MIGRAÇÃO INTERNA: UMA DISCUSSÃO DA PENDULARIDADE ENTRE A CIDADE MÉDIA DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BA COMO POLO DE ATRAÇÃO PARA AS
CIDADES PEQUENAS DE BARRA DO CHOÇA-BA E PLANALTO-BA1
Tales Luan Silva de Oliveira2 Elaine de Jesus Silva Oliveira3
INTRODUÇÃO
A migração brasileira já foi e ainda é altamente discutida em inúmeros contextos dentro de algumas ciências, sobretudo na ciência geográfica, onde são estudadas muitas nuances do deslocamento da população em diversas vertentes, no que se chama de migração e processos migratórios. No Brasil, a partir da segunda metade do século XX com os avanços da urbanização brasileira, devido ao processo de crescimento de muitas cidades no país, esses deslocamentos se tornam mais evidentes, uma vez que muitos centros urbanos começam a se formar no país e passa a ser um grande atrativo para as demais regiões, pois, a oferta de trabalho e infraestruturas diferentes fez com que muitos indivíduos começassem a usufruir desses processos migratórios.
Para, Braga (2006):
A passagem de uma sociedade fundamentada na vida e na produção agrária para o modelo urbano-industrial no Brasil ocorre no contexto das transformações internas e externas das primeiras décadas do século XX. Antes dos anos 30, a forte migração internacional já dava as primeiras contribuições para alterações mais profundas no mercado de trabalho e nas relações sociais que se darão durante o Estado Novo. Neste momento as migrações internas começam a protagonizar os movimentos populacionais mais importantes do país, refletindo uma integração maior do mercado de trabalho nacional, pela oferta de oportunidades de trabalho nos crescentes centros urbanos. Segundo Graham e Holanda Filho (BRAGA, 2006, p. 1).
Nesse sentido, vale ressaltar que na segunda metade do século XX, a população brasileira vai perdendo a ideia de população maioritariamente rural e ganhando um considerável destaque para o urbano, uma vez que tais oportunidades de trabalho reforça a migração no país.
Um desses processos migratórios é a migração interna que advém de um deslocamento populacional dentro do próprio território. Dentro dessa migração
1
Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.
2
interna podem-se destacar alguns tipos mais relevantes como; o êxodo rural: que se dá devido a transferência da população rural para ambientes urbanos, através da industrialização que acaba se tornando um atrativo para tais indivíduos. Ocorre também a migração urbano-urbano: migração bem comum hoje, se dá através do deslocamento de uma cidade para outra. Já a migração sazonal: é a migração que esta de acordo com as estações do ano, ou seja, os indivíduos saem em determinado período por inúmeros motivos como, secas, falta de trabalho e afins, mas retornam em outro momento para seu lugar de origem. Tem também dentro da migração interna o nomadismo: que se caracteriza pelo deslocamento da população em busca de melhores condições de vida, como moradia e alimento.
É nítido que existem inúmeras formas de deslocamento, contudo, nesse trabalho será enfatizada uma nova forma de deslocamento, que na qual não implica necessariamente que haja uma mudança de residência, nesse caso especifico, os indivíduos retornam para as suas cidades diariamente, o mesmo é denominado de movimento pendular.
No entanto, é relevante compreender a diferenciação da migração e da pendularidade, nessa perspectiva Vasconcelos (2012) afirma que:
Desse modo, a natureza dos deslocamentos pendulares difere substancialmente da compreendida pelos movimentos migratórios, embora ambos impliquem fluxos de pessoas no território. No "movimento" ou "deslocamento" pendular se entende que a dinâmica envolve um deslocamento diário e que, portanto, não implica transferência para outro lugar ou fixação definitiva (VASCONCELOS, 2012, p. 39).
Percebe-se que o autor deixa nítido que existem diferenças no conceito de movimentos migratórios e movimentos pendulares, por mais que os dois exerçam mobilidade no espaço, um faz referencia a um deslocamento que será permanente e outro haverá um deslocamento diário.
Levando em conta esses pressupostos em relação à migração interna e pendularidade, traz nesse texto como objetivo principal, verificar como se dá o movimento pendular entre a cidade média Vitória da Conquista no estado da Bahia para com as pequenas cidades circunvizinhas, Barra do Choça-BA e Planalto-BA. Tendo Vitória da Conquista como polo regional, levanta-se a hipóteses de que sua estrutura e organização enquanto cidade média favorece esse movimento pendular entre as cidades pequenas.
METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo proposto foi necessário um levantamento teórico sobre a migração interna, pendularidade e sobre as cidades médias como polo de atração, para isso foi utilizado alguns autores que tratam dessas temáticas, tais como: Braga (2006); Gusmão e Sampaio (2010); Rocha e Ferraz (2011) e Vasconcelos (2012). Em seguida, foi realizado um questionário abordando os principais motivos que viabilizam o deslocamento populacional para a cidade polo de Vitoria da Conquista-BA. Logo após, foram realizadas as análises dos questionários a fim de identificar os principais pontos.
