Mídia e Comunicação
Cenário e desafios para a democracia e a liberdade de expressão
Veridiana Alimonti, advogada do Idec e integrante do Intervozes
Marco internacional (I)
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Artigo 19 - Todo o indivíduo tem direito à
liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer
Marco internacional (II)
PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
Artigo 19
1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões.
2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer outro meio de sua escolha.
3. O exercício do direito previsto no § 2º do presente artigo implicará deveres e responsabilidades especiais.
Consequentemente, poderá estar sujeito a certas restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para:
a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas; b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral pública.
Marco Internacional (III)
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SAN JOSÉ)
Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão
1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem
considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha.
2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente previstas em lei e que se façam
necessárias para assegurar:
a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;
b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas.
Marco internacional (IV)
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias e meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer
outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e opiniões.
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos à censura prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2. 5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.
Constituição Federal
artigo 5º, direitos fundamentais:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a
expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
Constituição Federal (II)
§ 3º - Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a
possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da
propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4º - A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapia, estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário,
advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.
§ 5º - Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
§ 6º - A publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de autoridade.
Premissas fundamentais
➢Pertence aos cidadãos, não é um direito reservado
especialmente para qualquer meio de comunicação.
➢Depende da não interferência pública e privada E
da garantia a todos e todas de iguais condições de exercício desta liberdade, sem diferenciação
➢Implica responsabilidades ulteriores
➢Não tem caráter absoluto, deve ser sempre
Cenário brasileiro - elementos
CENTRALIDADE DA TELEVISÃO
➢ Meios de comunicação como espaço de circulação
de valores e pontos de vista
➢ Relação umbilical com a democracia
➢ Televisão como meio central de comunicação l Presente em 93% dos municípios
l Assistida por 97%
l Considerada por 69% como a fonte mais
Cenário brasileiro - elementos
CONCENTRAÇÃO: MERCADO PUBLICITÁRIO
➢ 2012 – Mais de R$ 30 bilhões investidos em
publicidade.
➢ 64,7% para TV aberta (Intermeios, 2013) – valor
histórico
➢ Cresceu menos que a Internet e a TV por
assinatura, mas continua a líder com folga
➢ Globo concentra a maior parte das verbas da TV
aberta (em 2010 representou 76% - Globo apud Cade, 2011)
Cenário brasileiro - elementos
AUDIÊNCIA (PNT/Ibope 2010) ➢Globo – 50%
➢Record – 22%
➢SBT – 16%
➢Band – 8%
➢Outros - 5%
Cenário brasileiro - elementos
CONCENTRAÇÃO
➢Monopólio/Duopólio – 603 municípios com um canal;
950 com dois (IBGE, 2006)
➢Propriedade cruzada – exemplo Globo
➢Quatro conglomerados controlam 70% dos veículos
(Görgen, 2009)
➢Apenas 7% da programação das afiliadas é regional e
local (Obs. Dir. à Com, 2009)
Cenário brasileiro - elementos
CONCENTRAÇÃO
➢Ausência de regulação e controle
➢Ministério das Comunicações não tem elementos e
não pratica o controle
➢Inexistência de órgão regulador
Cenário brasileiro - elementos
POR QUE COMBATER A CONCENTRAÇÃO?
Fatores econômicos:
➢Afeta a produtividade do setor ➢Afeta o poder de escolha
➢Permite fixar ou controlar preços ou condições de
oferta
Cenário brasileiro - elementos
POR QUE COMBATER A CONCENTRAÇÃO?
Fatores político-culturais:
➢Menor número de fontes de informação ➢Redução da pluralidade de conteúdos ➢Decréscimo da liberdade de expressão ➢Afeta a democracia – relação de mútua
Cenário brasileiro - elementos
CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO
➢Bens não-rivais – ausência de escassez natural ➢Criação de escassez artificial para gerar valor de
troca
➢Alto custo fixo, baixo valor marginal ➢Economia de escala e de escopo
Cenário brasileiro - elementos
CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO
➢TV aberta de livre recepção
➢Barreiras à entrada de ordem técnica e econômica ➢Mercado de dois lados – venda de publicidade
➢Duplo esforço: ampliar audiência quantitativa e
qualitativamente + diminuir número de concorrentes
Cenário brasileiro - elementos
CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO
➢Consumo único a cada momento
➢Tendência a homogeneização: se um produto é
bom, mas dá menos audiência, ele perde lugar
➢Emissoras regionais preferem retransmitir
programação das cabeças-de-rede
➢Indicadores de concentração: audiência e verba
Cenário brasileiro - elementos
EFEITOS
Negativos:
➢Concentração de poder do discurso, poder de gerar
escândalos e repercutir fatos
➢Possibilidade de restrições – explícitas ou
implícitas, diretas ou indiretas – à livre manifestação do pensamento
Positivos (possíveis):
➢Maior disposição ao risco no investimento em
formatos e tipos de programas
Cenário brasileiro - elementos
EFEITOS
Negativos >>> Positivos
O mercado de televisão,
por seus próprios meios,
não gera diversidade e
pluralidade. Ao contrário
Marco regulatório no Brasil (I)
Código Brasileiro de Telecomunicações – 1962
➢ Objetivos de autorizar Embratel e criar regras para
operação de rádio e TV
➢ Comunicação como negócio, não como direito
➢ Pluralismo e diversidade – termos ausentes, conceitos
ignorados
➢ Consolidação do sistema privado
Constituição de 1988
➢ Capítulo específico ➢ Cinco artigos
➢ Aspectos fundamentais não regulamentados
Marco regulatório no Brasil (II)
➢ Diversas propostas de modificação desde 1978.
