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VI Colóquio Internacional "Educação e Contemporaneidade" - Eixo 15 - Psicologia, aprendizagem e educação: aspectos psicopedagógicos e psicossociais

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Academic year: 2021

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INFLUÊNCIAS AFETIVAS NO ENSINO – APRENDIZAGEM DE

MATEMÁTICA

ALVES, Jamille de Andrade Aguiar1 DANTAS, Viviane Andrade de Oliveira 2 OLIVEIRA, Maraísa Santos3

Eixo Temático: Psicologia, Aprendizagem e Educação: aspectos psicopedagógicos e psicossociais.

RESUMO

Este artigo através de estudo bibliográfico vem analisar a importância da dimensão afetiva no ambiente escolar e como a prática pedagógica dos professores/as favorece a aprendizagem em matemática. Sabe-se que a manifestação afetiva em sala de aula sofre com as evidências somente dos aspectos negativos, principalmente no ensino de matemática. Entre as disciplinas escolares, essa é a que mais deixa marcas negativas nos/as estudantes, sendo uma das disciplinas com mais alto índice de reprovação. A relação matemática com o/a estudante é carregada de emoções, e estas necessitam ser estudadas para minimizar os impactos negativos sobre o ensino dessa ciência. Para isso, a prática do professor precisa estar em consonância com as necessidades afetivas, sociais e cognitivas dos/as estudantes. Neste sentido, o presente artigo tem como objetivo mostrar que não podemos separar a afetividade do cognitivo.

PALAVRAS - CHAVES: Afetividade; Ensino de Matemática; Prática Pedagógica.

ABSTRACT

This article by bibliographical study is examining the importance of affective dimension in the school environment and how the pedagogical practice of teachers/the favors learning in mathematics. It is known that the affective manifestation in classroom suffers with the evidence only of the negative aspects, mainly in the teaching of mathematics. Between the school disciplines, this is the most leaves marks in negative/the students, being one of the

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Mestranda do curso de Ensino de Ciências e Matemática, (Universidade Federal de Sergipe), graduada em Pedagogia (Universidade Tiradentes) e Especialização em Psicopedagogia (Faculdade São Luís). Atua como professora e pedagoga na Rede Municipal e Estadual de Ensino (Aracaju- Sergipe). Contatos: Telefone: (79) 9925-8132. E-mail: jam1aaa@hotmail.com.

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Mestranda do curso de Ensino de Ciências e Matemática, (Universidade Federal de Sergipe), graduada em Pedagogia (Universidade Tiradentes) e Especialização em Psicopedagogia (Faculdade São Luís). Atua como professora na Rede Municipal de Ensino (Itabaiana- Sergipe). E-mail: vividantass@hotmail.com.

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Graduada em Pedagogia (Universidade Tiradentes) e Especialização em Língua Portuguesa (Faculdade Pio Décimo). Atua como professora na Rede Municipal de Ensino (Gararu- Sergipe). E-mail: mara_soli@hotmail.com

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disciplines with the highest rate of failure. The mathematical relationship with the student and loaded with thrills, and these need to be studied in order to minimize the negative impacts on the teaching of this science. For this reason, the practice of professor needs to be in line with the affective needs, social and cognitive/students. In this sense, this article has as objective to show that we cannot separate the affectivity of cognitive.

KEYWORDS: Affectivity; Mathematics; Pedagogical practice.

INTRODUÇÃO

Este trabalho, baseado em pesquisa bibliográfica, propõe discutir a importância da dimensão afetiva no ambiente escolar e principalmente no contexto das atividades matemáticas. A palavra afetividade será analisada no âmbito pedagógico, especificamente na relação educativa que se estabelece entre o/a professor/a e os/as estudantes em sala de aula, e será apresentada como sinônimo de dimensão e relação afetiva. Do nosso ponto de vista, a afetividade é impulsionada pela expressão dos sentimentos e das emoções e pode desenvolver-se por meio da formação, pois “o afeto é uma mola propulsora das ações, e a razão está a seu serviço”.( LA TAILLE, 1992, p. 65).

