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Novo Rural Vol I

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Academic year: 2021

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SUMÁRIO

Introdução ...5

Capítulo 1 ...7

A Continuidade da Modernização Agropecuária ... 7

Capítulo 2 ... 13

A Novidade na Modernização: A Terceirização ... 13

Capítulo 3 ...21

Novas Atividades... 21

(2)
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A partir de meados dos anos 80, assistimos ao surgimento de uma nova conformação do meio rural brasileiro, a exemplo do que já ocorre há tempos nos países desenvolvidos1.

Esse "Novo Rural" como vem sendo denomina-do, compõe-se basicamente de três grandes grupos de atividades:

1. Uma agropecuária moderna, baseada em

commodities e intimamente ligada às

agroindústrias;

2. Um conjunto de atividades não-agrícolas, liga-das à moradia, ao lazer e a várias atividades in-dustriais e de prestação de serviços;

3. Um conjunto de "novas" atividades agropecuárias, localizadas em nichos especiais de mercados.

O termo "novas" foi colocado entre aspas por-que muitas dessas atividades, na verdade, são secula-res no País, mas não tinham, até recentemente, im-portância econômica. Eram atividades de "fundo de quintal", hobbies pessoais ou pequenos negócios agropecuários intensivos (piscicultura, horticultura, floricultura, fruticultura de mesa, criação de peque-nos animais etc.), que foram transformados em im-portantes alternativas de emprego e renda no meio rural nos anos mais recentes. Muitas dessas ativida-des, antes pouco valorizadas e dispersas, passaram a

Introdução

1. Texto baseado na palestra eletrônica "O Novo Rural Brasileiro", Graziano da Silva, J. e Del Grossi, M.E. Fundação Lyndolpho Silva/BNAF (www.bnaf.org.br; palestra 11)

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integrar verdadeiras cadeias produtivas, envolvendo, na maioria dos casos, não apenas transformações agro-industriais, mas também serviços pessoais e produ-tivos relativamente complexos e sofisticados nos ramos da distribuição, comu-nicações e embalagens.

Tal valorização também ocorre com as atividades rurais não-agrícolas deri-vadas da crescente urbanização do meio rural (moradia, turismo, lazer e presta-ção de serviços) e com as atividades decorrentes da preservapresta-ção do meio ambi-ente, além de um amplo conjunto de atividades de "nichos de mercado".

A figura 1 que apresentamos a seguir procura ilustrar essa situação que acabamos de descrever: um espaço rural penetrado pelo mundo urbano com velhos e novos personagens, como os neo-rurais (profissionais liberais e outros ex-habitantes da cidade que passaram a residir no campo) ao lado dos assenta-dos (ex-sem-terra) e daqueles que temos denominado sem-sem (sem terra e sem emprego e quase sempre também sem casa, sem saúde, sem educação e, princi-palmente, sem organização).

É desse conjunto de transformações que estão ocorrendo no meio rural que trata este livro, o qual procura ilustrar essas transformações. Para isso, dividimo-lo em 7 capítulos. Os capítulos 1 e 2 mostram a continuidade da modernização tecnológica e seus impactos sobre a nova ruralidade. O capítulo 3 apresenta as novas atividades que estão dinamizando o espaço rural. O volu-me 2 desta coleção tratará das atividades não-agrícolas geradas nesse processo, e as principais conseqüências em torno das políticas de desenvolvimento rural.

Figura 1: Novas relações e atividades no mundo rural.

Urbano Rural Agribusiness Neorural Familiar Sem-Terra Sem Sem Agrícola Não Agrícola

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A partir dos anos 60, o Brasil começou a experimentar uma profunda mo-dernização em sua agricultura, baseada no modelo então denominado "revolu-ção verde": sementes melhoradas que respondiam rapidamente ao uso de adu-bos químicos necessitavam de aplicação de agrotóxicos, e com operações geral-mente mecanizadas.

Na verdade, as bases para essa revolução em nossa agricultura foram lançadas nos anos 50, quando se instalaram no Brasil a maioria das indústrias produtoras de insumos para a agricultura, como as de adubos químicos, de tratores e má-quinas ou de agrotóxicos. Para incentivar o uso dessas tecnologias, o Governo montou um impressionante aparato, notadamente o sistema de crédito rural.

Inúmeros autores trataram dos aspectos negativos e positivos dessa moder-nização, sob os mais variados aspectos, que não são objetivo deste trabalho. Mas cabe destacar o êxodo rural sem antecedentes que ocorreu no País nesse período. Com o avanço da mecanização de nossas lavouras, as tarefas antes executadas por "turmas" de trabalho passavam a ser realizadas por apenas poucas pessoas, deixando desempregadas no campo milhões de pessoas, que não tinham outra opção senão as cidades.

Nos anos 80, o modelo de apoio estatal começa a perder fôlego, sufocado pelas políticas mais gerais de combate à inflação. Mas, ao contrário do que se poderia se pensar, o progresso tecnológico persistiu graças aos investimentos das décadas anteriores. Nessa década tivemos o início da incorporação dos cerrados do Brasil à produção de grãos, numa base tecnológica avançada e competitiva ao nível do mercado internacional.

Capítulo 1

A Continuidade da Modernização

Agropecuária

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Nos anos 90, esse processo não foi diferente. A modernização brasileira seguiu seu curso, incorporando tecnologias cada vez mais sofisticadas: a prática de inseminação artificial ou mesmo a manipulação de em-briões, máquinas equipadas com GPS2 e monitoradas

via satélite, produtos transgênicos etc; foram sendo in-corporados ao processo produtivo e se tornando peças rotineiras da nossa agricultura mais moderna.

É importante observar que essas tecnologias con-taram com apoio considerável dos investimentos pú-blicos em pesquisa agropecuária no Brasil, com os investimentos semeados nos anos 70 e cujos frutos tiveram seu período de maturação nos anos 90. Não é demasiado recordar que também nesse período os investimentos públicos na pesquisa agropecuária bra-sileira foram sistematicamente reduzidos, e os resul-tados dessa defasagem tecnológica já começam hoje a se fazer sentir, principalmente entre os produtores menos favorecidos, que não conseguem se adaptar à velocidade das inovações internacionais.

Essa escalada tecnológica do segmento agrícola mais moderno que ainda ocorreu nos anos 90 se refletiu no grau de competitividade internacional de nossas cultu-ras. A despeito das barreiras tarifárias e não-tarifárias, mantidas nas negociações do GATT3 e depois na sua

sucessora, a OMC4, as exportações brasileiras têm

con-seguido manter um nível de competitividade invejável, a exemplo do suco de laranja ou da carne de frango. Não é por menos que ano após ano o governo brasileiro vem anunciando novas safras recordes de grãos no Brasil.

Esse viés exportador de nossa agricultura comer-cial tem sido a saída para as restrições de demanda do mercado nacional. Estudos5 apontam para uma

po-pulação de 44 milhões de pessoas pobres no Brasil no ano de 1.999, ou seja, pessoas que vivem com menos de um dólar per capita/dia6 . Com esse grau de

po-breza no País, reduzindo o consumo de alimentos, a saída mais fácil tem sido a busca do mercado exterior.

2. Equipamento que fornece, via satélite, as referências para localização e mapeamento detalhado (metro a metro) das propriedades.

3. Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio - GATT

4. Organização Mundial do Comércio - OMC 5. Takagi,M.; Graziano da Silva,J. e Del Grossi, M.E. Pobreza e fome: em busca de uma metodologia para quantificação do problema no Brasil. UNICAMP. Texto para Discussão 101

(www.eco.unicamp.br). 6. Linha de pobreza adotada pelo Banco Mundial nos estudos comparativos entre vários países.

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Porém, as restrições no mercado interno, associ-adas aos baixos níveis de preços das commodities no mercado internacional nos últimos anos, a redução dos investimentos em pesquisa e também a elevação do salário mínimo no Plano Real, elevando os custos de produção, têm resultado numa baixa remunera-ção dos principais produtos agrícolas comerciais. O Gráfico 1 ilustra essa situação de baixa remuneração dos produtos agrícolas a partir do rendimento do tra-balho principal das pessoas: o rendimento médio das pessoas que trabalhavam na agricultura era pelo me-nos a metade do rendimento dos que viviam de ativi-dades não-agrícolas.

