• Nenhum resultado encontrado

Aitareya Upanishad 1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Aitareya Upanishad 1"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

Aitareya Upanishad

1

Que minha palavra seja uma coisa só com a minha mente, e que a minha mente seja uma coisa só com minha palavra. Ó Vós, autoluminoso Brahman, removei o véu da ignorância da minha frente, para que eu possa contemplar a Vossa Luz. Revelai-me o espírito das escrituras. Que a verdade das escrituras esteja sempre em mim. Que eu procure dia e noite compreender o que aprendi com os sábios. Que eu fale a verdade de Brahman. Que eu fale a verdade. Que ela me proteja. Que ela proteja meu mestre. OM… Paz! Paz! Paz! Invocação

a) Introdução de Shankaracharya

OM, Saudações ao Eu Supremo. O tópico do culto ritualístico juntamente com o conhecimento de Brahman inferior (Saguna Brahman), foi concluído. Aquilo que é o mais elevado objetivo do trabalho executado com

o conhecimento inferior, foi conclusivamente descrito através do conhecimento de Uktha.2 Sobre o assunto,

foi declarado: “Este é o verdadeiro Brahman chamado Prana.3 Ele é único Deus. Todos os outros deuses

nada mais são que os vários poderes desse Prana” da vida.

Algumas pessoas acreditam firmemente que essa obtenção da unidade com o Prana é o mais elevado

objetivo. Acreditam que essa unidade é a Liberação. Acreditam que essa unidade deve ser atingida por meio da disciplina baseada na execução de trabalhos rituais combinando com o conhecimento já descrito.

Acreditam, finalmente, que além dessa unidade nada mais existe a ser alcançado.

Com a intenção de refutá-las, a Aitareya Upanishad inicia com a frase: “Antes da criação do mundo, só existia o Atman...”. Portanto, esta Upanishad começa no sentido de estabelecer apenas o conhecimento do Atman, livre de toda necessidade de trabalhos rituais ou envolvimento com o mundo [para se obter a Liberação].

[Primeira] objeção: Como você pode dizer que o objetivo da presente Upanishad é estabelecer apenas o conhecimento do Atman, desvinculado de qualquer forma de trabalho?

Réplica: Porque nós não achamos nesta Upanishad nenhum outro propósito. Além do mais, os deuses, o fogo, etc., mencionados no Aitareya Aranyaka, estando limitados pela fome e sede, pertencem ao samsara. Com a afirmação de que Brahman está além de fome, da sede e tudo mais, percebe-se que tudo que estiver condicionado pertence ao samsara.

1 Síntese-reprodução do Capítulo 9, Aitareya Upanishad, combinada com a parte pertinente contida no Capítulo 11,

intitulado “O que ensinam as Upanishads”, do livro As Upanishad, de Carlos Alberto Tinôco, publicado em São Paulo, pela IBRASA, em 1996. De responsabilidade de Sarvananda Deva.

2 Tinôco esclarece que Uktha é dos mais importantes hinos de louvor aos Vedas e que é usado principalmente no sacrifício

Mahavrata.

3 Tinôco esclarece que a palavra Prana possui vários significados, sendo o mais conhecido como princípio ou força vital,

(2)

[Segunda] objeção: Muito bem, admitamos que o Conhecimento do puro Atman seja o mesmo o meio para se obter a Liberação. Mas aquele que não executa trabalho não é a única pessoa qualificada para a Liberação, pois não existe sentença especial para este efeito, quer dizer o Sruti não se refere à ordem dos Samnyasins que renunciaram à ação. Além disso, imediatamente após a ação ritualística conhecida como Brihatisahara ter sido executada no Aitareya Brahmana, o Conhecimento de Atman é discutido na Aitareya Upanishad. Portanto, só o executor de trabalhos rituais está qualificado à Liberação. Portanto, o Conhecimento do Atman não pode ser desvinculado do trabalho.

