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ATUALIDADEBlack Friday,
o dia de todas as compras
Os dias de promoções são cada vez mais relevantes no comércio e a “Black Friday” tornou-se um conceito à escala mundial. Nasceu nos anos 60,
quando o retalho americano tentava transformar a sexta-feira a seguir ao Dia de Ação de Graças num “shopping day”. Na altura, a Polícia passou a estar de prevenção para as “enormes filas de trânsito e passeios inundados de pessoas”.
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ENTREVISTAMarinho e Pinto: “Os privilégios das elites políticas são uma das causas do crescimento dos populismos” O segundo eurodeputado português melhor classificado no MEP Ranking diz que não se limita a “cumprir agendas”. Depois de superar “um período inicial de alguma desilusão com as limitaçõe às competências do Parlamento Europeu, António Marinho e Pinto decidiu adaptar--se e “fazer o melhor” que consegue.
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REPORTAGEMOs eurodeputados portugueses mais (e menos) produtivos O sistema MEP Ranking avalia os deputados do Parlamento Eurppeu, baseando-se
em critérios como produção de relatórios, grau de envolvimento no trabalho, apresentação de perguntas, discursos em plenário, assiduidade, etc. . A maior parte dos
eurodeputados portugueses discorda do método de avaliação.
CINCO SENTIDOS
Sugestões para o fim de semana
A Et Cetera traz-lhe sugestões que fazem a diferença para o fim-de-semana. Nesta edição, destaque para o Smart Fortwo Electric Drive, o vinho verde Valados de Melgaço Alvarinho 2016, e livro “Debaixo da Nossa Pele. Uma Viagem”, de Joaquim Arena.
ÍNDICE
ÍNDICE
Vão passear
vida não está fácil para os governantes deste mundo: depois dos sarilhos da senho-ra May, agora é Merkel que nem go-verno consegue for-mar. Felizmente para eles que os governos não são empresas que têm que vender os seus produtos, senão estariam falidos num ápice. Ninguém quer comprar o que fazem, pelo contrário, todos se queixam dos seus produtos, que não têm qualidade; não são criativos nem inovadores, pois passam o tempo a aplicar receitas velhas de que toda a gente está farta; não sabem comunicar, e estão mais interessados em dizer mal dos outros do que bem de si, talvez porque não haja nada de bom a dizer.
A opinião geral dos seus “clientes” é que o que fazem não vale o custo dos recursos que usam, e por isso estão a perder base de apoio em favor de alternativas que nin-guém conhece apenas porque os clientes es-tão fartos de pagar pão rançoso e água suja a preço de filé mignon e champanhe. Como empresas, é duvidoso que alguém fizesse um takeover de tal maneira a sua imagem está danificada. Só se safam porque ne-nhum de nós se pode recusar a pagar por um produto que nos faz mal à saúde. Os eleitores, esses, procuram um D. Sebastião:
de acordo com observadores e comentado-res políticos europeus, o partido com mais simpatizantes é o “Pissed Off.” Só que D. Sebastião foi de férias para Acapulco e nem quer saber de voltar.
Olhe-se para May. A negociar o Brexit e tem metade do governo a contravapor, no que é o seu principal mandato, e é torpe-deada pelo seu próprio partido: Boris Johnson e Gove já lhe disseram publica-mente para pôr a casa em ordem. Por falar em torpedeada, perdeu o ministro da Defe-sa e, dias depois, o do Desenvolvimento In-ternacional, que andava a falar com políti-cos israelitas sem dar cavaco. Pedem-lhe que despache mais dois: Green, pelos con-teúdos do seu computador, e Boris, cujas declarações desastrosas podem fazer uma cidadã britânica ficar numa prisão iraniana mais cinco anos. Isto vai de tal maneira que o governo já ganhou a alcunha de “crazy gang cabinet” e diz-se que a União Europeia está a preparar um cenário com a queda de May em menos de um ano.
Na Alemanha ninguém quer estar no Go-verno com Merkel, pelo que um cenário provável é irmos para novas eleições – já entrámos no campo em que os políticos castigam os eleitores. Em Espanha não sa-bemos se estão na prisão traidores à consti-tuição ou governantes de outro país.
Até em Portugal a vida é ingrata para os políticos – o nosso Guterres terá dito que falam bem dele só porque saiu da Pátria. Isto se bem que, da maneira como a coisa está, Portugal com a geringonça até parece um país normal.●
CRÓNICA
O
Diz-se que a União
Europeia está
a preparar
um cenário
com a queda
de May em menos
de um ano
MARIA CALVET HEMP LASTRU Nota biográfica:Hemp Lastru (n. 1954, em Praga) é sobrinho neto de Franz Kafka. Democrata convicto, ativista e lutador político, é preso várias vezes pela polícia secreta checoslovaca, tendo sido sentenciado em 1985 ao corte de uma orelha sob a acusação de “escutar às portas”. Abandona a política em 1999, deixando Praga para residir em Espanha. Mudou-se para Portugal em 2005 porque “gostaria de viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos livros.”