Mas esse processo não atinge da mesma forma todos os produtores. Analisando o mesmo problema com outras fontes de informações (gráfico 2), a par-tir do Censo Agropecuário, os dados do Paraná mos-tram que os estabelecimentos não-familiares7, apesar

de representarem apenas 2% dos estabelecimentos, produzem pouco mais de 30% do valor bruto da pro-dução. Já os estabelecimentos familiares8, apesar de

7. São os critérios adotados pelo PRONAF para financiamento da agricultura familiar: contratam até 2 empregados permanentes nas tarefas agrícolas, área inferior a quatro módulos fiscais e valor bruto da produção menor que R$ 27.500,00 em 1995/96. Os estabelecimentos com mais de 2 empregados permanentes ou com área e renda maiores do que o padrão, são considerados não-familiares. Para detalhes sobre a tipologia veja "Tipos de Estabelecimentos do Estado do Paraná", CD-Room/IAPAR.

8. Os estabelecimentos familiares são os que se enquadram nos critérios do PRONAF, podendo ainda ser subdivididos em: familiar (contratam apenas mão-de-obra temporária nos picos de demanda de trabalho) e os familiares empregadores (contratam até dois empregados permanentes).

Gráfico 1: evolução do rendimento médio do trabalho principal das pessoas

com domicílio rural, durante os meses de setembro, segundo o ramo de ativida-de. Brasil, 1992-99. Renda Média (R$) 1993 1995 1996 1997 1998 1999 350,00 300,00 250,00 200,00 150,00 100,00 50,00 0,00 Agrícola Não-agrícola 1992

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representarem 63% dos estabelecimentos do Paraná em 1995/96, respondiam por apenas 18% do valor bruto da produção. Em outras palavras, esses dados mostram que os estabelecimentos de empregadores (não familia-res), possuindo maior quantidade de área e grau de tecnologia, conseguem uma margem de renda bem maior. Já os estabelecimentos familiares, produzindo para o mercado interno, com pouca área e baixa tecnologia, são os que recebem as menores remunerações.

Fonte: CD-Rom/IAPAR9, reprocessamento do Censo Agropecuário.

Ao longo dos anos 90 ampliou-se a distância entre o segmento familiar e o patronal da nossa agri-cultura10. Ou seja, a distância entre os proprietários

familiares e os grandes empregadores da nossa agropecuária é cada vez maior; e, no meio deles, um contingente de pequenas e médias empresas familia-res que empregam poucos trabalhadofamilia-res permanen-tes, mas muitos temporários, que vinham se fortale-cendo nas décadas anteriores, vêm perdendo espaço, especialmente após o Plano Real.

A queda da rentabilidade se deve, em nossa opi-nião, a três elementos fundamentais: a queda dos

pre-Familiar

menor menor Familiarempregador menor menor

Não Familiar

maior maior Outros 70 60 50 40 30 20 10 0 Número Área (1.000ha) E.H. VBPV P articipação (%)

9. Doretto, M.; Laurenti, A. e Del Grossi, M.E. Tipos de estabeleci-mentos agropecuários do Estado do Paraná, 1995-96. CD-Rom. IAPAR, 2001. No CD-Rom são explicados os conceitos “menor menor” e “maior maior” utilizados no gráfico 2. De forma simplificada “menor menor” sig-nifica que os estabelecimentos se enquadram nos critérios de defi-nição de agricultura familiar.” 10. Para maiores detalhes veja Graziano da Silva, J. e Del Grossi, M.E. "A evolução da agricultura familiar e do agribusiness nos anos 90". IN: RATTNER, H. Brasil no limiar do século XXI. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 2000. p.139-157.

Gráfico 2: Principais tipos de estabelecimentos agropecuários do Estado do

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ços dos produtos agropecuários; a elevação dos custos do trabalho e do crédito rural e a redução do ritmo de inovação no setor agropecuário. Vejamos rapidamente o papel de cada um desses elementos no processo de diferenciação social dos produtores agropecuários.

Como sabemos, o Governo Collor promoveu, em 1990, uma abertura indiscriminada das impor-tações com o objetivo de auxiliar no combate à in-flação vigente. Ocorre que os preços das commodities agrícolas estão em queda há 30 anos11. O resultado

foi uma internalização dos baixos preços vigentes nos mercados internacionais, os quais refletem fun-damentalmente as políticas agrícolas protecionistas dos países desenvolvidos e especialmente os subsí-dios às exportações de produtos agrícolas praticadas pelos EUA, Canadá e CEE12. Acrescente-se ao

des-monte do aparato institucional do Ministério da Agricultura e do Ministério da Indústria e Comér-cio que se refletiu na perda de eficácia dos princi-pais instrumentos de política agrícola ainda vigen-tes no final dos anos 80, como a política de preços mínimos e dos mecanismos de regulação estatal de nossos principais produtos, como o do açúcar e ál-cool, do trigo e da soja, do café etc.

O segundo elemento – a elevação dos custos de produção, – se deve em parte à recuperação do valor real do salário mínimo promovida a partir do Gover-no Itamar Franco (1992-94) que se refletiu Gover-no siste-ma de produção, não apenas dos grandes emprega-dores, mas também daquelas empresas familiares que empregam poucos trabalhadores permanentes, mas muitos temporários. Vale lembrar que o salário míni-mo funciona comíni-mo uma espécie de farol para os salá-rios rurais, especialmente no caso dos trabalhadores temporários. Também contribuem para o aumento dos custos de produção as elevadas taxas de juros vi-gentes para o crédito em geral e, de forma específica, para o crédito rural de custeio, o qual já não embutia

11. Monteiro, M. J. C. Trinta anos de queda. Agroanalysis, v.18, no 2, pp. 26-31, fev. 1998. 12. É importante que se esclareça que esses subsídios às exportações foram o tema central da Rodada Uruguaia do GATT, que se arrastou pelos anos 90 e que embora esses subsídios sejam amplamente condenados por todos, seguem sendo uma das políticas mais importantes, particularmente dos Estados Unidos, que dependem dos mercados externos para realizar quase 40% de sua produção agrícola.

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mais qualquer subsídio na medida em que se tornou pós-fixado com correção monetária integral, desde meados dos anos 80. Ressalte-se que o aumento dos custos de produção só não foi maior pela defasagem cambial vigente até a desva-lorização do real no início de 1999, que barateava os insumos químicos, grande parte dos quais passaram a ser novamente importados com a abertura da econo-mia em 1990, especialmente fertilizantes e defensivos.

O terceiro elemento que responde pela queda da rentabilidade da produ-ção agrícola é o arrefecimento do ritmo de inovaprodu-ção da nossa agropecuária no final do século. Alguns querem ver aí um certo esgotamento do padrão de mo-dernização da agricultura, baseado no cultivo intensivo apoiado na mecanização e no uso de insumos químicos. Mas todos concordam que a queda dos recursos públicos para a pesquisa agropecuária, o desmantelamento das agências estatais de assistência técnica e extensão rural foram fundamentais para a redução do ritmo de inovação, especialmente dos pequenos produtores que não consegui-ram ter acesso a novas tecnologias por mecanismos privados.

Resumindo, a conjugação desses três elementos – a queda dos preços dos produtos agropecuários; a elevação dos custos do trabalho e do crédito; e a redu-ção do ritmo de inovaredu-ção no setor agropecuário – resultaram numa sensível queda da renda proveniente das atividades agropecuárias. E isso vem se refletin-do de maneira muito diferente entre os vários tipos de produtores, familiares e patronais, grandes e pequenos.

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Capítulo 2

A Novidade na Modernização:

A Terceirização

Nos países mais desenvolvidos é visível o cresci-mento de um novo paradigma13 técnico-produtivo,

também chamado pós-industrial, demarcado pela ele-vação do conteúdo tecnológico e pela redução no ta-manho das plantas industriais, e conseqüente queda relativa dos empregos no setor industrial da econo-mia. Assiste-se ainda à proliferação de empresas prestadoras de serviços técnico-produtivos especializados por toda a economia14.

Transformações semelhantes vêm ocorrendo em nossa agropecuária nas últimas décadas. Com a esca-lada tecnológica das máquinas e equipamentos, com-prar a tecnologia de ponta pode ser um investimento muito alto para os produtores. A opção do aluguel de máquinas e equipamentos, ou a contratação tempo-rária de serviços especializados, como a manipulação de embriões, tratos culturais nas lavouras, etc., pode ser mais interessante para o produtor15.

Os ônus do equipamento parado após a execu-ção da tarefa, da manutenexecu-ção, da atualizaexecu-ção tecnológica da máquina e da sua utilização ficam por conta da firma contratada. Mais que isso, a possibili-dade de terceirização dos serviços agropecuários abre

13. Corresponde ao novo modelo de produção, baseado fortemente em tecnologias de informação.

14. Tais mudanças já são sentidas no Brasil, particularmente com a queda do emprego industrial e o crescimento do setor terciário. Porém, apesar de as empresas prestadoras de serviços tecnológicos e produtivos também crescerem, o grande contingente dos trabalhadores do setor terciário está ocupado em serviços pessoais.

