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GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS DE HOMENS E MULHERES JOVENS DE BAIXA RENDA RESIDENTES EM TRÊS CIDADES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS DE HOMENS E MULHERES JOVENS DE BAIXA RENDA RESIDENTES EM TRÊS

CIDADES DO ESTADO DE MINAS GERAIS1

Alessandra Sampaio Chacham2 Andréa Branco Simão3 André Junqueira Caetano4

Palavras-Chave: Gravidez na Adolescência; Juventude; Gênero; Trabalho; Educação

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Trabalho apresentado no XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Águas de Lindóia/SP – Brasil, de 19 a 23 de novembro de 2012.

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Professora Adjunta III do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

3

Professora Adjunta III do Curso de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

4

Professor Adjunto III do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

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GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS DE HOMENS E MULHERES JOVENS DE BAIXA RENDA RESIDENTES EM TRÊS

CIDADES DO ESTADO DE MINAS GERAIS5

Alessandra Sampaio Chacham6 Andréa Branco Simão7 André Junqueira Caetano8

Introdução

Apesar de tema polêmico que ainda gera controvérsias e inspira uma grande quantidade de trabalhos sobre diferentes aspectos desse fenômeno, a gravidez na adolescência ainda hoje, na maior parte dos estudos a seu respeito, tem foco na experiência da população feminina, deixando em segundo plano, ou até mesmo ignorando, a figura masculina. Além de privilegiar o universo feminino, muitos estudos tratam a gravidez na adolescência como um acontecimento que repercute negativamente na vida das jovens que se tornam mães, particularmente no que se refere ao término dos estudos e a inserção mais qualificada no mercado de trabalho. O foco na população feminina faz com que se conheça pouco, ou praticamente nada, sobre os impactos da paternidade durante a adolescência na vida dos rapazes.

Diante deste cenário, emergem as questões que direcionam este trabalho: comparadamente à experiência das jovens e adolescentes do sexo feminino, qual o impacto da paternidade na adolescência na vida de pais adolescentes? A experiência da gravidez adolescência e a conseqüente entrada em união conjugal podem acarretar para os jovens de ambos os sexos a interrupção da freqüência à escola e a inserção precária no mercado de trabalho? A paternidade na adolescência, assim como a maternidade na adolescência, estão associadas com uma trajetória de relacionamentos afetivos-conjugais marcados por relações desiguais de gênero? Ampliar o entendimento destas questões significa, também, alargar as possibilidades de compreender, além das estruturas que articulam e dão sentido às atitudes e comportamentos de adolescentes e jovens de baixa renda e maior vulnerabilidade social, as alternativas de vida disponíveis para os mesmos e o impacto das desigualdades de gênero sobre as esferas reprodutiva e sexual de suas vidas.

Para discutir as questões propostas este trabalho está dividido em cinco partes, sendo a primeira esta introdução. Na segunda parte se oferece uma breve revisão da literatura sobre o tema. Na terceira parte são apresentados o desenho da pesquisa e os dados empregados para o desenvolvimento do estudo. Na quarta parte, os resultados obtidos são apresentados e discutidos e, na quinta e última parte, são tecidas algumas considerações e recomendações gerais.

Revisão da Literatura

A adolescência pode ser considerada como um período em que ocorrem importantes transições de vida, cujos efeitos se farão presentes ao longo das trajetórias pessoais, familiares e profissionais dos indivíduos. Dentre estas transições figura com realce, como ressalta

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Trabajo presentado en el V Congreso de la Asociación Latinoamericana de Población, Montevideo, Uruguay, del 23 al 26 de octubre de 2012.

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. achacham@pucminas.br

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. andrea-simao@uol.com.br

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. andre.junqueira.caetano@gmail.com

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Heilborn (2006), a iniciação e o estabelecimento de uma vida sexual ativa. Associados, freqüentemente, ao início da vida sexual estão a formação de família, a gravidez e o primeiro filho, acontecimentos que representam a transição para a vida adulta e podem ser percebidos de maneira distinta por jovens, homens e mulheres, de diferentes classes sociais (CABRAL, 2009; DIAS, AQUINO, 2006).

A pesquisa multicêntrica sobre Gravidez na Adolescência (GRAVAD), realizada nos municípios de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador, fornece evidências de que o evento da gravidez na adolescência varia de acordo com o estrato socioeconômico dos jovens. Foi observado que nos estratos mais baixos, as taxas de gravidez na adolescência têm os mesmos níveis encontrados em países mais pobres da América Latina e, mesmo, da África. Observou-se, também, que é maior a proporção desse evento em famílias nas quais ele ocorreu anteriormente (HEILBORN, 2006). Sobre isto, Corrêa (2005) pontua que a vivência da paternidade, em especial na adolescência, expressa condições concretas de vida e de apoio social encontrado e tem uma forte correlação com valores familiares em relação à reprodução e à sexualidade que são incorporados ao longo da vida dos indivíduos.

A pesquisa GRAVAD também aponta que, nos estratos socioeconômicos de menor renda e socialmente mais vulneráveis, é maior a chance de interrupção da carreira escolar, ligada ou não à gravidez. As condições materiais impõem aos jovens de camadas populares outras prioridades que os levam, muitas vezes, a interromper a trajetória escolar antes mesmo de uma situação de gravidez. Cabral (2003; 2009) pontua, contudo, que a gravidez na adolescência acirra as dificuldades ou o desinteresse apresentado dos jovens pela escola, inviabilizando tentativas de retorno e ou conclusão da escolaridade. Como ela, muitos pesquisadores argumentam que o peso da gravidez na adolescência sobre a escolaridade deve ser minimizado, pois muitos jovens já estavam fora da escola quando vivenciaram tal experiência. O investimento na educação, no entanto, sugere o adiamento das funções parentais (DIAS, AQUINO, 2006; HEILBORN, 2006). Assim, a gravidez na adolescência tende a ser mais comum em áreas mais pobres e socialmente mais vulneráveis.

Em relação ao trabalho, Dias e Aquino (2006), com base nos dados da pesquisa GRAVAD, constatam que, tanto entre os jovens pais, quanto entre as jovens mães, a entrada no mercado de trabalho é mais precoce, se comparada com aquela que ocorre entre jovens que não vivenciaram a experiência da paternidade/maternidade na adolescência. Ao analisar as repercussões da paternidade ocorrida antes dos 20 anos para a trajetória de rapazes de uma comunidade favelada do Rio de Janeiro, Cabral (2003; 2009) verifica que os jovens entrevistados, todos pais durante a adolescência, apresentam ocupação/inserção profissional precárias. Mesmo diante deste cenário, o trabalho significa busca por uma autonomia financeira em relação aos pais e possibilidade de acesso a bens materiais e pode ser entendido como um universo moral importante na trajetória de vida dos jovens de camadas populares e como parte da construção da identidade masculina dos mesmos (CABRAL, 2006; 2009).