Como pode haver outro aspecto? O Atman, de um modo geral, pode ser considerado sob dois diferentes pontos de vista. Ou Ele está associado com o trabalho e dotado dos atributos da criação, da preservação e da destruição, ou Ele existe em sua forma pura. A presente Upanishad encaminha no sentido de determinar qual aspecto de Atman deve ser estabelecido. Para ser mais explícita esta Upanishad demonstra que o mesmo Atman associado ao trabalho, pode ser adorado como sendo livre do trabalho. Portanto, o mesmo Atman pode ser adorado como sendo uno com o adorador ou como sendo diferente dele. Ou seja, ainda que o Atman seja único e sem segundo, Ele pode ser diferente do devoto sob o ponto de vista do trabalho e também não-diferente dele, quando está inativo. Portanto, não há erro de repetição.

Réplica: Não, nós refutamos seu argumento, pois quando um homem atinge o verdadeiro Conhecimento do Eu, ele não almeja qualquer resultado da ação. Portanto, não é razoável para ele engajar-se em ações. Suas afirmações de que somente o executor da ação atinge o Autoconhecimento e que o Autoconhecimento está relacionado ao trabalho, são inadmissíveis. Quando um homem que realizou Brahman em seu próprio Eu diz a si mesmo: “Eu sou Brahman, que é livre de todas as manchas do samsara e no qual todos os desejos

encontram sua realização”, ele não vê nenhum fruto a ser aproveitado daquilo que ele tenha feito ou que tenha a fazer, porque ele não busca nenhum fruto da ação.

[Terceira] objeção: Ele talvez não veja a necessidade do fruto, mas ele executa ações por causa das obrigações das escrituras.

Réplica: Isso não ocorre, pois ele atingiu o Conhecimento do Eu e o Eu não está subordinado às injunções escriturais. Aquele que é consciente do benefício oriundo da execução do que é desejável e da desistência do que é indesejável, busca o meio de realizar seus fins; somente tal pessoa está sujeita às injunções escriturais, e não alguém que realizou sua identidade com Brahman, o qual está além de todas as injunções. Se, por outro lado, uma pessoa que realizou a si mesmo como Brahman e, portanto, foi além das injunções das escrituras, pode ser comandada pelas escrituras, então, ninguém pode ser destacado como estando além das injunções das escrituras, mesmo estando qualificado para isso. Assim, todas as pessoas teriam de ser

consideradas como subordinadas às injunções escriturais. Neste caso, torna-se dever imperativo de todos os homens em executar todos os tipos de trabalho em todas as épocas. Esta conclusão é indesejável. Um homem dotado do conhecimento do Atman não pode ser comandado por ninguém para engajar-se na ação, pois os Vedas, que são a autoridade para tal injunção, provêm do seu Eu, do seu Atman, que é idêntico a Brahman. Ninguém pode ser dirigido por palavras que são o produto da sua própria sabedoria. Um servo ignorante não pode mandar no seu amo, dotado de mais conhecimentos.

(3)

[Quarta] objeção: As escrituras são eternas e, portanto, são capazes de comandar todos os homens.

Réplica: Não, seu argumento já foi refutado. Mas você não refutou nossa afirmação de que é falacioso dizer que todas as pessoas, sem distinção, devem executar todos os tipos de trabalhos em todas as épocas. [Quinta] objeção: Esta tem sido a ordem das escrituras: assim como as escrituras estabelecem as injunções sobre as ações, assim também elas ordenam ao executor da ação cultivar o Conhecimento do Atman. Réplica: Isso não é assim. Não é razoável atribuir às escrituras frases que contenham sentidos contraditórios. As escrituras não podem estabelecer que a mesma pessoa se engaje em coisas contrárias, ou seja, que ele tanto execute a ação quanto dela desista. Além disso, a vontade de obter o desejável e evitar o indesejável não é criada pelas escrituras. É natural e comum a todos os seres humanos. Se for argumentado que a citada vontade é criação das escrituras, nós diríamos, neste caso, que ela não seria achada dentre os que são ignorantes das escrituras. O ponto crucial da questão é que as escrituras devem explicar somente o que não for auto-evidente. Se elas afirmam que o Autoconhecimento é inconsistente com o dever para com as coisas do mundo, como podem elas, novamente, prescreverem o dever para uma pessoa iluminada? Se for

objetado que tal contrariedade não é o ensinamento das escrituras, nós diremos que a afirmação do opositor não é correta.

