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A VIAGEM COMO EXPERIÊNCIA GEOGRÁFICA: AS IMAGENS DOS MIGRANTES GOIANIENSES QUE VIVEM EM SAN FRANCISCO – CALIFÓRNIA – EUA

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A VIAGEM COMO EXPERIÊNCIA GEOGRÁFICA: AS IMAGENS DOS

MIGRANTES GOIANIENSES QUE VIVEM EM SAN FRANCISCO – CALIFÓRNIA – EUA.

Pablo Sebastian Moreira Fernandez1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação de Geografia do IESA/UFG

pablosmf@hotmail.com Prof. Dr. Eguimar Felício Chaveiro Orientador do Programa de Pós-Graduação de Geografia do IESA/UGF. chaveiro@hotmail.com

Introdução:

Migração internacional: Deslocação de pessoas entre fronteiras internacionais, resultando numa mudança do país de residência habitual. Relatório anual do PNUD, 2009.

O tema da migração internacional de goianos para os Estados Unidos da América, em especial para o estado da Califórnia e para a cidade de San Francisco, tem sido tema e preocupação de muitas pesquisas realizadas no campo da Geografia, da Demografia e da Sociologia como tem nos demonstrado os trabalhos de: Almeida sobre o retorno de ex-migrantes a Goiás (2009a); de Ribeiro sobre a situação de vulnerabilidade e ambigüidade social e trabalhista de goianos em San Francisco (1998) e Rodrigues (2007) e Assis (2002) quanto à migração destes enquanto força de trabalho globalizado; sem contar outras pesquisas sobre migração internacional como a realizada por Fusco (2001) sobre os migrantes de Governador Valadares – MG.

Nesta perspectiva do estudo das migrações internacionais, buscamos acessar e conhecer as imagens construídas pelos migrantes provenientes da região e da cidade de Goiânia e que vivem hoje na cidade de San Francisco – Califórnia – Estados Unidos da América: partindo das territorialidades e identidades que estes imprimem na paisagem pelo viés da Geografia. Entendendo que estas imagens tornam-se parte das estratégias que este grupo migrante cria em sua experiência de viagem: que vão se construindo desde a partida da terra natal, da travessia das fronteiras, da chegada e tentativa de permanência num lugar estranho, e também

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pode ser construída pelos estereótipos e ambigüidades do ser estrangeiro.

Estas imagens tornam-se parte de uma projeção composta por outras imagens (como as paisagens natais) que adquirem sentido e significado prático para estes sujeitos, e se tornam um lugar onde encontram referências de pertencimento, de segurança e de valoração e memória. Lembrando ainda, que estas imagens veiculadas seja por meio das cartas, narrativas, pela internet, propiciam uma conexão entre estes lugares numa rede de estranhamentos, sentimentos e marcas migrantes. Importante retomar que esta imagem pode se tornar negativa a partir do momento em que permite a confusão com uma permanência estática, ou com o enraizamento que cria um “homem-vegetal” como dirá o filósofo Vilém Flusser: referindo-se a um ser nostálgico, fechado ao novo, temeroso ao estranho (FLUSSER, 2007).

O migrante, ser que encarna o outro e a novidade, acaba em muitos casos levando consigo em sua bagagem: redes e laços sociais originárias do lugar de origem ou que se desenrolam durante o movimento migratório, como as de familiaridade, de vizinhança e amizade, de solidariedade, de ação e mobilidade; elementos e alguns hábitos culturais que após serem ressignificados se apresentam impressos na paisagem da cidade de San Francisco a serem interpretados como imagem.

A história do fluxo migratório de goianos para São Francisco se origina na década de 1960 e criou elos entre esta cidade americana e o estado de Goiás, especialmente com sua capital, Goiânia. Quanto a uma imagem migrante goianiense a ser interpretada nesta pesquisa, nos valemos do relato de um personagem da pesquisa de Ribeiro (1998): “Gente, saí de Goiânia e de repente me encontrei em outra Goiânia!”. Nesta proposta de leitura da paisagem da cidade de São Francisco, emergem imagens da cultura e da identidade “goiana” por meio de alguns elementos: o arroz com feijão e carne com guariroba dos restaurantes de fundo de casa, música sertaneja, pamonharias, salões de beleza que vendem pão de queijo caseiro, igrejas, tipos de trabalho, gírias, roupa e vestuário2.

