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SÁNCHEZ VÁZQUEZ , Adolfo. Convite à Estética.

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Academic year: 2021

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(1)Resenhas SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Convite à Estética. Trad. Gilson Batista Soares. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 336 p.. José Carlos da Silva. Revista de Educação. Doutorando em Educação - UNICAMP Professor da Faculdade de Educação de Jacarezinho - PR e-mail: Jcarlos60@uol.com.br. 164. Adolfo Sánchez Vázquez é Professor de Estética na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional Autônoma do México. A Obra é composta de temas e idéias abordadas na sua disciplina, bem como pelos estudos oriundos de Conferências e Cursos realizados em Universidades e Centros Culturais do México e do exterior. O livro escrito por Sánchez Vázquez não só pretende dar um enfoque universal ao estético, mas de maneira persuasiva, enfatiza um convite para decifrar e viver, com integridade, os impulsos estéticos dos quais estamos rodeados e experimentamos a cada dia, nas nossas atividades comuns, por mais simples que sejam. A obra está dividida em três partes distintas, mas que se completam, para formar um todo coerente e ilustrativo sobre a experiência estética e a prática artística. Trata em uma primeira parte da estética em si; logo em seguida reflete sobre a relação da estética do homem com o mundo e por fim relaciona e comenta as categorias estéticas clássicas. Além de uma rica bibliografia e dos índices onomástico e temático, consta ainda de um sumário, de uma introdução e também de 76 ilustrações, em preto e branco, que são citadas e analisadas pelo autor durante a reflexão. Na primeira parte, “Anverso e Reverso. da Estética”, o autor destaca, com esmerada profundidade, o caráter problemático da estética. Em três capítulos fala da necessidade e do objeto da estética, bem como do saber estético. Na segunda parte, “A relação estética do homem com o mundo”, ele trata primeiro sobre as origens e em seguida a natureza destas relações tomadas sempre em contato com a dimensão histórica e social colocando assim o sujeito e o objeto na sua realidade concreta. E, por fim, na terceira parte do texto denominada “As categorias estéticas”, começando pelo conceito do que venha a ser o estético e, posteriormente passando pelo estudo do que seja o belo, feio, sublime, trágico, cômico e grotesco ele constrói uma teoria baseada em definições historicamente centradas na experiência estética e na prática artística, como expressão subjetiva e social. Na primeira parte da obra, “Anverso e Reverso da Estética”, o autor fundamenta a necessidade da estética, discutindo o objeto dela, o seu lugar ao sol, e conclui esta primeira etapa discorrendo sobre o saber estético. A partir da abalizada definição de estética como se encontra no dizer de Sánchez Vázquez, p. 47: “a Estética é a ciência de um modo específico de apropriação da realidade, vinculado a outros modos de apropriação humana do.