[Concluindo] desde quando surge, o Conhecimento da identidade de Brahman e Atman não pode ser refutado por nenhum outro conhecimento. Esse conhecimento não pode ser negado ou provado como sendo falso.

[Sexta] objeção: Como um conhecedor do EU, por falta de qualquer necessidade específica, não pode se engajar em trabalho, então, também não há necessidade de haver sua renúncia à ação. A ausência da necessidade é comum a ambos os casos. Portanto, se um homem diz que após realizar Brahman, deve-se praticar a inação, ele também comete o mesmo erro, pois, como dissemos antes, não há necessidade para praticar a inação.

Réplica: Não, inação significa ausência de ação; não significa qualquer ação positiva tal como a performance de um sacrifício, pois a prática da inação é também um tipo de ação. O aparecimento de uma necessidade provém da ignorância [avidya] e é comum a todos os seres. Ela não é a característica inerente da coisa em si. Explicando melhor: quando o homem é incitado pela necessidade e pelo desejo ardente, ele se engaja na ação através da fala, da mente ou do corpo. Os esforços associados à fala, mente e corpo, os quais impelem

um homem a engajar-se na ação quíntupla,4 tais filhos e riqueza, são o resultado da ignorância e do desejo.

Eles não podem ser encontrados no conhecedor do Eu, que é livre da ignorância e do desejo. Portanto, a

inatividade de uma pessoa iluminada5 denota a ausência de ação6 e não algo positivo, como a performance de

um sacrifício. Esta inação é a natureza mesma do conhecedor do Eu; logo, nenhuma ideia da necessidade deve ser buscada para a aquisição da inação.

4 Tinôco registra como sendo Panktakarma, que é um tipo de Karma associado aos cinco sentidos. 5 Tinôco registra como sendo butthana.

(4)

[Sétima] objeção: Se a inação é a característica natural de algo, então ele não pode ser o sujeito de uma injunção escritural. Na ausência de tal injunção, em chefe de família que tenha alcançado o Conhecimento de Brahman pode permanecer naquele estado sem se engajar em qualquer ação: ele não necessita tornar-se

um samnyasin.7

Réplica: Sua argumentação não está certa. A vida de um chefe de família é controlada pelo desejo. De passagens escriturais, nós podemos asseverar que a inação ou renúncia significa a cessação de todas as relações com filhos, riquezas e outros objetos de valor, assim também, a não participação em qualquer nova ação, pois qualquer ação está em desacordo com o Conhecimento de Brahman. Portanto, não é possível para um conhecedor do Eu renunciar à ação e, ao mesmo tempo, levar uma vida de chefe de família. Disto se segue que um conhecedor de Brahman não tem obrigação de praticar austeridade ou servir ao seu guru. Neste aspecto, alguns chefes de família temerosos da mendicância ou da humilhação que a acompanha, levantam uma objeção, [argumentando que] assim como um samnyasin movido pelo propósito de manter vivo seu corpo, pratica a mendicância, de igual modo, um chefe de família liberto do desejo, deve viver em casa buscando somente alimentos e roupas, com o propósito de preservar seu corpo. Em réplica, dizemos que isto é um argumento pouco sólido. [Ou seja], a vontade de viver com uma esposa em um lar específico que por acaso lhe pertença, é o resultado do desejo. Por outro lado, se não se vive em um lar, não se possui nada ser e se busca comida e roupas, se é um religioso mendicante. Como um samnyasin tem o dever de seguir a injunção da mendicância para o sustento do seu corpo, assim como um chefe de família dotado do Conhecimento e livre do desejo teria que seguir as obrigações [escriturais] diárias de execução do sacrifício

Agnihotra8 enquanto viver; caso contrário ele será afligido pelo pecado. Mas um homem dotado do

Autoconhecimento não está sujeito a tal obrigação e não deve ser convocado a se engajar em obrigações ritualísticas. Logo, tal injunção não se aplica à pessoa iluminada pelo Conhecimento de Brahman.