Apesar de todos os aspectos ressaltados, relativamente pouco tem sido estudado a respeito do impacto da gravidez/paternidade na adolescência sobre os adolescentes do sexo masculino e homens jovens. Provavelmente porque, como argumenta Corrêa (2005), a paternidade seja um acontecimento que não se desloca dos papéis de gênero cultural e tradicionalmente estabelecidos, o que resultou, até bem pouco tempo, na expropriação do homem de uma história que também o envolve. Os dados da pesquisa GRAVAD (HEILBORN et al, 2006) não revelam impacto significativo nas trajetórias escolares e profissionais de homens jovens cujas parceiras engravidaram enquanto eles ainda estavam na adolescência. Contudo, não é razoável supor que o mesmo resultado possa ser aplicado para outras regiões do país, especialmente as do interior que apresentam realidade muito diversa das capitais. Uma gravidez não planejada na adolescência e uma conseqüente entrada precoce em uma união conjugal podem acarretar, para jovens de ambos os sexos, uma exposição a

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determinados eventos – intermitência ou interrupção da freqüência à escola, gravidez e maternidade –, assim como às conseqüências potenciais destes eventos – bloqueio de projetos de vida e inserção precária no mercado de trabalho.

É importante salientar, no entanto, que a gravidez na adolescência não pode ser automaticamente considerada como uma fonte de problemas sociais. Os próprios dados da pesquisa GRAVAD relativizam o impacto social da gravidez na adolescência ao mostrar que a intermitência ou a ausência escolar entre meninas de baixa renda, tende a ser independente de gravidez e que a gravidez na adolescência, mesmo quando não planejada, nem sempre é indesejada (HEILBORN et al., 2006). E, certamente, a maternidade precoce não é responsável pela perpetuação do “ciclo de pobreza” ou pelo aumento da população pobre (STERN, 1997). Nesse sentido, não é possível estabelecer, muito menos generalizar, se a gravidez e a maternidade na adolescência são causas ou conseqüências de dificuldades que porventura as jovens venham a enfrentar no processo de consecução de sua educação formal e na sua inserção no mercado de trabalho.

Diante deste contexto, é imperativo ao se estudar um fenômeno complexo e multifacetado com a gravidez na adolescência, entender as estruturas que articulam e dão sentido às atitudes e comportamentos e as alternativas de vida disponíveis para as adolescentes e jovens de baixa renda e maior vulnerabilidade social, que são os elementos chave no delineamento de suas metas e projetos em relação a educação, formação de família e trabalho. Assim, entender as consequências da persistência de relações desiguais de gênero, associadas a manutenção dos estereótipos tradicionais a cerco dos lugares que cabem aos homens e mulheres em diferentes aspectos da vida social é vital para um compreensão maior desses processos. Exemplo significativo são os achados da Pesquisa GRAVAD que indicam que a socialização para a maternidade e para os cuidados domésticos desde cedo na vida das meninas é um traço definidor das relações de gênero futuras, gerando assimetrias que, associadas às exigências da maternidade, gera obstáculos substantivos para a continuidade dos estudos das adolescentes e jovens. De fato, segundo Aquino et al. (2006), “...em contextos fortemente marcados por desigualdades de gênero e classe social, a maternidade se apresenta não apenas como ‘destino’, mas também como único projeto possível de reconhecimento social para jovens mulheres cujos eventuais projetos educacionais e profissionais dificilmente poderão concretizar” (p. 352).

Em trabalhos anteriores (CHACHAM et al., 2007, CHACHAM et al., 2010) investigamos como relações de gênero desiguais diminuem os níveis de autonomia de mulheres jovens, afetando o seu comportamento sexual e reprodutivo: um baixo nível de autonomia em diferentes esferas da vida de mulheres jovens está associado a uma maior proporção de gravidez na adolescência e menor proporção de uso de contracepção e de preservativo nas primeiras relações sexuais. Esses indicadores de autonomia foram elaborados especificamente com o objetivo de identificar como a ocorrência de controle e violência por parte do parceiro, bem como a falta de controle da jovem sobre diferentes dimensões de sua sexualidade, podem ter um impacto mensurável sobre sua saúde sexual e reprodutiva.

Autonomia é definida aqui como o “grau de acesso da mulher a, e seu controle sobre, recursos materiais (incluindo alimentação, renda, terra e outras formas de bem-estar) e sociais (incluindo conhecimento, poder e prestígio) dentro da família, da comunidade e da sociedade mais ampla” (JEJEEBHOY, 2000:205). O conceito de autonomia se relaciona com a extensão do controle da mulher sobre sua própria vida. A ausência de autonomia na esfera da sexualidade pode ser considerada um risco para a saúde sexual da mulher. Exitem evidências significativa de que a ausência de autonomia significa um grande obstáculo, quando não impossibilita às mulheres, tanto negociar a freqüência da relação sexual, quanto o uso de métodos de prevenção de gravidez e de HIV/ISTs (Infecções Sexuais Transmissíveis).

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Pesquisas realizadas em diferentes países já demonstraram que o uso de indicadores de autonomia é bastante útil para medir o impacto das desigualdades de gênero em diferentes áreas da vida da mulher. Tais estudos demonstraram que o aumento do controle das mulheres sobre suas próprias vidas e sobre seu acesso a recursos materiais e sociais é fundamental para melhorar a qualidade de vida e de saúde de mulheres e crianças (CASIQUE, 2006; RILEY, 1997; JEJEEBHOY, 1995; MASON, 1993; DAS GUPTA, 1990). A autonomia pode ser considerada um elemento chave para conquistar a saúde sexual e reprodutiva: nenhum volume de educação será capaz de proteger a mulher de exposição ao vírus HIV e à gravidez indesejada se ela não puder negociar o sexo seguro. Na falta da autonomia, a mulher não se sentirá suficientemente empoderada por recusar o sexo ou demandar o uso da prevenção. Entretanto, se essa relação já é bem estabelecida nos estudos sobre a saúde da mulher, bem menos comuns são pesquisas que buscam entender as consequências da desigualdade de gênero sobre a saúde sexual e reprodutiva dos homens, especialmente dos adolescentes homens jovens.

No presente estudo usamos de indicadores de autonomia para analisar em quais esferas um nível maior autonomia estão relacionadas com a vulnerabilidade à gravidez não planejada e ao não uso do preservativo (e a conseqüente exposição às ISTs/HIV) entre homens e mulheres jovens residentes em três cidades de médio porte em Minas Gerais. Nosso principal desafio foi construir indicadores das diferentes dimensões de autonomia de mulheres jovens refletissem as complexidades das relações de gênero e que também fossem aplicáveis, mesmo que em uma formulação oposta, para entender o comportamento masculino dentro de relações afetivas-sexuais no tocante ao grau de poder e de controle exercido por ele sobre a parceira. Ao mesmo tempo, esses indicadores deveriam fazer sentido para o contexto cultural e social a ser investigado – jovens urbanos de diferentes níveis de renda, no Brasil, um país ocidental que passou por importantes mudanças culturais nas décadas recentes, sendo que alterações nas expectativas acerca dos papéis tradicionais de gênero coexistem com o machismo que caracterizam as sociedades latino-americanas.

