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Procedimentos judiciais de cobrança aplicáveis ao cheque prescrito

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

FABIANE REBELO DE FREITAS

PROCEDIMENTOS JUDICIAIS DE COBRANÇA APLICÁVEIS AO CHEQUE PRESCRITO

Tubarão 2020

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FABIANE REBELO DE FREITAS

PROCEDIMENTOS JUDICIAIS DE COBRANÇA APLICÁVEIS AO CHEQUE PRESCRITO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Terezinha Damian Antonio, Msc.

Tubarão 2020

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A minha admirável avó, Custodia Maria Rebelo, que em todos os momentos me inspira através de sua força, otimismo, dedicação e a quem devo eterna gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, por sempre estar comigo me fortalecendo e guiando em todos os momentos.

Agradeço ao eterno namorado, hoje meu noivo Daniel, que sempre esteve orando por mim, e isso tem um grande valor na minha vida.

Aos meus pais Antônio e Maria que sempre estiveram ao meu lado me apoiando e acreditando que eu seria capaz de superar os obstáculos que a vida me apresentou.

Gratidão pela minha linda filha Heloisa, por ser tão compreensiva e entender que em meio às dificuldades e os poucos tempos que estivemos juntas, foram eternizados pelo brilho nos olhos pretos e redondos que somente ela tem.

Sou grato à minha família e amigos pelo apoio que sempre me deram durante toda a minha vida.

Deixo um agradecimento especial a minha orientadora Terezinha Damian Antonio pelo incentivo e pela dedicação para que meu projeto de pesquisa fosse concluído.

Também quero agradecer à Fundação Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul, no qual contribuiu para meu desenvolvimento profissional durante toda trajetória que estive como funcionária e a todos os professores e colegas, que me oportunizaram compartilhar os conhecimentos adquiridos durante o curso.

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“Odeio os pensamentos vãos, mas amo a tua lei. Tu és o meu refúgio e o meu escudo; espero na tua palavra.” (Salmos 119: 113,114).

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RESUMO

OBJETIVO: Analisar os procedimentos judiciais aplicáveis à cobrança do cheque

prescrito. MÉTODO: Para tanto, utilizou-se o método de abordagem qualitativa. Quanto ao método empregou-se o dedutivo, uma vez que se iniciou da análise geral para ter as conclusões individuais. Em relação ao nível de profundidade do estudo adotou-se a pesquisa exploratória. Sobre as técnicas de coleta de dados, fez-se uso da pesquisa bibliográfica e documental em especial doutrinas e decisões jurisprudenciais. RESULTADOS: A partir dos estudos realizados no ordenamento jurídico brasileiro verificou-se que a lei 7.357/85 trata o cheque de forma detalhada, assim, pode-se afirmar que ele é uma ordem de pagamento à vista, sobre uma quantia determinada, emitida contra um banco, com base em provisão de fundos depositados pelo emitente ou oriundo de crédito que o mesmo possui junto a instituição financeira. Contudo, dentre as modalidades existentes, o cheque pode ser ao portador ou nominativo; à ordem ou não à ordem; podendo ser, outrossim, cruzado em branco ou em preto. Este estudo analisa o lapso temporal entre a data de emissão, prazo de apresentação, e a prescrição do título de crédito com a finalidade de evitar o inadimplemento do cheque prescrito. CONCLUSÃO: Deste modo conclui-se que após o cheque estar prescrito, ou seja, mesmo tendo perdido a força de título executivo, não sendo cabível a ação de execução, ainda é possível propor ação de locupletamento ilícito, ação causal ou ação monitória, sendo que a opção para usar uma das três ações é o requisito essencial explanado, e depende das condições definidas no Código Civil ou através de decisões do Superior Tribunal de Justiça.

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ABSTRACT

OBJECTIVE: Analyze the legal procedures applicable to the collection of the prescribed check. METHOD: For this purpose, the qualitative approach method was used. As for the method, the deductive was used, since it started from the general analysis to have the individual conclusions. Regarding the depth of the study, exploratory research was adopted. Regarding data collection techniques, bibliographic and documentary research was used, especially doctrines and jurisprudential decisions. RESULTS: Based on studies carried out in the Brazilian legal system, it was found that Law 7,357 / 85 deals with checks in a detailed manner, thus, it can be said that it is a cash payment order, over a specific amount, issued against a bank, based on the provision of funds deposited by the issuer or originating from credit that it has with the financial institution. However, among the existing modalities, the check can be either bearer or registered; to order or not to order; it can also be crossed in white or black. This study analyzes the time lapse between the date of issue, the deadline for submission, and the prescription of the credit note in order to avoid default on the prescribed check. CONCLUSION: In this way, it is concluded that after the check is prescribed, that is, even though it has lost the power of enforceable title, the enforcement action is not applicable, it is still possible to propose an action for illegal misdemeanor, causal or monitory action, being that the option to use one of the three actions is the essential requirement explained, and depends on the conditions defined in the Civil Code or through decisions of the Superior Court of Justice.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

1.1 DESCRIÇÃO DO TEMA ... 12

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 15

1.3 HIPÓTESE ... 15

1.4 DEFINIÇÃO DO CONCEITO OPERACIONAL ... 15

1.5 JUSTIFICATIVA ... 16

1.6 OBJETIVOS ... 17

1.6.1 Objetivo geral ... 17

1.6.2 Objetivos específicos ... 17

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 17

1.8 ESTRUTURA DO RELATÓRIO FINAL ... 18

2 ASPECTOS DESTACADOS ACERCA DO DIREITO CAMBIÁRIO ... 20

2.1 SURGIMENTO E CONCEITO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ... 20

2.2 PRINCÍPIOS GERAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ... 22

2.3 INSTITUTOS DO DIREITO CAMBIÁRIO ... 24

3 CARACTERIZAÇÃO DO CHEQUE SEGUNDO A LEI 7357/1985 ... 34

3.1 CONCEITO E MODALIDADES DE CHEQUE ... 34

3.2 REQUISITOS DO CHEQUE ... 35

3.3 PRESSUPOSTOS DO CHEQUE ... 36

3.4 SUSTAÇÃO E REVOGAÇÃO DE CHEQUE... 37

3.5 INSTITUTOS CAMBIÁRIOS APLICÁVEIS AO CHEQUE ... 38

3.5.1 Aceite ... 39 3.5.2 Endosso ... 39 3.5.3 Aval ... 41 3.5.4 Vencimento ... 42 3.5.5 Pagamento ... 42 3.5.6 Protesto... 45

3.5.7Ação de execução e ação regressiva cambiária de cheque...47

4 PROCEDIMENTOS JUDICIAIS DE COBRANÇA APLICÁVEIS AO CHEQUE PRESCRITO ... 47

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CHEQUE PRESCRITO ... 47

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4.3 PROCEDIMENTO JUDICIAL MAIS ADEQUADO À COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO. ... 52

5 CONCLUSÃO ... 59 REFERÊNCIAS ... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.3

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1 INTRODUÇÃO

Essa monografia trata dos procedimentos judiciais de cobrança aplicáveis ao cheque prescrito, como se passa a expor.

1.1 DESCRIÇÃO DO TEMA

O Direito empresarial é uma área do direito privado, que trata, sobre as relações entre particulares. Dessa forma, na antiguidade as famílias produziam o que precisavam em suas próprias casas, e os eventuais excedentes, eram trocados entre os vizinhos. Desse modo, a troca tornou-se um elemento fundamental para o convívio em sociedade, porém, essa troca de mercadorias por mercadorias gerou alguns inconvenientes, pois nem sempre aquilo que se produzia era necessário para outra pessoa. Em função disso, apareceram as primeiras regras, inicialmente, estabelecidas pela Igreja, e evoluiu para as normas que disciplinam as relações econômicas, regulando os direitos e obrigações dos empresários, das sociedades, dos contratos especiais, da propriedade industrial e dos títulos de crédito, dentre outros.