A afetividade é hoje considerada por diversos estudiosos (Côté, 2002; Dias, 2003; Espinosa, 2002) como fundamental na relação educativa por criar um clima propício à construção dos conhecimentos pelas pessoas em formação. Nos últimos anos, vários estudos e pesquisas têm direcionado seu olhar para a importância afetiva na prática pedagógica. Autores como Inês Maria Gómez Chácon (2003), vêm destacando em suas pesquisas a importância do domínio afetivo do estudante no processo de ensino-aprendizagem, pois a mesma considera “pertinente não só aprofundar-se cada vez mais nas exigências cognitivas para a aprendizagem, mas também, e especialmente, nas exigências afetivas”. (pág.25).

Por outro lado, com o advento da concepção teórica de abordagem histórico-crítica, destaca-se a ênfase dada a fatores como determinantes culturais, históricos e sociais da condição humana, como também ao papel determinante do outro na constituição e desenvolvimento do indivíduo, buscando uma visão mais integrada do mesmo. “Esse sujeito histórico, crítico e criativo (deseja algo diferente do atual e busca a transformação) é o sujeito visto de corpo inteiro: corpo, intelecto, afetividade, sexualidade, sociabilidade...” (NARDI. 2005. p. 88). Assim, nesse movimento dialético, o ser humano torna-se sujeito histórico.

No dia a dia da sala de aula, estudantes demonstram uma trama de emoções e sentimentos que a escola muitas vezes não tem levado em consideração, negando até mesmo a

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sua existência. Essa negação tem transformado a educação em um dos meios mais repressores de emoções. Não valorizar a afetividade em sala de aula, é desconsiderar os aspectos sociais e humanos já que “ a afetividade constitui a energética das condutas, cujo aspecto cognitivo se refere apenas às estruturas. Não existe, portanto, nenhuma conduta, por mais intelectual que seja, que não comporte, na qualidade de móveis, fatores afetivos...” (PIAGET, 1973, p. 135).

Apesar dessa importância, a dimensão afetiva tem sido negligenciada tanto na prática da sala de aula (Cianfa, 1996) quanto na formação dos professores que vão atuar na escola básica (Arroyo, 2000). Interessa-nos, portanto, destacar a importância da afetividade, considerados a documentação científica, e em seguida, buscar explicações para a ausência desse componente na relação educativa, apontando para a necessidade de uma discussão profunda e ampliada sobre o assunto, principalmente por parte dos formadores de professores.

Contexto atual da Educação e Ensino/aprendizagem de Matemática

Observando a atual preocupação do governo brasileiro com a universalização do acesso à etapa obrigatória de escolarização, vimos o tamanho do desafio que está pela frente. Faz–se necessária uma discussão profunda sobre o atual padrão de atendimento do ensino, conforme reiterados episódios trazidos pela imprensa e vivido no cotidiano escolar. A realidade é que os/as estudantes não se apropriam do mínimo indispensável para viver em sociedade.

O governo do Brasil orgulha-se por ter praticamente democratizado o acesso à escola pública, no ensino fundamental – na faixa compreendida entre 07 e 14 anos. Esta euforia deve-se a uma interpretação meramente quantitativa (são 97% de estudantes matriculados), mas a leitura qualitativa deste acesso não parece ser digna de comemoração. Vez que o acesso à educação não é bastante para garantir o êxito do/a estudante dentro ou fora da escola. E isto pode ser facilmente verificado quando observamos no censo educacional, os resultados dos exames promovidos pelo próprio governo, como o SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), ou quando constatamos os índices de leitura e de habilidades matemáticas desenvolvidas pelos/as estudantes.