Esta imagem construída pelos goianienses de San Francisco chega mediada pelos valores de uma cultura em conflito tal qual o processo de modernização

2 Elementos citados como presentes na paisagem de San Francisco – Califórnia, presentes no relato de uma goianiense recém-chegada desta cidade norte-americana. “– Até calça jeans da Feira da Lua a gente encontra lá! O jeans de lá não cai bem no corpo da brasileira, ele é muito pequeno aí tem que trazer do Brasil!” (Entrevista realizada em dezembro de 2009).

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conservadora do estado de Goiás. Imagem a ser lida pela demografia, e que é composta pela tradição de valores familiares e de compadrismo, misturada com elementos socioespaciais em transformação tais como: as migrações do campo para a cidade, os conflitos entre o espaço e o tempo, entre o velho e o novo, a conexão dos lugares pelas divisas provindas do exterior, a reinvenção da família e os novos modos de vida e seus arranjos espaciais (CHAVEIRO, 2009).

A migração como situação que acaba por conectar abruptamente dois lugares-mundos tão distantes e distintos, pode se tornar expressão de criatividade e sofrimento a partir do momento em que estes goianos reproduzem alguns valores do lugar de origem. Na maioria dos casos chegam a viver juntos ou próximos uns aos outros, habitam os mesmos edifícios, compartilham apartamentos e tipos de trabalho, mantém suas redes sociais baseadas em relações já existentes em Goiás ou exclusivamente com os goianos que acabam por conhecer no movimento de chegada (RIBEIRO, 1998). Seriam estas imagens evidências de determinadas estratégias de sobrevivência a serem encontradas na paisagem.

Retomaremos a idéia de lugar como recorte espacial onde se desenrola a vida (FERNANDEZ, 2008; TUAN, 1980), buscando compreender as experiências que emergem nos caminhos e percursos destes migrantes. Esta busca por um chão onde possa ocorrer a pausa não precisa ser exclusivamente material e físico, espacial ou temporal, mas também subjetivo. O lugar aparece como tentativa de pertencimento diante da instabilidade e insegurança do percurso do movimento migratório. Ele se torna o referente para as trajetórias e fluxos do olhar, à conexão de redes e de itinerários, de encontros, de solidariedade, das regiões e territórios de ordenação que são sublevados pela manifestação e pela necessidade da expressão dos afetos e desejos.

Desta forma, podemos dizer que a experiência da viagem torna-se espaço de experimentação, e prepara o sujeito para habitar o lugar da chegada e a construir a imagem deste, pelo migrante e por aqueles que os vêem. Esta imagem migrante em San Francisco torna-se parte de estratégias de sobrevivência onde a invenção e a criatividade, adquirem um sentido político. Assim, procuramos estas bagagens migrantes tentando aprimorar os modos de interpretar a paisagem deste lugar.

Quais as marcas e referências da viagem e do lugar de partida que o migrante traz para o lugar de chegada, e como ele reinventa seus lugares? Como lidar com o rechaço nativo que emerge com o medo do diferente? Estas perguntas

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nos fazem buscar algum entendimento sobre a viagem como experiência geográfica, para assim acessá-la como marca na paisagem da cidade de San Francisco. Elegendo a experiência geográfica a partir de alguns geógrafos de vocação humanista (BUTTIMER, 1982; DARDEL, 1990; LOWENTHAL, 1982 e RELPH, 1979), como categoria a ser relacionada com os espaços, as paisagens e os lugares, ampliam olhares e trazem novas possibilidades à Geografia.

