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T&D, EDUCAÇÃO CORPORATIVA E GÊNERO: A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NAS INDÚSTRIAS E A (RE) PRODUÇÃO DA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO.

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Academic year: 2021

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T&D, EDUCAÇÃO CORPORATIVA E GÊNERO: A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NAS INDÚSTRIAS E A (RE) PRODUÇÃO DA DIVISÃO

SEXUAL DO TRABALHO.

Educação, Linguagem e Memória

Fabia Alberton da Silva Galvane –UNESC1

Giovana Ilka Jacinto Salvaro- UNESC2

Esse estudo tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre Programas de treinamento e desenvolvimento (T&D) na (re)produção da divisão sexual do trabalho. Desde as décadas finais do século XX é possível verificar que a escolaridade dos trabalhadores brasileiros vêm aumentando significativamente. Mais precisamente a partir da década de 1990 as políticas educacionais ganham fôlego no Brasil, buscando ampliar o acesso à educação e a qualidade do ensino como estratégia de redução das desigualdades sociais (ROSEMBERG, 2001).

Impulsionada por acordos entre diversos países, as políticas governamentais vêm ampliando a escolarização das mulheres. “Tais acordos enfatizam a prioridade da educação das mulheres e justificam-na como

estratégia de escol no combate à desigualdade social e ao

subdesenvolvimento” ROSEMBERG, 2001, p. 154).No Brasil, autores têm evidenciado que as mulheres já são maioria entre os graduados e que elas vêm diversificando os campos de atuação ocupacional, inclusive para espaços tradicionalmente considerados masculinos (BRUSCHINI, 2007; CAPPELLIN, 2008). Entretanto, “a literatura internacional vem alertando sobre a contínua reprodução das fortes assimetrias entre o fenômeno da expansão universitária, majoritariamente feminina, e a predominância hierárquica dos homens nos postos mais altos e mais bem remunerados das organizações” (CAPPELLIN, 2008, p. 90).

O termo divisão sexual do trabalho começa a ser utilizado na França por volta de 1970 e visa tornar visível: a) a existência de dois espaços de trabalho

1

Formada em psicologia, especialista em gestão estratégica de pessoas e mestranda no Programa de pós-graduação em Desenvolvimento socioeconômico na Universidade do Extremo Sul Catarinense -UNESC.

2

Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora pesquisadora da Universidade do Extremo Sul Catarinense.

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distintos – reprodutivo e produtivo- e, b) a valorização de um (produtivo) em relação ao outro (reprodutivo) (SOUZA-LOBO, 2011). Segundo autoras/es feministas, características relacionadas à uma essência feminina são utilizadas para associar as mulheres ao cuidado com a casa e os filhos e, portanto, considerar sua participação no mercado de trabalho como descontínua, desqualifica e acidental (ABRAMO,2007; TEIXEIRA, 2008). Têm-se evidenciado o aumento e a constância da participação das mulheres no trabalho formal. Segundo dados do Ministério do Trabalho, entre os quase 50 milhões de trabalhadores com vínculo ativo em 2013, 43% são mulheres.

Não sendo possível encontrar motivos concretos para as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho, estudos atentam para concepções naturalizadas acerca das atividades realizadas pelas mulheres e utilizadas por empregadores como justificativa para salários mais baixos e oportunidades de acessão profissional diferenciadas(CAPPELLIN, 2008; TEIXEIRA, 2008). Bruschini (2007, p. 10) afirma que, embora os níveis de escolaridade das mulheres tenham aumentado significativamente nas últimas

décadas, ainda é possível verificar que “[...] as escolhas das mulheres

continuam a recair preferencialmente sobre áreas do conhecimento tradicionalmente “femininas”, como educação (81% de mulheres), saúde e bem-estar social (74%) [...] evidenciando a permanência de “guetos” ocupacionais femininos. Louro (2008, p. 58) explica que os processos educativos diferenciam, desde a mais tenra idade, meninas e meninos. A escola “[...] informa o “lugar dos pequenos e dos adultos, dos meninos e das meninas”.