A
BLACK FRIDAY
O Pai Natal
veste-se de preto
‘Black Friday’ como hoje a conhecemos nasceu nos anos 60, quando o retalho ame-ricano tentava há déca-das transformar a sex-ta-feira a seguir ao Dia de Ação de Graças num shopping day. Um ar-tigo de 1966 no American Dialect Society traz uma das referências mais antigas a esta ‘nova’ versão da ‘Black Friday’. Assume que este é o termo que o departamento de polícia da Filadélfia atribuiu ao dia que sucede ao dia de Ação de Graças” e lembra que “arranca de forma massiva com a época de compras na-talícia”, trazendo consigo “enormes filas de trânsito e passeios inundados de pessoas”, com lojas cheias desde a abertura até ao fe-cho.
Os dias de promoções especiais são cada vez mais relevantes. E, a cerca de um mês do dia de Natal, as lojas começam a baixar signi-ficativamente os preços e tem início a
corri-da ao presente ideal para oferecer. Esta é também uma conclusão do Observador Ce-telem Natal 2017, que analisou as intenções de compra dos consumidores durante a qua-dra natalícia. Assim, mais de um terço dos portugueses aproveitará as promoções da ‘Black Friday’, que decorre hoje, e da ‘Cyber Monday’, na próxima segunda-feira, para efetuar as suas compras de Natal.
De acordo com os mais recentes dados so-bre o consumo nesta altura do ano, recolhi-dos pelo Observador Cetelem Natal 2017, 37% dos portugueses aproveitarão as pro-moções ‘Black Friday’ este ano para assim di-minuírem gastos e conseguir melhores ne-gócios na compra dos seus presentes de Na-tal.
Já o ‘Cyber Monday’, criado com a evolu-ção do e-commerce, parece também estar a ga-nhar expressão junto dos segmentos mais fa-miliarizados com compras online. As inten-ções continuam a ser menores face à ‘Black Friday’, mas ainda assim significativas, com
32% a assegurarem que vão efetuar as suas compras, nomeadamente de Natal, nas pro-moções da ‘Cyber Monday’, que se realiza na próxima segunda-feira, 27 de novembro.
Segundo Pedro Camarinha, diretor de dis-tribuição do Cetelem, “assiste-se a um cres-cente interesse pelas promoções pré-natalí-cias”. Esta é uma tendência internacional cada vez mais popular e Portugal não foge à regra. “Isso é algo que nos parece perfeita-mente natural, dada a forte aposta das mar-cas nos dias de promoções especiais e à boa resposta dos consumidores, que aderem de forma entusiasta às ações. Esta será uma boa oportunidade para fazer compras de Natal sem despender um valor tão elevado, o que vai ao encontro do que temos verificado, ou seja, uma gestão inteligente do orçamento familiar”, acrescenta. No entanto, estes são também dias em que o phishing financeiro se torna uma realidade. O relatório da Kas-persky Lab encontrou sinais que mostram uma diminuição acentuada dos ataques
du-Mais de um terço
dos portugueses
aproveita as
promoções
da “Black Friday”
para diminuírem
gastos
e conseguirem
os melhores
negócios na
compra dos seus
presentes de Natal.
Conheça a história
desta iniciativa,
que nasceu
nos Estados
Unidos há cinco
décadas
e transformou
a forma como
os consumidores
fazem
compras.
ANTÓNIO SARMENTO asarmento@jornaleconomico.ptATUALIDADE
A
Andy Rain/ EPA/ L usarante o “Grey Saturday” tanto em 2015 como em 2016. No último ano, houve uma descida de 33% no número de ataques a websites po-pulares de marcas de retalho e de pagamento online (de cerca de 770 mil para 510 mil ata-ques detetados), apesar de este ser o segundo maior dia de compras em alguns países, como é o caso dos EUA.
Tradicionalmente distribuídos via email, os ataques de phishing atraem agora os con-sumidores através de weblinks, banners, redes sociais e muito mais, persuadindo-os a parti-lhar as suas informações financeiras e fazen-do-os crer que estão a lidar com marcas con-ceituadas e reconhecidas.