Todas as informações obtidas foram consideradas relevantes para a compreensão da relação entre a migração interna e pendularidade no que se refere ao entendimento das cidades médias consideradas como polo de atração.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao fazer um levantamento bibliográfico e observar o município de Vitória da Conquista, nota-se que é um dos mais importantes polos regionais do Estado da Bahia, situado na região sudoeste, isso de acordo com a divisão da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, que é um centro para outras cidades não só em relação a Salvador. Percebe-se a relevância de Vitoria da Conquista, como prestadora de serviços para as cidades circunvizinhas, isso só ressalta a dependência que as cidades consideradas pequenas possuem em relação com as cidades medianas, nesse sentido a cidade em questão se destaca no setor terciário, bem como o comércio, produtos alimentícios, serviços ligados à saúde, além disso, o setor educacional de ensino superior tem sido imprescindível.
Já para estabelecer exemplos de cidades pequenas, inicia-se a discussão com a cidade de Barra do Choça-BA, situada na mesorregião Centro-sul Baiana e na microrregião de Vitória da Conquista, localidade a 27 km de distância. Segundo o IBGE de 2010, Barra do Choça possui pouco mais de 34 mil habitantes, estando considerada sua área urbana como cidade pequena e que pelo fato de estar próximo a Vitória da Conquista-BA, cidade média e polo regional, e por apresentar serviços limitados para o seu desenvolvimento, estabelece uma dependência significativa nos serviços dessa cidade polo.
Barra do Choça possui acesso limitado para inúmeros requisitos, como Educação Superior por exemplo, há uma quantidade considerável de estudantes que se deslocam diariamente e/ou semanalmente para o município de Vitória da Conquista pelo fato de apresentar inúmeras instituições educacionais públicas e privadas.
Ao realizar uma breve pesquisa com os moradores do município de Barra do Choça-BA, e ao serem perguntados qual a frequência semanal que eles se deslocam ao município de Vitória da Conquista, a maioria responderam a opção "Acima de três vezes", reforçando ainda mais a ideia de vínculo e dependência do primeiro município para o segundo. Como mostra o Gráfico 1.
Também foram questionados aos entrevistados, quais os principais motivos que os levavam ao município de Vitória da Conquista-BA e a maioria responderam a opção; "Fins Educacionais" que engloba ensino básico público e privado, ensino técnico, graduações, pós-graduações e afins. Algumas pessoas ao serem questionadas, também visitam o município por diferentes formas de consumo, reforçando a ideia de limitações nos serviços para o consumidor em Barra do Choça, fato esse, devido a abrangência e quantidade de opções de serviços que a cidade média nesse caso possui. Observe o Gráfico 2.
Outro destaque da abordagem foi o "Lazer", em resposta disseram que visitam o município para fins de diversão, em visitas aos shoppings centers, shows, festas, bares, redes alimentícias e afins e que não são encontrados em Barra do Choça.
Nessa mesma perspectiva, acontece com o município de Planalto-BA, situado na Mesorregião Centro-sul baiano, localiza-se á 49 km de Vitoria da Conquista, a mesma possui uma população estimada de 24.481 pessoas. Embora seja cortada pela a BR-116, que em tese facilitaria o fluxo de pessoas e mercadorias ampliando assim o seu comércio, e consequentemente a cidade seria prestadora de todo tipo de serviços á população, mas, a realidade é contraria. A maioria da população planaltense é dependente da cidade de Vitória da Conquista desde serviços básicos como os da saúde, para os de fins educacionais, salientando, além disso, tem-se o setor de vestuário, calçados e produtos alimentícios, e deslocamento diário dos trabalhadores.
Na cidade de Planalto-BA também foram realizadas os mesmos questionários utilizados na Barra do Choça-BA, e os gráficos demostram a existência da relação de dependência das duas cidades. Contudo, percebe-se que os resultados foram pontuais, principalmente nos quesitos da frequência que esses indivíduos se deslocam para Vitória da Conquista-BA, e no item que ressalta os motivos para esse deslocamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto, é imprescindível a compreensão das conceituações básicas a cerca de cidades médias e pequenas, para melhor assimilação com a definição de polo regional. Salientando a relevância do município de Vitória da Conquista-BA, no contexto de cidade média e como polo regional e sobre os seus reflexos para com os municípios circunvizinhos, com ênfase nos municípios de Barra do Choça-Ba e Planalto-Ba.
Para isso, foi realizada uma entrevista com moradores desses municípios a fim de entender o grau de dependência existente entre eles como a cidade polo. Percebeu-se que de fato os moradores de ambos os municípios se deslocavam para Vitoria da Conquista semanalmente a procura de serviços básicos com os da área da saúde bem como na educação, além disso, também houve procura para outros bens de consumo. E foi constatado que existe dentro da migração interna um forte movimento de pendularidade entre os municípios citados.
REFERÊNCIAS
BRAGA, F. G. Migração interna e urbanização no Brasil Contemporâneo: um estudo da rede de localidades centrais do Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 15., 2006, Caxambu, MG. Anais... Belo Horizonte, MG: ABEP, 2006.
FERRAZ, A. E. Q.; ROCHA, A. A. Atlas Geográfico de Vitoria da Conquista-Ba. In: ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA, 10., 2005, São Paulo, SP.
Anais... São Paulo, SP: EGAL, . 2005.
GUSMÃO, A. D. F.; SAMPAIO, A. V. O. Mobilidade do trabalho e produção do espaço nas Cidades Médias. In: ENCONTRO NACIONAL DOS GEÓGRAFOS, 16., 2010, Porto Alegre, RS. Anais... São Paulo, SP: ENG, 2010.
VASCONCELOS, V. Migração e pendularidade: as consequências de atração da população para o município de Toritama. 2012. 185f. Dissertação (Mestrado) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, 2012.
