• Nenhum resultado encontrado

CARACTERÍSTICAS CONCEITUAIS DA RESILIÊNCIA EM CADEIA DE SUPRIMENTOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CARACTERÍSTICAS CONCEITUAIS DA RESILIÊNCIA EM CADEIA DE SUPRIMENTOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

CARACTERÍSTICAS CONCEITUAIS DA

RESILIÊNCIA EM CADEIA DE SUPRIMENTOS:

UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

Marcio Goncalves dos Santos (IFMT)

marcio.santos@jna.ifmt.edu.br Rosane Lucia Chicarelli Alcantara (UFSCar) rosane@ufscar.br

O objetivo deste artigo é analisar, por meio da revisão sistemática de literatura, o conceito de resiliência no contexto de cadeias de suprimentos e suas principais características em termos de origens conceituais e estágios relacionados. Foram analisados 22 artigos científicos publicados em journals internacionais no período de 2000 a 2014, coletados por meio das bases de dados: Web of Science, ScienceDirect e Scopus. Os resultados apresentam heterogeneidade no conceito de resiliência em cadeia de suprimentos, não existindo uma definição única. Percebe-se um avanço conceitual o que denota um campo de estudo em desenvolvimento. As principais características dos estágios relacionados ao conceito são a “prontidão” (readiness), “reação” (response) e a “recuperação” (recovery). Os aportes teóricos de gestão de vulnerabilidades e gestão de risco em cadeias de suprimentos são as bases teóricas que originaram o campo de estudo de resiliência no contexto de cadeias de suprimentos.

Palavras-chave: Resiliência; Cadeia de suprimentos; Revisão sistemática de literatura

(2)

2

1 INTRODUÇÃO

As cadeias de suprimentos são complexas redes de empresas que sofrem turbulências contínuas (PETTIT; FIKSEL; CROXTON, 2010), criando um potencial de perturbações imprevisíveis capazes de gerar interrupções no fornecimento de produtos e serviços aos consumidores finais.

Segundo Ponomarov e Holcomb (2009 p. 125) as interrupções na cadeia de suprimentos podem surgir a partir de várias fontes, incluindo fontes externas como um desastre natural e de fontes internas, tais como a incapacidade de integrar todas as funções em uma cadeia de suprimentos.

Os desastres naturais, doenças, pandemias, furacões, tornados, terremotos, tsunamis, incêndios, explosões, chuvas, secas, recessão econômica, falha de equipamentos, erro humano e terrorismo são apenas alguns exemplos de eventos que podem representar tanto uma ameaça potencialmente imprevisível e grave para a continuidade de uma cadeia de suprimento quanto podem ocasionar implicações catastróficas gerando interrupções em seu funcionamento. Sob estas circunstâncias turbulentas, a capacidade de uma cadeia de suprimentos em ser resiliente torna-se um fator importante (PETTIT; FIKSEL; CROXTON, 2010). Nesse contexto, o campo de estudo da resiliência é uma área de interesse crescente na gestão de operações (no contexto das organizações e de cadeias de suprimentos) e outras áreas afins. Os gestores de cadeias de suprimentos estão se tornando cada vez mais conscientes dessas vulnerabilidades. As cadeias de suprimentos devem aprender a antecipar, absorver e superar tais perturbações (PICKETT, 2006). Segundo Christopher e Peck (2004) a solução requer um novo foco na redução de riscos que “se estende para além das quatro paredes de uma única empresa”. Portanto, gerenciar a resiliência da cadeia de suprimentos é um método pró-ativo que pode complementar e melhorar a tradicional gestão do risco e proporcionar a continuidade dos negócios (PETTIT; FIKSEL; CROXTON, 2010).

Entretanto, a resiliência é um conceito em evolução (PETTIT; FIKSEL; CROXTON, 2010). As definições existentes de resiliência são muitas vezes contraditórias e confusas, mesmo em

(3)

3 disciplinas bem desenvolvidas, e a teoria de resiliência ainda está em desenvolvimento (PONOMAROV; HOLCOMB, 2009).

Nesse contexto, o objetivo deste artigo é analisar as características conceituais da resiliência em cadeia de suprimentos, por meio da revisão sistemática de literatura, com intuito de compreender as origens do conceito, estágios relacionados e as bases teóricas que originaram esse campo de estudo.