“O aumento do número de pessoas que utiliza métodos de pagamento, faz compras ou acede às suas contas bancárias online mostram-nos que os ataques de phishing fi-nanceiro são agora uma constante durante todo o ano, mas a época festiva torna-os mais fáceis de camuflar no meio do ruído. Nesta época do ano, o esforço das marcas a nível de marketing e publicidade dispara, e com os consumidores cada vez mais a trata-rem das suas transações nos telemóveis – provavelmente quando estão fora de casa e com pressa – quase toda a gente está mais ex-posta e com menos tempo para pensar e ve-rificar”, afirma Nadezhda Demidova, analis-ta líder de conteúdo Web da Kaspersky Lab. Antecipando os possíveis abusos perante os clientes, o Portal da Queixa lançou o web-site www.blackfriday2017.pt, que será uma plataforma de consulta das melhores ofertas, de comparação de marcas, bem como de de-núncia de casos de fraude.
“A plataforma online pretende ser um guia dos melhores descontos e promoções para a ‘Black Friday’, onde o consumidor poderá consultar e comparar com um acrescido re-forço de confiança, tendo em conta que po-derá visualizar a reputação associada a uma marca, com base no índice de satisfação que tem no Portal da Queixa”, refere o fundador e CEO do Portal da Queixa.
Pedro Lourenço adianta que também vão estar atentos às ‘Black Fraudes’: “Colocámos no site um link direto ao Portal da Queixa para que os consumidores possam rapida-mente denunciar más praticas, alertando, deste modo, outros consumidores”.
O responsável pela rede social que recebe em média oito mil reclamações mensais aconselhou os consumidores a “terem muito cuidado para que aquela oferta com preço de sonho não se transforme em pesadelo por ser uma falsa promoção”.
DIA DOS SOLTEIROS: ALIBABA BATEU NOVO RECORDE
Este dia bate as vendas conjuntas da ‘Black Friday’ e da
‘Cyber Monday’ nos Estados Unidos. O gigante de e-commerce chinês Alibaba voltou a estabelecer um novo recorde de vendas no famoso Dia dos Solteiros. A efeméride comemora-se a 11 de novembro na China e, além de ser a data em que os solteiros celebram o estado civil, é também um dia de mega descontos online. Feitas as contas, o Alibaba anunciou que as vendas chegaram aos 168,3 mil milhões de yuans.
O valor equivale a 21,7 mil milhões de euros ou 25,4 mil milhões de dólares, em apenas 24 horas, e significa um aumento de 39% face ao ano passado. As vendas ultrapassaram mil milhões de dólares em dois minutos e 10 mil milhões em pouco mais de uma hora, segundo dados da CNBC. O dia é conhecido como o maior evento de compras do mundo, batendo as vendas (conjuntas) da ‘Black Friday’ e da ‘Cyber Monday’ nos Estados Unidos. “É o dia em que é necessária a maior quantidade de energia nos computadores da China”, explicou He Yunfei, gestor sénior de produto da Alibaba, à agência Bloomberg.
Também a plataforma KuantoKusta dis-ponibiliza um serviço gratuito, que permite encontrar as melhores promoções e detetar eventuais situações de fraude na Black Fri-day.
Esta plataforma permite aos consumido-res comparar os preços de mais de 1 milhão de produtos, disponíveis em mais de 500 lo-jas, e ter acesso direto às promoções. Os pro-dutos estão divididos em 15 categorias e o KantoKusta permite, através do histórico do produto, consultar o preço de um produto nos últimos 90 dias e evitar propostas frau-dulentas, como o aumento do preço nos dias anteriores à ‘Black Friday’ para depois re-gressarem ao preço original.
Além disso, o KuantoKusta sugere aos uti-lizadores que criem um alerta de preços para que, caso o produto que desejam atinja o preço pretendido na ‘Black Friday’, seja cria-do um alerta. As compras podem ser feitas através da aplicação, sem que tenha que se deslocar às lojas físicas, permitindo-lhe evi-tar confusões.
Portugueses mais otimistas, mas moderados no consumo
Este ano, os portugueses estão mais otimis-tas em relação ao estado atual e futuro da economia nacional, contudo revelam-se moderados nas suas opções de consumo. De acordo com o Estudo de Natal 2017 da De-loitte, as famílias portuguesas preveem um gasto total de 338 euros por lar, repartido entre presentes (53%), alimentação e bebidas (34%) e eventos sociais (13%). Este valor re-presenta um pequeno decréscimo face ao mesmo indicador apurado em 2016 (359 eu-ros) e fica significativamente abaixo dos 550 euros no Reino Unido ou dos 526 euros em Espanha.
“O principal destaque nesta edição é a evo-lução muito favorável das expectativas dos consumidores portugueses em relação à sua situação económica e poder de compra. Pela primeira vez, desde que o estudo é realizado, Portugal é o mais otimista de todos os países analisados e aquele em que se observou a maior evolução face ao ano passado”, destaca Pedro Miguel Silva, Associate Partner de Retail & Consumer Products da Deloitte.
Segundo o estudo, entre 2009 e 2014 assis-tiu-se a uma queda superior a 50% no consu-mo estimado pelos portugueses para a época natalícia, de 620 euros para 270 euros por agregado familiar. Esta tendência inverteu--se a partir de 2014, observandoinverteu--se nos dois anos seguintes uma tendência crescente.