15. Baseado em Laurenti: Terceirização na produção agrícola – a dissociação entre a propriedade e o uso dos instrumentos de trabalho na moderna produção agrícola paranaense. IAPAR-IICA/ PROCODER, 2000, 201p.

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a oportunidade de uso de tecnologias modernas para milhares de produtores que não poderiam adquirir um equipamento mais sofisticado.

A terceirização dos trabalhos e serviços agrários também vem dar maior flexibilidade à produção anu-al, pois o produtor não fica "preso" ao equipamento de sua propriedade, optando pela lavoura que lhe for mais interessante em cada safra.

E esse fenômeno já ocorre em nossa agropecuária? Os dados do Censo Agropecuário do Paraná re-alizado pelo IBGE16 em 1995/96 (Tabela 1),

mos-tram que dos 294.765 estabelecimentos classificados como familiares, 126.180 utilizam força de tração me-cânica e/ou equipamentos (FTME) de terceiros.

No Brasil o número de estabelecimentos que utili-zaram algum serviço de terceiros chega à casa dos 891 mil, especialmente nos estabelecimentos com até 10 ha. A tarefa de terceiros mais contratada é a colheita mecânica das lavouras, justamente porque a colheita exige um equipamento específico para essa atividade. Já os tratores, arados, pulverizadores etc., podem ser adaptados a várias culturas. Essa combinação de má-quinas próprias com mámá-quinas de terceiros configura a situação de "terceirização parcial" como designou Laurenti (2000). Barion Transportes – contratada para serviços de colheita mecânica em vários estados 16. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (www.ibge.gov.br)

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Tabela 01. Distribuição dos estabelecimentos agropecuários, área total, eqüivalente-homem (EH) e valor bruto da produção vendida (VBPV), segundo a composição do pessoal ocupado, grupo de eqüivalente-homem, uso da força de tração e empreita de máquinas e equipamentos. Estado do Paraná, 1995.

TOTAL

ITEM Estabele- Área EH (f ) VBPV (g)

cimentos 1.000 (ha) 1.000 R$

TOTAL 369.875 15.947 1.126.118 5.066.095

Com declaração de receita 354.037 15.207 1.094.681 5.066.095

Sem declaração (a) 12 3 42 454

Coletiva (b) 26.393 2.834 110.725 1.006.650

Individual 327.632 12.370 983.914 4.058.990

Sem declaração de área total 21 0 31 167

TOTAL FAMILIAR (C) 294.765 6.892 816.978 2.346.375

Com uso de FTME (d) próprios 113.446 3.341 344.631 1.066.699 Com uso de FTME de terceiros 126.180 2.535 344.528 1.090.837

Sem uso de FTME 55.139 1.016 127.819 188.839

Familiar com até 1 EH 44.254 745 44.253 235.562

Com uso de FTME (d) próprios 11.641 257 11.641 86.310

Com uso de FTME de terceiros 18.231 267 18.231 115.906

Sem uso de FTME 14.382 221 14.382 33.345

Familiar com EH entre 1 e 2 89.915 1.909 162.888 583.597

Com uso de FTME (d) próprios 32.248 842 59.538 246.151

Com uso de FTME de terceiros 37.985 677 67.450 270.653

Sem uso de FTME 19.682 390 35.900 66.793

Familiar com 3 ou mais EH 160.596 4.238 609.837 1.527.216

Com uso de FTME (d) próprios 69.557 2.241 273.452 734.238

Com uso de FTME de terceiros 69.964 1.592 258.848 704.278

Sem uso de FTME 21.075 405 77.537 88.700

Total não familiar (e) 32.846 5.478 166.906 1.712.448

Fonte: Tipos de Estabelecimentos Agropecuários do Estado do Paraná de 1995-96, IAPAR/ASE, cd-rom. a) Estabelecimento sem informação da condição de propriedade da terra ou posição ignorada do pessoal

ocupado.

b) Condomínio ou sociedade de pessoas; cooperativas; sociedade anônima ou por cotas; instituição pia ou religiosa; governo etc.

c) Estabelecimento dirigido por produtor e sendo a mão-de-obra familiar igual ou superior à metade do total de pessoal ocupado.

d) FTME = Força de Tração animal e ou mecânica e Máquina e ou Equipamento.

e) Estabelecimento dirigido por administrador ou com mão-de-obra familiar menor que a metade do total de pessoal ocupado.

f ) E.H. = Eqüivalente Homem – Corresponde a uma jornada anual de 300 dias de trabalho de um homem adulto.

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Com o progresso técnico têm-se ampliado os intervalos de tempo entre as operações agrícolas, ou os períodos de inatividade entre uma tarefa e outra na produção agropecuária. Porém, isso significa que os sistemas de produção tendem para um menor nú-mero de tratos culturais, reduzindo assim a necessi-dade de mão-de-obra na agricultura.

A colheitadeira automotriz, por exemplo, tornou contínua a seqüência dos trabalhos ceifa amontoa

-trilha - transporte, isto é, eliminou os intervalos de

não-trabalho entre essas operações. Da mesma forma, o sis-tema de cultivo baseado na semeadura direta, não rea-lizando assim o preparo do solo e as capinas mecâni-cas, também diminui o tempo de trabalho nas lavou-ras e reduz o número de tarefas a serem executadas.

Em resumo, no plano estritamente técnico ou agronômico, o uso das inovações tecnológicas tem promovido o aumento da produtividade física do tra-balho e o desengajamento de pessoas do processo de produção agrícola, tanto pelo uso de maquinaria, re-duzindo o número de operações agrícolas, quanto pela simplificação17 das tarefas agrícolas.

E essa redução de pessoas em nossa agropecuária já acontece?

A resposta a essa pergunta é afirmativa e pode ser comprovada. Uma das formas é utilizando os dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios -PNADs, do IBGE. Essa pesquisa de abrangência nacional, com exceção das áreas rurais da antiga região Norte do país (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima), pergunta às pessoas qual o ramo da economia em que elas estavam ocupadas18. As

pes-soas ocupadas na agricultura podem ser observadas no Gráfico 3. A população ocupada na agricultura cres-ceu até 1985/86, período do Plano Cruzado, e depois vem se reduzindo gradativamente. A diferença entre os anos de 1990 e 1992 se deve a uma mudança

17. Termo originalmente utilizado por Green, R. e Santos, R.R. Uma reflexão teórico-metodológica sobre o processo de reestruturação do setor agro-alimentar na América Latina. Seminário "Inovações tecnológicas e reestruturação do sistema alimentar". UFPR - Curitiba, 26 a 28/6/1991.

18. Essa questão e a maioria das outras perguntas sobre trabalho nas PNADs são referentes ao mês de setembro.

19. Para maiores detalhes veja em Del Grossi: Evolução das ocupações rurais não-agrícolas no meio rural brasileiro. UNICAMP, 1999. (Tese de Doutorado)

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16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 P essoas (milhões) 1981|1982|1983|1984|1985|1986|1987|1988|1989|1990|1991|1992|1993|1994|1995|1996|1997|1998|1999|

conceitual, não corrigida plenamente19, e em 1999 tem-se uma suave recuperação

do número de pessoas ocupadas na agricultura.

A expansão da modernização, e principalmente da terceirização das tarefas agrícolas, conduz a uma individualização da atividade agrícola, com reflexos importantes na organização do trabalho familiar. O que era atividade de toda a família, hoje pode ser feita por apenas uma pessoa. A Tabela 2 mostra as pessoas que se ocupam da agricultura segundo a sua condição na família e gênero. É possível observar que os homens adultos referência da pesquisa, estão estáveis em torno de 6,4 milhões de pessoas. Em menor número, mas também estáveis, estão a mulher cônjuge, em torno de 1,9 milhões.

Gráfico 3: Evolução da população ocupada na agricultura no Brasil.

Tabela 2: Evolução

das pessoas ocupadas na agricultura, segundo a condição na família e gê-nero. Brasil, 1992-99

Condição na Família 1992 1999 taxa 92/99

(1.000) (1.000) %ªa Pessoa de referência Masculino 6.456 6.330 -0,5 Feminino 336 327 -0,9 Cônjuge Masculino 14 30 17,6 *** Feminino 1.939 1.918 -1,0 Filhos Masculino 4.274 3.531 -3,2 *** Feminino 1.085 871 -4,7 *** Outros Masculino 581 519 -2,6 *** Feminino 168 133 -4,3 *** *** indica 5% de confiança, estimado pelo coeficiente de regressão log-linear contra o tempo. Fonte: ASE/IAPAR, projeto RURBANO

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Mas quanto aos filhos, esse contigente vem so-frendo uma forte redução: quase 700 mil filhos e 200 mil filhas de agricultores deixaram as atividades agrí-colas ao longo dos anos 90. O número de mulheres cônjuges bem inferior ao de homens de referência da pesquisa, mostra que as cônjuges mulheres se dedi-cam parcialmente à atividade agrícola.

