a credibilidade, com uma história por trás de produtos cada vez mais importante para o cliente se conectar com o produto (CARNE TEC, 2016).

O Brasil deve tornar a produção de carne bovina mais eficiente para sustentar sua posição no mercado global, diz o Rabobank (2015).

A cadeia de produção de carne bovina brasileira é considerada ineficiente em comparação a outros grandes produtores e exportadores e precisará melhorar para que o país se mantenha como um dos líderes no fornecimento do produto avaliaram analistas em recente relatório (RABOBANK, 2015). O setor de carne bovina no Brasil, historicamente, se beneficiou de terras de pastagem abundantes para produção de boi gordo alimentado com capim, o que permitiu forte crescimento da produção do país.

Mas o Rabobank (2015) avalia que a degradação de pelo menos metade das pastagens brasileiras, mais recentemente, tem reduzido a eficiência na produção. Enquanto nos EUA animais são abatidos em até dois anos, no Brasil, não é raro encontrar animais de 4 ou mais anos de idade nas pastagens, disse o banco.

Apesar de haver produtores no Brasil com “excelente performance” na produção, a média nacional ainda está bem abaixo do potencial que o país pode alcançar com o desenvolvimento da cadeia de produção, segundo os analistas. “De acordo com o USDA (Departamento da Agricultura dos Estados Unidos, 2015), grandes importadores vão demandar 10,1 milhões de toneladas de carne do mercado internacional em 2024 – um volume adicional de 2,8 milhões de toneladas se comparado a 2014”, informaram os analistas no relatório. “O Rabobank avalia que o Brasil poderá entregar 1 milhão de toneladas desse volume adicional – o que daria ao país quase 25% do mercado internacional”.

(32)

Os analistas avaliam que o Brasil precisará aumentar a produção de gado alimentado com grãos para competir com EUA e Austrália. A organização da cadeia de produção, com o estabelecimento de parcerias baseadas em contratos de fornecimento de gado, também poderá aumentar a competitividade do setor de carne bovina brasileiro, segundo o Rabobank. Além disso, os analistas sugerem a negociação de vitelos tendo como referência o peso dos animais, e não por cabeça, para que os produtores tenham incentivos para melhorar a eficiência na produção e possa haver uma distinção mais clara entre gado de alta e de baixa qualidade.

O Brasil deverá levar quase uma década para que 20% da sua carne bovina seja produzida em confinamento, ante 10% em 2014. Durante esse período, o Rabobank considera que o país também precisa aumentar outras formas eficientes de produção de carne bovina como sistemas integrados entre pecuária e lavoura e o uso de grãos para suplementar a alimentação de animais criados em pastagens (semi confinamento). “Como resultado, cerca de 40% da produção de carne bovina brasileira em 2024 poderá ocorrer em algum sistema intensivo” (MAPA, 2015).

Na cadeia da bovinocultura de corte, não se pode deixar de mencionar o ciclo produtivo dos animais. O ciclo produtivo de bovinos compreende desde a concepção do bezerro até o ponto de venda em uma das fases de produção como cria, recria e engorda, com duração estimada de dois a cinco anos, a depender dos sistemas produtivos e das tecnologias empregadas para terminação dos bovinos (MARION; SEGATTI, 2012).

A primeira fase da produção é a cria e consiste na reprodução animal. O principal produto da cria é o bezerro desmamado e os demais produtos são novilhas, touros, vacas de descarte ou fêmeas vazias (falta de prenhes), identificadas após as épocas convencionais de acasalamentos (BARCELLOS; OIAGEN, 2011).

A segunda fase da produção é a recria, iniciada com bezerros e novilhos, em média com 12 meses, até que alcancem determinado peso entre 15 e 18 meses. O produto da recria é denominado boi magro. Há na recria maior concentração de transações de compra e venda de gado, fator que eleva o risco pelas variações do preço no mercado de reposição (LAZZARINI NETO, 1994a).

A etapa final da produção pecuária é a engorda. O boi gordo é o principal produto comercializado com frigoríficos e abatedouros após atingir o peso ideal para o abate, em média com 480-510 kg de peso vivo e rendimento médio de carcaça de 54%, equivalente a 16-17 arrobas (LAZZARINI NETO, 1994a).