No Brasil e em outros países da America Latina não são comuns estudos que utilizam variáveis relacionadas à autonomia e à capacidade de tomada de decisões da mulher, como indicadores de desigualdade de gênero, analisando seu impacto na trajetória de vida da mesma. Pesquisas utilizando-se dessas variáveis tendem a se concentrar em países da Ásia e da África (SEN, PRESSER, 2000). Apesar disso, estudos recente (CASIQUE, 2001, 2003, 2006) indicam sua adequação para dimensionar o impacto da desigualdade nas relações de gênero em diferentes esferas da vida das mulheres na America Latina. Casique explora dados de pesquisa realizada no México (ENSARE 98) para discutir a relação entre um maior grau de autonomia e de capacidade de tomada de decisões por parte da mulher com uma maior probabilidade de uso de contracepção e menores chances de ser vítima de sexo forçado por um parceiro (CASIQUE, 2003, 2006). A correlação entre empoderamento feminino com uma maior capacidade de controle da mulher sobre sua vida sexual e reprodutiva é claramente sustentada por esses trabalhos.

Ao contrário da experiência mexicana, as últimas pesquisas de demografia e saúde realizadas no Brasil não continham perguntas que pudessem ser utilizadas para a construção de indicadores de autonomia. Contudo, resultados de pesquisas anteriores nossas, realizadas em 2005 na favela do Taquaril (localizada na região leste da cidade de Belo Horizonte), (CHACHAM et al., 2007) e em 2008 em favelas e bairros da região centro-sul de Belo Horizonte (CHACHAM et al., 2010), apontam para a validade do uso desses indicadores para a realidade brasileira. Os resultados dessas pesquisas nos inspiraram a incorporar o estudo de homens jovens em nosso projeto, num esforço de compreender como atuam as desigualdades de gênero sobre a trajetória sexual e reprodutiva não apenas de mulheres mas também entre homens jovens em diferentes contextos sociais. Apresentamos aqui os resultados dessa uma

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busca por ferramentas analíticas que nos permitissem ir além dos macroindicadores de desigualdade de gênero tradicionalmente utilizados nas análises quantitativas nesta área: renda, ocupação e níveis de escolaridade.

Dados e Métodos

Os dados que subsidiam este estudo foram coletados por meio de um survey realizado em três cidades de porte médio no estado de Minas Gerais. Embora o estado seja o segundo mais populoso do país e um dos mais desenvolvidos, as regiões norte e sul apresentam contrastes marcantes em termos de desenvolvimento socioeconômico, refletindo as próprias desigualdades do Brasil. A capital do estado, Belo Horizonte, é a sexta maior cidade do país, com uma população de 2.377.000 habitantes. Já a área metropolitana é a terceira maior do país, somando, em 2010, uma população de quase cinco milhões de habitantes.

Para refletir a diversidade do estado, as cidades selecionadas para o estudo localizam-se em três diferentes regiões do estado. A cidade de Teófilo Otoni, pertencente à região norte, está situada na área mais pobre e tinha, em 2010, 135.000 habitantes. A cidade é reconhecida como um centro de extração e comércio de pedras preciosas. A cidade de Varginha, situada na região sul do estado, está localizada no centro de grandes plantações de café e apresentava, em 2010, uma população de 123.000 habitantes. Betim, a terceira cidade selecionada para o estudo, está localizada no centro do estado e pertence à região metropolitana de Belo Horizonte. Em 2010 ela tinha 377.000 habitantes e era a terceira maior cidade na região metropolitana. Considerada uma importante área industrial, Betim atrai trabalhadores de todas as partes do estado.

Teófilo Otoni e Varginha são centros importantes em suas regiões e atraem muitos migrantes de áreas próximas em busca de trabalho. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Teófilo Otoni é de 0,74, inferior ao do estado de Minas Gerais, que é de 0,80. Por outro lado, o IDH de Varginha é superior ao do estado como um todo, atingindo a marca de 0,82. Betim, embora seja uma cidade rica, é bastante desigual e apresenta um IDH de 0,77, ou seja, não somente inferior ao do estado, mas também abaixo do calculado para a capital, Belo Horizonte, que é de 0,86.

Estas três cidades foram selecionadas por algumas razões: a primeira delas é que um survey anteriormente realizado por um dos autores deste estudo e outras grandes pesquisas sobre saúde reprodutiva de adolescentes, especialmente sobre gravidez na adolescência, foram todos realizados em capitais. Não há praticamente nenhum estudo feito em cidades menores fora das áreas metropolitanas. Adicionalmente, dados oriundos das pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio (PNADs) e da Pesquisas de Demografia e Saúde (PNDS) podem ser desagregadas, no máximo, por área metropolitana (PNADs) ou por estado (PNDS). Conseqüentemente, não se tem muita informação acerca do que está acontecendo nas áreas urbanas de menor tamanho no que se refere à saúde reprodutiva. Dados mais recentes revelam uma queda nas taxas de gravidez na adolescência no país como um todo, mas uma persistência de níveis mais elevados nas periferias mais empobrecidas das áreas urbanas.

Para ser capaz de aplicar um questionário mais amplo e detalhado que permitisse aos pesquisadores obter informações mais substantivas e “qualitativas”, optou-se por uma amostra não probabilística de 450 entrevistas com jovens mulheres, que estivessem entre 15 e 29 anos (150 em cada cidade) e de 300 entrevistas com jovens do sexo masculino que estivessem no mesmo grupo de idade (100 em cada cidade). Assim, em cada cidade foram entrevistados 50 mulheres e 34 homens de 15 a 19 anos, 50 mulheres e 34 homens entre 20 e 24 anos e 50 mulheres e 33 homens entre 25 e 29 anos. Para efeitos deste estudo, são enfatizados os resultados referentes aos homens.

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Foram selecionados 20 setores censitários (cada divisão com 300 domicílios cada, tal como utilizado pelo Censo Demográfico Brasileiro), com uma renda domiciliar per capta de um salário mínimo ou menos. Para evitar entrevistar pessoas da mesma família, as mulheres e os homens foram entrevistados em diferentes setores censitários. Assim, em cada cidade, em dez setores selecionados, foram entrevistadas 15 jovens mulheres e, nos outros dez setores, foram entrevistados 15 homens jovens. Os entrevistadores batiam nos domicílios, perguntavam sobre a presença de moradores nos grupos etários desejados e, caso estes concordassem, faziam a entrevista. Caso o elegível não aceitasse participar, o entrevistador passava para o próximo, sempre procurando evitar que membros da mesma família respondessem ao estudo. As entrevistas foram feitas nos meses de junho e julho de 2011 por entrevistadores previamente treinados pela equipe responsável pelo estudo.

O questionário foi elaborado a partir de um questionário utilizado em um survey anterior feito com mulheres jovens vivendo em Belo Horizonte (CHACHAM et al., 2010). As respostas obtidas nas entrevistas foram codificadas, digitalizadas e, posteriormente, analisadas por meio do SPSS, versão 16.0. Foram rodados testes de Qui-quadrado e as correlações foram aceitas quando apresentavam um valor de significância de 0,05 ou menor. Como todo estudo realizado com seres humanos, a pesquisa que subsidia este trabalho foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade católica de Minas Gerais.