Por sua vez, os títulos de crédito representam avanço para a economia, pois as atividades empresariais exercidas no mercado entre empresas e consumidores de produtos e serviços têm como suporte o crédito, e os títulos de crédito são considerados como documentos de crédito, conferem poder de compra a quem não dispõe de recursos; constituem troca de prestação atual por prestação futura. Os títulos de crédito surgiram para facilitar a circulação do crédito, em função de características como a maior facilidade de negociação que uma obrigação comum e a sua executividade, que possibilita maior facilidade de cobrança que outra obrigação (DAMIAN, 2015).

É o Direito Cambiário que trata das normas regulamentadoras dos títulos de crédito, baseando-se na Lei Universal de Genebra (LUG)/1966. Esse ramo do direito identifica os princípios norteadores do Direito Cambiário, as características dos títulos de crédito, suas classificações e os institutos cambiários que diferenciam os títulos de crédito de outros documentos ou outras obrigações. Assim, a autonomia, o formalismo e a circulação são características que distinguem os títulos de crédito de outros documentos. Em função do princípio da autonomia, todas as relações constantes dos títulos, as chamadas obrigações

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cambiais, independem uma das outras, de modo que o acessório não segue o principal; o formalismo impõe que para ser válido como título de crédito, tem que preencher todos os requisitos legais; e ainda, pela a circulação, em regra os títulos de créditos podem circula r, isto é, os direitos podem ser transmitidos através da circulação por endosso, porém há possibilidades de uma cláusula que proíba a circulação (BRASIL, 1966).

Dentre os títulos de crédito, destaca-se o cheque que é regido por legislação especial, a qual estabelece expressamente os prazos para a cobrança do título. Celebrado determinado negócio jurídico, e acordado que o pagamento ocorreria mediante a utilização do cheque, o credor, beneficiário da cártula, teria a sua disposição 30 (trinta) ou 60 (sessent a) dias, dependendo do lugar de emissão do título, para apresentá-lo à instituição financeira descrita como sacada (art. 33, da Lei 7.357/1985, Lei do Cheque – LC) (BRASIL, 1985). Neste vértice acrescenta-se: “Se o cheque for da mesma praça, o prazo de apresentação é de 30 dias. Se, todavia, for de praças diferentes, o prazo de apresentação será de 60 dias. Em ambos os casos, o prazo é contado da data de emissão” (RAMOS, 2017, p. 579). Excedido esse prazo, o detentor do título, poderá ajuizar a ação de execução no período máximo de 6 (seis) meses, tendo em vista que para o aforamento desta demanda requer somente a apresentação do cheque com a recusa de pagamento por parte do banco. Nesse período o cheque ainda possui executividade, o que deixa de existir, após esse prazo, passando a ser considerado um cheque prescrito, ou seja, título que perdeu sua validade como título executivo.

Desse modo, decorrido o prazo para a proposição da ação de execução do cheque, restam ao credor ingressar com outras formas de cobrança do cheque prescrito, dentre as quais, destacam-se a ação de locupletamento indevido (art. 61, LC); ação extracambiária ou ação causal (art. 62, LC) (BRASIL, 1985); ou a ação monitória (Art. 700, I, CPC e súmula 299, STJ). Cada uma dessas ações possui requisitos específicos que as distinguem uma das outras. No caso da ação de locupletamento indevido ou enriquecimento ilícito, o prazo é de dois anos, contados do dia em que se consumou a prescrição da ação executiva, tratando -se de ação regulada pelo Direito cambiário; já nos casos da ação monitoria ou da ação causal, a natureza e os prazos são distintos (BRASIL, 2004; BRASIL, 2015).

A ação monitória pode ser proposta no prazo de cinco anos (art. 206, § 5º, I, CC), contados a partir do dia seguinte à data de emissão estampada no cheque. Por sua vez, a ação causal considera a contagem do prazo a partir da realização do negócio jurídico, podendo ser anterior à data de emissão do cheque, seguindo a norma geral de prescrição de 10 anos, quando não existir lei definindo prazo menor (art. 205, CC) (BRASIL, 2002).

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Em relação ao tema, apresenta-se o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, pelo qual, reconhecida a prescrição para a ação de execução do cheque, não é possível ingressar com ação de natureza extracambiária no prazo de dez anos para a cobrança de cheque prescrito, mas, somente, com ação monitória no prazo de cinco anos. Referida decisão está embasada na Súmula 503, STJ, pela qual, ocorrida a prescrição do cheque, cabe ação monitória em face do emitente do cheque, sem necessidade da demonstração da origem da dívida, pois a situação se enquadra na definição de dívida líquida constante de instrumento particular, aplicando-se, portanto, o prazo prescricional quinquenal, como segue:

RECURSO ESPECIAL Nº 1.683.439 - TO (2017/0163395-8) RELATOR: MINISTRO MOURA RIBEIRO RECORRENTE: M.C.M. COMÉRCIO DE DERIVADOS DE PETROLEO LTDA ADVOGADO : ALEXANDRE FANTONI DE MORAES E OUTRO (S) - MG111371 RECORRIDO : VIVIANE GONÇALVES DA SILVA ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL MANEJADO NA VIGÊNCIA DO NCPC. AÇÃO DE COBRANÇA. VIOLAÇÃO DO ART. 205 DO CC/02. CHEQUE. PRESCRIÇÃO. DÍVIDA LÍQUIDA CONSTANTE DE INSTRUMENTO PARTICULAR. PRAZO. CINCO ANOS. ART. 206, § 5º, I, DO CC/02. ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE ORIGEM EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DESTA CORTE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. SÚMULA Nº 568 DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. DECISÃO MCM COMÉRCIO DE DERIVADOS DE PETRÓLEO LTDA. [...] Conforme previsão da Lei do Cheque, Lei nº 7.357/85, caberia a empresa autora exigir o valor inserido nos cheques através de ação de enriquecimento ilícito, disposta no artigo 61 de referido diploma, no prazo prescricional de dois anos contados da data da prescrição do direito à execução do cheque. Porém, optou a empresa autora pelo ajuizamento de ação de cobrança, fundamentando o pedido no artigo 62 do diploma citado. 2- Alternativa do autor/apelante seria também o ajuizamento de ação monitória. A Súmula 503 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que o prazo para o ajuizamento da ação monitória em face do emitente de cheque é de cinco anos, a contar do dia seguinte ao dia da emissão do referido título. Neste caso, não há necessidade de demonstração do motivo da dívida. (STJ - REsp: 1683439 TO 2017/0163395-8, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Publicação: DJ 15/09/2017) (BRASIL, 2017).

Por outro lado, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro manifestou decisão reconhecendo que transcorrido o prazo de apresentação do cheque e os prazos de prescrição da ação de execução e o da ação de enriquecimento sem causa ou locupletamento indevido, continua o cheque a servir como prova de dívida, a ser cobrada de acordo com a natureza da relação jurídica causal subjacente, que pode ser quinquenal ou decenal, como se expõe:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA FUNDADA EM CHEQUE PRESCRITO. ART. 62 DA LEI 7.375/85. PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO REJEITADA. RELAÇÃO CAUSAL MENCIONADA NA EXORDIAL. PRECEDENTE. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Transcorrido o prazo de apresentação do cheque, o prazo prescricional de sua execução e aquele outro da ação de enriquecimento sem causa de que cuida o art. 61, da Lei 7.357/85, continua o cheque a servir como prova de dívida, a ser cobrada de acordo com a natureza da relação jurídica causal subjacente. 2. Seja este prazo quinquenal ou decenal, certo é que não ocorreu o fenômeno da prescrição na hipótese dos autos. 3. Isto porque os

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cheques foram emitidos no período de julho de 2007 a novembro de 2007 e a ação proposta aos 29/06/2012. 4. O autor esclareceu que o negócio jurídico firmado entre as partes, consiste na compra de material para industrialização de fio dental, sendo os cheques a prova do não pagamento. 5. Precedente do STJ. 6. Desprovimento do recurso. (TJ-RJ - APL: 00033606520128190050 RIO DE JANEIRO SANTO ANTONIO DE PADUA 1 VARA, Relator: LETICIA DE FARIA SARDAS, Data de Julgamento: 02/12/2014, VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 15/12/2014) (BRASIL, 2014).