Dentro deste contexto, a reflexão de Silva (2008, p. 150) parece bastante oportuna. Buscando compreender e explicar as dificuldades de crianças de escolas públicas em matemática, apresenta-nos os seguintes dados:

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Segundo o Ministério da Educação (MEC), em 2003, 51,6% dos alunos da 4ª série não tinham adquirido os conhecimentos matemáticos apropriados a esta faixa de escolarização e estavam em um estado “crítico” ou “muito crítico” (...). A situação estava ainda pior na 8ª série (57,1%) e no 3º ano do ensino médio (68,8%). Além disso, parece que a situação não vai melhorando de modo significativo, uma vez que, em 2001, se encontravam em estágio “crítico” ou “muito crítico” 52,3% dos alunos da 4ª série, 58,4% na 8ª e 67,4% no 3º ano do ensino médio. SILVA, 2008, p. 150

Os índices obtidos no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) pelo estado de Sergipe, nos anos de 2005, 2007 e 2009 não nos parece tão animadores. Para as séries iniciais do ensino fundamental, tem como média 3,0, 3,4 e 3,8 e os anos finais conseguiram 3,0, 3,1 e 3,2, nesta ordem. Um crescimento extremamente baixo no ensino fundamental, maior e tímido nas séries iniciais do segundo nível de ensino da educação básica.

AFETIVIDADE E A ESCOLA

Entendemos que os primeiros contatos entre sujeito e ambiente são de ordem afetiva. O sujeito este por inteiro em sua emoção; está unido, confundido nela. Assim, a emoção atinge o nível da cognição, da memória, da percepção, da linguagem, do pensamento. Embora sejam eles de natureza subjetiva, estão inter-relacionados, conferindo dessa maneira ao objeto cultural (aprendizagem) um sentido afetivo.

Compreender que esse mundo objetivo é feito de um mundo reflexivo e sensível, requer aceitar que ele envolve o sentir, o pensar, o sonhar e o imaginar, pois é através dessa reflexão que o indivíduo acessa o mundo simbólico, originando a sua capacidade cognitiva. Dantas, ao citar Wallon, afirma que:

Pelo vínculo imediato que se instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao universo simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história. Dessa forma é ela que permitirá a tomada de posse dos instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva. Neste sentido, ela lhe dá origem" (1992, p. 85-86).

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Assim, o/a estudante ao chegar à escola, não deixa do lado de fora, suas vivências, experiências e desejo, entrando apenas com o intelecto. Ele/a entra com o subjetivo, com o seu eu completo, até mesmo quando vai resolver questões matemáticas. O afetivo e o cognitivo se influenciam mutuamente.

A educação moderna almeja que a escola seja um ambiente de preparação do indivíduo para o mundo e para as suas relações sociais, assim ela assume a função de educar e formar, sendo a escola o lugar ideal para a formação de cidadãos, visto que a própria Lei de Diretrizes e Bases (1996) traz como uma das finalidades da educação, “(...) o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania (...)”. Nisto aprendizagem escolar é vista como algo social, mediada por elementos culturais, produzindo um novo olhar para as práticas pedagógicas. Porém, no dia a dia da sala de aula, estudantes demonstram uma trama de emoções e sentimentos que a escola não tem levado em consideração, desconhecendo a vida afetiva dos/as mesmos/as, negando até mesmo a sua existência, pois por muito tempo as dimensões afetivas e cognitivas foram tratadas separadamente. Como já dissemos, essa negação tem transformado a educação em um dos meios mais repressores de emoções.

Tratar a cognição e afetividade separadamente é negar o ser único que o ser humano é, pois segundo Piaget:

(...) a afetividade constitui a energética das condutas, cujo aspecto cognitivo se refere apenas às estruturas. Não existe, portanto, nenhuma conduta, por mais intelectual que seja, que não comporte, na qualidade de móveis, fatores afetivos; mas, reciprocamente, não poderia haver estados afetivos sem a intervenção de percepções ou compreensão, que constituem a sua estrutura cognitiva. A conduta é, portanto, una, mesmo que, reciprocamente, não tome aquelas em consideração: os dois aspectos afetivo e cognitivo são, ao mesmo tempo, inseparáveis e irredutíveis. (PIAGET, 1973, p.135).

