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Cópias da sentença do 10.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa e do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferidos no processo de registo de marca nacional n.° 209 965.

Cópia da sentença proferida nos autos de recurso de marca n.° 2656, em que são recorrente SUPA - Companhia Portuguesa de Supennercados, S. A., e recorrido o direc- tor do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

Fique nos autos o instrumento de ratificação de fl. 23 e procuração de fl. 24, julgando-se assim regularizada a instância no particular da representação e patrocínio da recorrente.

SUPA - Companhia Portuguesa de Supermercados, S. A., com sede em Lisboa, na Travessa de Teixeira Jú-

nior, 1, veio interpor recurso do despacho do Ex.mo Direc- tor do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial de 10 de Outubro de 1988, que recusou o registo de marca n.° 209 965, Qualité-Portugal, alegando, em síntese:

Que a marca em causa destina-se a assinalar «carne, peixe, ovos, caça e extractos de carne».

O indeferimento do requerido registo ter-se-á funda- mentado na circunstância de aquela marca ser constituída por um vocábulo de língua italiana.

Ora, enquanto o corpo do artigo 78.° do Código da Propriedade Industrial estabelece que «os dizeres das marcas devem ser redigidos em língua portuguesa», o pará- grafo deste artigo não impede o emprego de palavras latinas, nem que a marca inclua dizeres sobre a qualidade do produto, maneira de o usar, cuidados na sua conser- vação, na língua ou línguas mais convenientes para o mercado a que se destina, desde que o corpo principal da marca seja redigido em português, e de modo que o público não seja induzido em erro quanto à procedência portuguesa dele.

Permitindo os §§ 2.° e 3.° do mesmo artigo que os dizeres de marcas relativas a produtos destinados a expor- tação ou requeridas por estrangeiros não domiciliados em Portugal possam ser redigidos em qualquer língua.

Por outro lado, o emprego de expressões de fantasia é consentido (v. artigo 201.° do Código da Propriedade In- dustrial) se respeitarem os preceitos ortográficos em vigor e oferecerem o aspecto geral próprio das palavras portu- guesas ou latinas.

Ora, no caso dos autos ter-se-ia utilizado uma expressão de fantasia que oferece aspecto geral próprio das palavras portuguesas ou latinas.

A expressão «Qualité» tem o aspecto geral próprio de uma palavra latina, «Qualitas, atis».

E o facto de lhe poder corresponder uma palavra noutra língua - que seja semelhante - não contraria, assim, o parágrafo do artigo 201.°

Sendo «evidente» que a marca Qualité-Portugal não induz o público em erro quanto à origem dos produtos. «Até porque houve a preocupação de fazer nela inserir, em lugar de destaque, a palavra 'Portugal', não deixando assim qualquer margem para dúvidas quanto à origem dos produtos a que se destina.»

E, assim, o despacho recorrido violou os artigos 201.° e 78.° do Código da Propriedade Industrial, pelo que é ilegal e deve ser revogado.

Juntou cinco documentos.

Admitido o recurso e enviados os elementos previstos no artigo 206.° do Código da Propriedade Industrial, respondeu o director do Serviço de Marcas, sendo remetido a juízo o processo onde foi proferido o despacho de que ora se recorre.

O Tribunal é o competente, o processo o próprio, isento de nulidades, excepções ou questões prévias que obstem ao conhecimento de fundo.

E apreciando:

No cotejo dos artigos 78.°, § 1° (os §§ 2.° e 3.°, que a recorrente pretende trazer à colação, irrelevam aqui, por se não tratar de marca destinada exclusivamente à exportação, registo internacional, ou requerida por estrangeiros em Portugal, desde que apresentado certificado de registo no país de origem), e 201.°, § único, ambos do Código da Propriedade Industrial, são equacionáveis as hipóteses seguintes, no que ora interessa:

A) A marca é constituída por uma palavra que é, sem dúvida, um vocábulo bem conhecido da língua portuguesa, mas deparam-se-lhe em língua estrangeira palavras grafadas de igual modo.