[Oitava] objeção: Naquele caso, as injunções escriturais relativas à execução de rituais obrigatórios por toda a vida tornam-se inúteis.

Réplica: Não, elas possuem significado para as pessoas não iluminadas. Até a obrigação do Samnyasun, feita apenas para manter seu corpo, não deve ser considerada um incentivo a tal atividade. Um homem engajado

em Achamana9 bebe água, ainda que não sinta sede; similarmente, um samnyasin observa certas regras sobre

mendicância, mas essas não agem como um incentivo à petição de esmolas para preservar seu corpo. [De igual forma], a mendicância não deve ser encarada como uma obrigação, [na medida em que] as escrituras aponta um fato, [portanto] não a impõe. Mas, no caso de certos rituais como o Agnihotra, nem a obrigação nem a ação devem ser consideradas logicamente, [mas] se ele não realizado, o chefe de família colhe um mau karma.

7 Tinôco esclarece que se trata daquele que é orientado a desistir de qualquer ação, a evitar ou buscar ganhos ou perdas mundanas,

devendo absorver-se em Brahman.

8 Tinôco esclarece que se trata um, dentre cinco dos Rituais do Fogo, sacrifício realizado diariamente com fogo, no caso, tipo

Ahavaniya, especialmente por todos os grihastas das três castas superiores no período védico.

(5)

[Nona] objeção: Uma injunção relativa a um ato realizado espontaneamente como pedir esmolas é inútil, porque se obtém dele qualquer benefício.

Réplica: Isso não é assim, pois aquela obrigação relativa à mendicância está baseada em uma atividade prévia. Desistir de um velho hábito exige um grande esforço. Portanto, ainda que a realização da ação venha naturalmente para o conhecedor do Eu, ela foi qualificada como um dever para ele pelas escrituras.

Até mesmo quem não tenha alcançado o Autoconhecimento, mas esteja desejoso de alcançar a Liberação, deve abraçar a vida monástica. As disciplinas para o Autoconhecimento, tais como controle das atividades

internas e externas [por exemplo, prática da continência], não se aplica aos outros estágios da vida.10

[Portanto], essas disciplinas são possíveis apenas para um samnyasin que tenha alcançado um estado além de todos os outros estágios da vida, mas não para um chefe de família.

Se um caminho não é completamente seguido, ele não pode gerar a fruição de um objeto. O mais elevado resultado da ação que é executada por chefes de família e é secundário para o Conhecimento resulta na união com as deidades, um fruto que pertence ainda ao samsara. Se o Conhecimento do Supremo Eu era para ser realizado somente por aquele que se engaja na ação, então o resultado da ação não teria sido resumido como algo relacionado ao mundo.

[Décima] objeção: A realização da unidade com as deidades é apenas um resultado indireto da ação e não o resultado principal.

Réplica: Isso não está correto. O Autoconhecimento, cujo objeto é o Eu, é inteiramente oposto a todas as coisas referentes às deidades. O Conhecimento do Eu, o qual trata da realidade última do Atman, destituído de qualquer nome, forma e ações, é o único meio para a imortalidade. Se o Autoconhecimento pudesse produzir um resultado indireto, como a identificação com as deidades, então não teria por objeto o Eu, o qual é livre de todas as diferenciações; esse resultado é, certamente, indesejável.

Os obstáculos criados pela obrigação tripla aplicam-se ao ignorante que busca alcançar o mundo dos homens, o Mundo dos Manes e o mundo dos Devas, e não àqueles que são dotados do Autoconhecimento. [Décima primeira] objeção: Os ignorantes não devem se tornar samnyasins enquanto suas obrigações não forem cumpridas.