Resultados do Estudo

A análise dos resultados revelou, em primeiro lugar, um quadro muito heterogêneo no que concerne às condições socioeconômicas dos adolescentes e adultos jovens entrevistados em Varginha, Teófilo Otoni e Betim. Os entrevistados de Teófilo Otoni (município localizado na região mais pobre do nordeste do estado) foram o que apresentaram os níveis mais baixos de renda. As entrevistadas do sexo feminino de Teófilo Otoni declararam uma renda familiar mensal de 1.150,00 reais em média. Já entre os entrevistados do sexo masculino este valor chegou a 1.300,00 reais mais alto do que as entrevistadas do sexo feminino, porém, abaixo da média dos homens entrevistados nas outras cidades. Com um número médio de quatro pessoas em cada família (para os respondentes de ambos os sexos), esse nível de renda significa um rendimento diário de quatro dólares per capta, pouco acima do nível de pobreza estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), de dois dólares por dia per capta. Os entrevistados de Betim e Varginha declaram ter uma renda familiar mais alta: dois salários mínimos, em média. Considerando que em todos os municípios o número médio de moradores por domicílio ficou em torno de quatro pessoas é possível argumentar que os níveis de renda foram substancialmente mais elevados em Varginha e Betim do que em Teófilo Otoni. Os entrevistados do sexo masculino declararam, de forma consistente, possuir níveis de renda mais altos do que as mulheres nas três cidades.

Outra diferença nítida entre os respondentes foi observada na composição dos domicílios. A maioria dos entrevistados informou viver em domicílios chefiados pelo pai (33%). Apesar disto, os homens alegaram, em maiores proporções do que as mulheres, viver em domicílios chefiados por mulheres. Como esperado, observou-se uma associação entre menor renda e domicílios chefiados por mulheres (dados não mostrados). Entre as mulheres jovens, aquelas vivendo em Teófilo Otoni, eram muito mais propensas a viver em domicílios chefiados por mulheres: 21% declararam que suas mães eram chefes da família e 8% declararam serem, elas mesmas, chefes da família. Tais famílias foram as mais pobres da amostra. Enquanto em Teófilo Otoni os entrevistados do sexo masculino foram os mais propensos a declarar serem eles mesmos os chefes de família (30% deles), em Betim as mulheres declararam em maiores proporções, viver com um parceiro e declará-lo chefe da família (30%).

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Em relação ao estado civil, mais de um terço das mulheres jovens vivendo nas três cidades, eram casadas ou viviam em união estável no momento da entrevista (36%). Uma menor proporção de homens do que mulheres, na mesma faixa etária, informaram ser casados: apenas 21% deles viviam com uma parceira no momento da entrevista. Em Betim as entrevistadas eram mais propensas a serem casadas ou viver com um parceiro no momento da entrevista do que as entrevistadas de Teófilo Otoni e de Varginha. Os homens de Teófilo Otoni eram mais propensos a viver com uma parceira (25%) do que homens das outras cidades analisadas. As mulheres também foram mais propensas, do que homens na mesma faixa etária, a já terem sido casadas. Mais de 50% das entrevistadas do sexo feminino, nas três cidades, haviam sido casadas ou tinham vivido com um parceiro pelo menos uma vez em suas vidas em comparação com 27,5% dos homens. Embora os números sejam próximos nas três cidades, as mulheres e homens jovens vivendo em Teófilo Otoni tinham probabilidades mais elevadas de terem sido casados do que os outros entrevistados.

No que se refere à raça/cor, uma maior proporção de mulheres e homens jovens residentes em Varginha declarou ser branco (38%), uma vez que a cidade está localizada no sul, perto de São Paulo. Participantes pretos ou pardos em Varginha possuíam uma renda mais baixa do que os brancos. Teófilo Otoni apresentou um número maior de mulheres jovens que se declararam como pretas ou pardas (86%) e, em Betim, um número maior de entrevistados do sexo masculino declararam ser pretos ou pardos (também 86%). No geral, o número de pessoas que se declararam como pretas ou brancas foi muito semelhante em ambas as cidades e a renda não variou muito em função da raça/cor nestas cidades.

Outro ponto importante de diferenciação entre os entrevistados foi a predominância daqueles que declaram pertencer a uma religião evangélica (pentecostal) ou protestante, presença forte especialmente entre as mulheres que viviam em Betim (49%). Homens e mulheres jovens de Varginha e Teófilo Otoni eram mais propensos a serem católicos, indicando que, apesar do crescimento perceptível de pentecostais, a Igreja Católica ainda apresenta influência persistente em áreas menores. Em Varginha, enquanto a maioria dos entrevistados informou ser católico (cerca de 70%), em Teófilo Otoni, os católicos somaram menos de 50% dos entrevistados. Em Betim um maior número de pessoas declarou não seguir qualquer religião, especialmente entre os homens (29%). A TABELA 1, apresentada a seguir, mostra estas informaçõesAinda na TABELA 1 é possível observar que, em relação aos níveis de escolaridade, apenas 38% dos entrevistados, homens e mulheres, ainda freqüentavam escola (as diferenças entre eles não foram significativas). Nas três cidades os entrevistados apresentaram uma média de 10 anos de escolaridade, embora as mulheres tivessem concluído o ensino médio em proporções um pouco mais elevadas do que homens (31% versus 28%). Observou-se uma proporção um pouco mais alta de homens, do que de mulheres, com pelo menos alguma educação superior. Uma descoberta inesperada foi que os níveis de escolaridade em Teófilo Otoni, a cidade mais pobre do estudo, foram praticamente os mesmos do que os das outras cidades. Neste município verificou-se um percentual maior de mulheres jovens freqüentando a universidade do que em Betim e Varginha (importante ressaltar que este número foi muito pequeno e a diferença não foi significativa).

Os resultados relativos à escolaridade indicam, também, que o ensino médio é o nível educacional máximo para jovens de baixa renda. Isto mesmo para aqueles vivendo em um município na região metropolitana de Belo Horizonte, como é o caso de Betim. A faculdade ou uma escola técnica não parecem alternativas viáveis para a maioria deles. Apenas 24% daqueles que não estavam estudando no momento da entrevista tinham planos de voltar para concluir os estudos. Para as mulheres, a razão mais comum para terem saído da escola foi ter completado o ensino médio (25%). No caso dos homens, esta foi a segunda razão (18%), sendo a primeira a entrada no mercado de trabalho (36%). Para as mulheres a segunda razão mais comum foi ter ficado grávida ou ter que cuidar de seus filhos (18%) foi a segunda razão

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apontada pelas mulheres para terem deixado a escola. Praticamente nenhum homem relacionou este motivo. Uma proporção significativa dos entrevistados de ambos os sexos (cerca de 28%) declarou que abandonou a escola porque não gostava de estudar ou tinha um difícil acesso à mesma.

Em seguida, a TABELA 2 mostra alguns aspectos relativos à questão de trabalho dos adolescentes e jovens de ambos os sexos, entrevistados nos municípios de Betim, Teófilo Otoni e Varginha.

Os resultados dispostos na TABELA 2 permitem observar que os entrevistados do sexo masculino apresentavam, em maiores proporções do que as entrevistadas do sexo feminino, trabalho remunerado no momento da entrevista. Os salários eram, em média, mais altos para homens do que para mulheres e os entrevistados do sexo masculino de Betim declararam uma renda maior do que aqueles de Varginha e Teófilo Otoni. A esmagadora maioria dos entrevistados (tanto homens quanto mulheres) declarou ter controle completo sobre como gastar seu próprio dinheiro. Mais mulheres do que homens declararam que não

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contribuíram para as despesas da casa, mas um número semelhante de homens e mulheres informou que era responsável por mais da metade de suas despesas domésticas.