Assim, o cheque é título executivo extrajudicial e as matérias de defesa na execução são restritas. Entretanto, havendo a prescrição do cheque, após seis meses do prazo de sua apresentação a pagamento, há outras formas de satisfação do valor constante no documento. Desse modo, pretende-se analisar os elementos que podem levar o credor a optar por um ou outro procedimento judicial para reaver o seu crédito em face do emitente do cheque prescrito, ou seja, em que situação pode escolher por ingressar pela ação de locupletamento indevido, pela ação monitória ou pela ação causal, pois há controvérsias sobre a contagem do prazo de prescrição dessas outras formas.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Qual o procedimento judicial mais adequado à cobrança do cheque prescrito?

1.3 HIPÓTESE

A escolha do procedimento judicial mais adequado à cobrança do cheque prescrito deve considerar o lapso temporal entre a data da prescrição do título executivo e a data do ingresso da respectiva ação de cobrança no judiciário.

1.4 DEFINIÇÃO DO CONCEITO OPERACIONAL

Apresenta-se o seguinte conceito operacional:

Procedimentos judiciais de cobrança aplicáveis ao cheque prescrito: Trata-se das

formas de cobrança possíveis para o caso de um título de crédito, especificamente, uma ordem de pagamento à vista, que perdeu a executividade, ou seja, deixou de ser passível de ação de

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execução, por ter decorrido o prazo de 06 meses da data da sua apresentação ao banco para pagamento.

1.5 JUSTIFICATIVA

A escolha do tema se deu por conta de atuais mudanças econômicas que estamos vivenciando, pois em decorrência das altas inflações, os aumentos dos juros e do desemprego que ocorreram nos últimos anos, a negociação com cheque tem sido bem comum. Deste modo, estamos em desiquilíbrio econômico, onde a captação de recursos tem sido mais dificultosa, as linhas de créditos não estão sendo aprovadas, de acordo com as necessidades das empresas; uma transação, de acordo com a legislação, que tem a finalidade de pagamento a vista, tem sido explorada como giro para as empresas e entre particulares, de modo a ampliar a circulação de recursos.

Esse trabalho é importante para o meio empresarial porque busca esclarecimentos acerca das possibilidades de se resguardar ao credor o direito de alcançar a satisfação do crédito estampado no cheque prescrito.

Embora o assunto já tenha sido explorado, após pesquisas em trabalhos acadêmicos sobre o assunto, verificou-se que os que existem tratam de questões distintas, como: “Repercussão no âmbito jurídico da utilização do cheque pós-datado no comércio, partindo da identificação e caracterização dos títulos de crédito” (PEREIRA, 2009); “Possibilidade de responsabilizar a instituição financeira quanto à emissão de cheques” (OLIVEIRA, 2011); “Prazo prescricional da ação de execução fundada em cheque pós-datado” (VIEIRA, 2010); “Prazo para o ajuizamento de ação monitória fundada em cheque prescrito para a execução e a demanda de enriquecimento sem causa” (WELTER, 2010); “Influência da tecnologia, como mecanismo de agilidade e precisão, na compensação de cheques por imagem” (SANTOS, 2018); “Constitucionalidade da Súmula 370 do STJ que prevê o dever de indenizar quando apresentado o cheque de forma antecipada, mesmo sendo o cheque um título de crédito à vista” (CORREA, 2010).

Desse modo, esse estudo é importante para o meio acadêmico, pois poderá contribuir, de forma mais especifica, na medida que pode orientar sobre o tipo de ação a ingressar para a cobrança do cheque prescrito, mostrando-se as controvérsias nos entendimentos dos

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legisladores em relação a contagem de prazos, bem como, sobre quem tem legitimidade passiva nesse tipo de ação.

Ademais, justifica-se fazer esse trabalho para a sociedade, para os leitores em geral, e, especificamente, aos empresários, pois o tema em questão é de suma relevância, e tem a finalidade de orientar os procedimentos jurídicos para cobrança de uma divida preclusa, a qual não cabe ação executiva, devido o decurso do prazo para tanto.

1.6 OBJETIVOS

1.6.1 Objetivo geral

Analisar os procedimentos judiciais aplicáveis à cobrança do cheque prescrito.

1.6.2 Objetivos específicos

Destacar os principais aspectos acerca dos títulos de crédito. Caracterizar o cheque com base na Lei 7.357/1985.

Apresentar as formas de execução e cobrança do cheque prescrito.

Descrever sobre os entendimentos legais, doutrinários e jurisprudenciais sobre o tema.

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O método de abordagem a ser utilizado é o dedutivo, uma vez que parte da análise geral para ter as conclusões individuais. De acordo com Motta et al., (2013, p. 88) “se duas primeiras premissas estiverem corretas, a conclusão necessariamente será correta”, assim os estudos, a fim de levantar os elementos que determinam a escolha do procedimento judicial mais adequado à cobrança do cheque prescrito, caminham para a ocorrência de manifestações para

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caso especifico, “parte de uma proposição universal ou geral para atingir uma conclusão específica ou particular” (MOTTA et al., 2013, p. 85).

O presente trabalho utilizou a pesquisa exploratória, sendo que “o principal objetivo da pesquisa exploratória é proporcionar maior intimidade com o objeto de estudo” (MOTTA et

al., 2013, p. 106). Sendo assim, é necessário aprofundar as ideias referentes ao tema, de modo

a tratar de “questões sobre as quais se queira uma compreensão básica, inclusive para se ter melhor condição e domínio para compreender melhor o problema e suas hipóteses de resposta” (LEONEL; MARCOMIM, 2015, p. 12). Assim, busca-se uma maior familiaridade com o tema, a fim de estudar ainda mais os aspectos do estudo.

Com relação à abordagem, empregou-se a pesquisa qualitativa, pois o pesquisador analisou a doutrina, a legislação e as decisões dos Tribunais, a fim de estudar e compreender a qualidade do conteúdo abordado, pois nesse estudo, “O pesquisador envolve-se com o processo” (MOTTA et al., 2013, p. 113). Do mesmo modo, “o principal objetivo da pesquisa qualitativa é o de conhecer as percepções dos sujeitos pesquisados acerca da situação-problema, objeto da investigação” (MOTTA et al., 2013, p. 112).

Quanto às técnicas de coleta de dados, foram utilizadas a pesquisa bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica foi realizada através de fontes secundárias, sendo elas, material já publicado, como livros, artigos científicos e publicações periódicas. Assim conceitua Motta et al., (2013, p. 115) “A realização da pesquisa bibliográfica é fundamental para conhecer e analisar as principais contribuições teóricas sobre um determinado tema ou assunto”. Portanto, através desse método, foram estudadas e analisadas diversas obras que abordam a respeito do tema em questão. Além da pesquisa bibliográfica, também foi usada a pesquisa documental, em legislações e em julgados, cujas decisões dos Tribunais acerca do tema abordado foram analisadas. Portanto, a pesquisa documental é aquela que decorre de dados primários, que ainda não foram publicados. Nessa linha, segundo Leonel; Marcomim (2015, p.17) “pode-se considerar o material documental de referência é aquele que não recebeu tratamento analítico efetivo ou adequado”.

1.8 ESTRUTURA DO RELATÓRIO FINAL

A presente monografia está organizada em cinco capítulos. O primeiro capítulo se refere a introdução, na qual expõe-se o tema, descrição da situação problema, formulação do

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problema, hipótese, definição dos conceitos operacionais, justificativa, objetivo geral, objetivos específicos e delineamento da pesquisa.

O segundo capítulo aborda os aspectos destacados acerca do direito cambiário em sua evolução, princípios, conceito e característica de títulos de créditos, bem como os institutos cambiários existentes.

O terceiro capítulo trata da caracterização do cheque segundo a lei 7357/1985, assim como o conceito e características do cheque, a sustação e revogação de cheque, os institutos cambiários aplicáveis ao cheque.

O quarto capítulo com o objetivo de alcançar o verdadeiro objeto desta monografia apresenta os procedimentos judiciais de cobrança aplicáveis ao cheque prescrito, caracterização do cheque prescrito, ações cambiárias aplicáveis ao cheque prescrito, ações e extracambiárias aplicáveis ao cheque prescrito, entendimentos doutrinários e jurisprudenciais acerca do tema.

Por fim, no quinto capítulo, apresenta a conclusão que fecha todas as ideias da monografia.