A distribuição do consumo previsto para este ano mantém-se idêntica à do consumo declarado no ano anterior: dos 338 euros es-timados para esta quadra, as famílias portu-guesas preveem gastar 179 euros em presen-tes, 115 euros em alimentação e bebidas e 44 euros em eventos sociais.
As promoções (50%), a situação económi-ca mais segura (38%) e o aumento do rendi-mento disponível (32%) são referidos como os principais motivos para aumentar a des-pesa durante as festividades de Natal e Ano Novo. O facto de a situação económica estar mais segura ganha relevância face a 2016, passando de 18% para 38%. Pelo contrário, a necessidade de diversão e de evitar pensar na incerteza económica perde relevância face ao ano passado, embora continue a ser o mo-tivo mais referido pelos europeus.●
Leia mais sobre o tema em www.jornaleconomico.pt
De acordo
com um estudo
do Observador
Cetelem, 37%
dos portugueses
vão aproveitar
as promoções
‘Black Friday’.
E 32% preferem
a ‘Cyber Monday’,
na próxima
segunda-feira
OPÇÕES
PARA
POUPAR
Conheça alguns descontos nos setores da distribuição, retalho e viagens FNAC livros, Música e Filmes e Séries Tv, Smartphones e Telemóveis, Computadores Portáteis, Consolas e Videojogos, Jogos e Brinquedos, Instrumentos Musicais, a empresa anuncia que vão estar com descontos.
AMAZON
A gigante do retalho arrancou a semana com as habituais ofertas flash a que os clientes prime que podem aceder previamente e receber “com envio rápido e gratuito”.
ZARA
Oferece 20% a retalhista do grupo Inditex está a oferecer um desconto de 20% tanto nas lojas físicas como no site.
TOYS ‘R’ US
Desconto até 50%. Na loja de brinquedos há “milhares de produtos” com descontos até 50%. Está tudo no mais recente catálogo, válido até domingo. EDREAMS Há descontos em viagens, voos e estadas e também para pacotes de voo + hotel. Na edição do ano passado, os destinos mais escolhidos pelos portugueses nesta campanha foram Paris, Londres e Porto.
MB WAY
Oferece 10%
de desconto adicional sobre o valor final da compra online realizada
nos comerciantes aderentes à campanha, até um valor acumulado de 500 euros
nas várias lojas.
6
Ralph
Freso/
PARLAMENTO EUROPEU
Os eurodeputados portugueses
mais (e menos) produtivos
s políticos não são to-dos iguais: há os que trabalham mais e os que trabalham me-nos; e uns são mais assíduos do que ou-tros. No caso dos eu-rodeputados, o MEP Ranking analisa quatro categorias gerais de atividades (relatórios, declarações, funções e assuidade) e atribui pontos de acordo com critérios quantitativos e qualitativos. Entre os 21 eurodeputados portugueses, sobressaem José Manuel Fer-nandes (95 pontos) do PSD, António Mari-nho e Pinto (77,4 pontos) do PDR, João Fer-reira (71,6 pontos) do PCP, Paulo Rangel (65 pontos) do PSD e Maria João Rodrigues (59,5 pontos) do PS como os mais produtivos e assíduos. Pela negativa destacam-se Fer-nando Ruas (24 pontos) do PSD, Liliana Ro-drigues (22 pontos) do PS, Francisco Assis (15,5 pontos) do PS, Carlos Coelho (12,5 pontos) do PSD) e Manuel dos Santos (2,4 pontos) do PS, nas últimas posições da tabela. O Jornal Económico contactou os referi-dos eurodeputareferi-dos, remetendo perguntas sobre a avaliação de desempenho do MEP Ranking, e obteve uma resposta conjunta de quatro eurodeputados do PSD (José Manuel Fernandes, Paulo Rangel, Fernando Ruas e Carlos Coelho). “A delegação portuguesa do PSD no Parlamento Europeu sempre consi-derou positiva e útil a iniciativa de institui-ções ou entidades independentes para me-lhorar a comunicação e a transparência da actividade dos políticos eleitos. Sempre en-tendeu, no entanto, agora como no passado, que as avaliações que daí se extrapolam, ain-da que incluam alguns ain-dados quantitativos e
qualitativos, são inevitavelmente simplistas. Com efeito, excluem uma parte substancial e não quantificável do trabalho dos deputados e, ao hierarquizarem o trabalho político em ‘rankings’, supostamente objetivos, não con-tribuem para uma avaliação rigorosa, ade-quada e global por parte dos cidadãos”, argu-mentam os signatários.