Em outras palavras, quem cuida da agricultura no Brasil são os pais homens, contando com a ajuda parcial e decrescente dos filhos homens e da esposa. É nesse sentido a tendência de individualização, masculinização e envelhecimento dos trabalhadores que se dedicam às atividades agrícolas.

Para um futuro próximo já é possível vislumbrar20

a possibilidade da "agricultura de gestão", na qual o produtor exerce principalmente a função de gerência das atividades agrícolas, contratando os serviços ne-cessários para sua atividade via telefone. Esse tipo de agricultura poderá não representar a maioria no fu-turo, mas poderá ser uma possibilidade viável para muitos produtores.

Os serviços que poderão ser contratados são os mais diversos como: implantação de lavoura; produ-ção e aplicaprodu-ção de inimigos naturais dos agentes cau-sais de pragas e doenças na produção agropecuária; planificação e aplicação de fertilizantes e outros insumos; colheita; inseminação artificial; empresas co-letoras de detritos agropecuários (caminhão pipa para esgotamento de fossa coletora de dejetos oriundos da pecuária de galpão e transporte para centrais de beneficiamento); gestão econômico-financeira etc.

Essa contínua simplificação de tarefas agrícolas, tendendo a individualizar o trabalho agrícola, libera os membros da família para outras atividades, agríco-las ou não-agrícoagríco-las, dentro ou fora do estabelecimen-to agropecuário. Mesmo as pessoas que ficam incum-bidas diretamente das atividades agrícolas não têm o tempo todo tomado pelas atividades agrícolas:

sur-20. Baseado em Laurenti, A.C. Terceirização dos trabalhos agrários e o "novo rural". IN: Anais da Oficina de Atualização Temática sobre Ocupações Rurais Não-Agrícolas. IAPAR, 2000.

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gem então os estabelecimentos part-time farmer, que pode ser traduzido como agricultores em tempo parcial.

Essa combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas, se observada pela ótica da família, ficou conhecida por pluriatividade. A diferença do conceito anterior, é que o conceito de part-time está ligado aos estabelecimentos agropecuários, ou seja, com uma unidade econômica, enquanto que a pluriatividade está ligada às famílias, ou seja, com uma unidade social e demográfica.

Em síntese, a modernização da base técnica da agricultura brasileira con-tinuou avançando nos anos 90, simplificando o número de tarefas agropecuárias. A terceirização das tarefas agrícolas potencializou esse proces-so. De certa forma ocorre um "desmonte" das tarefas produtivas do interior do estabelecimento em favor de terceiros, liberando as pessoas das famílias para outras atividades, agrícolas ou não-agrícolas, no interior do estabeleci-mento agropecuário ou fora de seus limites.

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Capítulo 3

Novas Atividades

A modernização não avançou somente no senti-do de simplificar a base técnica na produção de

commodities, mas também na exploração de "novas"

oportunidades de negócios.

O termo "novas" foi colocado entre aspas por-que muitas dessas atividades, na verdade, são secula-res no País, mas não tinham até recentemente impor-tância como atividades econômicas. Eram atividades "de fundo de quintal" ou hobbies pessoais que foram transformados em importantes alternativas de empre-go e renda no meio rural nos anos mais recentes.

Um aspecto que deve ser destacado refere-se ao fato de que várias dessas atividades, antes pouco va-lorizadas e dispersas, passaram a integrar verdadeiras cadeias produtivas, envolvendo, na maioria dos ca-sos, não apenas transformações agroindustriais, mas também serviços pessoais e produtivos relativamente complexos e sofisticados nos ramos da distribuição, comunicações e embalagens.

Em outras palavras, muitos desses novos negócios nascem com a cadeia praticamente completa, desde os fornecedores, a própria atividade, a agroindustrialização e distribuição ou os serviços derivados dessas ativida-des. Nos exemplos a seguir a complexidade dessas no-vas atividades ficará mais clara.

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Piscicultura

Essa atividade talvez seja o melhor exemplo da nova ruralidade no Brasil. Assistimos na última década a uma explosão do número de pesque-pagues por todo o País, notadamente nos estados das regiões Sudeste e Sul. O crescimento do número de pesqueiros, mais a demanda para o processamento industrial, foram as bases da expansão da piscicultura.

Os pesque-pagues, destinados ao lazer da classe média urbana, normal-mente localizados em chácaras e sítios de fácil acesso pelas principais rodovias, oferecem aos clientes bons e diversificados serviços – estacionamento, lancho-nete, material para pesca etc. Muitas dessas chácaras trocaram a agricultura por esta atividade, que responde por mais de 90% do destino dos peixes criados em cativeiro (tilápia, pacu, piaucú, matrinxã, pintado, cat fish, truta – durante o

Pesqueiro Ishikawa em Londrina: opção de lazer rural

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inverno – entre outros). O maior estímulo dos pesqueiros é a possibilidade de gerar uma receita para os proprietários, às vezes, bem superior a muitas commodities. É interessante observar que muitas áreas destinadas aos pesqueiros inicial-mente eram marginais à produção de grãos. Com os pesqueiros tornaram-se as áreas mais valorizadas da propriedade.

Essas novas atividades chamam a atenção para a quantidade de fornecedores e serviços que surgem, derivados da expansão de pesqueiros. O primeiro deles, evidentemente, é a engorda de peixes para fornecer aos pesqueiros. Seria perda de espaço e tempo se os pesque-pagues também utilizassem seus tanques para cresci-mento e engorda de seus peixes, já que sua remuneração está baseada na circula-ção rápida do capital investido, além de criar um mal-estar entre os seus freqüentadores se em alguns tanques for proibida a pesca.

Tanques de engorda de peixes para fornecimento aos Pesque-Pagues.

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Não somente os piscicultores de crescimento e engorda de peixes são esti-mulados. Os produtores de alevinos para os piscicultores também o são, criando um mercado importante de reprodução não somente de nossas espécies nativas (como os pintados, dourados, piaparas, entre tantos outros), mas também de peixes exóticos (como o bagre africano ou americano, entre outros).

Na região Norte do Paraná, por exemplo, a Aquabel é considerada a maior produtora de alevinos de tilápia do Brasil, chegando a entregar até 4 milhões de alevinos/mês.

O encadeamento não termina por aí. As indústrias de rações especializadas também são estimuladas, com a produção de rações específicas para alevinos, rações de crescimento, engorda e manutenção. Isso sem falar na indústria vete-rinária na fabricação de hormônios de crescimento, reprodução ou reversão se-xual, controle de doenças, entre tantos outros produtos que são utilizados ao longo da cadeia produtiva dos pesque-pagues.

E as minhocas para fisgar os peixes? Também a criação de minhocas em geral é desenvolvida por outros produtores, que se especializam nessa técnica. Como as demais, quase todas essas "novas" atividades são complexas e exigem estudo e dedicação por parte dos produtores. A produção de minhocas no pró-prio pesqueiro dificilmente seria eficiente, pois seria mais uma tarefa relativa-mente complexa para cuidar, criando o risco de não se dar a devida atenção aos clientes do pesqueiro.

O produtor de minhocas, por outro lado, tem a possibilidade de utilizar os dejetos da pecuária como fonte de matéria orgânica compostada, para a criação de minhocas, além de ter a opção da venda de adubo orgânico.

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No mesma linha está a produção de varas para pescar. Ao chegar ao pes-queiro, o cliente menos equipado precisará de varas preparadas, com linha e anzol adequados, para o lazer nos tanques. Também aqui há um estímulo aos produtores de varas para pescar que, com freqüência, farão a reposição das varas danificadas nas pescarias.

Não podemos esquecer do encadeamento em torno de um pesqueiro, da enorme quantidade de lojas especializadas ou não, que vendem os mais variados artigos de pesca aos "pirangueiros" de final de semana.

Produção de minhocas para pescaria

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Se os encadeamentos ligados à pesca já impressio-nam, os relativos ao setor de serviços também não ficam atrás. Refrigerantes, cervejas ou sucos, servidos à beira dos tanques ou na sede do pesqueiro, geram uma importante fonte de receita, às vezes tão importante quanto o peixe fisgado nos tanques.

Há ainda outro grande atrativo nos pesqueiros: o res-taurante ou lanchonete. Depois de horas na pesca, é natural que as pessoas queiram apreciar o peixe fresco, nos mais variados cardápios de nossa culinária. Também pode ser a opção de lazer daqueles que não gostam de pescar, mas gos-tam de saborear a culinária rural.