Outra diferença significativa entre homens e mulheres refere-se ao número de mulheres concentradas no setor de serviços (cerca de 77%) e nos serviços domésticos (12%). Os homens apresentaram proporções expressivas no setor industrial e na construção (38%), embora a maioria estivesse no setor de serviços (60%), especialmente em Teófilo Otoni (80%), onde se verifica um número muito baixo de empregos no setor industrial (6%). Dentro de cada tipo de setor os homens declararam salários mais altos, quando comparados às mulheres (dados não mostrados).

Esta concentração de mulheres no setor de serviços é preocupante, considerando que, em geral, essas ocupações exigem um baixo nível de qualificação e formação, são mal pagas, têm baixa estabilidade no emprego, precário acesso aos benefícios sociais e de trabalho e chances remotas de mobilidade profissional. Este nível precário de inserção no mercado de trabalho indica que o ensino médio (nível de escolaridade apresentado por mais de um terço dos entrevistados) impõe limites para a promoção de uma inclusão mais qualificada no mercado de trabalho, especialmente para as mulheres jovens. Isto mesmo considerando-se que este nível educacional é mais elevado do que o apresentado pela maioria dos brasileiros, que têm, em média, sete anos de estudo.

Finalmente, as mulheres eram muito mais propensas a declarar que faziam trabalho doméstico (94%) do que os homens (65%). A diferença entre o número de horas que elas gastavam com o trabalho doméstico era impressionante: 17 horas por semana contra 6 horas para os homens. O que é ainda mais interessante é que as mulheres que eram mães e não trabalhavam fora de casa gastavam um número muito maior de horas com os afazeres domésticos (27 horas) do que aquelas que trabalhavam fora de casa (14 horas). Entre os homens, o número de horas gastas com o trabalho doméstico a cada semana não variou, foi sempre em torno de seis horas, mesmo se possuíam filhos ou não trabalhavam fora de casa.

Comportamento sexual e reprodutivo e seus condicionantes sociais e econômicos

Na TABELA 3 mostra, a seguir, informações referentes ao comportamento sexual e reprodutivo de adolescentes e homens e mulheres jovens, entrevistados nos municípios alvo deste este estudo. Os resultados relativos ao comportamento sexual e reprodutivo das mulheres adolescentes e jovens entrevistadas de acordo com o local de residência apontam que a proporção de entrevistados que já fez sexo é praticamente a mesma para mulheres e homens (77% versus 81%). Em Teófilo Otoni, verifica-se uma maior proporção de mulheres que nunca tiveram relações sexuais e, em Varginha, uma proporção maior de homens.

Entre os homens a iniciação sexual ocorreu quando tinham cerca de 15 anos de idade e entre as mulheres, quando tinham cerca de 16 anos de idade. Sexo antes do casamento atuou como norma, tanto para homens quanto para mulheres. No entanto, entre os homens, mais da metade declarou que sua primeira experiência sexual foi com uma amiga ou conhecida Já para a maioria das mulheres (74%), a primeira relação sexual ocorreu dentro de uma relação estável, com um namorado ou noivo.

A prevalência de uso de preservativo na primeira relação sexual foi similar para ambos os sexos em todas as cidades, cerca de 72%. Entre as mulheres, verificou-se uma diminuição significativa do uso do preservativo na última relação sexual quando se compara esta com a primeira relação, com 40% declarando o uso do preservativo em sua última relação sexual. A diminuição do uso do preservativo coincide com a entrada das mulheres jovens em relacionamentos estáveis, conjugais ou não, em que o uso de preservativos é substituído por outros métodos contraceptivos. Entre os homens, observou-se uma diminuição muito menor do uso do preservativo desde a primeira até a última relação sexual, o que pode ser atribuído

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ao fato de que os homens tinham menos probabilidade de estar em um relacionamento estável e também de serem mais propensos a ter sexo casual.

A diferença mais notável entre os dois grupos diz respeito à prevalência de gravidez e gravidez na adolescência. Quase metade das entrevistadas (47%) ficou grávida pelo menos uma vez e, um terço delas engravidou antes dos 20 anos. A prevalência de gravidez na adolescência foi maior entre as entrevistadas que viviam em Betim (34%) e menor entre as entrevistadas de Teófilo Otoni (26%). Os homens eram muito menos propensos a declarar que já haviam engravidado uma parceira. Apenas 22% declararam tal experiência e destes apenas

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9% declararam ter engravidado uma parceira antes dos 20 anos de idade. Mulheres também eram muito mais propensas a ter experimentado uma gravidez aos 15 anos, ou até mais jovens do que isso, do que os homens (18,5% versus 1,6%).

No entanto, uma proporção muito maior do sexo masculino declarou que a gravidez de suas parceiras, durante a adolescência, foi planejada: 52% em comparação a 29%. Planejada ou não, apenas 33% das mulheres jovens e 25% dos homens jovens declararam estar usando algum método contraceptivo no momento da primeira gravidez. Mais de 44% das mulheres e 37% dos homens declararam ter se esquecido de usar um contraceptivo ou ter tido um problema com o método. Estes resultados podem estar indicando que os jovens não estão fazendo um uso consistente dos métodos contraceptivos e que eles tendem a não fazer um uso sistemático do preservativo depois que têm sua iniciação sexual.

A TABELA 4 apresenta características socioeconômicas de mulheres e homens jovens entrevistados segundo suas experiências sexuais e reprodutivas. Os/as respondentes foram divididos(as) em quatro grupos: as que ficaram grávidas (ou engravidaram uma parceira) antes de 20 anos, as que engravidaram depois dos 20 anos, aqueles que tiveram relações sexuais e nunca vivenciaram uma gravidez e os que nunca fizeram sexo. Para evitar números excessivamente pequenos em algumas células os dados não foram desagregados por municípios.

Tanto os entrevistados do sexo masculino quanto do sexo feminino que vivenciaram uma gravidez na adolescência eram mais propensos a viver em domicílios com baixos níveis de renda. No entanto, esta associação de baixa renda com a gravidez na adolescência foi mais pronunciada entre as mulheres: 25% das mulheres jovens que engravidaram quando adolescentes viviam em domicílios com renda média menor ou igual a um salário mínimo. Elas também tinham maior probabilidade de estar vivendo com um parceiro, e de terem sido casadas, do que as entrevistadas que nunca engravidaram. Por outro lado, as mulheres jovens que ficaram grávidas após os 19 anos de idade também foram quase tão propensas a já terem sido casadas ou estar vivendo com um parceiro no momento da entrevista. No entanto, os homens jovens que engravidaram uma parceira quando adolescentes eram um pouco menos propensos a serem casados e de serem, eles mesmos, os chefes de família, do que os homens jovens que engravidaram uma parceira depois dos 19 anos de idade. Casamento e gravidez, mas não necessariamente nesta ordem, parecem estar fortemente relacionados entre os entrevistados.

Corroborando resultados de outras pesquisas realizadas (CHACHAM et al., 2007, 2010), raça e religião não foram associados à probabilidade de uma gravidez na adolescência entre os homens e mulheres jovens entrevistados. As únicas exceções foram em Varginha e Teófilo Otoni. Em Varginha os entrevistados mais pobres e pretos apresentaram probabilidade mais elevada de ter vivenciado uma gravidez na adolescência. Já em Teófilo Otoni, as jovens mulheres evangélicas eram menos propensas a declarar uma gravidez na adolescência e mais propensas de ter engravidado após os 19 anos de idade e de serem casadas.