Réplica: Não é assim, pois não se incorre em nenhuma dívida antes que se entre para a vida de chefe de família. Se alguém que não é qualificado para cumprir obrigações sente-se com obrigações a cumprir, então, todos permanecerão devendo cumprir obrigações. Isto é, certamente, uma posição indesejável. Passagens escriturais ordenam até o chefe de família a entrar na vida monástica, como disciplina para a realização do Autoconhecimento. As passagens escriturais prescrevendo a prática do Agnihotra ou de outros sacrifícios durante a vida aplicam-se somente àqueles ignorantes que não anseiam pela Liberação.

(6)

O argumento de que a vida monástica é mencionada apenas àqueles que são incapazes de executar trabalhos ritualísticos [cegos, surdos e mudos] é pouco convincente, pois existem trechos das escrituras referentes a esses tipos de pessoas. Além disso, os Smrits ensinam que todas as pessoas, sem distinção, podem

igualmente entrar em qualquer dos estágios da vida, diretamente, ou seguir através deles todos, sucessivamente.

Foi contraposto que o conhecedor do Eu renuncia à ação naturalmente e não por obediência a qualquer injunção escritural, portanto, não faz diferença se um homem fica em casa ou vive na floresta. Nós argumentamos que essa idéia é infundada, pois, se a renúncia à ação é espontânea e natural para a pessoa iluminada, ela não pode, possivelmente, abraçar qualquer outra ordem de vida. Nós já dissemos que a razão para aceitar qualquer outra ordem de vida é o desejo e a ação por ela motivados. A ausência de ambos é o que se denomina de renúncia à ação, ou monasticismo.

Ações excêntricas ou imprudentes são totalmente impossíveis para um homem dotado de Conhecimento, [isto é], essas ações são executadas somente por aqueles que são completamente ignorantes. Se a execução da ação ordenada pelas escrituras não é indicada para o conhecedor do Eu, como esperar que ele seja engajado em ações imprudentes, praticadas por pessoas ignorantes? Um objeto, percebido por um louco, não aparece assim distorcido quando a loucura é removida, pois a aparência distorcida resultou da insanidade. Logo, está estabelecido que o conhecedor do Eu renuncia a todas as ações. Ele nem pode ser excêntrico nem se engajar em nenhuma forma de obrigação.

Através da realização de trabalhos tais como austeridades, que são meios de aquisição de conhecimento, obtém-se conhecimento e transcende-se a morte pela superação dos desejos. [O certo é que] estando livre do desejo, ou seja, tendo renunciado ao desejo, atinge-se a imortalidade através do Conhecimento de Brahman. Portanto, a presente Upanishad começa com o propósito exclusivo de revelar o Conhecimento da unidade do Atman e do puro e inativo Brahman.

b) O que ensina esta Upanishad:11

1. Sobre a identidade entre Atman [alma individual] e Brahman [Alma Universal-Deus]:

O Senhor Supremo pensou: “Penetrarei no corpo através do topo do crânio”. E então, abrindo o orifício no ponto em que se dividem os cabelos, no centro do crânio, entrou por aí. O orifício assim localizado chama-se “porta da divisão”. É a porta da bem-aventurança, por chama-ser a entrada que leva ao Brahman supremo. Estando no corpo, o Atman possui três residências [estados de consciência]: uma é o olho direito vigília, outra é o espírito interior [sonho] e a terceira é o éter do coração [sono sem sonho]. Parte Um [III; 12]; Após nascer como Jiva [encarnação no corpo], o Ser Supremo realizou os elementos [bhutas] como unos com Ele mesmo. O que mais poderia Ele dizer de sobre Si mesmo? O Ser Supremo que reside no corpo do

11 Ao invés de reproduzir o texto integral da Aitareya Upanishad, este sintetizador-reprodutor optou pela citação de versos

vinculados aos tópicos do Capítulo 11 do livro de Tinôco. Vide nota de roda pé n.°1. Para cada tópico citar-se-á apenas um verso ou um conjunto de versos sequenciados, apesar da indicação ampla, em regra, de Tinôco com vários versos e/ou conjunto de versos sequenciados. A escolha recaiu exatamente naqueles que este sintetizador-reprodutor entende ser neste momento o mais representativo por facilidade de entendimento.

