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Compreensibilidade de símbolos de reciclagem

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Compreensibilidade de símbolos de reciclagem

Recycling symbols comprehensibility

van der Linden, Júlio Carlos de Souza; Dr.; Centro Universitário Ritter dos Reis

juliovanderlinden@terra.com.br

Eschiletti, Pedro Biz; estudante de graduação; Centro Universitário Ritter

dos Reis

Resumo

Atualmente as embalagens devem cumprir o importante papel de fonte de informações quanto ao seu uso e descarte. Considerando o seu impacto ambiental, devem informar aos consumidores sobre a natureza dos materiais utilizados na sua fabricação. Nesse contexto, este artigo apresenta resultados de uma pesquisa que avaliou a compreensibilidade, por parte de grupos de consumidores, dos símbolos de reciclagem constantes da Simbologia Brasileira de Identificação de Materiais. Este estudo envolveu ainda a investigação da aplicação desses símbolos em embalagens de bebidas. Os resultados obtidos indicam que os símbolos de reciclagem adotados pela nossa sociedade não atendem à sua função comunicacional.

Palavras Chave: símbolos de reciclagem, compreensibilidade, embalagem

Abstract

Currently consumer products package are important sources of information regarding the use and discarding. Considering environmental risks, consumers need to be informed on the used materials in the package manufacture. In this context, this article presents results of a research that evaluated comprehensibility of recycling symbols used in Brazil (Simbologia Brasileira de Identificacão de Materiais). This study still involved the analysis of the application of these symbols in beverage package. Results indicate that the recycling symbols adopted by our society do not accomplish to its comunicational function.

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Introdução

A preocupação com o impacto ambiental implica na mudança de atitude de consumo, na escolha dos produtos e na destinação após o seu uso. No caso das embalagens, o problema é mais grave pela sua natureza efêmera. Qualquer pessoa de classe média gera um significativo volume de lixo proveniente de embalagens que descarta no seu dia-a-dia. Para atender a uma mudança de paradigma necessária para a sobrevivência de nossa civilização é necessário que o lixo se transforme em matéria-prima (BARBOSA, 2002). Assim, é indispensável a separação dos diferentes materiais que o compõem o lixo. Por vezes, a separação não é feita pela dificuldade de discriminar entre diferentes materiais.

No caso de produtos de consumo, as embalagens, além de exercerem as funções de acondicionamento e proteção, são as principais fontes de informações a respeito de assuntos relevantes, tais como os cuidados com o seu manuseio e descarte. Essas informações deveriam oferecer aos consumidores as condições para um uso seguro, permitindo-lhe ainda tomar decisões apropriadas quanto ao descarte. O problema se coloca quando é verificada a ocorrência de uma baixa eficácia comunicacional das informações disponíveis. Seja pela ausência de informações ou pelo uso de linguagens e códigos inapropriados ou ineficazes, o papel da embalagem como mediadora entre as políticas de gestão ambiental e a atitude do consumidor vem a ser precário. Em outras palavras, as embalagens não cumprem o papel de transmitir a mensagem que deveria motivar o consumidor a adotar uma atitude de cuidado com relação ao seu manuseio e descarte.

No Brasil, a Associação Brasileira de Embalagens (ABRE) apresenta um esforço setorial para reduzir o impacto ambiental de seus produtos. Para tanto, destaca em seu sítio virtual a importância da reciclagem de embalagens. Além disso, com o intuito declarado de utilizar as embalagens como ferramenta de educação ambiental, oferece a todos os interessados a Simbologia Brasileira de Identificação de Materiais (ABRE, 2005). Esse conjunto de pictogramas é apresentado como uma ajuda para o consumidor, que “poderá identificar de maneira rápida e fácil que a embalagem é reciclável e que deve ser descartada seletivamente” (ABRE, 2005).

Nas sociedades contemporâneas o uso de pictogramas, e de outros tipos de signos gráficos, tem sido amplamente generalizado. O princípio para a sua utilização é que venham a ser compreensíveis pela maioria da população. Contudo, em grande parte dos casos existe a necessidade do conhecimento prévio do código, seja por aprendizagem formal (caso dos sinais de trânsito) ou pela experiência pessoal (caso dos pictogramas utilizados em de sinalização de ambientes), para que haja a condição de uma comunicação. Pesquisas desenvolvidas por Formiga (2002) e Mont’Alvão, e Benchimol (2003) têm demonstrado a baixa eficácia de códigos desenvolvidos de forma arbitrária ou fora do contexto cultural de seus usuários.