Em relação aos níveis de escolaridade, os entrevistados do sexo masculino e feminino que tiveram uma gravidez antes dos 19 anos tinham probabilidade mais baixa de ter concluído o ensino médio e freqüentar a faculdade. Eles tinham, em média, menos de nove anos de escolaridade, comparado com quase onze para os outros entrevistados (para homens e mulheres, dados não mostrados). Esse dado não variou por cidade. Os efeitos de uma gravidez após 19 anos sobre a renda e educação não foram tão pronunciadas como de uma gravidez antes dos 20 anos de idade, embora os melhores níveis de educação fossem daqueles que nunca vivenciaram uma gravidez. Aqueles que vivenciaram uma gravidez na adolescência também eram mais propensos a estar fora da escola e ter deixado a mesma por causa da gravidez ou cuidar de uma criança. Um número especialmente maior entre os homens declarou que precisaram deixar a escola a fim de trabalhar para sustentar seu filho.

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Tabela 4

Distribuição percentual de adolescentes e homens e mulheres jovens, entrevistados em Betim, Teófilo Otoni e Varginha, segundo caracterísiticas socioeconômicas e demográficas, Brasil, 2011

Características socio-econômicas e demográficas Mulheres Homens (n=450) (n=300) Gravidez até 19 anos (n=137) Gravidez após19 anos (n=74) Nunca engravidou (n=135) Nunca fez sexo (n=104) Gravidez até 19 anos (n=27) Gravidez após 19 anos (n=39) Sem gravidez (n=173) Nunca fez sexo (n=05) Renda familiar mensal1

Até 400 dólares 25.5 17.6 8.9 11.5 3.7 5.1 5.2 7.0 De 400 a 800 dólares 29.5 28.4 31.1 25.0 59.6 41.0 23.7 28.1 De 800 a 1200 dólares 24.1 31.1 23.7 33.7 33.3 15.4 28.3 28.1 1200 dólares ou mais 20.4 23.0 36.3 29.8 33.3 38.5 42.8 36.8 Chefe da família1 Respondente 13.1 17.6 5.2 1.0 55.6 64.1 15.6 1.8 Marido/esposa 53.3 47.3 14.1 0.0 7.4 10.2 1.7 0.0 Pai 15.3 14.9 43.7 56.7 18.5 17.9 50.9 66.7 Mãe 11.7 16.2 23.0 23.1 0.0 2.6 16.2 15.8 Padrasto 2.2 1.4 0.0 3.8 0.0 0.0 1.7 0.0 Outro parente 4.4 2.7 13.3 15.4 18.5 5.2 13.9 15.7 Estado Civil1 Solteiro/separado 33.6 33.8 81.5 100.0 37.0 28.2 90.2 100.0 Casado/amigado 66.4 66.2 18.5 0.0 63.0 71.8 9.8 0.0 Raça/cor Branco 21.5 27.0 28.0 21.4 25.9 28.2 21.4 31.6 Negro 28.1 27.0 20.5 22.3 22.2 15.4 23.7 26.3 Pardo 48.1 43.2 50.0 54.4 51.9 53.8 53.2 36.8 Asiático 0.7 1.4 0.8 1.0 0.0 0.0 1.2 3.5 Indígena 1.5 1.4 0.8 1.0 0.0 2.6 0.6 1.8 Religião Católico 44.1 51.4 58.5 42.3 51.9 48.7 57.8 45.6 Protestante/Pentecostal 39.7 45.1 39.4 47.1 29.6 23.1 20.6 37.8 Espiritualista/outra 1.5 2.8 1.4 2.9 0.0 2.6 1.8 7.2 Nenhuma 14.0 10.8 9.6 7.7 18.5 25.6 20.8 10.5 Nível de escolaridade Até a 5ª série 16.8 9.5 5.2 6.7 22.2 10.3 10.5 7.0 Da 6ª a 9ª série 40.1 10.8 16.3 32.7 25.9 17.9 23.3 42.1

Ensino médio incompleto 20.4 20.3 26.7 37.5 25.9 30.9 22.1 38.6

Ensino médio 29.4 55.4 40.7 16.3 25.9 35.9 33.7 10.5

Superior 2.2 4.1 11.1 6.7 0.0 5.1 10.5 1.8

Ainda Estudando ¹

Sim 16.1 5.4 45.9 79.8 11.1 2.6 35.8 86.0

Não 83.9 94.6 54.1 20.2 88.9 97.4 64.2 14.0

Por que deixou a escola 1

Formou-se 11.0 26.9 36.0 44.8 23.1 7.9 16.8 37.5

Para trabalhar 9.0 13.4 12.8 6.9 3.8 10.5 23.7 12.5

Gravidez/Cuidar do filho 38.0 19.4 0.0 0.0 61.5 52.6 29.0 0.0

Não gostava de estudar 23.0 11.9 12.8 10.3 3.8 2.6 0.0 0.0

Acesso difícil ou precário 3.0 19.4 16.3 13.8 0.0 15.8 17.6 25.0

Outros 16.0 9.0 22.1 24.1 7.7 10.5 13.0 25.0

Trabalha fora de casa ¹

Não 57.6 46.4 41.4 32.1 3.7 15.4 23.2 32,0

Sim 42.4 53.6 58.6 67.9 96.3 84.6 76.8 68,0

Fonte: Pesquisa META

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Enquanto as mulheres jovens que engravidaram antes dos 20 anos tinham menos probabilidade de estar trabalhando fora de casa, os homens jovens que foram pais adolescentes tinham maior probabilidade de estar trabalhando no momento da entrevista. Tanto homens como mulheres que vivenciaram uma gravidez na adolescência eram mais propensos a começar a trabalhar mais jovens do que aqueles que tiveram filhos após 20 anos de idade ou nunca tiveram (dados não mostrados). As mulheres que vivenciaram uma gravidez na adolescência declararam um salário mais baixo, em média, do que as mulheres que nunca engravidaram ou engravidaram após os 19 anos de idade. Entretanto, para os homens não houve quase nenhuma diferença declarada por jovens que já engravidaram uma parceira. Apesar de terem menos anos de escolaridade, os homens jovens que engravidaram uma parceira antes dos 20 anos de idade recebiam aproximadamente a mesma quantia que os homens que engravidaram uma parceira depois dos 20 anos de idade. Ambos ganhavam mais do que os homens jovens que nunca engravidaram a parceira, os quais tendiam a ganhar menos e trabalhar menos horas por semana. O inverso foi verdadeiro para as mulheres: as mulheres jovens que engravidaram na adolescência ganhavam menos e trabalhavam menos horas do que as outras entrevistadas. Não foram encontradas distinções significativas, quando os dados foram comparados por cidades (dados não mostram).