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E nesta hipótese a forma gráfica portuguesa, por satisfazer ao preceituado na nova lei, tem necessariamente de prevalecer;

B) A marca é constituída por um vocábulo conhecido da língua estrangeira, sem qualquer correspon- dência gráfica na portuguesa, e então será evidente que a marca não pode ser registada (v. artigo 93.° do Código da Propriedade Industrial); C) A marca é constituída por expressão de fantasia, e tal expressão não constitui vocábulo conhecido da língua portuguesa. Então para que a marca seja registável será necessário que a referida expressão ofereça o aspecto geral próprio de palavras portu- guesas ou latinas;

D) A marca é constituída por expressão de fantasia a oferecer este aspecto geral, mas corresponde, graficamente, a um vocábulo estrangeiro. Este pode ser conhecido e tal conhecimento inculca que o produto, distinguível pela marca, é de pro- veniência estrangeira, mas também pode ser des- conhecido para tal efeito. Se o vocábulo estrangeiro é conhecido, a marca não pode ser registada. Se o vocábulo estrangeiro é desco- nhecido (por hipótese um tenno arcaico, erudito, regional, etc.), embora registado em algum minucioso dicionário de língua, a criação fanta- sista, no aspecto geral, da palavra portuguesa, ainda assim, deverá prevalecer face ao precio- sismo lexicográfico estrangeiro.

No caso dos autos é por de mais óbvio que o vocábulo «Qualité» não é palavra potuguesa.

O que logo exclui a hipótese configurada em A). Por outro lado, temos para nós não se tratar, aquele, de expressão de fantasia.

É por isso que este supõe uma ausência de sentido, ou a perda do conceito originário correspondente, com esva- ziamento de sentido.

O que manifestamente não ocorre com o vocábulo em causa, que tem um significado preciso e imediato.

E assim se excluiriam as hipóteses C) e D). Recaindo-se na hipótese B).

Pois que se trata, como a própria recorrente reconhece, embora apegando-se a C) ... à circunstância de, na língua italiana, ter um acento agudo, que não grave, o que desde já, e para os efeitos em questão, se reputa irrisório - de vocábulo conhecido na língua estrangeira sem corres- pondência gráfica na portuguesa (como ocorre, v. g., en- tre «bois», bosque, na língua francesa e plural de «boi» na língua portuguesa).

Sendo, pois, e nesta perspectiva, inculcável o disposto ora sob recurso.

Mas, ainda quando se devesse conceder tratar-se o dito vocábulo de expressão de fantasia - como pretende a recorrente -, seria idêntica a solução.

E assim mesmo admitindo-se que aquele oferecia o aspecto geral próprio de palavra latina.

Pois que, e como visto, corresponde graficamente a um vocábulo estrangeiro, bem conhecido.

Recaindo-se, pois, na hipótese D), 1.ª parte.

Afigurando-se-nos deveras ligeiro - o que apenas adjuvantemente se refere - afirmar-se, como o faz a recorrente, que, na marca em questão, «[...] houve a preocupação de [...] inserir, em lugar de destaque, a palavra 'Portugal'».

Pelo contrário, o que se constata e que o referido vocábulo surge praticamente, quer pela sua insignificante dimensão relativa, quer pelo tipo de caracteres - a fins -

utilizados na sua composição, e no confronto dos caracteres - o cheiro - utilizados no vocábulo italiano, que, aliás, encima a marca em causa.

Tudo assim deveras impressivo no sentido de indução em erro quanto à procedência portuguesa do produto, e, logo, em qualquer caso, em flagrante violação do disposto não só no corpo do artigo 78.° como na parte final ao § 1.° desse mesmo artigo do Código da Propriedade Indus- trial.

Como assim, nega-se provimento ao recurso, mantendo- -se o despacho em causa, que faz correcta aplicação do disposto no artigo 93.° do Código da Propriedade Indus- trial.

