1
Viagem a Andara oO livro invisível
Asa de murmúrios
3 para onde te voltes
não estás
diz
Asa de murmúrios
para não esquecer que és alguém
4
5
um dia ele chegou a Andara, era o Sem Nome e então nós o chamamos de Sem Nome
mas ele cortou nossas cabeças para não o chamarmos Sem Nome
e nãoEusou
passou a se dizer a nós toda a sua presença que era mais uma Ausência de tudo como nunca antes
então
o víamos passar em nossos sonhos rastejando sua Sombra Imensa que cobria o Sol
todos os sóis
sobre nós
a perder de vista se apagaram
6 e começou para nós a Vida Escura
7
com os dias passando mas os dias já não passavam mais aquelas noites que vieram havendo se tornado agora uma Treva sem fim fomos
entendendo que as nossas vidas já não eram Iluminadas antes dele chegar
e o nãoEusou
onde mais haveria de se sentir em casa senão na Penumbra em que vivíamos entre ser de claridade e a escuridão de não ser
8 é
foi isso
foi
um de nós dizia eu avisei acendam as luzes acendam as luzes
foi isso dizíamos nos dizendo é
foi os outros concordassem mas
não eram os nossos corpos que falavam eram Elas Lá pois o nãoEusou lançara todas no Abismo
9 ah se houvéssemos acendido as luzes ah se houvéssemos
aquelas vozes
distantes
e as nossas cabeças falavam e falavam e livres dos corpos sempre de costas para si mesmos agora olhavam em todas as direções
pois haviam recebido um Dom oh
e que Dom fosse Esse
o de poder ver toda a Vida do fundo do Abismo
10 doada pelo nãoEusou
havia todo o Circulo do horizonte ao redor delas para agora sim verem girando velozmente
e por trás dele o circulo da Noite Imensa trazida pelo nãoEusou
onde quem sabe vissem o que já não víamos as estrelas antes a perder de vista e agora todas apagadas devêssemos ser gratas por isso se dizendo umas às outras
é concordavam
devíamos ser gratas ao nãoEusou
pois agora podemos ver tudo como nunca antes sim Agora podemos elas
se diziam
e dançavam no Abismo Fundo
e cantavam no Abismo profundamente canções profundas de Gratidão solenemente
11
enquanto nossos corpos aqui nós ouvíamos suas vozes
vindo do fundo de nós
12 ora
como pudesse ser isso
se agora sendo só os nossos corpos vagando na Tristeza o que restara isso de ver a Dança das nossas cabeças girando
de mãos dadas oh víamos as mãos dadas Lá no abismo Profundo
13 é
isso um de nós se dizia sua Voz Escura só agora o meu corpo o que restou
ah se houvéssemos acendido as luzes ah se houvéssemos
14 e do Abismo
as nossas cabeças vissem os nossos corpos chorando se contorcendo no escuro
como se dançassem
mas não dançávamos
elas dançassem quem sabe o que dá nas cabeças quando ficam livres dos corpos
elas dançando no Abismo profundo
e cantavam no Abismo profundamente canções profundas de Gratidão solenemente
15 foi quando o Osso Pai nos abandonou e se deu o Desmoronamento
16
e depois cada vez mais então tudo se dando em Se
17 agora sejamos o Fosse nos dizíamos
é sejamos nos dizendo
estamos na Noite do Fosse Seria teria Sido
penetrássemos na vida por uma Fenda entre o Sido e um Sendo o que não era mais
18 e veio
19 o Osso Pai nos abandonou
de vez
ah se o Osso Pai nos abandonar se dará o Desmoronamento os nossos ossos sabiam e temiam um Acontecimento de Ruínas
ah as recém-nascidas vertebrazinhas em nós se chegando aos nossos ossos mais antigos buscando amparo
20 partindo o Osso Pai
pelo menos os outros fiquem nos dizíamos
consolávamos as nossas recém-nascidas vértebras
mas não foi assim que se deu
pois todos os nossos ossos se foram com ele sigamos o Osso Pai se diziam
é sigamos
aquela Tristeza se afastando ouvíamos cada vez mais longe as suas vozes de ossos e então após as Danças um novo Canto das nossas cabeças vindo
nos dissemos Elas tenham descoberto as fontes da Alegria Lá no Abismo
21 ah
só quando as nossas carnes se desfazendo se transformando em águas que
a Terra bebia e tanta era a Sede daquele Deserto com um Abismo no Centro em que agora estávamos
ah
só quando as nossas carnes
fossem as nossas carnes se tornando a água que a Terra bebia para ir se tornar a Fonte da Alegria
entendíamos
as nossas cabeças as havendo chamado do fundo do Abismo para serem
que força tinham aquelas cabeças livres de corpo agora Puras Esferas e nós aqui nessa Noite de Hipótese neste Deserto em que nãoEusou fosse Fenda da vida entre o Sido e um Sendo o que não Era mais