A desigualdade de gênero, os indicadores de autonomia e comportamento sexual e reprodutivo

Este item trata da relação entre os indicadores de autonomia e o comportamento sexual e reprodutivo. Aqui, a hipótese principal é de que a desigualdade de gênero afeta negativamente tanto a saúde sexual e reprodutiva das mulheres quanto dos homens, uma vez que diminui a probabilidade do uso de preservativo, aumentando as chances de uma gravidez não planejada. A TABELA 5 apresenta dados referentes à experiência sexual e reprodutiva dos entrevistados. Para os homens, os dados foram desagregados em uma variável com três categorias: manteve relações sexuais e engravidou uma parceira antes dos 19 anos, manteve relações sexuais e engravidou uma parceira depois dos 19 anos de idade, manteve relações sexuais e nunca engravidou uma parceira. Esta variável foi cruzada com outras cinco variáveis consideradas como indicadores de grau de controle e violência dos homens em relação a uma parceira, quais sejam: se ele já proibiu uma parceira a usar algum tipo de roupa; se ele já proibiu uma parceira de ter contato com algum amigo (s); se ele já definiu uma hora determinada para uma parceira chegar em casa; se ele já proibiu uma parceira de ir a algum lugar; se ele já foi fisicamente violento com uma parceira. Para os homens, também foi incluída a seguinte variável: já sofreu violência física de alguma parceira.

Para fins de comparabilidade, os resultados para as mulheres são apresentados de acordo com três categorias: manteve relações sexuais e ficou grávida antes dos 19 anos de idade; manteve relações sexuais e ficou grávida após 19 anos de idade; manteve relações sexuais e nunca engravidou. A época da gravidez foi cruzada com outras variáveis consideradas como fortes indicadores de grau de autonomia de mulheres jovens em relação à desigualdade de gênero: se já foi proibida por um parceiro de usar algum tipo de roupa; se já foi proibida de ter contato com algum amigo(s); se tem uma determinada hora para chegar em casa definida pelo parceiro; se já foi proibida por um parceiro de ir a algum lugar; se já sofreu violência física por parte de algum parceiro (CHACHAM at al, 2007; CHACHAM et al, 2010).

Os resultados apresentados na TABELA 5 permitem observar que entre as entrevistadas, ter um parceiro que é violento ou tenta exercer algum tipo de controle sobre elas está fortemente relacionado a já ter engravidado, especialmente entre aquelas que engravidaram antes dos 20 anos. As entrevistadas que engravidaram após os 19 anos tinham

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menos probabilidade de sofrer qualquer tipo de controle e violência de um parceiro do que aquelas que engravidaram durante a adolescência. Contudo, quando comparadas com aquelas que tiveram relações sexuais, mas nunca ficaram grávidas, elas também eram mais propensas a ter sofrido violência e controle por parte de do parceiro.

As entrevistadas que nunca tiveram relações sexuais ou, tiveram relações sexuais e nunca engravidaram, ficaram muito menos expostas ao controle e à violência de um parceiro do que aquelas que já engravidaram. Com certeza, as últimas também eram muito mais propensas a terem sido casadas ou unidas do que mulheres jovens que já tiveram filhos (18,5% versus 66%). No entanto, a probabilidade de ser vítima de violência e controle estava mais associada ao fato de já terem engravidado do que ao estado civil, especialmente se a gravidez tivesse ocorrido na adolescência. Embora as mulheres casadas estivessem mais propensas a serem submetidas ao controle e à violência de um parceiro, as mulheres jovens que engravidaram na adolescência, se alguma vez casadas ou não, estavam significantemente mais propensas a terem sido vítimas de abuso físico e comportamento controlador, tais como: ter um parceiro que definisse um horário para ela chegar em casa e a proibisse de usar algum tipo de roupa (dados não mostrados), que as mulheres jovens nas outras categorias.

Considerando que as entrevistadas que nunca engravidaram e aquelas que ficaram grávidas após os 19 anos sofreram controle e/ou violência de um parceiro em menores proporções do que as entrevistadas que tiveram relações sexuais e engravidaram antes dos 19 anos, casadas ou não, é possível argumentar que há uma associação entre baixos níveis de

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autonomia, no tocante à violência e controle por parte do parceiro, com início precoce da vida reprodutiva das mulheres jovens. Ter um parceiro violento e controlador parece conduzir a uma gravidez em idades mais jovens, independentemente das mulheres jovens serem casadas ou não. Este fato sugere que não é somente um casamento em idades mais jovens que propicia a violência, mas que a violência está associada com menor autonomia e maior desigualdade em um relacionamento, o que acaba associado com menor controle de uma jovem mulher sobre sua sexualidade e reprodução.

Para os homens os resultados mostram que os entrevistados do sexo masculino que eram adolescentes quando engravidaram uma parceira estavam mais propensos a declarar que já controlaram as roupas da parceira, que definiram horário para ela estar em casa e já a agrediram fisicamente. Ou seja, eles exerceram o mesmo tipo de controle e violência observado entre as jovens que engravidaram na adolescência. É também uma descoberta muito interessante que os jovens que engravidaram uma parceira, quando adolescentes, eram muito mais prováveis de ter sido vítimas de violência física por uma parceira do que os entrevistados nas outras categorias. Embora ninguém tenha declarado que precisou de assistência médica ou denunciado seus parceiros, este resultado pode ser considerado como um forte indicativo de que a gravidez na adolescência também afeta os homens. Apesar do resultado não ter sido estatisticamente significativo, é possível observar que, aqueles que eram adolescentes quando engravidaram a primeira parceira, tinham maior probabilidade de terem testemunhado suas mães serem vítimas de violência de seus pais ou padrastos.

A TABELA 6, apresentada a seguir, mostra as correlações entre alguns indicadores de autonomia na esfera sexual, com o comportamento sexual e reprodutivo dos entrevistados. Estas correlações são apresentadas para os homens e mulheres entrevistados que declararam que já tiveram relações sexuais. Os indicadores de autonomia sexual foram selecionados com base nos resultados de outras pesquisas e foram separados para homens e mulheres (CHACHAM et al., 2007; CHACHAM et al., 2010).

Como mostra os resultados da TABELA 6, a única variável que mostrou uma forte relação com a gravidez na adolescência, tanto para homens quanto mulheres, foi a idade à primeira relação sexual. A iniciação sexual até 15 anos de idade aumentou significativamente a proporção de entrevistados que vivenciaram uma gravidez antes dos 20 anos. Vale comentar que as mulheres jovens que engravidaram durante a adolescência tiveram sua primeira experiência sexual, em média, em torno de 15,2 anos de idade e engravidaram em torno do 16,6 anos. Ou seja, a diferença entre o início da vida sexual e da gravidez foi um pouco superior a um ano. Em contraste, as mulheres jovens que engravidaram com mais de 19 anos tiveram sua iniciação sexual aos 17,5 e a primeira gravidez, em média, aos 22 anos, ou seja, quase cinco anos depois da primeira relação sexual.

As mulheres que declararam que eram jovens demais quando tiveram relações sexuais, bem como aquelas que disseram que não desejaram a sua primeira relação sexual, foram mais propensas a engravidar na adolescência. Aquelas que discutiram com seu parceiro sobre o uso de métodos anticoncepcionais antes da primeira relação sexual apresentaram proporções menores de gravidez antes dos 19 anos de idade. Este resultado contrastou com o encontrado para aquelas que um parceiro já havia se recusado a usar preservativo: elas foram mais propensas a engravidar na adolescência.