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a mudança de comportamento, que é um dos objetivos de um sistema de informação. O Modelo do Processo Informacional da Comunicação Humana, proposto por Wolgater et al. (19991, apud MORAES, 2002),

sugere que as fases posteriores de um processo informacional podem afetar as suas fases anteriores. Assim, as atitudes e crenças ou a motivação podem afetar a compreensão de uma advertência ou, mesmo, a atenção da pessoa em relação à existência de uma advertência. A mudança de atitude não se dá simplesmente com a recepção de uma mensagem, depende de fatores cognitivos (opiniões), afetivos (grau de confiança) e conotativos (intenções) (MORAES, 2002). Portanto, a disponibilidade de informação sobre perigos potenciais não é, por si, suficiente para afetar a percepção do risco.

No caso das embalagens, a percepção do risco é menor por não estar associado a um dano pessoal e imediato. Nesse caso, a motivação está ligada à atitude diante da poluição ambiental, que por sua vez se relaciona com a atitude do indivíduo diante do consumo desenfreado das sociedades capitalistas pós-industriais. Por conta da relevância desse tema para a sociedade brasileira, o Instituto Akatu desenvolveu um instrumento que se propõe a avaliar quanto uma pessoa está comprometida com atitudes de consumo consciente, com base em hábitos responsáveis sob as óticas sócio-ambiental e econômica (AKATU, 2004)2.

Nesse contexto, este artigo apresenta resultados de uma pesquisa que avaliou a compreensibilidade dos símbolos que constituem a Simbologia Brasileira de Identificação de Materiais. O estudo incluiu, além da avaliação de compreensibilidade e de pregnância desses símbolos, a investigação de sua aplicação em embalagens de bebidas.

Simbologia Brasileira de Identificação de Materiais

A Simbologia Brasileira de Identificação de Materiais inclui símbolos para materiais como alumínio, papel, vidro e aço, além de materiais poliméricos. Para os polímeros os símbolos seguem um código internacional (GIOVANNETTI, 1995), sendo constituídos por um elemento comum, formado por três setas inseridas em um triangulo e apontadas em sentido horário, e um código numérico. Abrange os seguintes polímeros: 1 Polietileno Tereftalato (PET); 2 Polietileno de Alta Densidade (PEAD); 3 Policloreto de Vinila (PVC); 4 Polietileno de Baixa Densidade (PEBD); 5 Polipropileno (PP); 6 Poliestireno (PS); e 7 outros (Figura 1). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) adota esse código por meio da NBR 13230 (ABNT, 1994).

Figura 1 Símbolos para a identificação de polímeros recicláveis (Fonte: ABNT, 1994; ABRE, 2004)

Os símbolos para os outros materiais (alumínio, papel reciclável, papel reciclado, vidro e aço) são apresentados na Figura 2. Observa-se

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que apenas para o aço não são utilizadas setas, que no caso do alumínio estão inseridas em uma circunferência.

Figura 2 Símbolos para a identificação de alumínio reciclável, papel reciclável, papel reciclado, vidro reciclável e aço (Fonte ABRE, 2004)

Procedimento metodológico

O estudo foi realizado em três etapas: análise da aplicação das informações sobre reciclagem em embalagens; avaliação da compreensibilidade de símbolos sobre reciclagem; e avaliação da pregnância dos símbolos de reciclagem.

Análise da aplicação das informações sobre reciclagem em embalagens

Esta etapa implicou na analise da aplicação dos símbolos de reciclagem determinados pela ABRE. A análise foi realizada por meio de observações sistemáticas em pontos de venda e coleta de amostras em ambientes domésticos.

Devido à grande variedade de categorias de produtos, essa análise foi limitada a categorias de embalagens de bebidas não-alcoólicas (sucos, refrigerantes e águas minerais). A escolha se deveu ao fato de se tratar de produtos consumidos por grande parte da população.

Avaliação da compreensibilidade de símbolos sobre reciclagem Nesta etapa, foi desenvolvido um questionário para avaliar a compreensibilidade dos símbolos sobre reciclagem, considerando variáveis como atitude diante do problema de consumismo e dados demográficos que podem estar associadas ao desempenho nas respostas. O instrumento adotou um enfoque quantitativo e incluiu:

• Compreensibilidade dos símbolos, adaptado de Formiga (2002); • Índice de Consumo Consciente (ICC), adaptado do instrumento

desenvolvido pelo Instituto Akatu;

• Conhecimento dos símbolos sobre reciclagem e percepção quanto à sua importância;

• Hábito de reciclar embalagem e atitude quanto ao material das embalagens, na aquisição de produtos;

• Percepção do impacto ambiental de materiais utilizados em embalagens (aço, alumínio, plástico, tetrapak e vidro).