Mais uma vez o encadeamento: os restaurantes nos pesqueiros não precisam se limitar aos peixes fisgados em seus tanques, mas também podem oferecer ao cliente pra-tos com peixes exóticos ou nativos, comprados de outros piscicultores.

Uma nova possibilidade de encadeamento é o aproveita-mento das carcaças. Após a pesca, dificilmente os clientes le-varão os peixes sem limpá-los e cortá-los adequadamente, exis-tindo vários cortes de acordo com a opção do cliente na hora da limpeza. Talvez a filetagem do peixe seja a atividade que gera maior resíduo no pesque-pague, já que além das vísceras, cabeça e nadadeiras, também o couro do peixe é retirado. Como já existe tecnologia disponível para tratamento do resí-duo dos peixes para fabricação de adubos, e também para aproveitamento do couro para fabricação de peças de vestuá-rio, essas duas atividades irão gerar importantes encadeamen-tos para frente no negócio da piscicultura.

Ainda sobre a piscicultura, não somente a pesca em tan-ques tem crescido. Há uma outra oportunidade relacionada à pesca esportiva: muitos turistas, nacionais e estrangeiros, são atraídos para esta modalidade de turismo nas principais baci-as hidrográficbaci-as brbaci-asileirbaci-as – Pantanal, Amazonbaci-as e Paraná –, além da pesca litorânea na Bahia, Espírito Santo, Santa Catarina e outros estados. Essas regiões possuem boa infra-estrutura e oferecem uma rede de serviços de qualidade, fatos que tor-nam esta atividade uma importante fonte de divisas21.

21. Paul, G. Pesca milagrosa. Revista Veja. São Paulo, 29/11/95. p.76-78.

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Também pelo lado do processamento industrial, a piscicultura pode con-verter-se em importante atividade rural e fonte de renda para os agricultores. Cooperativas já adentram nesse ramo, instalando frigoríficos com grande capa-cidade diária para processar peixe. Em geral a criação dá-se pelo sistema de semi-integração, em que a cooperativa fornece os alevinos, a assistência técnica e a ração. Dessa forma, o abastecimento da indústria fica garantido, uma vez que ela compete com os pesque-pagues pelo fornecimento da matéria-prima e estes, geralmente, pagam um preço melhor pelo quilo do peixe.

Todas essas novas atividades giram em torno da piscicultura e cresceram ori-entadas para atender novos segmentos de mercado. A partir da procura urbana pelo consumo ou lazer na forma de pesca, surge uma série de novos produtores dos mais diferentes itens da piscicultura, formando assim uma cadeia completa e complexa. Muitas dessas atividades geraram ocupações tradicionais do ramo da agricultura, como a engorda de peixes ou criação de minhocas, mas também gera-ram várias ocupações que têm pouco a ver com a atividade agrícola propriamente dita, como os garçons, caixas, cozinheiros, faxineiros, entre outras, nos pesqueiros. Além da piscicultura, já existe uma grande quantidade de novas atividades com encadeamentos produtivos importantes. Listamos algumas abaixo.

Agroindústrias Rurais

Uma série de agroindústrias processadoras estão se desenvolvendo por todo o País, explorando pequenos nichos de mercado. Muitas são atividades artesanais, ou quase, explorando os mais variados mercados: doces, bebidas, vinhos, salga-dos, carnes e derivasalga-dos, lácteos e derivados etc. A cultura brasileira tem uma culinária muito rica e as possibilidades de explorar comercialmente esses dife-rentes "sabores" regionais, principalmente se tiver alguma origem étnica, tem potencial crescente em todo o mundo.

Frigoríficos rurais estão proliferando por todo meio rural, atendendo os mais vari-ados mercvari-ados. Em Rolândia, por exemplo, um frigorífico, além de produzir apresuntado, bacon, salames e lingüiças, iniciou também a produção de kits para feijoada, aprovei-tando melhor partes dos suínos como orelhas, pés, caudas, couro etc.

Inúmeras outras atividades agroindustriais estão se disseminando pelo cam-po: fábricas de balas, doces, embutidos, lácteos, salgados, refeições industriais, etc.

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Vários governos municipais e estaduais, e o pró-prio governo federal, têm lançado programas especí-ficos de agroindustrialização, com os mais diferentes nomes. O programa Fábrica do Agricultor do Paraná22, por exemplo, já oficializou e incentivou

quase 1000 fábricas pelo interior do estado, melho-rando os aspectos de sanidade e de apresentação mercadológica dos produtos.

Criação de "Aves Nobres"

O Brasil tem uma fauna riquíssima, com enor-me potencial para vários tipos de cadeias produtivas. Uma delas é a criação de aves nobres, e mesmo exóti-cas ao nosso território.

São comuns notícias de fazendas acrescentando à produção nova atividade, ou mesmo trocando a produção agrícola tradicional pela criação de aves nobres e exóticas (matrizes importadas da Europa, África e Ásia). Faisões, perdizes e codornas gigantes francesas para corte já são comuns em nossos

Agroindústria de queijos

Aperitivos e balas

Embutidos e defumados

22. Para maiores informações veja em www.pr.gov.br/seab.

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criadouros. As aves de corte são comercializadas em supermercados e restaurantes, além da agroindústria – como a Perdigão, que desde 1989 comercializa essa linha de aves raras23.

A avestruz é uma das aves típicas desses negó-cios. Importado da África, já tem seus criadouros dis-seminados pelo País, visando à produção de carne (com baixo teor de gordura), couro ou para fins or-namentais. Em três anos o plantel brasileiro saltou de 50 mil aves para 150 mil aves em 2001, movimen-tando aproximadamente U$300 milhões24. O grau

de sofisticação chega a ser tão elevado que a identifi-cação dos animais é feita pela introdução de "chip" para leitura eletrônica, logo após a eclosão dos ovos.Também nesse caso o público alvo é o consumi-dor urbano, quer em restaurantes típicos que servem carnes exóticas, quer para redes de supermercados que ensaiam entrar nesse segmento de mercado.

Situações similares repetem-se com a criação de gansos, patos, galinhas de angola, pavões, marrecos25,

pássaros de canto e de porte, que, de simples hobbies de seus criadores, passaram a representar negócios lucrativos26. Vejam-se por exemplo as feiras de

cria-Casaco de couro de avestruz Criação de avestruzes 23. Folha de S. Paulo, 24/04/96 24. Dados da Associação de Criadores de Avestruzes do Brasil. Gazeta Mercantil, 06/11/01.

25. Globo Rural, Maio/2001. 26. Globo Rural: "Ganso: nas águas da tradição". Jan/1996; "Pato com sotaque francês", Ago/1996; "Javali: o porco de sangue azul", Out/1996; "Jataí: doce selvagem", Mar/1997.

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dores dos mais variados tipos de canários que aconte-cem por todo o País, nas quais alguns exemplares che-gam a valer muito mais que várias cabeças de boi.

Até mesmo a nossa galinha caipira voltou à moda. Os criatórios de galinhas soltas no terreiro têm prolife-rado em todo País, buscando servir o consumidor ur-bano sedento de alimentos naturais. Mesmo grandes frigoríficos têm adicionado à pauta a produção de ga-linhas caipiras, de olho nesse mercado ascendente.

Rãs

Entre 1988 e 1996, a produção brasileira de car-ne de rã cresceu mais de 150%, atingindo 200 tocar-ne- tone-ladas nesse último ano. Como a tendência de criação em cativeiro tem sido forte, dentro de um processo de produção industrial e de profissionalização da ati-vidade27, nesse período houve uma substancial

redu-ção do número de ranários, principalmente daqueles que se baseavam na caça. Apesar dessa redução, o Brasil é o líder mundial na produção em cativeiro. Para se ter algumas noções das transformações que estão ocorrendo nessa atividade, é interessante citar

Frango caipira preparado para consumo.

Criação de frangos caipiras

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que as principais empresas envolvidas já estão partin-do para a produção integrada (ou semi-integrada), nos mesmos moldes da criação de aves e suínos no sul do País. Também há investimentos na construção de laboratórios de melhoramento genético de rãs28.

Criação de outros

animais para corte

Embora seja muito difícil a quantificação dessas atividades no Brasil, também devem ser citadas as criações de camarão de água doce, capivaras, jacaré-de-papo-amarelo, javalis e scargot. Elas se destinam à produção de carnes para restaurantes de luxo dos gran-des centros urbanos do País e do exterior, além de vários outros produtos de origem animal. Uma ativi-dade relacionada a esse ramo é a fazenda de caça que, no entanto, ainda é incipiente no País, mas que já integra o roteiro de turismo rural no Paraná.