Custas pela recorrente.

Taxa de justiça, metade (v. artigos 27.° e 35.°, n.° 1.°, do Código das Custas Judiciais).

Oportunamente cumpra-se o disposto no artigo 210.° do Código da Propriedade Industrial - sendo a cópia dacti- lografada - e devolva-se o processo apenso (v. ar- tigo 243.°, § único, do mesmo Código).

Notifique e registe.

6 de Maio de 1991. -João Carlos Ezaguy Lopes Martins.

Está confonne,

Lisboa, 18 de Maio de 1992. - A Escrivã-Adjunta, (Assinatura ilegível.)

Cópia do acórdão proferido nos autos de recurso de marca n.° 2656, em que é recorrente SUPA - Companhia Portuguesa de Supennercados, S. A., e recorrido o direc- tor do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

SLJPA - Companhia Portuguesa de Supennercados, S. A., interpôs recurso do despacho do Ex.mo Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial de 10 de Outubro de 1988, que recusou o registo de marca n.° 209 965, Qualitá-Portugal, invocando, em síntese, que tal marca se destina a assinalar «carne, peixe, aves, caça e extractos de carne», tendo-se o indeferimento do requerido registo fundamentado na circunstância de aquela marca ser constituída por um vocábulo de língua italiana; ora, na dita marca, em vez de um vocábulo conhecido na língua portuguesa, utilizou-se uma expressão de fantasia que oferece aspecto geral próprio de palavras portuguesas ou latinas.

Com efeito, à expressão «qualitá» não corresponde um vocábulo conhecido na língua portuguesa, mas encontra- -se redigida em termos que em nada ofendem os preceitos ortográficos em vigor, com um aspecto geral próprio de palavras portuguesas; além disso, a expressão em causa corresponde à palavra latina «qualitas», que significa qualidade, natureza das coisas, tendo, pois, um aspecto geral próprio da palavra latina; por outro lado, o vocábulo da língua italiana correspondente «tem acento agudo, e não grave»; e a marca Qualitá-Porlugal não induz o público em erro quanto à origem dos produtos, até porque houve a preocupação de fazer nela inserir, em lugar de destaque, a palavra «Portugal», não deixando assim qualquer margem para dúvidas quanto à origem dos produtos a que se destina.

Pretendem, assim, a revogação do despacho do Ex.mo Director do Serviço.

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Após resumida resposta deste, foi proferida sentença que negou provimento ao recurso, mantendo o despacho recor- rido.

De tal sentença recorreu de novo a requerente, SUPA, que oportunamente, em alegações, formulou as seguintes conclusões:

1) O despacho que recusou protecção em Portugal à marca n.° 209 965, Qualitá-Portugal, destinada a assinalar «carne, peixe, aves, caça e extractos de carne», é ilegal, por violar o disposto nos artigos 201.° e 78.° do Código da Propriedade Industrial, pelo que deve ser revogado;

2) Embora o corpo do artigo 78.° disponha que os dizeres das marcas devem ser redigidos em língua portuguesa, o artigo 201.° do Código da Propriedade Industrial admite que as marcas sejam compostas por expressões de fantasia, desde que estas ofereçam aspecto geral próprio de palavras portuguesas ou latinas;

3) O próprio artigo 78.° admite, nos seus parágrafos, casos em que os próprios dizeres das marcas po- dem ser redigidos em língua estrangeira; 4) As referidas disposições legais têm de ser

interpretadas conjugadamente, apresentado-se com o duplo objectivo de protecção da língua portuguesa e de evitar que a marca possa ser utilizada para induzir o público em erro sobre a origem dos produtos em que é aposta;

5) Para protecção da língua portuguesa estabeleceu- -se a obrigatoriedade de, na grafia dos dizeres em língua portuguesa, se ter de respeitar os preceitos ortográficos em vigor e de, nas expressões de fantasia, as mesmas terem de oferecer o aspecto geral próprio de palavras portuguesas ou latinas; 6) A marca Qualitá-Portugal é composta por uma expressão de fantasia acompanhada da palavra «Portugal»;