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respostas, com uso de testes não-paramétricos. Avaliação da pregnância dos símbolos

A pregnância dos símbolos utilizados na Simbologia Brasileira de Embalagens foi avaliada por meio do Teste de Produção, conforme procedimentos apresentados por Formiga (2002). Esta etapa da pesquisa também envolveu estudantes de graduação em Design (n=20).

Para a análise dos resultados, a representação dos elementos constituintes dos símbolos, mesmo que não tenham sido corretamente desenhados, foi considerada como acerto, indicador de boa pregnância. Nos casos em que alguns dos elementos, mas não todos, foram representados, entendeu-se como erro. Quando os elementos foram representados equivocadamente, considerou-se que não havia boa pregnância. A partir desses critérios, os casos de acerto e acerto parcial foram considerados como acertos e os demais como erros.

Resultados e discussão

Análise da aplicação das informações sobre reciclagem em embalagens

Os resultados demonstraram que os símbolos de reciclagem não são utilizados corretamente. O uso adequado foi observado de modo generalizado apenas nas embalagens em alumínio.

No caso das embalagens em PET, em particular, foram observadas diversas incorreções no uso. Na categoria de refrigerantes todos as embalagens dessa amostra apresentaram uso incorreto. Nas embalagens de sucos, alguns fabricantes fazem uso adequado dos símbolos, contudo foram encontradas diversas ocorrências do uso incorreto. Nas garrafas de água mineral o problema é similar. A Figura 3 apresenta alguns exemplos do material coletado, para embalagens em PET de refrigerante, sucos e água mineral.

Símbolo (ABRE) Categoria de produto Símbolos utilizados

Refrigerante Sucos Água mineral

Figura 3 Uso de símbolos em embalagens PET de refrigerante, sucos e água mineral.

Avaliação da compreensibilidade dos símbolos de reciclagem O questionário foi aplicado a duas amostras, seguindo critérios de conveniência, o que limita a generalização de seus resultados. No primeiro teste, a amostra foi constituída por estudantes de graduação em Design

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(n=62) e um grupo de pessoas sem formação em nível superior (n=15). No segundo, optou-se por trabalhar apenas com estudantes de graduação em Design (n=57).

Os dados foram analisados com ajuda de com testes estatísticos não-paramétricos: Teste do Qui-Quadrado, Teste Exato de Fischer, Teste de Kruskal-Wallis e Teste de Mann-Whitney. Para tanto, foi utilizado o programa SPSS, versão 8.

Na análise das respostas quanto à compreensibilidade dos símbolos, considerou-se que os símbolos referem-se a materiais que podem ser reciclados. Assim, foram consideradas na categoria “compreende” as respostas que identificavam o material e a possibilidade de reciclagem. As respostas que apresentavam apenas o material foram classificadas como “compreende parcialmente”. Devido ao tamanho das amostras, as categorias “compreende” e “compreende parcialmente” foram classificadas como “acerto”, e as categorias “não compreende”e “não respondeu” foram classificadas como “erros”.

No primeiro teste a análise dos percentuais de acertos, apresentados na Tabela 1, levou à formação de três grupos: os símbolos para “alumínio reciclável” e “descartável” têm um alto índice de acertos; os símbolos para aço e plástico (PET) têm um baixo índice de acertos; e os símbolos para vidro, papel reciclável e papel reciclado têm um índice de acertos muito baixo.

Tabela 1 Percentuais de acertos e erros, por símbolo

Símbolo Acertos Erros

Alumínio reciclável 69,1% 30,9% Aço reciclável 38,3% 61,7% Vidro reciclável 2,5% 97,5% Papel reciclável 6,2% 93,8% Papel reciclado 7,4% 92,6% Plástico (PET) 25,9% 74,1% Descartável 75,3% 24,7%

Além dessa análise, foi calculado o índice de acertos de cada respondente, dado pelo somatório das respostas consideradas como “compreende” e “compreende parcialmente” dividido pela quantidade de símbolos avaliados (no caso, sete). O índice de acertos para cada símbolo foi calculado de forma similar, dividindo o total de acertos pelo total de respondentes. Com base nesse procedimento, foi feita a análise dos acertos e erros em cada grupo e para cada símbolo foi realizada com o uso do teste do Qui-Quadrado, encontrando-se associação significativa entre a declaração de conhecimento e o desempenho (acerto/erro), para os símbolos de “alumínio reciclável” e “descartável”. Para esses símbolos os sujeitos com nível superior obtiveram melhor desempenho.

