Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.133.495 - SP (2009/0065395-1)
RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA
RECORRENTE : JOAQUIM GANÂNCIA DOS SANTOS E OUTRO ADVOGADO : ROBERTO SUGAYA E OUTRO
RECORRIDO : ERNESTO PEREIRA E OUTROS ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
EMENTA
RECURSO ESPECIAL - USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA - VALOR DA CAUSA - MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA - ALTERAÇÃO DE OFÍCIO PELO JUIZ - POSSIBILIDADE - ART. 259, VII, DO CPC - INDICAÇÃO DO VALOR DA CAUSA - TERRENO ADQUIRIDO SEM AS BENFEITORIAS - PROVEITO ECONÔMICO QUE CORRESPONDE À NUA-PROPRIEDADE - DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL - ARTS. 541, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC, E 255, § 1º, DO RISTJ - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO - RECURSO PROVIDO.
1. O valor da causa diz respeito à matéria de ordem pública, sendo, portanto, lícito ao magistrado, de ofício, determinar a emenda da inicial quando houver discrepância entre o valor atribuído à causa e o proveito econômico pretendido. Precedentes.
2. Na ação de usucapião de natureza extraordinária, tendo por objeto terreno adquirido sem edificações, o conteúdo econômico corresponde à nua-propriedade e o valor da causa será de acordo com "a estimativa
oficial para lançamento do imposto " (art. 259, VII, do CPC), todavia,
excluindo-se as eventuais benfeitorias posteriores à aquisição do terreno. 3. Para a correta demonstração da divergência jurisprudencial, deve haver a comprovação do alegado dissídio jurisprudencial, nos moldes exigidos pelos artigos 541, parágrafo único, do CPC; e 255, § 1º, do Regimento Interno deste Superior Tribunal de Justiça, o que, na espécie, não ocorreu. 4. Recurso especial provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.
Brasília, 06 de novembro de 2012(data do julgamento)
MINISTRO MASSAMI UYEDA Relator
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.133.495 - SP (2009/0065395-1)
RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA
RECORRENTE : JOAQUIM GANÂNCIA DOS SANTOS E OUTRO ADVOGADO : ROBERTO SUGAYA E OUTRO
RECORRIDO : ERNESTO PEREIRA E OUTROS
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):
Trata-se de recurso especial interposto por JOAQUIM GANÂNCIA DOS SANTOS E OUTRO com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal, no qual alegam violação do artigo 259, inciso VII, do Código de Processo Civil, além de divergência jurisprudencial.
Os elementos constantes dos autos dão conta de que, em sede de agravo interno, o acórdão recorrido manteve a decisão proferida nos autos da ação de usucapião ajuizada pelos ora recorrentes (autores), no sentido de determinar a retificação do valor da causa de acordo com o valor venal do imóvel, conforme constante no IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano (terreno mais construção), além do recolhimento da diferença das custas judiciais (fls. 54/58 e-STJ).
Em síntese, os recorrentes argumentam que "o proveito econômico pretendido com a lide relaciona-se apenas à declaração da propriedade do terreno. Em sendo a ação de caráter declaratório, poder-se-ia até mesmo fixar o valor da causa por estimativa da parte recorrente ".
Aduzem, ainda, que, não havendo impugnação, é defeso ao juiz modificar de ofício o valor da causa.
Requerem que o valor da causa permaneça o constante na inicial da ação de usucapião extraordinária ajuizadas pelos recorrentes, ou seja, de acordo com o valor venal do terreno, excluindo-se as edificações e benfeitorias posteriores à aquisição do imóvel pelos recorrentes, autores da ação de usucapião (fls. 61/73 e-STJ) .
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.133.495 - SP (2009/0065395-1)EMENTA
RECURSO ESPECIAL - USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA - VALOR DA CAUSA - MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA - ALTERAÇÃO DE OFÍCIO PELO JUIZ - POSSIBILIDADE - ART. 259, INCISO VII, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - INDICAÇÃO DO VALOR DA CAUSA - TERRENO ADQUIRIDO SEM AS BENFEITORIAS - PROVEITO ECONÔMICO QUE CORRESPONDE À NUA-PROPRIEDADE - DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL - ARTS. 541, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, E 255, § 1º, DO REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL JUSTIÇA - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO - RECURSO PROVIDO.
1. O valor da causa diz respeito à matéria de ordem pública, sendo, portanto, lícito ao magistrado, de ofício, determinar a emenda da inicial quando houver discrepância entre o valor atribuído à causa e o proveito econômico pretendido. Precedentes.
2. Na ação de usucapião de natureza extraordinária, tendo por objeto terreno adquirido sem edificações, o conteúdo econômico corresponde à nua-propriedade e o valor da causa será de acordo com "a estimativa oficial para lançamento do imposto " (art. 259, inciso VII, do Código de Processo Civil), todavia, excluindo-se as eventuais benfeitorias posteriores à aquisição do terreno.