Os processos educativos estendidos aos contextos organizacionais podem, então, (re) produzir essas diferenças e utiliza-las como forma de controle dos processos de trabalho e de ampliação de mais-valor. Para Leal (2014), a capacitação das pessoas dentro das organizações, apesar de sempre constituir um problema, passa a ser amplamente discutida e sistematizada, ganhando o status de administração, a partir do início do século XX. A autora destaca que a preocupação com a educação sistematizada para o trabalho é característica das sociedades capitalistas, sendo que, em períodos anteriores, onde família e produção se confundiam, as atividades eram transmitidas entre as gerações. Assim, T&D podem contribuir para ao controle dos processos de

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trabalho, necessário ao capitalista para a garantia da ampliação de mais valor e de subordinação dos trabalhadores. Atualmente, os manuais de Recursos Humanos vêm dando destaque especial à questões relacionadas ao Treinamento e Desenvolvimento dos trabalhadores, devido à complexidade das atividades a serem realizadas e à competitividade econômica.

Para Pilati (2006, p. 160), os objetivos dos processos de T&D são: “(a) promover a melhoria de desempenho; (b) capacitar para o uso de novas tecnologias e (c) preparar para novas funções”. Ainda para os autores, o processo de T&D busca criar tecnologias que facilitem o aprendizado para o desempenho da ocupação e, ainda influenciar comportamentos. Na concepção de Leal (2014), entretanto, o que as organizações chamam de qualificação poderia ser chamado de “desqualificação” sendo que, prepara os trabalhadores para uma função fragmentada, separando trabalhador e produto do trabalho, como também desqualifica todos os outros saberes dos trabalhadores que não são interessantes para a organização. “Partindo de uma perspectiva histórica, entende-se, contudo, que o sentido primordial dessas práticas é o da adequação do trabalhador não só às exigências técnicas da produção, mas também às relações de trabalho de forma mais ampla” (LEAL, 2014, p. 120).

O conceito de “educação corporativa” é relativamente novo e diz respeito à “[...] uma série de programas de capacitação relacionados à área de negócios

da corporação e, fundamentalmente, ao seu posicionamento

estratégico”(LEAL, 2014, p. 124). A educação corporativa, então, é um modelo de capacitação bastante vinculado aos interesses e aos padrões do acumulo de capital. Enquanto os programas de T&D buscam a qualificação para as atividades a serem realizadas, a educação corporativa busca a autorregulagem dos trabalhadores aos propósitos do capitalismo. Por isso, Leal (2014), afirma que a educação corporativa não necessita de um espaço físico ou um espaço de tempo determinado, ela acontece nas práticas diárias das organizações, buscando a assimilação dos trabalhadores aos objetivos da organização, tornando-os “cidadãos corporativos” que se responsabilizam pelo desempenho das atividades, entretanto, aprofunda a alienação do trabalhador. Ainda para a autora, do ponto de vista capitalista, o trabalhador qualificado é aquele que possibilita, por meio de seu trabalho, aumento de mais valor e, como qualificar

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trabalhadores representa um custo, cabe as organizações gerir da melhor forma possível os valores destinados a este fim.

Abramo (2007) afirma que muitos empregadores não investem na qualificação da força de trabalho feminina, por considerá-la secundária e temporária. Se a prioridade das mulheres se refere às atividades domésticas, por que desperdiçar recursos financeiros na qualificação de sua força de trabalho? Ao realizar um estudo de caso em uma indústria do vestuário na região sul de Santa Catarina, Rabelo (1997)verifica que além de desigualdades salariais e do acesso reduzido a cargos de chefia, muitas vezes, as mulheres ficam alheias a programas de qualificação, sendo que, a crença de que a responsabilidade com o contexto doméstico é uma prioridade feminina, torna sua participação no mercado de trabalho descontínua e, portanto, não passível de investimentos. Rabelo (1997) atenta para a necessidade de se verificar mais profundamente as consequências da modernização na força de trabalho feminina, sendo que, é possível sugerir que as desigualdades tendem a se aprofundarem em setores de maior desenvolvimento tecnológico. Se, como afirma Leal (2014), o acesso a qualificação significa ao trabalhador maior poder de barganha salarial e aumento na possibilidade de promoções, é coerente supor que a forma como as organizações realizam os processos de T&D pode (re) produzir e aprofundar a divisão sexual do trabalho, tanto na segmentação por sexo dos espaços produtivos, como na hierarquização das atividades realizadas.