Foi avaliado também o efeito do nível de escolaridade na compreensão dos símbolos para cada material, por meio do Teste do Qui-Quadrado. Os resultados desse teste indicaram que apenas para o símbolo de alumino reciclável (resíduo ajustado = 3,81) existe uma associação entre o nível de escolaridade e a compreensibilidade (indicada por meio do percentual de acertos).

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Considerando que o nível de consciência do consumidor com relação a questões ambientais pode afetar o seu interesse e seu conhecimento sob os aspectos ambientais do uso de embalagens, foi verificado efeito do Índice de Consumo Consciente (ICC) sobre o índice de acertos. Para tanto, foi procedido o teste de Kruskal-Wallis, considerando as categorias “consciente”, “comprometido” e “iniciante”. A categoria “indiferente” foi excluída por contar com apenas um respondente. Os resultados do teste indicaram que não há diferenças estatisticamente significativas entre as três categorias (p= 0,161). Isso indica que o acerto não depende do quanto o sujeito está comprometido com práticas de consumo consciente.

A partir dos resultados do primeiro teste de compreensibilidade foi decidido realizar um novo teste, desta vez em um grupo com maior homogeneidade quanto aos fatores educacionais e culturais. Considerando as limitações de recursos da pesquisa a opção recaiu na realização desse teste com grupos de estudantes do curso de Design.

Os resultados apresentaram diferenças, devido à variabilidade entre sujeitos, mas novamente foi possível observar que os símbolos para vidro e papel reciclável apresentaram alto índice de respostas classificadas como “não compreende” (78,6% e 91,1% das respostas), no que foram acompanhados dos símbolos para papel reciclado e plástico (PET), respectivamente com 87,5% e 76,8% de respostas nessa categoria.

Da mesma forma como no primeiro teste, as categorias “compreende” e “compreende parcialmente” foram classificadas como “acerto”, enquanto as categorias “não compreende” e “não respondeu” foram classificadas como “erros”. Neste caso, na análise dos percentuais de acertos, apresentados na Tabela 2, foram encontrados três grupos: os símbolos para “alumínio reciclável” e “aço” têm um alto índice de acertos; o símbolo para “descartável” apresentou um baixo índice de acertos; e os símbolos para vidro, papel reciclável e plástico (PET) têm um índice de acertos muito baixo. Para o “papel reciclado” não ocorreram acertos.

Tabela 2 Percentuais de acertos e erros, por símbolo

Símbolo Acertos Erros

Alumínio reciclável 80,4% 19,6% Aço reciclável 69,6% 30,4% Vidro reciclável 7,1% 92,9% Papel reciclável 3,6% 96,4% Papel reciclado 0,0% 100,0% Plástico (PET) 7,1% 92,9% Descartável 41,1% 58,9%

Seguindo o procedimento adotado para o primeiro teste, a análise das respostas foi procedida considerando o índice de acertos de cada respondente e o índice de acertos para cada símbolo. O índice de acertos de cada respondente foi calculado pelo somatório das respostas consideradas como “compreende” e “compreende parcialmente” dividido pela quantidade de símbolos avaliados (no caso, sete). O índice de acertos para cada símbolo foi calculado de forma similar, dividindo o total de acertos pelo total de respondentes.

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Neste teste, as médias do índice de acertos tanto para o grupo que declarou conhecer os símbolos de reciclagem como para o que declarou não conhecer esses símbolos foi aproximadamente a mesma, em torno de 0,296. A análise por meio do Teste de Mann-Whitney (p= 0,976) indicou que não há diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos com relação ao seu índice de acertos. No caso do grupo que afirmou desconhecer os símbolos, o resultado é coerente com a percepção dos sujeitos quanto ao seu conhecimento. Contudo, no caso do grupo que declarou conhecer os símbolos, nenhum sujeito atingiu o índice de acertos máximo, indicando mais uma vez que a avaliação que as pessoas fazem de seu conhecimento acerca desse tipo de informação não corresponde à realidade.