A experiência como algo que marca um corpo e uma alma em viagem e é expressa por estes viajantes como texto, imagens, compostas em vestígios e efeitos. O viajante é aquele ser exposto às intempéries, é o sujeito que se lança ao risco e ao inesperado, que se coloca aberto à sua própria transformação, é o que se põe numa travessia em direção a terras distantes e desconhecidas. Sendo a viagem uma vivência marcante, ou um traço forte tal qual a cor da pele, o tipo da roupa ou da alimentação, pode ser fácil, rápida, virtual via internet, ou ser perigosa, dolorosa, repleta de riscos (de vida, físicos, morais), ilegal, clandestina, porém a ação migratória neste mundo global torna-se um momento de resistência e de invenção.

Neste mundo em que o slogan publicitário nos diz de um “viver sem fronteiras”, esta condição torna-se deveras preocupante a partir do momento em que este passa a ser encarado como a ameaça desintegradora deste mundo globalizado. Deste modo, o migrante é quem causa o desconforto e estranhamento, alguém que deve ser expelido, banido ou expulso, ele é ameaçador, pois expõe a fragilidade sagrada do lar: cenário tradicional da segurança, “é o elemento que aproxima o reino do distante com o do próximo” (MORLEY, 2005). O que é representar a insegurança que invade a casa do nativo, do enraizado na segurança de sua poltrona e diante de sua televisão? O que é ter os rasgos e marcas de uma cultura sudaka, andina, árabe, africana, nordestina, ou ser aquele que pronuncia a língua bárbara na cidade globalizada?

A Geografia, a viagem e os migrantes goianienses em San Francisco.

A viagem nestas considerações é entendida como expediente na construção do saber geográfico, como possibilidade de produção de conhecimentos e saberes (AMORIM FILHO, 2009), pois é neste movimento em que o sujeito percorre ou atravessa um espaço. O caminho é a expressão de descentralização e inquietação, não se tem um ponto ou uma coordenada fixa que possa ser entendida como

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localidade: as centralidades são os múltiplos sentires humanos.

Uma Geografia “em viagem” emerge, pois o espaço nas considerações desta ciência é cambiável, dinâmico, múltiplo, diferente do espaço sistematizado, fechado, conceitual, assim falamos de: une géographie em acte, une volonté intrepidé de courir le monde, de franchir les mers, d'explorer les continents3 (DARDEL, 1990, p.1). A postura do viajante mostra ao geógrafo que os fenômenos não podem ser compreendidos somente pelo rigor, mas pela vivência e pela a experiência, no estar aberto à possibilidade de encontro e que o saber geográfico (ou o que podemos entender como geografias) se estabelece como a repercussão das aventuras de um olhar viajante.

Podemos, sim, aproximar a categoria da viagem com a migração, a imagem do viajante com a do migrante, porém não podemos afirmar que a viagem seja exclusivamente uma ação migratória ou que o migrante seja simplesmente um: “indivíduo que mudou de local de residência habitual” (PNUD, 2009), a partir do momento que tomarmos como exemplo as novas experiências espaciais da viagem4. Migrar torna-se muito mais que o movimento de se mudar ou sair de um lugar, implicando um “rompimento da ligação original ser-lugar-natal” (MARÂNDOLA et all, 2009), numa situação de encontro de sujeitos e culturas, onde umas e outras e passam a conviver, a trocar, a criar relações. Estes “caminhantes contraditórios e contemporâneos” são tipos de viajantes em que suas trajetórias e os percursos de suas viagens deixam marcas em seus corpos, memórias, almas e na paisagem a ser decifrada pelo geógrafo.

A própria categoria de mobilidade, diferente da permanência e vista sob a ótica da contemporaneidade, indicará possibilidades ao envolvimento do sujeito com a Terra, dada a densidade de significados que adquire a viagem, os percursos e as pausas ao longo dele. Este movimento não mais exigirá a permanência em um dado local, mas pedirá a pausa no encontro como o outro em meio ao movimento, e que poderá ser repleta de paisagens agradáveis, ruins, traumáticas como as dificuldades, a violência, os riscos e tristezas encontradas na travessia.

3 “(…) uma geografia em ação, de uma vontade intrépida de correr o mundo, de cruzar os mares, de explorar os

continentes”. Tradução nossa.

