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No ano de 2006, após dezesseis anos da criação da Lei 8.069 de 1990, a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente instituíram o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) diante da necessidade de construir parâmetros mais objetivos e procedimentos mais justos no atendimento aos adolescentes em conflito com a lei.

Assim sendo, o Sistema de Atendimento Socioeducativo – SINASE é o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração do ato infracional até a execução de medida socioeducativa. Esse sistema nacional inclui os sistemas estaduais, distritais e municipais, bem como todas as políticas, planos e programas específicos de atenção a esse público (SINASE, p. 22), constituindo-se de uma política pública destinada à inclusão do adolescente em conflito com a lei, que se correlaciona e demanda dos diferentes campos das políticas públicas e sociais.

Figura 1: Sistema articulado – SINASE

Fonte: Dados da pesquisa

Consoante com o SINASE, os parâmetros norteadores da ação e gestão pedagógicas para as entidades e/ou programas de atendimento que executam a internação provisória e as medidas socioeducativas devem propiciar ao adolescente o acesso a direitos e a oportunidades de superação de sua situação de exclusão, de ressignificação de valores, bem como o acesso à formação de valores para a participação na vida social, uma vez que as medidas socioeducativas possuem uma dimensão jurídico-sancionatória e uma dimensão substancial ético-pedagógica. Seu atendimento deve ser organizado observando o princípio da incompletude institucional. Assim a inclusão dos adolescentes pressupõe sua participação em diferentes programas e serviços sociais e públicos (SINASE, 2006, p. 46).

Esses sistemas devem ser coordenados, mediante o compartilhamento de responsabilidades, de maneira que o adolescente seja alvo de um conjunto de ações socioeducativas que contribua na sua formação, de modo que venha a ser um cidadão autônomo e solidário, capaz de se relacionar melhor consigo mesmo e com os outros e com tudo que integra a sua circunstância, sem reincidir na prática de atos infracionais.

Portanto, a criação do SINASE veio para corroborar com a aplicação efetiva

SINASE

Sistema

Naciona de

Atendimento

Socioeducativo

Sistema Educacional SUS - Sistema Único de Saúde SUAS - Sistema Único da Assistência Social Sistema de Justiça e Segurança Pública

do Estatuto da Criança e do Adolescente, tornando-se mais uma efetiva ferramenta na garantia dos direitos da Criança e do Adolescente e da sua proteção integral, uma vez que norteia todas as ações das políticas públicas de atendimento ao adolescente em conflito com a lei, delineando a aplicação das medidas socioeducativas, apresentando os parâmetros a serem seguidos desde a sua aplicação, bem como toda a estrutura pessoal, física e arquitetônica.

4 DO DIREITO À EDUCAÇÃO E O ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 205 combinada com o art.6º, eleva a educação ao nível dos direitos fundamentais do homem, devendo o Estado prestá-la assim como a família, sendo o seu acesso obrigatório e gratuito. Esse direito é um direito público subjetivo, plenamente eficaz e de aplicabilidade imediata, assim dispõe Faria (1999, p. 214):

Desta forma, podemos concluir pela aplicabilidade universal do princípio da prioridade absoluta à infância e à adolescência, exigindo proteção e o cuidado necessários para o seu bem-estar, sobrepondo-se às medidas de ajustes econômicos, adaptando, assim a toda uma estrutura político-social com base nesta nova prioridade.

Essa relevante importância à educação e à cultura, chamados de direitos sociais, que visam o bem-estar e o pleno desenvolvimento da personalidade humana, uma vez que grande parte do desenvolvimento físico e mental do ser humano ocorre nos primeiros anos de vida.

Anteriormente, a educação no Brasil era seletiva e excludente, sendo que as crianças de classes menos favorecidas não tinham acesso. As Cartas Constitucionais do Brasil foram criadas a partir de ideais políticos professados à época. A Constituição do Império (1824) foi realizada de acordo com os ideais da Revolução Francesa, sendo estes ideais contraditórios, uma vez que pregavam a liberdade em um país que se utilizava da escravidão (MARTINS, 2001, p. 63).

A Carta de 1891 trouxe o rompimento com o ensino religioso. Já a Carta de 1934 constitucionalizou vários direitos sociais, entre eles, o direito à educação. Já a Constituição de 1937 retrocedeu com os direitos conquistados na carta anterior, sendo em parte recuperados na Constituição de 1946. As Cartas Constitucionais de 1967 e 1969 não apresentaram nenhuma conquista, sendo somente em 1988, com a promulgação da Constituição deste ano, que apareceu a educação como direito fundamental.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, esse direito estendeu-se a todos, trazendo uma nova proposta para a educação: fazer com que o aluno seja mais que um integrante da sociedade, um participante e modificador desta sociedade.

O que se pretende é contribuir para a formação de um ser humano completo: espírito e corpo, inteligência e sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade e solidariedade. Alguém que, a partir da educação que recebe, será capaz de elaborar pensamentos próprios e críticos, de reformular seus juízos de valor de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes situações com as quais se defronte no decorrer da vida. Um ser com compreensão da sua realidade social, política, econômica e cultural, sendo capaz de interferir e melhorar esta realidade (TÂNIA, 1999, p. 636).

Assim, a educação formal é imprescindível, é instrumento básico para que a criança e o adolescente possam iniciar a sua caminhada em direção à cidadania, uma vez que proporciona o desenvolvimento pleno das capacidades do ser humano, que envolve aspectos humanos, cidadania e liberdade. Entretanto, torna-se necessário que haja a contribuição de toda a sociedade, Estado e família, isso para garantir que a criança e adolescente tenham acesso à educação formal.

A Lei Nº 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, toma como referência o texto da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente para explicitar a declaração do direito à educação, além de organizar a Educação no Brasil, reforça os direitos e detalha as parcerias e responsabilidades da escola, da sociedade e da família (OLIVEIRA, 2001, p.41).

Assim, nenhuma criança ou adolescente poderá ser privado do seu direito à educação, pois caso contrário, constitui violação aos direitos fundamentais prescrito no art. 227 da Constituição Federal de 1988.

Marshall apud Tânia (1999, p. 663) entende que a educação é indispensável para a cidadania:

A educação das crianças está diretamente relacionada com a cidadania, e, quando o Estado garante que todas as crianças serão educadas, este tem em mente, sem sombra de dúvida, as exigências e a natureza da cidadania. Está tentando estimular o desenvolvimento de cidadãos em formação. O direito à educação é um direito social de cidadania genuíno, porque o objetivo da educação durante a infância é moldar o adulto em perspectiva. Basicamente, deveria ser considerada não como direito da criança frequentar a escola, mas como o direito do cidadão adulto ter sido educado.

Nesse aspecto, a educação vai mais além do que apenas a alfabetização, transmissão de conteúdos e saberes, assumindo um papel muito importante na vida do adolescente em conflito com a lei, sendo sinônimo de ressocialização e reinserção à vida em sociedade, sendo um portal para a aquisição da cidadania e de inclusão social.

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