(33)

32 Os principais integrantes da cadeia envolvem como principais segmentos os fornecedores de insumos e serviços para agropecuária; a produção bovina; o abate e processamento; a comercialização e a distribuição. Esses segmentos interagem com outros agentes externos à cadeia, relacionados às atividades de apoio, podendo ser citados o sistema financeiro, as políticas governamentais, a indústria de embalagens, o sistema de P&D (pesquisa e desenvolvimento), os agentes de inspeção sanitária, os agentes de transporte, as políticas de renda, de comércio exterior e as associações de classe (SEBRAE, 2000).

A ação dos diferentes segmentos pode ser descrita na seguinte forma:

Segmento fornecedor de insumos e serviços à bovinocultura de corte: esse segmento representa um papel importante na cadeia, uma vez que fornece insumos necessários à eficiência da produção (base genética, pastagens, vacinas, medicamentos, equipamentos e serviços), e seu desempenho está intimamente relacionado ao desenvolvimento da pesquisa científica, em especial nas áreas de suporte e aplicação, onde se destacam os aspectos zootécnicos, biológicos, de difusão (assistência técnica e extensão rural) e socioeconômicos (BLISKA; GONÇALVES, 1998).

Os insumos direcionados para a alimentação, genética e defensivos animais, são caracterizados como elementos fundamentais para a produtividade da pecuária de corte, em especial para a redução do período do abate, o que tem implicações sobre a qualidade da carne e do couro (SEBRAE, 2000).

Na bovinocultura de corte, existem insumos imprescindíveis, podendo ser utilizados de maneira direta ou indireta na produção bovina. O sistema de produção adotado e o nível tecnológico empregado na propriedade determinarão a necessidade do uso de diferentes insumos. São considerados insumos de ação direta os concentrados protéticos e energéticos utilizados na alimentação animal, as vacinas, os vermífugos, os carrapaticidas e os antibióticos; enquanto os de ação indireta são os fertilizantes, os corretivos, os herbicidas e os adubos utilizados no cultivo e correção de pastagens (SEBRAE, 2000).

Atuam neste segmento grandes indústrias nacionais e multinacionais fornecedoras de material genético (sêmen e embriões); as indústrias de rações, medicamentos e vacinas; os fabricantes de máquinas e equipamentos; as empresas fornecedoras de sementes, adubos e calcário, as quais atendem os produtores por

(34)

meio do varejo, através das empresas de produtos veterinários e casas agropecuárias.

A bovinocultura de corte pode ser caracterizada como uma atividade de crescente complexidade, o que leva o pecuarista a lidar com aspectos técnicos, mercadológicos, recursos humanos e ambientais, que vêm exigindo uma mudança significativa do seu perfil. Por outro lado, “a produção bovina é dispersa geograficamente e desenvolvida de maneira bastante heterogênea. Quanto às raças predominantes”, segundo Pinazza e Alimandro (2000), são pelo menos 23 raças de bovinos transacionadas no país, divididas entre zebuínos, taurinas e sintéticas, com predominância da primeira.

O segmento de abate e processamento é responsável pelo abate, desmontagem e processamento dos bovinos, produzindo carne in natura e produtos processados. Em muitos casos, também são produzidos subprodutos como couro e sabão. O setor é marcado também pela diversidade, pois convivem empresas de diferentes portes e com diferentes níveis tecnológicos, executando atividades que variam do simples abate até a transformação e utilização de subprodutos, seguindo a cadeia terá a distribuição e comercialização dos produtos até os consumidores finais.

Em referência a comercialização e distribuição é importante ressaltar que os segmentos são responsáveis por viabilizar a distribuição e a comercialização do produto até os consumidores finais. Os canais que efetuam a distribuição da carne bovina são os mesmos que efetuam a sua comercialização no varejo. O canal de distribuição, segundo Batalha (1997), define um conjunto de agentes econômicos utilizados por uma empresa produtiva para difundir seus produtos junto ao consumidor. Esses podem ser classificados de acordo com a dimensão e com a tecnologia de venda utilizada para atendimento ao comprador.