4 Interessante tomarmos o verbete viagem no Dicionário Português-Inglês Oxford 2007 e suas diversas concepções, sendo que: trip denota o deslocamento de um lugar a outro e também a estadia; journey denota o deslocamento de um lugar a outro; tour é uma viagem organizada que se faz parando em diferentes lugares. Em nossa pesquisa achamos adequado a utilização do termo voyage, pois se aproxima da conceituação de experiência em Walter Benjamin (1995) apresentada como uma longa viagem, ou com o sentido figurado de uma

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Este deslocar-se pelo espaço implicará ainda num distanciamento físico dos lugares íntimos, onde tudo será novidade, sejam os sotaques, os gestos, os gostos ou a transposição das fronteiras. Quando o sujeito está em trânsito precisa ser criativo, criando dispositivos para sua sobrevivência, desvios, subversões diante do território, e, que serão transplantadas para o lugar de chegada. Numa reflexão ontológica sobre a migração, Marândola Jr. e Dal Gallo (2009) nos indicam uma seqüência que pode dizer desta experiência dada primeiramente num processo de desterritorialização, termo também utilizado por Haesbaert (2002) e Almeida (2009b): a saída do lugar-natal, em seguida num movimento de desencaixe espacial repleto de angústia e ansiedade, e por fim a chegada ao novo chão: a fixação ao lugar de destino.

É a viagem realizada por estes viajantes contemporâneos e sua inserção no espaço e em redes complexas e globais de informação e mobilidade, que nos dão pistas sobre novos tipos de experiência. Experiência de mobilidade que agora se dará nos territórios fluídos, com a criação de múltiplas territorialidades e identidades e suas vivências simultâneas, pela velocidade e presentificação do ciberespaço tal como num jogo de videogame5.

Ainda lidamos com a viagem num contexto das múltiplas e sucessivas mobilidades como ressaltará Bauman (2002), Haesbaert (2007) e Almeida (2009). Podemos situar que esta mudança da experiência espacial emerge com o surgimento de espaços virtuais, complexados e acelerados, que permitem novos modos de se estar nos lugares, de se viajar. Propiciam um tipo de viagem que se dará pelas grandes redes e tecnologias de conexão: seja da informação, das finanças, de culturas.

Estas novas experiências nos chamam a atenção e nos fazem problematizar a viagem, porém, nos voltaremos para um tipo de experiência da contemporaneidade que é a da migração internacional, a dizer de um conjunto de territórios construídos no movimento cotidiano, nas relações existenciais, dado em sua forma funcional ou simbólica na transposição de limites e fronteiras.

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Utilizamos o exemplo de um recém-lançado jogo de videogame intitulado “ICED – I Can End Deportation” onde o personagem é um jovem imigrante clandestino que precisa sobreviver numa grande metrópole norte-americana. Visto a partir de uma câmera em primeira pessoa, o jogador vivência paisagens e situações de uma cidade real, tais como utilizar o sistema de metrô e outros transportes públicos, participar de uma aula de inglês, reivindicar os direitos numa manifestação ou permanecer detido numa prisão de imigrantes ilegais (ICED, 2009).

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A Metodologia do estudo da paisagem... em busca de imagens migrantes.

Para uma investigação sobre imagens migrantes na cidade de San Francisco – E.U.A. elegemos a proposta de viagem próxima de uma experiência geográfica, elegendo o estudo da paisagem (BONEMAISON, 2002) como um caminho para acessar este fenômeno, além dos territórios por quais estes transitam, transpõe fronteiras e ampliam limites. O espaço para o viajante é o objeto de pesquisa desde que mediado pelas práticas do migrante, seu corpo, seu sentir e sentidos, os quais requerem uma filosofia adequada às metodologias e conceitos. Esta vocação se dá na aproximação feita entre a Geografia e a Demografia, em busca do entendimento de que múltiplas metodologias confluem, dialogam e se delimitarão durante o caminho de investigação.