Criação de javalis

28. Gazeta Mercantil, 10/10/96

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Ainda no Paraná, a carne de coelhos já ocupa espaço importante nas gôndolas de grandes redes de supermercados. O encadeamento gerado por essa atividade envolve a produção de matrizes, gaiolas, rações, produtores, frigorífico, distri-buição e comercialização.

Produção orgânica de ervas aromáticas e

medicinais

Essa atividade é impulsionada por grandes grupos da indústria farmacêuti-ca (como Rhodia Farm, Merck e Weleda), mas também pela produção de espé-cies destinadas à fabricação de temperos e condimentos dos mais diversos sabo-res. Geralmente produzidos em pequenas propriedades, ligadas tanto a grandes quanto a pequenas agroindústrias, muitas dessas pertencentes aos próprios agri-cultores, o setor de ervas medicinais e condimentos (naturais ou desidratados e embalados) está em franca expansão no Brasil. Na região amazônica, por exem-plo, o conhecimento das ervas medicinais dos pajés já está sendo catalogado.

Criação de coelhos

Carne de coelho pronta para consumo

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Produção orgânica para mercado

internacional diferenciado

Procurando conquistar mercados nacionais e in-ternacionais diferenciados, com um valor mais ele-vado para o produto, a produção de orgânicos em grande escala tem compensando o maior custo de produção. A produção de óleo de dendê no Pará é um exemplo. Outro é o café ecológico dos cerrados mineiro e paulista, exportado para o Japão a um pre-ço 30% superior à média do mercado interno, que já está sendo industrializado com uma marca especí-fica29. Também podem ser citadas as produções de

óleo de babaçu, no Rio Grande do Norte, do açúcar no Estado de São Paulo e da soja, no Estado do Paraná, cujos produtos, isentos de agrotóxicos, são destinados ao mercado externo.

Nesse sentido a presença de "selos" certificando a origem orgânica dos produtos, tem-se tornado co-mum em nossos mercados, fornecendo um enorme

Produção de ervas aromáticas e medicinais

29. Soares, P. "Os lucros do café ecologicamente correto". Gazeta Mercantil, 20/10/1995.

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diferencial de competitividade desses produtos.

Uma curiosidade é que a certificação de produtos abriu um amplo leque de atuação de garantia de qualidade, tanto para instituições governamentais como não governamentais, seguindo normas nacionais e até internacionais. Os certi-ficados vão desde os orgânicos, naturais, não transgênicos, de origem regional, ou mesmo com maior apelo social, como a ausência de trabalho infantil.

Produção de verduras e legumes

Tem-se tornado comum o cultivo de verduras e legumes em estufas (plasticultura) e ou pelo método de hidroponia, sendo essas atividades altamente intensivas em mão-de-obra. No Estado de São Paulo por exemplo, apesar de te-rem participação de apenas 1% na área total cultivada com as principais culturas, as olerícolas respondem por cerca de 9% do total da demanda da força de trabalho agrícola. Seu expressivo crescimento é resposta à grande expansão e diferencia-ção do mercado consumidor, puxado, em grande medida, pelas redes de

fast-food e por alguns grandes supermercados que, embora possam se auto-abastecer

por meio de produção integrada, geralmente estabelecem parcerias com os agri-cultores. É importante lembrar que, além do estímulo à produção agrícola, a

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grande expansão das redes de fast-food tem um im-pacto significativo no consumo de produtos da agroindústria alimentícia (pão, carnes, queijo, sucos, temperos, etc.), o que torna esse setor um importan-te dinamizador do mercado.

Essa relação dos agricultores com as redes de su-permercado e de fast-food, além do fornecimento para sofisticados hotéis e restaurantes, acaba por determi-nar mudanças na forma de produzir e comercializar esses produtos. Primeiramente, há uma maior diversi-ficação da produção de olerícolas para garantir um melhor abastecimento e uma maior receita. Também ocorrem mudanças nos sistemas de produção, com a introdução da hidroponia e do cultivo orgânico, por exemplo. Outra mudança importante diz respeito ao processamento das olerícolas e sua comercialização na forma de saladas ou produtos individuais prontos para o consumo, cujos preços chegam a ser 30% maiores que o produto in natura, constituindo-se num meio de agregação de valor para os agricultores, bem como de criação de empregos. Não somente olerícolas estão sendo processadas, mas também a mandioca já está sendo vendida descascada e embalada (a vácuo em al-guns casos para maior longevidade do produto).

Produção de verduras em estufa

Produção de tomates em estufa Alimentos embalados e prontos para venda

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Floricultura e mudas

de plantas ornamentais

Com mercado consumidor em expansão, a flo-ricultura, além de propiciar melhor rendimento para os agricultores e seus familiares, por ser uma atividade intensiva, exige o emprego de muita mão-de-obra – familiar e contratada. Cada hectare cul-tivado pode ocupar até 50 pessoas, o que dá a esta atividade um importante potencial de geração de empregos. Segundo a Holambra, 170 dos seus co-operados respondem por 40% a 45% do mercado brasileiro de flores e plantas ornamentais. A busca de maior produtividade e de outras espécies para a floricultura comercial tem contribuído para a ex-pansão do cultivo para regiões mais distantes da cooperativa. Isto tem sido feito tanto pelos coope-rados da Holambra quanto por novos grupos que estão se dedicando à floricultura em outros esta-dos brasileiros. Especificamente com relação à pro-dução da Holambra, esta vem crescendo com a in-corporação dos filhos de agricultores já filiados à cooperativa. Esses "filhos de pequenos sitiantes da região de Holambra, no interior paulista, descon-tentes com os resultados do cultivo de grãos e cri-ação de gado, estão arrendando terras ou fazendo parcerias com seus pais para iniciar produções de flores e plantas ornamentais30". Também como

de-corrência do crescimento dessa atividade, deve-se destacar o aumento das criações de minhocas para a produção de húmus31.

Deve-se destacar ainda que a floricultura tem gran-de possibilidagran-de gran-de expansão, tendo em vista a riqueza da flora brasileira, com muitas espécies com potencial para ingressar em novos cultivos comerciais.

30. Gazeta Mercantil, 10/06/97

31. Globo Rural:

"Minhocultura: jogo limpo", Out/1996.

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Fruticultura de mesa e

produção de sucos naturais e

polpa de fruta congelada

A fruticultura no Brasil ainda tem grande po-tencial a ser explorado, não somente para exporta-ção, mas também para o mercado interno. A produ-ção de polpas congeladas de frutas regionais, como graviola, fruta-do-conde32, umbu, cajá e cupuaçu

(na-tivas do Norte e Nordeste), tem impulsionado o con-sumo de sucos naturais e de sorvetes produzidos artesanalmente. Também merece registro a importân-cia que tem o suco de laranja natural nesse segmento. Em 1996, segundo a Associação Brasileira de Expor-tadores de Citrus (Abecitrus), o consumo de suco de laranja caseiro no País foi de 2,4 bilhões de litros, com um faturamento de R$1,9 bilhão, enquanto os industrializados (concentrado, fresco, integral e reconstituído) responderam por apenas 170 milhões de litros e por um faturamento de R$ 250 milhões33.

Merecem também destaque o crescimento da fruticultura na região Centro-Oeste, em especial no cultivo da banana-maçã; o processo de reconversão

32. Globo Rural: "A hora da estrela". Abril/2001. 33. Ferrero, A. "Cresce a concorrência ao suco de laranja". Gazeta Mercantil, 20/06/1997.

Frutas: mercado com potencial de expansão

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produtiva, estimulado pela empresa M. Chandon, no cultivo da uva em algumas regiões produtoras no sul do País, com o uso de variedades destinadas à produção de espumantes finos; e o desenvolvimen-to da fruticultura irrigada na região Nordeste, prin-cipalmente nos estados da Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Reprodução de Plantas Extrativas

O palmito, o melhor exemplo desse tipo de pro-dução, está sendo obtido a partir de palmeiras que an-tes eram consideradas apenas plantas ornamentais, como é o caso da palmeira real34. A pupunha, uma

palmeira amazônica mais produtiva e resistente que o Palmito Jussara da Serra do Mar, já está sendo cultiva-da por grandes grupos empresariais, como o Grupo Capixaba Coser, a construtora Grafisa, a Frunorte (se-gunda maior exportadora de melões do país), além de cooperativas e produtores independentes. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Palmito Culti-vado, os investimentos já realizados para a produção de pupunha no País somam cerca de US$ 18 milhões num mercado que movimenta em torno de US$ 500 milhões anuais com os diversos tipos de palmito35.