(7)

homem [Atman] e se encontra dentro de tudo, pensou: “Vi Brahman como pertencendo a toda a natureza. Parte Um [III; 13].

2. Sobre as qualidades de Atman [Purusha/Brahman] [imanência; transcendência; infinitude; eternidade; bem-aventurança; poder absoluto de criar; governar e extinguir o cosmo; etc.]: Antes da criação do mundo, só existia o Atman, apenas o Atman, não existia mais nada. Nada havia além Dele. Então, o Atman pensou e disse: “Criem-se os mundos!”. Parte Um [I; 1].

Ele criou os mundos denominados: Ambhar, o mundo mais elevado, que está acima do céu e é sustentado por ele; Marichi, o mundo celeste dos raios solares; Mara, o mundo mortal, a terra; Apa, o mundo abaixo da terra. Yon é Ambhar, acima dos céus; o céu é o seu suporte. Os Marichis são o espaço. Mara é a terra. O que está abaixo é Apa. Parte Um [I; 2].

Ele pensou: “Os mundos se acham feitos. Vou criar os guardiões dos mundos”. [Então, surgiram os oitos „Lokapalas‟ ou os oitos guardiões e protetores, cada um deles ligado a um ponto cardeal, os deuses planetários: Soma, Agni, Indra, Kuvera, Varuna, Yama, Surya e Vayu]. Retirando das águas um ser como uma massa disforme, deu-lhe forma humana. Parte I [I; 3].

3. Sobre a possibilidade de se poder conhecer Brahman, Atman [ou Purusha], através do Yoga e sobre a impossibilidade de se conhecer Brahman, Atman [ou Purusha], através dos sentidos corpóreos, da racionalidade, do estudo dos textos védicos, da prática de rituais e sacrifícios:

Ele [Vamadeva], tendo realizado a unidade como Pura Conciência, elevou-se deste mundo realizando todos

os seus desejos no mundo celestial, tornando-se imortal – sim, tornado-se imortal. Parte Três [I; 4].12

4. Sobre a mente [origem, estrutura, relação com o Atman] e sobre os estados de consciência: Quem é aquele sobre quem pensamos: “Este é o Atman?” Qual dos dois é o Atman, o individual ou o universal? Quem é aquele através de quem a pessoa vê? Quem é aquele através de quem a pessoa ouve?

Quem é aquele através do qual a pessoa sente odores, sente as formas dos objetos? Parte Três [I; 1].13

É o coração e a mente. O conhecimento de si próprio, o conhecimento da sua mente, a moral, o

entendimento, o pensamento, a memória, a disposição, a perseverança, o desejo, o controle dos desejos, tudo isso são atributos de Atman, como sendo a vida, a Consciência [Prajnanam]. Parte Três [I; 2]. Ele é Brahman, Ele é Indra, Ele é Prajapati; Ele é todos esses deuses; Ele é os cinco elementos [ar, terra, água, éter e luz]; Ele é todas essas pequenas criaturas, e outras unidas com estas [aquelas que nascem de ovos, úteros, do calor]. Ele é os cavalos, o gado, os seres humanos, os elefantes [tudo o que aqui respira]; Ele é tudo o que possui asas, tudo o que se move com pernas ou não se move. Tudo isso é guiado pela

12 Tinoco não selecionou nenhum verso para caracterizar esse tópico. A seleção é de responsabilidade de Sarvananda Deva,

considerando que o objetivo primordial do Yoga é a união, representada no verso pela unidade realizada e pela imortalidade conquistada, quando e onde todos os desejos estão superados.