“Entendemos que os ‘rankings’, os algorit-mos ou as fórmulas matemáticas de avalia-ção política e o tratamento jornalístico que se baseie essencialmente nesses pressupostos influenciam, de modo redutor e por vezes enganador, a opinião pública e os cidadãos em geral. E com isso, correm o risco de se substituir a uma avaliação global, complexa, decerto alicerçada em factores objectivos mas com uma dimensão irredutivelmente subjectiva, que é feita pelos cidadãos na for-mação da sua opinião e, depois, no tempo adequado, na expressão do seu voto,“ con-cluem os quatro eurodeputados do PSD.
Por sua vez, questionado sobre a elevada pontuação individual, João Ferreira respon-deu segundo uma lógica de coletivo, ao dizer que “a intensa e qualificada intervenção des-envolvida pelos deputados do PCP no Parla-mento Europeu, só muito lacunar e parcial-mente refletida no MEP Ranking, é indisso-ciável de um profundo conhecimento da rea-lidade, de uma forte ligação ao país, às popu-lações, aos seus problemas e anseios. Além disso, essa intervenção é impulsionada por um estilo de trabalho assente no trabalho co-letivo e por uma visão dos cargos públicos não como forma de adquirir benefícios pes-soais, mas sim de dar expressão a um compro-misso de transformação da vida e do mundo”. A partir dos dados do MEP Ranking, é legí-timo considerar que um eurodeputado é me-lhor ou pior e avaliar o seu desempenho? “Se-guramente que é não apenas legítimo como desejável fazer uma avaliação do desempenho de um eurodeputado. Todavia, essa avaliação não pode ser separável do sentido político dessa intervenção nem resumir-se a critérios quantitativos ou pseudo-qualitativos. No caso concreto que refere, os critérios utiliza-dos são muito discutíveis e pautam-se por uma marcada subjetividade na valoração de distintos aspetos da atividade dos deputados. São exemplos: a valoração dos cargos ocupa-dos independentemente do trabalho desen-volvido; a valoração de aspetos que podem nada ter a ver com a atividade do deputado, como os ‘tweets’ publicados; a subvalorização de aspetos como as intervenções em plenário ou as perguntas dirigidas a outras institui-ções”, adverte Ferreira. “Na própria página do Parlamento Europeu na Internet é guardado um registo das atividades desenvolvidas pelos eurodeputados. Esse repositório de
informa-Produção
de relatórios, grau
de envolvimento
no trabalho,
apresentação de
perguntas e moções,
discursos em plenário,
cargos exercidos,
assiduidade, etc.
O sistema de pontos
do MEP Ranking
baseia-se em critérios
quantitativos
e qualitativos, mas
a maior parte
dos eurodeputados
portugueses discorda
do método
de avaliação.
GUSTAVO SAMPAIO gsampaio@jornaleconomico.ptATUALIDADE
ção e a apreciação que cada um possa fazer da mesma, incluindo obviamente apreciação po-lítica, embora não traduzindo também toda a atividade dos eurodeputados, é na verdade muito mais relevante, informativo, fidedigno e objetivo do que aquilo que é apresentado pelo MEP Ranking”.
No extremo oposto da tabela, Francisco As-sis, do PS, ressalva que o MEP Ranking “não é o único que se dedica a avaliar a atividade des-envolvida pelos eurodeputados. Por exemplo, o Vote Watch Europe descreve uma realidade diferente”. Por outro lado, “é preciso ter em conta a natureza das comissões parlamentares onde os eurodeputados desenvolvem o seu trabalho. As comissões dos Assuntos Externos e dos Direitos do Homem”, no âmbito das quais Assis “leva a cabo grande parte” da sua atividade, “são comissões que pela sua nature-za não têm produção legislativa.”
De acordo com Assis, nessas comissões “é desenvolvido um grande volume de trabalho que não é contabilizado por nenhum ‘ranking’, como por exemplo missões de ob-servação eleitoral, visitas de delegações a
“É não apenas
legítimo como
desejável fazer
uma avaliação
do desempenho de
um eurodeputado.
Todavia, essa
avaliação não
pode ser separável
do sentido
político dessa
intervenção,”
argumenta
João Ferreira.
O
países terceiros, ou encontros de trabalho com responsáveis políticos, embaixadores, ativistas e organizações”. O eurodeputado do PS diz que “participou em duas missões de observação eleitoral à Tunísia, fez várias vi-sitas a países da América Latina e realizou centenas de encontros que não são contabili-zados estatisticamente”.
De resto, “mesmo que queiramos proceder a uma avaliação da atividade dos eurodepu-tados única e exclusivamente com base em dados estatísticos, fazê-lo neste momento exclui todo o trabalho que está em execução e que será levado a cabo até ao fim da legisla-tura”, sublinha Assis.●
MARINHO E PINTO
“Os privilégios
das elites políticas
europeias são uma das
causas do crescimento
dos populismos”
e acordo com os dados compilados no MEP Ranking, é um dos eurodeputados portugueses mais produtivos e assíduos. Aliás, está na 70ª posição do “ranking” global, entre 745eurodeputados. Como é que explica o elevado desempenho?
