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2011 SOUZA - O ENSINO NAS UNIDADES SOCIOEDUCATIVAS NO INTERIOR DO ESTADO DE RONDONIA

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR CAMPUS DE CACOAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DO CURSO DE DIREITO

VIVIAN CONRADO DE SOUZA

O ENSINO NAS UNIDADES SOCIOEDUCATIVAS NO INTERIOR DO

ESTADO DE RONDÔNIA: DESRESPEITO AO DIREITO À

EDUCAÇÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Trabalho de Conclusão de Curso Monografia

Cacoal - RO 2011

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O ENSINO NAS UNIDADES SOCIOEDUCATIVAS NO INTERIOR DE

RONDÔNIA: DESRESPEITO AO DIREITO À EDUCAÇÃO DO

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Por:

VIVIAN CONRADO DE SOUZA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentando à Fundação

Universidade Federal de Rondônia Unir – Campus de Cacoal, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, elaborado sob a orientação da Professora Mestre Viviani Gianine Nikitenko.

Cacoal - RO 2011

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Catalogação na publicação: Leonel Gandi dos Santos– CRB11/753 Souza, Vivian Conrado de.

O ensino nas unidades socioeducativas no interior do Estado de Rondônia: desrespeito ao direito à educação do adolescente em conflito com a Lei/ Vivian Conrado de Souza – Cacoal/RO: UNIR, 2011.

f.:79.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal.

Orientadora: Profª. Ms. Viviani Gianine Nikitenko

1. Direito penal. 2 Socioeducativas. 3. Adolescente. 4. Educação. 5. Constituição I. Nikitenko, Viviani Gianine. II. Universidade Federal de Rondônia – UNIR. III. Título.

CDU – 343 S729e

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR CAMPUS DE CACOAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DO CURSO DE DIREITO

A monografia intitulada “O ensino nas unidades socioeducativas no

interior do estado de Rondônia: desrespeito ao direito à educação do adolescente em conflito com a lei, elaborada pela acadêmica Vivian Conrado de

Souza, foi avaliada e julgada aprovada pela banca examinadora formada por:

___________________________________________________

Professora Mestre Viviani Gianine Nikitenko - Orientadora / UNIR

___________________________________________________

Professora Mestre Maria Priscila Soares Berro- Membro / UNIR

___________________________________________________

Professor Especialista José de Moraes - Membro / UNIR

Cacoal - RO 2011

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À minha mãe Marialva, grande incentivadora e mestre, que com seu exemplo de vida me ensinou a lutar pelos meus sonhos com ética e persistência. E à minha família, por toda ajuda, apoio e compreensão.

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Agradeço a Deus por permitir mais esta importante vitória em minha vida;

À minha mãe e toda a minha família, pelos incentivos e apoio imensurável;

A todos os meus amigos e colegas que me incentivaram, em especial a Valéria, Fernanda, Jack e Rosângela, que apoiaram e souberam compreender a minha ausência;

A Tânia, Marisa, Marta, Camila, Marielem, Patrícia e Helber pela grande parceria nestes anos;

Ao Pastor Ademir, Arlete, Ariele, Rosi e Bento, por me acolherem em suas famílias e prestarem sempre a ajuda necessária;

Agradeço à minha orientadora professora Mestre Viviani Gianine Nikitenko por saber compreender orientar-me na elaboração deste trabalho.

A todos os funcionários da Universidade Federal de Rondônia, em especial a Joselita por sempre me atender com especial carinho e cordialidade.

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Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

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RESUMO

SOUZA, Vivian Conrado de. O ensino nas unidades socioeducativas no interior

do estado de Rondônia: desrespeito ao direito à educação do adolescente em conflito com a lei. 79 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso: Universidade

Federal de Rondônia – Campus de Cacoal – 2011.

As crianças e os adolescentes timidamente vêm conquistando seus direitos no decorrer da história brasileira, sendo considerados efetivamente como sujeitos de direitos a partir da Constituição Federal de 1988, que adotou a doutrina da proteção integral, ratificada em 1990 com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Dentre os direitos a eles assegurados, temos o direito à educação, premissa basilar para a garantia da cidadania e integração à sociedade. Entretanto, ao adolescente autor do ato infracional, que está cumprindo medida socioeducativa de internação em unidades socioeducativas no interior do Estado de Rondônia, esse direito não tem sido oferecido em consonância com o que é estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e pelas diretrizes do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, sendo desrespeitado, não cumprindo a sua função e não possibilitando a reinserção deste adolescente à vida em sociedade. A pesquisa foi realizada segundo os preceitos do método indutivo-dedutivo, com levantamentos teóricos e estudo de caso.

Palavras-chave: Direito Penal. Socioeducativas. Adolescente. Educação. Constituição.

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ABSTRACT

SOUZA, Vivian Conrado de. The sócio-educational inits within the state of

Rondônia: disrespect for the right to education of adolescents in conflict with Law. 79 sheets. Completion of Course Work: Federal University of Rondonia

Campus de Cacoal – 2011.

Children and teens shyly has gained their rights in the course of Brazilian history, is actually considered as subjects of rights from the Constitution of 1988 which adopted the doctrine of full protection that was in 1990 with the creation of the Children and teen was ratified. Among the rights guaranteed to them, we have the right to education, basic premise for the guarantee of citizenship and integration into society. However, the teen author of the offense, who is serving as socio hospital units within the State of Rondônia, this law has not been offered in line with what is established by the Child and Adolescent with Law Guidelines and Bases of Education and the guidelines of the National Socio-Educational Services is not respected, not fulfilling its function and not allowing the reinsertion of this teen to life in society. The research was conducted according to the precepts of inductive-deductive with theoretical survey and case study.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1 BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 12

1.1 HISTÓRICO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL ... 13

1.2 O DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA NORMATIVA INTERNACIONAL ... 19

2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 23

2.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 23

2.2 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR E DA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL ... 27

3 O ADOLESCENTE, O ATO INFRACIONAL E O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO ... 29

3.1 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO ... 30

3.2 O SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO - SINASE ... 33

4 DO DIREITO À EDUCAÇÃO ... 36

4.1 O DIREITO À EDUCAÇÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI ... 38

5 DA PESQUISA ... 44

5.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA REALIZADA COM OS ADOLESCENTES E OS SOCIOEDUCADORES ... 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

REFERÊNCIAS ... 54

OBRAS CONSULTADAS ... 57

APÊNDICE A – REQUERIMENTO ... 58

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APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS SOCIOEDUCADORES ... 61 APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 63 ANEXO – RELATÓRIO SEJUS ... 64

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca fazer um retrospecto em relação aos direitos da criança e do adolescente no Brasil, com ênfase no que tange ao direito à educação e mais especificadamente ao direito à educação do adolescente em conflito com a lei, visando observar e verificar se este direito assegurado pela Constituição Federal de 1988 tem sido respeitado conforme preceitua o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Nº 8.069/1990, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei Nº 9394/1996 e as normativas do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).