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2 ASPECTOS DESTACADOS ACERCA DO DIREITO CAMBIÁRIO

Para iniciar a discussão sobre o tema, esse capítulo destaca os principais aspectos sobre o direito cambiário.

2.1 SURGIMENTO E CONCEITO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Atualmente o dinheiro é o método mais utilizado para adquirir mercadorias e serviços. Contudo, as primeiras trocas surgiram por necessidade imediata. Porém, as pessoas perceberam que valia a pena produzir a mais para trocar. Como no comércio primitivo não havia moeda, as negociações eram feitas de coisa por coisa; logo após, começou-se a usar o sal como moeda; mais tarde a moeda-metálica e, por fim, papel-moeda emitida pelo Estado. Em seguida, o dinheiro em espécie foi substituído pelos títulos de crédito. Segundo (TEIXEIRA, 2018) a “economia monetária cedeu lugar, de forma parcial, à economia creditória, ampliando o conceito de troca, ou seja, o dinheiro em espécie foi, em parte, substituído pelos títulos de crédito.”.

Os títulos de créditos surgiram na Idade Média com o objetivo de facilitar a circulação do crédito comercial. A letra de câmbio foi o primeiro título de crédito a ser inventado, o que ocorreu no século XI. Esse título tinha por finalidade evitar que os mercadores fossem roubados; a transação era efetuada da seguinte maneira: o comprador e vendedor compareciam ao banco, que recebia a quantia do comprador/devedor e em consequência emitia uma letra de câmbio em favor do vendedor/credor. Este título deveria ser pago ao vendedor por um correspondente do banco situado na cidade sede do vendedor da data do vencimento estipulada.

Diante as diversidades entre os países quanto a necessidade de uniformização da legislação aplicável aos títulos de crédito, em 1930 surgiu o marco fundamental na história do Direito Cambiário, a Convenção de Genebra. Referida convenção é um tratado internacional que tem a finalidade de uniformizar as regras sobre letra de câmbio e nota promissória, de modo que os países signatários têm o dever de editar normas internas de acordo com o seu teor, o que aconteceu com o Brasil, país signatário, por meio do Decreto n. 57.663/66 (Lei Uniforme – LU), que regula letra de câmbio e nota promissória e da Lei 7.357/1985, que disciplina o cheque.

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O artigo 887 do Código Civil/2002 traz o conceito de título de crédito: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei” (BRASIL, 2002). Desse modo, o título de crédito é um instrumento que deve atender às exigências legais para que seja válido.

Destacam-se algumas expressões utilizadas no Direito Cambiário: sacar significa emitir o título; saque é o ato de criação, expedição ou emissão do título; sacador é o emitente, quem cria o título; sacado é quem paga o título; tomador é o credor, o beneficiário do título de crédito. Assim, os títulos de crédito são documentos que representam obrigações em dinheiro, que representam obrigações cambiárias (como é o caso do aval) e obrigações não cambiárias, ou seja, qualquer outro tipo de obrigação (um contrato de empréstimo). O credor de uma obrigação representada por um título de crédito tem mais vantagens do que o credor de uma obrigação representada em outro título, por exemplo, um contrato, um reconhecimento de culpa, ou inclusive uma sentença judicial. Isso se dá em razão das características da negociabilidade e executividade nem sempre presentes em outras obrigações.

A negociabilidade diz respeito a facilidade com que o crédito pode circular, dando maior agilidade e facilidade na transmissão do crédito. Ocorre pela tradição nos casos de títulos ao portador, ou pela assinatura do credor, endosso, nos títulos nominativos. O título de crédito é mais eficiente e seguro, com relação à sua transmissão, se comparado com créditos decorrentes de outros títulos, pois no título de crédito, o devedor não pode opor exceções pessoais a quem recebeu por transferência o título. A negociabilidade possibilita que o título de crédito seja utilizado em operação de desconto, ou seja, o recebimento antecipado dos valores de títulos de créditos não vencidos. Essa antecipação dos valores é feita pelo banco ao qual o comerciante transferiu os créditos.

O título de crédito também pode ser utilizado como uma forma de garantia, facilitando o empréstimo bancário, ou para efetuar o pagamento de fornecedores e credores. De acordo com o artigo 856, Código de Processo Civil/2015, os títulos de crédito são objeto de penhora, ao asseverar que a penhora de crédito representado por cheque, duplicata, nota promissória ou outros títulos far-se-á pela apreensão do documento, independentemente dele estar ou não em poder do executado (devedor).

A executividade dos títulos de crédito é uma característica que decorre do fato de se constituir um documento formal disposto em lei, pois há uma presunção de verdade quanto ao seu teor. Conforme prevê o artigo 783, do Código de Processo Civil/2015, o título somente terá

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executividade quando possuir os três elementos: liquidez (por se saber exatamente o valor da dívida); certeza (a obrigação é certa, sobretudo quanto ao devedor e coobrigados, bem como a possibilidade de execução está prevista em lei); e exigibilidade (em razão de a dívida já estar vencida). O Código de Processo Civil, em seu no artigo 784, define os títulos como sendo títulos executivos extrajudiciais, os quais apresentam eficiência e celeridade na cobrança da obrigação, podendo ser cobrado diretamente por meio de execução judicial, ação cambial/cobrança sumária, sem a necessidade de ação de conhecimento sem todo o rito processual. Desse modo, um título de crédito pode ser negociado e executado, o que lhe assegura vantagens em relação às outras obrigações.

2.2 PRINCÍPIOS GERAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Os títulos de créditos são regidos por princípios, dentre os quais, destacam-se: a cartularidade, a literalidade e a autonomia. Por sua vez, o princípio da autonomia é constituído por dois subprincípios: abstração e inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé.

O princípio cartularidade significa a necessidade do título de crédito ser materializado em papel. No dizer de Ramos (2017), esse princípio nos permite afirmar que o direito de crédito mencionado na cártula não existe sem ela, não pode ser transmitido sem a sua tradição e não pode ser exigido sem a sua apresentação. Baseando-se nesse princípio, os direitos representados por um título de crédito pressupõem a sua posse, pois somente quem apresenta a cártula poderá exigir a satisfação do direito que está documentado no título. Assim, quem não tem a posse do título não pode ser presumido credor. Dessa forma, para ingressar a petição inicial, se faz necessária a exibição do original, não podendo ser cópia autenticada. A obrigação da apresentação da cártula original evita o enriquecimento sem causa. No entanto, a partir da vigência do art. 889, § 3º, do Código Civil/2002, o título poderá ser emitido a partir de caracteres criados em computadores. Desse modo, eletronicamente, portanto não sendo materializado em papel, o constitui uma exceção ao o princípio da cartularidade.

O princípio da literalidade quer dizer que vale apenas o que está escrito no título de crédito. Assim, somente o conteúdo do título é que possui valor. Deste sentido, Tomazette, (2017) diz que o direito representado pelo título tem seu conteúdo e seus limites determinados

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nos precisos termos do título; vale dizer, somente o que está escrito no título deve ser levado em conta. Já, nas palavras de Coelho (2011, p. 268):

Não terão eficácia para as relações jurídico-cambiais aqueles atos jurídicos não instrumentalizados pela própria cártula a que se referem. O que não se encontra expressamente consignado no título de crédito não produz consequências na disciplina das relações jurídico-cambiais. Um aval concedido em instrumento apartado da nota promissória, por exemplo, não produzirá os efeitos de aval, podendo, no máximo, gerar efeitos na órbita do direito civil, como fiança. A quitação pelo pagamento de obrigação representada por título de crédito deve constar do próprio título.

Os atos firmados em documentos separados entre as partes, mesmo sendo válidos entre elas, não irão produzir efeitos perante os terceiros de boa-fé. É o caso do recibo separado, que não produz consequência, pois quem recebeu o título não sabia que o título tinha sido quitado, já que não constava a quitação no corpo do título de crédito. O mesmo acontece no caso de pagamento parcial; quem paga apenas uma parte de um título deve exigir a quitação parcial no corpo do título, para evitar a transmissão pelo valor total a terceiro de boa-fé (TEIXEIRA, 2018). No caso do aval, esse só é válido se constar no corpo do título, pois, do contrário, será considerado inexistente (art. 31, LU).