Eu vim para o Parlamento Europeu para tra-balhar. Pagam-me bem, muito bem, para isso, portanto faço o que entendo dever ser o meu trabalho. Não me limito a cumprir agendas, mas procuro criar as minhas pró-prias agendas políticas e parlamentares. De-pois de um período inicial de alguma desilu-são com as limitações às competências do Parlamento Europeu, decidi adaptar-me e, dentro dessas limitações, procurar fazer o melhor que posso.
O algoritmo do MEP Ranking analisa os dados de acordo com critérios quantitativos e qualitativos. Considera que é legítimo inferir a partir dessa análise se um eurodeputado é melhor ou pior e avaliar o desempenho? Ou considera que essa avaliação deveria basear-se noutros critérios e quais?
O cargo de eurodeputado resulta de um con-trato político entre o candidato e os eleitores que votaram nele. Um eurodeputado repre-senta, portanto, uma universalidade de pes-soas que não sabe quem são em concreto. Por isso, qualquer critério de avaliação do seu trabalho é legítimo desde que seja objeti-vo e não manipulado, pois ajudará os eleito-res a fazerem a verdadeira avaliação a que um deputado deverá estar sujeito. Os crité-rios do MEP Ranking não são os únicos, ha-verá outros de certeza tão ou mais válidos do que esses. A questão é que as entidades que procedem a essa avaliação sejam indepen-dentes e que os critérios adotados não sejam manipulados para favorecer estes ou aqueles eurodeputados.
O seu elevado desempenho no Parlamento Europeu tem sido
O segundo eurodeputado
português melhor classificado
no MEP Ranking diz que não
se limita a “cumprir agendas”,
mas procura criar as suas
próprias agendas políticas
e parlamentares. Depois de
superar “um período inicial
de alguma desilusão com as
limitações às competências
do Parlamento Europeu,
António Marinho e Pinto
decidiu adaptar-se e “fazer
o melhor” que consegue.
Apesar do trabalho intenso,
contudo, mantém a opinião
de que os salários
dos eurodeputados
são demasiado avultados.
GUSTAVO SAMPAIO
gsampaio@jornaleconomico.pt
reconhecido e será futuramente recompensado pelos eleitores?
Não. Nem o meu desempenho nem os de outros eurodeputados. Infelizmente, em matéria política, como em outras em geral, a comunicação social em Portugal está mais disponível para a propaganda do que para a informação. Está mais aberta às opiniões do que aos factos. Está mais interessada em ou-vir a versão dos agentes políticos do que em investigar ela própria os acontecimentos. No meu caso pessoal, a situação ainda é mais gravosa porque sou ostensivamente discriminado por parte de alguns órgãos de informação. Sou o único dos 21 eurodepu-tados portugueses que está impedido de participar nos debates organizados pela RTP entre os eurodeputados. A RTP en-quanto estação pública deveria explicar ao país por que discrimina um deputado no qual votaram mais de 230 mil eleitores. O mesmo acontece, aliás, com as estações pri-vadas, mas o que é verdadeiramente escan-daloso é que um órgão de informação sujei-to a rigorosos critérios de serviço público se permita fazer tão ostensivamente discrimi-nação política na sua programação infor-mativa.
Mantém a opinião de que as
ATUALIDADE
remunerações dos eurodeputados são demasiado avultadas?
Sim, claro. Um eurodeputado acaba por aufe-rir cerca de 20 mil euros mensais, o que é ma-nifestamente exagerado. Isso tem consequên-cias nocivas, pois faz com que os lugares de eu-rodeputados sejam mais procurados por quem está mais interessado na remuneração do que no trabalho parlamentar. Ou oferecidos como recompensa política. E este é um dos males do sistema político português, pois favorece o alastramento das fidelidades interesseiras, a ascensão dos “yes-men” e o clientelismo políti-co-partidário. Mas conduz também ao afasta-mento entre eleitores e eleitos. Como é que, numa democracia representativa, os eleitores poderão identificar-se politicamente com os seus representantes num parlamento se estes para os representarem auferem remunerações dezenas de vezes superiores às dos representa-dos? Em democracia deve haver proporciona-lidade e moderação em tudo o que se refere aos representantes políticos, sobretudo em re-lação ao seu estatuto remuneratório. O que vai além do necessário transforma-se em privilé-gio. E isto acaba por ser prejudicial para a pró-pria democracia. Os privilégios das elites polí-ticas europeias são uma das causas do cresci-mento dos populismos de direita dentro da União Europeia.● PUB PUB Melanie Wenger/ União Europeia Audiovisual
Visão, olfato,
paladar,
audição e tato.