Além disso, tem como objetivo principal identificar se as medidas socioeducativas estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e norteadas pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo estão sendo colocadas em prática no Estado de Rondônia, abordando as obrigações do Estado no atendimento ao adolescente em conflito com a lei, a fim de observar a sua aplicação.

Terá como principal embasamento a Lei Nº 8.069 de 1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente comparar a porteriore com o que acontece efetivamente com esses adolescentes nas unidades socioeducativas no interior do Estado de Rondônia.

Além da Lei Nº 8.069 de 1990 (ECA), primeiramente elencando os direitos desses adolescentes para

(ECA), basear-se-á também no que é estabelecido pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), que fortalece o ECA ao determinar diretrizes claras e específicas para a execução das medidas socioeducativas por parte das instituições e profissionais que atuam nesta área, evitando com isso interpretações

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equivocadas de artigos do Estatuto que trazem informações, às vezes, pouco aprofundadas sobre a operacionalização dessas medidas.

A Constituição Federal de 1988 preceitua como direitos sociais em seu art. 6º, o direito à educação e em seu art. 227, a defesa dos direitos da criança e do adolescente e a corresponsabilidade da família, da sociedade e do Estado pela sua promoção. Assim, afere-se serem direitos constitucionais a proteção integral da criança e do adolescente, porém, há momentos em que ocorrem conflitos entre o que preceitua a legislação e a realidade.

O método utilizado é o indutivo, partindo de constatações particulares, analisando a aplicação de medidas socioeducativas e confrontando-as com o Estatuto e posteriormente utilizando o método dedutivo, analisando o Estatuto com sua aplicabilidade nos casos particulares e sua eficiência.

Essa pesquisa tem como procedimento o levantamento histórico, buscando com isso a origem e sua evolução, com o acompanhamento da doutrina, leis, pesquisas e documentos, visando verificar a eficiência das medidas socioeducativas aplicadas ao adolescente autor de ato infracional. Após este levantamento, será realizada uma pesquisa com os adolescentes que estão sob a medida de internação na Unidade Socioeducativa nos municípios de Cacoal e Ji-Paraná mediante a aplicação de questionário e com os socioeducadores destas unidades, em que os dados coletados serão apresentados através de uma tabela para melhor interpretação e confrontação com o que determina as leis.

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1 BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Ao resgatar a figura da criança ao longo da história brasileira, esta não é diferente da que encontramos na história da humanidade: é praticamente nula, quando não, é recebedora de algumas atenções e cuidados.

Na Idade Média a criança não tinha representatividade relevante na sociedade, era confundida com a figura do adulto, sendo uma representação deste em miniatura. “Assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes” (ARIÈS, 1981, p. 157).

Já no Direito Romano, sob a influência do pater familiae, a mulher, filhos e escravos eram considerados propriedades do pater, do chefe, o grande senhor, podendo este dispor destes da maneira que fosse conveniente (CRETELLA JUNIOR, 2004, p. 77).

Também no Direito Romano, as crianças menores de 07 anos não eram consideradas criminosas devido não possuírem consciência de seus atos, não sabiam distinguir o bem e o mal, não tendo com isso intenção legal criminal. Já para os maiores de 07 anos e menores de 14 não havia isenção de pena, cabendo ao pretor verificar o grau de discernimento, isto é, o dolo em sua ação (KAMINSKI, 2002, p. 17).

Esse posicionamento do direito romano em relação ao menor foi copiado, servindo de modelo para os códigos penais de antigos e modernos países, que elevaram a idade do menor para 14 anos nas leis penais.

No Brasil, os direitos da criança e do adolescente iniciaram a partir de sua independência de Portugal em 1822. Anterior a essa data, quando ainda estava sob o domínio de Portugal, excluindo as crianças indígenas que já habitavam as terras brasileiras, as crianças tinham pouco ou nenhum valor para os europeus, uma vez que não produziam com a mesma capacidade do adulto e ainda tinham que ser cuidadas, sendo enviadas para trabalharem nas expedições marítimas como pajens, grumetes ou escravas.

Na verdade, entre portugueses ou outros povos da Europa, a alta taxa de mortalidade infantil, verificando o decorrer de toda a Idade Media e mesmo em períodos posteriores, interferia na relação dos adultos com as crianças. A expectativa de vida das crianças portuguesas, entre os séculos XIV-XVII, rondava os 14 anos, enquanto cerca da metade dos que nascidos

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vivos morriam antes de completar sete anos. Isto fazia com que, principalmente entre os estamentos mais baixos, as crianças fossem consideradas como pouco mais que animais, cuja força de trabalho deveria ser aproveitada ao máximo enquanto durassem suas curtas vidas (RAMOS, 1999, p. 20).

Essa mentalidade europeia protagonizada por Portugal foi aplicada também no Brasil enquanto este era sua colônia, dando o mesmo tratamento à criança indígena e, posteriormente, à criança africana. Esse contexto perdurou até a independência do Brasil em 07 de setembro de 1822, quando teve início, de maneira bastante tímida, algumas referências às crianças.

1.1 HISTÓRICO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL

No Brasil, durante o período colonial, havia distinção entre as crianças e adolescentes filhos dos portugueses e os filhos dos índios e escravos: estes últimos não tinham nenhum direito assegurado legalmente, não possuíam nenhum tipo de proteção legal (KAMINSKI, 2002, p. 15).

Assim, durante o Período Imperial, foi elaborada a primeira constituição brasileira, sendo esta outorgada no ano de 1824, na qual não houve nenhuma referência à criança, tampouco aos seus direitos, assim Kaminski (2002, p.16) explica: “a nossa primeira constituição não fez nenhuma referência aos menores, nem ao escravo, nem mesmo ao desassistido.”

No entanto, a promulgação do Código Criminal do Império do Brasil, de 16 de dezembro de 1830, foi a primeira legislação brasileira que se preocupou com o contexto infantil e juvenil, sendo a primeira oportunidade da presença da criança nas normas brasileiras. Conforme Cavallieri apud Kaminski (2002, p. 16): “O menor teve ingresso no Direito através dos atos de delinquência. Não sendo a sua pobreza que o conduziu até aqui, mas a sua conduta danosa: o (seu) castigo foi a ideia inicial; só depois o amparo.

Este código classificava o menor como criminoso, estabelecendo a idade para o início da responsabilidade penal pela prática de atos tidos como crimes aos maiores de 14 anos e aos menores desta idade. Entre 7 e 14 anos, previa-se o discernimento. Esta sanção penal era configurada através da capacidade de compreensão do menor (teoria do discernimento) e previa um sistema com medidas

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para a punição de crianças entre 07 e 14 anos, sendo passíveis de serem recolhidas em casa de correição pelo tempo que se fizesse necessário.

Acerca da inimputabilidade penal do menor e das medidas a serem adotas, quando no cometimento de prática criminosa, o Código Criminal do Império referiu-se:

Art.10,1º- Os menores de quatorze annos não serão julgados como criminosos, não podendo ser submetidos às penas criminais (...)