Cultivo de cogumelos

O aumento do consumo de cogumelos nos gran-des centros urbanos tem estimulado o cultivo de no-vas espécies, além do tradicional champignon, como é o caso do Shiitake. Uma fazenda do Vale do Paraíba, região altamente industrializada do Estado de São

34. Globo Rural: "Palmito: do jardim ao campo". Nº.138, Abr/ 1997, p.46-48.

35. Branco, A. "A pupunha toma o lugar do palmito". Gazeta Mercantil, 18/06/1997.

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Paulo, que produzia madeira tratada de eucaliptus, encontrou na produção de sementes de cogumelos (os esporos são inoculados em moirões de eucaliptus) a saída para a crise decorrente da redução das enco-mendas36.

Complexos hípicos

Os negócios ligados ao hipismo movimentaram R$ 2,8 bilhões no período 1993-97 no Brasil37. Um

deles está sendo construído em Boituva, interior de São Paulo, com investimentos da ordem de R$ 5,5 milhões. Além de todas as instalações e atividades re-lacionadas ao hipismo (centro hípico com arena co-berta, provas, rodeios, shows), o empreendimento conta com toda a infra-estrutura de um grande hotel (piscinas, quadras de futebol, tênis, etc.), onde o car-dápio deverá incluir cabrito, javali, perdiz e outros animais exóticos, o que indica a sua inter-relação com a atividade de criação desses animais que foi mostra-da anteriormente.

36. Gazeta Mercantil: "Fazenda Guirra produz alternativa ao champignon", 18/06/1997. 37. Nascimento, S. "Os empresários investem na área country". Folha de São Paulo, 01/071997.

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Leilões e exposições

agropecuárias

As entidades ligadas ao setor estimam que os lei-lões – especialmente de cavalos e de gado de corte e leite – movimentaram cerca de US$ 700 milhões em 1996. Apesar de os leilões terem crescido em número de pregões, observa-se uma redução na oferta de ani-mais devido aos altos custos envolvidos. Há empre-sas especializadas que se encarregam da realização dos eventos, atuando desde a seleção e pré-avaliação dos animais até a contratação de financiamentos para dar suporte aos negócios realizados. As exposições agropecuárias são as que mais têm crescido: movi-mentam cerca de US$ 2,1 bilhões em aproximada-mente 2 mil eventos por ano no País38. Embora não

existam mais linhas de financiamento específicas para as exposições agropecuárias, há um aumento do pra-zo de recolhimento do ICMS sobre os produtos ven-didos nas feiras de modo geral, além de financiamen-tos direfinanciamen-tos feifinanciamen-tos pelos bancos, geralmente presentes nos eventos mais importantes.

Festas de rodeio

Essas atividades movimentaram cerca de US$ 500 milhões em 1996. Para se ter uma idéia da sua popularidade hoje no País, basta dizer que o seu pú-blico ultrapassou o total de torcedores presentes nos campeonatos de futebol: estima-se que 26 milhões de pessoas assistiram aos 1.238 rodeios em 1997. É uma atividade de muito dinamismo, que dá suporte para o crescimento econômico de muitas cidades pe-quenas e médias do interior. A Festa de Peão de Boiadeiro de Barretos, considerado o maior dos

even-38. Franco, L. Leilões e rodeios giram US$ 3,3 bi. Gazeta Mercantil, 20/06/1997.

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tos de rodeio do mundo, movimenta anualmente cer-ca de US$ 120 milhões, mais do que os US$ 45 mi-lhões movimentados pelo carnaval carioca. Durante a festa, que dura uma semana, a população da cida-de, de 110 mil habitantes, salta para 1,2 milhão. Na cidade de Americana, no interior de São Paulo, a fes-ta do Peão de Boiadeiro faz a população salfes-tar de 220 mil para 470 mil pessoas. Com um movimento de US$15 milhões numa semana, essa atividade já re-presenta cerca de 10% da receita da cidade e vem sendo uma das saídas para a crise do comércio local, causada pela decadência da indústria têxtil, responsá-vel por cerca de 60% da economia do município39.

Essas atividades do "negócio country" têm esti-mulado, também, a proliferação de outros negócios associados, como as grandes casas de espetáculo no interior do País. Um exemplo é a Red Eventos, construída em Jaguariúna – região de Campinas, a um custo de US$ 2 milhões, onde ocorrem promo-ções de shows musicais, exposipromo-ções, leilões, etc., ten-do reflexos importantes na economia local.

39. Cordeiro, E. "Americana investe na festa de peão". Gazeta Mercantil, 03/06/1997.

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É difícil ainda estimar o peso econômico dessas "novas" atividades agríco-las e não-agrícoagríco-las. Mas apenas para dar uma idéia da sua importância, basta dizer que os novos "mercados internos emergentes" constituídos pelas festas de rodeio, leilões e exposições agropecuárias movimentaram juntos cerca de US$ 3,3 bilhões em 1996, o que significa metade do valor das exportações brasileiras de soja (farelo e grão), café (cru em grão) e suco de laranja (congelado e concen-trado) no mesmo ano.

Educação e lazer rural

O espaço rural tem sido procurado também como local de estudo e conhe-cimento da Natureza, ou simplesmente para passar algumas horas no campo. O uso do espaço rural para aulas sobre ecologia, conhecimento e observação da fauna e da flora, não somente dos parques nacionais, mas também de reservas particulares, ou de espaços preparados para atividades pedagógicas, tem grande potencial de exploração comercial em todo o País.

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Turismo Rural

O turismo é uma das atividades que mais cres-cem no mundo, e o segmento do turismo rural está entre elas, com uma gama enorme de opções. Além dos já conhecidos pesque-pagues e hotéis-fazenda, co-muns em nossos municípios do interior, um novo e bem-sucedido serviço começa a ganhar força: a fa-zenda-hotel. A diferença básica é que, na fazenda-hotel, a fazenda continua com suas atividades e roti-nas originais. Como explicam Silva e Baldan40, "a

fa-zenda hotel está voltada para uma clientela urbana cada vez mais carente de contato com o cotidiano da terra, com a rotina de um modo de vida que, pelo menos no imaginário urbano, remete a uma reconci-liação com a natureza. (...) aqui as atrações não são ornamentais e isso é decisivo para o seu sucesso junto a um público saturado de simulações e banalizações impostas pelo mercado de consumo". Além de andar a cavalo, contemplar paisagens e praticar esportes, os hóspedes podem vivenciar rotinas que vão desde a ordenha até a alimentação do gado, o trato dos

suí-Circuito Italiano de Turismo Rural em Curitiba-PR 40. Silva, G. e Baldan, J.C. "Férias no campo". Globo Rural, Fev/1997.

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nos e as colheitas. As pessoas que procuram esse tipo de hotel não fazem tanta questão do conforto, mas a autenticidade de uma velha sede colonial é muitas vezes decisiva. E abrir o hotel é, muitas vezes, a forma de preservar a própria sede. É comum com o passar do tempo que a renda gerada pelos hóspedes acabe se tornando mais importante que aquela proveniente da atividade agropecuária.

Outra proposta semelhante é a de agriturismo praticada por pequenos agricultores familiares da AGRECO41, que além da produção orgânica acolhem

visitantes em sua propriedade. A recepção aos turis-tas é parte integrante de suas atividades, porém sem abandonar as atividades agrícolas.

O potencial do turismo rural pode crescer com a conjugação de lazer, história e cultura. Já há alguns anos, o turismo rural vem sendo explorado na região de Ponta Grossa, no Paraná, aproveitando o ciclo his-tórico do tropeirismo vivido pela região. Toda a

re-Hotel Lagoa das Pedras – Apucarana – PR

41. Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral. Para maiores detalhes veja www.cepagro.org.br.

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gião do segundo planalto paranaense era caminho das tropas que saíam do Rio Grande do Sul em direção principalmente a São Paulo ou Minas Gerais. Hoje, percorrer o mesmo caminho dos tropeiros, comer a mesma comida, preparada na fogueira no chão, acordar no mesmo horário das tropas, observar a natureza en-quanto se caminha, são atividades que atraem um número crescente de turistas.

Mas aqui entra um detalhe importante no turismo: a preparação e treina-mento do pessoal destinado a atender os turistas. Conhecer a cultura dos tropeiros, as histórias, a culinária, e prestar o melhor atendimento aos turistas exigem muita preparação e treinamento do pessoal ocupado.

Outro importante fator de indução do crescimento de atividades não-agrícolas no meio rural tem sido o aproveitamento para lazer das represas formadas para geração de energia elétrica. Para fins de ilustração, pode-se destacar a hidrovia Tietê-Paraná: nos seus atuais 1,1 mil quilômetros nave-gáveis entre o porto de Anhembi (SP) e o município de São Simão (GO), que movimentou, em 1996, cerca de US$ 300 milhões no transporte de grãos (1,2 milhão de toneladas dentre os 5 milhões transportados, princi-palmente de milho e soja), de cinco estados envolvidos: São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. Isso abre a possibilidade de grande desenvolvimento nos 206 municípios abrangidos pela hidrovia, de-vido à perspectiva de geração de novos empregos nesses municípios, ligados ao turismo rural e ecológico, com a construção de pólos turísticos, objetivando aproveitar os recursos naturais do rio Tietê, além de outras

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dalidades, como os já conhecidos passeios de barco nas cidades de Barra Bonita e Pederneiras42.

