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Opinião ABC Brasil /01/2016

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Opinião ABC Brasil – 452

15/01/2016

O ano de 2016 começou há duas semanas, mas as preocupações do mercado continuam as mesmas do ano anterior. Entre as principais apreensões dos investidores neste início de ano, podemos destacar a desaceleração da economia chinesa.

Entre 2000 e 2010, o PIB da China registrou crescimento médio de 10,25%, impulsionado pelas exportações e investimentos, ao passo que o consumo doméstico cresceu menos que a economia. No entanto, nos últimos anos percebeu-se que esse modelo de forte crescimento já não era mais sustentável. Os investimentos, que superavam 50% do PIB, não conseguiriam manter o mesmo ritmo de alta, enquanto o tamanho da China em relação ao resto do mundo também dificultaria um crescimento significativo das exportações. Neste contexto, aconteceu um esforço do governo chinês para rebalancear a economia, elevando a participação do consumo e dos serviços no PIB do país, em detrimento de uma expansão acelerada.

A mudança do modelo de crescimento fez com que o PIB da China crescesse a uma média de 7,4% entre os anos de 2012 e 2014. Além disso, para os próximos anos as autoridades de Pequim já sinalizaram que aceitam uma expansão menor, mas com perfil mais sustentável, com a taxa de crescimento do PIB convergindo para 6,0% ao fim da década. Esse cenário tem levantado duas grandes dúvidas no mercado: 1. Quanto o governo chinês está disposto a deixar a sua economia desacelerar no curto e médio prazo para atingir um crescimento mais equilibrado no longo prazo? 2. Qual o impacto desta desaceleração dos investimentos nos preços internacionais das commodities?

Neste segundo ponto reside outra grande fonte de preocupação dos investidores nos últimos meses: o preço do petróleo. Do lado da China (o segundo maior país consumidor de petróleo, só perde para os EUA), a redução dos investimentos diminui de forma significativa a demanda pela commodity, o que já geraria uma pressão baixista na cotação do petróleo. Além disso, existe a preocupação com o excesso de oferta, acentuada pela iminente entrada

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2 do Irã no mercado. Nesta semana o preço do petróleo Brent chegou abaixo de US$ 30 o barril, menor nível desde 2004.

A queda no preço do petróleo, por sua vez, tem impacto direto tanto nas economias avançadas, quanto nas ligadas às exportações de commodities. Na zona do euro e EUA, por exemplo, o recuo da cotação pressiona para baixo as taxas de inflação, que já estão significativamente abaixo da meta estipulada pelos bancos centrais. Da mesma forma, no Brasil, a queda do preço das commodities, em especial do petróleo, poderia ajudar o Banco Central a reduzir a taxa de inflação, que em 2015 estourou o teto da meta. No entanto, como os preços dos combustíveis ficaram represados por um período considerável, o repasse da queda do preço petróleo não chegará ao consumidor. Além disso, como já comentamos em relatórios anteriores, o alto grau de indexação da economia brasileira não permite que a inflação desacelere em um ritmo muito intenso.

Tendo esse cenário como pano fundo, utilizaremos esse Opinião para tentar analisar os próximos passos de política monetária na China, Zona do Euro, EUA e Brasil.

Começando pela China, como já explicitamos, a mudança de estratégia de crescimento, voltada mais para o consumo e o setor terciário, poderá levar a uma desaceleração mais abrupta do PIB do país. Nesta semana, alguns oficiais do governo chinês declararam que o país encontrará sérias dificuldades para atingir um crescimento acima de 6,5% neste e nos próximos 4 anos. Ao mesmo tempo, o presidente da China tem afirmado que um avanço de 6,5% seria o mínimo necessário para que o país atinja a meta de dobrar o PIB entre os anos de 2010-2020. Nesse cenário, aumentam as especulações de que novas medidas de estímulos fiscais serão anunciadas pelas autoridades de Pequim. Além disso, esperamos que o Banco do Povo da China (PBoC) corte a taxa de juros em pelo menos mais 50bps, além de reduzir a taxa de compulsório em ao menos 150bps. Em 2015, a autoridade monetária chinesa reduziu a taxa de juros em 125 bps, e cortou o compulsório em mais 200bps.