Art.13- Se se provar que os menores de quatorze annos, que tiverem commettido crimes, obraram com discernimento, deverão ser recolhidos às casas de correção, pelo tempo que o juiz parecer, com tanto que o recolhimento não exceda à idade de dezasete annos (...)

Os menores órfãos e abandonados ou rejeitados pelo seu proprietário, sobre estes não houve nenhuma menção tanto na primeira Carta Constitucional como também no primeiro Código Penal Brasileiro, sendo necessária a criação de instituições de acolhimento, como, por exemplo, as casas de correição, os asilos e orfanatos, para que pudesse ser garantida a sua sobrevivência, ficando a cargo da Igreja Católica este atendimento (KAMINSKI, 2002, p. 19).

Posterior ao Código Criminal do Império de 1830 e influenciado pelas ideias iluministas, preconizadas pela Revolução Francesa de 1789 e seus princípios de igualdade, liberdade e fraternidade, foi criado o segundo Código Penal, um ano após a Proclamação da Republica, com data de 15 de novembro de 1889 (DORNELLES, 1992, p. 125).

O Código Penal da República ou Código Penal dos Estados Unidos do Brazil foi criado pelo Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890 e manteve a teoria do discernimento utilizada pelo código anterior. A diferença do segundo código para o primeiro é que este exclui por completo a responsabilidade penal da criança com menos de nove anos (SANTOS, 1999, p. 217).

O Código Penal de 1890 assim dispõe:

Art. 27, §1º e 2º - “Não são considerados criminosos os menores de nove anos de idade completos”, nem “os maiores de nove anos e menores de quatorze anos de idade que obrarem sem discernimento”. [...] os maiores de nove anos e menores de quatorze anos que tivessem obrado com discernimento, serão recolhidos a estabelecimento disciplinar industrial, pelo tempo que ao juiz parecer conveniente, contanto que o recolhimento não exceda à idade de dezessete anos (BRASIL, 1890).

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omissa, não fazendo nenhuma referência à criança brasileira. Tal fato também foi repetido pelo Código Civil de 1916, que apenas reproduziu o entendimento do direito romano: o pai, sendo o chefe da prole, detinha o pátrio poder sobre todos os integrantes que viviam sobre o seu domínio (SANTOS, 1999, p. 216).

No Brasil republicano, somente em 1927 é que os direitos da criança e do adolescente começaram a ser delimitados, saindo da esfera penal e alcançando outros direitos. Nesse sentido, foi criado pelo Decreto n° 17.943 – A, de 12 de outubro de 1927, o Código de Menores, cujo texto foi elaborado pelo jurista José Cândido de Albuquerque Mello Mattos (VERONESE, 1999, p. 28).

Esse código rompeu com a teoria do discernimento adotada nos códigos penais anteriores, prevendo assistência ao menor de idade, tratando de duas classes de menores protegidos: os menores abandonados e os menores delinquentes, ficando dispostas no art. 26 do referido código as definições de abandono e delinquência. Também trata da assistência aos menores, desvinculada das normas penais, surgindo a ideia de que a recuperação do menor se dá através de uma reeducação (VERONESE, 1997, p. 10).

A Constituição de 1934, promulgada pelo então presidente Getúlio Vargas, foi a primeira constituição brasileira que trouxe em seu texto referência à proteção dos direitos da criança e do adolescente, prevendo o amparo à maternidade e tratamento diferenciado à infância, proibindo o trabalho aos menores de 14 anos (KAMINSKI, 2002, p. 27).

Entretanto, a Constituição Federal de 1937, desta vez outorgada pelo presidente Getúlio Vargas durante o período ditatorial deste, previu com mais dispositivos a proteção ao menor, garantindo a este as condições mínimas para o seu desenvolvimento, além de incluir como dever dos Estados e Municípios, garantir o acesso ao ensino público e gratuito (VERONESE, 1999, p. 31).

O Código Penal de 1940 criado pelo Decreto-Lei nº 2.848, de dezembro de 1940, revogou o Código Penal de 1890, estando em vigor até hoje, e estabeleceu a imputabilidade penal aos 18 anos de idade, assim disposta em seu art. 27: “Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.”

A Constituição de 1946 apenas deu continuidade aos direitos já previstos na constituição anterior, trazendo somente modificações ao impor ao Estado o dever de

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proteção à maternidade, à infância e à adolescência e a proibição do trabalho noturno aos menores de 18 anos. Na esfera penal, explica Kaminski (2002, p. 27):

Os menores entre 14 e 18 anos, tidos como perigosos, ficavam sujeitos ao juiz criminal e ao Código Penal, sendo os motivos de sua delinquência apurados em processo simplificado, sem procedimentos rígidos, ao qual foi chamado de sindicância.

No ano de 1967, ainda sobre o regime ditatorial, foi promulgada uma Constituição Federal que nada fez, além de repetir o que já estava disposto nas constituições anteriores (VERONESE, 1997, p. 11).

O Brasil passou por dois períodos ditatoriais, o primeiro, chamado de Estado Novo, compreendeu os anos de 1937 a 1945 e esteve sob o domínio de Getúlio Vargas, o segundo, por sua vez, durou vinte anos, de 1964 a 1984 (PASSETTI, 1999, p. 350). Durante esse período, surgiram duas instituições que objetivavam prestar assistência aos menores: o Sistema de Assistência ao Menor (SAM) e a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM).

O Sistema de Assistência ao Menor (SAM) foi criado em 1941, era vinculado ao Ministério da Justiça e conforme Liberati (2002, p. 60) tinha a missão de: “amparar, socialmente, os menores carentes abandonados e infratores, centralizando a execução de uma política de atendimento, de caráter corretivo-repressivo-assistencial em todo território nacional”, sendo muito famoso pela sistemática utilização de uma metodologia pedagógica visando à reeducação e reinserção social dos internos.

Já a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM) foi criada no ano de 1964 em substituição ao Serviço de Assistência ao Menor (SAM). Esta instituição tinha papel normativo, cabendo às Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor - FEBEM – a execução das políticas formuladas, visando à proteção e ao tratamento dos menores necessitados, abandonados e infratores.

A ela caberia formular e implantar a Política Nacional do Bem-Estar do Menor em cada estado integrando-se a programas nacionais de desenvolvimento econômico e social, dimensionando as necessidades afetivas, nutritivas, sanitárias e educacionais dos internos e racionalizando os métodos (PASSETTI, 1999, p. 365).

Tanto o SAM quanto a FUNABEM, embora de caráter assistenciais, não atingiram os seus objetivos, fracassando em suas finalidades, uma vez que ambos

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não tinham autonomia, eram ineficientes diante do crescimento da marginalidade infanto-juvenil (VERONESE, 1999, p. 35).