A lista seria quase infindável se fôssemos enu-merar aqui todas essas novas atividades, tal a diversi-dade brasileira. Mas vale a pena lembrar a crescente importância que vem assumindo a revitalização de atividades tradicionais, como o artesanato (produção de tapetes, redes, chapéus, flores secas, rapaduras e outros doces típicos, etc.), as feiras e as festas popula-res. Tais atividades, primordialmente apenas de cará-ter religioso, de lazer e geradoras de valores de uso, tendem a ser cada vez mais organizadas comer-cialmente e estão se tornando importantes fontes de trabalho e de renda nos pequenos municípios do interior do País43.

42. Isto É: Rota das Águas. São Paulo, 10/09/1996.

43. Cerri, C. "O baú do Brasil", Globo Rural, Out/1995; e "Nordeste: sertão fabril", Globo Rural, Mar/1997.

Estação de Lazer Salto Bandeirantes - Santa Fé - PR

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Utilizou-se o termo "novas" entre aspas porque nem todas estas atividades são tão novas assim. Na verdade, sempre existiu a produção de flores e plan-tas ornamentais, de hortaliças, de cogumelos, etc. En-tretanto, essas atividades foram praticamente recria-das a partir de demanrecria-das diferenciarecria-das de nichos ou de uma diferenciação dos mercados tradicionais des-sas mesmas atividades. E foram recriadas não apenas com uma roupagem nova, mas também com um con-teúdo novo: são, no fundo, serviços pessoais e auxili-ares da produção que foram agregados às tradicionais cadeias produtivas agroindustriais, criando um novo espaço para a emergência de pequenos e grandes em-preendimentos nesse longo caminho que hoje vai do produtor rural ao consumidor final.

A produção de hortaliças é um caso exemplar dessa mudança de forma e de conteúdo. Primeiro surgem no-vas formas de produzir que decorrem de mudanças na base técnica (estufas, hidroponia, produção orgânica) e de novas formas de integração ao circuito das mercado-rias (produção sob encomenda, integração vertical com supermercados). Segundo, uma redivisão do trabalho que implica o aparecimento de novos ramos de produção, como é o caso dos produtores de mudas de hortaliças. Terceiro, o surgimento de novos produtos, o que signifi-ca não apenas novas variedades de legumes e verduras, mas também a agregação de valor aos produtos existen-tes, por meio da embalagem, do pré-processamento, da entrega em domicílio, entre outros.

É como se houvesse uma busca incessante dos capitais no sentido de converter em mercadorias to-das as atividades com valores de uso, o que leva à criação de novos mercados e de novas necessidades, explica Marsden44. Ao analisar transformações

seme-lhantes que estão ocorrendo na Inglaterra, esse autor afirma que muitas famílias optaram por diversificar a sua prestação de serviços, e não a produção agrícola, como parte de uma estratégia de resistência a

ingres-44. Marsden, T. Towards the political economy of

pluriactivity. Journal of Peasents studies. Great Britains, v.6, n.4, 1990, p.319.

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sar no treadmill45 tecnológico da Revolução Verde. A

pluriatividade daí resultante é conseqüência desse es-forço de diversificação dos pequenos produtores para se inserirem nos novos mercados locais que se abrem. Não se pode considerar a pluriatividade como parte de um processo de proletarização que resulta da decadência da propriedade familiar, mas sim como uma etapa da diferenciação social e econômica das famílias agrícolas. Os produtores estão encontrando novas oportunidades a partir da valorização de bens não tangíveis antes ignorados, como a paisagem, o lazer e os ritos dos cotidianos agrícola e pecuário.

A explicação mais geral para essas mudanças pode ser buscada no que Van der Ploeg46 denominou de

mercantilização das atividades agrícolas, tanto no que diz respeito às relações de produção como às relações de tra-balho. Essa abordagem permite considerar as famílias ru-rais crescentemente dependentes dos capitais associados não apenas aos mercados agrícolas, mas a uma matriz de múltiplas atividades (pluriatividade) de seus membros.

Esse processo de geração de "novas" atividades no meio rural brasileiro mostra pelo menos duas ca-racterísticas comuns. A primeira refere-se ao fato de que elas se originaram ou de "importações" de outros países ou de atividades que antes não eram comerci-ais, isto é, tinham apenas valores de uso e não valores de troca. É o caso, por exemplo, do produtor rural que procura "cobrir as despesas" através do hobby de criar canários ou plantar cactus, para depois perceber que daí pode surgir uma nova atividade rentável. Em ambos os casos, o importante é que se criam novos espaços de reprodução do capital no meio rural bra-sileiro, muitas vezes revigorando regiões e ou ativida-des tradicionais que se mostravam decadentes. A se-gunda característica comum é que essas "novas" ati-vidades, quando se transformam em atividades co-merciais, já nascem como parte de uma cadeia pro-dutiva altamente especializada e integradas a um

com-45. Significa esteira rolante, o que nesse caso, quer dizer que o produtor tem que incorporar cada vez mais tecnologias na sua produção para conseguir manter a mesma margem de lucro; na alegoria da esteira, como as inovações técnicas estão mais rápidas, equivale a uma esteira também cada vez mais rápida sem sair do lugar. 46. Van der Ploeg, J. The agricultural labour process and commoditization. In: Long, N. The commoditization debate: labour process, strategy and social network. Netherlands, Agricultural University Wageningen, 1986.

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plexo sistema de serviços que delimitam nichos específicos. Na maioria das ve-zes, além das costumeiras transformações agroindustriais do produto agropecuário, soma-se uma rede de serviços pessoais e produtivos, que estrei-tam o caminho entre as preferências (socialmente condicionadas) do consu-midor e do produtor rural.

A grande diferença em relação ao tradicional processo de agregar valor por meio da industrialização reside no fato de que as "novas" atividades geradas nos anos 90 não decorrem somente de demandas intermediárias no interior das cadeias produtivas. Nos anos 70, as principais atividades agropecuárias brasilei-ras transformaram-se em insumos da indústria de alimentos. Muitas saíram da produção rural de subsistência para virarem commodities indiferenciadas para atenderem a uma dieta relativamente padronizada de milhões de pessoas no País e no exterior. Agora, as "novas" atividades ganham impulso a partir de uma dinâmica que tem a ver mais com as demandas específicas de grupos de consu-midores de média e alta renda dos grandes centros urbanos do País.

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Glossário dos termos utilizados neste volume

Cadeia Produtiva: conjunto das atividades econômicas ligadas a um

deter-minado produto. No caso das atividades agrícolas, a cadeia representa o conjun-to das indústrias produconjun-toras de insumos (adubos, sementes, agrotóxicos, má-quinas, etc), dos produtores agrícolas e da distribuição e comércio (atacadista e varejista) dos produtos agropecuários ou florestais.

Commodities: nome dado aos produtos padronizados comercializados em

grande escala no mercado internacional, tais como soja, milho, suco de laranja, açúcar, entre outros.

Domicílio: local destinado à habitação de uma ou mais pessoas. No caso

das PNADs é a unidade básica da pesquisa.

Domicílio particular: é a moradia onde o relacionamento entre os

mem-bros é ditado por laços de parentesco, de dependência doméstica ou ainda por normas de convivência. O oposto é o domicílio coletivo onde prevalecem nor-mas administrativas, tais como asilos, orfanatos, casas de detenção etc.

Domicílio particular permanente: é o domicílio particular localizado em

unidade que se destina a servir de moradia fixa. O oposto é o domicílio particu-lar improvisado, localizado em unidade que não seja destinada exclusivamente à moradia, como lojas, grutas, tendas etc.

GATT: Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio que trata das regras do

co-mércio internacional, e inclusive dos produtos agrícolas a partir de 1986. Em 1994 esse acordo foi incorporado à OMC.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (www.ibge.gov.br) Individualização do trabalho agrícola: tendência observada nos trabalhos

agrários de permanecer somente uma pessoa encarregada na execução ou gerên-cia das várias atividades. No caso brasileiro, tendem a prevalecer os homens nas atividades agropecuárias, daí o termo "masculinização" do trabalho agrícola.

Nichos de mercado: pequeno comércio de produtos diferenciados,

aten-dendo as preferências individuais ou de grupos de consumidores, em geral a um custo mais elevado.

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