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3 Passando para a zona do euro, a queda da cotação do petróleo impacta diretamente no indicador “cheio” de preços, dificultando o trabalho do Banco Central Europeu (BCE) de fazer com que a inflação convirja para a meta de próximo (mas abaixo) de 2%. No final de 2015, o recuo da cotação do petróleo já havia impactado os preços da região, que entraram para a zona de deflação ao recuar 0,1% YoY em setembro. Nesse cenário o BCE decidiu anunciar medidas adicionais de estímulos à economia, entre elas o corte na taxa de depósitos e a ampliação do prazo do programa de compras mensais de ativos até março de 2017. No entanto, a intensificação do processo de queda do preço do petróleo neste início de ano colocou ainda mais pressões baixistas na inflação. Em dezembro, o índice de preços ao consumidor avançou 0,2% YoY, abaixo da expectativa dos economistas. Para os próximos meses, as previsões já estão próximas de zero, elevando o risco de observarmos novamente deflação na zona do euro. Neste contexto, o BCE se vê novamente pressionado a anunciar novas medidas, corroborando seu compromisso de fazer a inflação convergir para a meta. A ata da reunião do BCE de dezembro, divulgada esta semana, mostrou cautela da maioria dos membros em relação à implementação de novas rodadas de estímulos monetários. Com isso, para o próximo encontro, no dia 21 de janeiro, a expectativa é de que o BCE não anuncie nenhuma nova medida, mas que o presidente da instituição, Mario Draghi, mantenha o forward guidance de que, se necessário, novas ações poderão ser tomadas.

Entretanto, em um cenário onde o preço do petróleo demore mais para se recuperar, as taxas de inflação da zona do euro se aproximem de zero e as expectativas desancorem, esperamos uma nova rodada de estímulos.

Com relação aos EUA, na semana passada foi divulgado o relatório de emprego, que surpreendeu positivamente no número de vagas de trabalho criadas em dezembro. No entanto, o mercado não viu com tanto otimismo os dados de salários, que tiveram um desempenho aquém do desejado. Como na ultimas comunicações a autoridade monetária

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4 tem dado ênfase na importância da elevação da taxa de inflação para determinar o ritmo de alta de juros, as apostas do mercado quanto às próximas altas deverão ser guiadas mais pelos dados de salários e preços, do que de atividade econômica. Considerando que grande parte dos objetivos relacionados ao mercado de trabalho já foram atingidos, o Fed espera que um avanço nos preços possibilite novas elevações da taxa de juros. Entretanto, sem a recuperação dos salários e com a queda do preço do petróleo a perspectiva para a inflação dos EUA também não é positiva, devendo ficar abaixo da meta de 2% ao longo dos próximos meses. Nesse cenário, apesar da mediana das projeções dos membros do Fed apontar para mais quatro altas de 25bps neste ano, o mercado prevê apenas mais duas elevações.

Nesta semana, o presidente do Fed de St Louis, James Bullard, considerado um membro hawkish, mostrou preocupação com o cenário de petróleo e inflação. Segundo Bullard, além do impacto direto da queda da cotação do petróleo na inflação, nos últimos meses, observou-se também uma correlação elevada entre o preço do petróleo e as expectativas de inflação, fazendo com que estas fossem revistas para baixo e preocupando os membros do Fed. Apesar de acreditarmos que a economia americana manterá o desempenho superior ao das demais economias desenvolvidas, e que o mercado de trabalho dos EUA continuará registrando um desempenho favorável, capaz de impulsionar os salários, a falta de perspectiva de que a inflação acelere nos próximos meses fará com que o Fed adote um ritmo ainda mais gradual de aperto monetário, que na nossa previsão, resultará em mais duas altas de juros este ano.

Vindo para o Brasil, na última sexta-feira foi divulgado o IPCA de 2015, que ficou bem acima do teto da meta de 6,5%, fechando o ano em 10,67%. Com isso, o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, teve que escrever uma carta dirigida ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, explicando os motivos pelo descumprimento da meta no ano passado e as

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5 providências a serem tomadas para que a inflação retorne aos limites estabelecidos pelo CMN.

No documento, Tombini destacou que “O nível de inflação de 2015 refletiu, em grande parte, os

efeitos de dois importantes processos de ajustes de preços relativos na economia – o realinhamento dos preços administrados por contrato (“preços administrados”) em relação aos chamados “preços livres” (variação do IPCA excluindo os preços administrados) e o realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais –, observados desde o final de 2014 e que se estenderam ao longo de 2015. ”

Além disso, o presidente do BCB dividiu parte da responsabilidade pelo não cumprimento da meta com o governo, ao destacar o efeito da política fiscal nos preços dos ativos e nas expectativas:

“Conforme ressaltado no Relatório de Inflação de setembro de 2015, e consistente com as discussões a respeito do Orçamento Geral da União para 2016 feitas à época, alterações significativas na trajetória esperada para as variáveis fiscais impactaram não apenas as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação, mas também o próprio processo de apreçamento de ativos e a percepção de risco da economia doméstica, contribuindo para a deterioração das avaliações sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo e da confiança dos agentes econômicos.”