(2) mundo e com as condições históricas, sociais e culturais em que ocorre”, o autor dá ao campo estético o seu significado original de qualidade sensível. Uma relação que vai além da relação com o belo ou uma obra de arte. Inicialmente, procurando localizar o âmbito próprio da estética, Vázquez promove o que ele chamou de “processo contra a estética”. Aí ele faz uma investigação, com o objetivo de especificar o objeto a ser tratado, bem como o método ou métodos mais eficazes decorrentes da natureza do objeto. E por fim consegue alcançar a definição já mencionada de estética, que norteia e conduz o fio da meada de toda a obra. Nesse processo levantado para investigar a validade ou não, a necessidade e o direito de existência da Estética, o autor parte da afirmação de alguns filósofos, contrários a sua existência, dos quais citamos apenas o analítico J.A. Passmore, que diz: “Não há estética,” p. 9, e o poeta Paul Valéry afirma “A estética não existe nem pode existir”. E continua o autor, nesse mesmo processo contra a estética relacionando as acusações do espectador “ingênuo” e do conhecedor “culto”. Desde as questões mais simples do espectador “ingênuo”, por exemplo: “O que posso ganhar com a estética?” (p. 11), até ao questionamento do conhecedor supostamente “culto” que não perde nenhuma exposição importante da cidade, visita os museus, lê as obras mais recentes, segue as produções literárias e artísticas, fazem parte desse processo contra a estética, que mais tarde será elucidada pelo autor. Ainda são elencadas queixas do artista e do crítico da arte, e até mesmo do filósofo. Diante dessas “acusações” o autor argumenta a cada uma, e mesmo reconhecendo a dificuldade de pontuar todas as acusações sem assumir os erros contidos no passado em nome da estética, e até mesmo no presente pelas estéticas de inspiração eurocêntrica, especulativas, metafísicas e classicistas. E afirma que hoje, mais do que uma ciência constituída, é a estética um “projeto de ciência que avança lenta e penosamente em sua realização, a partir de certas suposições filosóficas (sobre o conhecimento) e com a ajuda de diversas, ciências sociais”. E ainda mencionar que surgem. obstáculos de ordem epistemológicas e ideológicas. Tendo em vista todos estes “detratores”, ocupa-se o autor em todas as suas páginas desta obra, deixando para trás os receios e objeções contrárias e minimizantes da estética. Terminada esta tarefa inicial o autor ocupa-se no segundo capítulo em especificar o objeto da estética. Trata-se de uma tarefa “árdua” e para tal é necessário, justifica o autor, em primeiro lugar se esclarecer o significado de termos fundamentais como o “belo”, o “estético” e a “arte” que historicamente entram na sua definição e quase sempre são confundidos com o conceito de estética. Partindo para tal esclarecimento, alerta o autor, da transitoriedade desses termos que nas relações humanas com a realidade assumem características específicas. Considerando que a estética, como saber autônomo e sistemático nasceu com Baumgarten em sua obra “Aesthetica”, (1750-1758), não se pode ignorar que desde o alvorecer da filosofia na Grécia encontramos reflexões estéticas. Dentre estas reflexões, uma das concepções mais veneráveis esta naquela que coloca o belo como a própria estética em si mesma. É conhecida a teoria platônica de que o belo é o belo em si, perfeito, absoluto, atemporal, beleza como idéia. Aí então a beleza está no objeto. Nos tempos modernos, a determinada concepção do belo como eixo de reflexão estética se desloca do objeto para o sujeito. Sendo assim acentuada a dimensão subjetiva do belo. Depois de várias considerações, conclui o nosso autor que a reflexão não pode se fechar no belo, mas no estético, pois “todo belo é estético, mas nem todo estético é belo,” (p. 39). O estético é mais abrangente que a concepção do belo, que não deve ser confundido com estética, que durante muito tempo determinou as reflexões que foram chamadas de “estética”. E defende a posição de que o objeto da estética está na relação peculiar entre o sujeito e o objeto estabelecida no tempo, em uma determinada circunstância cultural e social, compondo assim uma realidade concreta. Analisando ao longo da história das reflexões estéticas, relata o autor, um predomínio de caráter filosófico, e predominantemente como manifestações de um principio supremo. Afirma. Revista de Educação. SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Convite à Estética. Trad. Gilson Batista Soares. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 336 p.. 165.