Oportunidade desperdiçada em 1997 – separação de telecomunicações e radiodifusão
➢ Problemas graves:
Não promove o pluralismo e a diversidade; Não responde à convergência de mídias; Não respeita a Constituição;
Está desalinhado com os padrões internacionais; Representa valores arcaicos.
Marco regulatório no Brasil (III)
CONCENTRAÇÃO – TIPOS E LIMITES ATUAIS
➢ Horizontal – mesma atividade, mesmo mercado
Não se pode controlar mais que 10 emissoras de TV, sendo 5 em VHF e 2 por estado
Não se pode ter outorgas para o mesmo serviço na mesma localidade
➢ Vertical – diferentes atividades, mesmo mercado ➢ Cruzada – diferentes mercado (televisão + rádio +
jornal)
➢ Radiodifusão/produção/programação vs
Desafios
MEDIDAS NECESSÁRIAS
➢Controle por faturamento publicitário e audiência ➢Limite à formação de redes
➢Controle sobre os contratos de afiliação
➢Combate ao cumprimento criativo da norma (ex.
Outorgas de outras localidades, uso de parentes e laranjas, contratos de gaveta)
➢Regionalização
Desafios
MEDIDAS NECESSÁRIAS
➢Complementaridade dos sistemas público, privado
e estatal
➢Direito de resposta
➢Direito de antena (ex. Partidos políticos) ➢Fim do arrendamento e transferências
Principais obstáculos no Brasil para
além da concentração
➢Formas de censura judicial, especialmente em
primeira instância, que atendem a interesses de pessoas poderosas;
➢Pressão dos próprios donos dos meios de
comunicação sobre os jornalistas;
➢Pressão de políticos locais sobre os donos dos
meios de comunicação, que gera uma chantagem cuja moeda de troca são verbas publicitárias;
Avaliação UNESCO
DIAGNÓSTICO
➢Ausência de marco regulatório claro; ➢Regras limitadas e ultrapassadas sobre:
- Como a competição por outorgas é avaliada;
- Quase não há standards de conteúdo e sistemas de reclamação, mesmo aqueles previstos na Constituição;
- Sistema público e comunitário muito fracos;
Avaliação UNESCO
RECOMENDAÇÕES (I)
➢Órgão regulatório único e independente;
➢Revisão das concessões quando da renovação; ➢Dar tempo para radiodifusores estabelecerem
autorregulação de conteúdo;
➢Definir em lei as principais questões sujeitas à regulação
de conteúdo para permitir suporte regulatório;
Avaliação UNESCO
RECOMENDAÇÕES (II)
➢ Definir quotas de programação nacional, regional e
independente, especialmente no horário nobre;
➢ Aumentar financiamento e proteger independência do
sistema público;
➢ Aumentar a alocação de frequências para rádios
comunitárias e simplificar processo de outorga;
➢ Retirar proibição de publicidade e prover financiamento
Movimentações no Brasil
➢ I Conferência Nacional de Comunicação – 2009
➢ Propostas Franklin Martins e discussão Ministério das
Comunicações
➢ Campanha “Para expressar a Liberdade – Uma nova
Novo complicador - Convergência
Até o final do século XX, a indústria de telecomunicações oferecia tradicionalmente serviços distintos para rede distintas.
Novo complicador - Convergência
Com a digitalização das mídias e a internet:
• Transporte simultâneo de voz, vídeo e dados • Multiplicação das formas de transmissão
1. Redes dedicadas exclusivamente à telefonia fixa passaram a ofertar acesso à
internet
2. Redes de TV a cabo passaram a prover acesso à internet e serviços de voz
3. Outras tecnologias, como o Wi Max, também permitem a oferta do serviço de
dados
4. A telefonia móvel passou também a ofertar acesso à Internet e a conteúdos
Novo complicador - Convergência
Com a digitalização das mídias e a Internet:
• Transporte simultâneo de voz, vídeo e dados • Multiplicação das formas de transmissão
1. Redes dedicadas exclusivamente à telefonia fixa passaram a ofertar acesso à
Internet
2. Redes de TV a cabo passaram a prover acesso à Internet e serviços de voz 3. Outras tecnologias, como o Wi Max, também permitem a oferta do serviço de
dados
4. A telefonia móvel passou também a ofertar acesso à Internet e a conteúdos
Novo complicador - Convergência
Dessa forma, não parece mais apropriado criar redes de comunicação segregadas para voz (cujo terminal é o telefone), dados (o terminal é o computador) e imagem (o terminal é o televisor). Uma única rede pode transportar, armazenar, redistribuir todas as mídias. E, mais do que isso,
pode fazer isso não só por uma mesma rede, mas a partir de um único suporte tecnológico.
Então, como consequência:
Serviços com dinâmicas próprias, mercados relevantes distintos, empresas líderes específicas de cada uma dessas atividades e, finalmente, distintos
graus de regulação e intervenção estatal → integração através de um número crescente de serviços e de produtos, que convergiam para uma estrutura de negócios similar, e que, sob condições específicas, competiam entre si.
Novo complicador - Convergência
Tendências gerais da convergência
1.Convergência setorial ou genérica, com a fusão entre os setores de
telecomunicações, informática (TI), audiovisual (TV por assinatura), radiodifusão (TV aberta)
2. Convergência entre serviços, com os mesmos serviços, aplicações e
conteúdos sendo oferecidos por diferentes redes (telefonia fixa, banda larga e TV por assinatura oferecidos como um serviço único – triple play – ou, ainda, esses e a telefonia celular – quadruple play)
3. Convergência entre redes, com uma mesma rede oferecendo diferentes
serviços
4. Convergência entre terminais, com o mesmo terminal (fixo ou
Novo complicador - Convergência
• Primeira Consolidação: Serviços Múltiplos na mesma Rede Segunda Consolidação: Qualquer Rede para Qualquer Serviço