(8)

Consciência [Prajnanam], é suportado pela Consciência. A base do universo é Consciência. Consciência é Brahman. Parte Três [I; 3].14

5. Sobre o Prana [energia vital] e suas variações [Apana, Vyana, Samana, Udana]:

Chocando aquela massa transformada num ser humano [Virat], Ele o modelou com o calor. Depois de aquecido, Ele começou a gerar os órgãos de Virat e as suas respectivas deidades controladoras: a boca saiu como um ovo de Pássaro; da boca saiu a palavra. Da palavra saiu o fogo. Abriram-se as narinas; das narinas saiu a respiração, da respiração saiu o vento e o Prana. Abriram-se os olhos; dos olhos saiu a visão; da visão o sol. Formaram-se as orelhas; das orelhas saiu a audição e, desta, saíram as diversas regiões sonoras. Mostrou-se a epiderme; da epiderme saíram os pêlos e, destes nasceram as plantas e as árvores. Formou-se o coração; do coração saiu a mente, desta surgiu a lua. Mostrou-se o umbigo; do umbigo saiu o ar vital que desce, o Apana. Do Apana ou ar vital que desce, saiu a morte. Mostraram-se os órgãos genitais; destes saiu o sêmen. Do sêmen saíram as águas. As deidades controladoras dos diversos órgãos, nasceram de várias partes de Virat. Parte Um [I; 4].

6. Sobre a sílaba sagrada OM (AUM), que representa Brahman: Nota: Tinoco não selecionou nenhum verso para ilustrar esse tópico.

7. Sobre a importância do papel do Guru [Mestre espiritual], na Libertação dos discípulos [Moksha, Kaivalya]:

Nota: Tinoco selecionou a Invocação para ilustrar esse tópico, a qual está transcrita como no primeiro plano desta síntese-reprodução.

8. Sobre os Gunas:

Nota: Tinoco não selecionou nenhum verso para ilustrar esse tópico.

9. Sobre os diversos corpos que “revestem” o Atman [upadhis] e a fisiologia mística [chakras, nadis e relação entre os Pranas e os órgãos sensoriais]:

Nota: Tinoco selecionou os versos [I, 4] e [III, 12] da Parte Um já reproduzidos acima, respectivamente, nos tópicos 1 e 5.

10. Sobre o Karana e o Samsara [ciclo de morte-renascimento]: Nota: Tinoco não selecionou nenhum verso para ilustrar esse tópico.

11. Sobre Avidya [ignorância] e Maya [ilusão que o mundo produz através dos sentidos]: Nota: Tinoco não selecionou nenhum verso para ilustrar esse tópico.

12. Sobre a gênese do universo, do mundo e do ser humano.15

(9)

Tendo sido criadas, essas deidades mergulharam no grande oceano. O Ser Supremo afligiu o homem [Virat] criado a partir da massa disforme, com a fome e a sede. As deidades, então, pediram ao Ser Supremo: “Dai-nos um mundo aprazível, onde possamos residir e alimentar-“Dai-nos”. Parte Um [II; 1].

Trouxe-lhes a vaca, depois de formá-la, tirando-a da água. Disseram: “Em verdade, não basta para nós”. O Ser Supremo trouxe-lhes o cavalo. Disseram as deidades: “Em verdade, não é suficiente para nós”. Parte Um [II; 2].

O Ser Supremo apresentou-lhes o homem. Disseram as deidades: “Em verdade, está bom. Só o homem está bem formado”. Disse-lhes o Ser Supremo: “Entrem nele, cada uma em sua esfera”. Parte Um [II; 3]. Transformando-se em palavras, o fogo entrou na boca. Tornando-se respiração, o vento penetrou pelas narinas. O sol veio para os olhos como visão. Abriram-se sons nos ouvidos. Transformando-se em pelos, as ervas e plantas entraram na pele. Transformando-se em espírito, entrou a lua no coração. Transformando-se em alento vital que desce, a morte entrou no umbigo. Transformando-se no sêmen, entraram as águas nos órgãos genitais. Parte Um [II; 4].