O artigo esta estruturado em quatro partes além dessa introdução. Na segunda parte é apresentada a metodologia utilizada para a revisão sistemática da literatura. No terceiro tópico discorre-se sobre o material analizado e por fim, a conclusão do artigo com indicações de pesquisas futuras.

2. METODOLOGIA

A pesquisa discutida neste artigo é uma pesquisa exploratória dirigida por pressupostos teóricos. Para superar as fragilidades de uma revisão de literatura (Tranfield et al, 2003) esta pesquisa utiliza a abordagem de revisão sistemática da literatura baseadas nos cinco passos propostos por Denyer e Tranfield (2009). A revisão sistemática é uma metodologia que utiliza como fonte de dados a literatura sobre determinando tema e permite selecionar, avaliar, contribuir, analisar e sintetizar dados. Tal metodologia permite descrever as evidências de forma a permitir conclusões claras a serem alcançadas sobre o que já se conhece e sobre o que não se conhece sobre o assunto em questão (DENYER; TRANFIELD, 2009).

Os cinco passos ilustrados na figura 1 incluem: formulação de pergunta (s) de pesquisa, localização dos artigos científicos, seleção e avaliação dos artigos científicos, análise e síntese, e finalmente apresentação e discussão dos resultados. Cada passo será discutido a seguir.

Figura 1– Passos do processo de revisão sistemática da literatura

1. Formulação de pergunta (s) de pesquisa 2. Localização dos estudos

(4)

4

Fonte: Adaptado de Denyer e Tranfield (2009).

2.1 Formulação da(s) pergunta (s) de pesquisa

Definir uma pergunta de pesquisa clara é de fundamental importância para direcionar o foco da pesquisa. Para esse artigo tem-se como pergunta de pesquisa: quais os elementos constituem o conceito de resiliência em cadeia de suprimentos? Quais as origens teóricas?

2.2 Localização dos estudos

O próximo passo da revisão sistemática é a localização dos estudos relevantes para a pesquisa, cujo objetivo é estabelecer um quadro teórico para a compreensão do campo de estudo de resiliência em cadeia de suprimentos.

A pesquisa limitou-se a consulta em periódicos científicos nacionais e internacionais indexados nas bases de dados eletrônicas Science Direct, Scopus, SciELO e Web of Science. A escolha dessas bases de dados foi por considerar que elas são amplamente acessíveis em instituições acadêmicas e concentram publicações da área de gestão de operações e negócios considerados relevantes para a pesquisa.

Buscas avançadas foram realizadas nas bases de dados com os termos “Resilience” AND

“Supply Chain” (Resiliência e Cadeia de suprimentos) e “Supply Chain Resilient” (Cadeia de

suprimentos resiliente) e foram selecionados como “Fields” (campos de busca nos artigos):

Article title, Abstract, Keywords (Título do artigo, Resumo, Palavras-chave) resultando num

total de 185 artigos.

2.3 Seleção e avaliação dos estudos

Dado a amplitude dos resultados de busca, uma decisão foi tomada no sentido de tentar reduzir o número de artigos por meio da aplicação de um conjunto de quatro filtros. A tabela

4. Análise e síntese 5. Apresentação e conclusão

(5)

5 1 sintetiza os passos utilizados na sequência de busca que resultou na identificação de 22 artigos os quais foram selecionados para compor a análise dessa pesquisa.

Foram realizadas buscas nas bases de dados no período de 2000 a 2014, considerando as áreas de engenharia, gestão, contabilidade e negócios, ciências sociais e decisórias. A escolha do material a ser analisado resumiu-se a artigos e revisão. Além disso, os autores consideraram um conjunto de palavras-chave relevantes para a temática de estudo.

Tabela 1 - Sequência da busca e número de artigos resultantes nas bases de dados

Pesquisa inicial “Resilience and Supply chain”

SciELO Science Direct Scopus Web of Science

0 15 144 26

√ Engineering

√ Business, Management and

Accounting

√ Social Sciences √ Decision Sciences √ Article

√ Review

√ Supply chain resilience √ Supply chain disruptions √ Resilience

√ Robustness √ Disturbance

Leitura dos resumos, exclusão de artigos duplicados, download dos artigos para a seleção e avaliação

22 artigos Filtro 4 58 20 Resultado 0 7 23 12 Filtro 3: Palavras-chave (limitar a) Filtro 2: Tipo de documento (limitar a) Filtro 1: Área de análise (Limitar a) Bases de dados 0 99 20 0 12 12

O quarto filtro consistiu no refinamento do material a ser utilizado para análise. Após a leitura dos resumos e exclusão do material duplicado aplicaram-se os critérios de inclusão definidos na tabela 2, resultando num total de 22 artigos para analise.