Em 1979 foi criado o segundo Código de Menores, revogando o primeiro, criado no ano de 1927. Este código, que se constituía em um instrumento de controle social ao privilegiar medidas de fiscalização, controle, contenção e vigilância, foi fundamentado na Doutrina da Situação irregular, que conforme Kaminski (2002, p. 32) é uma formulação doutrinária de origem brasileira.

Esse código traz no rol do art. 2º as situações que considera irregular:

Art.2º. Para efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor: I- privado de condições essenciais a sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável de provê-las; II- vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III- em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV- privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V- com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI- autor de infração penal.

A Constituição Federal Brasileira (1988) constitui um marco no que se refere ao direito da Criança e do Adolescente, sendo que, posteriormente, esses direitos foram delimitados e especificados na Lei Nº 8.069 de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente.

Com isso, vimos surgir medidas protetivas, direitos e posições, que antes não existiam. Nesse contexto, tanto a Constituição Federal de 1988 em seu art. 227, quanto a Lei Nº 8.069/90 no art. 4º constituíram um marco histórico e legislativo devido ao acolhimento da doutrina da Proteção Integral à infância e à adolescência, representando um qualitativo avanço na teoria dos direitos fundamentais, que têm como referência a declaração Universal dos direitos humanos de 1948 (DORNELLES, 1992, p. 124).

O art. 227 da Constituição Brasileira elenca os direitos fundamentais da criança e do adolescente:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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Em consonância com a doutrina da proteção integral, as crianças e adolescentes são sujeitos de direitos frente à família, à sociedade e ao Estado, colocando-os como titulares de direitos comuns a toda e qualquer pessoa.

Assim elucida Estivalett (2005, p. 50):

Essa doutrina marca um divisor de águas, um verdadeiro marco legislativo e conceitual com relação às crianças e aos adolescentes que adquirem um novo status, pois deixam de ser considerados menores, coisas de menor importância, passando à condição de sujeitos de direitos, o que significa que não poderão mais ser tratados como objetos passivos de intervenção da família, da sociedade e do Estado.

Em substituição ao já antigo e também ultrapassado Código de Menores, no ano de 1990 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente com o objetivo de direcionar políticas públicas que atendessem tanto à criança e ao adolescente em situação de risco social, como aos adolescentes autores de ato infracional, visando às medidas de proteção e socioeducativas, além de dispor sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, especificando uma rede de direitos e deveres que devem ser alvos de aplicação dos mecanismos sociais próprios ao estabelecimento da ordem social, incluindo ações na área da saúde e no âmbito do judiciário (FIORELLI; MANGINI, 2010, p. 144).

Em dezembro de 1992 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), que contribuiu para a formulação de políticas públicas e para a destinação de recursos ao cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (LORENZI, 2008).

Por esse prisma, a criança e o adolescente, agora com absoluta prioridade, têm direito a respeito, à dignidade e à liberdade e mais especificamente, no caso em análise, à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho (VERONESE, 1997, p. 13).

Destarte, a legislação brasileira incorporou em seu texto tanto as regras de proteção e de garantia dos direitos do adolescente infrator como as de proteção da criança vítima de abandono ou outra violência, sendo considerada como a primeira das legislações dos países latino-americanos, além de inovar com a adoção das palavras crianças e adolescentes, no lugar do termo menor que era representativo de inferioridade, excluindo qualquer discriminação de classe social tão presente nas legislações anteriores (KAMINSKI, 2002, p. 39).

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Entretanto, mesmo com esses direitos assegurados, em especial o direito à educação, aos menores que estão cumprindo medida socioeducativa decorrente do cometimento de ato infracional pouco se fala ou se tem acompanhamento sobre a sua vida escolar.

1.2 O DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA NORMATIVA INTERNACIONAL

É relevante o estudo da normativa internacional pelo fato de que esta influencia diretamente o ordenamento jurídico brasileiro, devido o Brasil ser parte e ratificar as convenções internacionais.

Conforme Kelsen (2002, p. 109), em sua Teoria Pura do Direito, a validade e a vigência das leis dependem de estarem em perfeita harmonia com os princípios e normas contidos na Lei Maior, há a ocorrência de um escalonamento das normas jurídicas, na qual entende que o direito internacional é ordenamento jurídico legítimo e obrigatório, e se posiciona acima dos demais ordenamentos jurídicos.

A primeira previsão da necessidade de oferecer à criança e ao adolescente uma proteção especial foi dada em 1924, através da Declaração de Genebra, texto elaborado e redigido por membros da ONG “Save the Children”, considerado o documento que deu origem à “Convenção dos Direitos da Criança” de 1989 (Lorenzi, 2008).

Posteriormente, no ano de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas considerada um importante instrumento regulatório de abrangência internacional, estabelece o direito a cuidados e assistência especiais. Assim, no Artigo 2° inciso XXV da referida Declaração, institui-se que: “(...) maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.”

A Declaração dos Direitos da Criança foi celebrada no ano de 1959 e absorveu os princípios já declarados na Carta das Nações Unidas e trouxe em seus 10 princípios os direitos aplicáveis às crianças. Dentre esses princípios, o princípio 7 faz referência ao direito à educação:

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Princípio 7: A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e compulsória pelo menos no grau primário. Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la a, em condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um membro útil da sociedade.

Consoante a este entendimento, em 1960 a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (conhecida por Pacto de São José da Costa Rica), declara em seu art. 19 que: “Toda criança tem direito às medidas de proteção que na sua condição de menor requer, por parte da família, da sociedade e do Estado.”

As Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude - Regras de Beijing, adotadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1985, discorrem sobre o tratamento do delinquente e propõem medidas de prevenção do delito, recomendando a necessidade de promoção do bem-estar da criança e do adolescente (CURY; GARRIDO; MARÇURA, 1991, p. 259).

A Assembleia das Nações Unidas no ano de 1989, de natureza coercitiva, aprovou a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e exigiu dos Estados que a ratificassem, sendo que o Brasil a ratificou em setembro de 1990. Essa convenção aplicou deveres e obrigações aos Estados Partes, que deveriam realizar ações visando à proteção do futuro (VERONESE, 1997, p. 23).

No preâmbulo da Convenção são explicitados os princípios básicos como o da liberdade, da paz e da justiça, além disso, reconheceu que a infância possui direito a cuidado, assistências especiais e direitos universais das crianças, podendo manifestar a sua opinião e expressá-la livremente, podendo ser levada em consideração em assuntos e procedimentos que a afetem (VERONESE, 1999, p.116).

Art.12 da Convenção: Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular seus próprios juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos relacionados com a criança, levando-se devidamente em consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança.