Avaliação da pregnância dos símbolos de reciclagem

Os resultados foram analisados por meio da comparação dos desenhos feitos por cada sujeito com os símbolos da ABRE convencionados para cada referente. A análise considerou a presença dos elementos de cada símbolo (fita de Möbius, símbolo químico para o alumínio, numeração do polímero). A Figura 4 apresenta exemplos das representações para três materiais (aço, alumínio e PET).

Símbolo (ABRE) Representações conforme o Teste de Produção

Figura 4 Exemplos de resultados do Teste de Produção

A Tabela 3 apresenta os índices de erros e acertos para cada símbolo. Pode-se observar que com esse critério o símbolo para PP teve o melhor desempenho, seguido dos símbolos para Alumínio e PET. Cabe ressaltar que em todos os casos o índice de erros foi acima de 50%, o que demonstra baixa pregnância desses símbolos.

Tabela 3 Índices de acertos e erros por símbolos

Acertos Erros Alumínio 35,0% 65,0% Aço 15,0% 85,0% Vidro 0,0% 100,0% Papel reciclável 25,0% 75,0% Papel reciclado 20,0% 80,0% PET 35,0% 65,0% PP 40,0% 60,0%

Considerações finais

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Os resultados deste estudo indicam que o processo de aprendizado por parte do consumidor comum é dificultado pela falta da adoção sistemática de um código como o Sistema Brasileiro de Identificação de Materiais. Os consumidores/usuários, em sua maioria, não têm outra forma de aprendizado quanto a esse tipo de informação senão o contato direto com os produtos. Portanto a correta aplicação contribui para a aprendizagem. Contudo, as empresas utilizam sem critérios claros os mais diversos símbolos, com a intenção de declarar a reciclabilidade de suas embalagens. Foi flagrante o fato de que nas latas de alumínio o símbolo é utilizado corretamente por todas marcas que compõem a amostra, enquanto que no caso das garrafas PET isso não ocorre.

Com relação ao símbolo para alumínio reciclável observa-se que a sua decodificação parece ser mais fácil para as pessoas com nível superior. Isso pode ser explicado pelo fato de que é um código composto pela abreviatura al, que é diretamente associado ao símbolo utilizado na Química para o elemento Alumínio (Al). Cabe ressalvar que esse conhecimento é comum para pessoas que atingiram o nível superior, mesmo que em áreas do conhecimento que não exijam profundos conhecimentos em Química. Pelos resultados dos dois testes de compreensibilidade, a eficácia dos símbolos de modo geral é baixa, com a única exceção do caso do “alumínio”. A pregnância também se apresenta como fraca, pelo que foi demonstrado por meio do uso do Teste de Produção, nesse caso, inclusive para o símbolo para alumínio.

Neste estudo, a despeito da declaração por parte da maioria dos respondentes de que conhece os símbolos utilizados para a reciclagem de materiais, encontrou-se desconhecimento com relação à Simbologia Brasileira de Identificação de Materiais. Considerando as limitações das amostras, foram encontrados indícios de que o nível educacional e o Índice de Consumo Consciente não afetam o desempenho na compreensão dos símbolos sobre reciclagem. Isso vem demonstrar que a Simbologia Brasileira de Identificação de Materiais necessita de maior divulgação, para atingir os objetivos declarados pela ABRE.

Cabe reconhecer as limitações deste estudo, que trata de um tema complexo, que envolve símbolos de uso internacional e outros de uso local, a partir de testes realizados com amostras não representativas. Além disso, como a normatização vem sendo feita setorialmente, corre-se o risco de os consumidores virem a ser expostos a diferentes códigos, que em alguns casos utilizam os mesmos elementos gráficos (pictogramas) como signos de diferentes referentes. Outra questão que merece ser debatida pela sociedade é a atitude de algumas empresas desenvolverem seus próprios símbolos, com visíveis interesses mercadológicos. Essa atitude desconsidera a questão central da Simbologia Brasileira de Identificação de Materiais, que é facilitar a identificação dos materiais com que são produzidas as embalagens de modo a contribuir para o descarte correto.

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(Footnotes)

1 WOGALTER, M., DEJOY, D., LAUGHERY, K. (Eds.), Warnings and Risk Communication.

Philadelphia, PA: Taylor and Francis, 1999, p. 189-219.

2 Esse instrumento conta com 13 questões que se referem a hábitos associados a consumo

consciente. De acordo com o número de hábitos responsáveis, o sujeito é classificado em quatro categorias: indiferente (até dois hábitos), iniciante (de três a sete hábitos), comprometido (de oito a dez hábitos) e consciente (de onze a treze hábitos).

Referências

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