Um resultado muito interessante refere-se ao fato de que as jovens que engravidaram antes dos 20 anos apresentaram menores proporções de uso de preservativos tanto na primeira quanto na última relação sexual. Este resultado pode estar sugerindo a existência de um padrão de comportamento que aumenta a vulnerabilidade das mulheres a uma gravidez não planejada e às DSTs por um longo tempo após a sua iniciação sexual e que elas também ficam mais vulneráveis a relações marcadas pela desigualdade de gênero. Entretanto, o fato da jovem não se sentir segura para interromper, ou evitar a relação sexual, para demandar o uso

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de preservativo estava relacionado com uma maior possibilidade de já ter engravidado, não importando a idade. Este resultado provavelmente pode ser explicado pelo fato de que jovens mulheres, nestas circunstâncias, estavam, mais provavelmente, casadas, uma situação que dificulta a negociação do uso de preservativo, e, até mesmo a relação sexual.

Para os homens jovens, apenas a variável idade à primeira relação sexual estava associada com a gravidez na adolescência. Contudo, entre os jovens que já haviam engravidado uma parceira na adolescência foi possível observar uma proporção maior de recusas a uso de preservativos ou de declarações de que se recusariam a parar a relação sexual para colocar a camisinha, se sua parceira assim o quisesse (dados não mostrados).

Considerações Gerais e Recomendações

Este estudo teve como objetivo central analisar o impacto da maternidade e da paternidade na adolescência na vida de homens e mulheres jovens, de baixa renda, que foram pais adolescentes e residem em cidades de porte médio no Estado de Minas Gerais.

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Especificamente, este estudo procurou ampliar o conhecimento sobre a relação da paternidade na adolescência com escolaridade e inserção no mercado de trabalho. Para isto, foram estabelecidas, sempre, comparações com a realidade feminina.

De uma maneira geral, este estudo chama a atenção para a diferença das informações relativas à prevalência de gravidez e de gravidez na adolescência entre jovens do sexo masculino e feminino. Enquanto cerca da metade das jovens entrevistadas declararam ter ficado grávidas pelo menos uma vez, menos de ¼ dos jovens entrevistados disseram ter passado pela experiência com suas namoradas ou companheiras e, entre os que disseram ter vivenciado tal experiência, somente 9,0% disseram ter sido durante a adolescência. Uma das possíveis explicações para este resultado pode estar no fato de que, muitas vezes, ao saber da gravidez da namorada, o jovem não assume nenhuma responsabilidade, passando até mesmo a ignorar o fato, pois assumir a paternidade pode implicar assumir responsabilidades que não deseja e para as quais não se sente preparado. Vale lembrar que, ainda em função das construções sociais de gênero que permeiam a vida de homens e mulheres em nossa sociedade, ao homem ainda é facultado o direito de escolher vivenciar, ou não, a paternidade.

Por outro lado, chama a atenção o fato de que os jovens, em proporções muito maiores do que as jovens disseram que a gravidez foi planejada. Este pode ser um indicador de que, quando ficam sabendo da gravidez da companheira, diversos jovens desejam de fato se tornar pais. Como alguns estudos revelam (CABRAL, 2009), a paternidade pode representar um papel importante na construção da masculinidade, já que indica a virilidade do jovem. Entre jovens de camadas populares, caso deste estudo, a paternidade pode remeter à transição do adolescente para a vida adulta e à redefinição de seus papéis. De moleque, ele pode ascender para a posição de homem sério e maduro.

Em relação ao impacto da paternidade na vida dos jovens, o estudo revela que, tanto os jovens quanto as jovens que experimentaram a paternidade antes dos 20 anos de idade viviam em domicílios com níveis de renda mais baixos. O mesmo resultado foi observado para a escolaridade. Sempre colocada como um ponto nevrálgico na trajetória de adolescentes que se tornam mães, ela também foi prejudicada no caso dos jovens que, assim como as meninas tiveram que interromper seus estudos para cuidar da criança ou para encontrar trabalho. É importante lembrar, como já enfatizaram diversos pesquisadores, que o percurso escolar de jovens brasileiros, particularmente daqueles de camadas mais vulneráveis, é marcado por interrupções e que, embora estas nem sempre estejam associadas com a gravidez, a chegada de uma criança sempre representa mais gastos e, nas classes menos favorecidas, particularmente, a necessidade de ter uma atividade remunerada que torne mais plausível a manutenção das novas e, muitas vezes, inesperadas, despesas.

No caso da união, os rapazes, diferentemente das moças, apresentaram uma probabilidade menor de se casarem em função da paternidade. Este fato pode estar associado à lógica imposta pelas relações de gênero que cobram muito mais da mulher, do que do homem, a entrada em uma relação estável no caso de uma gravidez.

Outro resultado que também se destaca neste estudo é o relativo à manutenção de alguns padrões tradicionais de gênero quando se compara a situação de homens com a de mulheres. Por exemplo, os resultados mostram a persistência de uma situação menos favorável das jovens, em comparação aos rapazes, em termos de rendimentos (mesmo considerando que as jovens apresentaram uma probabilidade um pouco maior do que os jovens de terem terminado a escola) e a saída da escola, pelos jovens para, para poderem ingressar no mercado de trabalho.

No geral, os resultados deste estudo sugerem que a paternidade na adolescência, junto com a questão da maternidade, é um tema que merece investimentos, tanto de natureza acadêmica quanto de políticas públicas, pois o que se sabe sobre a questão ainda é muito pouco. A necessidade de elaborar e implementar políticas públicas que possibilitem maior

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acesso à educação e, conseqüentemente, melhores oportunidades econômicas é premente, pois a escolaridade amplia não somente as possibilidades de escolha dos jovens, mas também modifica projetos de vida, tanto de homens quanto mulheres, tornando suas escolhas e decisões mais informadas. Nesta seara, também os serviços públicos, tanto de educação quanto de saúde, precisam ser mais bem preparados para atender as demandas tanto daqueles que já enfrentam a questão da paternidade quanto daqueles que estão iniciando sua vida sexual e reprodutiva. Para aqueles que já vivenciam a paternidade, seria ideal que as escolas e equipamentos públicos de educação tivessem capacidade para acolher o jovem pai de modo a permitir que ele pudesse concluir seus estudos. No caso dos adolescentes que estão iniciando, ou ainda vão iniciar sua vida sexual e reprodutiva, as escolas deveriam ser capazes de prepará-los para vivenciar estas dimensões da vida com prazer, sim, mas também com maturidade e responsabilidade. O papel da escola é fundamental, pois, no caso de muitos jovens, particularmente daqueles que pertencem às camadas mais vulneráveis, as famílias têm, em geral, dificuldades de transmitir informações corretas sobre muitas questões que fazem parte da curiosidade dos jovens, pois possuem o mesmo tanto, ou até menos informações, que seus filhos. Para isto, é necessário, além de outras coisas, um investimento na formação dos profissionais ligados à escola e à saúde.

Por fim, mas não menos importante, é preciso lembrar que a questão da paternidade na adolescência (assim como nas outras fases da vida) deve ser analisada considerando-se, também, a questão das relações de gênero, já que todos os indivíduos são direcionados, ao longo de sua formação, ao desempenho de papéis estabelecidos como masculinos e femininos. Tais papéis têm implicações diretas nas histórias de vida dos homens e mulheres.

A ausência de políticas públicas na esfera da saúde sexual e reprodutiva de jovens revela uma total falta de compreensão da realidade e das necessidades dos mesmos e dos impactos que precárias condições socioeconômicas podem ter em suas vidas.

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