(6)

6 Quadro 1 – Critérios de Inclusão e Exclusão

Critérios de Inclusão Critérios de Exclusão

Resumo deve apresentar claramente que o foco do artigo é a "Resiliência da Cadeia de Suprimentos";

Artigo que discute a Resiliência da Cadeia de suprimentos em segundo plano;

Resumo deve indicar claramente aspectos conceituais, dimensões da resiliência e aportes teóricos relacionados;

Artigos que não abordam relações conceituais ou dimensões da resiliência;

Somente artigos publicados em periódicos científicos avaliados por pares;

Artigos publicados em periódicos não científicos ou não avaliados por pares;

Somente artigos publicados em Português ou Inglês. Artigos publicados em outras línguas.

As etapas referentes a análise e síntese do material bem como a conclusão serão descritos nos tópicos a seguir.

3. ANÁLISE E SÍNTESE DO MATERIAL

Uma vez que o propósito deste artigo é revisar sistematicamente a literatura sobre resiliência em cadeia de suprimentos esta seção do artigo apresenta um esforço no sentido de responder a questão de revisão proposta inicialmente. Assim, serão apresentados a definição e o escopo de resiliência em diferentes áreas do conhecimento, no contexto da cadeia de suprimentos, e as abordagens teóricas que antecedem o campo de estudo.

3.1 Definição e escopo de Resiliência

Segundo Bhamra et al (2011) o termo resiliência é utilizado em diferentes áreas do conhecimento incluindo desde a ecologia (Walker et al. 2002), metalurgia básica (Callister, 2003), a psicologia individual e organizacional (Barnett e Pratt, 2000; Powley, 2009), a gestão da cadeia de suprimentos (Sheffi, 2005; Ponomarov e Holcomb, 2009), a gestão estratégica (Hamel; Valikangas, 2003) e engenharia de segurança (Hollnagel et al., 2006).

Embora existam similaridades nas definições utilizadas em cada uma destas áreas todas elas são específicas a cada disciplina. Em muitos casos, falta clareza no domínio coberto pela construção da resiliência (PONOMAROV; HOLCOMB, 2009). Assim, a fim de entender os fenômenos da resiliência, precisamos primeiro considerar diferentes perspectivas e abordagens das diversas correntes da literatura.

(7)

7

Abordagens Definição Autor(es)

Ecológica

A capacidade de um sistema de absorver uma perturbação e reorganizar-se enquanto passa por uma mudança, mantendo a mesma função, estrutura, identidade e funcionamento.

WALKER et al. 2004.

Social

Capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade, potencialmente expostos a riscos, de adaptar-se, resistindo ou se modificando, para alcançar e manter um nível aceitável de funcionamento e estrutura.

UNITED NATIONS, 2005.

Psicológica

A Resiliência é uma capacidade universal que se estende por vários níveis, de indivíduos a comunidades, para planejar, responder e se recuperar da adversidade. Resiliência é uma complexa interação entre certas características dos indivíduos e seus ambientes mais amplos.

GROTBERG, 1995; STEWART et al. 1997.

Financeira

Em geral, a resiliência econômica estática refere-se à habilidade ou capacidade de um sistema absorver ou atenuar os danos ou perdas. Uma definição mais geral, que incorpora considerações dinâmicas, é a capacidade de um sistema de se recuperar de um choque severo ou estresse. Um pressuposto da teoria do sistema é que os sistemas tentam manter a sua estabilidade mesmo quando eles mudam.

HOLLING, 1973; PERRINGS, 1994.

Individual

Características dos indivíduos resilientes: forte aceitação da realidade, uma forte crença de que a vida é significativa e a capacidade de improvisar mediante a imprevistos.

COUTU, 2002.

Organizacional

Capacidade de ajustar e manter as funções desejáveis sob condições desafiadoras ou variantes.