3. Para a correta demonstração da divergência jurisprudencial, deve haver a comprovação do alegado dissídio jurisprudencial, nos moldes exigidos pelos artigos 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil; e 255, § 1º, do Regimento Interno deste Superior Tribunal de Justiça, o que, na espécie, não ocorreu.
4. Recurso especial provido. VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA: O inconformismo merece prosperar.
Com efeito.
In casu , os autores da ação de usucapião, ora recorrentes, indicaram o valor da causa considerando apenas o terreno sem a edificação, contudo, o Tribunal de origem entendeu que o valor da causa não poderia ser fixado
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de forma aleatória, mas em sintonia com o valor venal do imóvel e, "tratando-se de matéria de ordem pública o magistrado pode alterar de ofício o valor da causa " (fls. 44/47 e-STJ).
No presente recurso especial, os recorrentes alegam que a determinação judicial de emenda à inicial contraria o disposto no art. 259, inciso IV, do Código de Processo Civil, além de divergir da jurisprudência quanto ao tema, sob o enfoque de que, na ação declaratória, o autor poderá estimar o valor da causa e, se não for impugnado pela outra parte, tornar-se-á imutável (fls. 61/73 e-STJ).
Inicialmente, anota-se que o valor da causa diz respeito à matéria de ordem pública, sendo, portanto, lícito ao magistrado, de ofício, determinar a emenda da inicial quando houver discrepância entre o valor atribuído à causa e o proveito econômico pretendido na demanda (ut EREsp 158.015/GO, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Segunda Seção, DJ 26/10/2006; REsp 55.288/GO, Rel. Ministro Castro Filho, Terceira Turma, DJ 14/10/2002; AgRg no REsp 612.033/SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, DJE 14/09/2009).
No que diz respeito ao valor da causa na ação de usucapião, a despeito da ausência de expressa previsão legal, deve ser observado que tal demanda, forma de aquisição originária da propriedade, encerra estreita relação com a ação reivindicatória elencada no art. 259, inciso VII, do Código de Processo Civil, porquanto tem por base o direito real de propriedade.
Por oportuno, segundo entendimento de Benedito Silvério Ribeiro acerca do valor da causa na ação de usucapião, extrai-se a seguinte lição:
"Não havendo regra específica sobre a fixação do valor da causa nas ações de usucapião, cabe consignar que na reivindicação o valor não é o atual do imóvel, mas sim 'a estimativa oficial para lançamento do imposto' (CPC, art. 259, VII).
Se assim é no juízo petitório, em que se busca a restituição do imóvel pela mesma razão será na ação de usucapião, cujo objetivo é o reconhecimento do domínio.
A ação de usucapião, por muitos também cognominada ação publiciana, foi erigida em processo autônomo à imagem da ação de reivindicação.
Consoante elucida Lourenço Prunes, o valor deve coincidir com o do imóvel usucapiendo, excluído o das benfeitorias feitas pelo próprio usucapiente.
Em caso de omissão ou quando o valor da causa contraria as regras dos incisos do art. 259 do Código de Processo Civil".
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Na espécie, o acórdão recorrido registra que os autores da ação de usucapião estimaram o valor da causa, considerando apenas o terreno sem a edificação; contudo, em tal hipótese, na ação de usucapião, de natureza extraordinária, tendo por objeto terreno adquirido sem benfeitorias, o proveito econômico corresponde à nua-propriedade e o valor da causa será de acordo com "a estimativa oficial para lançamento do imposto " (art. 259, inciso VII, do Código de Processo Civil), todavia, excluindo-se as eventuais benfeitorias posteriores à aquisição do terreno.
No tocante à admissibilidade do recurso especial pela alínea "c" do permissivo constitucional, também referente ao valor da causa, esta Corte tem decidido, iterativamente, que, para a correta demonstração da divergência jurisprudencial, deve haver a comprovação e a demonstração do alegado dissídio jurisprudencial, nos moldes exigidos pelos artigos 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil; e 255, § § 1º e 2º, do Regimento Interno deste Superior Tribunal de Justiça, providência não adotada no caso dos autos, porquanto os recorrentes apenas indicaram os julgados paradigmas, mas sem a respectiva comprovação (ut AgRg nos EREsp 978.721/RN, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Segunda Seção, DJE 04/03/2009; AgRg nos EREsp 859.618/RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, DJE 16/02/2009).
Assim sendo, dá-se provimento ao recurso especial no sentido de manter o valor da causa, conforme indicado na petição inicial da ação de usucapião ajuizada pelos ora recorrentes.
É o voto.
MINISTRO MASSAMI UYEDA Relator
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA
Número Registro: 2009/0065395-1 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.133.495 / SP
Números Origem: 200601264677 3823374 3823374302 3823374503 662672005
PAUTA: 06/11/2012 JULGADO: 06/11/2012
Relator
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAÇÃO
RECORRENTE : JOAQUIM GANÂNCIA DOS SANTOS E OUTRO ADVOGADO : ROBERTO SUGAYA E OUTRO
RECORRIDO : ERNESTO PEREIRA E OUTROS ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Aquisição - Usucapião Ordinária
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.