De acordo com estudo do Sebrae (2000), a distribuição de carne bovina no país é realizada por quatro canais genéricos representados por super e hipermercados, açougues, boutiques de carne e feiras livres.

Na atualidade, a entrega de produtos livres de problemas aos consumidores, com velocidade e com maior confiabilidade, não mais é vista como vantagem competitiva e, sim, como um requisito para as empresas permanecerem no mercado. Para atender estes requisitos, é necessária melhor coordenação e maior integração da cadeia entre a empresa focal e seus fornecedores e distribuidores na

(35)

34 busca por maior flexibilidade por parte das companhias individualmente e das cadeias de suprimentos que fazem parte (MENTZER et al., 2001).

2.3 SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE VIABILIDADE E COMPETIVIDADE DA ATIVIDADE DE BOVINOCULTURA DE CORTE

Com o Plano Real, na década de 1990, deu-se início ao período de estabilidade macroeconômica que provocou alterações no padrão de consumo no mercado interno e acesso a mercados externos (OECD/FAO, 2015). Conforme dados do Ministério da Agricultura, na última década, o consumo per capita de carne bovina passou de 34,2 kg/pessoa/ano em 2003 para 37,4 kg/pessoa/ano em 2010 (MAPA, 2014). No início dos anos 2000, impulsionadas pela ampliação do consumo interno e pelo acesso a novos mercados externos, as principais empresas líderes nacionais com capacidade para exportação passaram por processo de internacionalização baseado em tecnologia e financiamento. Elas ampliaram a capacidade produtiva por meio de crescimento orgânico, fusões e aquisições. Transformaram-se em multinacionais e assumiram a liderança mundial na produção e exportação de carne bovina (IEL; CNA; SEBRAE NACIONAL, 2000; MACEDO; LIMA, 2012; SCHLESINGER, 2010).

De acordo com Almeida (2013), a internacionalização das principais empresas frigoríficas líderes nacionais fez parte da política industrial brasileira, iniciada em 2004, intitulada Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) lançada em 2004. A PITCE tinha foco em quatro eixos: (i) inovação e desenvolvimento tecnológico; (ii) inserção externa; (iii) modernização industrial e ambiente institucional e (iv) aumento da capacidade produtiva. As metas para o eixo inovação e desenvolvimento tecnológico objetivavam desenvolver a capacidade produtiva das empresas com o propósito de melhor inseri-las no mercado mundial.

Além disso, visava-se dar diretrizes às parcerias públicas e privadas. Em relação à inserção externa, objetivava-se uma melhor inserção das indústrias brasileiras no comércio mundial, adequando-as às exigências dos principais mercados importadores. Já no que tange à modernização industrial, o destaque era a criação do Parque Industrial Nacional, com o objetivo de financiar máquinas e equipamentos nacionais novos. Por fim, no eixo ambiente institucional, objetivava-se melhorar a infraestrutura e reduzir tributos, sendo os setores-chave desta política os

(36)

semicondutores, os softwares, os bens de capital e os fármacos (CASTILHOS, 2005).

Especificamente para estes setores, o governo pretendia isenção do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) para compra de máquinas e equipamentos por empresas exportadoras que exportam 80% de sua produção; isenção do PIS, COFINS e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) para os fabricantes de computadores com valores de até R$ 2,5 mil, desoneração do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), melhora da infraestrutura laboratorial para o setor de fármacos e manutenção da estrutura de garantia da qualidade das matérias-primas, processos e outros serviços, além de linhas especiais de financiamento junto ao BNDES (ABDI, 2005).

Dentre os grupos nacionais incentivados com empréstimos e investimentos de capital de risco por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estavam os frigoríficos JBS/Friboi e Bertin (posteriormente vendido para o JBS/Friboi), e as aquisições do frigorífico Marfrig (comprou Keystone) (ALMEIDA, 2013).