Assim, entendemos que a afetividade e a cognição andam juntas, pois o homem é um ser completo e indissolúvel. Faz-se necessário que a escola reconheça e valorize a dimensão afetiva do sujeito, visto que ela é inseparável do conhecimento, como afirma Piaget no texto transcrito acima. Observamos ainda que aprender algo requer interesse pelo objeto e vínculo afetivo para que seja dado um sentido à aprendizagem.

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Quando um estudante faz uma atividade de matemática, ele não deixa de lado o aspecto afetivo e se torna apenas o cognitivo, mas ele é cognição e emoção. Um depende do outro. O cognitivo depende muito do afetivo, assim como o afetivo depende do cognitivo. Dessa forma, a afetividade está intimamente ligada à aprendizagem do sujeito.

A manifestação da emoção em sala de aula na disciplina de matemática está associada apenas aos aspectos negativos, gerando um clima de tensão sobre essa relação. Junto com essa prática negligente da emoção, vem à prática da avaliação, que também sofre com o rigor que é o contexto escolar. A prática de avaliar só vem exercendo um caráter punitivo, não contribuindo assim para o sentido pleno do que seja essa prática. Segundo o autor Cipriano Carlos Luckesi em seu artigo intitulado: O que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem? A avaliação também é subjetiva, pois “A avaliação da aprendizagem, por ser avaliação, é amorosa, inclusiva, dinâmica e construtiva...” Observamos então, que os fatores afetivos e cognitivos estão também associados nessas duas práticas. Com isso, reforçamos a importância de compreender o sentido afetivo do sujeito, já que a afetividade e inteligência se fundem, e uma depende da outra para evoluir.

ENSINO/APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

“A matemática não é apenas uma ciência: é também uma forma de atividade humana.” (SCHLIEMANN, 2010, p.12). Para tanto, ela precisa ser vista dentro do cotidiano dos sujeitos, tomando forma e sentido nas situações diárias, quando isso não acontece facilmente poderá contribuir com o fracasso escolar. Para Charlot o “fracasso escolar é uma chave disponível para interpretar o que está ocorrendo nas salas de aulas, nos estabelecimentos de ensino, em certos bairros, em certas situações sociais” (2007, p. 14).

Segundo Libâneo (2001, p. 16), “a prática educativa é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos...”, o que confere, portanto, à prática docente, dimensão específica e especializada da ação educativa.

A prática pedagógica, portanto, deve proporcionar meios para formação de capacidades tanto cognitivas quanto operativas, ou seja, ajudar ao educando/a nas

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competências do pensar autônomo, crítico e criativo, sem deixar de lado o aspecto afetivo, pois para Tardif (2008, p.130) “Uma boa parte do trabalho docente é de cunho afetivo”. Neste sentido o/a educador/a comprometido/a com a elaboração de uma prática inclusiva e não de mera reprodução, precisa constituir-se como intelectual transformador, pois “não há sujeito senão em um mundo e em uma relação com outro.”, como revela Charlot (2000, p. 73). Como os/as professores/as trabalham com seres humanos as suas relações são essencialmente sociais, ou seja, consiste em gerenciar as relações sociais em sala de aula, isso inclui dilemas, tensões, etc.

O professor tem de trabalhar com grupos, mas também tem de se dedicar aos indivíduos, deve dar a sua matéria, mas de acordo com os alunos, que vão assimilá-la de maneira muito diferente; deve agradar aos alunos, mas sem que isso se transforme em favoritismo; deve motivá-los, sem paparicá-los; deve avaliá-los, sem excluí-los, etc. Ensinar é, portanto, fazer escolhas constantemente em plena interação com os alunos. Ora, essas escolhas dependem da experiência dos professores, de seus conhecimentos, convicções e crenças, de seu compromisso como que fazem, de suas representações a respeito dos alunos e, evidentemente, dos próprios alunos. (TARDIF, 2004. p. 132).