O princípio da autonomia facilita a circulação dos títulos de crédito, pois traz segurança jurídica; isso ocorre quando um título possui mais de uma obrigação, e estas serão consideradas independentes. As obrigações são autônomas umas das outras, ou seja, quando ocorre a invalidade de uma, não irá acarretar prejuízos às demais obrigações. Portanto os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica não se estendem às demais obrigações abrangidas no mesmo título. Deste modo, se o aval for considerado nulo, isso não irá prejudicar o aceite feito por quem irá efetuar o pagamento. Esse princípio é fundamental para a garantia da circulação do título de crédito e é constituído por dois subprincípios: abstração e inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé.

A abstração é fundamental para a garantia da circulação do título de crédito, uma vez que ocorre quando o título de crédito circula pela primeira vez, ou seja, é transmitido pelo credor original à outra pessoa, pois nesse caso ele se desvincula do negócio jurídico que lhe deu origem. Assim, em regra, o título deverá ser pago mesmo que haja problemas entre as partes originárias do negócio. Portanto, não havendo a circulação do título, ele fica vinculado entre as partes do negócio jurídico originário. E caso, havendo algum problema entre as partes, poderá existir oposição ao pagamento desse documento creditório por estar ele ligado à relação obrigacional entre as partes.

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Já a inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé veda a possibilidade de o executado, em virtude do título de crédito, alegar em sua defesa (embargos) matéria estranha à sua relação direta com o exequente (credor), salvo prova de má-fé, ou seja, deficiências do título (por exemplo, falsidade, nulidade por falta de requisito, prescrição).

2.3 INSTITUTOS DO DIREITO CAMBIÁRIO

O Direito Cambiário é o ramo do Direito que trata das regras que normatizam as relações jurídicas relativas aos títulos de créditos, bem como seus institutos jurídicos específicos, tais como: saque, aceite, endosso, aval, vencimento, pagamento, protesto e ação cambial.

Saque é o modo pelo o qual surge o título de crédito, ou seja, é a emissão do título. Se

for o caso de saque de um título considerado ordem de pagamento, ele cria três figuras: sacador, sacado e tomador. Neste sentido Ramos (2017, p. 555) afirma que:

A letra de câmbio é um título de crédito que se estrutura como ordem de pagamento, razão pela qual, ao ser emitida, dá origem a três situações jurídicas distintas: a) a do sacador, que emite a ordem; b) a do sacado, a quem a ordem é destinada; c) a do tomador, que é o beneficiário da ordem.

Todavia, se ocorrer o compromisso de pagamento, conforme a Lei Uniforme em seu artigo 3º, haverá apenas duas figuras. No caso de nota promissória, terá a figura do sacador, que é ao mesmo tempo sacado, e a figura do tomador, ou seja, tem-se o sacador-sacado e o tomador. Tratando-se de duplicata, o sacador é simultaneamente tomador e a outra figura é o sacado, ou seja, tem-se o sacador-tomador e o sacado, podendo-se dizer que isso acontece também na hipótese de cheque para si próprio. Teixeira (2017, p. 301), pontua que o saque gera o efeito de vincular o sacador ao pagamento do título de crédito e que após o ato do saque, e a partir do vencimento, o beneficiário (tomador/credor) está autorizado a procurar o sacado para poder receber a quantia mencionada no título. Desse modo, é o sacado quem se encontra como destinatário da ordem de pagamento, devendo este a principio pagar o título. Assim, o sacador é codevedor, e se o sacado não pagar o título, o sacador (emissor) terá de pagá-lo (LU, art. 9º).

Aceite é o ato realizado pelo sacado que consiste na concordância em efetuar o

pagamento do título de crédito, ou seja o sacado aceita a ordem de pagamento. A formalização do aceite ocorre por meio da simples assinatura na frente (anverso) do título de crédito, mas também pode ser feito no verso. O aceite é identificado no título de crédito pela expressão “aceito” ou outra equivalente (LU, art. 25). Para Teixeira (2017), o fato de um título de crédito

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ser emitido e endereçado ao sacado não significa que ele está obrigado a aceitá-lo para, posteriormente, pagá-lo, mas o aceite é necessário para que o sacado fique obrigado ao pagamento. Como regra, nenhuma razão obriga o sacado a aceitar o pagamento do título de crédito.

Por sua vez, Ramos (2017, p. 557 e 558) explica que o aceite é um ato de livre e espontânea vontade, porém a recusa do aceite tem como consequência a antecipação do vencimento do título, que visa resguardar os interesses do tomador do título.

O aceite, na letra de câmbio, é facultativo, porém irretratável. Sendo o aceite uma faculdade do sacado, ele pode simplesmente recusá-lo, sem precisar dar qualquer justificativa para tanto. É preciso ressaltar, todavia, que a recusa do aceite produzirá efeitos relevantes para o sacador e para o tomador, uma vez que ocorrerá o vencimento antecipado do título, podendo o tomador exigir do sacador – codevedor da letra, como visto – o seu pronto pagamento.

Por isso, a recusa do aceite é um comportamento lícito por parte do sacado e deve ser dado até o vencimento do título (LU, art. 21). Quem leva o título para ser aceito pelo sacado é o tomador. A função do aceite é proteger os direitos do tomador. Surge a antecipação do vencimento em decorrência da recusa do aceite do título (LU, art. 43). É possível a inclusão de uma cláusula de não aceitação, cujo título só poderá ser apresentado ao sacado para pagamento diretamente, sem prévio aceite (LU, art. 22).

Ressalta-se que, na letra de câmbio, o sacador poderá ou não fixar um prazo para que o tomador apresente o título ao sacado, para que este possa efetuar o aceite (LU, art. 22). O sacado pode pedir que o título seja apresentado novamente no dia seguinte (LU, art. 22), essa prática conhecida como prazo de respiro, muitas vezes necessário para que o aceitante possa avaliar e/ou realizar consultas sobre a aceitação ou não do título. Destaca-se que, de acordo com a lei do cheque, o aceite não é possível nesse tipo de título de crédito em razão da dinamicidade da atividade bancária e do comércio e também devido ao grande volume de cheques emitidos e compensados diariamente.

Ainda, o aceite pode ser parcial, em que o sacado concorda em pagar apenas uma parte do valor do título. Por sua vez, o aceite parcial pode ser limitativo (quando o aceitante concorda em pagar apenas uma parte do título) ou modificativo (quando o aceitante altera qualquer dado existente no título, como a data de vencimento ou o local de pagamento; o sacado adere à ordem alterando parte das condições fixadas na letra) (COELHO, 2011). Para ambos os aceites (limitativo e modificativo) acarreta o vencimento antecipado do título, obrigando o aceitante aos exatos termos por ele delimitados no aceite parcial (LU, art. 26).

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Endosso é o ato de transferir o crédito representado por título à ordem. De acordo com

o art. 14 da LU, o endosso transfere todos os direitos do título. Endossante é a denominação dada a quem efetua a transferência, e endossatário é quem recebe essa transferência. O endosso é um ato próprio do Direito Cambiário, podendo somente o credor endossar. E, como regra o endosso é feito antes do vencimento, pois quando o título vence normalmente se cobra o valor.

São efeitos do endosso: (i) a transferência do crédito, deixando o endossante de ser credor; (ii) a vinculação do endossante ao título, agora na condição de coobrigado/codevedor (isso porque com o endosso o credor passa a ser o endossatário, à luz do art. 15 da LU). Conforme nos ensina Ramos (2017, p. 594) “O endosso, portanto, não transfere apenas o crédito, mas também a efetiva garantia do seu pagamento. Pode o endosso, todavia, conter a chamada cláusula sem garantia, que exonera expressamente o endossante de responsabilidade pela obrigação constante do título”. Não é possível realizar endosso parcial, sendo considerado nulo, conforme prevê o art. 12 da LU.