7) «Qualitá» é uma expressão de fantasia, dado que não lhe corresponde um vocábulo conhecido na língua portuguesa, a qual oferece um aspecto geral próprio de palavras portuguesas (piaçá, maracujá, marajá) e de palavras latinas (qualitas, atis);

8) Por ser acompanhada da palavra «Portugal» a marca em questão não poderá ser utilizada para induzir o público em erro sobre a origem dos produtos em que virá a ser aposta, ainda que, exista outra palavra numa língua estrangeira que tenha a mesma ou semelhante redacção;

9) Chamados a pronunciarem-se sobre a legalidade de idênticos despachos que, com o mesmo funda- mento, também tinham recusado à recorrente a mesma marca Qualitá-Portugal, para assinalar diferentes produtos, sete juízes da comarca de Lisboa deram razão à apelante, proferindo sentenças revogando os despachos recorridos e mandando conceder a marca requerida;

10) Assim, devem ser revogados o despacho do Ex.mo Director do Serviço e a semelhança apelada, por violação dos ditos artigos 201.° e 78.°

O Ex.mo Magistrado do Ministério Público pronunciou- -se no sentido de que o recurso não merece provimento.

Corridos os vistos legais, cumpre decidir, tendo em conta o seguinte circunstancialismo de facto assente:

1) A marca cujo registo a recorrente requereu é constituída pelas expressões «Qualitá-Portugal», com o desenho constante a tl. 2;

2) Na língua portuguesa não existe a palavra «qualitá»;

3) Na língua italiana existe a palavra «qualitá»; 4) Na língua latina existia a palavra «qualitas», e

não «qualitá».

Segundo dispõe o artigo 93.° do Código da Propriedade Industrial, será recusado o registo das marcas que contrariem o disposto nos artigos 76.° a 79.° e seus parágrafos, ou que revistam determinadas características que indica, mas que não estão em causa na hipótese dos autos. Assim há que analisar aqueles outros dispositivos. O artigo 76.° esclarece apenas a quem cabe o direito de usar marcas, indicando, entre outros, os comerciantes, para assinalar os produtos do seu comércio.

O artigo 77.° não respeita a matérias em causa nestes autos. Já o artigo 78.° dispõe que «os dizeres das marcas devem ser redigidos em língua portuguesa». E acrescenta: § 1.° O disposto neste artigo não impede, porém, o emprego de palavras latinas, nem que a marca apresentada por português ou estrangeiro estabelecido em Portugal inclua dizeres sobre a qualidade do produto, maneira de o usar, cuidados na sua conservação e semelhantes, na língua ou línguas mais convenientes para o mercado a que o produto se destina, desde que o corpo principal da marca seja redigido em português e de modo que o público não seja induzido em erro quanto à procedência portuguesa dele.

§ 2.° As marcas de produtos destinados somente a exportação podem ser redigidos em qualquer língua; mas o seu uso em qualquer parte do território português determinará a respectiva caducidade.

§ 3.° O disposto neste artigo não se aplica às mar- cas de registo internacional nem às marcas cujo re- gisto for requerido por estrangeiros em Portugal, desde que apresentem certificados de registo no país de origem.

§ 4.° Nas marcas de produtos nacionais é obrigató- ria a inserção da palavra «Portugal», ou da indicação explícita da origem portuguesa, em caracteres bem nítidos e em lugar de destaque.

§ 5.° A inserção referida no parágrafo anterior, aposta nas marcas registadas à data do Decreto-Lei n.° 22 037, por carimbo ou outra forma bem visível, não está sujeita a registo.