Todo este crescimento e investimentos foram também creditados a informações de que o consumo interno deverá crescer 8,4Mt até 2024, aproximadamente 11% acima do período-base, e as exportações deverão crescer em média 2,7% ao ano, correspondendo a aumento de 37% em relação à base (OECD/FAO, 2015). As exportações de carne bovina brasileira tiveram aumento expressivo no início do século XXI. No ano 2000, o país exportava aproximadamente dois milhões de toneladas de carne e, em 2006, o volume exportado foi superior a dez milhões de toneladas (OECD/FAO, 2015).

Este acréscimo de consumo e possível garantia de mercado fizeram com que o setor de indústria da carne bovina adotasse estratégias para suprir a possível demanda. Das estratégias utilizadas pelos frigoríficos para estabilização do fornecimento de bois para o abate, constam a integração vertical e o confinamento próprio, este último objetivando a redução da dependência dos pecuaristas (BUAINAIN; BATALHA, 2007). De forma semelhante, Igreja et al. (2006) indicaram que, no Estado de São Paulo, as restrições produtivas de bovinos poderiam ser minimizadas com a atuação dos frigoríficos nas atividades pecuárias que contassem com criações integradas e adoção de tecnologia avançada, infraestrutura

(37)

36 privilegiada, principalmente, na destinação da produção ao mercado externo e ao mercado consumidor. A verticalização da cadeia produtiva da carne bovina foi apontada como alternativa para maior competitividade na produção de carne.

De acordo com a União Brasileira de Avicultura – UBA (2001), os sistemas de produção agropecuária “integrada” tiveram o seu início de implantação no Brasil na década de 1960, em Santa Catarina, no segmento da avicultura.

Posteriormente, foi se estendendo para a suinocultura, assim como para os demais estados do Sul. Durante muitos anos, o sistema integrado funcionou através de acordos informais entre produtor e indústria. Na medida em que os processos foram ficando maiores e mais complexos, foram sendo desenvolvidos mecanismos mais formais, inclusive contratos entre a empresa integradora e o integrado. Diversas indústrias privadas e cooperativas adotaram este sistema, que, na atualidade, envolve milhares de produtores rurais.

A indústria de frangos, enquanto processamento industrial surgiu em fins dos anos 60 e passou a constituir o principal segmento da indústria de carnes, em função da instalação de grandes empresas oligopolistas e integradoras a partir de fins da década de 1970. A importação da tecnologia de processo permitiu a integração vertical, a produção das atividades complementares ao abate e o esquema contratual de criação das aves junto aos produtores avícolas. Tais iniciativas, junto com o aumento do preço da carne bovina e a produção brasileira de carne de aves utilizando tecnologia importada da genética ao processo produtivo – induziram a substituição do consumo de carne bovina pela carne de aves (CÂMARA et al., 2001).

Quanto à integração vertical, diz Coelho (1979), ela envolve a ligação pelo contrato ou compra dos diferentes níveis do processo de produção, industrialização e comercialização. Conceitualmente, ela pode ser "para frente" ou "para trás", embora na agropecuária ocorra quase que exclusivamente no tipo "para trás". Integração vertical geralmente é usada para corrigir certas ineficiências existentes no processo de produção, industrialização e comercialização de algum produto.

Pônzio (2007) assinala que as integrações agroindustriais constituem o conjunto de atividades que compõem todo o agronegócio de um ou mais produtos, “antes, durante e após a porteira”, formando um sistema único. No Brasil, as integrações agroindustriais mais conhecidas são as de aves e suínos, sementes, hortaliças, seda e flores, localizadas principalmente nas Regiões Sul, Sudeste e

Referências

Documentos relacionados

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão

intitulado “O Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas” (BRASIL, 2007d), o PDE tem a intenção de “ser mais do que a tradução..

[r]

O Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, de 2007, e a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, instituída em 2009 foram a base

A presente dissertação é desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional em Gestão e Avaliação da Educação (PPGP) do Centro de Políticas Públicas e Avaliação

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

O Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), criado em 2000, em Minas Gerais, foi o primeiro programa a fornecer os subsídios necessários para que

Este questionário tem o objetivo de conhecer sua opinião sobre o processo de codificação no preenchimento do RP1. Nossa intenção é conhecer a sua visão sobre as dificuldades e