(3) Revista de Educação. José Carlos da Silva. 166. ainda que é preciso abandonar o marco especulativo da estética filosófica, sem contudo prescindir de certos princípios ou suposições filosóficas. E a estética, que defende, se nutre de uma concepção de homem, da história e da sociedade, que é o próprio marxismo, como filosofia da práxis. Assim a Estética, aspira ser uma ciência que por seu objeto e métodos se inscreve no espaço do conhecimento que ocupam as ciências humanas e sociais. Assim não é um objetivo em si mesmo, mas social e pode ser assim definida como “Ciência das experiências estéticas e das práticas artísticas”, (p. 54). Ao considerá-la como ciência, atribui-lhe um atestado de conhecimento, significando, então, que existe um conjunto de objetos aos quais atribuímos qualidades que chamamos de “universo estético”. Mas não se trata somente de um universo composto somente de seres humanos, mas também de seres naturais, de objetos artificiais produzidos pelo trabalho humano, podendo ai se destacar: objetos comuns da vida cotidiana, produtos industriais, artesanais, mecânicos e técnicos, e finalmente dos produtos do homem que ele chama de “obra de arte”. O importante que o comportamento humano e a realidade em que ele se realiza não podem estar separados do todo em que se integram com outras realidades e comportamentos. O estético e o artístico se desenvolvem historicamente, e tanto em sua natureza quanto em sua gênese se encontram condicionados socialmente. Tanto a experiência estética quanto a prática artística levam em conta as contribuições das ciências sociais. A origem da relação estética do homem com o mundo e a prática artística pode ser constatada em todos os tempos, até mesmo nas sociedades préhistóricas. Quanto ao método, a estética, por ser objetiva e subjetiva se vale dos métodos de outras ciências para construir o seu universo. Portanto ela se justifica na atenção ao desenvolvimento histórico e sua existência efetiva, mediante a construção teórica que dá sentido a sua existência. Assim sendo se utiliza do método histórico e estrutural como princípios de condução para a realização do seu intento como ciência. O Histórico permite situar os fenômenos. estéticos e artísticos no tempo, em relação ao que precede e ao seu próprio tempo. O método sistêmico ou estrutural considera o fenômeno estético como um sistema de relações. As partes, os elementos, as funções acorrem fundidas num todo orgânico. Assim os dois princípios histórico e sistêmico se complementam e trazem sentido histórico e de totalidade à construção teórica do estético e do artístico. Assim conclui Sánchez Vázquez: O enfoque teórico sem conteúdo histórico é vazio, ou seja, essencialista, especulativo; o enfoque histórico sem conteúdo teórico ou sistêmico é cego ante os acontecimentos, já que não permite ver como manifestações empíricas de um sistema de relações e dependências. (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1999, p.67/68).. A partir de então, o autor passa para a segunda e mais importante parte da obra “a relação estética do homem com o mundo”. Ele classifica em três campos as diversas relações do homem com o mundo. Primeiramente estabelece a relação teórico-cognoscitiva; depois uma relação prático-produtiva e por fim uma relação prático-utilitária. Enquanto na primeira figura, o homem se aproxima da realidade para compreendê-la. Na segunda faz sua intervenção materialmente na natureza para transformá-la e assim satisfazer as necessidades humanas pelo produto do seu trabalho. E na terceira, realiza uma relação de consumo desses objetos produzidos. Além dessas relações, diz o autor, em determinadas épocas, os homens estabelecem outras formas de relações com a natureza, entre elas estão: as mágicas, as míticas e as religiosas. Há ainda um conjunto de relações que os homens executam entre si, como relações políticas, econômicas, jurídicas e morais. E dentro destes sistemas de relações estabelece o lugar da relação estética, que mesmo estando vinculada às demais, de modo diferente ao longo da história tem seus aspectos peculiares. Uma característica importante, frisa o autor, é a precedência desta às outras relações, afirmando que a “relação estética, embrionária e difusa em seus primórdios, é uma das formas mais antigas.

(4) de relação do homem com o mundo”, (p. 75). Sendo anterior até mesmo à magia, ao mito e à religião. Para Marx (em O Capital) a relação estética surge e se desenvolve no seio da relação de produção material. “A relação estética se apresenta, em primeiro lugar, como produção de certos objetos”, (p. 77). Então, de certo modo, a produção requer consumo ou uso do produzido. Mais uma vez é Marx que diz “o produto só conhece seu objetivo final no consumo”, (p. 77). Assim o estético é produzido para ser compartilhado ou consumido pelos outros aquilo que expressa. É melhor ainda, se esse consumo for adequado, como requer qualquer produção no sentido marxista. Na terceira parte o autor trabalhas as categorias estéticas. Inicialmente revê o conceito de categoria evocando o significado original de “acusação” ou “censura” conforme José Ferrater Mora no Dicionário de Filosofia, que acabou por significar “enunciação” ou “declaração”. Assim as categorias estéticas são determinações gerais, atribuídas ao campo estético, não separadas da realidade histórica em que surgiram. Identificado muitas vezes, ao estético em si, o belo resplandece como a maior e mais abrangente categoria, embora, tendo por muito tempo imperado nesse significado. Assim o belo constitui uma categoria particular do estético. Conforme nosso autor, “não existe o belo ideal, como uma essência imutável, através de configurações concretas, mas sim o belo que ocorre historicamente”, (p. 203). Equivale dizer que o belo não existe por si mesmo, como antigamente se pensava. O belo só existe em relação com o homem que vê e sente o que é belo como objeto concreto, singular, empírico nas mesmas situações estéticas das outras categorias como o feio, o sublime, o trágico, o cômico e o grotesco. Logo em seguida o autor faz uma longa abordagem sobre o feio. Em primeiro lugar justifica o caráter estético da fealdade esclarecendo o lugar estético do feio e a experiência singular e concreta que o sujeito vive nesta situação estética, ou seja, nas relações básicas do homem com o mundo. Nesta análise, afirma o autor, que o feio não tem lugar na relação teórico cognoscitiva, nem com o objeto real, nem. com o objeto teórico que é construído para conhecê-lo. Mesmo sendo historicamente, muitas vezes, associado com o mal e o belo com o bem, o feio tem uma dimensão estética que não se identifica com outras dimensões ou valores negativos, tais como falso, inútil e mau. Assim diz o autor na página 212: “O feio ocorre em um objeto que por sua forma é percebido esteticamente, ainda que se note – sobretudo quando se trata de objetos reais – a ausência ou negação da beleza”. O território do feio não é só a natureza, mas também, na realidade dos produtos criados pelo homem, quer sejam produtos técnicos ou industriais, quer sejam objetos artísticos ou objetos usuais da vida cotidiana. E após fazer uma referência às concepções do feio na história, termina por concluir que o feio estético pode existir tanto na realidade como na arte. Pode ser feio tanto um objeto com aqueles representados pelos pintores, porém, ao serem contemplados produzem efeitos diferentes e até mesmo opostos. A fealdade está na relação de apropriação do homem pelo objeto que é contemplado. Do feio ele passa par o sublime como categoria estética. Identificando o termo sublimis do latim significando levantar, erguer do solo, para designar “algo excelso, eminente ou sumamente elevado, e se aplica tanto a certos fenômenos naturais quanto a determinadas ações humanas”, (p. 231). E fazendo uma detalhada reflexão sobre as concepções do sublime desde Longino no século I, passando por Burke, Kant, Hegel e Hartmann até Adorno em nossos dias, conclui o autor, que todas as concepções que ele analisa ajudam à caracterização do sublime como categoria estética. E assim se expressa:. Revista de Educação. SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Convite à Estética. Trad. Gilson Batista Soares. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 336 p.. o sentimento do sublime surge na relação entre a grandiosidade e a infinitude de um fenômeno e as limitadas forças humanas, ou quando essas alcançam um poder que ultrapassa desmesuradamente o cotidiano ou o normal. (Ibid., p. 239). Assim o sublime é desmedido e provoca no homem, diante do fenômeno da grandiosidade e do desafio, uma grande confiança em si 167.