É através
dos cinco
sentidos que
apreendemos
o mundo
e abrimos
a porta
a sensações
e experiências
que nos ajudam
a construir
o que somos.
5
Sentidos
CARRO
Smart fortwo
electric drive
Um torpedo
com velocidade
limitada a 130 km/h
novo smart elétrico tem uma ve-locidade de ponta limitada a 130 km/h. A razão é economicista pois desta forma será possível maximizar a autonomia. Claro que os 160 km de capacidade que uma bateria pode dispensar é meramente teórico. A prática diz-nos que um condutor normal fará cerca de 130 km, o que é o dobro da média nacional nas deslocações ao emprego. Mas o que suscita um interesse tão grande nos novos smart totalmente elétricos e que faz com que o slotde produção para Portu-gal para este ano já esteja totalmente tomado há alguns meses? Primeiro o design e depois a tec-nologia, que tem sido uma evolução constante, iniciada há dez anos, e que dentro de dois será única e exclusivamente elétrica.
O design e a estrutura de construção não mu-daram com a célula de segurança Tridion, man-tendo o reconhecimento de sempre. Falamos do smart fortwo, que continua a ser um carro pequeno mas com uma escolha ampla de cores, que correspondem ao espírito do condutor. Os retrovisores são garantidamente verdes, sím-bolo do objetivo da marca relativamente ao ambiente. Depois vem a tecnologia e aqui há
grandes evoluções. O motor elétrico gera 82 cv de potência e é mais do que suficiente para su-perar a velocidade permitida em autoestrada, sendo que esse mesmo motor está instalado no eixo traseiro e transmite a potência às rodas através de uma relação constante. Isto significa que no arranque é um torpedo, ficando dispo-nível um binário de 160 Nm. Mais. Explica a marca que o smart necessita apenas de uma re-lação de transmissão fixa, ou seja, não há neces-sidade de efetuar passagens de caixa. E na mar-cha atrás inverte-se o sentido da rotação do motor. Simples e eficiente.
Recentemente a marca apresentou a edição com quatro lugares, o smart forfour, depois de já ter revelado - dentro da quarta geração - os modelos smart electric drive, o fortwo coupé e o fortwo cabrio. A marca anunciou
recente-mente um portefólio só de elétricos. Nas novas viaturas existe um carregador de elevada po-tência, que deverá levar duas horas e meia a car-regar numa tomada. Para quem tem um quadro trifásico, em 2018, e como opcional, poderá ad-quirir um potente carregador de 22 Kw que carrega em 45 minutos. Acabaram as esperas de uma noite para ter um elétrico operacional. Bastará deixá-lo a carregar antes do jantar e de-pois terá o smart para a noite.
Típico desta tecnologia é a regeneração, i.e., a conversão da energia cinética em energia elé-trica durante o tempo de travagem. Esta solu-ção é controlada a partir de um sensor de radar que antecipa as condições do trânsito e selecio-na o nível de regeneração. Outra novidade que para a maioria dos veículos elétricos e híbridos é um problema: o sistema de climatização con-some energia e, por isso, desliga-se com fre-quência. O smart resolveu o problema com um sistema de pré-climatização que faz com que o veículo mantenha a temperatura interior dese-jada enquanto a bateria é carregada. Isto signifi-ca que no arranque da viagem é poupado o es-forço inicial da bateria para adequar o habitácu-lo à temperatura pretendida.●PF
O
MARCA:Smart
MODELO:Fortwo Electric Drive
AUTONOMIA (FÁBRICA):160 km
POTÊNCIA:82 cv
VELOCIDADE:limitada eletronicamente a 130 km/h
PVP (BASE):22.500 euros
oaquim Arena nasceu em 1964, na ilha de São Vicente, Cabo Verde, filho de pai português e mãe cabo--verdiana. No final dos anos 60 chega com a família a Portugal. Depois de viajar pela Europa à boleia, regressa a Lisboa, no iní-cio dos anos 90, onde se licencia em Direito. Dirige algumas revistas de temática lusófona, como a “África Hoje”, ao mesmo tempo que desenvolve projetos na área musical. Em 1998, regressa a Cabo Verde, onde funda o jornal “O Cidadão”, depois de trabalhar na redação do jornal “A Semana”. Atualmente, é Conselheiro para a Cultura e Comunicação do Presidente da República de Cabo Verde.