Em consonância com a Convenção, em seu art. 40, caput, a criança e o adolescente, mesmo autores de atos infracionais, merecem um tratamento diferenciado, tendo em vista a promoção de seu sentido de dignidade e valor, objetivando-se a reintegração na sociedade:

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Os Estados Partes reconhecem o direito de toda criança, a quem se alegue ter infringido as leis penais ou a quem se acuse ou declare culpada de ter infringido as leis penais, de ser tratada de modo a promover a estimular seu sentido de dignidade e valor, e fortalecerão o respeito da criança pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais de terceiros, levando em consideração a idade da criança e a importância de se estimular sua reintegração e seu desempenho construtivo da sociedade. Já no ano de 1990, foram publicadas as Regras Mínimas para os Jovens Privados de Liberdade pela Assembleia Geral das Nações Unidas tendo em vista a necessidade de dispender atenção e proteção especiais para que sejam garantidos os direitos de cada adolescente autor de ato infracional, diante do reconhecimento da vulnerabilidade dos adolescentes:

Regra 2- Os adolescentes só devem ser privados de liberdade de acordo com os princípios e processos estabelecidos nestas Regras e nas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing). A privação de liberdade de um adolescente deve ser uma medida de último recurso e pelo período mínimo necessário e deve ser limitada a casos excepcionais. A duração da sanção deve ser determinada por uma autoridade judicial, sem excluir a possibilidade de uma libertação antecipada.

No mesmo ano de 1990, as Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil foram aprovadas. Também chamada de Diretrizes de Riad, essas diretrizes reconhecem a necessidade de estabelecer estratégias nas esferas regionais, nacionais e intrarregionais em busca da prevenção da delinquência juvenil e trazem em seu art. 1º:

A prevenção da delinquência juvenil é parte essencial da prevenção do delito na sociedade. Dedicados a atividades lícitas e socialmente úteis, orientados rumo à sociedade e considerando a vida com critérios humanistas, os jovens podem desenvolver atitudes não criminais.

A Convenção de Haia é aprovada em 1993 pela comunidade internacional e ratificada pelo Brasil em 1995. Essa Convenção prioriza em seu texto a proteção das crianças em relação à matéria de adoção internacional, tendo como necessidade de prever medidas para garantir que as adoções internacionais sejam feitas no interesse superior da criança e com respeito a seus direitos fundamentais (CURY; GARRIDO; MARÇURA, 1991, p. 296).

O percurso ao longo da história apresentou a gradativa e significativa evolução dos direitos da criança e do adolescente na legislação nacional e

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internacional, bem como os dispositivos legais que visam e asseguram a proteção destes entes frágeis da sociedade. Dentre esses dispositivos destaca-se a Lei Nº. 8.069 de 1990, intitulada Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei complementar que surgiu para regular os dispositivos constitucionais na área da infância e juventude, assegurando seus direitos, sendo atualmente o instrumento garantidor da proteção integral da criança e do adolescente, o qual será enfatizado em capítulo específico.

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2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) criado pela Lei nº 8.069/90 e inspirado na legislação internacional que proporcionou proteção especial à criança e ao adolescente, revogou o Código de Menores de 1979, rompendo com a doutrina da situação irregular, estabelecendo como diretriz a doutrina da proteção integral já contemplada pela Constituição Federal.

Além de prever a proteção integral que torna a criança e o adolescente sujeitos de direitos, cidadãos, pessoas em condição de desenvolvimento, o Estatuto da Criança e do Adolescente eliminou a Doutrina da Situação Irregular existente anteriormente e responsabilizou o adolescente por atos considerados infracionais que viesse a cometer, aplicando as chamadas medidas socioeducativas, declarando que o Estado, a família e a sociedade são responsáveis por garantir e desenvolver ações e políticas públicas, estabelecendo com isso um sistema protetivo e socioeducativo, com objetivos pedagógicos e ressocializantes.

2.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A própria Constituição Federal traz em seu art. 5º os princípios que norteiam e fundamentam todas as leis brasileiras. Esses princípios constitucionais representam regras estruturais do ordenamento jurídico brasileiro e têm supremacia diante das demais normas.

Segundo Tourinho Filho apud Kaminski (2002 p. 66) “os princípios informam a essência das normas, dizendo respeito ao seu conteúdo material, aos poderes jurídicos de seus direitos e a sua finalidade imediata”, possuindo uma amplitude maior que a simples letra da norma.

O Estatuto Da Criança e do Adolescente é norteado pelos princípios inerentes ao Direito Penal e ao Direito Processual Penal e são aplicados mais especificamente no que tange às situações em que o adolescente pratica o ato infracional (KAMINSKI, 2002, p. 66).

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Os princípios que norteiam o Estatuto da Criança e do Adolescente podem ser caracterizados, segundo a abordagem de Kaminski (2002, p. 63) e Capez (2009, p. 31):

a) Princípio da Legalidade: esse princípio também é conhecido como o princípio da reserva legal e consiste na proibição de alguém ser condenado sem que haja cominação legal prévia, evitando com isso os abusos do Estado. Esse princípio está previsto no art. 1º do Código Penal e nos arts. 103, 108 e 110 do Estatuto da Criança e do Adolescente;

b) Princípio da Mínima Intervenção Penal: de acordo com esse princípio, o Direito Penal só deve intervir nos ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes, deixando os demais à aplicação das sanções extrapenais;

c) Princípio da Lesividade: esse princípio sustenta que só serão consideradas tipos penais aquelas condutas que tragam ofensa ou causem lesão a um bem juridicamente tutelado, sendo fatos relacionados como conduta de relevância jurídica, sendo de interesse do Direito aquilo que é considerado lesivo, de maior potencial ofensivo;

d) Princípio da Jurisdicionalidade: consiste na existência dos requisitos essenciais da jurisdição, como o juiz natural, a independência e a imparcialidade do órgão processante e decisório. Esses requisitos estão previstos no art. 5º, incisos XXXVII, LIII, da Constituição Federal de 1988;

e) Princípio da Impugnação: é decorrente do princípio do duplo grau de jurisdição e consiste no livre acesso à jurisdição e o endereçamento da criança autora de ato infracional à competência do Conselho Tutelar e a possibilidade de se recorrer da decisão de um juiz de inferior grau, perante uma instância superior, buscando a correção de uma decisão inicial errada ou injusta;

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f) Princípio da Iniciativa das Partes: é também denominado princípio da inércia, na qual os órgãos jurisdicionais são por sua própria índole, inertes, isto é, o juiz não age de ofício, este necessita de provocação da parte para iniciar a sua prestação jurisdicional. Nos casos de ações penais públicas, o impulso inicial deverá ser do órgão ministerial; autoridade pública oficial. Já nos casos de ações penais privadas, a provocação da jurisdição deverá partir do ofendido, ou de seu representante, sempre através de advogado habilitado para o procedimento;

g) Princípio da Presunção de Inocência: conforme esse princípio, ninguém será reputado culpado por ato antes de ter contra si uma decisão penal irrecorrível (art. 5º, LVII da CF/88). Tratando-se de pessoa presumidamente inocente até o trânsito da decisão, não é possível que sobre alguém se apliquem medidas de coerção pessoal, senão medidas de caráter cautelar e provisório, limitadas ao estritamente necessário;

h) Princípio da Igualdade: em consoante com este princípio, a lei deve ser igual para todos, não podendo ser feitas distinções entre os indivíduos, quer por sua posição econômica, social, quer por suas condições pessoais, de sexo, raça, religião ou origem, devendo o juiz verificar as características do comportamento de cada indivíduo, a fim de fazer a exata retribuição penal (Art.5º, caput, CF/88);

i) Princípio da Legalidade do Procedimento: consiste em assegurar à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens, sem a garantia de um processo desenvolvido na forma que estabelece a lei (art.5º, LVI, CF/88), assegurando ao indivíduo sua defesa em juízo ou fora dele, não podendo ser privado de sua vida, de sua liberdade ou de seus bens sem a obrigatória tramitação de um processo estabelecido em lei. Tal procedimento deve ser fixado em lei, não permitindo que o sujeito fique exposto à ação discricionária da autoridade judiciária, que deve agir dentro da legalidade;