Freire acrescenta que “A prática educativa docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer” (FREIRE, 2000, p. 43). Este movimento feito pelo/a professor/a crítico/a o torna como sujeito que também se reconstrói, pensa e se constrói na interação com o/a educando/a, além de fazê-lo reconhecer aspecto emocional envolvido nessa relação, assim Freire (2002, p. 17) adverte “...que há ainda um elemento fundamental: o emocional.” Afinal, não há prática melhor do que a prática de refletir sobre a sua própria prática.

Fiorentini (2003, p.91) ao falar sobre a prática pedagógica significativa em matemática mostra que se trata de um “processo simbiótico, de constantes imbricações, que faz com que essa prática seja vista como um processo altamente complexo e dialético”. Esse percurso sofre alterações constantes. Nesse processo complexo, podemos citar a relação do conteúdo com o qual o/a professor/a trabalha no seu dia a dia, concretizado em manuais e currículos oficiais. Os mesmos sofrem o processo de transformação chamado por Y. Chevallard da teoria da transposição didática (CHEVALLARD,1985).

Segundo Astolfi e Develay (1990), essa teoria teve origem na didática das matemáticas, através do trabalho de Chevallard e Joshua, autores que estudaram a matemática

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do conceito de distância e analisaram as transformações sofridas por esse conceito, desde a sua produção, no “saber sábio”, até sua introdução nos programas de geometria na sétima série, ou seja, analisaram as modificações de seu estatuto teórico pelos círculos de pensamento intermediários entre a pesquisa e o ensino. Essas transformações ao se tornar conhecimento que pode ser ensinado no espaço escolar, propõe-se a existência de uma “epistemologia escolar que pode ser distinguida da epistemologia em vigor nos saberes de referência” (ASTOLFI & DEVALAY, 1990, p. 48). Citamos também a existência do chamado contrato didático o que segundo os autores Astolfi e Devalay (1990, P.72), “descreve as regras implícitas que regem no sistema constituído pelo docente, o aluno e o objeto da aprendizagem, a partilha das responsabilidades de cada um dos dois parceiros que são relevantes para o outro”.

Diante de tantas transformações que o conhecimento passa até chegar às salas de aulas, as expectações por parte dos/as estudantes em relação ao/a professor/a e os comportamentos dos/as estudante que são esperados pelo/as professores/as, ratificamos a necessidade de olhar a prática pedagógica em matemática como algo que deve ser dinâmico e não descontextualizado, para assim diminuir os problemas de aprendizagem com essa ciência, que, diga-se de passagem, são muitas as reclamações sobre a mesma.

Como temos visto os problemas de aprendizagem em matemática são diversos e eles perpassam por várias questões. Em entrevista cedida à jornalista Nathalia Goulart, do site da revista Veja (13/09/2011), o Dr. Marcelo Miranda Viana da Silva, vice-presidente da SBM (Sociedade Brasileira em Matemática) é questionado sobre o avanço científico do Brasil em pesquisas na área de Matemática e a fragilidade de formação continuada dos professores, afirma o seguinte:

O Brasil conseguiu nas últimas décadas a façanha de construir um sistema científico sem ter uma educação razoável. Nossa ciência atingiu um patamar louvável para um país sem estrutura científica. Mas não é possível seguir dessa maneira. Precisamos dar um salto quantitativo e qualitativo para nos aproximar dos países mais desenvolvidos do mundo. A única forma de conseguir isso é universalizando o acesso à ciência, permitindo que ela chegue a todos e que todos possam se apaixonar e se dedicar a ela. (VEJA, 2011)

Observamos que, apesar dos avanços científicos, ainda não conseguimos transformar esse processo de transmissão, ou seja, a prática pedagógica. Infelizmente, nessa prática

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alguns/algumas educadores/as, não entenderam que “ao entrar em sala de aula, o professor penetra em um ambiente de trabalho constituído de interações humanas”. (TARDIF, 2012, p.118), com isso tem afastado o desejo dos/as estudantes para entender essa ciência tão encantadora.