22 pelo menos isso
nos dizíamos pelo menos é
nos dizíamos
pelo menos nossas carnes indo novamente se reunir às nossas cabeças
que nossas Cabeças nos amparem que Elas as Esferas no Abismo nos amparem gritávamos
cheios de silêncios em nossa Ausência cada vez mais de tudo
pois já sem o Amparo do Osso Pai
e nossos ossos todos também havendo partido
e nossas carnes de águas indo
23
nossas cabeças cantassem pela chegada das águas das nossas carnes Lá no Abismo
seus Cantos de Alegria
pelo menos isso
24 agora
do fundo da Terra
fossemos nós que rumorejássemos umas antigas Vozes Solenes
jorrando por entre as Raízes
indo
numa Agonia de sombras de terra
só nossas águas de sombra de terra por dentro da Sombra da Terra
25 e do Fundo da Terra
rumorejando
oh
como queríamos que em nós nascessem Asas
para nos elevar
pois víamos sobre nos arvores dando Frutos em sonhos e
fundos de lagos cheios de afogados nos chamando como irmãos
mas
como haveriam de nascerem asas em nós sem as nossas omoplatas ah
26 ah
27 ó Dias Ausentes à tona
rumorejávamos entre Raízes
ó Ausência de Tudo submersa
rumorejávamos escurecendo ainda mais no Fundo da Terra
28
e cada vez mais a Terra nos bebendo avidamente
29 aquilo sim é que fosse o Sido Sendo
o que nos acontecia
30
ó Abismos sem sementes quem colheu as Origens das coisas ó Ausências Sombrias
e íamos jorrando rumorejando entre raízes
31
em nós foi quando vindo Aquela voz em nosso Escuro que cada um ouvisse dentro de si
nos dizendo
Faz jorrar uma fonte de lágrimas dia e noite e não te dês descanso nem o teu olho seque
e se dizendo
As minhas lágrimas se tornaram o meu pão dia e noite
e pedindo
32 ah
33
como queríamos que em nós nascessem Asas ah nos elevar
rumorejando
35 com o tempo
mas que tempo eu me dizendo Ó Sem Tempo
36 S
ubmerso
em Si como um homem
esquecido pelas paisagen S
E vagando
Como se um mundo Não existisse Um mundo não
como um mundo Sim
37
Quase deitado na linha do Horizonte, e sem temer a Lâmina, e com os pés pisoteando estrelas:
dança,
39
quem sabe é só o Vento nos contando esta história
um de nós se disse é quem sabe
quem sabe quem sabe
quem sabe
fossemos só Crianças no fundo da Terra ouvindo os Rumores da Mãe
40 é
estamos no Fundo da Mãe nos dizíamos é
isso nos dizíamos
rumorejando
e os lençóis de água da Terra nos embrulhando como filhos
41
e um oh ao longe também um Rumorejar de Ossos
longe
pois ao longe ainda ouvíssemos as vozes dos nossos ossos partindo seguindo
42 chegassem
43
descendo da Treva Pura que agora envolvia a Terra por todos os lados
uns ventos com Aves sem asas nascendo na escuridão daquela Treva Pura e clarões
44 enquanto dos céus que não havia
o Clarão descendo
vindo iluminar nossas carnes de água onde esquecido o humano
45
agora o Um em nós se elevasse nossas águas misturadas
a Gota Imensa o umano
e primeiro demos de beber aos minerais profundos
46 ó Sede Imensa
47
dando de beber as nossas Carnes de Águas a tudo que tem sede no fundo da Terra nossos rumorejares agora o Único Rumor
profundo ia ao encontro do Canto da Alegria do Abismo
onde nossas cabeças L á
48 Esferas
49 o Silêncio que se fez
50 pois vimos Sem Olhos a Imensa
Profundamente no fundo da Terra subia para os céus de Aves sem asas que não havia
subindo
Aquilo
51
aqueles fossem passos do Osso Pai retornando sem ossos
52 e vimos a Imensa
53 ó Árvore de Negros Corais
54 cantamos
55 quando passas, em Si se esconde a Árvore dos Negros Corais
tu passeias sem Clamor quem sabe: Até cantes
e o Caminho não é longo
não colheste nenhum fruto, mas os Corais vão contigo
e teus Passos vão deixando Rumor de treva e água profunda, pois te seguem, Negros, os Corais
56 ó Árvore de Negros Corais
quando passas em Ti se esconde
57 e então se abriu para nós o Caminho longo
58 e fomos
59 OoO o O oO Oo OoO
61
um dia ele voltará a Andara será o Sem Nome mas nós o chamaremos
62
e para Eles cantaremos com voz Una a Um ana h
Um só Eu cantand
oO
63 Para nutrir o Lodo,
tu não escreves Tu
és o Livro
que se lança em todas as direções nas Regiões Escuras: Agora oO Círculo
cintilante
que te envolve
E nos limites da Esfera, se te voltas para te ver Fonte que se jorra,
vê:
o Outro,
64 Tu
és o Livro na Areia,
65
66 vê:
o Outro,
Água que no Centro da Esfera ainda Lá és tu de novo, murmurando:
Fim de Asa de murmúrios