Em regra, não há limites para o número de endossos, ou seja, um título de crédito não tem limitação quanto ao número de transferências. Uma exceção é o caso do cheque que admite apenas um endosso, conforme o art. 17, I, da Lei n. 9.311/96. Conforme o art. 13 da LU, o endosso deve ser escrito no título ou em uma folha anexa ao título (mas não separada). Quando não identificar o endossatário, deverá ser feito no verso, para isso, basta a simples assinatura. Se for feito na frente do título, além da assinatura do endossante, deverá ter a identificação de que se trata de um endosso.

Como novo credor, o endossatário pode efetuar o protesto do título de crédito. Contudo, conforme a Súmula 475, do STJ: “Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas” (BRASIL, 2012). O endosso só é possível para créditos decorrente de título “à ordem” (essa é uma cláusula tácita nos títulos de crédito, mas pode constar expressamente), conforme o art. 11 da LU. A cláusula “à ordem” significa que o título pode ser negociado e transferido livremente. Se o título de crédito tiver a cláusula “não à ordem”, ele apenas poderá ser transferido mediante cessão de crédito (LU, art. 11).

O endosso e a cessão de crédito são formas de transmissão de crédito. Entretanto, há algumas distinções entre os dois institutos, devendo ficar registrado que o endosso é a forma de transmissão própria dos títulos de crédito. O endosso transmite o título; a cessão de crédito é utilizada para transferir o crédito. Normalmente, na cessão de crédito, quem transfere o crédito

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(o cedente) responde apenas pela existência do crédito (p. ex., ser o título verdadeiro), mas não responde pela insolvência do devedor (na hipótese deste não pagar), conforme a previsão dos arts. 295 e 296 do Código Civil. No endosso, não é necessário que o devedor seja comunicado sobre a transmissão; já na cessão de crédito, é necessário comprovar que o devedor está ciente do ato de transmissão, conforme o art. 290 do Código Civil. O endosso é mais simples e ágil para as relações cambiárias e empresariais, pois facilita e amplia as alternativas de transferência e recebimento do crédito, sendo também mais seguro ao credor-endossatário.

O endosso pode ser: em preto quando identifica o endossatário (quem recebe o crédito); ou em branco (ou ao portador) quando não identifica o endossatário, tornando-se um título ao portador, ou seja, o credor é aquele que tiver a sua posse (LU, art. 12) e o endossatário pode transferir o título por mera tradição.

Também, há o endosso-caução (ou pignoratício) que é aquele dado como garantia, como em caso de penhor (por ser o título considerado um bem móvel, pode ser empenhado); nesse caso, não se transfere a titularidade definitiva do crédito ao endossatário, salvo se não cumprir a obrigação garantida (LU, art. 19). Ainda, o endosso-mandato (ou procuração ou impróprio) é aquele que não transfere a titularidade do crédito, apenas dá legitimidade ao seu possuidor (que é um mandatário; procurador) para que efetue o recebimento do crédito; tem efeitos de uma procuração (LU, art. 18), valendo o que dita a Súmula 476 do STJ: “O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário” (BRASIL, 2012).

O endosso sem garantia é o que proíbe outros endossos após ele, o que desobriga o endossante quanto ao pagamento a outras pessoas caso haja transferências subsequentes (LU, art. 15). Por sua vez, o endosso posterior ao vencimento (póstumo) é aquele realizado depois da data de vencimento do título, tendo os mesmos efeitos do endosso realizado anteriormente ao vencimento (o que é mais comum); entretanto, se o endosso se der posteriormente ao protesto por falta de pagamento, ele produzirá apenas efeitos de uma cessão de crédito (LU, art. 20).

Aval é uma obrigação firmada por terceiro (avalista) que se responsabiliza pelo

pagamento da obrigação constante no título, caso o devedor (avalizado) não o cumpra. Segundo Teixeira (2017, p. 307) “O avalista é responsável tanto quanto o seu avalizado. Se o avalista tiver que honrar a obrigação diante da falta de pagamento do devedor-avalizado, ele tem o direito de voltar- se, em regresso, contra o avalizado para reaver o respectivo valor”. Na verdade, o aval ocorre pela assinatura do avalista mais a identificação “bom para aval” ou outra expressão equivalente. A assinatura pode constar na frente ou no verso no título, bem como em

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folha anexa, mas não separada (LU, art. 31). Pode ser avalizado o sacador, o sacado ou endossante(s). O avalista deve indicar quem está avalizando, pois, do contrário, será entendido que está garantindo o sacador (LU, art. 31).

Tanto a fiança quanto o aval são garantias fidejussórias, ou seja, garantias com vínculo subjetivo, de natureza pessoal, realizadas tendo como base a confiança. Não são garantias reais, como a hipoteca e o penhor, em que há um direito real sobre a propriedade, uma vez que, nestes casos, o bem é dado em garantia. Tanto o aval como a fiança podem ser prestados parcialmente quanto ao valor da dívida, conforme preveem o art. 30 da LU e o art. 823 do Código Civil/2002. No entanto, existem algumas distinções entre o aval e a fiança, e Ramos (2017, p. 600) nos ensina que:

São duas as diferenças básicas entre aval e fiança. A primeira delas é decorrente da submissão do aval ao princípio da autonomia, inerente aos títulos de crédito. Com efeito, o aval, por ser um instituto do regime jurídico cambial, constitui uma obrigação autônoma em relação à dívida assumida pelo avalizado. Assim, se a obrigação do avalizado, eventualmente, for atingida por algum vício, este não se transmite para a obrigação do avalista. Na fiança o mesmo não ocorre: ela, como obrigação acessória, leva a mesma sorte da obrigação principal a que está relacionada

O aval é uma garantia cambial (do Direito Cambiário) e autônoma com relação à obrigação do avalizado, isto é, a invalidade da obrigação principal não invalida a obrigação do avalista (LU, art. 32). Já fiança é uma garantia não cambial (garantia comum do Direito Civil) e acessória com relação à obrigação do afiançado, isto é, se houver a invalidade da obrigação principal, a obrigação do fiador, que é acessória, ficará invalidada (CC, art. 837). Ambos os institutos devem ser prestados por escrito, porém o aval não pode ser realizado fora do corpo do título de crédito (LU, art. 31), em razão do princípio da literalidade. Para fiança, não havendo tal exigência, ela pode ser firmada em documento separado (ainda que o mais comum é que seja feita no mesmo instrumento do contrato principal). No mais, o fiador tem direito ao benefício de ordem, o que significa que, primeiro, deve-se cobrar o afiançado, e depois, somente em caso de insucesso, é que se irá cobrar o fiador (CC, art. 827 e atual CPC, art. 794), sendo a responsabilidade do fiador subsidiária. Já o avalista não tem esse benefício legal (LU, art. 32), pois sua responsabilidade é solidária.

O aval se divide em algumas espécies, podendo ser total, parcial, em branco e em preto. O aval total ou completo é aquele que garante de modo integral o valor do título de crédito. Por outro lado, aval parcial é aquele que se restringe a garantir apenas uma parte do valor do título. Destaca-se que o Código Civil (art. 897 § único) veda o aval parcial, o que afronta o art. 30 da Lei Uniforme, que prevê que o aval pode ser dado no todo ou em parte do valor do título; assim, como a lei especial prevalece sobre a lei geral, o aval parcial é possível. Por sua vez, o aval em

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branco é aquele que não identifica o avalizado, e, nesse caso, conforme dispõe o art. 31 da LU, o sacador será considerado o avalizado. Por fim, aval em preto é aquele que identifica quem está sendo avalizado, podendo ser o sacador, o sacado ou um dos endossantes.

Vencimento é o instituto pelo qual o crédito se torna exigível, por ter chegado o dia, mês

e ano (e, se for o caso, a hora) em que vence a dívida. Desse modo, antes do vencimento de um título de crédito, o devedor não está obrigado a efetuar o pagamento do respectivo valor. E, se quiser fazê-lo, necessitará do consentimento do credor, pois este não está obrigado a receber antes do vencimento (LU, art. 40). Com isso, pela regra, o título só pode ser cobrado no seu vencimento. Porém, existem algumas exceções, nas quais o título poderá ter seu vencimento antecipado: como nos casos de: aceite parcial, recusa do sacado em firmar o aceite, ou falência do sacado ou do sacador.