A habilidade de se recuperar de eventos que geraram rupturas ou adversidades (WEICK et al., 1999; BUNDERSON; SUTCLIFFE, 2002; EDMONDSON, 1999) (SUTCLIFFE; VOGUS, 2003)

(8)

8 De acordo com Ponomarov e Holcomb (2009), a resiliência é um tema multidisciplinar, inicialmente estudado nas disciplinas de psicologia e ecossistemas, passando a ser mais estudada ultimamente na gestão da cadeia de suprimentos. Segundo esses autores, mesmo nas disciplinas mais desenvolvidas as definições de resiliência são bastante contraditórias e confusas e que uma teoria universal sobre resiliência está em desenvolvimento.

3.2 Conceito e estágios da Resiliência em Cadeia de Suprimentos

Na literatura de cadeia de suprimentos, a idéia de resiliência surgiu recentemente, e sua definição conceitual ainda esta em processo de formação. O primeiro framework foi desenvolvido por Christopher e Peck (2004) onde definem a resiliência da cadeia de suprimentos como ''a capacidade de um sistema voltar ao seu estado original ou mudar-se para um novo estado, mais desejável, depois de sofrer uma perturbação'' (CHRISTOPHER; PECK, 2004). Esse conceito traz consigo a ideia de “reação (response)” e “recuperação (recovery)” a um evento inesperado que causa interrupção no fluxo da cadeia.

Embora o conceito seja novo e, justificativas teóricas ainda estão em desenvolvimento (JUTTNER; MAKLAN, 2011), uma definição fundamentada em várias disciplinas foi proposta por Ponomarov e Holcomb (2009). Eles definem a resiliência da cadeia de suprimentos como:

"a capacidade de adaptação da cadeia de suprimentos para se preparar para acontecimentos inesperados, responder à perturbações, e recuperar-se a partir delas, mantendo a continuidade das operações no nível desejado de conexão e controle sobre a estrutura e função" (Ponomarov e Holcomb , 2009, p. 131).

Esse conceito holístico de resiliência em cadeia de suprimentos, proposto por Ponomarov e Holcomb (2009), traz consigo algumas implicações (SPIEGLER; NAIM; WIKNER, 2012) quais sejam:

Prontidão (readiness): a implicação desta definição é se a cadeia de suprimentos pode preparar-se, antecipadamente, para enfrentar riscos capazes de gerar interrupção e continuar a fornecer bens / serviços a custos razoáveis de acordo com as exigências dos clientes finais.

Reação (response): capacidade de reação a um estímulo específico. A resposta rápida implica minimizar o tempo para reagir a perturbações e iniciar a fase de recuperação.

(9)

9 Recuperação (recovery): capacidade de retornar às condições "normais", ou estado de equilíbrio.

Geralmente, as definições de resiliência em cadeia de suprimentos sugerem a capacidade de reagir, lidar com, ou adapatar-se aos eventos inesperados (SHEFFI; RICE Jr ,2005; PETTIT; FIKSEL; CROXTON, 2010; JUTTNER; MAKLAN, 2011; WIELLAND; WALLENBURG, 2013), onde consideram a capacidade de recuperação (recovery) como um elemento central na resiliência da cadeia de suprimentos. Poucos trabalhos relacionam, implicitamente, a prontidão (readiness), ou seja, a capacidade de antecipar-se e preparar-se a possíveis eventos de risco (PONOMAROV; HOLCOMB 2009, SPIEGLER; NAIM; WIKNER,2012).

A capacidade de recuperação (recovery) pode ser subdivida em duas situações: recuperação ao estado anterior (original) ou a um novo estado de equilíbrio (melhorado) (CHRISTOPHER; PECK, 2004; JUTTNER; MAKLAN, 2011; PETTIT; FIKSEL, CROXTON, 2013; WIELAND; WALLENBURG, 2013).

No geral, nossa análise pode observar os seguintes estágios relacionados ao conceito de resiliência em cadeia de suprimentos:

Quadro 3 – Estágios da resiliência em cadeia de suprimentos

Estágios Definição Autor (s)

Prontidão (readiness)

Capacidade de preparar-se e antecipar-se a possíveis eventos de

riscos

BAKSHI; KLEINDORFER, 2009; PONOMAROV; HOLCOMB 2009; SPIEGLER; NAIM; WIKNER, 2012; JOHSON; ELLIOT, DRAKEY, 2013 Reação

(response)

Capacidade de reagir, rapidamente, a eventos inesperados e iniciar a

fase de recuperação

SHEFFI; RICE Jr ,2005; PETTIT; FIKSEL; CROXTON, 2010; JUTTNER; MAKLAN, 2011; WIELLAND; WALLENBURG, 2013)

Recuperação (recovery)

Capacidade de recuperar-se da interrupção e voltar ao estado

original (inicial)

CHRISTOPHER; PECK, 2004; JUTTNER; MAKLAN, 2011; ; WIELLAND;

WALLENBURG, 2013 Capacidade de recuperar-se da

interrupção e alcançar um novo estado de equilíbrio

CHRISTOPHER; PECK ,2004; WIELLAND; WALLENBURG, 2013; ZHANG, 2011.