Por sua vez, o artigo 79.° refere que a marca pode ser constituída por um sinal, ou conjunto de sinais nominati- vos, figurativos ou emblemáticos, que, aplicados por qual- quer forma num produto ou no seu invólucro, o façam distinguir de outros idênticos ou semelhantes. Acrescenta o seu § 1.° que não satisfazem às condições deste artigo «as marcas exclusivamente compostas de sinais ou indicações que possam servir no comércio para designar a espécie, a qualidade, a quantidade, o destino, o valor, o lugar de origem dos produtos ou a época da produção, ou que se tiverem tomado usuais na linguagem corrente ou nos hábitos leais e constantes do comércio. O § 2.° nada tem a ver com a matéria dos autos.

Com interesse para estes, diz ainda o artigo 201.° do mesmo Código que na grafia dos dizeres em língua portu- guesa incluídos nas marcas, nomes e insígnias deverão ob- servar-se rigorosamente os preceitos ortográficos em vigor. E acrescenta o seu § único que, se em vez de vocábulos conhecidos, se empregarem expressões de fantasia, estas deverão oferecer aspecto geral próprio de palavras portuguesas ou latinas.

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Estas são as diposições em que, fundamentalmente, a apelante se baseia.

Delas c do artigo 74." do mesmo Código da Propriedade Industrial resulta que a marca é um sinal distintivo que se destina a individualizar os produtos ou os serviços propos- tos ao consumidor ou ao utente e a permitir a sua diferen- ciação de outras da mesma espécie. Na composição da marca vigora o princípio da liberdade, pois os interessados gozam de grande liberdade na escolha dos sinais que a hão-de constituir, prevalecendo aqui em grande escala a imaginação e a fantasia. Pode a marca ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais nominativos (marca nominativa), figurativos ou emblemáticos (marca figurativa ou emblemática), ou por uma e outra coisa conjuntamente (marca mista).

A liberdade de composição da marca não é, porém, ilimitada, pois a lei estabelece-lhe várias restrições, como se vê das disposições transcritas.

Entre essas restrições, algumas visam a salvaguarda de interesses públicos ou estaduais, como é o caso das do artigo 78.° e seus parágrafos e da do artigo 93.°, n.° 12.", que não permite o registo da marca que contenha reprodução ou imitação total ou parcial de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado. Quer dizer, visam estas restrições, por um lado, a protecção da língua portuguesa e, por outro, evitar que a marca possa ser utilizada para induzir o público em erro ou confusão sobre a origem dos produtos em que é aposta.

A este último respeito, há que ter em conta que, sendo a marca um sinal distintivo de coisas ou serviços, há-de ser dotada, para o bom desempenho da sua função, de eficácia ou capacidade distintiva, isto é, há-de ser apropriada para diferençar o produto ou serviço marcado de outros idênticos ou semelhantes, sendo que (artigo 79.°) não possuem eficácia distintiva as marcas exclusivamente compostas de sinais ou indicações que possam servir no comércio para designar a espécie, a qualidade, a quantidade, o destino, o valor, o lugar de origem dos produtos ou a época de produção, ou que se tiverem tor- nado usuais na linguagem corrente ou nos hábitos leais e constantes do comércio. Trata-se dos chamados sinais descritivos: dominações genéricas indispensáveis à identificação das mercadorias, ou expressões ou sinais ne- cessários para a indicação das suas qualidades ou funções, que, em virtude do seu uso generalizado, e como elementos da linguagem comum, não devem poder ser monopolizados. Isto, a menos que sejam objecto de alterações gráficas e fonéticas pelas quais se lhes atribua um conteúdo original e distintivo, caso em que a proibição de registo da marca (artigos 93." e 79.°) já não valerá. No sentido exposto, Professor Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, vol. 1, 1965, pp. 330, 339, 341, 342 e 350; Dr. Carlos Olavo, Propriedade Industiral - Noções Fundamentais, in «Colecção de Jurisprudência», 1987, ano XII, t. 2, pp. 19 e segs.