Existem várias espécies de vencimento. De acordo com o art. 33 da LU, os vencimentos podem ser: à vista, o que acontece no dia da apresentação do título ao devedor para que este faça o pagamento (LU, art. 34); a prazo (dia fixado/certo), pelo qual o dia de apresentação ao devedor para pagamento é fixado previamente pelo emissor (LU, art. 37); a certo termo de data, tem o prazo fixado pelo sacador que começa a correr a partir da data de emissão do título (por exemplo, 30 dias após o dia de emissão) (LU, art. 36); a certo termo de vista, com prazo fixado pelo sacador a contar da data do aceite do sacado ou da data do protesto (LU, art. 35); quando não constar ovencimento no título, será considerado à vista.

Pagamento é a forma mais comum de adimplemento e extinção das obrigações, pois se

trata do cumprimento ordinário, constituindo a quitação do débito. No entendimento de Coelho (2011, p. 299) “Pelo pagamento, extinguem-se uma, alguma ou todas as obrigações representadas por um título de crédito. Se o pagamento é feito por um coobrigado ou pelo avalista do aceitante, são extintas a própria obrigação de quem pagou e mais as dos coobrigados posteriores; se o pagamento é feito pelo aceitante da letra de câmbio, extinguem-se todas as obrigações cambiais”. Assim, o pagamento do título de crédito deve ser feito mediante a sua apresentação e entrega ao devedor (LU, art. 38). A quitação mediante recibo separado pode dar ensejo a nova cobrança por terceiro de boa-fé, a quem o título foi repassado como “não quitado”.

É direito de quem efetua o pagamento ao credor do título obter a devida quitação (LU, art. 39). Neste sentido, prevê o art. 319 do Código Civil que o devedor que paga tem direito à quitação regular, podendo reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. Se o aceitante ou seu avalista efetuar o pagamento, extingue-se a obrigação com relação aos demais coobrigados. O

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aceitante é o primeiro e principal devedor e se ele pagar a dívida está encerrada a obrigação. Contudo, se avalista pagar poderá cobrar do aceitante o valor, mas não dos demais coobrigados. Em ambos os casos, não há direito de regresso contra os demais coobrigados. Agora, se o pagamento for efetuado pelo sacador ou endossante (ou o avalista de um deles), a obrigação de pagar como coobrigado estará extinta, mas a obrigação dos demais coobrigados permanece, sendo possível o direito de regresso contra os coobrigados e o devedor principal (TEIXEIRA, 2017).

O pagamento deve ser feito no local e na data estipulados. Se a data de vencimento cair em feriado ou fim de semana, o pagamento deve ser feito no primeiro dia útil subsequente. E caso fortuito ou força maior, o pagamento deverá ser realizado no primeiro dia imediatamente à cessação do evento. A indicação do local de pagamento é faculdade do sacador ou do aceitante. No entanto, a falta de pagamento total ou parcial dá ensejo ao protesto. É possível haver pagamento parcial, não podendo o credor do título recusar-se em recebê-lo (LU, art. 39). A quitação parcial deve ser anotada no próprio título, evitando o risco desse título circular e de um terceiro de boa-fé recebê-lo, considerando o seu valor total (LU, art. 39). Destaca-se o Código Civil (art. 314) prevê que o pagamento parcial somente é possível se houver ajuste entre as partes.

Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento

de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida (art. 1º, Lei n. 9.492/97). A Lei Uniforme (art. 44) também prevê o instituto do protesto. Trata-se de ato realizado pelo Tabelião de Protesto de Títulos (Lei n. 9.492/97, art. 3º). Destaca Coelho (2011, p 301) que o protesto é a prova de que o título foi apresentado ao devedor, e que são três as hipóteses para realização do protesto:

A falta de aceite, de data do aceite ou de pagamento de uma letra de câmbio deve ser provada por protesto cambial, que é ato formal de responsabilidade do portador do título. O protesto por falta de aceite é extraído contra o sacador, que teve inacolhida a sua ordem de pagamento. O sacado não pode figurar como protestado, neste caso, pela circunstância de se encontrar absolutamente livre de qualquer obrigação cambiária. Mas quem será intimado para, eventualmente, vir aceitar a letra em cartório é, naturalmente, o próprio sacado. Já o protesto por falta de data do aceite ou por falta de pagamento é extraído contra o aceitante, este sim um devedor cambial.

A responsabilidade de levar o título a protesto é do portador do título, do credor ou de seu procurador. Conforme a Súmula 475, STJ: “Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas”; ademais, a súmula 476, STJ estabelece que: “O endossatário de título

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de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário” (BRASIL, 2012).

Uma vez protocolado o título junto ao Tabelião de Protesto, este expedirá a intimação ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título, considerando-se cumprida quando comprovada a sua entrega no mesmo endereço (Lei n. 9.492/97, art. 14, caput). Destaca-se que o envio da intimação poderá Destaca-ser feita por portador do próprio tabelião ou por qualquer outro meio. Em qualquer caso, o recebimento deve ser assegurado e comprovado mediante protocolo, aviso de recepção (AR) ou documento equivalente (Lei n. 9.492/97, art. 14, § 1º). Uma vez o devedor recebendo a intimação, o pagamento do título protestado deve ser feito diretamente no Tabelionato que expediu a intimação, no valor igual ao declarado pelo apresentante, acrescido dos emolumentos e demais despesas (Lei n. 9.492/97, art. 19, caput). O prazo para o pagamento do título em cartório é de até três dias úteis, que começa a contar da entrada do título no Tabelião. Conforme o art. 9º da Lei n. 9.492/97, não cabe ao tabelião de protesto examinar questões prescricionais, pois o título poderá ser protestado a qualquer tempo, ficando a cargo da pessoa protestada alegar prescrição ou caducidade (BRASIL, 1997). Ocorrendo protesto indevido, caberá ao prejudicado ajuizar uma medida judicial que vise suspender o protesto (Código Processo Civil, art. 305). Eventualmente, se houver prejuízos, é pertinente uma ação indenizatória contra o causador do dano, patrimonial ou moral.

Prescrição é o prazo para se ingressar com a ação judicial que visa buscar a tutela

pretendida em relação a um título de crédito. Nesse sentido, destacam-se a ação de execução cambiária, com base em título extrajudicial (art. 49, dec. 2044/1908); ação cambiária de locupletamento ilícito, de procedimento ordinário, quando ocorrer prescrição da ação de execução ou decadência de direitos cambiários (art. 48, dec. 2044/1908); ação monitória fundada em título prescrito, sendo dispensável provar motivo que originou a obrigação, basta o documento, em 5 anos (art. 206, § 5º, I, cc/ arts. 701 e 702, CPC, súmula 503 e 531, STJ); ação extracambiária ou ação causal, baseada na relação jurídica que originou a emissão do titulo, não se confunde com a ação cambiária, cuja prescrição depende do vínculo negocial; deve-se provar a relação causal, em 10 anos, quando não houver lei definindo prazo menor (art. 205, CC). Ademais, têm-se a ação de regresso e a ação de anulação cambial (BRASIL, 1908; 2002; 2015).

Ação de execução cambial visa buscar uma cobrança sumária, sem a necessidade de

processo de conhecimento, pois o título de crédito constitui dívida líquida, certa e exigível (CPC, arts. 783 e 786). Para promover essa execução, é preciso anexar o título de crédito original com o fim de atender ao princípio da cartularidade, salvo exceção prevista em lei. O

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protesto não é requisito para ingressar com ação cambiária, apenas no caso de protesto obrigatório e de ação de regresso. Os títulos que dão ensejo à ação de execução cambial são: cheque, nota promissória, duplicata, letra de câmbio, sendo considerados títulos executivos extrajudiciais (CPC, art. 784, I). O prazo para ajuizamento da execução judicial varia de acordo com cada título de crédito. (BRASIL, 2015).

Ação de locupletamento indevido também denominada de ação de enriquecimento sem

causa, trata-se de uma ação subsidiária, típica de enriquecimento. Tem seu fundamento no título de crédito, que perdeu sua força executiva, em decorrência da prescrição da ação de execução ou decadência dos direitos cambiários. O prazo de prescrição para letra de câmbio ou da nota promissória é de três anos contados do momento que consumou a decadência ou a prescrição; já, o prazo de prescrição para o cheque é de dois anos contados a partir da data da prescrição da ação de execução. Ainda são necessários alguns requisitos: existência de documentos válidos, o não pagamento do título, prescrição da ação executória, enriquecimento injusto do emitente do título ou empobrecimento do portador. (DAMIAN, 2015).