Este advogado, músico e jornalista é autor dos livros “Um Farol no Deserto” (2000, IPC) “A Verdade de Chindo Luz” (2006, Oficina do Livro), “Para Onde Voam as Tartarugas” (2010, Caminho) e deste “Debaixo da Nossa Pele. Uma Viagem”, editado pela Imprensa Nacional/Casa
da Moeda, obra distinguida com a menção honrosa do Prémio INCM/Vasco Graça Mou-ra 2016, na categoria de Ensaio. Nas palavMou-ras do júri do Prémio, trata-se de um livro “em forma de road movie através do Portugal contempo-râneo em busca de memórias submersas, mas indispensáveis à identificação de um país”. Uma identificação para a qual também concorre a nostalgia por esse lugar no Atlântico Médio, que é Cabo Verde.
Sobre “Debaixo da Nossa Pele”, o autor afir-ma que se trata de uafir-ma narrativa que “alberga autobiografia, relato de viagem, ensaio, jorna-lismo, ficção, uma mistura de géneros”. E é o que mais próximo temos, escrito na língua por-tuguesa, da narrativa do alemão W. G. Sebald; neste caso, um livro que resulta de uma dupla viagem: a pé, ao longo do curso do rio Sado, numa busca pelos últimos sinais da presença dos descendentes dos escravos negros trazidos para esta região, depois do século XVIII, para o
cultivo do arroz. Uma viagem que levará o au-tor a duas aldeias alentejanas, São Romão e Rio de Moinhos, mas que, ao mesmo tempo, serve de elemento de ignição de uma outra viagem, desta vez no tempo, pela história da presença de africanos em Portugal e na Europa, do século XV ao estabelecimento de imigrantes cabo--verdianos, a partir dos anos 60 do século XX.
É, assim, por entre esta deambulação ao lon-go do Sado, que surge um contador de histórias na melhor tradição africana, a cativar-nos com o Conde Negro (general francês, filho de um aristocrata e de uma escrava e pai do romancis-ta Alexandre Dumas) ou com o lusiromancis-tano Gaius Appuleius Diocles (104-146 d.C.), o auriga (ou condutor de quadrigas) que, graças às suas inú-meras vitórias, terá sido o primeiro atleta bilio-nário da história do desporto.●
A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante
Debaixo da Nossa Pele. Uma Viagem
Memórias submersas
J
TÍTULO:Debaixo da Nossa Pele. Uma Viagem
AUTOR:Joaquim Arena
EDITORA:Imprensa Nacional/Casa da Moeda
VINHO
Valados
de Melgaço
Alvarinho 2016
Verde feito
ao natural
rtur Meleiro, um dos proprietá-rios da Valados de Melgaço, pro-dutora de vinhos verdes com predominância da versátil casta Alvarinho, apresentou esta semana, em Lis-boa, uma nova referência da sua casa. Esta mais recente aposta mantém o trilho da Quinta de Golães, de onde saem vinhos que se querem cultivados com carácter, mas integra também uma componente muito relevante para este engenheiro industrial de produção e de siste-mas informáticos: o gosto pelo campo, pelo vinho, pelas vinhas, pelas vindimas, pelo terri-tório e pela tradição.
Trato afável e ironia rápida e eficaz com-põem um conhecedor do mercado dos vinhos, dos truques da distribuição e da alquimia da vi-nha e da adega. Sempre na senda de perseguir a excelência, mesmo tentando vinhos inéditos e diferentes, Artur Meleiro vem agora a terreiro com este Valados de Melgaço Alvarinho 2016, um monovarietal feliz, que respeita os méto-dos ancestrais de produção, recriando a vinifi-cação em cascos de carvalho português. Só não é um vinho biológico porque o coproprietário da Valados de Melgaço não hesita em desaba-far que “há certos aspetos dos vinhos naturais ou biológicos que são totalmente antieconó-micos nas vinhas que eu tenho a 700 metros de altitude”.
A vinificação deste néctar ocorreu com ma-ceração pelicular de uvas desengaçadas. A prensagem das massas daí decorrentes foi apli-cada até atingir a pressão de 0,8 bares. Proce-deu-se depois a uma decantação estática du-rante 24 horas, a uma temperatura constante de 14 graus centígrados. A fermentação pro-cessou-se em cuba de aço inoxidável, a uma temperatura controlada de 17º centígrados, até se verificar o completo desdobramento dos açúcares. No estágio, também em cuba de aço inoxidável, recorreu-se durante dois meses à
battonage, uma ação de agitação do vinho para
suspender os sedimentos (leveduras mortas e resíduos de uva), uma operação feita tradicio-nalmente com uma vara (bâton), para dar mais corpo ao vinho, desenvolvendo sabores mais complexos.
Depois, o Valados de Melgaço Vinificação Natural passou mais oito meses de estágio so-bre borras finas, em contacto com a madeira, até à sua preparação para o engarrafamento. Seguiram-se mais três meses de estágio em garrafa, antes de poder desfrutá-lo em restau-rantes e hotéis, o principal canal de distribui-ção praticado por Artur Meleiro antes de che-gar a acordo com uma distribuidora que lhe permita o acesso a garrafeiras.●NMS