Pode-se pensar que as justificativas para as desigualdades de gênero no mercado de trabalho repousam em normas performatizadas de gênero, que tornam inteligíveis a participação das mulheres no mercado de trabalho apenas em determinados setores, e, ainda, desvalorizam as atividades realizadas por elas. Dito de outra forma, as razões para a distinção entre trabalho feminino e masculino não repousam nas mulheres ou nos homens, mas sim, em normas que regulam os sujeitos. “Uma norma opera dentro de práticas sociais como o estandarte implícito da normatização” (BUTLER, 2012, p. 69). Normas de gênero (implícitas ou explicitas) que “orientam” as práticas de T&D e educação corporativa permitem (ou não) que as mulheres atuem em determinadas profissões ou setores, possibilitam (ou não) o acesso a determinados postos e salários; dito de outra forma: torna inteligível a participação das mulheres no

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mercado de trabalho. Ser inteligível, segundo Butler (2012, p. 15), significa ser reconhecido “[...] de acordo com as normas sociais vigentes”. Se por um lado a inserção desigual da força de trabalho feminina (re)produz subordinação, por outro, a participação das mulheres no mercado de trabalho pode ser analisado como uma forma de luta e resistência à esta mesma subordinação. Desta forma, analisar os discursos normativos gênero que orientam os processos de T&D e de educação corporativa poderia contribuir para identificar desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

Referências

ABRAMO, Laís. Inserção das mulheres no mercado de trabalho na América Latina: uma força de trabalho secundária? In: HIRATA, Helena; SEGNINI, Liliana. Organização, trabalho e gênero. São Paulo: Editora Senac, 2007; BRUSCHINI, Cristina. Trabalho e gênero no Brasil nos últimos dez anos. Cadernos de Pesquisa. v.37 n.132 São Paulo set./dez. 2007;

BUTLER, Judith. Deshacerel género. Barcelona: Paídos, 2012;

CAPPELLIN, Paola. As desigualdades impertinentes: telhado, paredes ou céu de chumbo? Revista Gênero. Niteroi, v.9, n.1, p.89-126, 2. sem. 2008;

LEAL; Anne Pinheiro. Treinamento, desenvolvimento e educação corporativa: a qualificação como instrumento desubordinação do trabalho ao capital. In:

Gestão de pessoas: armadilhas da organização do trabalho. SOBOLL, Lis Andrea; FERRAZ, Deise Luiza da Silva. São Paulo: Atlas, 2014;

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2008;

PILATI, Ronaldo. História e importância de T&D. In: BORGES-ANDRADE, Jairo E.; ABBAD, Gardênia da Silva; MOURÃO, Luciana. Treinamento,

desenvolvimento e educação em organizações e trabalho: fundamentos para a gestão de pessoas.Porto Alegre: Artmed, 2006;

RABELO, Giani. Trabalho arcaico no moderno mundo da moda. Florianópolis, 1997. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Santa Catarina;

ROSEMBERG, Fúlvia. Políticas educacionais e gênero: um balanço dos anos 1990. Cadernos pagu (16) 2001: pp.151-197;

SOUZA-LOBO, Elizabeth. A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência. 2. ed. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2011;

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TEIXEIRA, Marilane Oliveira. Desigualdades salariais entra homens e mulheres a partir de uma abordagem de economistas feministas. Revista Gênero.

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