Ação monitória é aquele cabível quando seu autor quiser cobrar o pagamento de uma

quantia em dinheiro com base em uma prova escrita, mas que, no entanto, não tem a eficácia de um título executivo (CPC, art. 700). Essa ação pode ser usada quando o título de crédito não puder ser mais executado, mas serve de prova para a cobrança da obrigação extracambiária firmada, como ocorre no caso de compra e venda. De acordo com a Súmula 299 do STJ: “É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito”. Alinha-se a esta disposição a Súmula 531 do mesmo Tribunal: “Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula” (BRASIL, 2015). O prazo para ajuizamento da ação monitória é 5 (cinco) anos, conforme prevê o art. 206, § 5º, inc. I, do Código Civil. Esse prazo começa a fluir apartir do vencimento do título, mesmo tendo entendimento que se dará a partir do término do prazo para a execução judicial. Nesse sentido, o STJ pacificou a divergência ao editar as Súmulas 503 e 504. O texto da Súmula 503 é o seguinte: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula”. Já de acordo com a Súmula 504: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título”. (BRASIL, 2013).

Ação de regresso decorre da obrigação solidária que pode ser reclamada por qualquer

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lei ou da vontade das partes (CC, arts. 264 e 265), podendo ser ativa (mais de um credor) ou passiva (mais de um devedor), sendo a passiva a mais frequente e a que está ligada aos títulos de crédito. Na solidariedade passiva, o credor pode exigir o recebimento, parcial ou totalmente, de qualquer dos devedores; se o pagamento foi parcial, o credor pode exigir o restante dos demais devedores. A propositura de ação judicial pelo credor contra um ou alguns dos devedores não implicará em renúncia da solidariedade. O devedor que efetuar o pagamento total da dívida tem o direito de cobrar de cada um dos codevedores a sua quota correspondente (CC, arts. 275 e 283). (BRASIL, 2002).

Especificamente quanto à solidariedade cambial, ela está relacionada ao fato de que, embora o título de crédito tenha um devedor principal, todos codevedores que figurarem na obrigação cambiária podem ser acionados para pagar o débito em caso de inadimplência do devedor. Isso é feito por meio do direito de regresso, voltando-se contra aqueles que se obrigaram anteriormente pelo título. Optando por cobrar do endossante e este efetuando o pagamento, a esse é garantido o direito de regresso contra o emitente, cobrando-lhe o valor que tenha pago. Neste caso, a sentença judicial será o título adequado para embasar o exercício do direito de regresso, o qual pode ser feito nos próprios autos desta ação judicial a que foi condenado ao pagamento; ou por meio de ação de regresso autônoma. Assim, a ação de regresso é cabível quando um coobrigado efetua o pagamento tendo o direito de reaver o valor de outro coobrigado ou do devedor principal. Os prazos para a propositura dessa ação dependem do tipo de título de crédito (TEIXEIRA, 2018).

Ação de anulação cambial é proposta pelo credor do título, sendo cabível em caso de

extravio; destruição parcial ou total; furto; roubo ou apropriação indébita do título. Destaca-se que essa ação visa à substituição do título de crédito por uma sentença judicial, trazendo segurança ao devedor, pois ele pode emitir outro título em substituição ao anterior; pois, do contrário, poderia ser surpreendido com uma dupla cobrança. No mais a ação cambial pode ser cumulada com pedido indenizatório por danos morais quando houver prejuízo de ordem extrapatrimonial. (TEIXEIRA, 2018).

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3 CARACTERIZAÇÃO DO CHEQUE SEGUNDO A LEI 7357/1985

Esse capítulo mostra as principais características sobre o instituto do cheque com base na Lei 7.357/1985 (LC), como se passa a expor.

3.1 CONCEITO E MODALIDADES DE CHEQUE

O cheque é um título cambiário abstrato, formal, resultante de uma declaração unilateral de vontade, pela qual a pessoa, designada emitente ou sacador, com prévia e disponível provisão de fundos em poder de bancos ou instituições financeiras, emite a ordem de pagamento sempre à vista, em seu favor ou de terceiro (DAMIAN, 2015). No mesmo sentido, Coelho (1994, p. 246) define que: "o cheque é uma ordem de pagamento à vista, sacada contra um banco e com base em suficiente provisão de fundos depositados pelo sacador em mãos do sacado ou decorrente de contrato de abertura de crédito entre ambos." No Brasil, além do Decreto 57.595/1966 (que institui os preceitos da Lei Universal de Genebra), o cheque também é regido pela Lei 7.357/1985, que trata de forma detalhada, do regime jurídico a ele aplicável.

Cabe ressaltar que o cheque é um título revestido de formalidades. Dentre as modalidades existentes, o cheque pode ser ao portador ou nominativo; à ordem ou não à ordem; podendo ser, ainda, cruzado em branco ou em preto.

O cheque ao portador é aquele que não identifica o seu beneficiário. Contudo, apesar de poder ser emitido ao portador, para que o cheque seja compensado, em razão de depósito em conta bancária ou desconto diretamente no caixa da agência bancária, é preciso que haja a identificação do credor (Lei n. 8.021/90, arts. 1º e 2º). O cheque nominativo é aquele que identifica o nome do beneficiário. Por sua vez, o cheque nominativo pode ser emitido à ordem – transferível por endosso – ou não à ordem – transferível por cessão de crédito (LC, art. 8º) (TEIXEIRA, 2018). Tanto o cheque ao portador quanto o cheque nominal podem ser cruzados, com a colocação de dois traços paralelos, em sentido diagonal, na frente do documento. O cheque cruzado em branco ou geral tem apenas os dois traços, podendo ser depositado em qualquer banco (Art. 44, § 1º, LC); já, o cheque cruzado em preto ou especial tem o nome do banco entre os dois traços, podendo ser depositado somente no banco especificado entre as linhas (Art. 44, § 1º, LC) (BRASIL, 1985).

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3.2 REQUISITOS DO CHEQUE

O cheque é um título que possui requisitos, para que determinado documento tenha a caracterização de cheque. Conforme afirma Rosa Júnior (2004, p. 532): “Requisito necessário é aquele cuja falta desnatura o documento como cheque”. Desse modo, a Lei do cheque (art. 1º, I a VI) demonstra os elementos necessários para que o documento se forme como cheque e são eles, segundo explicações de Damian (2015), como se passa a expor:

a) a denominação “cheque” inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido (LC, art. 1º, I), deve constar a palavra cheque e no mesmo idioma que está sendo usado o documento;

b) a ordem incondicional de pagar quantia determinada (LC, art. 1º, II), o valor a ser pago deve ser expressa em dinheiro, valor certo e determinado, ainda em algarismo e por extenso; no caso se houver divergências dos valores indicados entre o valor informado em algarismo e por extenso, prevalece o por extenso, pois entende-se que o emitente dá mais atenção quando grafa a quantia por extenso (LC, art. 12);

c) o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado) (LC, art. 1º, III), para ter validade como cheque o documento tem que possuir a identificação do banco sacado;

d) a indicação do lugar de pagamento (LC, art. 1º, IV), entende se que o cheque deve indicar o local de pagamento, ou seja, o local da instituição financeira que emitiu o título; na falta deste considera se o local informado ao lado do nome do sacado; informado vários locais paga se no primeiro deles; não existindo informação do local, o cheque será pago no local da emissão, ou ainda, na ausência a menção do local de emissão considera-se o local ao lado do nome do emitente;

e) a indicação da data e do lugar de emissão (LC, art. 1º, V), a indicação da data serve para informar que na data de emissão do título o sacador tinha capacidade de pagamento e também para calcular a data de apresentação e prescrição;

f) a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais (LC, art. 1º, VI), admite-se o uso de assinatura, extensa ou abreviada, a rubrica, ou uma chancela; contudo o analfabeto e o incapaz de assinar devem constituir mandatário com poderes especiais.

Referências

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