A palavra «qualitá» integrada na marca em causa não existe na língua portuguesa. Por isso, pelo corpo do artigo 78.°, combinado com o artigo 93." não é, em princípio, admitido o registo dessa marca.

Atendendo agora aos parágrafos desse artigo 78.°, que pennitem a utilização de palavras de outras línguas, co- meça-se logo por constatar a permissão de uso de palavras latinas. Mas não é essa a hipótese dos autos, pois na língua latina também não existia a palavra «qualitá».

Depois, ainda no § 1.°, permite-se a utilização de dizeres na língua ou línguas mais convenientes para o mercado a que o produto se destina, dentro de condições em que se inclui a de o corpo principal da marca ser redigido em português. Também esta hipótese não se verifica, não só porque a apelante não invoca, como lhe competia, por se tratar de facto constitutivo do direito que se arroga ao registo de marca (artigo 342.°, n.° 1, do Código Civil), que o produto se destina a algum mercado estrangeiro para o qual a língua utilizada fosse conveniente, mas também porque o corpo principal da marca é a própria palavra não portuguesa «qualitá».

Os restantes parágrafos do artigo 78.° não relevam para a hipótese dos autos: não se trata, pois a apelante não o invoca como lhe competiria, se fosse o caso, de produtos destinados somentes a exportação (§ 2.°); nem se trata de marcas de registo internacional ou de registo requerido por estrangeiros em Portugal (§ 3.°), e os §§ 4.° e 5.° só respei- tam às palavras «Portugal», que a apelante inclui na marca, embora em lugar de pouco destaque.

Os parágrafos do artigo 78.° não afastam, pois, na hipó- tese dos autos, a aplicação do corpo desse artigo.

O mesmo se passa quanto ao artigo 79.° É que a palavra «qualitá» incluída na marca é igual à palavra italiana «qualità», excepção feita ao acento na última sílaba. A diferença de acentos, porém, não impede que a palavra seja a mesma, nem sequer provocando qualquer diferença fonética; aliás, nem será provável que o consumidor português tenha conhecimento ou se aperceba dessa diferença de acentos, que, assim, como se diz na sentença apelada, é irrisória, não possibilitando ao consumidor qualquer distinção. Acresce que, a permitir-se o registo de marca só com base em diferença entre o acento da palavra nela integrada e o acento da palavra estrangeira igual, seria abrir a porta a possíveis fraudes à lei, pois bastaria ao interessado alterar o acento da palavra estrangeira para ter probabilidade de a marca ser admitida. Assim, a palavra integrada na marca em causa tem de ser considerada como sendo a palavra italiana que significa «qualidade», significado este fácilmente perceptível, dada a semelhança entre as palavras portuguesa e italiana, por qualquer consumidor português.

Nestas condições, estamos perante um mero sinal descri- tivo, incapaz de satisfazer a exigência, posta pelo artigo 79.°, de eficácia distintiva, pois não é apropriado a diferen- ciar os produtos que são objecto da actividade de apelante de outros idênticos ou semelhantes. E, atendendo a que a referência, exclusivamente à qualidade, é feita com o significado de vincar a boa qualidade dos produtos ou serviços, temos que é o próprio § 1.° do artigo 79.° que lhe nega eficácia distintiva, pois o sinal utilizado apenas pode servir no comércio para designar a qualidade dos respectivos produtos, ou serviços, constituindo uma denominação genérica insusceptível de apropriação exclusiva.

Sustenta a apelante que, de qualquer fonna, sempre teria o direito ao registo por a expressão utilizada ser de fanta- sia e face ao disposto no § único do artigo 201.°

Mas não é assim. O próprio § único referido considera que os vocábulos conhecidos são o oposto de expressões de fantasia, para o presente efeito.