Já com relação aos próximos passos, o BCB reiterou que “Dessa forma, não obstante o esforço de

política monetária já realizado, vale reiterar que, nas atuais circunstâncias, a política monetária deve manter-se vigilante para conter eventuais efeitos adicionais resultantes dos dois importantes processos de ajustes de preços relativos que dominaram a economia em 2015. Só assim será possível ancorar as expectativas, um dos pilares do regime de metas para a inflação, e assegurar a convergência da inflação para a meta. ”

Olhando apenas para o cenário de inflação e, considerando que as expectativas continuam se deteriorando, parece inquestionável a necessidade de elevação na taxa de juros. No

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6 entanto, quando olhamos os indicadores de atividade entendemos a situação complicada em que o BCB se encontra. Nesta semana, o IBGE divulgou que as vendas do comércio restrito subiram 1,5% MoM em novembro, contrariando a expectativa dos economistas, de queda do indicador no mês. Apesar do resultado positivo, este desempenho parece ser pontual, impulsionado pelas vendas na Black Friday e pela antecipação das compras de Natal. No acumulado do ano, entre janeiro e novembro, o volume de vendas recuou 4,0%.

O bom resultado do varejo em novembro foi mais que compensado pela forte queda da produção industrial no mês, fazendo com que o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) recuasse 0,52% MoM. Com esse resultado, o carrego estatístico para o indicador no quarto trimestre de 2015 ficou em 5,5% YoY, levando a uma contração de 4,0% em 2015.

A recessão já teve impacto no mercado de trabalho. Segundo a Pnad continua, a taxa de desemprego subiu para 9,0% em outubro, ante 8,9% em setembro.

Com dados tão negativos de atividade, parece razoável o questionamento do BCB sobre a elevação de juros. No entanto, como o próprio BCB destacou na Carta, independente do contorno das demais políticas, a autoridade monetária adotará medidas necessárias para assegurar que a inflação fique dentro dos limites estabelecidos pelo CMN em 2016 e convirja para o centro da meta de 4,5% em 2017, indicando que na próxima quarta-feira o BCB deve iniciar mais um ciclo de aparto monetário, no entanto, menor do que os anteriores.

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7 Este material possui cunho meramente informativo, não constituindo qualquer tipo de oferta, convite, proposta ou aconselhamento por parte do Banco ABC Brasil S.A. (“Banco”) aos seus destinatários para quaisquer fins, inclusive, mas não limitado, à contratação ou não de operações financeiras, negócios ou investimentos, bem como quanto ao desenvolvimento por estes, ou não, de quaisquer estratégias correlatas. O envio deste material aos seus destinatários se dá de forma gratuita e por mera liberalidade do Banco, não se configurando como qualquer tipo de produto ou prestação de serviços por parte deste, ao qual fica reservado o direito de descontinuar o envio destas informações a qualquer tempo e sem qualquer tipo de aviso prévio a seus destinatários. As informações contidas neste material foram obtidas de fontes públicas e consideradas razoavelmente apuradas na data de sua divulgação. O Banco não confere aos destinatários deste material qualquer espécie de garantia, direito ou pretensão no que se refere às informações ora apresentadas, bem como quanto à sua exatidão, completude, isenção, confiabilidade ou atualização. Quaisquer decisões, contratações, investimentos, negócios ou estratégias, relacionadas ou não às informações ora apresentadas, deverão ser adotadas, efetuadas ou desenvolvidas pelos destinatários deste material exclusivamente de acordo com seus critérios de avaliação próprios e sob sua integral responsabilidade, com base nas informações por estes obtidas de forma independente e de acordo com a análise e opinião de seus consultores, analistas e administradores próprios. O Banco não será responsável, perante os destinatários deste material ou quaisquer terceiros, por qualquer forma de utilização das informações ora apresentadas, bem como por quaisquer perdas diretas, indiretas ou quaisquer tipos de prejuízos e/ou lucros cessantes que possam ser decorrentes do uso deste conteúdo. Este material e as informações dele constantes somente poderão ser reproduzidos, divulgados ou redistribuídos com a expressa anuência por escrito do Banco. Este material não se constitui, e não deve ser interpretado, para quaisquer fins, como relatório de análise nos termos do artigo 1º da Instrução CVM n.º 483, de 06 de Julho de 2010.

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