O papel da escola não deve ser estimular sentimentos de aversão à matemática. O objetivo da escola e dos professores em sua prática pedagógica dever ser a aprendizagem de qualidade do/a estudante. Neste sentido, o autor José Gimeno Sacristán (2007), destaca que:

A aprendizagem de qualidade é uma meta que implica a necessidade de partir de um conteúdo relevante para incorporá-lo ao sujeito como um saber significativo em sua capacitação, pois somente passando a ser conteúdo de seu sistema de pensamento alcança seu valor e poder como ferramenta do mesmo... Para favorecer uma aprendizagem mais duradoura e construtora de competências mentais com os conteúdos que se aprendem, devem ser estimulados os processos de elaborações possíveis: sínteses, extrapolações, interpretações, aplicações, etc. O que poderíamos chamar de colocar os conhecimentos em ação. (p. 184)

Faz-se necessária uma prática pedagógica que oportunize ao/a estudante uma reflexão e construção sobre o mundo, através do uso da matemática. É preciso dar sentido a aprendizagem dessa, que é uma ciência tão encantadora, pois se não for assim, haverá desmotivação. Para Charlot, nesse sentido:

A criança mobiliza-se em uma atividade quando investe nela, quando faz uso de si mesma como de um recurso, quando é posta em movimento por móbeis que remetem a um desejo um sentido, um valor. A atividade possui, então, uma dinâmica interna não se deve esquecer, entretanto, que essa dinâmica supõe uma troca com o mundo. (CHARLOT, 2000, p.55)

Assim, acreditamos que o/a professor/a ao entender que o seu trabalho “Baseia-se em emoções, em afetos, na capacidade não somente de pensar nos alunos, mas igualmente de perceber e sentir suas emoções, seus temores, suas alegrias, seus próprios bloqueios afetivos” (TARDIF, 2008, p.130), ajuda a construir uma relação afetiva, que valoriza na prática pedagógica uma aprendizagem baseada não somente no aspecto cognitivo, mas também no aspecto afetivo, trazendo sentido na relação entre a prática pedagógica, no que diz respeito ao ensino da matemática, e a aprendizagem daquele que aprende, pois essa disciplina é um instrumento poderoso para conhecer e compreender a dinâmica desse mundo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos este artigo na esperança de ter fornecido ao/a leitor/a subsídios para entender que a afetividade e a cognição não podem andar separadamente. Existe uma dependência entre ambas, ou seja, para que haja desenvolvimento uma depende da outra.Mas, apesar da sua importância, o tema afetividade é ainda estigmatizado ou ignorado na Escola Básica e nos programas de formação docente no ensino superior, o que parece estranho, pois o ensino é uma atividade que envolve interações humanas.

Com isso, ratificamos nesse trabalho que a escola deve olhar para o/a estudante como um ser completo e que o/a mesmo/a reage de forma ativa sobre o contexto escolar. É preciso entender que o papel da escola não só é transferir conhecimento, mas de usá-los para atingir a singularidade de cada um desses/as estudantes.

Em termos de contribuição teórica para a pesquisa, a relação da afetividade no ensino de matemática tem contribuído para a construção de um novo olhar para essa relação, no sentido que tem mostrado presença significativa na retomada de ênfase em aspectos afetivos e no aprofundamento da discussão sobre o mesmo.

Nesse sentido é importante ressaltar a transformação do olhar do professor no que diz respeito à contribuição da relação afetiva no ensino e aprendizagem de matemática. Observamos ainda, a relevância desse conhecimento para formação de professores, ou seja, para a educação. Assim, há que se receber formação para a construção de saberes relativos ao domínio afetivo, visto que a dimensão cognitiva é necessária, mas insuficiente para a aprendizagem escolar dos/as estudantes. Cabe aos gestores e professores/as formadores/as que discutam sobre esse paradoxo e encontrem, nas grades dos cursos de formação de professores/as, um lugar equilibrado entre a dimensão afetiva e a cognitiva, visando a reapropriação da afetividade na relação educativa.

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Referências

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