(10)

10

3.3 Abordagens teóricas antecedentes à resiliência em cadeia de suprimentos

O primeiro estudo em resiliência de cadeia de suprimentos começou no Reino Unido, após os protestos do combustível que gerou interrupções nos sistemas de transportes em 2000 e o surto de febre aftosa no início de 2001 (PETTIT; FIKSEL; CROXTON,2010).

O estudo analisou a base de conhecimento industrial do Reino Unido sobre as vulnerabilidades da cadeia de suprimentos e constatou que:

(1) a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos é uma importante questão para os negócios, (2) existem poucas pesquisas abordando a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos, (3) o conhecimento no assunto é pobre, e (4) é necessário uma metodologia para gerenciar a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos (Cranfield University, 2003 apud PETTIT; FIKSEL; CROXTON, 2010 p. 4).

Com base em pesquisas empíricas esses estudos permitiram a Christopher e Peck (2004) desenvolver um framework inicial de resiliência em cadeia de suprimentos.

Paralelamente aos estudos de Cranfield, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) analisaram vários estudos de casos de empresas e cadeias de suprimentos que sofreram interrupções, com foco na identificação de características de vulnerabilidades e respostas de gestão (Sheffi 2005), além de identificar traços comuns entre estas e àquelas que mantiveram bons níveis de desempenho perante eventos perturbadores (SHEFFI; RICE, 2005).

Esses dois grupos de pesquisadores iniciaram os estudos de resiliência em cadeia de suprimentos a partir da identificação das vulnerabilidades e dos riscos as quais as cadeias estão submetidas. Os resultados das pesquisas começaram a ser divulgadas em periódicos internacionais em 2004 e estimularam outros grupos de pesquisas a contribuir com a formação do campo de estudo em processo de amadurecimento. Tal fato demonstra que na literatura de cadeia de suprimentos a ideia de resiliência é um campo emergente de pesquisa.

Nesse contexto, observa-se que a vulnerabilidade de cadeias de suprimentos e a gestão de risco em cadeias de suprimentos representam os aportes teóricos que antecedem os estudos de

(11)

11 resiliência em cadeias de suprimentos.

Vulnerabilidade, Risco e Resiliência em cadeia de suprimentos

A análise da literatura consultada permitiu identificar que o estudo de resiliência em cadeia de suprimentos combina os princípios do conceito de “resiliência” com estudos de vulnerabilidade da cadeia de suprimentos, definido por Svensson (2002) como "desvios inesperados da norma e suas consequências negativas." Matematicamente, a vulnerabilidade pode ser medida em termos de "risco", uma combinação da probabilidade de ocorrência de um evento e sua gravidade potencial (CRAIGHEAD et al, 2007; SHEFFI, 2005).

Leat e Revoredo-Giha (2013) argumentam que a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos refere-se à sua susceptibilidade para a probabilidade de ocorrência de perturbações e suas consequências. Assim, o estudo da vulnerabilidade da cadeia de suprimentos envolve a identificação dos riscos da cadeia, tanto os riscos relativos às empresas participantes da CS quanto os riscos específicos ao sistema como um todo (PETTIT; CROXTON; FIKSEL, 2013) Christopher e Peck (2004) entendem a vulnerabilidade da cadeia de suprimento como uma exposição a perturbações graves, decorrentes de riscos na cadeia de suprimentos.

A definição mais comumente aceita no corpo de rápido crescimento da literatura sobre gestão de risco na cadeia de suprimentos foi proposta por Juttner; Peck e Christopher (2003). Eles a definem como "a identificação de potenciais fontes de risco e implementação de estratégias adequadas, por meio de uma abordagem coordenada entre os membros da cadeia de suprimentos em risco, para reduzir a sua vulnerabilidade" (JUTTNER; PECK; CHRISTOPHER, 2003 p. 201).