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j) Princípio da verdade real: consiste no dever que o juiz tem de investigar como os fatos passaram na realidade, não se conformando com a verdade formal constante nos atos, podendo ser possível ao juiz, de ofício, ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideras urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;

k) Princípio do contraditório: contém o princípio da ampla defesa e consiste no direito do réu ter conhecimento da acusação que lhe é imputado para poder contrariá-la, evitando, assim, que possa ser condenado sem ser ouvido, sendo previsto no art. 261 do Código de Processo Penal. Caso o acusado não possua advogado, o juiz nomeará um defensor, sendo que não é permitido o acusado defender a si próprio. O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu art. 207 e o art. 263 do Código de Processo Penal asseguram esse direito;

l) Princípio da publicidade: em princípio todos os atos processuais são públicos, mas ao tratar de atos judiciais, policiais e administrativos que dizem respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional, o art. 143 do Estatuto veda expressamente a sua divulgação, preservando a imagem, a dignidade e a intimidade humanas, ou a segurança da sociedade e do Estado;

m) Princípio da Liberdade de locomoção: consiste em assegurar o direito de ir e vir e proíbe a prisão de qualquer pessoa, exceto no caso de flagrante delito ou devido à ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, previsto nos artigos 106 e 111 do Estatuto, que além desses direitos e garantias, assegurados em igualdade aos adolescentes, estes não poderão ser conduzidos ou transportados em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco a sua integridade física ou mental; e

n) Princípio da pessoalidade: está previsto no Art. 5º, XLV, da Constituição Federal e consiste na proibição de se estender a pena a outra pessoa que

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não o condenado, isto significa que outras pessoas, que não o próprio condenado, não podem sofrer qualquer pena por ação que não lhes compete.

A observância destes princípios é de extrema relevância para assegurar proteção de todos os direitos à criança e ao adolescente, evitando abusos e excessos, garantindo a proteção contra as ações do Estado ou do ofendido.

2.2 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR E DA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

O Código de Menores do ano de 1979, código que antecedeu o atual Estatuto da Criança e do Adolescente, utilizava o termo menor para designar a pessoa natural até 18 anos ou excepcionalmente até 21 anos e adotava a Teoria da Situação Irregular.

De acordo com essa teoria, a criança e o adolescente eram considerados especiais, devido serem indivíduos incapazes, irresponsáveis por suas condutas, em vias de marginalização, e, portanto delinquentes, tratando essa criança e esse adolescente com uma enorme dose de preconceito e estigmatização, marcando negativamente esse indivíduo (DORNELLES, 1992, p. 121).

O código revogado não passava de em Código Penal do Menor disfarçado em sistema tutelar; suas medidas não passavam de verdadeiras sanções, ou seja, penas disfarçadas em medidas de proteção. Não relacionava nenhum direito, a não ser aquele sobre a assistência religiosa; não trazia nenhuma medida de apoio à família; tratava da situação irregular da criança e do jovem, que, na verdade, eram seres privados de seus direitos (LIBERTATTI, 1993, p. 13).

Consoante com este posicionamento, Kaminski (2002, p. 32) explica a respeito da situação irregular do menor:

Dizia ela que o menor abandonado, a vítima ou o infrator estavam em situação irregular e que assim eles mereciam se tratados. Por sua visão o problema restava simplificado e estava centrado no menor. Ele e sua situação irregular representavam o problema, devendo as medidas serem sobre ele aplicadas. Em sua concepção pensava-se que a sociedade vivia sob a civilidade, a harmonia e a ordem, isto é, a sociedade e o Estado estavam regulares e, a situação irregular em que o menor estava envolvido

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o menor era tão-só culpa dele, que não se adequou à vida em sociedade e ao seu convívio.

Sob a égide do Código de Menores, para prevenir e controlar as situações que envolviam o menor de modo irregular criou-se reformatórios, internatos e orfanatos com uma orientação correcional imposta pelo padrão cultural dos setores dominantes, com métodos disciplinares e repressivos que chegam aos maus-tratos e castigos corporais, protegendo a parte saudável da sociedade das ações das classes potencialmente perigosas (DORNELLES, 1992, p. 122).

Com o advento da Lei 8.069 de 1990, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente e revogou o Código de Menores e com ele a doutrina da situação irregular, estabeleceu-se uma nova ótica a respeito da criança e do adolescente, adotando um novo paradigma no que tange seus direitos, adotando a doutrina da proteção integral que já havia sido contemplada no art. 227 da carta constitucional de 1988.

Segundo essa doutrina, a criança e o adolescente são vistos como sujeitos e credores de direitos, os quais lhes devem ser assegurados com absoluta prioridade. É o reconhecimento de direitos especiais e específicos de todas as crianças e adolescentes (ISHIDA, 2000, p. 21).

Assim esclarece Liberatti (1993, p. 13):

A Lei 8.069/90 revolucionou o Direito Infanto-Juvenil, inovando e adotando a Doutrina da Proteção Integral. Essa nova visão é baseada nos direitos próprios e especiais das crianças e adolescentes, que, na condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, necessitam de proteção diferenciada, especializada e integral.

Essa teoria baseou-se na total proteção dos direitos infanto-juvenis, sendo alicerçada na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, servindo como um novo instrumento legal, garantindo o desenvolvimento e a proteção especial às crianças e aos adolescentes. Para melhor compreensão acerca desses direitos e também dos seus deveres, o capítulo seguinte apresentará alguns conceitos inovadores que foram delineados na Lei nº 8.069 de 1990 e que são necessários para a aplicação da doutrina da proteção integral.

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3 O ADOLESCENTE, O ATO INFRACIONAL E O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) criado pela Lei Nº 8069/1990 em substituição ao código de menores (Lei Nº 6.697 de 1979) trouxe vários conceitos e inovações no se refere à criança e ao adolescente, não elencados no código anterior.

Dentre as inovações do Estatuto, temos a conceituação do que é ato infracional cometido por crianças e adolescentes, a diferenciação de criança e adolescente e o procedimento e medidas a serem adotadas em caso de cometimento de atos infracionais (LIBERATTI, 1995, p.14).