(5) José Carlos da Silva. próprio. Além do lado social que tal atitude implica, conforme expressa o autor:. Revista de Educação. o sublime natural é, por um lado, expressão de um poder que o homem não conseguiu dominar ainda, mas que ao mesmo tempo lhe dá consciência do seu próprio. Em suma, o sentimento do sublime desperta no homem, diante das forças naturais e sociais, sua confiança nas próprias forças. (Ibid., p. 240). 168. Nas palavras e nas entrelinhas do texto, descobrimos um filósofo que mostra com distinta clareza um manejo coerente de categorias materialistas, renovando os conceitos de estética como um relacionamento humano de forma específica na práxis das experiências estéticas e teorias artísticas. Confirmando assim, com sua obra, a arte de transformação de conhecimento e consequentemente de comportamento e visão de mundo. A obra é muito consistente, de um estilo muito agradável e revela uma sensibilidade, muito bem fundamentada na história, na superação de antigos conceitos estéticos para a nova e convincente teoria da apropriação do mundo pelo homem através das situações estéticas que nos convidam diariamente a tais experiências. Com ele relembramos a definição central da obra quando se refere ao conceito atual dessas relações: é a Estética a ciência de um modo específico de apropriação da realidade, vinculado a outros modos de apropriação humana do mundo e com as condições históricas, sociais e culturais em que ocorre, que ao nosso viso está refletida em toda a obra. Recomendamos, portanto, a todos os leitores, sejam iniciados ou iniciantes, professores, estudantes ou interessados pela estética, como uma obra basilar e de profundidade expressa com clareza e simplicidade que longe de torná-la vulgar, enaltece a capacidade pedagógica de comunicação e de fazer-se compreensivo do professor Sánchez Vázquez. Motivados pelo “Convite à Estética” escrito em 1992 e traduzido para o português em 1999, nos defrontamos com outras obras do autor tais como: “As Idéias. Estéticas de Marx” (1965); Filosofia da Práxis (1967); Ética (1969) Estética e Marxismo 2 vols. (1970)”. “Convite à Estética” é uma obra que mostra a sensibilidade que as experiências do homem com o mundo está para além do belo e da arte, mas deve ser exercitada numa relação adequada do homem com o mundo, com a natureza e com seus pares. Só assim o homem será feliz e o mundo será melhor..

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Referências

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