Juttner; Peck e Christopher (2003) definem fontes de risco, como variáveis relacionadas à cadeia de suprimento ou ambientais que não podem ser previstas com certeza e que têm impacto sobre o desempenho da cadeia de suprimentos. Juttner, (2005) sugere a existência de três categorias de riscos que segundo Christopher; Peck (2004) podem ser subdivididos e formar cinco categorias: i) riscos internos às empresas (processo e controle), ii) riscos internos à cadeia de suprimentos (demanda e fornecimento) e, iii) riscos externos à cadeia de suprimentos (ambiente).

(12)

12 O objetivo principal da gestão do risco em cadeia de suprimentos é, portanto, reduzir a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos (JUTTNER; MAKLAN, 2011 p. 249). No entanto, outros autores também enfatizam que a gestão do risco visa aumentar a resiliência da cadeia de suprimentos (Sheffi, 2005).

Nesse contexto de riscos imprevistos, a resiliência surge como um método proativo de gestão de cadeias de suprimentos que pode complementar e melhorar a gestão tradicional de risco e planejamento da continuidade dos negócios (PETTIT; FIKSEL; CROXTON, 2010).

4. CONCLUSÃO

O objetivo principal desse artigo consiste em analisar as principais características conceituais do campo de estudo de resiliência em cadeia de suprimentos.

Observa-se a emergência do campo de estudo e a heterogeneidade conceitual de resiliência no contexto de cadeia de suprimentos. A ênfase da maioria dos trabalhos esta relacionada com o estágio de recuperação (recovery), ou seja, com a capacidade da cadeia recuperar-se dos danos causados por uma interrupção em seu fluxo de funcionamento. Entretanto, outros autores enfatizam a necessidade da gestão proativa dos possíveis eventos de riscos capazes de gerar interrupção.

As ligações dos aportes teóricos de vulnerabilidade e risco constituem as origens do campo de pesquisa de resiliência em cadeia de suprimentos, entretanto observa-se a interdependência conceitual entre eles, o que dificulta a diferenciação entre os conceitos.

Por se tratar de um campo de pesquisa emergente várias são as possibilidades de pesquisas futuras que contribuam para o desenvolvimento do campo de estudo:

 Aplicação empírica de diferentes frameworks para validação do modelo teórico;

 Identificar os processos de negócios que melhor contribuam para a resiliência da cadeia de suprimentos;

 Verificação empírica em diferentes cadeias de suprimentos para verificar quais elementos são mais essenciais antes, durante ou após uma interrupção;

 Aplicação em cadeias de suprimentos em diferentes contextos (setores, países) para verificar se tais elementos variam em detrimento do ambiente.

(13)

13

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKSHI, N.; KLEINDORFER, P.: Co-opetition and Investment for Supply-Chain Resilience. Production and Operations Management. Vol, 18, nº 6, pp. 583-603, 2009.

BHAMRA, R.; DANI, S.; BURNARD, K.: Resilience: the concept, a literature review and future directions. International Journal of Production Research. Vol, 49, nº 18, pp. 5375-5393, 2011.

COLICCHIA, C; DALLARI, F; MELACINI, M.: Increasing supply chain resilience in a global sourcing context. Production Planning & Control: the Management of Operations, vol, 21, nº 7, p. 680 694, 2010.

CRAIGHEAD, C. W.; BLACKHURST, J.; RUNGTUSANATHAM, M. J.: HANDFIELD, R. B.: The Severity of Supply Chain Disruptions: Design Characteristics and Mitigation Capabilities. Decision Sciences. Vol, 38, nº 1, 2007.

CHRISTOPHER, M.: PECK, M.: Building the Resilient Supply Chain. The International Journal of Logistics Management. Vol, 15, nº 2, 2004.

DENYER, D.;TRANFIELD, D. Producing a systematic review. In BUCHANAN, D. A; BRYMAN, A. (Eds). The sage handbooks of Organizational research Methodos. London: Sage Publications, p. 671 – 689, 2009. ISHFAQ, R.: Resilience through flexibility in transportation operations. International Journal of Logistics: Research and Applications. Vol, 15, nº 4, pp. 215-229, 2012.

IVANOV, D.; SOKOLOV, B.: Control and system-theoretic identification of the supply chain dynamics for planning, analysis and adaptation of performance under uncertainty. European Journal of Operational

Research. Vol, 224, nº 2, pp. 313-323, 2013.