Tanto a criança como o adolescente são penalmente inimputáveis, mas diante do cometimento de uma conduta delituosa, esta é denominada tecnicamente como ato infracional. Assim, o Art. 103 do referido Estatuto, dispõe: “considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.”

Para o Direito Penal Brasileiro, considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Esse conceito extraído da Lei de Introdução ao Código Penal brasileiro (Decreto-Lei nº. 3.914/41) traz apenas a definição legal (MIRABETE, 2000, p. 53).

O atual Estatuto diferencia a criança e o adolescente, diferença esta não abordada no Código de Menores, que tratava os dois apenas como menores em situação irregular. Vale salientar que conforme esclarecimento de Veronese (1999, p. 35), este menor em situação irregular dizia respeito ao menor de 18 anos de idade, que se encontrava abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral, desassistido juridicamente, com desvio de conduta e ainda o autor de infração penal. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente considera criança “a pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente, aquela entre doze e dezoito anos de idade.”

Essa diferenciação é apenas técnica, fundada tão somente no aspecto da idade, não levando em consideração o psicológico e o social, e é de suma importância diante do cometimento de ato infracional pela criança ou pelo adolescente, que sofrerão medidas diferenciadas (LIBERATTI, 1995, p. 14).

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Para as crianças, quando estas praticarem uma conduta que seja considerada ato infracional, independente da gravidade, receberão as medidas contidas do art. 101 do Estatuto que poderão ser estendidas a sua família:

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - acolhimento institucional; VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; IX - colocação em família substituta.

Para os adolescentes, além das medidas preceituadas no art. 101, poderão sofrer outras medidas socioeducativas, visando a ressocialização. Estas medidas estão elencadas no art. 112 da Lei Nº 8.069/90:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

Ao adolescente que pratica um ato infracional são asseguradas as garantias constitucionais como as previstas no art. 5º, LXI; o direito de saber quem o está apreendendo, devendo a ele ser comunicado os seus direitos: assistência da família, de advogado, o de permanecer calado. Esses direitos também estão elencados no Estatuto com a denominação de garantias processuais.

3.1 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO

Diante da apuração do ato infracional cometido pelo adolescente, aplicam-se as medidas socioeducativas previstas no art. 112 e seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente, podendo ser aplicadas isolada ou cumulativamente, dependendo das condições pessoais de que vai sofrer a imposição das características da infração, circunstâncias sociofamiliares e das condições reais da comarca (FIORELLI; MANGINI, 2010, p. 148).

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Essas medidas têm natureza coercitiva, caráter preventivo e têm por objetivo a ressocialização do adolescente em conflito com a lei, para que este possa ser reeducado a fim de poder continuar a viver em sociedade e são esclarecidas conforme o entendimento de Rodrigues (1995, p. 21) e Volpi (1999, p. 23):

a) Advertência: prevista no art. 115 do Estatuto, é a mais branda das medidas socioeducativas. É informativa, formativa e imediata, sendo executada pelo Juiz da Infância e Juventude com base em simples indícios de autoria, devendo estar presentes provas suficientes de materialidade. A coerção deve envolver os responsáveis num procedimento ritualístico, sendo reduzida a termo e assinada pelas partes;

b) Obrigação de reparar o dano: prevista no art. 116, a reparação se faz a partir da restituição do bem, do ressarcimento e/ou compensação da vítima. Caracteriza-se como uma medida coercitiva e educativa, levando o adolescente a reconhecer o erro e a repará-lo. A responsabilização é do adolescente, sendo intransferível e personalíssima. Todavia, para o juiz impor a reparação de danos, deverá examinar em primeiro plano se é possível e capaz o seu cumprimento. Havendo manifesta impossibilidade de aplicação, a medida poderá ser substituída por outra mais adequada;

c) Prestação de serviços à comunidade: prevista no art. 117, constitui uma medida com forte apelo comunitário e educativo tanto para o jovem infrator quanto para a comunidade, que por sua vez poderá responsabilizar-se pelo desenvolvimento integral desse adolescente. A aplicação dessa medida depende exclusivamente da Justiça da Infância e Juventude, e não pode exceder a seis meses, mas na sua operacionalização recomenda-se o uso de um programa que estabeleça parcerias com órgãos públicos e organizações não-governamentais;

d) Liberdade assistida: prevista no art. 118, consiste numa medida coercitiva quando se verifica a necessidade de acompanhamento da vida social do adolescente (escola, trabalho e família). Sua intervenção educativa manifesta-se no acompanhamento personalizado, garantindo-se os

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aspectos de: proteção, inserção comunitária, cotidiano, manutenção de vínculos familiares, frequência à escola e inserção no mercado de trabalho e/ou cursos profissionalizantes e formativos. Os programas de liberdade assistida devem ser estruturados no nível municipal, gerenciados e desenvolvidos pelo órgão executor no nível municipal em parceria com o judiciário, que supervisiona e acompanha as ações do programa;

e) Semiliberdade: prevista no art. 120, contempla aspectos coercitivos desde que afasta o adolescente do convívio familiar e da comunidade de origem: ao restringir sua liberdade, não priva totalmente do seu direito de ir e vir. É aplicada em dois casos: quando o menor a que se aplicou a medida de internação, deixou de representar um perigo para a sociedade e, passa para um regime mais ameno; e também quando o menor, conquanto tenha cometido infração grave, não seja considerado perigoso, bastando a semiliberdade para a sua integração à sociedade e à família; e

f) Internação: prevista no art. 121, é a medida extrema no elenco das medidas socioeducativas e possui critérios para que seja aplicada. É destinado aos adolescentes que cometem atos infracionais mediante grave ameaça ou violência à pessoa, por reiteração no cometimento de outras infrações graves ou por descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta. Constitui medida de privação de liberdade, sujeita aos princípios constitucionais da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Conforme a Lei, o prazo máximo é de três anos, devendo o adolescente após esse prazo ser liberado ou ao alcançar a idade de 21 anos, devendo a sua desinternação ser procedida de ordem judicial, ouvido o Ministério Público. O cumprimento da medida de internação deve ser em entidade exclusivamente para adolescente, obedecida à rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração, sendo obrigatória a existência de atividades pedagógicas durante o período de internação.

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Os adolescentes que estão em cumprimento de medida socioeducativa de internação são de responsabilidade do Poder Público, que deverá zelar pela integridade física do adolescente, devendo os programas socioeducativos de privação de liberdade prever os aspectos de segurança, na perspectiva de proteção à vida dos adolescentes e dos trabalhadores, atentando-se para os aspectos arquitetônicos das instalações e formas de contenção de violência (VOLPI, 1999, p. 21). Também são lhes resguardados direitos, que estão previstos no art. 124 do Estatuto da Criança e do Adolescente, dos quais destacamos o inciso XI: “receber escolarização e profissionalização” (ISHIDA, 2000, p. 200).