Disseram a fome e a sede: “Arranja-nos lugares”. Respondeu-lhes: “Eu vos darei uma parte no que é dessas deidades. Participareis do que lhes pertencer”. Por isso, quando se oferece manteiga a essas deidades, a fome e a sede têm sua parte. Parte Um [II; 5].

c) Comentários16

A Upanishad contém três partes. A primeira, formada por três capítulos e vente e três versos, é um gênese. Descreve a criação. O Atman existe só, anterior a tudo, sendo Ele a Realidade Suprema, anterior aos nomes e formas e ao mundo fenomênico, existindo antes da criação deste e após a sua destruição. Os estágios da criação são os seguintes: 1. Os diferentes mundos; 2. Virat [que representa a totalidade dos corpos

humanos]; 3. As deidades ou Devas guardiães do mundo; 4. As deidades que dirigem os vários órgãos; 5. Os elementos; 6. Os corpos individuais dos seres; 7. A comida, capaz de manter todos esses corpos. Após a criação, o Ser Supremo penetrou no interior dos corpos passando a ser seus Atmans individuais. Isso

produziu o universo da diversidade. Refutando a dualidade, a Upanishad chega ao Conhecimento do Atman. A segunda parte da Upanishad possui um capítulo de seis versos, iniciando com a doutrina da alma

assumindo um corpo humano. Há uma narrativa sobre um rishi [Vamadeva], onde este, quando repousava no ventre materno, passa a conhecer a causa do sofrimento humano em razão da ignorância, permanecendo subordinado ao nascimento e à morte. O rishi é libertado do sofrimento através do Conhecimento de

Brahman.17

15 Tinoco destaca toda a Parte Um para ilustrar esse tópico. Todavia, optamos em reproduzir apenas a Capítulo II. Mas, os quatro

versos do Capítulo I estão reproduzidos nos tópicos 2 e 5. E do Capítulo III, reproduzimos os versos 12 e 13 no tópico 1.

16 De responsabilidade de Carlos Alberto Tinoco.

17 “Graças ao conhecimento dessas coisas, quando for destruído o seu corpo, Vamadeva se unirá ao Supremo Ser, sendo assim,

(10)

A terceira parte consiste de um capítulo formado por quatro versos, discutindo a natureza do Atman. Realizando o Atman, a pessoa obtém a Liberação. O Atman é o agente capaz de produzir os diversos tipos de percepções sensoriais. É o Atman quem faz o ouvido ouvir, o olho enxergar, o tato sentir, o olfato produzir o cheiro e o paladar sentir o sabor. O Atman é identificado com o Ser Supremo universal,

Brahman. Condicionado por diversas limitações, o ser humano pode perceber Brahman sob muitos ângulos, denominando-o por Criador, Controlador Interno, Hiranyagarba, Deva, etc. Entretanto, Brahman é sem dualidades e transcende este mundo de muitas formas, sendo transcendente e imanente ao universo, estando individualizado também no coração do homem, onde recebe a denominação de Atman. A realização

Referências

Documentos relacionados

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

O número de desalentados no 4° trimestre de 2020, pessoas que desistiram de procurar emprego por não acreditarem que vão encontrar uma vaga, alcançou 5,8 milhões

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

iv. Desenvolvimento de soluções de big data aplicadas à gestão preditiva dos fluxos de movimentação portuária de mercadorias e passageiros. d) Robótica oceânica: criação

Promovido pelo Sindifisco Nacio- nal em parceria com o Mosap (Mo- vimento Nacional de Aposentados e Pensionistas), o Encontro ocorreu no dia 20 de março, data em que também

Os interessados em adquirir quaisquer dos animais inscritos nos páreos de claiming deverão comparecer à sala da Diretoria Geral de Turfe, localizada no 4º andar da Arquibancada

Os maiores coeficientes da razão área/perímetro são das edificações Kanimbambo (12,75) e Barão do Rio Branco (10,22) ou seja possuem uma maior área por unidade de

2.1. Disposições em matéria de acompanhamento e prestação de informações Especificar a periodicidade e as condições. A presente decisão será aplicada pela Comissão e