Fantasia é imaginação criadora ou o seu fruto; ficção, coisa que não tem existência real, mas apenas ideal, extra- vagância. Expressão de fantasia será, assim, uma expressão que não existia na realidade, que não se encontrava no domínio público, antes sendo fruto da imaginação, da fan-

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tasia de qualquer produtor ou comerciante, sem correspondência linguística com a designação dos produtos ou serviços respectivos. E isto não se passa com a expressão «qualitá».

Não pode esquecer-se que o artigo 201.° tem de ser interpretado de harmonia com os referidos objectivos e, portanto, de harmonia com o artigo 78.° e seus parágrafos. E a proibição constante do artigo 78.° visa impedir a utilização de palavras de língua estrangeira na composição da marca, quer por atenção com a língua nacional, quer para evitar que de alguma forma se influencie e deter- mine os possíveis consumidores, quer por uma questão de aumento de prestígio e divulgação dos produtos nacionais que os há em Portugal de melhor qualidade, em muitos casos, que no estrangeiro. Portanto, o preceito abrange as palavras estrangeiras escritas correctamente de acordo com os preceitos ortográficos da língua respectiva, mas abrange também os casos em que, embora deficientemente escrita, a palavra utilizada seja claramente apreendida pelos consumidores em geral, não como uma expressão de fan- tasia, mas como uma palavra estrangeira. Aliás, com o desenvolvimento dos meios de comunicação e o alargamento dos conhecimentos, cada vez mais os consumidores portugueses estão aptos a distinguir entre as diversas línguas mais conhecidas e a reconhecer algum termo como pertencente a qualquer delas, mesmo que não lhe conheçam o significado, o que dificilmente acontecerá na hipótese dos autos face à já referida semelhança entre as palavras «qualitá» e «qualidade», ou «qualità» e «qualidade». A diferença de acentos, já se disse, é irrelevante no sentido de afastar a natureza da palavra italiana da expressão utilizada, como o seria se, numa palavra portuguesa, o acento estivesse incorrectamente aposto, caso em que a palavra continuaria portuguesa.

A palavra «qualitá» apresenta-se, assim, permite o pú- blico consumidor como um estrangeirismo com virtuali- dade para confundir os consumidores sobre a origem dos produtos respectivos, tanto mais que a palavra «Portugal» vem inserida na marca em lugar e com dimensões de dimi- nuto destaque em relação à palavra «qualitá», que, essa sim, é desenhada com dimensões e em posições capazes de despertar a atenção do público para ela, tornando despercebida aquela outra. Nestas condições, sendo a expressão «qualitá» uma palavra italiana, com o senão da diferença de acento, ou, pelo menos, indiscutivelmente conotada ou relacionada intimamente com a palavra italiana «qualità», e utilizada com o significado desta, não pode ser considerada como produto de fantasia, pois não se apresenta como criada, e sim como apropriada, pela apelante, já existindo anteriormente com um determinado significado «qualidade», sem que se possa dizer que haja criação de uma palavra nova apenas mediante alteração de um acento. Embora a apelante sustente que o termo «qualitá» é uma expressão de fantasia por não lhe corresponder um vocábulo conhecido na língua portuguesa, entende-se, antes, que é a mesma palavra italiana «qualità» após alteração do acento final e até sem alteração fonética. A marca é, pois, constituída por um vocábulo conhecido na língua italiana, sem qualquer correspondência gráfica na língua portuguesa, pelo que bem recusado foi o seu registo nos termos dos artigos 78.°, 79.°, 93.° e 201.° do Código da Propriedade Industrial não levando a conclusão contrária as decisões invocadas pela apelante.

Improcedem, pois, todas as conclusões desta.

Nestes termos, acorda-se em negar provimento ao re- curso, confinnando-se a sentença recorrida.

Custas pela apelante.

Cwnpra-se oportunamente o disposto no artigo 210° do Código da Propriedade Industrial.

Lisboa, 20 de Fevereiro de 1992. - Silva Salazar - Rodrigues Codeço - Boavida Barros.

Está conforme.

Lisboa, 23 de Setembro de 1992. - (Assinatura ilegí- vel.)

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