3.2 O SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO – SINASE

No ano de 2006, após dezesseis anos da criação da Lei 8.069 de 1990, a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente instituíram o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) diante da necessidade de construir parâmetros mais objetivos e procedimentos mais justos no atendimento aos adolescentes em conflito com a lei.

Assim sendo, o Sistema de Atendimento Socioeducativo – SINASE é o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração do ato infracional até a execução de medida socioeducativa. Esse sistema nacional inclui os sistemas estaduais, distritais e municipais, bem como todas as políticas, planos e programas específicos de atenção a esse público (SINASE, p. 22), constituindo-se de uma política pública destinada à inclusão do adolescente em conflito com a lei, que se correlaciona e demanda dos diferentes campos das políticas públicas e sociais.

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Figura 1: Sistema articulado – SINASE

Fonte: Dados da pesquisa

Consoante com o SINASE, os parâmetros norteadores da ação e gestão pedagógicas para as entidades e/ou programas de atendimento que executam a internação provisória e as medidas socioeducativas devem propiciar ao adolescente o acesso a direitos e a oportunidades de superação de sua situação de exclusão, de ressignificação de valores, bem como o acesso à formação de valores para a participação na vida social, uma vez que as medidas socioeducativas possuem uma dimensão jurídico-sancionatória e uma dimensão substancial ético-pedagógica. Seu atendimento deve ser organizado observando o princípio da incompletude institucional. Assim a inclusão dos adolescentes pressupõe sua participação em diferentes programas e serviços sociais e públicos (SINASE, 2006, p. 46).

Esses sistemas devem ser coordenados, mediante o compartilhamento de responsabilidades, de maneira que o adolescente seja alvo de um conjunto de ações socioeducativas que contribua na sua formação, de modo que venha a ser um cidadão autônomo e solidário, capaz de se relacionar melhor consigo mesmo e com os outros e com tudo que integra a sua circunstância, sem reincidir na prática de atos infracionais.

Portanto, a criação do SINASE veio para corroborar com a aplicação efetiva

SINASE

Sistema

Naciona de

Atendimento

Socioeducativo

Sistema Educacional SUS - Sistema Único de Saúde SUAS - Sistema Único da Assistência Social Sistema de Justiça e Segurança Pública

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do Estatuto da Criança e do Adolescente, tornando-se mais uma efetiva ferramenta na garantia dos direitos da Criança e do Adolescente e da sua proteção integral, uma vez que norteia todas as ações das políticas públicas de atendimento ao adolescente em conflito com a lei, delineando a aplicação das medidas socioeducativas, apresentando os parâmetros a serem seguidos desde a sua aplicação, bem como toda a estrutura pessoal, física e arquitetônica.

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4 DO DIREITO À EDUCAÇÃO E O ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 205 combinada com o art.6º, eleva a educação ao nível dos direitos fundamentais do homem, devendo o Estado prestá-la assim como a família, sendo o seu acesso obrigatório e gratuito. Esse direito é um direito público subjetivo, plenamente eficaz e de aplicabilidade imediata, assim dispõe Faria (1999, p. 214):

Desta forma, podemos concluir pela aplicabilidade universal do princípio da prioridade absoluta à infância e à adolescência, exigindo proteção e o cuidado necessários para o seu bem-estar, sobrepondo-se às medidas de ajustes econômicos, adaptando, assim a toda uma estrutura político-social com base nesta nova prioridade.

Essa relevante importância à educação e à cultura, chamados de direitos sociais, que visam o bem-estar e o pleno desenvolvimento da personalidade humana, uma vez que grande parte do desenvolvimento físico e mental do ser humano ocorre nos primeiros anos de vida.

Anteriormente, a educação no Brasil era seletiva e excludente, sendo que as crianças de classes menos favorecidas não tinham acesso. As Cartas Constitucionais do Brasil foram criadas a partir de ideais políticos professados à época. A Constituição do Império (1824) foi realizada de acordo com os ideais da Revolução Francesa, sendo estes ideais contraditórios, uma vez que pregavam a liberdade em um país que se utilizava da escravidão (MARTINS, 2001, p. 63).

A Carta de 1891 trouxe o rompimento com o ensino religioso. Já a Carta de 1934 constitucionalizou vários direitos sociais, entre eles, o direito à educação. Já a Constituição de 1937 retrocedeu com os direitos conquistados na carta anterior, sendo em parte recuperados na Constituição de 1946. As Cartas Constitucionais de 1967 e 1969 não apresentaram nenhuma conquista, sendo somente em 1988, com a promulgação da Constituição deste ano, que apareceu a educação como direito fundamental.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, esse direito estendeu-se a todos, trazendo uma nova proposta para a educação: fazer com que o aluno seja mais que um integrante da sociedade, um participante e modificador desta sociedade.

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O que se pretende é contribuir para a formação de um ser humano completo: espírito e corpo, inteligência e sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade e solidariedade. Alguém que, a partir da educação que recebe, será capaz de elaborar pensamentos próprios e críticos, de reformular seus juízos de valor de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes situações com as quais se defronte no decorrer da vida. Um ser com compreensão da sua realidade social, política, econômica e cultural, sendo capaz de interferir e melhorar esta realidade (TÂNIA, 1999, p. 636).

Assim, a educação formal é imprescindível, é instrumento básico para que a criança e o adolescente possam iniciar a sua caminhada em direção à cidadania, uma vez que proporciona o desenvolvimento pleno das capacidades do ser humano, que envolve aspectos humanos, cidadania e liberdade. Entretanto, torna-se necessário que haja a contribuição de toda a sociedade, Estado e família, isso para garantir que a criança e adolescente tenham acesso à educação formal.

A Lei Nº 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, toma como referência o texto da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente para explicitar a declaração do direito à educação, além de organizar a Educação no Brasil, reforça os direitos e detalha as parcerias e responsabilidades da escola, da sociedade e da família (OLIVEIRA, 2001, p.41).

Assim, nenhuma criança ou adolescente poderá ser privado do seu direito à educação, pois caso contrário, constitui violação aos direitos fundamentais prescrito no art. 227 da Constituição Federal de 1988.

Marshall apud Tânia (1999, p. 663) entende que a educação é indispensável para a cidadania:

A educação das crianças está diretamente relacionada com a cidadania, e, quando o Estado garante que todas as crianças serão educadas, este tem em mente, sem sombra de dúvida, as exigências e a natureza da cidadania. Está tentando estimular o desenvolvimento de cidadãos em formação. O direito à educação é um direito social de cidadania genuíno, porque o objetivo da educação durante a infância é moldar o adulto em perspectiva. Basicamente, deveria ser considerada não como direito da criança frequentar a escola, mas como o direito do cidadão adulto ter sido educado.

Nesse aspecto, a educação vai mais além do que apenas a alfabetização, transmissão de conteúdos e saberes, assumindo um papel muito importante na vida do adolescente em conflito com a lei, sendo sinônimo de ressocialização e reinserção à vida em sociedade, sendo um portal para a aquisição da cidadania e de inclusão social.

Referências

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