JOHNSON, N; ELLIOTT, D; DRAKE, P.: Exploring the role of social capital in facilitating supply chain resilience. Supply Chain Management: an International Journal, vol, 18, nº 3, p. 324 – 336, 2013.

JUTTNER, U.: Understanding the business requirements from a practitioner perspective. The International Journal of Logistics Management. Vol, 16, nº 1, pp. 120-141, 2005.

JUTTNER, U.; MAKLAN, S.: Supply chain resilience in the global financial crisis: na empirical study. Supply Chain Management: An International Journal. Vol, 16, nº 4, pp. 246-259, 2011.

JUTTNER, U.; PECK, H.;CHRISTOPHER, M.: Supply chain risk management: outlining an agenda for future research. International Journal of Logistics: Research and Applications. Vol. 6 No. 4, pp. 199-213, 2003. KLIBI, W.; MARTEL, A.; GUITOUNI, A.: The design of robust value-creating supply chain networks: A critical review. European Journal of Operational Research. Vol, 203, nº 2, pp. 283-293, 2010.

LEAT, P.; REVOREDO-GIHA, C. Risk and resilience in agri-food supply chain: the case of the ASDA PorkLink supply chain in Scotland. Supply Chain Management: An International Journal, vol, 18, nº 2, p. 219 – 231, 2013.

PETTI, T. J.; CROXTON, K. L.; FIKSEL, J.: Ensuring Supply Chain Resilience: Developmente and Implementation of an Assessment Tool. Journal of Business Logistics. Vol, 34, nº 1, pp. 46-76, 2013.

PETTIT, T. J.: FIKSEL, J.; CROXTON, K. L.: Ensuring Supply Chain Resilience: Development of a Conceptual Framework. Journal of Business Logistics. Vol, 31, nº 1, 2010.

PICKETT, C.: Prepare for Supply Chain Disruptions Before they Hit. Logistics Today. Vol. 47, No. 6, pp. 22-25, 2006.

PONOMAROV, S. Y.: HOLCOMB, M. C.: Understanding the concept of supply chain resilience. The international Journal of Logistics Management. Vol, 20, nº 1, pp. 124-143, 2009.

SHEFFI, Y.: RICE JR, J. B.: A Supply Chain View of the Resilient Enterprise. Fall Research Feature. Vol, 47, nº 1, 2005.

(14)

14 chain resilience. International Journal of Production Research. Vol, 50, nº 21, pp. 6162-6187, 2012.

TRANFIELD, D.; DENYER, D.; SMART, P.: Towards a methodology for developing evidence – informed management knowledge by means of systematic review. British jornal of Management, V. 14, 2003.

WIELANND, A.; WALLENBURG, C. M.: The influence of Relational competencies on supply chain resilience: a relational view. International Journal of Physical Distribution&Logistics Management, Vol. 43 No. 4, pp. 300-320, 2013.

ZHANG, D. DADKHAH, P.; EKWALL, D.: How robustness and resilience support security business againgst antagonistic threats in transport network. J Transp Secur. Vol, 4, pp. 201-219, 2011.

Referências

Documentos relacionados

Cultural Brasil/Noruega 2014, pela representante do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Oslo.. 20:30 - Intervalo Intervalo Intervalo - Coquetel

Em “Outros espaços”, o filósofo afirma que heterotopias são “espécies de utopias efetivamente realizadas nas quais os posicionamentos reais, todos os outros

IV - decidir sobre a aplicação de uma ou mais das medidas prudenciais preventivas previstas na legislação vigente, a multa cominatória a elas relacionadas e sua eventual

Sobretudo recentemente, nessas publicações, as sugestões de ativi- dade e a indicação de meios para a condução da aprendizagem dão ênfase às práticas de sala de aula. Os

Os espanhóis negociavam com os jagas, "e no poderoso reino de Casa nji de cujos resgates vem as melhores peças de Escravos por serem mui am i g os deste licor e são tão

Como demonstrado em FERREIRA (2014), mediante a análise de tais processos percebeu-se que, mesmo somente no estabelecimento católico, a relação de práticas dentro e fora do

Obedecendo ao cronograma de aulas semanais do calendário letivo escolar da instituição de ensino, para ambas as turmas selecionadas, houve igualmente quatro horas/aula

A disponibilização de recursos digitais em acesso aberto e a forma como os mesmos são acessados devem constituir motivo de reflexão no âmbito da pertinência e do valor