Assim, elegemos o estudo da paisagem como ponto de partida, seja por meio de metodologias quantitativas: com dados, estatísticas, planos e projetos, mapeamentos; seja na articulação destes com metodologias qualitativas: sendo a proposta da viagem como experimento, investigação participante, o caminhar e o permanecer, os encontros e as conversas, a captação de falas, histórias orais e documentais, itinerários por meio de gravação audiovisual, Fotografia, Filme dos personagens migrantes encontrados hoje pela cidade (PIEDRAHITA, 2005). O encontro com os objetos presentes na paisagem será valorizado como um dos procedimentos metodológicos, a partir do momento em que estes bens residuais e cotidianos falam da vida e criam um espaço para a observação, o envolvimento, a permanência, as prosas, o encontro.

O estudo da paisagem converge para um movimento viajante constituindo num processo de educação, treinamento e amadurecimento do olhar (ver coisas, formas, paisagens) que pede desprendimento e mudança de postura diante do mundo. Estabelecem modos de ser e conhecer, como vivência que conduz o geógrafo ao território, territorialidades e paisagens, experiência e saber geográfico. No caso da paisagem migrante na cidade de San Francisco, este estudo da paisagem se iniciará pela procura de marcas, marcos objetivos e subjetivos, signos de história, memórias, lugares que digam destes sujeitos migrantes provindos da cidade de Goiânia – Goiás - Brasil.

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Pensar a viagem como experiência e as imagens que dela emergem como questão da pesquisa, chamando a atenção para uma das grandes preocupações de pesquisadores, políticos, administradores: às migrações internacionais. Sejam do campo para a cidade e grandes metrópoles, seja fugindo de catástrofes ou conflitos, seja atrás de melhores condições de trabalho e assim de vida. Neste mundo onde vemos a concretização e proliferação dos grandes muros, a violência como se dá os fluxos e movimentos humanos, a emergência de sentimentos de intolerância e racismo, o aumento da população das cidades neste mundo dito globalizado e contemporâneo.

No caso da migração de goianos para os Estados Unidos da América, nos chama a atenção para um fato que implica consideráveis mudanças demográficas e socioespaciais em Goiás, pois este se tornou o segundo estado da federação em número de origem dos migrantes internacionais. Este dado vem a indicar uma fragmentação territorial do Goiás moderno, sendo que por um lado perde população para os países ricos demonstrando dificuldade na oferta de trabalho e de oportunidades. Por outro, atrai migrantes da região norte e nordeste para algumas das novas cidades do agronegócio, dos projetos de desenvolvimento, expondo as inúmeras desigualdades dadas pelo processo de reestruturação produtiva do capital. O estudo da migração internacional no contexto goiano pode ser um instrumento para se pensar e planejar as cidades, conhecer os modos de vida, humanizar o trabalho, a saúde e amparar subjetivamente estes sujeitos que partem (ou chegam) em busca de melhores condições de vida, seja no interior do país ou em direção ao estrangeiro. Pensar a experiência da migração como possibilidade de descoberta e conhecimento de mundo, de produção de geografias, como caminho de compreensão para questões humanas: tais como os lugares em conexão, seus habitantes e modos de vida. Assim, podemos nos remeter a Demografia a partir da articulação entre categorias espaciais, como conhecimento que cria desvios e possibilita a transposição de fronteiras e limites da Geografia, pois a viagem e os viajantes tornam-se um modo de se pensar o espaço.

Caminhamos em busca do entendimento da experiência migrante da viagem como prática espacial, a partir do momento em que esta imprime trajetórias e rastros e se configura num espaço de (da) vida, desenhado pela norma e pela vida. Importante afirmar que, o estudo da migração não deve ser uma instância para a

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normatização, o enquadramento e o controle, pois a transposição de determinadas fronteiras vem a dizer de práticas que determinados grupos e sujeitos criam, imaginam na tentativa de sobreviver. Entender o espaço como uma prática social implica reconhecer os limites a serem transpostos por estes “caminhantes contraditórios e contemporâneos”. Limites não só presentificados em sua materialidade, mas feito de coisas invisíveis, subjetivas como o que distância os sujeitos ao acesso do conhecimento, dos meios de mobilidade e de informação, de moradia e do exercício da cidadania, devendo ser transpostos e criados cotidianamente na viagem e na tentativa de encontro da singularidade.

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